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Estudo dirigido I Direito Empresarial III

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS
______________________________________________________________________
Disciplina: Direito Empresarial III
Professor: Fellipe David
Autores: Christiane Alves; Janaína Lima; Rayann Massahud.
______________________________________________________________________
No presente trabalho será discutida a importância e a repercussão que a nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas no âmbito nacional. Neste sentido, em um primeiro momento realizaremos um diagnóstico acerca da atuação estatal para o controle da economia, a partir do documentário Inside Job, que retrata a crise econômica de 2008 - “a crise imobiliária estadunidense”. No segundo momento, analisaremos os problemas da antiga legislação brasileira de falências e a necessidade de sua modificação. Por fim, serão indicados os avanços trazidos pela nova Lei de Falência e Recuperação de Empresa – Lei 11.101/05, assim como seus impactos no quadro econômico do país. 
Inside Job (FERGUSON; MARRS, 2010) expõe a crise do modo de produção capitalista enquanto crise no mercado imobiliário estadunidense, cujo ápice ocorre no ano de 2008. O documentário permite vislumbrar as origens e as principais consequências de uma estratégia arriscada até então adotada em um contexto onde a busca pelo lucro como objetivo central da política econômica. Tal crise nasceu da descrença e da não observância de políticas públicas de cunho social e da visualização do desenvolvimento e da expansão do modo de produção capitalista como única possibilidade viável para a prosperidade daquele país. 
Os investimentos de alto risco feitos com o dinheiro depositado dos clientes estavam ancorados em um sistema de facilitação do crédito hipotecário concedido de forma irresponsável – chamados “empréstimos predatórios” – e com o aval – ainda que implícito – das instituições que deveriam fiscalizar o mercado. Soma-se a isto o processo de “terceirização dos riscos” para bancos de investimento. Este conjunto de fatores levou a uma crise imobiliária, com milhares de casas abandonadas e financiamentos não pagos, aumento vertiginoso do desemprego, instituições financeiras e de investimento falidas, sendo os prejuízos decorrentes concentrados na parcela mais pobre da população. 
A partir da obra é possível perceber que a ideia por detrás do funcionamento do sistema capitalista – que levou a crise – era de garantir liberdade aos investidores de capitais rentáveis. Para buscar a realização deste objetivo, o governo inicia um processo de intensa desregulamentação financeira com a transferência imediata do poder estatal de controle e verificação para instituições como o PMI e o Banco Mundial. Esta transferência foi fator fundamental para a crise de 2008, pois, enquanto o Estado segue uma lógica imanente distinta, de busca pela realização do interesse público e pela efetivação de direitos fundamentais, as instituições financeiras – ligadas de modo mais direto ao mercado – buscam incessantemente o lucro. Neste sentido, ao transferir para o PMI e para o Banco Mundial as tarefas de controle e verificação das atividades financeiras, estas ficaram subsumidas a mesma lógica do mercado. É possível identificar aqui a importância da atuação de agências reguladoras para a manutenção do equilíbrio econômico bem como para coibir práticas abusivas capazes de lesionar direitos de terceiros vulneráveis. Neste sentido é a legislação brasileira de tutela do consumidor – Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 – que, consciente da desigualdade marcante nas relações consumeristas, prevê mecanismos protetivos dos direitos do consumidor, bem como institutos repressivos e punitivos capazes de desestimular e coibir práticas comerciais reprováveis.
Sendo assim, cabe-nos questionar o seguinte a partir do documentário que retratou a crise iniciada nos EUA com reflexos em todo o mundo: uma política econômica tipicamente liberal, que rejeita qualquer interferência do Estado na economia, tem condições de funcionar sem levar em conta fatores como a concentração de renda, o aumento da desigualdade social e a crise do próprio sistema em sociedade complexas como as modernas? A crise econômica, que começou em 2008, e se alastrou pelo globo nos anos seguintes, por ter início em um país tido tipicamente como liberal, revela as limitações da referida política econômica? O modo de produção capitalista guiado pela maior obtenção de lucro possível, deixado solto, segundo sua lógica interna própria, tende a gerar crises? Essas questões, mesmo que não se possa respondê-las de modo imediato, guiam o restante do desenvolvimento deste trabalho. A partir do documentário e das questões levantadas partimos da compreensão de que: em sociedades complexas como as hodiernas, faz-se necessário a realização de uma política econômica não mais guiada pelos próprios imperativos sistêmicos do modo de produção capitalista, mas que seja possível, em alguma medida – maior ou menor, dependendo do momento histórico – a interferência do Estado, ainda que seja apenas para garantir que a economia não entre em colapso.
No âmbito da interferência estatal, mapeamos a incidência da Lei 11.101/05, que trata dos institutos da Falência e da Recuperação de Empresas no Brasil, em contraste com uma política econômica liberal, que não permite intervenção do Estado. A partir desse panorama, compreendemos que é necessário que haja a manutenção do equilíbrio do sistema de mercado capitalista a partir de mecanismos legais, vez que estes são responsáveis por dar suporte ao sistema econômico, que não deve guiar-se por meio da lei crua do capitalismo, sob pena de crises cíclicas e o aumento generalizado da pobreza. A partir daí passamos a analisar os problemas da regulamentação do processo de falência no ordenamento pátrio tendo em conta o Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945, revogado pela Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005, esta compreendida como mecanismo de intervenção que garante um melhor desenvolvimento e manutenção do equilíbrio do mercado.
