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ARTIGO1 ME Gleice Bello da Cruz

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Avanços e limitações da Política de Segurança Pública na proteção às crianças e adolescentes
Gleice Bello da Cruz[2: Especializanda em Metodologia de Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes.]
Maria Leolina Couto Cunha[3: Coordenadora da Especialização em Metodologia do Enfrentamento à Violência contra Criança e Adolescente, da Faculdade 7 de Setembro. Especialista em Direito Penal. Coordenadora Nacional do Centro de Combate à Violência Infantil CECOVI. ]
RESUMO
Este trabalho objetiva expor resumidamente a historicidade da Política de Segurança Pública, seus avanços e limites, enquanto Política Pública, no âmbito da proteção da criança e do adolescente, destacando a realidade dos equipamentos disponíveis voltados para assegurar tal ação, como as Delegacias Especializadas de Proteção à Criança e Adolescente.
Palavras-chave: Segurança Pública. Polícia Civil. Criança e Adolescente. 
ABSTRAT
	
This paper aims to briefly expose the historicity of Public Security Policy, its leaps and bounds, while Public Policy, under the protection of children and adolescents, highlighting the reality of available equipment geared to ensure such action as the Special Police Protection of Children and Adolescents. 
Keywords: Public Safety. Civil Police. Children and Adolescents.
INTRODUÇÃO
A evolução da sociedade brasileira demandou que o país se organizasse conforme suas necessidades. A violência foi um dos fatores que ao longo dos anos passou a ser uma das maiores preocupações e as exigências às organizações públicas responsáveis pela proteção passaram a ser reforçadas.
A Política de Segurança Pública foi se estruturando primeiramente na visão de controle social dos excluídos, pautadas em culturas autoritárias. Posteriormente, se fortaleceu na execução da República. A trajetória para a democracia, culminada pela Constituição de 1988, estabeleceu transformações significativas, com a finalidade de romper com características centralizadoras e definir responsáveis.
A descentralização das organizações policiais e a redefinição da Política por meio de determinações Constitucionais atribuíram parcialmente às Polícias a segurança pública e novas estratégias foram implantadas através do Plano Nacional, na tentativa de aperfeiçoar as instituições e minimizar os efeitos da violência.
O ciclo de violência socialmente se organiza de formas diferenciadas, acompanhando a dinâmica da sociedade e, no entanto, as organizações policiais protelaram em adaptar-se às necessidades de proteção dos indivíduos. 
No que se refere à proteção da criança e do adolescente, a Política de Segurança Pública em cada estado, com suas novas definições aprimorou suas estruturas com as Delegacias Especializadas, de forma a responder à sociedade com suas ações e acompanhar a evolução das políticas públicas na garantia de direitos. Contudo, somente a criação de novos mecanismos não promove resolutividade à problemática.
A população brasileira anseia pela real presença do Estado nas expressões da questão social, sobretudo na redução da impunidade que está enfatizada como plano de providências imediatas. No entanto, a Política de Segurança Pública se depara com grandes desafios, especialmente na redução dos efeitos da impunidade. Toda vítima de violência, espera do “Órgão Protetor” assistência e rigorosidade na penalização dos agressores.
O quantitativo de equipamentos Policiais específicos, principalmente as delegacias especializadas de proteção da criança e do adolescente são mínimas e não suportam a demanda, comprometendo a eficácia das ações e aumentando a sensação de impunidade.
Ainda que seja compartilhada a responsabilidade da segurança pública no país, a organização policial é quem detém o Poder de Polícia, enquanto representante do Estado e por isso deve assegurar integralmente proteção às vítimas de violência quando a família não o puder. 
1 A HISTORICIDADE DA POLITICA DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL.
A necessidade de segurança representou um das causas mais importantes para o agrupamento social. Porém a ideia de segurança que se tinha nos primórdios da humanidade, nada teve a ver com a ideia contemporânea de segurança pública.
O conceito atual é fruto da evolução da maneira como esta necessidade de segurança se apresentou-nos diferentes momentos históricos pelos quais a humanidade passou. Da necessidade social de segurança, nasceu a Polícia e seu conceito tem evoluído com a sociedade.
