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03 Nocoes de Direito

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. 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IGP-SC 
Perito Oficial e Técnico Pericial 
 
Noções de Direito Penal: Infração penal: elementos, espécies. Sujeito ativo e sujeito passivo da 
infração penal. ......................................................................................................................................... 1 
 
Tipicidade, ilicitude, culpabilidade, punibilidade. ................................................................................. 3 
 
Crimes: Crimes contra Pessoa, ......................................................................................................... 36 
 
Crimes Contra o Patrimônio, ............................................................................................................. 76 
 
Crimes contra a fé pública, ............................................................................................................. 112 
 
Crimes contra a administração pública, .......................................................................................... 134 
 
Concurso de pessoas. .................................................................................................................... 178 
 
Noções de Direito Processual Penal: Do inquérito policial: artigos 06 e 07. .................................... 185 
 
Do exame de corpo de delito e das perícias em geral: artigos 158 a 184. ...................................... 187 
 
Incompatibilidade, impedimento e suspeição: artigos 112, 254 a 256. ............................................ 195 
 
Dos peritos e intérpretes: artigos 275 a 281. ................................................................................... 201 
 
Noções de Direito Constitucional: Dos Princípios Fundamentais: artigos 01 a 04. .......................... 202 
 
Dos Direitos e Garantias Fundamentais: artigos 05 a 11. ............................................................... 206 
 
Da Organização do Estado: artigos 37 a 41. ................................................................................... 235 
 
Noções de Direito Administrativo: Princípios Básicos da Administração Pública. ............................ 250 
 
Atos Administrativos: conceitos, requisitos, atos ordinatórios e invalidação. ................................... 260 
 
Servidores Públicos Civis: deveres, direitos e responsabilidades. .................................................. 263 
 
Legislação Especial: Lei 8.666/93 – artigos 01 a 06 e 20 a 26, ....................................................... 286 
 
1359479 E-book gerado especialmente para MARIA JULIA NEVES CAVALCANTI BEZERRA
 
. 2 
Lei 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), ................................................................................... 310 
 
Lei 11.340/06 (Maria da Penha), ..................................................................................................... 328 
 
Lei 11.343/06 (Drogas), .................................................................................................................. 346 
 
Código de Transito Brasileiro (art. 302 ao 312‐A), .......................................................................... 365 
 
Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente – Da prática de ato infracional, dos crimes em 
espécie e das infrações administrativas). ............................................................................................ 375 
 
Constituição do Estado de Santa Catarina: artigos 105 e 109‐A. .................................................... 450 
 
Norma que dispõe sobre o quadro de pessoal dos servidores do Instituto Geral de Perícias (Lei nº 
15.156/10), .......................................................................................................................................... 453 
 
Lei Complementar 610/13, .............................................................................................................. 470 
 
Lei 16.772/16. ................................................................................................................................. 473 
 
Lei 12.737/12 (Lei Carolina Dieckmann), ........................................................................................ 479 
 
Lei12.527/11 (Lei de Acesso à Informação), ................................................................................... 483 
 
Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos).. ..................................................................................... 504 
 
 
Candidatos ao Concurso Público, 
O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas 
relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom 
desempenho na prova. 
As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar 
em contato, informe: 
- Apostila (concurso e cargo); 
- Disciplina (matéria); 
- Número da página onde se encontra a dúvida; e 
- Qual a dúvida. 
Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O 
professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. 
Bons estudos! 
 
1359479 E-book gerado especialmente para MARIA JULIA NEVES CAVALCANTI BEZERRA
 
. 1 
 
 
Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante 
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica 
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida 
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente 
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores @maxieduca.com.br 
 
ELEMENTOS DA INFRAÇÃO PENAL 
 
Qualquer infração penal possui os seguintes elementos: 
- Tipicidade: o fato (evento) deve ser enquadrado plenamente no tipo (modelo) descrito na legislação 
penal. 
 - Ilicitude: isto é, o fato (evento) deve ser contra o Direito. Por vezes, mesmo que uma pessoa cometa 
uma conduta típica, há na lei exceções permissivas para sua conduta, de modo que não há ilicitude da 
ação. Por exemplo: matar alguém como legítima defesa estrita, a lei considera que a conduta não é ilícita. 
 - Culpabilidade: isto é, o fato (evento) deve ter sido praticado pelo agente ativo com intenção 
reprovável. 
 
ESPÉCIES 
 
Quando utilizamos a expressão infração penal esta engloba tanto o crime (ou delito), como a 
contravenção penal. Assim, o crime e a contravenção penal são espécies do gênero infração penal. 
- Crime: A pena é sempre de reclusão ou detenção, cumulada ou não com multa. Tem caráter 
repressivo, situando o Direito somente após a ocorrência do dano a alguém. Ex.: alguém, conduzindo 
imprudentemente um veículo, atropela outrem e lhe causa ferimentos. 
- Contravenção (Lei nº 3.688/41): é uma infração de menor gravidade. Também fere o ordenamento 
jurídico, logo, assim como os crimes são fatos típicos e antijurídicos, mas, como a lesão é menor, o 
legislador optou por dar tratamento mais sutil àqueles que a cometem. É punido com prisão simples e 
multa ou só multa. Possui caráter preventivo, visando a Lei das Contravenções Penais coibir condutas 
conscientes que possam trazer prejuízo a alguém. Exemplo: omissão de cautela na guarda ou condução 
de animais. 
 
Eis as principais diferenças entre crime e contravenção: 
 
CRIME CONTRAVENÇÃO 
É punido com reclusão ou detenção É punida com prisão simples e multa 
Pune-se a tentativa A tentativa não é punível 
É determinado pelo Código Penal 
Rege-se pela Lei das Contravenções Penais 
(Decreto-Lei nº 3.688/41) 
As penas privativas de liberdade tem por limite 
o tempo de 30 anos. 
A pena de prisão não podeser superior a 05 
anos 
 
SUJEITO ATIVO E PASSIVO DA INFRAÇÃO PENAL 
 
O sujeito ativo é a pessoa que realiza, ainda que indiretamente, o verbo do tipo, ou seja, que pratica 
a ação criminosa. Pode fazê-lo sozinho ou em concurso com outras pessoas. 
Denomina-se autor aquele que sozinho ou em coautoria realizam o verbo do tipo. O partícipe é aquele 
que, embora não realize o verbo do tipo, contribui para sua realização. 
Há ainda o autor intelectual, que é aquele que, embora não execute a ação delituosa, planeja ou dá 
ordem para que se realize. Ex: mandante de crime 
Noções de Direito Penal: Infração penal: elementos, espécies. Sujeito 
ativo e sujeito passivo da infração penal. 
1359479 E-book gerado especialmente para MARIA JULIA NEVES CAVALCANTI BEZERRA
 
. 2 
Tem-se ainda o autor mediato que é aquele que usa de outra pessoa, sem discernimento para a 
realização do crime. Ex: sujeito pede para uma criança de quatro anos colocar veneno no copo de seu 
desafeto, dizendo à criança que se trata de açúcar. 
O partícipe pode ser material, quando ajuda materialmente na realização do crime, por exemplo, 
empresta a arma. Pode ainda ser moral, quando induz ou instiga a prática delituosa. 
Para ser sujeito ativo, contudo, se faz necessário possuir capacidade penal, que é capacidade para 
que o sujeito se torne sujeito de direitos e obrigações penais. Tal capacidade precisa estar presente no 
momento da ação ou da omissão, ou seja, no momento da prática delituosa. 
Em regra, somente as pessoas naturais podem ser sujeitos ativos dos crimes, porém, há casos em 
que a pessoa jurídica pode figurar nessa posição. 
A Constituição Federal atribui à pessoa jurídica responsabilidade nos crimes contra a ordem 
econômica e financeira, nos crimes contra a economia popular e nos crimes contra o meio ambiente. 
Por falta de regulamentação legal nos demais casos, o STF somente tem entendido haver a 
responsabilidade da pessoa jurídica nos crimes ambientais, visto que a Lei n° 9.605/98 trouxe previsão 
legal a esse respeito, veja-se: 
 
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o 
disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal 
ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. 
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, 
coautoras ou partícipes do mesmo fato. 
 
O sujeito passivo, como já dito anteriormente, é o titular do bem jurídico lesado. O Estado sempre 
será sujeito passivo dos delitos, porquanto toda atividade criminosa o atinge em maior ou menor grau, 
por isso diz-se que ele é sujeito passivo indireto, formal ou mediato. Porém, há crimes em que ele figura 
como sujeito passivo direto, como nos crimes contra a Administração Pública. 
A pessoa jurídica também pode ser sujeito passivo de crimes mas, é preciso que haja compatibilidade 
com a sua natureza. Assim, ela pode ser sujeito passivo do crime de difamação mas, não pode ser do 
crime de homicídio. 
Há os chamados crimes vagos, em que o sujeito passivo não possui personalidade jurídica. 
 
Questões 
 
01. (Polícia Científica/PR - Odontolegista - IBFC/2017) Considere as regras básicas aplicáveis ao 
Direito Penal e ao Direito Processual Penal para assinalar a alternativa correta sobre as espécies de 
infração penal. 
(A) Crime e contravenção penal são sinônimos 
(B) No caso de contravenção penal, admitem-se penas de reclusão e detenção, enquanto que, para 
os crimes, admite-se prisão simples 
(C) No caso de crime, admitem-se penas de reclusão e detenção, enquanto que, para as 
contravenções penais, admite-se prisão simples. 
(D) No caso de contravenção penal, admite-se pena de reclusão, enquanto que, para os crimes, 
admite-se detenção 
(E) No caso de contravenção penal, admite-se pena de detenção, enquanto que, para os crimes, 
admite-se reclusão. 
 
