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E-book 2 Design by Freepik Franceli Guaraldo TEORIA E HISTÓRIA DO DESIGN GRÁFICO Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 CONTEXTO HISTÓRICO E VERTENTES SURGIDAS ����������������������������4 VANGUARDAS ARTÍSTICAS E DESIGN �������������������5 Expressionismo e Fauvismo �����������������������������������5 Cubismo �����������������������������������������������������������12 Futurismo �������������������������������������������������������������� 16 Dadaísmo �������������������������������������������������������������� 19 Surrealismo ����������������������������������������������������������� 23 Suprematismo e Construtivismo ������������������������� 27 Neoplasticismo (De Stijl) �������������������������������������� 35 BAUHAUS, “BOA FORMA” E ESCOLA DE ULM ����� 38 Bauhaus ����������������������������������������������������������������� 39 “Boa forma” e Escola de Ulm ������������������������������� 54 ESTILO TIPOGRÁFICO INTERNACIONAL ������������� 59 DESIGN GRÁFICO NOS ESTADOS UNIDOS ��������� 63 Styling �������������������������������������������������������������������� 64 Movimento modernista no design gráfico ���������� 67 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������72 SÍNTESE �������������������������������������������������������73 2 INTRODUÇÃO Neste e-book, vamos estudar a trajetória e o desen- volvimento do design gráfico na cultura ocidental a partir do final do século 19. Com isso, vamos entrar em contato com os diversos e significativos movi- mentos artísticos do século 20, os quais influencia- ram o cenário do design, ao estabelecerem as bases do que conhecemos por design moderno, bem como do desenvolvimento de novas possibilidades no cam- po do design ao longo do século 20. Compõem este e-book as temáticas relacionadas às Vanguardas Artísticas do início do século 20 e sua influência na implantação da Bauhaus, escola pioneira e fundamental para o desenvolvimento do design moderno e seus desdobramentos ao longo do século 20; a retomada dos preceitos funcionalistas (neofuncionalismo) após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) com a implantação da escola de Ulm e o conceito de “boa forma”; a repercussão do neofun- cionalismo no design suíço, conhecido como Estilo Tipográfico Internacional. Por fim, vamos abordar um pouco do desenvolvi- mento do design nos Estados Unidos da América, incursionando por alguns conceitos relacionados ao Styling, além de conhecimentos a respeito do mo- vimento modernista no design gráfico americano. 3 CONTEXTO HISTÓRICO E VERTENTES SURGIDAS Nas primeiras décadas do século 20, a humanidade enfrentou grandes transformações e turbulências em âmbito social, político, cultural e econômico da Europa. A monarquia é substituída pela república; os transportes se modificam com o automóvel e avião; o cinema e o rádio sem fio transformam a comuni- cação humana; surge a Psicanálise, formulada por Sigmund Freud em 1900, assim como a Teoria da Relatividade, desenvolvida por Albert Einstein em 1905. Além disso, as bases das tradições e insti- tuições da sociedade ocidental são abaladas devi- do à destruição e ao morticínio da Primeira Guerra Mundial (1914-1919)� Este breve contexto sócio-histórico abre caminho para as experimentações e uma revolução criativa nas artes e no design, que passam a questionar antigos valores e abordagens na organização do espaço, além de seu próprio papel na sociedade, fazendo surgir um conjunto de tendências artísticas, as Vanguardas Históricas, que emergiram no período entre 1900 e 1945. O termo vanguarda vem do francês avant-garde� Assim, significa “que marcha na frente”. A Vanguarda está intimamente ligada ao conceito de Modernidade, caracterizada pelo fim do determinismo e da supre- macia da religião. 