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CADE APROVA FUSÃO

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Cade aprova fusão de Sadia e Perdigão, mas impõe 
restrições 
Por quatro votos contra um, o órgão autorizou a operação, mas a BRF 
Brasil Foods terá de suspender a marca Perdigão em algumas linhas de 
produtos 
Ana Clara Costa e Carolina Guerra 
 
Mudança de postura da BRF, com mais concessões, foi fundamental para aprovação (Germano Luders/Exame) 
Todos os ativos da BRF, entre marcas e fábricas, que serão vendidos a mando do 
Cade terão como destino uma única compradora, a qual nascerá com 20% de market 
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O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou por quatro votos 
contra um a fusão entre a Sadia e a Perdigão, mas com restrições (veja quadro), 
como era aguardado desde que a BRF Brasil Foods – a empresa resultante da 
operação – propôs-se a negociar com o órgão antitruste. A decisão é bastante 
semelhante à expectativa dos analistas ouvidos pelo site de VEJA. Para garantir que 
a BRF cumprirá o acordo, foi proposto pelo Cade a assinatura de um Termo de 
Compromisso de Desempenho (TCD) em que a empresa compromete-se a por em 
prática as decisões do julgamento. 
O conselheiro Ricardo Ruiz iniciou nesta quarta-feira a leitura de proposta de acordo 
no caso, afirmando que a companhia mudou radicalmente sua posição inicial e 
mostrou disposição para negociar. Ruiz sancionou o acordo, seguido pelos 
conselheiros Marcos Paulo Veríssimo e Alessandro Serafin Octaviani Luis. Todos 
deram parecer positivo, mas com restrições. 
O relator do caso, Carlos Ragazzo, manteve seu voto contrário à fusão – apesar de 
ter se mostrado mais otimista com a operação do que no primeiro julgamento, 
realizado em 8 de junho,quando reprovou totalmente a proposta, Ragazzo ainda 
considera que o acordo atual não resolve os problemas de concetração de 
mercado. O jogo, porém, já estava decidido quando o conselheiro Olavo Chinaglia, 
presidente da seção, também se posicionou a favor do TCD e ainda elogiou a 
mudança de postura da BRF durante a renegociação. 
 
 
O acordo – Como já era esperado, a decisão (veja quadro) exige a venda de diversas 
marcas e de parte da estrutura produtiva da BRF a partir de 2012, além da 
suspensão da marca Perdigão por perído determinado (a depender do tipo de 
produto) e a restrição para que a Batavo só atue no segmento lácteo. A marca 
Perdigão poderá ser mantida sem restrições nas exportações da BRF. 
Os conselheiros do Cade também determinaram que a BRF não crie novas marcas 
para substituir aquelas que terá de se desfazer. O objetivo é que não se repita o 
ocorrido no caso Colgate-Kolynos, quando a marca Kolynos, após ser suspensa, foi 
substituída pela Sorriso, o que permitiu à empresa resultante não perder 
significativamente mercado. 
A definição dos ativos que teriam que ser vendidos se deu com base no cálculo do 
Cade do quanto seria equivalente à 80% da produção para o mercado interno da 
Perdigão, ou seja, aproximadamente 730 mil toneladas/ano de capacidade instalada. 
Com isso, o órgão acredita que a empresa que adquirir os ativos terá condição de 
competir com a Brasil Foods. 
Os ativos também tem de que, até o momento da venda, ser mantidos em bom 
estado, com níveis de produção equivalentes a 2010 ou mais. Outra penalidade 
imposta à BRF é a impossibilidade de realizar acordos que incluam exclusividade no 
ponto-de-venda. O Cade visa assim impedir que a BRF use seu poder de mercado de 
forma ilícita. 
Nova empresa – A indicação do Cade é que todos os ativos alienados sejam 
vendidos a uma mesma companhia que tenha a capacidade de concorrer com a BRF 
de maneira equilibrada. Segundo os conselheiros, esse novo concorrente deverá 
nascer com posição dominante – de aproximadamente 20% de participação de 
mercado. Com a entrada da nova empresa, o órgão acredita que a BRF reduzirá sua 
participação de mercado de maneira expressiva, o que diminuirá também sua escala 
no mercado interno. 
A decisão do Conselho foi baseada no fato de que não existe até agora no mercado 
uma empresa com escala suficiente para fazer frente à BRF. Essa companhia que 
compraria os ativos teria de ser uma com participação menor no mercado. O relator 
da nova proposta, Ricardo Ruiz, usou o mercado de perus para exemplificar a 
proposta. “O mercado de peru, por exemplo, é um duopólio de 70% da BRF e 30% da 
Marfrig. A venda dos ativos teria que ser para uma outra empresa que não a Marfrig, 
e assim por diante”, explicou. 
A rigor, se a BRF já assinou este termo, trata-se de um grande indicativo que a 
empresa não tentará entrar na Justiça contra o órgão. As penalidades inclusas no 
não- cumprimento do acordo incluem multas de até 25 milhões de reais por infração, 
até a suspensão do acordo.

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