02. (Polícia Civil/ES - Escrivão de Polícia – FUNCAB) Infração penal significa: 
(A) Quando um caso não previsto em lei é regulado por um preceito legal, que rege um semelhante. 
(B) Ofensa real ou potencial a um bem jurídico, levando-se em consideração os elementos subjetivos 
do tipo, a ilicitude e a culpabilidade. 
(C) Todos os valores ético-sociais que estejam a exigir uma proteção especial, no âmbito do direito 
penal, por se revelarem insuficientes à proteção dos outros ramos do direito. 
(D) Quando o princípio para o caso omitido se deduz do espírito e do sistema do ordenamento jurídico, 
considerado em seu conjunto. 
(E) Que o delito é sinônimo de contravenção penal no Brasil. 
 
 
 
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. 3 
03. (PC/GO - Escrivão de Polícia Civil - UEG) Sobre sujeito ativo e sujeito passivo da infração penal, 
verifica-se que 
(A) há hipóteses em que a lei se refere à vítima em relação às suas condições físicas ou psíquicas, 
embora nem todas as pessoas possam ser sujeito passivo do crime. 
(B) sujeito passivo do crime não é o titular do bem jurídico ameaçado pela conduta criminosa. 
(C) sujeito ativo do crime é aquele que pratica a conduta descrita em lei, ou seja, o fato típico. 
(D) capacidade penal do sujeito ativo ou inimputável pode não ter a capacidade penal se passar a 
sofrer de doença mental após o delito. 
 
Respostas 
 
01. Resposta: C 
Considerando o que prevê as normas que disciplinam o direito penal, no caso de crime, admitem-se 
penas de reclusão e detenção, enquanto que, para as contravenções penais, admite-se prisão simples. 
 
02. Resposta: B 
O Código Penal Brasileiro adota o sistema binário em que prevê a infração penal como gênero, o crime 
e a contravenção penal são espécies. É ofensa real ou potencial a um bem jurídico, levando-se em 
consideração os elementos subjetivos do tipo, a ilicitude e a culpabilidade. 
 
03. Resposta: C 
O sujeito ativo é a pessoa que realiza, ainda que indiretamente, o verbo do tipo, ou seja, que pratica a 
ação criminosa. 
 
 
 
A tipicidade consiste no nome que se dá ao enquadramento da conduta concretizada pelo agente na 
norma penal descrita em abstrato. Isto é, para que haja crime é necessário que o sujeito realize, no caso 
concreto, todos os elementos componentes da descrição típica (definição legal do delito). 
Não confundir ainda “tipicidade” com “tipo penal”, pois tipo é uma figura que resulta da imaginação 
do legislador, enquanto juízo de tipicidade é a averiguação que se efetua sobre uma conduta para saber 
se apresenta os caracteres imaginados pelo legislador. O tipo penal é composto por elementar (é todo 
componente essencial do tipo sem o qual este desaparece ou se transforma em outra figura típica) e 
circunstâncias (não servindo para compor a essência do crime, mas sim para influir na pena). 
Assim, quando você ouvir dizer que determinada causa é excludente da tipicidade, é que por ela a 
conduta praticada deixa de possuir os elementos necessários para o enquadramento no tipo penal. São 
exemplos mais comuns: erro de tipo inevitável, invencível, escusável; desistência voluntária e 
arrependimento eficaz; coação física irresistível; crime impossível e a aplicação do princípio da 
insignificância. 
 
A ilicitude é a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, consistindo na prática de uma 
ação ou omissão ilegal. Isto é, a conduta é contrária ao Direito. A princípio todo fato típico também é ilícito. 
Contudo, por vezes, mesmo que uma pessoa cometa uma conduta típica, há na lei exceções permissivas 
para sua conduta, de modo que não há ilicitude da ação. Por exemplo: matar alguém como legítima 
defesa, a lei considera que a conduta não é ilícita. 
Note-se, quando isso ocorre, o fato permanece típico, mas não há crime, excluindo-se a ilicitude,e 
sendo ela requisito do crime, fica excluído o próprio delito; em consequência, o sujeito deve ser absolvido. 
São causas que excluem a ilicitude do fato: estado de necessidade; legítima defesa; estrito cumprimento 
de dever legal; exercício regular de direito. 
 
A culpabilidade é a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de uma infração penal. 
Por essa razão, costuma ser definida como “juízo de censurabilidade” e “reprovação” exercido sobre 
alguém que praticou um fato típico e ilícito. “Não se trata de elemento do crime, mas pressuposto para 
imposição de pena”. 
Na culpabilidade afere-se apenas se o agente deve ou não responder pelo crime cometido. Segundo 
o Código penal são elementos da culpabilidade: a imputabilidade; a potencial consciência da ilicitude e a 
exigibilidade de conduta diversa. 
Tipicidade, ilicitude, culpabilidade, punibilidade. 
1359479 E-book gerado especialmente para MARIA JULIA NEVES CAVALCANTI BEZERRA
 
. 4 
Com isso, caso existam circunstâncias que afastem esses elementos, por exemplo, a inimputabilidade 
do menor de 18 anos, o fato deixa de ser culpável. 
As excludentes de culpabilidade são: doença mental; menoridade; embriaguez completa, proveniente 
de caso fortuito ou força maior; erro de proibição; coação moral irresistível e obediência hierárquica. 
 
Por fim, a punibilidade dispõe sobre a possibilidade jurídica de o Estado impor a sanção ao 
responsável pela infração penal. 
Assim, praticada a infração penal, nasce a punibilidade. Contudo, é importante destacar que esta 
possibilidade do Estado não é eterna, daí porque existem causas que extinguem a punibilidade, o direito 
de punir estatal (jus puniendi). 
São causas de extinção da punibilidade: morte do agente; anistia, graça ou indulto; abolitio criminis (lei 
deixa de considerar fato como criminoso); prescrição, decadência ou perempção; renúncia do direito de 
queixa; perdão do ofendido; retratação do agente e perdão judicial. 
 
Feitas essas considerações vejamos com amis detalhes cada um desses institutos penais: 
 
FATO TÍPICO 
 
O fato típico é o primeiro requisito do crime. Consiste no fato que se amolda no conjunto de elementos 
descritivos contidos na lei penal. 
Segundo Cleber Masson:1 
Fato típico é o fato humano que se enquadra com perfeição aos elementos descritos pelo tipo penal. 
A conduta de subtrair dolosamente, para si, coisa alheia móvel, caracteriza o crime de furto, uma vez que 
se amolda ao modelo delineado pelo art. 155, caput, do Código Penal. Em sentido contrário, fato atípico 
é a conduta que não encontra correspondência em nenhum tipo penal. Por exemplo, a ação do pai 
consistente em manter relação sexual consentida com sua filha maior de idade e plenamente capaz é 
atípica, pois o incesto, ainda que imoral, não é crime. 
 
ELEMENTOS DO FATO TÍPICO 
 
O fato típico é composto dos seguintes elementos: 
- conduta dolosa ou culposa; 
- resultado (nos crimes materiais); 
- nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (nos crimes materiais); 
- tipicidade (enquadramento do fato material a uma norma penal). 
 
No Crime material há uma conduta e um resultado naturalístico2, exigindo-se a produção do resultado 
para consumação do crime. Assim, a conduta e o resultado estão ligados através de uma relação de 
causalidade, que para configurar crime realiza-se o juízo de tipicidade para verificar se a ação ou omissão 
se amolda a um tipo penal (tem relevância penal). Já nos crimes tentados, é suprimido o resultado 
naturalístico por circunstâncias alheias a vontade do agente, motivo pelo qual para configuração do fato 
típico, basta os elementos da conduta e tipicidade. Na mesma esteira, os crimes de mera conduta e 
formais prescindem de resultado e nexo causal, pois no caso do crime de mera conduta, jamais haverá 
resultado naturalístico e nos crimes formais não é necessário para consumação do crime (apesar da 
possibilidade de ocorrência). 
 
FATO TÍPICO 
Crimes materiais consumados Crimes tentados, formais e de mera 
conduta 
CONDUTA CONDUTA 
RESULTADO NATURALÍSTICO 
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE TIPICIDADE 
TIPICIDADE 
 
 
1 MASSON, Cleber. Direito Penal. Vol.1. Parte Geral. Editora Método. 8ª edição. 2014. 
2 Resultado naturalístico: “modificação do mundo exterior provocada pelo comportamento do agente”. 
1359479 E-book gerado especialmente para MARIA JULIA NEVES CAVALCANTI BEZERRA
 
. 5 
1. CONDUTAS E ATOS: conduta é a materialização da vontade humana, que pode ser executada por 
um único ou por vários atos. O ato, portanto, é apenas uma parte da conduta. Ex.: é possível matar a 
vítima (conduta) por meio de um único ato (um disparo mortal) ou de vários atos (vários golpes no corpo 
da vítima). 
Segundo Cleber Masson:3 
Conduta é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a um fim, consistente em 
produzir em resultado tipificado em lei como crime ou contravenção penal (posição finalista, mais aceita 
em concursos públicos). 
 
Não existe crime sem conduta, ou seja, não é admitido os crimes de mera suspeita, que são aqueles 
em que o agente é punido pela mera suspeita despertada pelo seu modo de agir. 
 