4 Os movimentos vanguardistas provocaram uma rup- tura com a tradição historicista do século 19, buscan- do dessa maneira eliminar as diferenças existentes entre as experiências estéticas e as do cotidiano. Além disso, a maioria mantém uma visão positiva em relação à máquina, considerada um símbolo de movimento e de progresso, e também acreditam nas próprias capacidades do ser humano� VANGUARDAS ARTÍSTICAS E DESIGN As principais correntes artísticas de vanguarda foram o Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo e Surrealismo, mas também a Vanguarda Russa, o Construtivismo e o Neoplasticismo� Intimamente relacionadas à pintura, poesia e arqui- tetura modernas, tais correntes influenciaram direta- mente a linguagem do design e a comunicação visual ao longo do século 20. A seguir, vamos abordar cada uma delas mais detidamente� Expressionismo e Fauvismo O Expressionismo é um movimento artístico e cul- tural que surgiu na Alemanha, entre 1905 e 1914, e percorreu os campos das artes plásticas, arquitetura, fotografia, cinema, teatro, música e literatura. 5 A primeira pessoa a empregar o termo expressionis- mo foi o pintor francês Julien-Auguste Hervé, para denominar uma série de quadros apresentados no Salão dos Independentes de Paris em 1901, assu- mindo sua diferença em relação ao Impressionismo. Posteriormente, o expressionismo popularizou-se pelo escritor Herwarth Walden, editor da revista Der Sturm (A tormenta), a qual se tornou o principal meio de divulgação do Expressionismo Alemão. O Expressionismo reúne artistas de diversas tendên- cias e formações e se manifestou a priori na pintura, juntamente com o Fauvismo francês, o que torna esses dois movimentos os primeiros representantes das Vanguardas Históricas� Para o Expressionismo (Figura 1 e Figura 2), o que predomina é a expressão projetada do artista para a realidade, em contraposição à impressão ou ao registro da natureza com base em observações da realidade imediata, como no Impressionismo� Os Expressionistas defendem que a arte se liga à representação do mundo interior, dos sentimentos por meio de linhas, cores fortes e formas distorcidas utilizadas de modo emotivo, carregadas de simbo- lismo. Assim, eles rejeitam a verossimilhança com o mundo real observado� A afirmação do Expressionismo Alemão ocorreu com a fundação do grupo Die Brücke (A ponte), na cidade de Dresden em 1905, contemporâneo ao Fauvismo francês; e do Der Blaue Reiter (O cavaleiro azul), na cidade de Munique em 1911. Nenhum dos dois foi 6 https://pt.wikipedia.org/wiki/Paris https://pt.wikipedia.org/wiki/1901 https://pt.wikipedia.org/wiki/Der_Sturm https://pt.wikipedia.org/wiki/Der_Sturm http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3786/fauvismo escola ou movimento, mas ambos reuniram grupos de artistas que defendiam a arte não como uma imitação, mas sim como uma expressão interior do artista� Figura 1: Cartaz de apresentação para uma exposição do grupo ex- pressionista Die Brücke (1910). Fonte: Wikicommons. 7 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kirchner_-_Cartel_Die_Br%C3%BCcke_(1910).jpg Figura 2: Capa do almanaque Der Blaue Reiter (1912). Fonte: www. theclubweblog.blogspot.com O nome do grupo Die Brücke simbolizava sua inten- ção de ser uma ponte para estabelecer as bases de uma arte de futuro� O maior interesse desse grupo era romper com velhas convenções, tal qual estava sendo feito na França. 