Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
À medida que o século XIX chegava ao fim e o século XX começava, os designers gráficos e de produto, arquitetos e estilistas procuravam novas formas de expressão. Os avanços tecnológicos e industriais alimentavam essas preocupações. O repertório do novo design do movimento art nouveau havia contestado as convenções da era vitoriana e suas realizações demonstraram que inventar formas, em vez de copiar formas da natureza ou de modelos históricos, era uma abordagem viável. O potencial do desenho abstrato e sintético era explorado por artistas na Escócia, Áustria e Alemanha, que se afastava da beleza sinuosa da linha orgânica à medida que procurava, uma nova filosofia estética para tratar das condições sociais, econômicas e culturais em transformação na virada do século. Durante os último anos do século XIX, o trabalho do arquiteto norte- americano Frank Lloyd Wright estava se tornando conhecido dos artista e designers europeus. Ele claramente era uma inspiração para aqueles designers que evoluíam do curvilíneo art nouveau para uma abordagem retilínea da organização espacial. Wright via o espaço como essência do design, e essa ênfase foi a fonte de sua profunda influencia em todas as áreas do design do século XX. Na arquitetura e design japonês, ele buscou um modelo de proporção harmoniosa e poesia visual; na arquitetura e arte pré- colombiana, ele encontrou o vívido ornamento controlado por uma repetição matemática de divisões horizontais e verticais. Além da arquitetura, seus interesses abrangiam o mobiliário, artes gráficas, estamparia, papeis e parede e vitrais. Durante sua longa carreira , Wright periodicamente dedicou-se ao design gráfico. Em 1896, colaborou com William H. Winslow na produção de The House Beautiful, impresso numa prensa manual, com papel artesanal, na Auvergne Press. The House Beautiful, 1896 The House Beautiful, 1896 A revista The Studio e suas reproduções de trabalhos de Beardley e Toorop tiveram forte influencia num grupo de jovens artistas escoceses que se tornaram amigos na Escola de Glasgow nos anos de 1890: Charles Rennie Mackintosh, J. Herbert McNair, as irmãs Margaret e Frances Macdonald. Os quatro alunos foram batizados de The Four, mais amplamente conhecidos como Escola de Glasgow, desenvolveram um estilo ímpar de originalidade lírica e complexidade simbólica. Margaret Macdonald, ex-libris, 1896 Inventaram um estilo geométrico de composição temperando elementos florais e curvilíneos com forte estrutura retilínea. As irmãs Macdonald tinham fortes convicções religiosas e adotaram ideias simbolistas e místicas. A confluência entre a estrutura arquitetônica e o mundo de fantasia e sonhos das irmãs produziu um estilo transcendental inédito que foi descrito como feminino, fantasia de uma terra encantada e inquietude melancólica. Margaret e Frances Macdonald e Hebert McNair, 1895 Seus projetos se distinguem pela imagística simbólica e formas estilizadas com linhas pronunciadas e simples, que define planos chapados de cor, além de verticalidade ascendente e integração de linhas fluidas com estruturas retangulares, além de interpretações abstratas da figura humana. Charles Rennie Mackintosh, 1896 Entre os que retiraram inspiração desse grupo, detacam-se Jessie Marion King, que alcançou uma expressão pessoal singular com ilustrações criativas de estilo medieval acompanhadas por inscrições estilizadas. Sua graça, fluidez e tons românticos influenciaram muito a ilustração ficcional ao longo do século XX. Jessie Marion King, The defense of Guenevere, 1904 Jessie Marion King Jessie Marion King Talwin Morris trabalhou em escritórios de arquitetura e diretor de arte assistente da revista Black and White, em Londres. Mais tarde tornou-se diretor de arte da empresa editora Blackie and Sons, editora de grandes edições de livros populares para o mercado de massa, abrangendo romances, reimpressões e enciclopédias. isso possibilitou a Morris um campo de aplicação da divisão geométrica espacial e formas líricas orgânicas do grupo de Glasgow à comunicação de massa. Talwin Moris, Much Ado About Nothing, 1908 Talwin Moris, ornamento de página, 1908 Talwin Moris Na Áustria, a Sezessionstil, ou Secessão Vienense, nasceu no