-Formas de conduta: 
a) Ação (comportamento positivo): fazer, realiza algo. Nessa hipótese, a lei determina um não fazer, 
e o agente comete o delito justamente por fazer o que a lei proíbe. 
b) Omissão (comportamento negativo): abstenção, um não fazer. A omissão por sua vez, pode dar 
origem a duas espécies de crimes: 
b.1) Omissivos próprios ou puros: nos quais inexiste um dever jurídico de agir, ou seja, não há uma 
norma impondo um dever de fazer. Assim, só existirá essa espécie de delito omissivo quando o próprio 
tipo penal descrever uma conduta omissiva. Ex.: crime de omissão de socorro (art. 135). 
b.2) Omissivos impróprios ou comissivos por omissão: são aqueles para os quais a lei impõe um 
dever de agir e, assim, o não agir constitui crime, na medida em que leva à produção de um resultado 
que o agir teria evitado. Ex.: a mãe deixa de alimentar seu filho causando-lhe a morte, responde por 
homicídio. 
 
- exclusão da conduta: 
a) caso fortuito e força maior: atos imprevisíveis e inevitáveis, que estão fora do alcance da vontade 
do ser humano, motivo pelo qual não configuram fato típico, por não existir dolo ou culpa. 
b) atos ou movimentos reflexos: segundo Cleber Masson4, consistem em reação motora ou 
secretora em consequência de uma excitação dos sentidos. O movimento corpóreo não se deve ao 
elemento volitivo, mas sim ao fisiológico. Ausente a vontade, estará ausente também a conduta. Exemplo: 
caso do ortopedista que bate o martelinho contra o joelho do paciente e, em razão do reflexo, seu chute 
acerta o médico, caso em que não há crime de lesão corporal ou contravenção penal de vias de fato, pois 
foi apenas uma resposta fisiológica à provocação médica. 
c) coação física irresistível ou vis absoluta: neste caso o coagido é apenas instrumento do crime, 
não agindo de forma voluntária e, portanto, exclui-se sua conduta. Exemplo: um homem forte obriga um 
homem fraco a apertar o gatilho de um revólver segurando sua mão e atinge uma pessoa, matando-a. 
d) sonambulismo e hipnose: caso em que a pessoa está em completo estado de inconsciência, 
motivo pelo qual não há conduta, por falta de vontade na prática do ato. 
 
2. DO RESULTADO: o resultado é a consequência provocada pela conduta do agente. 
-Teoria sobre o resultado (espécies): 
a) Naturalística: é a modificação que o crime provoca no mundo exterior. Pode consistir em morte, 
como em crime de homicídio (art. 121). 
b) Jurídica ou normativa: é o efeito que o crime produz na órbita jurídica, ou seja, a lesão ou o perigo 
de lesão de um interesse protegido pela lei. 
 
Importante ressaltar que não há crime semresultado jurídico, ou seja, todo crime viola bens jurídicos 
protegidos pelo Direito Penal. Contudo, é possível crime sem resultado naturalístico, no caso de crimes 
tentados, formais e de mera conduta. 
 
Todo crime tem resultado jurídico, mas nem todo crime tem resultado naturalístico. 
 
3. NEXO CAUSAL OU RELAÇÃO DE CAUSALIDADE: é a relação natural de causa e efeito existente 
entre a conduta do agente e o resultado dela decorrente. 
 
3 MASSON, Cleber. Direito Penal. Vol.1. Parte Geral. Editora Método. 8ª edição. 2014. 
4 Idem. 
1359479 E-book gerado especialmente para MARIA JULIA NEVES CAVALCANTI BEZERRA
 
. 6 
É através da relação de causalidade que se pode concluir se o resultado foi ou não provocado pela 
conduta do agente. 
Nos crimes materiais somente existe a configuração do delito quando fica evidenciado que a conduta 
do agente provocou o resultado, ou seja, quando fica demonstrado o nexo causal. 
Nos crimes formais e nos crimes de mera conduta não se exige o nexo causal, uma vez que esses 
crimes dispensam a ocorrência de qualquer resultado naturalístico e, assim, não há que se pensar em 
nexo de causalidade entre a conduta e resultado. 
 
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 
 
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu 
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
 
No campo penal, a doutrina aponta três teorias a respeito da relação de causalidade: 
a) Da equivalência das condições ou equivalência dos antecedentes ou conditio sine qua non 
(Condição sem a qual não): Segundo a qual quaisquer das condutas que compõem a totalidade dos 
antecedentes é causa do resultado, como, por exemplo, a venda lícita da arma pelo comerciante que não 
tinha ideia do propósito homicida do criminoso comprador. Contudo, recebe críticas por permitir o 
regresso ao infinito já que, em última análise, até mesmo o inventor da arma seria causador do evento, 
visto que, se arma não existisse, tiros não haveria; 
b) Da causalidade adequada: Considera causa do evento apenas a ação ou omissão do agente apta 
e idônea a gerar o resultado. Segundo o que dispõe essa corrente, a venda lícita da arma pelo 
comerciante não é considerada causa do resultado morte que o comprador produzir, pois vender 
licitamente a arma, por si só, não é conduta suficiente a gerar a morte. 
c) Da imputação objetiva: Pela qual, para que uma conduta seja considerada causa do resultado é 
preciso que: 1) o agente tenha, com sua ação ou omissão, criado, realmente, um risco não tolerado nem 
permitido ao bem jurídico; ou 2) que o resultado não fosse ocorrer de qualquer forma, ou; 3) que a vítima 
não tenha contribuído com sua atitude irresponsável ou dado seu consentimento para a ocorrência do 
resultado. 
 
A teoria adotada pelo Código Penal: "O resultado, de que depende a existência do crime, somente 
é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não 
teria ocorrido". 
Ao dispor que causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, nota-se que 
Código adotou a teoria da equivalência das condições ou conditio sine qua non. 
Para se aferir se determinada conduta é causa ou não de um resultado, deve-se fazer o juízo hipotético 
de eliminação, que consiste na supressão mental de determinada ação ou omissão dentro de toda a 
cadeia de condutas presentes no contexto do crime. Se, eliminada, o resultado desaparecer, pode-se 
afirmar que aquela conduta é causa. Caso contrário, ou seja, se a despeito de suprimida, o resultado 
ainda assim existir, não será considerada conduta. 
Atente-se para o fato de que ser causa do resultado não é bastante para ensejar a responsabilização 
penal. É preciso, ainda, verificar se a conduta do agente considerada causa do resultado foi praticada 
mediante dolo ou culpa, pois nosso Direito Penal não se coaduna com a responsabilidade objetiva, isto 
é, aquela que se contenta com a demonstração do nexo de causalidade, sem levar em conta o elemento 
subjetivo da conduta. 
Portanto, dizer que alguém causou o resultado não basta para ensejar a responsabilidade penal. É 
mister ainda que esteja presente o elemento subjetivo (dolo ou culpa) nessa conduta que foi causa do 
evento. 
O art. 13 caput aplica-se, exclusivamente, aos crimes materiais porque, ao dizer "o resultado, de que 
depende a existência do crime", refere-se ao resultado naturalístico da infração penal (aquele que é 
perceptível aos sentidos do homem e não apenas ao mundo jurídico), e a única modalidade de crime que 
depende da ocorrência do resultado naturalístico para se consumar (existir) é o material, como por 
exemplo; o homicídio (121 CP), em que a morte da vítima é o resultado naturalístico. 
Aos crimes formais (exemplo; concussão - 316 CP) e os de mera conduta (exemplo; violação de 
domicílio - 150 CP), o art. 13 caput não tem incidência, pois prescindem da ocorrência do resultado 
naturalístico para existirem. 
 
 
 
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. 7 
Observação: a expressão “o resultado”, constante no artigo 13 do CP, se refere ao resultado 
naturalístico, entendimento este, prevalente na doutrina brasileira. 
 
Excepcionalmente o Código Penal adota a teoria da causalidade adequada (art. 13, §1º): 
 
SUPERVENIÊNCIA DE CAUSA INDEPENDENTE 
 
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, 
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. 
 
O parágrafo primeiro do art. 13 nos diz que: "a superveniência de causa independente exclui a 
imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os 
praticou". Admite, o referido mandamento legal, a interrupção do nexo causal entre a conduta do agente 
e o resultado. Nessas hipóteses, pode-se dizer que existe uma concausa, ou seja, a conduta do agente 
e outra causa qualquer, quais sejam: 
a) a causa que produza o resultado seja superveniente à conduta do agente, isto é, ocorra depois 
de sua ação; 
b) que a causa superveniente seja relativamente independente da conduta do agente, isto é, 
mantenha relação com a conduta inaugurada pelo autor; 
c) que a causa superveniente independente produza o resultado por si só, isto é, seja causa bastante 
para a produção do resultado. 
 
Conceito de concausa: é a convergência de uma causa externa à vontade do autor da conduta, 
influindo na produção do resultado naturalístico por ele desejado e posicionando-se paralelamente ao seu 
comportamento, comissivo ou omissivo.5 
 
Causas dependentes e independentes: 
Causas dependentes são aquelas que se originam da conduta do agente, ou seja existe dependência 
entre os acontecimentos, não excluindo a relação de causalidade. 
Causas independentes tem capacidade de produzir por si só o resultado, sendo seu aparecimento 
inesperado e imprevisível, fugindo da linha normal de desdobramento da conduta. 
 