Até o ano de 2005 o Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945, regulava a liquidação e a concordata – reorganização. O diploma normativo falhou em evitar processos de liquidação porque não logrou êxito em maximizar os ativos e proteger os direitos dos credores, prejudicados principalmente pela preferência dos créditos trabalhistas e tributários (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 193-194). Também faltava a previsão de mecanismos efetivos para reestruturação de firmas potencialmente viáveis e a sucessão de obrigações – transferidas para os compradores dos bens liquidados – resultava na diminuição do valor dos ativos da empresa insolvente (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 193-194). Durante a vigência desta legislação os processos eram muito longos – em média 10 anos – e nada transparentes (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 193).
Cabe ressaltar que apesar da reforma da legislação somente ter ocorrido em 2005, desde a década de 1990, muitos países da América Latina, assim como o Brasil, já estavam discutindo a necessidade de realizar uma reforma, quanto aos seus sistemas de insolvência. Isso se deu, devido à crise econômica que estes países vivenciaram na década de 1980. A primeira discussão brasileira data de 1993, mas somente foi concluída mais de uma década depois, em 2005 (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 192). 
A Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005 – que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária – traz alterações substanciais nos procedimentos de liquidação. Substitui a concordata pelo processo de recuperação, confere aos gerentes o poder de negociação e aos credores o poder de votação, garantindo-lhes um papel mais ativo (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 195). 
O novo diploma normativo possibilita a conversão da recuperação em liquidação e permite ao devedor apresentar requerimento para reabilitação no processo de liquidação a ele imposto (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 194). Também acrescenta uma importante exigência para o pedido de falência dodevedor. Nos termos do art. 94, inciso I: 
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;
No sentido de proteger os credores, a legislação determina: a) a preferência dos créditos trabalhistas até o limite de 150 salários mínimos; b) o estabelecimento de prioridade dos créditos segurados frente aos créditos fiscais; c) a venda da empresa (preferencialmente, no todo) para depois formar a lista de credores, agilizando o processo (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 194). 
Outra alteração diz respeito à prioridade do pagamento dos créditos nascidos durante o período de reorganização quando culmine em liquidação (p. 194), o que diminui os créditos indiretos decorrentes do processo porque passam a ser concedidos em termos mais favoráveis (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 195-196).
A nova lei introduz, ainda, o automatic stay: período no qual nenhum bem da empresa – mesmo que seja colateral – não pode ser vendido, de forma que ela possa seguir realizando suas atividades (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 195). A regulamentação de acordos extrajudiciais – antes dificultados pela ausência de parâmetros legais – também evita quebras ao permitir a reestruturação das empresas sem a intervenção do Poder Judiciário (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 199). 
A Lei nº 11.101/2005 exclui a sucessão das obrigações. Agora a venda dos bens liquidados é feita em hasta pública, e o comprador fica livre dos encargos relativos, gerando o aumento do valor da firma (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 194).
Com estas mudanças cai o número de falências decretadas e requeridas, excetuando-se o mês de implementação da nova lei, onde houve um significativo aumento dos requerimentos. O fato pode ser explicado pela nova exigência legal de que a insolvência seja acima de 40 salários mínimos, diante da qual os credores com créditos menores que este valor adiantaram os pedidos de falência (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 198-201).
Também diminui o número de requerimentos de recuperação judicial, uma vez que agora é possível que a reestruturação ocorra extrajudicialmente, com a participação dos credores em acordo com o devedor (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 204-205). 
Nota-se, ainda, a queda no tempo médio de procedimento de 10 anos para 4 anos e o aumento do crédito a pessoas jurídicas dos setores de comércio, indústria e rural (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 206-210), justificável pela maior segurança garantida aos credores, que agora têm maiores chances de ter as dívidas quitadas (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 195). 
A limitação à prioridade dos créditos trabalhistas, por sua vez, desestimula em certa medida as fraudes por parte dos donos das empresas, que criavam mecanismos para que seus próximos (amigos e familiares) recebessem grandes quantias, prejudicando, desta forma, os demais credores.
Para A. Araújo e B. Funchal o principal objetivo da reforma é fortificar os direitos dos credores e possibilitar à firma uma maior alocação de seus ativos. Segundo os autores, apesar da sua importância, a reorganização e o processo de liquidação são elementos secundários (ARAÚJO; FUNCHAL, 2009, p. 193). 
As modificações trazidas pela lei nº 11.101/2005 têm o condão de tornar mais eficaz e rápido o processo de falência, bem como oferece mecanismos efetivos para a recuperação de empresas viáveis, contribuindo, assim para a manutenção do equilíbrio econômico. Trata-se de uma intervenção estatal no domínio privado, que em uma segunda instância, contribui para a realização de fins sociais. 
Referências
ARAÚJO, Aloisio; FUNCHAL, Bruno. A nova lei de falências brasileira: primeiros impactos. Brasilian Journal of political economy, São Paulo, v. 29, n. 3, pp.191-212, jul-set. de 2009.
FERGUSON, Charles. Inside Job: A verdade da crise. Produção de Charles Ferguson e Audrey Marrs. 2010, EUA.

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