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FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA Curso de Mestrado Integrado em Medicina 2010/2011 1º Semestre – 1º Ano BIOQUÍMICA Módulo II.I O estudo através deste resumo deve ser complementado com os slides disponibilizados pelo professor Miguel Castanho e com, pelo menos, um dos seguintes livros: Stryer, Devlin, Grisham, Lehninger ou Lippincott. Brigitta Cismasiu Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 3 Índice Noções Básicas ...................................................................................... 13 Isomerismo ........................................................................................................ 13 Termodinâmica ................................................................................................. 13 Enzimas .............................................................................................................. 14 Classificação ............................................................................................................ 15 Cinética Enzimática ................................................................................................. 15 Equação de Michaelis-Menten ................................................................................ 15 Linearização de Lineweaver-Burk ........................................................................... 17 Factores que Influenciam a Velocidade da Reacção ............................................... 17 Tipos de Inibição...................................................................................................... 18 Receptorologia .................................................................................................. 19 Receptores .............................................................................................................. 20 Canais Iónicos .......................................................................................................... 20 Enzimas .................................................................................................................... 20 Moléculas Transportadoras .................................................................................... 21 Agonista ................................................................................................................... 22 Antagonista ............................................................................................................. 22 Receptores de Membrana e Mecanismos de Transdução de Sinais ...................... 22 Receptores Ionotrópicos ou Canais Iónicos ............................................................ 23 Receptores Metabotrópicos ou GPCRs (Associados à Proteína G) ......................... 24 Receptores Associados a Proteínas Cinases............................................................ 29 Receptores Intranucleares ...................................................................................... 34 Regulação dos Níveis Intracelulares de Cálcio ........................................................ 35 Efeitos Biológicos da Radiação .......................................................................... 36 Visão ........................................................................................................................ 37 Aminoácidos e Proteínas ....................................................................... 38 Aminoácidos ...................................................................................................... 38 Estereoisómeros ...................................................................................................... 38 Propriedades Iónicas ............................................................................................... 38 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 4 Ponto Isoeléctrico ................................................................................................... 39 Ligação Peptídica ..................................................................................................... 39 Proteínas ........................................................................................................... 40 Estrutura Primária ................................................................................................... 40 Estrutura Secundária ............................................................................................... 40 Estrutura Terciária ................................................................................................... 41 Estrutura Quaternária ............................................................................................. 41 Estrutura Nativa ...................................................................................................... 41 Desnaturação .......................................................................................................... 41 Colagénio ................................................................................................................. 42 Insulina .................................................................................................................... 42 Correlações Clínicas .......................................................................................... 43 Anemia Falciforme .................................................................................................. 43 Envenenamento por Insulina .................................................................................. 43 Lípidos, Membranas e Transporte ......................................................... 45 Importância da Hidrofobicidade dos Triacilgliceróis ............................................... 45 Tipos mais Comuns de Lípidos ................................................................................ 46 Associações Fosfolipídicas Possíveis em Meio Aquoso........................................... 46 Colesterol ................................................................................................................ 46 Transporte Transmembranar ............................................................................ 48 Potencial Químico ................................................................................................... 48 Potencial Eléctrico ................................................................................................... 48 Transporte Mediado por Proteínas ......................................................................... 49 Transporte Através da Membrana .......................................................................... 49 Três Classes de Transporte ...................................................................................... 50 Transporte Activo .................................................................................................... 50 Transporte de Glucose nas Células Epiteliais Intestinais ........................................ 50 Glícidos ................................................................................................. 51 Monossacáridos ................................................................................................ 51 Ciclização ................................................................................................................. 52 Ligações Glicosídicas ............................................................................................... 53 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 5 Oligossacáridos .................................................................................................. 53 Dissacáridos ............................................................................................................. 53 Polissacáridos ....................................................................................................54 Homopolissacáridos ................................................................................................ 54 Heteropolissacáridos ............................................................................................... 54 Glicogénio ................................................................................................................ 54 Proteoglicanos ......................................................................................................... 55 Glicoproteínas ......................................................................................................... 56 Vírus Influenza ................................................................................................... 56 Nucleótidos ........................................................................................... 57 Funções ............................................................................................................. 57 Estrutura ............................................................................................................ 57 Bases Azotadas ........................................................................................................ 57 Pentoses .................................................................................................................. 58 Nucleósidos ............................................................................................................. 58 Nucleótidos ............................................................................................................. 