Causas absolutamente independentes: 
Segundo Cleber Masson:6 São aquelas que não se originam da conduta do agente, isto é, são 
absolutamente desvinculadas da sua ação ou omissão ilícita. E, por serem independentes, produzem por 
si sós, o resultado naturalístico. Constituem a chamada “causalidade antecipadora”, pois rompem o nexo 
causal. 
 
Tais causas são divididas em preexistente, concomitante e superveniente: 
- preexistente: a causa é anterior a prática da conduta, ou seja, o resultado teria se produzido mesmo 
sem o comportamento ilícito do agente. Exemplo: “Zé” disfere facadas no coração de “Joãozinho”, mas o 
exame necroscópico conclui que a morte se deu em virtude de envenenamento anterior efetuado por 
“Cebolinha”. 
- concomitante:a causa é simultânea a prática da conduta, ou seja, ocorre no mesmo momento em 
que o agente comete uma conduta criminosa. Exemplo: “Mônica” efetua disparos de arma de fogo contra 
“Zé Bento” no mesmo momento em que o telhado desaba sobre ela. 
- superveniente: a causa é posterior a prática da conduta do agente. Exemplo: “Magali” dá veneno 
para “Cebolinha”, mas antes de produzir o efeito desejado, “Chico” desfere inúmeras facadas em 
“Cebolinha”, matando-o. 
Efeitos jurídicos (causas absolutamente independentes preexistentes, concomitantes e 
supervenientes): 
Deve ser imputado ao agente somente o ato praticado e não o resultado naturalístico, tendo em vista 
que não há relação de causalidade entre sua conduta e o resultado, pois mesmo sem a conduta do agente 
o resultado teria ocorrido. Assim, em respeito a teoria da conditio sine qua non, no caso dos exemplos 
mencionados, o agente responderia somente por tentativa de homicídio. 
 
 
 
5 MASSON, Cleber. Direito Penal. Vol.1. Parte Geral. Editora Método. 8ª edição. 2014. 
6 Idem. 
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. 8 
Causas relativamente independentes: 
Originam-se da própria conduta efetuada pelo agente. Daí serem relativas, pois não existiriam sem a 
atuação criminosa. 
Como, entretanto, tais causas são independentes, têm idoneidade para produzir, por si sós, o 
resultado, já que não se situam no normal trâmite do desenvolvimento causal.7 
 
Tais causas também são divididas em preexistente, concomitante e superveniente:8 
- preexistente: existe previamente à prática da conduta do agente. Exemplo: “A”, com ânimo homicida, 
efetua disparos de arma de fogo contra “B”, atingindo-o de raspão. Os ferimentos, contudo, são agravados 
pela diabete da vítima, que vem a falecer. 
- concomitante: ocorre simultaneamente a prática da conduta. Exemplo: “A” aponta uma arma de fogo 
contra “B”, o qual, assustado, corre em direção a movimentada via pública. No momento em que é 
alvejado pelo disparos, é atropelado por um caminhão e falece. 
Efeitos jurídicos (causas relativamente independentes preexistentes e concomitantes): 
Nas duas hipóteses o agente responde pelo resultado naturalístico, em obediência a teoria da 
equivalência dos antecedentes. 
- superveniente: 
a) causas relativamente independentes supervenientes que não produzem por si sós o 
resultado: em respeito a teoria da equivalência dos antecedentes, o agente responde pelo resultado 
naturalístico, pois o resultado não teria ocorrido como e quando ocorreu sem a prática de sua conduta. 
O exemplo dado por Cleber Masson esclarece esta hipótese, qual seja:9 
“A”, com intenção de matar, efetua disparos de arma de fogo contra “B”. Por má pontaria, atinge-o em 
uma das pernas, não oferecendo risco de vida. Contudo, “B” é conduzido a um hospital e, por imperícia 
médica, vem a morrer. 
Nesse caso, “B” não teria morrido, ainda que por imperícia médica, sem a conduta inicial de “A”. De 
fato, somente pode falecer por falta de qualidade do profissional da medicina aquele que foi submetido 
ao seu exame, no exemplo, justamente pela conduta homicida que redundou no encaminhamento da 
vítima ao hospital. 
b) causas relativamente independentes supervenientes que produzem por si sós o resultado: 
No §1º do artigo 13, de forma excepcional, foi adotada a teoria da causalidade adequada, em que a 
causa é a conduta idônea que provoca o resultado naturalístico. Exemplo: João é atingida por disparos 
de arma de fogo, que internado no hospital, morre em virtude de incêndio e não dos ferimentos. 
Assim, João faleceu em virtude de acontecimento inesperado e imprevisível, ou seja, uma causa 
idônea e adequada, que produziu por si só o resultado, motivo pelo qual só responde pelos atos praticados 
e não pelo resultado morte. 
 
RELEVÂNCIA DA OMISSÃO 
 
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. 
O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
 
De acordo com Cleber Masson:10 
O dispositivo aplicável somente aos crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão, 
isto é, aqueles em que o tipo penal descreve uma ação, mas a inércia do agente, que podia e devia agir 
para impedir o resultado naturalístico, conduz à sua produção. São crimes materiais, como é o caso do 
homicídio, cometido em regra por ação, mas passível também de ser praticado por inação, desde que o 
agente ostente o poder e o dever de agir. 
 
Da mesma forma que ação, em Direito Penal, não significa “fazer algo”, mas fazer o que o ordenamento 
jurídico proíbe, a omissão não é um “não fazer”, mas não fazer o que o ordenamento jurídico obriga. 
Omissão relevante para o Direito Penal é o não cumprimento de um dever jurídico de agir em 
circunstâncias tais que o omitente tinha a possibilidade física ou material de realizar a atividade devida. 
 
7 MASSON, Cleber. Direito Penal. Vol.1. Parte Geral. Editora Método. 8ª edição. 2014. 
8 Idem 
9 MASSON, Cleber. Direito Penal. Vol.1. Parte Geral. Editora Método. 8ª edição. 2014. 
10 Idem 
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. 9 
Consequentemente, a omissão passa a ter existência jurídica desde que preencha os seguintes 
pressupostos: 
- Dever de agir: impõe uma obrigação de agir ou uma obrigação de evitar um resultado proibido. 
Existem dois critérios para fixar o dever de agir, quais sejam: 
Critério legal: a lei arrola taxativamente as hipóteses do dever de agir. 
Critério judicial: é permitido ao magistrado decidir sobre a presença ou não do dever de agir. 
- Poder de agir: é a possibilidade real e efetiva do homem médio evitar resultado penalmente relevante 
no caso concreto. 
 
O primeiro pressuposto (dever de agir ou de evitar um resultado lesivo) exige o conhecimento dos 
meios pelos quais o ordenamento jurídico pode impor às pessoas a obrigação de não se omitir, em 
determinadas circunstâncias. 
Em segundo lugar, o dever de agir pode ser imposto ao garantidor, ou seja, há pessoas que, pela sua 
peculiar posição diante do bem jurídico, recebem ou assumem a obrigação de assegurar sua con-
servação. A posição de garantidor requer essencialmente que o sujeito esteja encarregado da proteção 
ou custódia do bem jurídico que aparece lesionado ou ameaçado de agressão. 
O essencial para compreender a posição de garantidor é o reconhecimento de que determinadas 
pessoas estabelecem um vínculo, uma relação especial com o bem jurídico, criando no ordenamento a 
expectativa de que o protegerá de eventuais danos. O Direito, então, espera a sua ação de garantia. Se 
não cumprir esse dever, será imputado por omissão imprópria. 
No Código Penal, esta regra está no artigo 13, § 2º: a posição de garantidor pode emanar de: 
a) dever legal, imposto pela lei; 
b) aceitação voluntária, ou seja, quando o sujeito livremente a assume, tal como acontece, por 
exemplo, nos casos de contrato; 
c) ingerência, quando o sujeito, por sua conduta precedente, cria a situação de perigo para o bem 
jurídico. 
 
4. TIPICIDADE: É o nome que se dá ao enquadramento da conduta concretizada pelo agente na 
norma penal descrita em abstrato. Em suma, para que haja crime é necessário que o sujeito realize, no 
caso concreto, todos os elementos componentes da descrição típica (definição legal do delito). 
A tipicidade penal tem dois elementos: 
Tipicidade formal: é o juízo de subsunção entre a conduta praticada pelo agente no mundo real e o 
modelo descrito pelo tipo penal.11 
Tipicidade material(ou substancial): é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penalmente 
tutelado em razão da prática da conduta legalmente descrita.12 
 
A adequação típica pode dar-se de duas maneiras: 
a) imediata ou direta: quando houver uma correspondência total da conduta ao tipo. 
b) mediata ou indireta: quando a materialização da tipicidade exige a utilização de uma norma de 
extensão, sem a qual seria absolutamente impossível enquadrar a conduta no tipo. É o que ocorre nos 
casos de participação (art. 29) e tentativa (art. 14, II). 
 
CRIME CONSUMADO (ART.14, I) 
 
Crime consumado é aquele em que foram realizados todos os elementos da definição legal. Crime 
exaurido é aquele em que o agente já consumou o crime, mas continua atingindo o bem jurídico. O 
exaurimento influi na primeira fase da fixação da pena (art. 59, caput, do Código Penal). 
 