A polícia é (...) uma instituição social cujas origens remontam às primeiras aglomerações urbanas, motivo pelo qual ela apresenta a dupla originalidade de ser uma das formas mais antigas de proteção social, assim como a principal forma de expressão da autoridade. Encontra-se, portanto, intimamente ligada à sociedade pela qual foi criada, e seus objetivos, a sua forma de organização e as suas funções devem adaptar-se às características sócio-políticas e culturais da comunidade em que ela deverá atuar. (RICO; SALAS, 1992 apud MARCINEIRO; PACHECO, 2005, p. 22)
A história da polícia no Brasil, enquanto organização, se iniciou no período da vinda da Família Real Portuguesa, segundo alguns pesquisadores. Foi criada através de Alvará (10 de maio de 1808) a Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil, o casulo da atual Polícia Civil. Órgão instituído para implantar e dirigir a estrutura de polícia da Corte do Rio de Janeiro e de todo o território brasileiro. Tal modelo fundamentou suas bases na instituição já existente em Lisboa. Detinha funções judiciais, na época definidas como estabelecimento de punições e cumprimento das mesmas.
No ano seguinte (1809), D. João VI criou através do Decreto de 13 de maio a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia, o precursor da atual Polícia Militar. Uma espécie de organização policial com a finalidade de prover a segurança e a tranquilidade pública da Corte. Suas atividades se resumiam em capturar escravos e criminosos (característica atribuída aos que não aceitassem as determinações da Corte) e reprimir ações de comercialização ilegal.
Somente poderiam fazer parte desta Guarda, cidadãos eleitores, ou seja, àqueles que possuíam renda mínima conforme determinava a Constituição Política do Império de 1824. O nível de direitos era estabelecido pela propriedade e pela riqueza, evidência de uma organização pautada em tradições discriminatórias.
Em 1831, Período Regencial (Regente Padre Diogo Antônio Feijó), os governos provinciais foram convocados à extinguir todos os corpos policiais e para substituí-los, cada província criou seu Corpo de Guardas Municipais Voluntários e Permanentes, que posteriormente foi alterada para Corpo Policial Permanente, constituindo uma repaginação da Polícia Militar dos Estados da Federação.
Foi criada em 1866, a Guarda Urbana através do Decreto Imperial nº. 3.598, o qual provocou o início de uma reorganização e definição de duas forças policiais da Corte: 
Art. 1º A força policial da Côrte será composta de um corpo militar e de um Corpo paisano ou civil. (...);    Art. 3º O Corpo militar será o actual Corpo policial, que continuará a ter a mesma denominação e a organização do (...) decreto nº 2081 de 1858. (...); Art. 4º O Corpo paisano ou civil será denominado - guarda urbana (...); Art. 6º Incumbe á guarda urbana a vigilancia continua da cidade. (...). (DECRETO IMPERIAL, 1866)
Posteriormente (1871), foram reformulados a relevância da polícia judiciária através do Inquérito Policial (procedimento policial administrativo) e da criação em cada província de um Chefe de Polícia com seus Delegados e Subdelegados, escolhidos entre os cidadãos.
Após 18 anos (1889), com a Proclamação da República, ficou determinado que todos os governos estariam responsáveis pela defesa da ordem e da segurança pública de seu território, conforme Decreto nº 01. Tal determinação fez alusão à segurança pública, entretanto apresentou omissão quanto à organização e definição.
Os Governos dos Estados federados adotarão com urgênciatodas as providências necessárias para a manutenção da ordem e da segurança pública, defesa e garantia da liberdade e dos direitos dos cidadãos quer nacionais quer estrangeiros. (DECRETO Nº01, 1889, art. 5º)
No mesmo ano, a Guarda foi extinta, contudo posteriormente sucedida pela Guarda Civil do Distrito Federal.
Após o reordenamento político do país, crises e mudanças sociais (crescimento urbano, modificações nas relações de classes, décadas de Regime Militar, entre outros), foram provocadas por uma doutrina de segurança nacional autoritária e militarizada. Mesmo diante de um processo de redemocratização, o país não conseguiu romper com as raízes repressoras.
Em meio a inúmeras turbulências, a sociedade conquistou espaços e garantias, minimizando as violações, contudo não foram suficientes para reduzir as ações abusivas da época, praticadas pela Força Policial.