8 https://4.bp.blogspot.com/-HqNTu6VHzxY/VyHif7D-lFI/AAAAAAAAChw/-gZ95WTgg243tCWM03rlVyM_c6qVJaOnACLcB/s1600/Blaue-Reiter.jpg https://4.bp.blogspot.com/-HqNTu6VHzxY/VyHif7D-lFI/AAAAAAAAChw/-gZ95WTgg243tCWM03rlVyM_c6qVJaOnACLcB/s1600/Blaue-Reiter.jpg Segundo Ernest Ludwig Kirchner (1880-1938), a inspi- ração deveria fluir livremente; sendo assim, ao artista cabia a expressão imediata de suas pressões emo- cionais. Os artistas desse grupo foram influenciados pelos movimentos Arts & Crafts, Jugendstil e Nabis, mas também por artistas como Van Gogh, Gauguin e Munch� Em comum com o Die Brücker, o grupo Der Blaue Reiter tinha apenas sua oposição ao Impressionismo e ao Positivismo� O Der Blauer Reiter defendia uma visão mais refinada e espiritual, visandoa captar a essência da realidade pela purificação dos instintos. De modo distinto dos efeitos dramáticos e das fi- guras distorcidas valorizadas pelos artistas expres- sionistas alemães, o Fauvismo (1905-1907) reuniu um grupo de pintores franceses, liderados por Henri Matisse, que elegeram a cor, luz, cenários decorati- vos e expressão da alegria, em vez das dores e da angústia. Sua primeira aparição ocorreu no Salão de Outono de Paris, em 1905. No ano seguinte, no Salão dos Independentes, foram batizados como Les Fauves (As feras, em português) pelo crítico Louis Vauxcelles, e assim surgiu o Fauvismo� Sob a liderança de Henri Matisse, o Fauvismo tem como eixo comum a exploração das amplas pos- sibilidades colocadas pela utilização da cor. Os ar- tistas que se reuniram em torno do grupo, que se desenvolveu entre 1905 e 1907, não se uniram por um programa comum, mas pelo sentido de liberação 9 e experimentação que compartilhavam. Observe, nas Figura 3 e Figura 4, alguns exemplos de Fauvismo nas pinturas de Henri Matisse� Figura 3: A Alegria da Vida (1905-6). Fonte: WikiArt. Figura 4: Harmonia em Vermelho (1908-9). Fonte: WikiArt. 10 https://www.wikiart.org/en/henri-matisse/the-joy-of-life-1906 https://www.wikiart.org/en/henri-matisse/harmony-in-red-1908 Essas figuras resumem o Fauvismo melhor do que qualquer outra obra: o uso da cor em toda a superfí- cie da tela, seus contornos pesados e repletos de on- dulações, além do caráter “primitivo” de suas obras, inspirados em Gauguin� A alegria da vida representa uma cena pagã, um ba- canal, na qual as figuras assumem poses clássicas, indicando que Matisse tinha um profundo conheci- mento da representação do corpo humano, pois foi treinado na tradição acadêmica. Entretanto, a pintura revoluciona pela sua simplici- dade: cada coisa omitida que possa existir foi insi- nuada, e a cena preserva os aspectos essenciais da forma plástica e da profundidade espacial� Em Harmonia em vermelho também existe um novo equilíbrio e harmonia entre os aspectos bidimensionais e tridimensionais da pintura: a toalha da mesa e a pare- de têm a mesma combinação de azul sobre vermelho. No entanto, os planos horizontais são perceptivel- mente diferenciados. Isso também acontece à vista do jardim com árvores floridas, mostradas através da janela; a casa ao longe é pintada na mesma cor que o interior e se relaciona com o resto do quadro. Da mesma forma, o azul do céu, a folhagem verde e os pontos amarelos vivos repetem-se todos no primeiro plano. Assim, Matisse reduz o número de tons ao mínimo, faz da cor um elemento estrutural independente, bem como faz uma integração do or- namento da superfície na concepção do quadro. 11 Cubismo Ao considerarmos, como no caso do Fauvismo, que o quadro é uma estrutura autônoma que não repre- senta a realidade, mas tem uma realidade própria� Surge assim, em 1907, o Cubismo, cuja gênese se remete aos trabalhos de Pablo Picasso, quem aplica- va os elementos da arte ibérica antiga e da arte tribal africana em figuras humanas. Entre seus trabalhos, destaca-se a pintura Les Demoiselles d’Avignon, de 1907 (Figura 5), que dá início ao movimento cubista. Figura 5: Le Demoiselles d’Avingnon (1907). Fonte: WikiArt. 