Inter criminis: são as fases que o agente percorre até chegar à consumação do delito. A doutrina 
aponta quatro etapas diferentes no caminho do crime: 
- Cogitação: nesta fase, o agente somente está pensando, idealizando, planejando a prática do crime. 
Nessa fase o crime é impunível. 
- Preparação: é a prática dos atos necessários ao início da execução. Não existe fato típico ainda, 
salvo se o ato preparatório constituir crime autônomo. 
 - Execução: começa a agressão ao bem jurídico. Nessa fase, o agente inicia a realização do núcleo 
do tipo e o crime já se torna punível. A execução começa com a prática do primeiro ato idôneo e 
inequívoco à consumação do crime. Ato idôneo é o capaz de produzir o resultado e ato inequívoco é o 
 
11 MASSON, Cleber. Direito Penal. Vol.1. Parte Geral. Editora Método. 8ª edição. 2014. 
12 Idem 
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. 10 
que, fora de qualquer dúvida, induz ao resultado. Assim, a execução está ligada ao verbo de cada tipo. 
Quando o agente começa a praticar o verbo do tipo, inicia-se a execução. 
- Consumação: quando todos os elementos do fato típico são realizados. 
 
A consumação nas várias espécies de crimes: 
a) materiais: com a produção do resultado naturalístico; 
b) culposos: igual os materiais, com a produção do resultado naturalístico; 
c) de mera conduta: com a ação ou omissão delituosa; 
d) formais: com a simples atividade, independente do resultado; 
e) permanentes: o momento consumativo se protrai no tempo; 
f) omissivos próprios: com a abstenção do comportamento devido; 
g) omissivos impróprios: com a produção do resultado naturalístico; 
h) qualificados pelo resultado: com a produção do resultado agravador; 
i) complexos: quando os crimes componentes estejam integralmente realizados; 
j) habituais: com a reiteração de atos, pois cada um deles, isoladamente, é indiferente à lei penal. O 
momento consumativo é incerto, pois não se sabe quando a conduta se tornou um hábito, por essa razão, 
não cabe prisão em flagrante nesses crimes. 
 
TENTATIVA (ART.14, II) 
 
Tentativa é a não consumação de um crime, cuja execução foi iniciada, por circunstâncias alheias à 
vontade do agente. De acordo com o que dispõe o artigo 14, II do Código Penal. 
 
1. Aplicação da Pena. 
A tentativa é punida com a mesma pena do crime consumado, reduzida de 1/3 a 2/3. O critério para 
essa redução é a proximidade do momento consumativo, ou seja, quanto mais próximo chegar da 
consumação, menor será a redução. 
 
2. Espécies de Tentativa. 
Tentativa imperfeita ou inacabada: Ocorre quando a execução do crime é interrompida, ou seja, o 
agente, por circunstâncias alheias à sua vontade, não chega a praticar todos os atos de execução do 
crime. 
Tentativa perfeita ou acabada: Também conhecida como “crime falho”. Ocorre quando o agente 
pratica todos os atos de execução do crime, mas o resultado não se produz por circunstâncias alheias à 
sua vontade. 
Tentativa branca ou incruenta: Classificação para os crimes contra a pessoa; ocorre quando a vítima 
não é atingida. 
Tentativa cruenta: Classificação para os crimes contra a pessoa; ocorre quando a vítima é atingida, 
mas o resultado desejado não acontece por circunstância alheia à vontade do agente. 
Tentativa idonêa: É aquela em que o sujeito pode alcançar a consumação, mas não consegue fazê-
lo por circunstâncias alheias à sua vontade. É a tentativa propriamente dita, definida no art. 14, II, do 
Código Penal. 
Tentativa inidonêa: Sinônimo de crime impossível (art. 17) ocorre quando o agente inicia a execução, 
mas a consumação do delito era impossível por absoluta ineficácia do meio empregado ou por absoluta 
impropriedade do objeto material. Nesse caso, não se pune a tentativa, pois a lei considera o fato atípico. 
 
3. Infrações que Não Admitem Tentativa 
Crimes culposos: Parte da doutrina admite no caso de culpa imprópria. 
Crimes preterdolosos: No caso dos crimes preterdolosos ou preterintencionais, o evento de maior 
gravidade não querido pelo agente, é punido a título de culpa. No caso de latrocínio tentado, o resultado 
morte era querido pelo agente; assim, embora qualificado pelo resultado, o latrocínio só poderá ser 
preterdoloso quando consumado. 
Crimes omissivos próprios: São crimes de mera conduta (exemplo: crime de omissão de socorro, 
artigo 135 do Código Penal). 
Contravenção penal: A tentativa não é punida (artigo 4.º do Decreto-lei n. 3.688/41). 
Delitos de atentado: São crimes em que a lei pune a tentativa como se fosse consumado o delito 
(exemplo: crime de evasão mediante violência contra a pessoa, artigo 352 do Código Penal). 
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. 11 
Crimes habituais: Tais crimes exigem, para consumação, a reiteração de atos que, isolados, não 
configuram fato típico. Inviável a verificação da tentativa, posto que uma segunda conduta já caracteriza 
o delito. 
Crimes unissubsistentes: Que se consumam com um único ato. Ex.: injúria verbal. 
Crimes que a lei só pune se ocorrer o resultado: Trata-se, por exemplo, do crime de induzimento, 
instigação ou auxílio a suicídio (artigo 122 do Código Penal). Nesse delito, se a pessoa empresta um 
revolver para outra se matar e esta não se mata, o fato é atípico, mas se ela comete o suicídio, o crime 
está consumado. 
 
Observações: Parte da doutrina entende que os crimes formais e de mera conduta não admitem 
tentativa. Não concordamos com esse entendimento. O crime de ameaça, por exemplo, trata-se de crime 
formal, mas admite a tentativa no caso de ameaça por escrito, em que a carta é interceptada por terceiro. 
Alguns crimes de mera conduta também admitem tentativa, como a violação de domicílio (o agente pode, 
sem sucesso, tentar invadir domicílio de outrem). O crime unissubsistente comporta tentativa em alguns 
casos, por exemplo, quando o agente efetua um único disparo contra a vítima e erra o alvo. 
 
TENTATIVA ABANDONADA OU QUALIFICADA 
 
Essas expressões são utilizadas como sinônimas da desistência voluntária e do arrependimento eficaz 
(art. 15), casos esses nos quais, em verdade, afasta-se a aplicação da tentativa, respondendo o agente 
apenas pelos atos anteriores, uma vez que, por ato voluntário, desistiu ele de prosseguir na execução do 
crime ou impediu a produção do resultado. Nesses casos, não se pode cogitar de tentativa, porque a 
consumação foi evitada pelo próprio agente e não por circunstâncias alheias à sua vontade. É chamado 
pela doutrina de “ponte de ouro”. 
 
Desistência voluntária (art. 15, 1ª parte): O agente interrompe voluntariamente a execução do crime, 
impedindo, desse modo, a sua consumação. Ocorre antes de o agente esgotar os atos de execução, 
sendo possível somente na tentativa imperfeita ou inacabada. Não há que se falar em desistência 
voluntária em crime unissubsistente, visto que este é composto de um único ato.Exemplo: visando furtar o DVD de um automóvel, o agente quebra o vidro deste, mas, antes de se 
apossar do bem, desiste de cometer o crime e vai embora sem nada levar. Nesse caso, não se pode falar 
em tentativa de furto, porque, para que haja tentativa, é necessário que o agente não tenha conseguido 
a consumação por circunstâncias alheias à sua vontade, e, na hipótese, o agente não consumou o furto 
por vontade própria. Em razão disso é que a lei determina que a punição deve ser apenas em relação 
aos atos já praticados, não havendo punição pela tentativa. Nesse exemplo, o agente responde apenas 
pelo crime de dano (no vidro do veículo). 
 
Arrependimento eficaz (art. 15, 2ª parte): O agente executa o crime até o último ato, esgotando-os, 
e logo após se arrepende, impedindo o resultado. Só é possível no caso da tentativa perfeita ou acabada. 
Ocorre somente nos crimes materiais que se consumam com a verificação do resultado naturalístico. 
Exemplo: o agente quebra o vidro de um carro para furtar seu DVD automotivo. Após retirá-lo do painel, 
ele imediatamente resolve colocá-lo de volta no local. Responde apenas pelo crime de dano (do vidro). 
Se o crime, entretanto, já se tinha consumado e, algum tempo depois, o sujeito resolve devolver o bem à 
vítima, poderá haver, dependendo das circunstâncias, o arrependimento posterior (art. 16), cuja 
consequência é a simples redução da pena. 
 
A desistência ou o arrependimento não precisa ser espontâneo, mas deve ser voluntário. Mesmo se a 
desistência ou a resipiscência for sugerida por terceiros subsistirão seus efeitos. A tentativa abandonada, 
em suas duas modalidades, exclui a aplicação da pena por tentativa, ou seja, o agente responderá 
somente pelos atos até então praticados. 
 
ARREPENDIMENTO POSTERIOR (ART. 16) 
 
Nos termos do artigo 16 do Código Penal, “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à 
pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato 
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”. A expressão utilizada pelo legislador é 
redundante, pois todo arrependimento é posterior. Na verdade o arrependimento é posterior à 
consumação do crime. Trata-se de causa obrigatória de redução de pena. É causa objetiva de diminuição 
de pena, portanto, estende-se aos coautores e partícipes condenados pelo mesmo fato. 
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. 12 
Requisitos: 
Só cabe em crime cometido sem violência ou grave ameaça contra a pessoa. Visa o legislador a dar 
oportunidade ao agente, que pratica crime contra o patrimônio sem violência ou grave ameaça, de reparar 
o dano ou restituir a coisa. Na jurisprudência, prevalece o entendimento de que a lei só se refere à 
violência dolosa, podendo a diminuição ser aplicada aos crimes culposos em que haja violência, como o 
homicídio culposo. Assim, a intenção do legislador foi criar um instituto para os crimes patrimoniais, mas 
a jurisprudência estendeu ao homicídio culposo. 
- Reparação do dano ou restituição da coisa (deve ser integral). 
- Por ato voluntário do agente. Não há necessidade de ser ato espontâneo, podendo haver influência 
de terceira pessoa. 
- O arrependimento posterior só pode ocorrer até o recebimento da denúncia ou queixa. Após, a 
reparação do dano será somente causa atenuante genérica (artigo 65, inciso III, alínea “b”). 
 