As violências cometidas pelos senhores continuavam a encontrar, em certos casos, o apoio da polícia. A polícia e a justiça não impediam as arbitrariedades dos Senhores; seus membros recrutados entre as categorias dominantes ou à sua clientela, colaboravam para a manutenção do regime. (COSTA apud FERNANDES, 1989, p. 315)
O crescimento urbano com a abolição da escravatura gerou modificações nas instituições policiais, entretanto não nas ações, considerando que sua interpretação de função se pautava à uma Ideologia de Controle Social, principalmente da população rural migrante. Ações como vadiagem, prostituição, embriaguez e capoeira eram considerados crimes e por isso algumas medidas foram tomadas para conter tal classe caracterizada como perigosa. (HOLLOWAY, apud SOUSA; MORAIS, 2011)
O golpe em 1930 trouxe ao país uma nova ordem política e as polícias assumiram novas funções, como agente colaborador de um regime autoritário em combater inimigos (oposições políticas e a classe pobre). A estrutura das polícias receberam inovados parâmetros quanto aos responsáveis, sendo submissos ao Exército.
No Regime Militar, a Força Policial continuou a reprimir as oposições políticas com ações de torturas e prisões, passando a ser subordinada às Forças Armadas. Em desenvolvimento e legitimação ao aparelho repressor, foi decretado em 1967 uma Lei nº 314, definindo e detalhando inúmeros crimes contra a Segurança Nacional e competia à Justiça Militar, julgá-los. Tal lei restringiu em grande escala a liberdade da população.
Em 1988, uma nova constituição organizou a Segurança Pública, na tentativa de romper com a imagem autoritária e centralizadora da Constituição anterior (1967), abrindo espaço para uma perspectiva democrática, conforme texto constitucional:
A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I-polícia federal;
II-polícia rodoviária federal;
III-polícia ferroviária federal;
IV-polícias civis
V-polícias militares e corpos de bombeiros militares.
(CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, ART. 144, 1988)
A Política de Segurança Pública no Brasil sofreu mudanças de objetivos no decorrer de cada período político e em consequência disso, a alteração de conceitos e responsáveis. A reorganização das polícias no Brasil ficou descentralizada e cada federação passou a possuir a autonomia em direcionar a Política de Segurança Pública de acordo com a realidade local.
“A Polícia passou a ser entendida como organização administrativa que tem por atribuição impor limitações à liberdade (individual ou coletiva) na exata medida necessária à salvaguarda e manutenção da ordem pública.” (LAZZARINI apud MARCINEIRO; PACHECO, 2005).
2 A POLÍCIA CIVIL PÓS CONSTITUIÇÃO DE 1988.
O texto da Carta Magna atribuiu parcialmente a Segurança Pública às polícias, enquanto preservação da ordem pública, “caracterizada por um estado de serenidade, de apaziguamento e de tranquilidade pública, em consonância com as leis, os preceitos e os costumes que regulam a convivência em sociedade”. (D’URSO apud DA COSTA, 2013) 
Após a Constituição, um inovado modelo foi inserido na Política de Segurança Pública, pautando as práticas policiais em uma perspectiva preventiva, próxima da população, enfatizando ações mediadoras, de diálogo, gerando um processo de confiança entre os agentes da polícia e a população.
A Polícia é representante do Estado e executa as determinações do mesmo para a sociedade. Tem suas ações reguladas por “diretrizes, princípios (...), regras e procedimentos estabelecidos para mediar às relações entre os atores da sociedade e o poder público”, conforme TEIXEIRA (2002). Tais diretrizes são denominadas de Políticas Públicas, que visam garantir a efetivação dos direitos de cidadania demonstrados pelos diversos setores da sociedade. Cabe destacar que mesmo a sociedade traduzindo suas demandas por meio de mobilizações, o poder público pode interpretá-las de forma equivocada e sua referência não ter legitimação. 
A Política de Segurança Pública constituiu um Plano Nacional em 2000, objetivando aprimorar o sistema de segurança brasileiro e articular outras politicas públicas, gerando redução da impunidade e “tranquilidade aos cidadãos”. Para alcançar tais objetivos, foram elaborados 15 compromissos com 124 ações a serem executadas. Destacam-se nesse contexto:
(...) Compromisso nº08 - Inibição de Gangues e Combate à Desordem Social.
Ação 62: Criação de Delegacias Especializadas para Atendimento do Adolescente.
Resultados Esperados entre 2000-2002: Delegacias especializadas para o atendimento de crianças e adolescentes criadas e funcionando adequadamente; Redução da violência familiar.
Compromisso nº09 - Eliminação de Chacinas e Execuções Sumárias.
Ação 72: Investigação de Chacinas e Execuções Sumárias
Resultados Esperados entre 2000-2002: Redução (...) de mortes; Investigação de crimes (...) mais adequada e mais eficiente.