12 https://www.wikiart.org/en/pablo-picasso/the-girls-of-avignon-1907 O Cubismo (1907-1914) gerou uma grande ruptura com a tradição artística ocidental, tendo como princi- pais expoentes os artistas Pablo Picasso e Georges Braque. Este, por sua vez, afirmou que toda imagem pictórica resulta de um método de representação que não imita as aparências; a aparência é apenas o resultado da criação de uma experiência sensível das coisas do mundo por parte do artista� Outra influência importante é a obra (e o pensamen- to) do Paul Cézanne, pintor que preconizou que o artista deve representar a natureza a partir de formas básicas, como as do cilindro, da esfera e do cone� O pintor cubista pinta o que existe, não o que vê. Propôs, então, a geometrização de formas e volumes e a renúncia à perspectiva. Dessa forma, o Cubismo caminhava de modo distinto ao Fauvismo, rumo à construção de uma realidade construída com “cubos”, volumes e planos entrecor- tados que apresentam formas em vários ângulos nas telas, que rejeita a distinção entre figura e fundo ou qualquer noção de tridimensionalidade, recolocando a pintura no plano bidimensional� Os objetos representados (corpos, paisagens, mas também objetos como garrafas, instrumentos mu- sicais e frutas) são cuidadosamente representados, como se sua estrutura fosse vista sob todos os ân- gulos visuais, por cima e por baixo, através da de- composição de planos, volumes e colagens (Figura 6, Figura 7 e Figura 8)� 13 Figura 6: Ambroise Vollard (1909-10); Figura 7: Le Courier (O correio) (1913). Fonte: WikiArt. 14 https://www.wikiart.org/en/pablo-picasso/portrait-of-ambroise-vollard-1910 Figura 8: Cartaz para o Daily Herald (1918). Fonte: ArtInPrint. As experimentações e inovações do Cubismo con- duziram o design à abstração geométrica, abrindo caminho para uma nova forma de ilustração. Muitos designers e ilustradores, como Edward McKnight Kauffer, A. M. Cassandre ou Jean Carlu, foram in- fluenciados pelo movimento cubista. Um cartaz para o Daily Herald mostra a influência formal do Cubismo (e do Futurismo) na linguagem gráfica do trabalho, que apresenta uma comunicação clara. 15 https://artinprint.org/article/borrowed-aesthetics-e-mcknight-kauffer-book-jacket-design-and-the-avant-garde/ Futurismo O Futurismo, tal qual o Dadaísmo, iniciou-se no perío- do entre a primeira pintura cubista (1907) e a Primeira Guerra Mundial (1914)� O movimento futurista foi organizado por Filippo Tommaso Marinetti, quem lançou o Manifesto Futurista, em 1909, no qual de- fendeu uma ruptura com o passado, com os museus, com as academias e com a tradição artística. O movimento valoriza o ritmo do mundo moderno, a velocidade e a estética das máquinas, a agressivida- de do mundo técnico e militar. As pinturas futuristas apresentam o uso de cores vivas e contrastes, so- breposição de imagens, traços e pequenas deforma- ções para passar a ideia de movimento e dinamismo (Figura 9, Figura 10 e Figura 11)� Os artistas do movimento futurista criaram um es- tilo com o qual expressavam sua visão dinâmica de mundo, mas isso ocorreu após o contato do grupo com as pinturas de Marcel Duchamp e as manifesta- ções antiarte que ocorreram em Paris (1911-1912). Enquanto os cubistas empregavam formas geomé- tricas e múltiplos pontos de vista para representar a realidade em objetos estáticos, os futuristas da- vam prosseguimento à concepção visual expressa por Marcel Duchamp na pintura Nu Descendo uma Escada, utilizando múltiplos pontos de vista em mo- vimento para revelar uma ação: diferentes fases de uma vivência e um acontecimento eram apresen- tadas simultaneamente em uma tela ou escultura� 16 Figura 9: Nu descendo uma escada n. 2 (1912). Fonte: WikiArt. Figura 10: Montanhas + Vales + Estradas X Joffre (1915). Fonte: Wikipedia. 