Critérios para Aplicação da Redução da Pena: 
São dois os critérios para se aplicar a redução da pena: espontaneidade e celeridade. O 
arrependimento posterior não precisa ser espontâneo, mas se for a pena sofrerá maior diminuição. 
Também, quanto mais rápido reparar o dano, maior será a diminuição. 
 
Relevância da Reparação do Dano: 
- Cheque sem fundos: o pagamento até o recebimento da denúncia ou queixa extingue a punibilidade 
(Súmula 554 do Supremo Tribunal Federal). 
- Crimes contra a ordem tributária: o pagamento do tributo até o recebimento da denúncia ou queixa 
também extingue a punibilidade. 
- Peculato culposo (artigo 312, § 3.º): se a reparação do dano precede à sentença irrecorrível, extingue 
a punibilidade; se lhe é posterior reduz de metade a pena imposta. 
- Crimes de ação penal privada ou pública condicionada à representação (artigo74, parágrafo único, 
da Lei n. 9.099/95): havendo composição civil do dano em audiência preliminar, extingue-se o direito de 
queixa ou representação. 
 
Delação eficaz ou premiada: 
Instituto distinto do arrependimento posterior é o da delação premiada, no qual se estimula a delação 
feita por um coator ou participe em relação aos demais, mediante o benefício da redução obrigatória da 
pena. 
 
CRIME IMPOSSÍVEL (ART. 17) 
 
O crime impossível também chamado de tentativa inidônea, tentativa inadequada ou quase-crime. É 
aquele que, pela ineficácia total do meio empregado ou pela impropriedade absoluta do objeto material, 
é impossível de se consumar. Não se trata de causa de isenção de pena, como parece sugerir a redação 
do art. 17 do Código Penal, mas de causa geradora de atipicidade, pois não se concebe queira o tipo 
incriminador descrever como crime uma ação impossível de se realizar. 
 
Ineficácia absoluta do meio: O meio empregado jamais poderia levar à consumação do crime. A 
ineficácia do meio deve ser absoluta (exemplo: um palito para matar um adulto, uma arma de brinquedo). 
Deve-se lembrar, que um determinado meio pode ser ineficaz para um crime, mas eficaz para outro. 
Exemplo: num crime de roubo, uma arma totalmente inapta a produzir disparos pode ser utilizada para 
intimidar a vítima. 
 
 Impropriedade Absoluta do Objeto: A pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta jamais poderia 
ser alvo do crime. Assim, haverá crime impossível quando o objeto sobre o qual o agente faz recair sua 
conduta não é protegido pela norma penal incriminadora ou quando ele (objeto) sequer existe. Exemplo: 
atirar em alguém que já está morto. 
O crime impossível pela absoluta impropriedade do objeto é também chamado delito putativo por erro 
de tipo, pois se trata de um crime imaginário; o agente quer cometer um crime, mas devido ao 
desconhecimento da situação de fato, comete um irrelevante penal (exemplo: mulher pensa que está 
grávida e ingere substância abortiva). Não se confunde com o erro de tipo, pois neste o agente não sabe, 
devido a um erro de apreciação da realidade, que está cometendo um crime (exemplo: compra cocaína 
pensando ser talco). 
 
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Crime de ensaio ou experiência: Também chamado “delito putativo por obra do agente provocador” 
ou “crime de flagrante preparado”, ocorre quando a polícia ou terceiro (agente provocador) prepara uma 
situação, que induz o agente a cometer o delito (exemplo: detetive simula querer comprar maconha e 
prende o traficante). O agente é protagonista de uma farsa. A jurisprudência considera a encenação do 
flagrante preparado uma terceira espécie de crime impossível, entendendo não haver crime ante a 
atipicidade do fato (Súmula n. 145 do Supremo Tribunal Federal). 
 
O Código Penal brasileiro adotou a teoria objetiva temperada pela qual só há crime impossível se a 
ineficácia do meio e a impropriedade do objeto forem absolutas. Por isso, se forem relativas, haverá crime 
tentado. Ex.: tentar matar alguém com revólver e projéteis verdadeiros que, entretanto, não detonam por 
estar velhos. Aqui a ineficácia do meio é acidental e existe tentativa de homicídio. 
 
Art. 14 - Diz-se o crime: 
 
CRIME CONSUMADO 
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
 
TENTATIVA 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do 
agente. 
 
PENA DE TENTATIVA 
Parágrafo único - Salvo disposiçãoem contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao 
crime consumado, diminuída de um a dois terços. 
 
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ 
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado 
se produza, só responde pelos atos já praticados. 
 
ARREPENDIMENTO POSTERIOR 
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída 
a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida 
de um a dois terços. 
 
CRIME IMPOSSÍVEL 
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade 
do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
 
CRIME DOLOSO (ART.18, I) 
 
Dolo é a vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do tipo penal. Mais amplamente, 
é a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta. 
 
Existem três teorias que falam sobre o conceito de dolo: 
-Teoria da vontade: dolo é a vontade de praticar a conduta e produzir o resultado. O agente quer o 
resultado. 
- Teoria do assentimento ou da aceitação: dolo é a vontade de praticar a conduta com a aceitação 
dos riscos de produzir o resultado. O agente não quer, mas não se importa com o resultado. 
- Teoria da representação ou da previsão: dolo é a previsão do resultado. Para que haja dolo, basta 
o agente prever o resultado. O Código Penal adotou as teorias da vontade e do assentimento. Ao 
conceituar crime doloso, o legislador indiretamente conceituou dolo: “quando o agente quis o resultado 
ou assumiu o risco de produzi-lo” (artigo 18, inciso I, do Código Penal). A teoria da representação, que 
confunde culpa consciente com dolo, não foi adotada. 
 
Elementos do dolo: 
- Consciência 
- Vontade 
 
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. 14 
A consciência é seu elemento intelectual, ao passo que a vontade desponta como elemento volitivo.13 
Primeiramente verifica-se a consciência da conduta e do resultado. Após o sujeito manifesta sua 
consciência sobre o nexo causal entre a conduta a ser praticada e o resultado que será produzido com 
tal conduta. 
Finalmente, o sujeito exterioriza sua vontade de praticar a conduta e produzir o resultado. 
Importante ressaltar que para verificação do dolo, basta que o resultado seja produzido de acordo com 
a vontade que o agente teve no momento da conduta. Exemplo: “Maria” quer matar “João” e para isso, 
dispara três tiros contra ele. 
Outrossim, com relação ao nexo causal (entre conduta e resultado), não é necessário que o Iter criminis 
(caminho do crime) aconteça exatamente da forma planejada pelo agente. Basta que o objetivo do agente 
seja alcançado, ainda que de modo diverso. Exemplo: se no caso exemplificado, de Maria e João, este 
não morre com os tiros, mas na fuga “cabaleando” cai e bate a cabeça e morre em decorrência disso, 
Maria responde pelo resultado “morte”. 
Contudo, é necessário destacar que há necessidade de que o agente, por exemplo, no caso 
destacado, saiba que sua conduta “mata alguém” e que tenha vontade de fazê-lo, pois o dolo deve 
englobar todas as elementares e circunstâncias do tipo penal. Faltando qualquer parte do tipo penal, 
ocorre o erro de tipo. 
 
Espécies de Dolo 
 
Dolo normativo: É o dolo segundo a teoria clássica, causal ou naturalista. É o dolo que integra a 
culpabilidade e não a conduta, e tem como elementos a consciência (sei o que faço), a vontade (quero 
fazer) e a consciência da ilicitude (sei que é errado). É o dolo que depende de um juízo de valor. 
 
Dolo natural: É o dolo segundo a doutrina finalista. Para os finalistas, o dolo passou a 
constituir elemento do fato típico (conduta dolosa), deixando de ser requisito para a culpabilidade. A 
consciência da ilicitude se destacou do dolo e passou a integrar a culpabilidade. Assim, o dolo que passou 
para a conduta é aquele composto apenas por consciência e vontade (sem a consciência da ilicitude, que 
passou a integrar a culpabilidade). É uma manifestação psicológica, que prescinde de juízo de valor. É o 
dolo adotado pelo Código Penal. 
 
Dolo genérico: É a vontade de realizar o verbo do tipo sem qualquer finalidade especial. 
 
Dolo específico: É a vontade de realizar o verbo do tipo com uma finalidade especial. Sempre que no 
tipo houver um elemento subjetivo, para que o fato seja típico, será necessário o dolo específico. Ex.: 
extorsão mediante sequestro (art. 159), cujo tipo penal é sequestrar pessoa com o fim de obter vantagem 
como condição ou preço do resgate. 
 