58 Nucleótidos Cíclicos ................................................................................................. 59 Nucleósidos 5’-Trifosfato ........................................................................................ 60 Ácidos Nucleicos ................................................................................................ 60 Diferenças entre DNA e RNA ................................................................................... 60 Introdução aos Metabolismos ............................................................... 62 Glicólise ................................................................................................. 63 Reacções da Glicólise .............................................................................................. 64 Regulação da Glicólise ....................................................................................... 65 Etapa 1 ..................................................................................................................... 65 Etapa 3 ..................................................................................................................... 66 Etapa 10 ................................................................................................................... 66 Destinos Metabólicos dos Produtos da Glicólise .................................................... 67 Via de Rapoport-Luebering ............................................................................... 68 Correlações Clínicas .......................................................................................... 68 Anemia Hemolítica .................................................................................................. 68 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 6 Enfarte Agudo do Miocárdio ................................................................................... 68 Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos ............................................................. 69 Entrada no Ciclo TCA ......................................................................................... 69 Descarboxilação do Piruvato a Acetil-CoA .............................................................. 69 Reacções da Descarboxilação Oxidativa ................................................................. 70 Regulação da Piruvato Desidrogenase .................................................................... 70 Ciclo TCA ............................................................................................................ 70 Reacções do Ciclo TCA ............................................................................................. 71 Regulação do Ciclo TCA ..................................................................................... 72 Etapa 1 ..................................................................................................................... 73 Etapa 3 ..................................................................................................................... 73 Etapa 4 ..................................................................................................................... 73 Ciclo Anfibólico .................................................................................................. 73 Correlação Clínica .............................................................................................. 74 Beribéri .................................................................................................................... 74 Cadeia Respiratória ............................................................................... 75 Componentes da Cadeia Respiratória ..................................................................... 75 Organização ............................................................................................................. 76 ATP Sintase .............................................................................................................. 76 Shuttle Malato-Aspartato ........................................................................................ 77 Inibidores ................................................................................................................. 77 Desacopladores ....................................................................................................... 77 Ciclo de Cori .......................................................................................... 79 Gluconeogénese .................................................................................... 80 Reacções Exclusivas da Gluconeogénese ................................................................ 81 Regulação da Gluconeogénese ......................................................................... 81 Etapa 1 ..................................................................................................................... 81 Etapa 2 ..................................................................................................................... 82 Etapa 3 ..................................................................................................................... 83 Etapa 4 ..................................................................................................................... 83 Experiência ........................................................................................................ 84 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 7 Qual seria a consequência da existência de fosfoenolpiruvato carboxicinase no tecido muscular? ..................................................................................................... 84 Metabolismo do Glicogénio ................................................................... 86 Glicogenólise ..................................................................................................... 86 Glicogénese ....................................................................................................... 87 Doenças Associadas ao Metabolismo do Glicogénio ........................................ 88 Von Gierke (glucose 6-fosfatase) ............................................................................88 Pompe (α-1,4 glicosidase) ....................................................................................... 88 Cori (enzima desramificadora) ................................................................................ 88 Andersen (enzima ramificadora) ............................................................................. 88 McArdle (glicogénio fosforilase muscular) .............................................................. 88 Hers (glicogénio fosforilase hepática) ..................................................................... 88 Tarui (fosfofrutocinase muscular) ........................................................................... 88 Correlação Clínica .............................................................................................. 88 Doença de Von Gierke ............................................................................................. 88 Via dos Fosfatos de Pentose .................................................................. 90 Importância da Via .................................................................................................. 90 Reacções da Via dos Fosfatos de Pentose .............................................................. 90 Importância do NADPH ........................................................................................... 91 Regulação da Via dos Fosfatos de Pentose ............................................................. 92 Correlação Clínica .............................................................................................. 93 Deficiência de G6PD ................................................................................................ 93 Metabolismo dos Nucleótidos ............................................................... 94 Degradação de Nucleótidos .............................................................................. 94 Degradação de Nucleótidos Purínicos .................................................................... 94 Degradação de Nucleótidos Pirimidínicos .............................................................. 95 Síntese de Nucleótidos ...................................................................................... 95 Biossíntese de Novo de Nucleótidos Purínicos ....................................................... 96 Biossíntese de Novo de Nucleótidos Pirimidínicos ................................................. 97 Conversão dos Monofosfatos de Nucleósidos em Trifosfatos de Nucleósidos ...... 98 Os Ribonucleótidos são Percursores dos Desoxirribonucleótidos .......................... 98 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 8 Biossíntese do Timidilato ........................................................................................ 99 Via da “Reciclagem” ................................................................................................ 99 Correlações Clínicas .......................................................................................... 99 Gota ......................................................................................................................... 99 Síndrome de Lesch-Nyhan..................................................................................... 100 Frutólise .............................................................................................. 