17 https://www.wikiart.org/en/marcel-duchamp/nude-descending-a-staircase-no-2-1912 https://en.wikipedia.org/wiki/File:Marinetti-Motagne.jpg Figura 11: Página de Depero futurista (1927). Fonte: BoltedBook. Os futuristas ilustram as suas páginas com com- posições dinâmicas, não lineares, pois, para eles, o conteúdo e a tipografia devem assumir simultanea- mente formas visuais expressivas (parole in libertà)� Em 1927, na cidade de Nova York, surge a publicação Depero Futurista, um precursor de livro do artista, produzido pelo pintor, escritor, escultor e designer gráfico de origem italiana Fortunato Depero, que fazia experimentações diversas em design gráfico e propaganda, produzindo uma obra dinâmica em cartazes, tipos e anúncios. O Depero Futurista reúne diversos trabalhos do artista, como suas experiên- cias tipográficas, anúncios, projetos de tapeçaria e outros. De 1928 a 1930, Depero desenhoucapas para revistas como Vanity Fair, Movie Makers e Sparks� 18 https://www.boltedbook.com/wp-content/uploads/2016/08/Depero-Bolted-Book-49.jpg Dadaísmo O Dadaísmo, ou Movimento Dada (1911-1912), foi mais longe do que o Cubismo, pois derrubou toda a estrutura da representação racional, quebrando todas as regras. Dada é uma forma de anarquia artística que desafiou os valores sociais, políticos e culturais de sua época. Caracterizou-se por ser um movimento anti-establishement e antiarte� O Dadaísmo é um termo cuja origem é ainda desco- nhecida. Admite-se ter origem na expressão eslava da, (sim, sim) ou “cavalo de madeira” em francês. Está relacionado com o movimento anarquista, em evidência na Primeira Guerra Mundial. O movimento recebeu esse nome no Cabaré Voltaire, em Zurique (1916), lançado pelo poeta Tristan Tzara, pelo pintor Hans Arp e pelo artista Hans Richter� Seu nascimento está relacionado às manifestações an- tiarte e anti-instituições de Marcel Duchamp, em seu breve namoro com o Cubismo, entre 1912 e 1913� As obras Nu Descendo uma Escada n� 2 e Roda de Bicicleta (Figura 12 e Figura 13) têm papel decisivo no surgimento do estilo Dada� 19 Figura 12: A fonte (1917). Fonte: WikiArt. Figura 13: Roda de Bicicleta (1913) de Marcel Duchamp. Fonte: WikiArt. 20 https://www.wikiart.org/en/marcel-duchamp/fountain-1917 https://www.wikiart.org/en/marcel-duchamp/bicycle-wheel-1913 Os dadaístas publicaram poemas nonsense, com títulos absurdos e design anticonvencional (Figura 14, Figura 15 e Figura 16). Utilizavam técnicas como o automatismo, acaso e fotomontagem� O ready-made é a estratégia principal do fazer artístico de Marcel Duchamp em sua fase dadaísta, a qual consistiu basi- camente na seleção de objetos industrializados sem critérios estéticos, sua ressignificação e exposição, exibidos como obras de arte em museus e galerias� Seu primeiro ready-made foi uma roda de bicicleta montada sobre um banquinho (Figura 12 e Figura 13) e depois um urinol invertido, assinado por R� Mutt ao qual denomina “A Fonte”. Ao transformar qualquer objeto em obra de arte, o artista realizava uma crítica radical ao sistema da arte� Podemos encontrar tais princípios de subversão nas obras de Francis Picabia, mas também em algumas imagens fotográficas de Man Ray� O Dadaísmo expandiu os limites e o con- texto do que era considerado arte. 21 Figura 14: Poema (sonoro e visual) dadá (1917). Fonte: www.revis- tamododeusar.blogspot.com Figura 15: Capa dadaísta para a revista Le Coeur à barbe (1922). Fonte: Monoskop. 22 http://4.bp.blogspot.com/-jP2I9YfR5vA/Tv3uaA54OhI/AAAAAAAABuk/mbtwn_s6aEY/s1600/karawane.jpg http://4.bp.blogspot.com/-jP2I9YfR5vA/Tv3uaA54OhI/AAAAAAAABuk/mbtwn_s6aEY/s1600/karawane.jpg https://monoskop.org/images/e/e7/Le_Coeur_a_barbe_1_Apr_1922.jpg Figura 16: Da-Dândi, colagem e fotomontagem (1919). Fonte: Artsy. Surrealismo Com suas raízes calcadas no Dada e em um grupo de jovens escritores e poetas franceses ligados ao periódico Littérature, o Surrealismo ocorreu no perí- odo entre guerras (1919-1939), a partir do Manifesto Surrealista (1924), lançado por André Breton, quem acreditava na possibilidade de reduzir dois estados aparentemente tão contraditórios, sonho e realidade, “... a