Dolo de perigo: É a vontade de expor o bem a uma situação de perigo de dano. O perigo pode 
ser concreto ou abstrato. Quando o perigo for concreto, é necessária a efetiva comprovação de que o 
bem jurídico ficou exposto a uma real situação de perigo (exemplo: crime do artigo132 do Código Penal). 
O perigo abstrato, também conhecido como presumido é aquele em que basta a prática da conduta para 
que a lei presuma o perigo (exemplo: artigo 135 do Código Penal). Os Professores Damásio de Jesus e 
Luiz Flávio Gomes sustentam que os crimes de perigo abstrato não existem mais na ordem jurídica. 
 
Dolo de dano: Existe quando a vontade é de produzir uma efetiva lesão ao bem jurídico. Quase todos 
os crimes são de dano (exemplos: furto, homicídio etc.). 
 
Dolo direto ou determinado: Existe quando o agente quer produzir resultado certo e determinado; é 
o dolo da teoria da vontade. 
 
Dolo indireto ou indeterminado: É aquele que existe quando o agente não quer produzir resultado 
certo e determinado. Pode ser: 
a) Eventual: quando o agente não quer produzir o resultado, mas aceita o risco de produzi-lo (exemplo: 
o motorista que, em desabalada corrida, para chegar em seu destino, aceita o resultado de atropelar uma 
pessoa). Nélson Hungria lembra a fórmula de Frank para explicar o dolo eventual: “Seja como for, dê no 
que der, em qualquer caso não deixo de agir”. 
 
13 Cf. STJ: HC 44.015/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª Turma, j. 13.12.2005. 
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. 15 
b) Alternativo: quando o agente quer produzir um ou outro resultado (exemplo: o agente atira para 
ferir ou para matar; nesse caso, responde pelo resultado mais grave, aplicando-se o princípio da 
consunção). 
 
Dolo geral ou erro sucessivo: Conhecido também como erro sobre o nexo causal ou aberratio 
causae, ocorre quando o agente, supondo já ter produzido o resultado, pratica nova agressão, que para 
ele é mero exaurimento, mas é nesse momento que atinge a consumação (exemplo: “A” quer matar “B” 
por envenenamento; após o envenenamento, supondo que “B” já está morto, “A” joga o que imagina ser 
um cadáver no rio e “B” acaba morrendo por afogamento; nesse caso, o erro é irrelevante, pois o que 
vale é a intenção do agente, que responderá por homicídio doloso). O Professor Damásio de Jesus 
entende que o agente deve responder por tentativa de homicídio, aplicando-se a teoria da imputação 
objetiva. 
 
Dolo de primeiro grau e de segundo grau: o primeiro grau consiste na vontade de produzir as 
consequências primárias do delito, ou seja, o resultado típico inicialmente visado, ao passo que o de 
segundo grau abrange os efeitos colaterais da prática delituosa, ou seja, as suas consequências 
secundárias, que não são desejadas originalmente, mas acabam sendo provocadas porque indestacáveis 
do primeiro evento. No dolo de segundo grau, portanto, o autor não pretende produzir o resultado, mas 
se dá conta de que não pode chegar à meta traçada sem causar tais efeitos acessórios. Por exemplo, a 
situação na qual o agente, desejando matar determinada pessoa que está em ambiente público, usa de 
explosivoque, ao detonar, certamente matará outras pessoas que ali também se encontram. Nesse caso, 
embora o agente não quisesse atingir outras vítimas, esse resultado era absolutamente esperado na 
explosão do artefato. 
 
CRIME CULPOSO (ART. 18, II) 
 
Culpa é o elemento normativo da conduta (não confundir com elemento normativo do tipo), pois sua 
existência decorre da comparação que se faz entre o comportamento do agente no caso concreto e 
aquele previsto na norma, que seria o ideal. Essa norma corresponde ao sentimento médio da sociedade 
sobre o que é certo e o que é errado. 
 
1. Elementos do Fato Típico Culposo 
São elementos do fato típico culposo: 
- conduta voluntária; 
- resultado naturalístico involuntário; 
- nexo causal; 
- tipicidade; 
- previsibilidade objetiva: é a possibilidade de qualquer pessoa ter previsto o resultado; o que se leva 
em conta é se o resultado era ou não previsível para uma pessoa de prudência mediana, e não a 
capacidade do agente de prever o resultado; 
- ausência de previsão: não prever o previsível. Exceção: na culpa consciente há previsão; 
- quebra do dever objetivo de cuidado: é o dever de cuidado imposto a todos. Existem três maneiras 
de violar o dever objetivo de cuidado. São as três modalidades de culpa. 
 
2. Modalidades de Culpa 
- Imprudência: É a culpa de quem age (exemplo: passar no farol fechado). É a prática de um 
fato perigoso, ou seja, é uma ação descuidada. Decorre de uma conduta comissiva. 
- Negligência: É a culpa de quem se omite. É a falta de cuidado antes de começar a agir. Ocorre 
sempre antes da ação (exemplo: não verificar os freios do automóvel antes de colocá-lo em movimento). 
- Imperícia: É a falta de habilidade no exercício de uma profissão ou atividade. 
 
No caso de exercício de profissão, arte ou ofício, se não for observada uma regra técnica o fato poderá 
enquadrar-se nos artigos 121, § 4.º, e 129, § 7.º, do Código Penal. Observe-se que só haverá aumento 
de pena se o agente conhecer a regra técnica e não aplicá-la. Não incide o aumento de pena se o agente 
desconhece a regra. Se a imperícia advier de pessoa que não exerce a arte ou profissão, haverá 
imprudência ou negligência (exemplo: motorista sem habilitação). Difere-se a imperícia do erro 
profissional, que ocorre quando são empregados os conhecimentos normais da arte ou ofício e o agente 
chega a uma conclusão equivocada. 
 
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O tipo culposo é um tipo aberto, pois não há descrição da conduta. Assim, se o legislador tentasse 
descrever todas as hipóteses em que ocorresse culpa, certamente jamais esgotaria o rol. Compara-se a 
conduta do agente, no caso concreto, com a conduta de uma pessoa de prudência mediana. Se a conduta 
do agente se afastar dessa prudência, haverá a culpa. Será feita uma valoração para verificar a existência 
da culpa. 
O tipo culposo, como vimos, é um tipo aberto. Excepcionalmente, o tipo culposo é um tipo fechado. 
Exemplos: receptação culposa, tráfico culposo (ministrar dose evidentemente maior) etc. 
 
3. Excepcionalidade da Culpa: Um crime só pode ser punido como culposo quando há previsão 
expressa na lei. Se a lei é omissa o crime só é punido como doloso (artigo 18, parágrafo único, do Código 
Penal). 
 
4. Compensação de Culpas: No Direito Penal, não existe compensação de culpas. O fato de a vítima 
ter agido também com culpa não impede que o agente responda pela sua conduta culposa. Somente nos 
casos em que existir culpa exclusiva da vítima haverá exclusão da culpa do agente. Não confundir com 
concorrência de culpas que ocorre quando dois ou mais agentes, culposamente, contribuem para a 
produção do resultado (exemplo: choque de dois veículos num cruzamento). 
 
5. Graus de Culpa: Para efeito de cominação abstrata de pena, não há diferença. Na dosagem da 
pena concreta, entretanto, é levado em conta o grau da culpa na primeira fase de sua fixação (artigo 59 
do Código Penal). São três níveis: grave, leve e levíssima. 
Cabe ao juiz aferir, em cada caso concreto, o grau da culpa (isto é, o grau de descuido frente ao bem 
jurídico). Isso retrata a culpabilidade como fator de graduação da pena (CP, art. 59). 
Saliente-se que a culpabilidade, no contexto do art. 59 do CP, significa a posição do agente frente ao 
bem jurídico afetado. Tem ela, no Direito penal, tríplice função: 
(a) de fundamento da pena; 
(b) de limite da pena (cada um é punido nos limites da sua culpabilidade – CP, art. 29) e 
(c) de fator de graduação da pena (CP, art. 59). 
 
Como fator de graduação da pena, já se disse, a culpabilidade conduz à análise da posição do agente 
frente ao bem jurídico, que pode ser: 
(a) de menosprezo, 
(b) de indiferença ou 
 (c) de descuido14. 
. 
A primeira está vinculada com o dolo direto, a segunda com o dolo eventual e a terceira com o crime 
culposo. Quanto mais intenso o menosprezo ao bem jurídico (isso se revela, por exemplo, na crueldade 
de um assassinato) mais reprovação se justifica. Quando mais indiferença, mais pena. Quanto à culpa, 
seus graus (culpa leve, levíssima, grave e gravíssima ou temerária) é que comandam o nível da censura 
penal. 
A culpa, desse modo, tanto é relevante para a tipicidade penal (não existe crime culposo sem a criação 
de risco proibido relevante), como para a culpabilidade (daí falar-se em tipo de ilícito culposo e tipo de 
culpabilidade). 
Enquanto a inobservância do cuidado objetivo necessário (leia-se: criação de risco proibido) é 
relevante para a composição do tipo de ilícito, os graus desse descuido (leve, grave etc.) são 
fundamentais para a aferição da pena no âmbito da culpabilidade mencionada no art. 59 do CP. Se cada 
agente deve ser punido na medida da sua culpabilidade (CP, art. 29), cumpre ao juiz aferir esse nível de 
censura para fazer a correta dosimetria da pena. 
A intensidade do dolo e da culpa não cumpre, em princípio, grande papel no momento da configuração 
do injusto penal (do tipo de ilícito), salvo, evidente, quando o próprio tipo penal a exige (crime cometido 
com crueldade, crime cometido com culpa temerária etc.). Sua função primordial acaba sendo revelada 
no momento da aplicação da pena, que é justamente quando o juiz tem que dar sentido para a palavra 
culpabilidade dentro do art. 59 do CP. 
Não nos parece acertado dizer que não tem nenhum sentido falar em intensidade do dolo e da culpa. 
Essa intensidade é muito relevante em Direito penal, sobretudo no momento da aplicação da pena, 
quando então é fundamental constatar a dimensão da intensidade do dolo (nível da posição do agente 
frente ao bem jurídico) assim como da culpa (nível de descuido do agente frente ao bem jurídico). 
 