dia 3 de abril de 1897, quando os membros mais jovens da Künstlerhaus, a Associação dos Artistas Criativos de Viena, abandonaram a entidade em tumultuado protesto. No cerne do conflito estava o choque entre a tradição e as novas ideias vindas da França, Inglaterra e Alemanha. O Pintor Gustav Klimt foi o espírito guia que liderou a revolta; os arquitetos Joseph Maria Olbrich e Josef Hoffmann e o artista-designer koloman Moser foram participantes funtamentais. Assim como a Escola de Glasgow, a Secessão Vienense tornou-se um contramovimento ao art nouveau floral que se expandia em outros países da Europa. Gustav Klimit, cartaz oara primeira exposição da Secessão, 1898 Os cartazes que são marcos de referencia para as exposições da Secessão Vienense demonstram a rápida evolução do grupo, do estilo alegórico ilustrativo da pintura simbolista para um estilo floral de inspiração francesa até chegar a um estilo mais maduro, que se inspirava na Escola de Glasgow. Koloman Moser, cartaz da quinta exposição Secessionista, 1899 Com o final do art nouveau, no início do século XX, Viena tornou-se o centro da inovação criativa. Talvez o maior exemplo seja a publicação Ver Sacrum, da Secessão Vienense, editada entre 1898 e 1903. Mais que uma revista, ela foi um laboratório de design, com uma equipe editorial em constante mudança, a responsabilidade pelo design era assumida por um comitê de artista em rodízio. Capas da revista Ver Sacrum, criadas pro Alfred Roller, 1898 As contribuições de arte e design estavam todas voltadas à experimentação e à excelência gráfica, que possibilitava aos designers o desenvolvimento de imagens inovadoras à medida que exploravam a fusão de texto, a ilustração e o ornamento em uma unidade viva. Cabecel e madura criadas por Josef Hoffmann e Joseph Olbrich pra a revista Ver Sacrum As capas da Ver Sacrum frequentemente combinavam inscrições manuais com desenhos de linhas grossas impressos em uma cor sobre fundo colorido. Ornamentos, molduras, cabeceeis decorativos e vinhetas finais eram usados em profusão, mas os leiautes de página eram refinados e concisos, graças a margens amplas e cuidadoso alinhamento horizontal e vertical dos elementos em um todo unificado. Capa da revista Ver Sacrum, criada por Koloman Moser, 1899 A estética do design era tão importante que os anunciantes eram obrigados a encomendar seus projetos de publicidade aos artistas e designers que contribuíam para cada edição, a fim de garantir a unidade visual do projeto. Os excepcionais elementos de desenho linear e geométrico que adornavam as páginas de Ver Sacrum tornaram-se uma importante fonte de design à medida que evoluir o estilo da Secessão Vienense. Alfred Roller, Kololoman Moser e Frederick Koening, anúncios de verso de capa da Ver Sacrum, 1899 Vários membros da Secessão eram especializados em uma ou mais áreas de atuação: arquitetura, artes aplicadas, design gráfico, design de interiores, pintura, gravação e escultura. Kololoman Moser, Duquesa e seu pagem, ilustração para poema de R. M. Rilke, Ver Sacrum, 1901 Kaloman Moser desempenhou papel importante na definição de outra abordagem do design gráfico. Seu cartaz para o calendário de Fromme combinava símbolos místicos com o espaço bidimensional simplificado. As nuances transcendentais da Escola de Glasgow davam lugar a um fascínio pela geometria. KololomanMoser, cartaz anunciando calendário Fromme, 1899 O cartaz de moser para a décima terceira exposição da Secessão Vienense é uma obra-prima da fase madura. Kololoman Moser, cartaz para décima terceira exposição da Secessão Vienense, 1902 Walter Crane, diagrama de Line and Form, 1900 Alfred Roller realizou inovações significativas no design gráfico com um controle magistral de linhas, tons e formas complexas. Cenógrafo e pintor de cenários para teatro, seu trabalho principal como designer e ilustrador foi para a Ver Sacrum e cartazes de exposições da Secessão. O cubismo e o art tecó sua prenunciados em seu cartaz de 1902 para a décima quarta mostra da Secessão. Alfred Roller, projeto para proteção de relógio de bolso, 1900 Alfred Roller, cartazes para a décima quarta e décima sexta exposição da Secessão Vienense, 1902 Berthold Löffler também antecipou avanços ulteriores com suas imagens simbólicas