uma espécie de realidade absoluta, de sobre- -realidade (surrealité)”� Este movimento foi fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, e enfati- zou o papel do inconsciente na atividade criativa� 23 https://www.artsy.net/artwork/hannah-hoch-da-dandy Um dos seus objetivos foi produzir uma arte que, segundo o movimento, estava sendo destruída pelo racionalismo� Em conformidade com os surrealistas, a arte deve libertar-se das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, procurando expressar o mundo do inconsciente e dos sonhos� Assim, mais do que um movimento estético, o sur- realismo é uma maneira de enxergar o mundo, uma vanguarda artística que transcende a arte. Buscou restaurar os poderes da imaginação, que são cas- trados pelos limites do utilitarismo da sociedade burguesa, e superar a contradição entre objetividade e subjetividade, tentando consagrar uma poética do sonho e do inconsciente, de ampliação da consciên- cia� Observe alguns exemplos nas Figura 17, Figura 18 e Figura 19: Figura 17: A Persistência da Memória (1931). Fonte: WikiArt. 24 https://www.wikiart.org/en/salvador-dali/the-persistence-of-memory-1931 Figura 18: Colagem de Uma semana de bondade (1934). Fonte: Memória das Artes Visuais. Figura 19: Pistola com Quadrados de Letras (1924). Fonte: Design Observer. 25 https://criticadeartebh.com/2017/01/17/max-ernst-colagem-de-uma-semana-de-bondade-ou-os-sete-elementos-capitais-1930/ https://designobserver.com/feature/exposure-rayograph-with-gun-by-man-ray/39296 https://designobserver.com/feature/exposure-rayograph-with-gun-by-man-ray/39296 O Surrealismo abriu caminho para a expressão da fantasia e imaginação como possibilidades de ex- pressão em projetos de design, além de propiciar novas possibilidades de exploração da linguagem gráfica através de novas técnicas, como aquelas uti- lizadas por Max Ernest, fascinado pelas xilogravuras das novelas no século 19, reinventando-as com co- lagens técnicas e curiosas justaposições (MEGGS; PURVIS, 2009; SCHNEIDER, 2010). O Movimento contribuiu ainda para novas experi- mentações em fotografia e design, exploradas por Man Ray, artista norte-americano que se mudou para Paris, reunindo-se a André Breton em 1921, na tran- sição do Dadaísmo para o Surrealismo. Man Ray explorava técnicas como a solarização (ou seja, uma segunda exposição à luz de uma imagem fotográfica latente ou em processo de revelação), e a radiografia (exposição à luz de objetos dispostos sobre o papel fotográfico) e distorção (ou impressão por texturas e múltiplas exposições), criando imagens oníricas e novas possibilidades de expressão do tempo e do espaço. Outros artistas surrealistas também contribuíram para enriquecer as formas na arte e no design, en- tre os quais podemos destacar René Magritte, que empregou o realismo para representar objetos em contextos insólitos; Joan Miró e Hans Arp que explo- raram a criação em um nível abstrato, com formas e figuras que influenciaram o campo do design. 26 Posteriormente, imagens e ideias surrealistas acaba- ram sendo incorporadas e trivializadas pelos meios de comunicação de massa. SAIBA MAIS Para sentir o clima da Paris do início século 20, onde se deu a criação de boa parte das van- guardas estudadas neste e-book, assista a Meia Noite em Paris (Dir.: Woody Allen. Paris Filmes, 2011), uma comédia romântica na qual um rotei- rista bem-sucedido visita Paris com a noiva e, an- dando pelas ruas da Cidade, acaba viajando no tempo e parando na década de 1920, entrando em contato com algumas personalidades famo- sas, como os escritores Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, bem como os artis- tas Pablo Picasso, Salvador Dali, Luís Buñuel, en- tre outros� Suprematismo e Construtivismo O desenvolvimento do design moderno no século 20 também tem base nos movimentos artísticos e culturais que ocorreram na Rússia, entre 1890 e 1930, que estão inseridos no vasto movimento da vanguarda ideológica e revolucionária, liderada por Vladimir V. Maiakovski, também chamado de “o poeta da Revolução”. 