101 Correlação Clínica ............................................................................................ 101 Retinopatia Diabética ............................................................................................ 101 Lipólise ou β-Oxidação ........................................................................ 102 Libertação dos Ácidos Gordos ......................................................................... 102 Ácidos Gordos da Dieta ................................................................................... 103 Activação dos Ácidos Gordos .......................................................................... 103 Entrada do Acil-CoA para a Matriz Mitocondrial ............................................ 103 β-Oxidação ...................................................................................................... 104 Reacções da β-Oxidação........................................................................................ 105 Balanço Energético ................................................................................................ 105 β-Oxidação de Ácidos Gordos com Número Ímpar de Carbonos ......................... 105 β-Oxidação de Ácidos Gordos Insaturados ........................................................... 105 β-Oxidação no Peroxissomas ................................................................................ 106 Correlação Clínica ............................................................................................ 106 Deficiência de Carnitina ........................................................................................ 106 Cetogénese ......................................................................................... 107 Corpos Cetónicos ............................................................................................ 107 Cetogénese ...................................................................................................... 107 Reacções da Cetogénese ....................................................................................... 108 Utilização de Corpos Cetónicos ............................................................................. 108 Diferenças entre Síntese e Utilização de Corpos Cetónicos ................................. 109 Os Animais não Conseguem Converter Ácidos Gordos em Glucose .................... 109 Lipogénese .......................................................................................... 110 Transporte Através da Membrana Mitocondrial ............................................ 110 Formação de Malonil-CoA ..................................................................................... 111 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 9 Síntese de Ácidos Gordos ................................................................................ 111 Reacções da Síntese de Ácidos Gordos ................................................................. 112 Sintase de Ácidos Gordos ...................................................................................... 112 Etapa Limitante ..................................................................................................... 113 Síntese de TAG ................................................................................................ 114 Gliceroneogénese ........................................................................................... 115 Síntese de Fosfolípidos ........................................................................ 117 Colesterol ............................................................................................ 118 Síntese de Colesterol ....................................................................................... 118 Fases da Síntese do Colesterol .............................................................................. 119 Regulação da Síntese do Colesterol ...................................................................... 120 Transporte de Colesterol e TAG pelo Organismo ........................................... 121 Ciclo Exógeno ........................................................................................................ 122 Ciclo Endógeno ...................................................................................................... 122 Endocitose Mediada por Receptores ....................................................................123 Aterosclerose e Doenças Cardíacas ...................................................................... 124 Ácidos Biliares ....................................................................................................... 125 Correlação Clínica ............................................................................................ 126 Hipercolesterolémia Familiar ................................................................................ 126 Ciclo do Azoto ..................................................................................... 127 Metabolismo dos Aminoácidos ........................................................... 128 Transaminação ................................................................................................ 128 Desaminação ................................................................................................... 129 Desaminação Directa ............................................................................................ 129 Desaminação Reversível ........................................................................................ 129 Desaminação Oxidativa ......................................................................................... 130 Catabolismo de Aminoácidos .......................................................................... 130 Destino do Grupo Amina ....................................................................................... 131 Ciclo da Ureia ........................................................................................................ 131 As Reacções do Ciclo da Ureia............................................................................... 132 Regulação do Ciclo da Ureia .................................................................................. 133 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 10 Interligação Metabólica ........................................................................................ 133 Destino do Esqueleto de Carbono ........................................................................ 134 Ciclo da Alanina-Glucose ....................................................................................... 135 Ciclo do Metilo Activado ....................................................................................... 138 Derivados dos Aminoácidos ............................................................................ 139 Creatina ................................................................................................................. 139 Glutatião ................................................................................................................ 139 Correlações Clínicas ........................................................................................ 140 Fenilcetonúria........................................................................................................ 140 Deficiência de Ornitina Transcarbamoilase .......................................................... 141 Hiperhomocisteinémia .......................................................................................... 141 Inter-relações Metabólicas .................................................................. 142 Introdução ....................................................................................................... 142 Fígado .................................................................................................................... 142 Cérebro .................................................................................................................. 143 Músculo ................................................................................................................. 143 Tecido Adiposo ...................................................................................................... 144 Ciclo jejum-alimentado ................................................................................... 145 Estado Bem-Alimentado ....................................................................................... 145 Fases Iniciais de Jejum ........................................................................................... 146 Jejum ..................................................................................................................... 146 Fases Iniciais do Estado Realimentado ................................................................. 148 Interacções Metabólicas entre Órgãos ................................................................. 148 Necessidades Energéticas, Reservas e Homeostasia Calórica .............................. 149 Homeostasia da Glucose ....................................................................................... 150 Estados Hormonais e Nutricionais .................................................................. 152 Obesidade.............................................................................................................. 152 Dieta ...................................................................................................................... 