Compromisso nº12 - Capacitação Profissional e Reaparelhamento das Polícias.
Ação 93: Criação do Fundo Nacional de Segurança Pública;
Ação 96: Reaparelhamento das Polícias Estaduais;
Ação 99: Núcleo Especial de Combate à Impunidade. 
Resultados Esperados entre 2000-2002: Polícias mais qualificadas e com resultado mais eficaz; Polícias aparelhadas adequadamente (...). (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA – PLANO NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2000)
É evidente que o Poder Público concretizou algumas ações de revitalização do Sistema de Segurança Pública Brasileiro, contudo os resultados não foram palpáveis pela população e o ciclo de violência foi tomando dimensões diversificadas, ocasionado descontrole desses fluxos. Programas foram implantados, como o Pronasci (Ministério da Justiça - Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, 2007), Programa Brasil Mais Seguro (2012), destinando suas ações à prevenção, controle, repressão e redução da criminalidade e impunidade, com atuações em origens socioculturais, entretanto, apenas os estados mais violentos receberam as primeiras ações.
A violência é um fenômeno construído histórico e socialmente, portanto pode ser modificada e se apresentar de várias modalidades: física, sexual, psicológica, negligência/abandono, em categorias classificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como Autoprovocada (violência praticada contra si mesmo), Interpessoal (por indivíduos ou grupos) e Coletiva (por organizações maiores, como o Estado). Especificamente contra crianças e adolescentes, a violência vem alcançando alarmantes níveis, conforme dados publicados em 2013 pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), informando que cerca de 355 crianças são vítimas de violência no Brasil, diariamente.
A cada período, a sociedade busca ações que minimize a impunidade e nesse compasso, o Disque Denúncia reflete tal demanda, recebendo em 2012 aproximadamente 130.000 denúncias, apresentando um fluxo de aumento em relação ao ano anterior, enfatiza a Secretaria de Direitos Humanos (SDH). 
Varias Políticas Públicassão implantadas a fim de promover a proteção integral à criança e ao adolescente, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº. 8.069/90, no entanto não reduziu o índice de violência contra esse público.
O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGD) é pautado em três eixos (Promoção, Controle e Defesa) articulados a sistemas operacionais de políticas públicas na área da saúde, assistência social, educação, trabalho, segurança pública, relações exteriores, valorização da diversidade, orçamentária, planejamento e outros. Tem a atribuição de garantir o reconhecimento e o respeito desse público, como sujeitos de direitos.
No eixo da Defesa (garantia de acesso à justiça) situa-se vários órgãos públicos, entre eles a Polícia Civil que igualmente tem a atribuição de garantir a apuração e reparação das violações.
A Constituição Federal determina às organizações policiais que promovam a segurança do indivíduo e para isso criou uma Política Pública direcionada à estabelecer parâmetros de proteção a qualquer sujeito de direitos, conforme visto.
Atualmente percebe-se que o aprimoramento da Política de Segurança Pública, destinado à proteção da criança e do adolescente, não está acompanhando a dinâmica das vítimas em visualizar a penalização do agressor em tempo hábil, e assim consequentemente suscitar o sentimento de justiça e confiabilidade. 
Tal contexto se ratifica com a estrutura atual da organização policial, notadamente a encarregada de funções judiciais. Especificamente a Polícia Civil, com a atribuição de atuar nas investigações criminais destinadas a esclarecer a autoria das práticas de infrações penais através de procedimentos específicos apresenta a seguinte composição:
Direção-Geral
Departamento de Polícia da Capital ou Metropolitana
Departamento de Polícia do Interior
Departamento de Polícia Especializada
Delegacia Antissequestro
Delegacia de Atendimento à Mulher
Delegacia de Atendimento à Terceira Idade
Delegacia de Polícia Fazendária
Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente
Delegacia de Homicídios
Delegacia de Crimes de Informática
Delegacia de Crimes contra a Saúde Pública
Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial
Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis
Delegacia de Proteção à Infância e Adolescência
Grupos ou Núcleos de Operações Especiais
Departamento de Polícia Técnico-Científica
Conforme ZAVERUCHA (2003), “a Polícia Civil é uma instituição que pode promover controle e descontrole social,” considerando os limitados equipamentos policiais disponíveis, como delegacias e recursos humanos. 