14 (cf. GOMES, Luiz Flávio, Direito penal, v. 7, Coleção Manuais para concursos e graduação, São Paulo: RT, 2005, p. 75) 
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Os denominados delitos de atitude (ou delitos de atitude interna), que são os que expressam estados 
anímicos que fundamentam ou reforçam o juízo de desvalor do fato, ou seja, o juízo de reprovação do 
fato, bem evidenciam a intensidade do dolo do agente. A crueldade, a traição, a evidente má-fé, os crimes 
cometidos inescrupulosamente etc. revelam o alto nível de censurabilidade da posição do agente frente 
ao bem jurídico protegido. A atitude interna do agente, que revela a intensidade do dolo, deve sempre ser 
levada em conta no momento da cominação da pena ou da sua aplicação. 
Pode-se afirmar a mesma coisa em relação ao nível de descuido do agente frente ao bem jurídico. 
Quanto mais intensa a culpa, isto é, quanto mais descuidado for o agente, mais censurável será seu fato. 
Esse nível de descuido encontra seu ponto mais extremado na chamada culpa temerária, queé forma de 
culpa gravíssima. A culpa temerária expressa uma especial intensificação da culpa, é uma conduta 
praticada de modo especialmente perigoso. O resultado, no contexto de uma culpa temerária, apresenta-
se como altamente provável. A previsibilidade é patente. A atitude do agente na culpa temerária é 
altamente censurável, chega mesmo à leviandade, por isso que justifica maior nível de reprovação15. 
 
6. Participação no Crime Culposo: Sobre a possibilidade de participação em crime culposo, há duas 
posições na doutrina: 
1.ª posição: não é possível a participação em crime culposo. Isto porque, o tipo culposo é aberto, logo 
não há descrição da conduta. Assim, não há que se falar em conduta acessória e em conduta principal. 
2.ª posição: é possível a participação em crime culposo, sendo o autor aquele que realiza o núcleo do 
tipo doloso e partícipe quem concorre para tal. 
Exemplo: motorista dirige de forma imprudente e, instigado pelo acompanhante, acaba atropelando 
uma pessoa. O motorista matou a vítima, pois foi ele quem a atropelou; o acompanhante teve participação 
nesta morte. A primeira posição prevalece na doutrina, pois a culpa é um tipo aberto, não possuindo, por 
esse motivo, conduta principal distinta da secundária. É a nossa posição. 
 
7. Espécies de Culpa: 
-Culpa inconsciente ou sem previsão: É a culpa sem previsão, em que o agente não prevê o que era 
previsível. 
- Culpa consciente ou com previsão: É aquela em que o agente prevê o resultado, mas acredita 
sinceramente que ele não ocorrerá. Não se pode confundir a culpa consciente com o dolo eventual. Tanto 
na culpa consciente quanto no dolo eventual o agente prevê o resultado, entretanto na culpa consciente 
o agente não aceita o resultado, e no dolo eventual o agente aceita o resultado. 
- Culpa indireta ou mediata: É aquela em que o sujeito dá causa indiretamente a um resultado 
culposo (exemplo: o assaltante aponta uma arma a um motorista que está parado no sinal; o motorista, 
assustado, foge do carro e acaba sendo atropelado). A solução do problema depende da previsibilidade 
ou imprevisibilidade do segundo resultado. 
- Culpa imprópria: Também é chamada culpa por extensão, por assimilação ou por equiparação. 
Nesse caso, o resultado é previsto e querido pelo agente, que age em erro de tipo inescusável ou vencível. 
Exemplo: “A” está em casa assistindo televisão quando seu primo entra na casa pelas portas dos fundos; 
pensando tratar-se de um ladrão, “A” efetua disparos de arma de fogo contra seu azarado parente. Nesse 
caso, “A” acredita estar agindo em legítima defesa. Como “A” agiu em erro de tipo inescusável ou vencível 
(se fosse mais atento e diligente perceberia que era seu primo), responde por homicídio culposo nos 
termos do artigo 20, §1.º, do Código Penal. Observe-se que a culpa imprópria, na verdade, diz respeito a 
um crime doloso que o legislador aplica pena de crime culposo. Se “A”, no entanto, tivesse agido em erro 
de tipo escusável ou invencível, haveria exclusão de dolo e culpa, hipótese em que “A” ficaria impune. 
Qual a solução se o primo (do exemplo citado acima) não tivesse morrido? Há duas posições na doutrina: 
1.ª posição: “A” responderia por lesões corporais culposas. 2.ª posição: “A” responderia por tentativa de 
homicídio culposo. Preferimos a primeira posição, pois não admitimos a tentativa em crime culposo. 
 
8. Fundamentos da culpa: 
Antigamente, vários autores se manifestavam pela inutilidade da aplicação de pena para o crime 
culposo, sustentando que o objetivo do Direito é punir o indivíduo que gera periculosidade, o que inexiste 
no sujeito que não previu a lesão quando deveria prever, ou seja, este indivíduo não teve impulso contrário 
ao direito, motivo pelo qual a pena não se mostraria eficaz. 
Contudo, com o advento da Escola Positiva, a punição da culpa passou a ser reclamada por 
necessidade social, por ser a sanção penal uma reação constante e independente da vontade. O 
homem seria responsável tanto pelo crime culposo como pelo crime doloso, porque vive em sociedade. 
 
15 (cf. SANTANA, Selma Pereira de, A culpa temerária, São Paulo: RT, 2005). 
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Atualmente, encontra-se encerrada a discussão acerca da obrigatoriedade de punição do crime 
culposo. O interesse público impõe consequências penais àqueles que agem culposamente, visando a 
preservação de bens indispensáveis ou relevantes à vida em sociedade. 
Em respeito ao menor desvalor da conduta, porém, os crime culposos são apenados de modo mais 
brando do que os dolosos.16 
 
 Consciência Vontade 
Dolo direto Prevê o resultado Quer o resultado 
Dolo eventual Prevê o resultado Não quer, mas assume o risco 
Culpa consciente Prevê o resultado 
Não quer, não assume o risco 
e pensa poder evitar por sua 
habilidade 
Culpa inconsciente 
Não prevê o resultado (que 
era previsível) 
Não que e não aceita o 
resultado 
 
Art. 18 - Diz-se o crime: 
 
CRIME DOLOSO 
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; 
 
CRIME CULPOSO 
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
 
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como 
crime, senão quando o pratica dolosamente. 
 
CRIME PRETERDOLOSO 
 
Conceito: crime preterdoloso é uma das quatro espécies de crime qualificado pelo resultado. 
Crime qualificado pelo resultado: é aquele em que o legislador, após definir um crime completo e 
acabado, com todos os seus elementos (fato antecedente), acrescenta-lhe um resultado (fato 
consequente). O resultado não é necessário para a consumação, que já ocorreu no fato antecedente; 
o resultado tem a função de aumentar abstratamente a pena. 
Os crimes qualificados pelo resultado podem ser observados nas seguintes formas: 
a) Conduta dolosa e resultado agravador doloso. Ex.: durante um roubo, o assaltante mata 
intencionalmente a vítima. Há crime de roubo qualificado pela morte, também chamado de latrocínio (art. 
157, §3º). 
b) Conduta culposa e resultado agravador doloso. Ex.: crime de lesões corporais culposas, cuja pena 
é aumentada de 1/3, se o agente, dolosamente, deixa de prestar imediato socorro à vítima (art. 129, §7º). 
c) Conduta dolosa e resultado agravador culposo: Ex.: crime de lesão corporal seguida de morte, no 
qual o legislador descreve que a pena será maior quando o agente, ao agredir a vítima, provoca sua 
morte, e as circunstâncias indicam que o agente não quis e não assumiu o risco de produzi-la. Apenas 
nessa hipótese ocorre o crime preterdoloso: dolo no antecedente (conduta) e culpa no consequente 
(resultado). 
d) Conduta culposa e resultado agravador culposo. Crime de incêndio culposo, qualificado pela morte 
culposa (art. 250, §2º, c.c. o art. 258, 2ª parte). 
 
Os crimes preterdolosos não admitem a tentativa, pois, neles, o agente não quer o resultado final 
agravador, sendo certo que pressuposto da tentativa é que o agente queira o resultado e não o atinja por 
circunstâncias alheias à sua vontade. 
 
AGRAVAÇÃO PELO RESULTADO 
Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado 
ao menos culposamente. 
 
 
16 MASSON, Cleber. Direito Penal. Vol.1. Parte Geral. Editora Método. 8ª edição. 2014. 
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ERRO 
 
1. ERRO DE TIPO INCRIMINADOR (ARTIGO 20 DO CÓDIGO PENAL) 
 
O erro de tipo incriminador ocorre quando o agente erra a respeito de um elemento fático, objetivo 
que compõe o tipo penal que descreve um crime, logo havendo erro sobre um elemento objetivo do tipo

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