153 Diabetes Mellitus Tipo 2 ou Insulino-Resistente ................................................... 154 Diabetes Mellitus Tipo 1 ou Insulino-Dependente ............................................... 154 Exercício Aeróbico e Anaeróbico .......................................................................... 155 Consumo de Álcool ................................................................................................ 156 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 11 Regulação do Metabolismo ................................................................. 159 Estratégias de Regulação ................................................................................ 159 Correlação Anatómica ..................................................................................... 159 Regulação Hormonal ....................................................................................... 160 Insulina e Glucagina na Regulação dos Metabolismos ......................................... 160 Vitaminas ......................................................................................................... 161 Ácido Fólico ........................................................................................................... 161 Cobalamina ............................................................................................................ 161 Ácido Ascórbico ..................................................................................................... 162 Piridoxina ............................................................................................................... 162 Tiamina .................................................................................................................. 162 Niacina ................................................................................................................... 162 Riboflavina ............................................................................................................. 162 Biotina ................................................................................................................... 163 Ácido Pantoténico ................................................................................................. 163 Vitamina A ............................................................................................................. 163 Vitamina D ............................................................................................................. 163 Vitamina K ............................................................................................................. 163 Vitamina E .............................................................................................................163 Correlações Clínicas ........................................................................................ 164 Anemias Nutricionais ............................................................................................ 164 Anemia Perniciosa ................................................................................................. 164 Casos de Estudo .................................................................................. 165 Caso 1 .............................................................................................................. 165 Caso 2 .............................................................................................................. 165 Caso 3 .............................................................................................................. 165 Caso 4 .............................................................................................................. 166 Caso 5 .............................................................................................................. 166 Caso 6 .............................................................................................................. 166 Caso 7 .............................................................................................................. 167 Caso 8 .............................................................................................................. 167 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 12 Caso 9 .............................................................................................................. 167 Caso 10 ............................................................................................................ 168 Soluções .......................................................................................................... 168 Caso 1 .................................................................................................................... 168 Caso 2 .................................................................................................................... 169 Caso 3 .................................................................................................................... 169 Caso 4 .................................................................................................................... 169 Caso 5 .................................................................................................................... 170 Caso 6 .................................................................................................................... 170 Caso 7 .................................................................................................................... 170 Caso 8 .................................................................................................................... 170 Caso 9 .................................................................................................................... 171 Caso 10 .................................................................................................................. 171 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 13 Noções Básicas Isomerismo Isómeros – Compostos diferentes que apresentam a mesma fórmula molecular mas diferente fórmula de estrutura: Planos – diferem pelas fórmulas estruturais planas o De Cadeia – apresentam diferentes tipos de cadeia o De Função – pertencem a funções diferentes o De Posição – pertencem à mesma função e têm o mesmo tipo de cadeia, mas apresentam diferente posição de um grupo funcional, ramificação ou insaturação o De Compensação (Metâmeros) – diferente posição do heteroátomo o Dinâmicos (Tautómeros) – os isómeros coexistem em equilíbrio dinâmico em solução Espaciais (Estereoisómeros) – diferem pelas fórmulas estruturais espaciais o Geométricos (Cis-Trans) – disposição espacial diferente dos grupos ligados aos carbonos da ligação dupla o Ópticos (Enantiómeros) – compostos assimétricos (quirais) que apresentam efeito fisiológico diferente e desviam a luz polarizada para direcções diferentes Epímeros – só diferem num carbono Não Epímeros – diferem em vários carbonos Termodinâmica ∆G Variação da energia livre de Gibbs (energia que se pode libertar de um sistema em transformação a pressão constante). Descreve a direcção para a qual a reacção química vai tender e a concentração de reagentes e produtos presentes no equilíbrio. ∆G>0 reacção endergónica ∆G<0 reacção exergónica ∆H Variação de entalpia de um sistema, isto é, o calor libertado ou absorvido quando há quebra ou formação de ligações, a pressão constante. ∆H>0 reacção endotérmica ∆H<0 reacção exotérmica ∆S Variação de entropia de um sistema, ou seja, mede o estado de ordem ou desordem de um sistema termodinâmica. Multiplicada pela temperatura, dá a medida de quantidade de energia que não se liberta no decurso de uma transformação (energia degenerada). A entropia é tanto mais baixa quanto mais organizado for um sistema. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 14 ∆G0 Variação da energia livre de Gibbs nas condições padrão ( ; ; ; [ ] [ ] ). ∆G0' Variação da energia livre de Gibbs nas condições padrão ( ; ; [ ] [ ] ), excepto o pH. RELAÇÃO FUNDAMENTAL DA TERMODINÂMICA Quando uma reacção química ocorre a temperatura constante: (T = temperatura, em K) ∆G=0 reacção em equilíbrio ∆G>0 reacção não espontânea ∆G<0 reacção que pode ser espontânea OUTRAS RELAÇÕES (R = 8,314472 J mol-1 K-1) DIRECCIONAR UMA REACÇÃO Para que uma reacção se dê no sentido directo, podemos alterar os seguintes parâmetros: [Reagentes] [Produtos] Temperatura pH Pressão Enzima Acoplar outra reacção Enzimas Enzimas são proteínas com actividade catalítica, isto é, que aceleram as reacções químicas que se processam nos organismos. As enzimas não são consumidas nas reacções que catalisam, e qualquer alteração molecular que ocorra durante o processo catalítico é reposta, de modo a obter-se a enzima na forma molecular e/ou estrutural inicial. As enzimas não interferem no estado de equilíbrio e diminuem a energia de activação das reacções que catalisam. O centro activo é constituído pelo conjunto de aminoácidos que entram em contacto com o substrato. Compreende o local de fixação, que se combina com o Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 15 substrato por ligações fracas, e o centro catalítico, que actua sobre o substrato, levando-o a sofrer a reacção química. Nas enzimas que actuam através de um cofactor, que é responsável pela transformação estrutural do substrato, essa estrutura encontra-se ligada à enzima na vizinhança muito próxima do centro catalítico. Classificação Holoenzima: Exclusivamente proteica. Constituída