Em 2012, o quantitativo de Delegacias (Capital ou Metropolitana e Interior) no Brasil para atender às possíveis necessidades no âmbito da Segurança Pública de 193.946.886 habitantes se apresentava da seguinte forma, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – estimativa 07/2012), no quadro abaixo:
Quadro 1: Demonstrativo de quantitativo de Delegacias
	Estado
	Municípios com Delegacias de Polícia Civil
	Quantidade de Municípios no Estado
	Cobertura (%)
	Acre
	22
	22
	100
	Alagoas
	87
	102
	85,3
	Amapá
	11
	16
	68,8
	Amazonas
	10.248
	62
	77,4
	Bahia
	407
	417
	97,6
	Ceará
	108
	184
	58,7
	Distrito Federal
	
	1
	0
	Espírito Santo
	69
	78
	88,5
	Goiás
	174
	246
	70,7
	Maranhão
	166
	217
	76,5
	Mato Grosso
	116
	141
	82,3
	Mato Grosso do Sul
	75
	78
	96,2
	Minas Gerais
	569
	853
	66,7
	Pará
	133
	143
	93
	Paraíba
	215
	223
	96,4
	Paraná
	364
	399
	91,2
	Pernambuco
	182
	185
	98,4
	Piauí
	218
	223
	97,8
	Rio de Janeiro
	76
	92
	82,6
	Rio Grande do Norte
	66
	167
	39,5
	Rio Grande do Sul
	324
	496
	82,2
	Rondônia
	31
	52
	59,6
	Roraima
	10
	15
	66,7
	Santa Catarina
	288
	293
	98,3
	São Paulo
	634
	645
	98,3
	Sergipe
	75
	75
	100
	Tocantins
	113
	139
	81,3
	Brasil
	4.581
	5.564
	82,3
Fonte: Perfil dos Municípios Brasileiros/ IBGE
Vale destacar que conforme indicativo, aproximadamente 17,6% dos municípios brasileiros na época, não tinha delegacias, conforme divulgação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea/ 2012). Tal informação evidencia a escassez de equipamentos voltados para efetivação da segurança do indivíduo e ratifica a sensação de impunidade absorvida pela sociedade. O fluxograma das atividades da Polícia Civil se caracteriza como complexa, considerando que a evolução da mesma depende da dinâmica dos fatos, do comportamento das pessoas, da especificidade dos “crimes” e da colaboração de outros Órgãos Públicos. 
A Política de Segurança Pública, considerando o descontrole da criminalidade, a organização dos crimes, a equivocada relação dos atos criminais à pobreza e miséria, a desmoralização das instituições responsáveis pela Ordem Pública e a sensação de insegurança, sofreu reformulações. Sabe-se que toda Política Pública deve ser constantemente avaliada e/ou reformulada, relevando critérios quanto à natureza, abrangência e impactos em uma sociedade que vivencia inúmeras mudanças culturais, organizacionais e políticas.
Quanto a isso foram surgindo as Delegacias Especializadas em suporte às Delegacias Distritais e em decursos de ações criminosas cada vez mais especializadas e extensas a outros territórios.
Toda Delegacia Especializada, desempenha suas funções de forma mais precisa e direcionada, considerando a especificidade do crime, da investigação e da Equipe. Contudo, o crescimento da criminalidade, ocasionando a aumento da demanda e a escassez dessa modalidade de Delegacias, provoca a morosidade na penalização do autor do crime. Cabe destacar que quanto à Equipe, a falta de investimentos ou treinamentos induz à dinâmica das atividades sofrerem mecanização e a sensibilidade no atendimento às vítimas fica desqualificada.
Segundo informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, até 2006 existiam aproximadamente 71 Delegacias Especializadas de Proteção à Criança e ao Adolescente em todo o Brasil, sendo que algumas são de atendimento exclusivo para adolescentes autores de ato infracional ou atendem as duas demandas (crianças e adolescentes autores de ato infracional ou vítima).
Face a tal contexto, percebe-se que na maioria dos estados brasileiros existem 02 Delegacias Especializadas de Proteção à Criança e ao Adolescente, exceto no Amazonas (01), Mato Grosso do Sul (01), Paraná (01 - para atender aproximadamente 10,9 milhões de habitantes), Roraima (01), Santa Catarina (01), Sergipe (01), São Paulo (12 – para atender aproximadamente 43,6 milhões de habitantes) e Rio Grande do Sul (15 - para atender aproximadamente 11,1 milhões de habitantes). Devido a crescente demanda esses números ainda são insuficientes para que o atendimento se aproxime do adequado e realmente se efetive ações de proteção à criança e ao adolescente.