de contornos espessos e características geométricas simples. As figuras umas em seus cartazes e ilustrações se tornaram antes significados elementares que representações. Berthold Löffler, cartaz para um teatro e cabaré, 1907 Em 1903, Hoffman e Moser lançaram os Wiener Werkstätte (Seminários de Viena), uma extensão da Secessão que procurava estreitar as relações entre as belas-artes e as artes aplicadas no design de luminárias, tecidos e objetos similares para uso cotidiano, incluindo livros, cartões comemorativos e outros impressos. Josef Hoffmann, cartaz para a exposição do Wiener Werkstätte, 1905 Marca, monogramas e aplicações da marca do Wiener Werkstätte Artista, arquitecto e designer alemão, Peter Behrens desempenhou um importante papel ao planejar, na primeira década do século XX, um curso de design. Ele buscava a reforma tipográfica, foi o primeiro defensor da tipografia sem serifas e usou um sistema de grids para estruturar o espaço em seus leiautes. Peter Behrens, Feste des Lebens und der Kunt, 1900 Peter Behrens, Feste des Lebens und der Kunt, 1900 Peter Behrens, Dokument der Modernen Kunstgewerbes, 1900 Foi chamado de “o primeiro designer industrial” em reconhecimento aos seus projetos para produtos industrializados, como postes de iluminação e chaleiras. Seu trabalho para a AEG, é considerado o primeiro programa completo de identidade visual. Na arquitetura seus primeiros edifícios foram pioneiros no uso das cortinas de vidro não estruturais, que se estendiam pelos espaços entre vigas de sustentação. Cartaz e fábrica de Peter Behrens para AEG Assim como os críticos de arte alemães, Behrens estava interessado na relação entre as formas de arte e design e as condições sociais, técnicas e culturais. Além disso, ele acreditava que, depois da arquitetura, a tipografia era o que fornecia o retrato mais característico de um período, e o testemunho mais forte do progressos espiritual e do desenvolvimento de um povo. Família tipográfica Behrensschrift, de Peter Behrens, 1901 Suas experiências tipográficas eram uma tentativa deliberada de expressar o espírito da nova era. Behrens não estava sozinho em seu interesse pela tipografia sem serifa. A Fundição Berthold projetou uma família de dez fontes sans serifs que eram variações de uma fonte original. Essa família de tipos Akzidenz Grotesk teve influência importante na tipografia do século XX. Família tipográfica Akzidens Grotesk Em 1903 Behrens mudou-se para Düsseldorf para se tornar diretor da Escola de Artes e Ofícios da cidade. Nessa escola, cursos preparatórios inovadores antecediam o estudo de disciplinas específicas, como arquitetura, artes gráficas e projeto de interiores. Esses cursos introdutórios foram precursores do Curso Preliminar da Bauhaus, onde os dois aprendizes de Behrens, Walter Groupious e Ludwig Mies van der Rode, atuaram como diretores. Uma transformação drástica ocorreu no trabalho de Behrens em 1904, quando o arquiteto holandês J. L. Mathieu Lauweriks entrou para o corpo docente de Düsseldorf. Fascinado pela forma geométrica, desenvolveu uma abordagem de ensino do design com base na composição geométrica. Seus grids partiam de um quadrado que circunscreve um círculo; inúmeras permutações podiam ser feitas pela subdivisão e duplicação dessa estrutura básica. Diagramas de composição de Lauweriks Em 1907, Behrens foi nomeado conselheiro artístico da AEG, então uma das maiores elétricas empresas do mundo. Ali ele passou a concentra-se nas necessidades da industria, com responsabilidades que iam de grandes edifícios a equipamentos de escritório e ventiladores. Peter Berehns, cartaz para pavilhão de exposição Anchor Linoleum, 1096 1907 foi também a criação do Deutsche Werkbund (Associação Alemã de Artesãos), que defendia o casamento entre arte e tecnologia e na qual Behrens desempenhou papel importante ao inspirar e defender o design de alta qualidade a produtos manufaturados e arquitetura. Diferentemente do arts and crafts, a associação reconhecia o valor das máquinas e advogava o design como meio para conferir forma e significado a todas as coisas feitas pela máquina, inclusive, os edifícios. Juntamente com os dois outros líderes do grupo, Herman Muthesius e Henry van de Velde, propunham uma nova filosofia