por: o Apoenzima – parte proteica o Cofactor – parte não proteica: Ião metálico; Grupo prostético – composto orgânico não-proteico ligado covalentemente; Coenzimas – pequenas moléculas que transportam grupos químicos e que participam na catálise. De acordo com o tipo de reacções que catalisam, podemos considerar seis classes: Oxirredutases – transferência de electrões (oxidação-redução). Ex.: desidrogenases, oxidases. Transferases – transferência de grupos funcionais (amina, fosfato, acil, carboxilo,…). Ex.: cinases, aminotransferases. Hidrolases – hidrólise de ligações covalentes. Ex.: peptidases. Liases – quebra de ligações covalentes e a remoção de moléculas de água,amónia e dióxido de carbono. Ex.: desidratases, descarboxilases. Isomerases – interconversão entre isómeros ópticos ou geométricos. Ex.: epimerases, mutases. Ligases – formação de novas moléculas a partir da ligação entre duas já existentes, à custa de energia (ATP). Ex.: aminoacil-tRNA sintetases. Cinética Enzimática Uma enzima: não altera K (constante de equilíbrio); só actua se ∆G<0; diminui a energia de activação, aumentando a sua velocidade. Num estado de equilíbrio, as velocidades das reacções directa e inversa mantêm- se ao longo do tempo. Num estado estacionário, algumas propriedades são mantidas constantes ao longo do tempo, sem que haja equilíbrio. A concentração de ES permanece constante (vformação = vdissociação). Equação de Michaelis-Menten Leonor Michaelis e Maud Menten concluíram, em 1913, o estado quantitativo das variações da velocidade de uma reacção enzimática em função do aumento da concentração de substrato. A sua teoria baseava-se na suposição de uma enzima Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 16 (E) e o seu substrato (S) se associam reversivelmente para formar um complexo enzima-substrato (ES). A quantidade de P formada, assim como a velocidade da reacção, vão depender directamente da concentração em complexo ES, ou seja, da quantidade de enzima que se liga ao substrato. DEDUÇÃO DA EQUAÇÃO DE MICHAELIS-MENTEN: KM é uma medida da afinidade de uma enzima para o substrato: essa afinidade é igual a 1/ KM. A determinação de KM depende da determinação de vmáx, ou seja, da concentração de S a partir da qual a velocidade não aumenta. Assim, recorre- se ao valor de vmáx/2, de modo a obter um valor mais próximo do real: KM é igual à concentração de substrato necessária para atingir vmáx/2. E + S E + P ES v-1 v-2 v1 v2 E – enzima S – substrato ES – complexo enzima-substrato P – produto 𝑣1 𝐾1 ∙ [𝐸] ∙ [𝑆] 𝑣−1 𝐾−1 ∙ [𝐸𝑆] 𝑣−2 𝐾−2 ∙ [𝐸] ∙ [𝑃] ≈ 𝑣2 𝐾2 ∙ [𝐸𝑆] 𝒗𝒓𝒆𝒂𝒄çã𝒐 ? ; [𝑬𝑺] ? ≈ [𝑬𝑺] ? [𝐸𝑆] constante (estado estacionário) 𝑣1 𝑣2 𝑣−1 ⇔ 𝐾1 ∙ [𝐸] ∙ [𝑆] 𝐾2 ∙ [𝐸𝑆] 𝐾−1 ∙ [𝐸𝑆] ⇔ [𝐸] ∙ [𝑆] [𝐸𝑆] 𝐾2 𝐾−1 𝐾1 ⇔ [𝐸] ∙ [𝑆] 𝐾𝑀 ∙ [𝐸𝑆] ⇔ ([𝐸]𝑡 [𝐸𝑆]) ∙ [𝑆] 𝐾𝑀 ∙ [𝐸𝑆] ⇔ [𝐸]𝑡 ∙ [𝑆] [𝐸𝑆] ∙ [𝑆] 𝐾𝑀 ∙ [𝐸𝑆] ⇔ ⇔ [𝐸]𝑡 ∙ [𝑆] (𝐾𝑀 [𝑆]) ∙ [𝐸𝑆] ⇔ [𝑬𝑺] [𝑬]𝒕 ∙ [𝑺] 𝑲𝑴 [𝑺] 𝑲𝑴 𝒗𝒓𝒆𝒂𝒄çã𝒐 ? 𝑣𝑟𝑒𝑎𝑐çã𝑜 𝑣2 ⇔ 𝑣𝑟𝑒𝑎𝑐çã𝑜 𝐾2 ∙ [𝐸𝑆] ⇔ 𝑣𝑟𝑒𝑎𝑐çã𝑜 𝐾2 ∙ [𝐸]𝑡 ∙ [𝑆] 𝐾𝑀 [𝑆] ⇔ ⇔ 𝒗𝒓𝒆𝒂𝒄çã𝒐 𝒗𝒎á𝒙 ∙ [𝑺] 𝑲𝑴 [𝑺] 𝒗𝒎á𝒙 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 17 Linearização de Lineweaver-Burk Em 1934, Hans Lineweaver e Dean Burk forma os primeiros a transformar a interpretação cinética de Michaelis-Menten numa interpretação linear, obtendo uma relação entre v e S que pode ser traduzida graficamente por uma recta. Invertendo ambos os membros da equação de Michaelis-Menten e isolando 1/v, pode obter-se a equação de Lineweaver-Burk: Factores que Influenciam a Velocidade da Reacção CONCENTRAÇÃO DE SUBSTRATO Velocidade máxima: a taxa ou velocidade de uma reacção (v) é o número de moléculas de substrato convertidas em produto por unidade de tempo. A velocidade é normalmente expressa em µmol de produto formado por minuto. A taxa de uma reacção catalisada por uma enzima aumenta com a concentração do substrato até atingir uma velocidade máxima (vmáx). Esse patamar reflecte a saturação de todos os locais de ligação disponíveis nas moléculas de enzima. Forma hiperbólica da curva de cinética enzimática: a maioria das enzimas apresentam cinética de Michaelis-Menten, em que a curva do gráfico da velocidade inicial de reacção (vo) em relação à concentração de substrato ([S]) é hiperbólica. No entanto, as enzimas alostéricas apresentam normalmente uma curva sigmoidal. TEMPERATURA Aumento da velocidade com a temperatura: a velocidade de reacção aumenta com a temperatura até atingir um pico. Esse aumento é resultado do aumento do número de moléculas com energia suficiente para ultrapassar a barreira de energia e formar produtos da reacção. Diminuição da velocidade a uma temperatura mais elevada: o aumento contínuo da temperatura resulta numa redução da velocidade de reacção, como resultado da desnaturação da enzima induzida pela temperatura. 𝟏 𝒗 𝑲𝑴 𝒗𝒎á𝒙 ∙ 𝟏 [𝑺] 𝟏 𝒗𝒎á𝒙 Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 18 A temperatura óptima para a maioria das enzimas humanas é entre 35 e 40° C, sendo que começam a desnaturar a temperaturas acima de 40° C. pH Efeito do pH sobre a ionização do centro activo: o processo catalítico geralmente requer que a enzima e o substrato tenham grupos químicos específicos no estado ionizado ou não-ionizado que possam interagir. Por exemplo, a actividade catalítica pode exigir que um grupo amina da enzima esteja na forma protonada (NH3+). Em pH alcalino, este grupo é desprotonado e a velocidade da reacção diminui. Efeito do pH sobre a desnaturação da enzima: extremos de pH também podem levar à desnaturação da enzima, pois a estrutura da proteína cataliticamente activa depende do carácter iónico das cadeias laterais de aminoácidos. O pH óptimo varia para diferentes enzimas: o pH no qual a actividade enzimática máxima é atingida é diferente para diferentes enzimas e muitas vezes reflecte a concentração de H+ a que a enzima funciona no organismo. Por exemplo, a pepsina, uma enzima digestiva no estômago, é optimamente activa a pH=2, enquanto que outras enzimas, destinadas a funcionar a pH neutro, são desnaturadas por esse ambiente ácido. Tipos de Inibição Inibição enzimática – diminui a actividade da enzima e pode ser: Reversível – o inibidor liga-se de modo não covalente, sendo a actividade biológica recuperada após a dissociação: o Competitiva – o inibidor é estruturalmente semelhante ao substrato e compete pelo centro activo com o substrato; diminuiu a afinidade (KM aumenta), mantém a vmáx; o Incompetitiva – o inibidor liga-se apenas ao complexo ES, diminui a formação de produto e altera o equilíbrio , deslocando-o no sentido directo, de formação de ES e consumo dos reagentes; diminuição de KM (aparente aumento de afinidade) e da vmáx; Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 19 o Mista (Não-Competitiva) – o inibidor liga -se a um local diferente do centro activo, pelo que a enzima pode continuar a ligar a si o substrato mas, como a conformação do centro activo é de algum modo afectada, essa ligação efectua-se com menos facilidade; diminuiu a vmáx, mantém a afinidade. Irreversível – há modificação covalente e definitiva no centro de ligação ou no centro catalítico da enzima. Receptorologia Um sinal é reconhecido através da interacção com um componente celular, na maioria das vezes um receptor da superfície celular. A informação contida no sinal é convertida noutras formas químicas ou transduzida. O processo de transdução compreende, normalmente, muitas etapas. O sinal é amplificado antes de produzir uma resposta. O mecanismo de feedback regula todo o processo de sinalização. As vias de transdução de sinal seguem um circuito molecular que contém certas etapas principais: 1. Libertação do 1o mensageiro: um estímulo desencadeia a libertação de um sinal molecular; 2. Recepção do 1o mensageiro: proteínas de membrana actuam como receptores, ligando-se ao sinal (ligante) e transferindo a informação para o interior da célula. Essa interacção altera a estrutura terciária ou quaternária do receptor; 3. Entrega da mensagem no interior da célula porum 2o mensageiro: outras pequenas moléculas são usadas para transmitir a informação a partir dos complexos ligante-receptor, alterando a sua concentração intracelular (ex.: cAMP, cGMP, Ca2+, IP3, DAG, etc). O uso de 2 os mensageiros tem algumas consequências: (1) leva à amplificação do sinal, pois a activação de um único receptor leva à formação de muitas destas moléculas, (2) os 2os mensageiros difundem-se livremente para outros compartimentos, influenciando vários processos celulares, e (3) pode haver “conversa cruzada”, pois a actuação de várias vias de sinalização pode alterar a concentração de um 2o mensageiro comum; 4. Activação de efectores que alteram directamente a resposta fisiológica: o último efeito da via de sinalização é activar ou inibir bombas iónicas, enzimas e factores de transcrição génica que controlam directamente vias metabólicas, activação de genes e alguns processos como a transmissão nervosa; 5. Terminação do sinal: após uma célula ter completado a sua resposta a um sinal, o processo de sinalização deve ser terminado ou a célula perde a sua capacidade de resposta a novos sinais. Um fármaco é uma substância química que, quando aplicada a um sistema fisiológico, afecta o seu funcionamento. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 20 De um modo geral, há quatro tipos de moléculas reguladoras que normalmente actuam como alvos farmacológicos primários: 1. Receptores; 2. Enzimas; 3. Moléculas transportadoras; 4. Canais iónicos. Receptores Elementos (sensores) que estabelecem comunicação química e coordenam, assim, a função de todas as células no organismo; Proteínas transmembranares que reconhecem e aos quais se ligam substâncias químicas endógenas (como hormonas, neurotransmissores), de modo específico e reversível; A ligação traduz-se numa determinada resposta, com modificação do comportamento celular – transdução de sinal – alterações metabólicas, da expressão genética,… Canais Iónicos Possuem um receptor na sua estrutura; Podem ser ocupados por: o Antagonistas (bloqueiam o canal, impedindo a passagem de iões); o Agonistas (modulam a actividade do canal, aumentando ou diminuindo a permeabilidade, consoante o canal iónico em causa). Enzimas Fármaco é um substrato análogo, que inibe competitivamente a enzima; Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 21 Molécula do fármaco liga-se irreversivelmente e não competitivamente à enzima (ex.: aspirina); Fármaco actua como falso substrato: sofre acção enzimática e é transformado quimicamente, originando um produto metabólico que normalmente não é produzido e que altera via metabólica normal). Nota: Alguns fármacos necessitam de ser degradados enzimaticamente para ficarem activos – pró-fármacos. Moléculas Transportadoras Semelhantes a canais iónicos, embora geralmente dêem passagem a moléculas de maiores dimensões; São importantes no transporte de moléculas polares (e, por isso, pouco lipossolúveis) através das membranas celulares; A actividade das moléculas transportadoras está muitas vezes associada a fenómenos de simporte ou antiporte, com transporte de Na+ na mesma direcção ou na direcção oposta da molécula co-transportada, respectivamente; Exemplos: 1. Transportadores de glucose e aminoácidos para o interior das células; 2. Transportadores de Na+ e Ca2+ para o exterior das células; 3. Transportadores de neurotransmissores (ou precursores de neurotransmissores) pelos terminais nervosos. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 22 Agonista Ligante que se liga ao receptor e desencadeia uma resposta biológica; Para que haja resposta, a ligação ao receptor tem de ter uma determinada afinidade (que garanta ligação ao receptor) e eficácia (que traduza a resposta desencadeada); Quando o agonista é uma molécula hidrossolúvel (ex.: hormonas peptídicas), liga-se a receptores membranares e o sinal desencadeado pela ligação é transmitido e amplificado pela activação de moléculas intracelulares – 2os mensageiros (ex.: cAMP, cGMP, IP3) – sendo a resposta rápida, ao nível da actividade enzimática; Se o agonista for lipossolúvel (ex.: hormonas esteróides), entra na célula, atravessando a bicamada fosfolipídica da membrana, para se ligar a receptores intracelulares. O complexo ligante-receptor actua sobre o DNA, desencadeando uma resposta mais lenta, ao nível da expressão génica, por modificação da síntese proteica. Antagonista Substância que se liga ao receptor, mas não desencadeia resposta biológica; Tem afinidade (porque estabelece ligação), mas não tem eficácia (já que não produz nenhuma resposta celular); Utilizado terapeuticamente para corrigir situações de hiperactividade/hiperfunção (o antagonista bloqueia o receptor e diminui, assim, a sua actividade). Receptores de Membrana e Mecanismos de Transdução de Sinais De acordo com a estrutura e mecanismo de transdução, existem 4 tipos de receptores: 1. Receptores ionotrópicos; 2. Receptores metabotrópicos; 3. Receptores associados a proteínas cinases; 4. Receptores intranucleares. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 23 Receptores Ionotrópicos ou Canais Iónicos Os receptores deste tipo controlam os eventos sinápticos mais rápidos do sistema nervoso, nos quais um neurotransmissor actua na membrana pós-sináptica de uma célula nervosa ou muscular e aumenta transitoriamente a sua permeabilidade a iões particulares. A maioria dos neurotransmissores excitatórios, como a acetilcolina, na junção neuromuscular, ou o glutamato, no sistema nervoso central, causa um aumento na permeabilidade de Na+ e K+. Isto causa uma despolarização da célula e um aumento da probabilidade de ser gerado um potencial de acção. A acção do transmissor atinge um pico numa fracção de um milissegundo, e decresce em poucos milissegundos, o que significa que o acoplamento entre o receptor e os canais iónicos é directo, o que é possibilitado pela estrutura molecular do complexo receptor-canal. Receptores acoplados à proteína G podem controlar directamente canais iónicos, sem intervenção de segundos mensageiros, estabelecendo-se interacção entre a subunidade βγ da proteína G e o canal iónico. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 24 Exemplos: receptores de acetilcolina* do músculo cardíaco e receptores para analgésicos opióides** nas células neuronais controlam a permeabilidade dos canais de ião K+. * Acetilcolina é um neurotransmissor que causa vasodilatação, diminuição da frequência cardíaca e redução de força de contracção cardíaca. ** Opióides são um grupo de fármacos que actuam nos receptores opióides neuronais. Eles produzem acções de insensibilidade à dor (analgesia) e são usados principalmente na terapia da dor crónica e da dor aguda de alta intensidade. RESUMINDO: Estão envolvidos principalmente na transmissão sináptica rápida. Existem várias famílias estruturais, a mais comum sendo conjuntos heteroméricos de quatro ou cinco subunidades, com hélices transmembranares organizadas em torno de um canal central aquoso. A ligação de um ligante e a abertura do canal ocorre numa escala de tempo de milissegundos. Receptores Metabotrópicos ou GPCRs (Associados à Proteína G) A família dos GPCR inclui os receptores muscarínicos, adrenérgicos, de dopamina, opióides, de péptidos e de purinas e os quimiorreceptores envolvidos no olfacto e detecção de feromonas. Muitos neurotransmissores, além de péptidos, podem interagir tanto com GPCRs como com canais iónicos, permitindo que a mesma molécula produza uma ampla variedade de efeitos. As hormonas peptídicas individuais, por outrolado, actuam tanto em GPCRs como em receptores ligados a cinases, mas raramente em ambos, e uma selectividade semelhante se aplica a muitos ligantes que atuam sobre receptores nucleares. Um GPCR consiste numa cadeia polipeptídica até 1100 aminoácidos, sendo a sua estrutura composta por sete α hélices transmembranares, com um domínio N- terminal extracelular de comprimento variável e um domínio C-terminal intracelular. Os GPCRs são divididos em três famílias distintas, que têm em comum a estrutura hepta-helicoidal, mas diferem noutros aspectos, principalmente no comprimento do domínio N-terminal extracelular e da localização do domínio de ligação ao agonista. A rodopsina é uma proteína abundante na retina e produz uma resposta nos bastonetes (hiperpolarização, associada à inibição da condutância de Na+) através de um mecanismo que envolve uma proteína G. No entanto, neste caso, é um fotão, e não uma molécula agonista, que produz a resposta. Ou seja, a rodopsina incorpora a sua própria molécula agonista, o retinal, que isomerisa da configuração trans (inactiva) para a cis (activa) quando absorve um fotão. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 25 As proteínas G constituem uma família de proteínas membranares cuja função é reconhecer GPCRs activados e passar a mensagem aos sistemas efectores que geram uma resposta celular. São chamadas de proteínas G por causa de sua interacção com os nucleótidos da guanina, GTP e GDP. São constituídas por três subunidades: α, β e γ. Os nucleótidos de guanina ligam-se à subunidade α, que têm actividade enzimática, catalisando a conversão de GTP em GDP. As subunidades β e γ permanecem juntas num complexo βγ. As três subunidades estão ancoradas à membrana através de uma cadeia de ácidos gordos, acoplados à proteína G por meio de uma reacção conhecida como prenilação. No estado de “repouso”, a proteína G está sob a forma de um trímero αβγ solto, com um GDP ocupando a subunidade α. Quando um GPCR é activado por um agonista, ocorre uma mudança conformacional, envolvendo o domínio citoplasmático do receptor, fazendo-o adquirir elevada afinidade para αβγ. Associação do αβγ ao receptor faz com que o GDP se dissocie e seja substituído por GTP, que, por sua vez, provoca a dissociação do trímero da proteína G, libertando as subunidades α-GTP e βγ. Estas formas “activas” difundem-se na membrana e podem associar-se a várias enzimas e canais iónicos, causando activação do alvo. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 26 Quando a subunidade α, através da sua actividade GTPásica, hidrolisa o GTP a GDP, a sinalização termina. A subunidade α-GDP resultante dissocia-se do efector e reúne-se com a subunidade βγ, completando o ciclo. A ligação da subunidade α a um efector aumenta a sua actividade GTPásica. A magnitude deste aumento é diferente para diferentes tipos de efectores. Uma vez que a hidrólise do GTP é a etapa que termina a capacidade da subunidade α produzir o seu efeito, a regulação da sua actividade GTPásica pela proteína efectora significa que a activação do efector tende a ser autolimitada. O mecanismo resulta numa amplificação, pois um único complexo agonista-receptor pode activar várias proteínas G, e cada uma delas pode permanecer associada à enzima efectora por tempo suficiente para produzir várias moléculas de produto. O produto é muitas vezes um 2o mensageiro e a amplificação adicional ocorre antes de a resposta celular final ser produzida. Nota: A fosforilação é o mecanismo regulador de grande parte dos processos metabólicos em células eucarióticas. As cinases são enzimas que catalisam preferencialmente reacções de fosforilação, com conversão de ATP a ADP (ATP ADP + Pi), reacção muito favorável por ser muito exergónica. As fosfatases catalisam geralmente reacções de desfosforilação, que não envolvem passagem de ATP a ADP, visto tratar-se de uma reacção pouco favorável do ponto de vista energético. O ATP é o dador mais comum de grupos fosfato. Funções das GPCRs: Acção e secreção hormonal; Transmissão nervosa; Quimiotaxia (migração de células, sobretudo leucócitos, em direcção a um gradiente químico); Exocitose; Embriogénese; Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 27 Crescimento e diferenciação celulares; Funções sensitivas (olfacto, paladar, visão);Infecção viral. Os principais alvos das proteínas G, através dos quais os GPCRs controlam os diferentes aspectos da função celular, são: Guanilato ciclase, responsável pela formação de cAMP; Fosfolipase C, responsável pela formação de fosfato de inositol e diacilglicerol; Canais iónicos, particularmente de cálcio e potássio; RhoA/Rho-cinase, um sistema que controla a actividade de muitas vias de sinalização, controlando o crescimento e a proliferação celular, a contracção do músculo liso, etc. GUANILATO CICLASE O cAMP é um nucleótido sintetizado na célula a partir do ATP pela acção de uma enzima ligada à membrana, a guanilato ciclase. É produzido continuamente e inactivado pela hidrólise de 5'-AMP, através da acção de uma família de enzimas, as fosfodiesterases. Diversos medicamentos, hormonas e neurotransmissores actuam nos GPCRs e produzem os seus efeitos aumentando ou diminuindo a actividade catalítica da guanilato ciclase, aumentando ou diminuindo a concentração de cAMP dentro da célula. Existem diversas isoformas moleculares da enzima, algumas das quais respondem selectivamente a Gαs ou Gαi. O AMP cíclico regula vários aspectos da função celular, incluindo, por exemplo, enzimas envolvidas no metabolismo, a divisão e a diferenciação celular, o transporte de iões, os canais iónicos e as proteínas contrácteis do músculo liso. Estes efeitos variados são, porém, provocados por um mecanismo comum, ou seja, a activação de proteínas cinases pelo cAMP. As proteínas cinases regulam a função de várias proteínas celulares por fosforilação de proteínas que controlam. O cAMP é hidrolisado no interior das células por fosfodiesterases. Existem vários subtipos de fosfodiesterases, alguns dos quais são cAMP-selectivas, enquanto outras são cGMP-selectivas. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 28 FOSFOLIPASE C O fosfatidilinositol (PIP2) é um importante 2 o mensageiro intracelular. O PIP2 é o substrato de uma enzima ligada à membrana, a fosfolipase C (PLC), que se divide em diacilglicerol e trifosfato de inositol (IP3), os quais funcionam como 2 os mensageiros. A activação da PLC por vários agonistas é mediada pela proteína G. Após a clivagem do PIP2, o DAG é fosforilado para formar o ácido fosfatídico, enquanto que o IP3 é desfosforilado e reassociado ao ácido fosfatídico para formar PIP2 de novo. CANAIS IÓNICOS Os GPCRs podem controlar directamente a função de canais iónicos por mecanismos que não envolvem 2os mensageiros, como o cAMP ou o fosfato de inositol. RhoA/Rho-CINASE Esta via de transdução de sinal é activada por GPCRs (e também por mecanismos não-GPCR) que de ligam a proteínas G. A subunidade α da proteína G interage com um factor de troca de nucleótido de guanosina, que facilita a troca de GDP por GTP numa outra GTPase, a Rho. A Rho-GDP, na forma de repouso, está inactiva, mas quando a troca GDP-GTP ocorre, a Rho é activada que, por sua vez, activa a Rho-cinase. A Rho-cinase fosforila várias proteínas do substrato e controla uma grande variedade de funções celulares, incluindo a contracção e proliferação do músculo liso, a angiogénese e a remodelação sináptica. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 29 RESUMINDO: São estruturas compostas por α-hélices que atravessam a membrana sete vezes, muitas vezes sob a forma dimérica. Uma das alças intracelulares é maior do queas outras e interage com a proteína G. A proteína G é uma proteína da membrana composta por três subunidades (α, β e γ), a subunidade α possuindo actividade GTPásica. Quando o trímero se liga ao receptor ocupado por antagonista, a subunidade α dissocia-se e activa um efector (uma enzima de membrana ou um canal iónico). Nalguns casos, a subunidade βγ é o activador. A activação do efector termina quando a molécula de GTP ligada é hidrolisada, o que permite que a subunidade α se recombine com a subunidade βγ. Existem vários tipos de proteína G, que interagem com diferentes receptores e controlam de diferentes efectores. Receptores Associados a Proteínas Cinases Esses receptores de membrana mediam as acções de uma ampla variedade de mediadores de proteínas, incluindo factores de crescimento, citocinas e hormonas como a insulina e a leptina, cujos efeitos são exercidos principalmente ao nível de transcrição génica. A maioria desses receptores são proteínas constituídas por uma única cadeia até 1000 aminoácidos, com uma única hélice atravessando a membrana, associada a um grande domínio extracelular ligante e um domínio intracelular de tamanho e função variáveis. Os principais tipos de receptores associados a proteínas cinases são os seguintes: Receptores de tirosina cinase (RTKs): a sua estrutura incorpora uma tirosina cinase na região intracelular. Eles incluem os receptores para vários factores de crescimento; Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 30 Serina/treonina cinases: estruturalmente semelhantes aos RTKs, mas fosforilam resíduos de serina e/ou treonina, em vez de tirosina; Receptores de citocinas: não apresentam actividade enzimática intrínseca. Quando ocupados, associam-se e activam uma tirosina cinase citosólica; Receptores ligados a guanilato ciclase: estruturalmente semelhante aos RTKs, mas a porção enzimática é uma guanilato ciclase e exercem os seus efeitos estimulando a formação de cGMP. A fosforilação de proteínas é um mecanismo fundamental para controlar a função das proteínas (ex.: enzimas, canais iónicos, receptores, proteínas transportadoras) envolvidas na regulação dos processos celulares. A fosforilação e a desfosforilação são realizadas pelas cinases e fosfatases, respectivamente. Em muitos casos, a ligação do ligante ao receptor leva à dimerização. A associação dos dois domínios cinase intracelulares permite uma autofosforilação mútua dos resíduos de tirosina intracelulares. Os resíduos de tirosina fosforilados servem como locais de alta afinidade de encaixe a outras proteínas intracelulares, que formam a próxima etapa da cascata de transdução de sinal. Um grupo importante dessas proteínas são as proteínas de domínio SH2, que possuem uma sequência altamente conservada de cerca de 100 aminoácidos, formando um local de reconhecimento para os resíduos de fosfotirosina do receptor. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 31 VIA PROTEÍNA CINASE A A proteína cinase A (PKA) é constituída por dois tipos de subunidades: 1. Subunidade reguladora (R); 2. Subunidade catalítica (C). Na ausência de cAMP, a PKA forma o complexo R2C2 (enzimaticamente inactivo). Na presença de cAMP (4 moléculas), há dissociação do complexo R2C2 em: 1 subunidade R2; 2 subunidades C livres, aptas a fosforilar proteínas-alvo. Ligação do ligante ao receptor GPCRs Proteína G activada GTP liga-se à subunidade α Libertação do GDP Subunidade α separa-se das restantes Formação do complexo α-GTP Formação do complexo β-γ Activação da adenilato ciclase Activação de alvos (enzimas, canais iónicos) Síntese de cAMP, a partir de ATP 4 cAMP activam a proteína cinase A (PKA) PKA liberta as duas subunidades catalíticas (vão fosforilar outras proteínas) GTP hidrolisado a GDP Subunidade α cessa activação da adenilato ciclase Deixa de ser produzido cAMP a partir de ATP Reassociação da subunidade α com as subunidades β e γ Dissociação do complexo ligante-receptor Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 32 As respostas “luta ou fuga” que, em situações de stress, preparam o músculo para a acção são o resultado da actividade da PKA. Nestas situações, a glândula supra- renal produz a hormona adrenalina (ou epinefrina), que é lançada na corrente sanguínea e activa receptores β-adrenérgicos do coração e do músculo liso. Com a activação dos receptores, aumenta a produção de cAMP e a PKA é activada, fosforilando proteínas-alvo, provocando assim aumento da frequência cardíaca, dilatação das pupilas, mobilização de energia (lipólise dos adipócitos, glicogenólise e gluconeogénese) e aumento do fluxo sanguíneo no músculo esquelético. VIA PROTEÍNA CINASE C Ligação do ligante ao receptor GPCRs Mecanismo de transdução pela proteína G (semelhante ao da via PKA) Activação da fosfolipase C (PLC) PLC catalisa hidrólise de fosfatidilinositol (PIP2) Formação de dois 2os mensageiros Diacilglicerol (DAG) Proteína Cinase C (Ca2+ dependente) é activada pelos níveis de Ca2+, pelo DAG e pela fosfatidilserina Proteína Cinase C (PKC) activa vai fosforilar enzimas específicas no citosol Trifosfato de inositol (IP3) IP3 é desfosforilado a inositol, que se liga ao ácido fosfatídico, convertendo-se em PIP2 (pronto para novo ciclo) Difunde-se pelo citosol e liga-se a um receptor próprio na membrana das vesículas do RE Ca2+ e calmodulina contribuem para junção de vesículas com membrana plasmática nos processos de exocitose Libertação de Ca2+ no citosol Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 