Essa realidade enfatiza que continuamente a descredibilidade da Polícia Civil, a impunidade e a sensação de insegurança referente à violência contra criança e adolescente permanecerão, considerando que apenas uma ou duas delegacias especializadas de proteção à criança e ao adolescente na maioria dos estados brasileiros não desenvolvem suas atividades de forma precisa e especializada.
É relevante destacar que o clico de violência, traz consequências destruidoras e outras possivelmente irreversíveis, podendo se perpetuar e/ou manter suas sequelas diante da impunidade.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A condução da Segurança Pública foi pautada em uma ideologia dominante e arbitrária, apresentando um polícia com características discriminatória e abusiva. Desmistificar esta imagem requer inovação nas ações, disponibilização de equipamentos adequados e em quantidade considerada, especialmente no que diz respeito à proteção à criança e ao adolescente.
A cada estado pertence a autonomia em gerir sua Política de Segurança Pública, no entanto é preocupantea escala de prioridades, considerando os investimentos e o que realmente é de interesse público.
Percebe-se que o número de delegacias especializadas de proteção à criança e ao adolescente não suporta a demanda apresentada e tampouco absorve todos os fatos, considerando que no Brasil, a maioria das referidas delegacias ficam localizadas na capital e as ocorrências no interior dos Estados, não são procedidas de forma qualificada, analisando pela ótica de delegacias comuns não possuírem profissionais capacitados para atender esse público enquanto vítimas. Nesse contexto, amplia-se a sensação de impunidade, visto que as investigações não são eficientes e eficazes.
Desenvolver ações dentro de uma perspectiva eficiente, contra crimes cometidos à criança e adolescentes requer presença assídua e competente do Estado dentro das instituições policiais e a realidade se apresenta de outra forma (estruturas físicas deterioradas, quadro de funcionários com equipe mínima, transportes precários).
Relevante mencionar que o Plano Nacional de Segurança Pública, lançado em 2000 define estratégias e compromissos destinados a promover qualidade de vida à sociedade, contudo não estipula prazo e suprime questões relativas à violência intrafamiliar (modalidade de maior índice de violência contra criança e adolescente). (SILVEIRA, 2002)
A execução da Política de Segurança Pública no âmbito da proteção à criança e ao adolescente é desafiadora, perpassa qualquer receita e mecanização de ações, considerando que a violência intrafamiliar apresenta-se de forma silenciosa e ameaçadora. Porém, o Estado que possui o Poder de Polícia, é o maior garantidor de direitos e por isso deve de forma absoluta priorizar à esse público, acesso a todos os direitos fundamentais “além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, ART. 227)
REFERÊNCIAS 
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________, Decreto nº 1, Proclama provisoriamente e decreta como fórma de governo da Nação Brazileira a Republica Federativa, e estabelece as normas pelas quaes se devem reger os Estados Federaes, 1889. Disponível em http://www.soleis.adv.br, acessado em 12/11/2013.
________, Decreto Imperial nº 3.598, Reorganiza a força policial da Côrte, dividindo-a em dous Corpos, um militar e outro civil, 1866. Disponível em http://www.policiacivil.rj.gov.br, acessado em 14/11/2013.
________, Ministério da Justiça. Relatório Descritivo – Pesquisa do Perfil Organizacional das Delegacias Especializadas da Criança e do Adolescente, 2006. Disponível em http://www.mj.gov.br/senasp, Acessado em 28/11/2013..
________, Ministério da Justiça. Caderno do Plano Nacional de Segurança Pública, 2000. Disponível em http://www.mj.gov.br/senasp, Acessado em 24/10/2013.
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DAMASCENO, Mara Livia Moreira. Segurança Pública Cidadã: A Experiência do Projeto Piloto do Núcleo de Mediação de Conflitos na 30ª Delegacia de Polícia Civil de Fortaleza, Fortaleza (CE) Agosto, 2013.
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LOPES, Brenner; AMARAL, Jefferson Ney. Políticas Públicas: Conceitos e Práticas. Série Políticas Públicas, Sebrae, Minas Gerais, Volume 7, 2008. Disponível em http://www.sebraemg.com.br Acessado em 05/12/2013.
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SITES CONSULTADOS:
www.ibge.gov.br

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