de Gesamkultur, uma nova cultura universal num ambiente artificial totalmente reformado. O design era visto como o motor que poderia impelir a sociedade adiante para alcançar este objetivo. Peter Behrens, cartaz para exposição da Deutsche Werkbunf, 1914 Depois de formada, a Werkbund dividiu-se em duas facções: uma delas, liderada por Muthesius, defendia a fabricação mecânica, a padronização dos objetos em prol da eficiência industrial e acreditavam que a forma devia ser exclusivamente determinada pela função, o que incluía a eliminação de todo o ornamento. A outra facção, liderada por Van de Velde, argumentava em favor da primazia da expressão artística individual. Behrens tentou fazer mediação entre os dois extremos, mas seu trabalho para a AEG mostrava fortes tendências rumo à padronização. Os projetos de Behrens na AEG representam uma síntese de dois conceitos aparentemente contraditórios: o neoclassicismo e Sachlichkeit (Objetividade do senso comum). O seu neoclassicismo brotava do estudo cuidadoso da arte da Grécia e Roma antigas. Em vez de meramente copiar aspectos estilísticos destes períodos, encontrou neles a linguagem formal de harmonia e proporção necessárias para alcançar uma unidade das partes com o todo. Sachlisckeit era uma ênfase pragmática em tecnologia, processos de fabricação e na função, cujos conceitos artísticos e questões de estilo eram subordinados ao propósito. Peter Behrens, capas de manual de orientação do pavilhão da AEG na Exposição Naval Alemã de 1908 Em janeiro de 1908, foi feito o registro de propriedade autoral da marca hexagonal de Behrens para a AEG: um favo de mel estilizado, com as iniciais da empresa, denotando ordem matemática e funcionando também como uma metáfora visual relacionada à complexidade e à organização de uma corporação do século XX. Peter Behrens, logotipo da AEG O programa de identidade visual da AEG fazia uso constante de três elementos centrais que estariam presentes nos programas de identidade corporativa quando o gênero se desenvolveu meio século mais tarde: uma marca, uma família tipográfica e um leiaute consistente de elementos seguindo formatos padronizados. Peter Behrens, página de catálogo para chaleiras AEG, 1908 Peter Behrens, cartas de lâmpada elétrica da AEG, 1910 Peter Behrens, capas para Revista da Usina de Eletricidade de Berlim, 1908 Em 1890 foi inaugurado em Londres o primeiro sistemaferroviários elétrico subterrâneo do mundo. Durante as duas primeiras décadas, diversas empresas faziam parte do sistema, o que impossibilitava uma integração visual do sistema. O estatístico e advogado Frank Pick foi quem forneceu a visão necessária para levar o Underground Electric Railways of London à vanguarda da publicidade e do design, quando todas as empresas se uniram um único conglomerado. Embora sem formação artística, Pick adquirira uma paixão pela arte e pelo design. Ele reorganizou as estações, eliminando a confusão de cartazes de anunciantes que competiam com informações e publicidades sobre transportes, destinando os painéis nas entradas das estações a cartazes e mapas do metrô; depois, limitou os anunciantes a espaços específicos dentro das estações e nas plataformas. As placas de estações do metrô, introduzidas em 1908, tinham um disco vermelho uniforme atravessado ao meio por uma faixa azul que trazia o nome da estação em letras brancas sem serifa. A insatisfação com a tipografia do material impresso para o metrô levou Pick a encomendar ao calígrafo Edward Johhston o projeto de uma fonte exclusiva, patenteada para o metrô em 1916. Pick solicitou uma fonte que fosse simples e com uma inquestionável qualidade do século XX. Johnston elaborou manualmente um tipo sem serifa cujos traços possuem peso constante, com letras com proporções básicas das inscrições romanas clássicas. Johnston projetou uma nova versão da sinalização e da marca da estações, usando a nova fonte sobre uma barra azul à frente de um círculo vermelho em vez de um disco sólido. Essa marca é usada ainda hoje, incorporando refinamentos feitos em 1972. Mapa do Metrô de Londres de 1908 Mapa do Metrô de Londres de 1919 Mapa do Metrô de Londres de 1931, desenhado por Harry Beck Mapa do Metrô de Londres de 1935 Mapa do Metrô de Londres de 1999
Compartilhar