33 VIA PROTEÍNA CINASE G O sistema da proteína cinase G (PKG) é cGMP-dependente, ou seja, a produção da proteína PKG é estimulada pelo aumento dos níveis de cGMP (2º mensageiro) no citosol, por acção da guanilato ciclase. A PKG formada por acção de cGMP vai fosforilar enzimas no citosol, provocando, entre outros efeitos, relaxamento muscular e vasodilatação, aumentando o aporte de sangue e a disponibilidade de oxigénio. O monóxido de azoto (NO) é um composto amplamente utilizado que estimula esta via, ao aumentar a actividade da guanilato ciclase. RESUMINDO: Receptores de vários factores de crescimento incorporam uma tirosina cinase no seu domínio intracelular. Receptores de citocinas têm um domínio intracelular que se liga e activa a cinase citosólica quando o receptor está ocupado. Activação da Proteína Cinase G (PKG) Guanilato ciclase Estimula produção de cGMP, a partir de ATP Monóxido de azoto (NO) estimula Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 34 Os receptores possuem uma estrutura comum, com um grande domínio extracelular ligado a ligante, associado ao domínio intracelular através de uma hélice que atravessa a membrana uma única vez. A transdução de sinal geralmente envolve dimerização de receptores, seguido por autofosforilação dos resíduos de tirosina. Os resíduos de fosfotirosina agem como aceptores para os domínios SH2 de uma variedade de proteínas intracelulares, permitindo assim um controle de várias funções celulares. Eles estão envolvidos principalmente em eventos de controlo do crescimento e diferenciação celular, e indirectamente através da regulação da transcrição génica. Alguns receptores hormonais têm uma estrutura semelhante mas estão associados a guanilato ciclase. Receptores Intranucleares Há pelo menos 48 membros da família de receptores nucleares no genoma humano, o que representa uma percentagembastante pequena de receptores, mas são alvos importantes de medicamentos e desempenham um papel vital na sinalização endócrina, bem como na regulação metabólica. Os receptores nucleares são factores de transcrição activados por ligantes que estão envolvidos na transdução de sinais por modificação da transcrição génica. Estes receptores não estão incorporados na membrana. Alguns, como os receptores esteróides, tornam-se móveis na presença de seu ligante e podem translocar-se do citoplasma para o núcleo, enquanto outros, como o RXR, estão provavelmente confinados no interior do compartimento nuclear. Muitos receptores nucleares agem como sensores de lípidos e estão intimamente envolvidos na regulação do metabolismo lipídico dentro da célula. Os receptores nucleares têm um domínio N-terminal muito heterogéneo, que se liga a outros factores de transcrição e modifica sua própria ligação ou actividade, um núcleo altamente conservado, composto por uma estrutura responsável pelo Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 35 reconhecimento e pela ligação ao DNA, e um domínio C-terminal específico para cada classe de receptor. RESUMINDO: Família de 48 receptores solúveis que reconhecem sinais lipídicos e hormonais e modulam a transcrição génica. Existem duas classes principais de receptores nucleares: o Classe I: estão presentes no citoplasma, formam homodímeros e migram para o núcleo. Os seus ligantes são principalmente de natureza endócrina (ex.: hormonas esteróides); o Classe II: estão permanentemente no núcleo e formam heterodímeros. Os seus ligantes são geralmente lípidos (ex.: ácidos gordos); o Subclasse: estão envolvidos na transdução de sinais, principalmente endócrinos, mas funcionam como heterodímeros (ex.: hormona tiroideia). Os complexos ligante-receptor desencadeiam alterações na transcrição génica, ligando-se a elementos de resposta hormonal em promotores de genes e recrutando factores co-activatores ou co-repressores. Regulação dos Níveis Intracelulares de Cálcio A concentração intracelular de cálcio desempenha um papel importante na regulação da função celular (cinases e fosfatases, canais, transportadores, factores de transcrição, proteínas das vesículas sinápticas, etc.). Intracelularmente, a maior parte do Ca2+ está retido em organelos (retículo endoplasmático, retículo sarcoplasmático, mitocôndrias) e os níveis de Ca2+ livre no citosol são mantidos baixos, para impedir a precipitação de compostos carboxilados e fosforilados, que forma sais muito pouco solúveis quando se combinam com Ca2+. Estas baixas concentrações são conseguidas através de mecanismos de transporte que expulsam Ca2+ da célula. O nível de Ca2+ intracelular é determinado por três mecanismos reguladores que controlam: 1. Entrada de Ca2+: canais de Ca2+ controlados por voltagem (semelhantes aos canais de Na+ e K+) e canais de Ca2+ regulados por ligantes (a maioria são activados por neurotransmissores excitatórios); 2. Saída de Ca2+ da célula: o Ca2+ é transportado activamente por uma ATPase dependente de Ca2+. Também pode ocorrer troca de Na+/Ca2+ (troca de 3 Na+ por 1 Ca2+; o gradiente electroquímico de Na+ fornece energia necessária para saída do Ca2+, sem hidrólise de ATP); 3. Libertação de Ca2+ contido nos organelos celulares: a principal via pela qual os iões Ca2+ são libertados do RE/RS é o receptor de trifosfato de inositol (IP3R). O receptor é activado pelo trifosfato de inositol (IP3), um dos 2 os mensageiros resultantes da activação da fosfolipase C (PLC), que, uma vez activado, funciona como canal de Ca2+, permitindo que os iões sejam libertados no citosol. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 36 O PAPEL DA CALMODULINA NA FUNÇÃO REGULADORA DO CÁLCIO Na maioria dos casos, é necessária uma proteína ligante que sirva de intermediário entre Ca2+ e as proteínas funcionais que este regula. Um exemplo dessas proteínas intermediárias é a calmodulina (dímero com 4 sítios de ligação para Ca2+). Quando todos os centros de ligação estão ocupados, expõe um domínio hidrofóbico aderente que se dispõe ao redor de regiões específicas das proteínas alvo de regulação, induzindo alterações de conformação. O complexo Ca2+-calmodulina estimula uma vasta gama de enzimas, canais iónicos e outras proteínas-alvo, como, por exemplo, as proteínas cinases dependentes de calmodulina (CaM cinases). As CaM cinases fosforilam muitas proteínas diferentes e estão envolvidas na regulação do metabolismo energético, da permeabilidade iónica e da síntese e libertação de neurotransmissores. Efeitos Biológicos da Radiação O espectro de radiação emitido pelo Sol é muito amplo em comprimento de onda. Assim, muitos organismos vivos adaptaram-se e tiram partido da luz visível. Uma dessas adaptações consiste no processo de visão. No mundo biológico, o aproveitamento de largas gamas de energia de radiação é ditado pela capacidade das moléculas em sofrer alterações controladas quando interactuam com a radiação. Enquanto a radiação gama, por exemplo, pode quebrar ligações Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 37 químicas indiscriminadamente, as ondas rádios não têm qualquer efeito marcante sobre as moléculas. Compreensivelmente, ambas não são utilizadas pelos seres vivos. Na zona de energia intermédia, as moléculas podem ter os seus electrões excitados e mudar de conformação em consequência disso. É esta a chave do processo de visão. A radiação infravermelha excita alguns terminais nervosos e a sua acção biológica é uma percepção de calor. Visão A mudança de conformação (cis-trans) do retinal desencadeia o processo molecular de visão nas membranas das células cones e bastonetes dos olhos. O retinal está ligado à proteína rodopsina. Os raios ultravioleta estão na fronteira entre a radiação visível e a radiação que causa quebra de ligações covalentes (dita ionizante). Embora não extremamente ionizantes, podem, sobretudo em doses elevadas, quebrar ligações e provocar danos em tecidos, inclusive ao nível de ácidos nucleicos, com risco muito acrescido de cancro. A derme e os olhos, estando muito expostos, requerem especial atenção. Os óculos escuros e os cremes protectores solares são as formas de defesa mais simples e comuns. Ambos se baseiam num princípio comum: interpor entre a fonte de radiação (sol) e os tecidos (olhos/derme) moléculas que absorvem a radiação UV, não a deixando chegar aos tecidos. As lentes são compostas por materiais vítreos ou plásticos que absorvem radiação UV, enquanto os protectores solares se baseiam em emulsões de moléculas aromáticas, como derivados de benzofenonas e benzoatos. Também são por vezes usadas moléculas inorgânicas. Brigitta Cismasiu | FMUL 2010/2011 38 Aminoácidos e Proteínas Aminoácidos Os aminoácidos são as unidades estruturais básicas das proteínas. São constituídos por um átomo de carbono central (carbono α), ligado a um grupo amina, um grupo de carboxilo, um átomo de hidrogénio, e um grupo R (cadeia lateral). Estereoisómeros A quiralidade do carbono α origina uma configuração tetraédrica assimétrica e, portanto, existem 2 enantiómeros (isomerismo óptico): Com a ligação Cα–H perpendicular ao plano do papel, o átomo de hidrogénio para trás do mesmo plano e o grupo R para cima, um aminoácido com o grupo amina projectado para a esquerda tem configuração L e um aminoácido com o grupo amina projectado para a direita tem configuração D. As definições L e D estão relacionadas com a capacidade de desviar a luz polarizada. Apenas os L-aminoácidos são constituintes das proteínas. Propriedades Iónicas Os aminoácidos em solução de pH neutro existem predominantemente
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