27 Tais movimentos ocorreram paralelamente à Revolução Russa (1917), sobretudo sua primeira fase� Os movimentos caracterizavam a vanguarda russa que, por sua vez, exerceu influência sobre ou- tros grupos e escolas europeias, como o grupo De Stijl (Holanda) e Bauhaus (Alemanha)� Entre os movimentos que caracterizaram a vanguar- da russa, destacam-se o movimento Suprematismo, iniciado em 1913 pelo pintor Kazimir Malevich (1878- 1935); e o movimento Construtivismo, a partir de 1915, no qual o pintor, escultor e arquiteto Vladimir Tatlin (1885-1953) foi seu primeiro teórico e grandeincentivador� O Suprematismo surgiu a partir das pesquisas de Malevich, influenciado por outras vanguardas, como o Cubismo, Futurismo e Raionismo, na Rússia de Mikhail Larionov e Natalia Goncharova� Em sua pesquisa metódica sobre a estrutura funcio- nal da imagem, Malevich estudou as pinturas de Paul Cézanne, Fernand Léger, as obras iniciais do cubismo de Pablo Picasso, André Derain, além dos antigos ícones russos, buscando o significado primário dos símbolos e signos expressivos (Figura 20, Figura 21 e Figura 22)� As obras do Suprematismo evidenciam uma nova poética, baseada na identidade entre ideia e percep- ção, a partir da qual o espaço se organiza por formas geométricas básicas (quadrado, retângulo, círculo, cruz e triângulo) associadas a uma pequena gama de cores� 28 Figura 20: Quadrado Negro sobre Fundo Branco (1915). Wikipedia. Figura 21: Composição Suprematista (1915-1916). Fonte: WikiArt. 29 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e8/Stijl_vol_05_nr_04.jpg https://www.wikiart.org/en/kazimir-malevich/suprematist-composition-1915 Figura 22: Quadrado Branco Sobre Fundo Branco (1917-1918). Fonte: WikiArt. Kazimir Malevich defendia que era necessário rom- per com a imitação da natureza e das formas, da luz e da cor ilusionistas experimentadas pelo im- pressionismo, com qualquer referência ao mundo objetivo, que o Cubismo de certa forma ainda ali- mentava. O pintor defendia ainda que o conheci- mento da realidade por meio das coisas é relativo e parcial, pois existe um mundo por trás do que é visível� Assim, o Suprematismo procura conhecer o mundo “não objetivo”. Essa ordem superior de relação entre fenômenos, representando a realidade através da abstração ab- soluta, propôs Malevich, em concordância com os ideais da revolução social e política na Rússia, que a verdadeira revolução não é a substituição de um mundo decadente por uma nova concepção, mas um mundo sem objetos, o que implica a não propriedade 30 https://www.wikiart.org/en/kazimir-malevich/white-square-1917 das coisas e noções; uma transformação radical em que sujeito e objeto sejam igualmente reduzidos ao “grau zero”, constituindo assim a ordem da sociedade futura, uma cidade na qual “objetos” e “sujeitos” se exprimem em uma única forma. Por seu turno, o Construtivismo foi iniciado pelo pin- tor, escultor e arquiteto Vladimir Tatlin, a partir de 1915; reúne muitos artistas russos de vanguarda, como Alexander M� Rodchenko (1891-1956), Lazar M� Lissitzky (El Lissitzky) ou Konstantin S. Melnikov, que se engajaram a favor da Revolução Russa, visando à produção concreta para a vida do povo. O termo arte construtivista foi criado por K� Malevich com a finalidade de descrever o trabalho de Rodchenko em 1917. O Movimento, que também deriva do Cubismo e do Futurismo, defendeu que se deve eliminar qualquer distinção entre as artes, pois seria um resíduo de uma hierarquia de classes, mas se diferenciava do Suprematismo na medida em que preconizava que tanto a pintura quanto a escultura são “construções”, não representações. Logo, de- vem utilizar os mesmos materiais e procedimentos técnicos da arquitetura que deve, por sua vez, ser funcional e possibilitar a visualização de sua função. Assumiu a moderna técnica industrial e considerou- -se uma cultura dos materiais, utilizando elementos geométricos, cores primárias, fotomontagem e ti- pografia sem serifa, bem como uma estética ade- quada à técnica, apropriada para uma sociedade internacional, sem classes� A maioria dos artistas 31 https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_Rodchenko https://pt.wikipedia.org/wiki/Geometria https://pt.wikipedia.org/wiki/Cores_prim%C3%A1rias https://pt.wikipedia.org/wiki/Fotomontagem https://pt.wikipedia.org/wiki/Tipografia https://pt.wikipedia.org/wiki/Tipografia https://pt.wikipedia.org/wiki/Serifa trabalhava em “Oficinas de Ensino Superior de Arte e Técnica”, as Wchutemas, em departamentos onde eram configurados diversos materiais. Temos alguns exemplares na Figura 23, Figura 24 e Figura 25: Figura 23: Projeto para o Monumento à Terceira Internacional (1919- 1920). Fonte: Wikipedia. 32 https://en.wikipedia.org/wiki/Tatlin%27s_Tower#/media/File:Tatlin%20%27s_%20Tower_maket_ Figura 24: Pôster Pegue os brancos com a flecha vermelha (1920). Fonte: WikiArt. Figura 25: Autorretrato O Construtor (1925). Fonte: Wikicommons. 33 https://www.wikiart.org/en/el-lissitzky/beat-the-whites-with-the-red-wedge-1920 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:El_Lissitzky_The_Constructor,_self-portrait,_gelatin_silver_print,_107%C3%97118_mm,_1924_London,_Victoria_and_Albert_Museum,_Inv._PH142-1985.jpg O pintor, arquiteto e organizador de exposições El Lissitzky foi uma figura de destaque nesse movimen- to artístico, visto que realizou seu design ao longo de um eixo dinâmico diagonal, com elementos ba- lanceados assimetricamente, “construindo” a peça gráfica, à medida que a programa do início ao fim. No pôster Pegue os brancos com a flecha verme- lha, as formas básicas se combinam com o texto real: pintura e tipografia se fundem. Esse trabalho é um precursor importante dos Prouns de El Lissitzky, quando a arte suprematista se organiza em uma su- perfície plana visual tridimensional� Do mesmo modo que os dadaístas e futuristas rom- peram com os limites da tipografia convencional, ar- tistas como El Lissitzky criaram novas formas, novas regras para a tipografia e composição, ressaltando os aspectos visuais e funcionais dos sistemas de comunicação de ideias, considerando a consistência visual do material impresso como um todo, o que estabeleceu as bases para o desenvolvimento pos- terior dos sistemas de diagramação, de identidade corporativa e outros sistemas de programação visual. O Construtivismo exerceu influência sobre toda a arte abstrata geométrica das décadas de 1920 a 1940, e de outros movimentos artísticos importantes para o desenvolvimento do design moderno, como o De Stijl e a escola da Bauhaus, abordados na sequência. 34 Neoplasticismo (De Stijl) O Neoplasticismo, ou movimento De Stijl, surgiu na Holanda no ano de 1917, em torno da revista De Stijl (O estilo), fundada por Theo van Doesburg (1883- 1931), que reuniu arquitetos, pintores e escultores, como Piet Mondrian (1872-1944) e Gerrit Thomas Rietveld (1888-1964), os quais rejeitavam não só os aspectos figurativos, mas também os emocionais e individuais nas artes� Tais aspectos deveriam ser eliminados em prol da abstração pura e ordem geométrica severa que ex- pressavam mais adequadamente a estética da so- ciedade moderna, industrial e técnica. Em 1920, Piet Mondrian publicou seu ensaio O neo- plasticismo para o público francês, e que foi editado, em 1925, em alemão pela Bauhaus. Nesse ensaio, o autor defendeu a redução da configuração formal do espaço pictórico a elementos simples como linhas, superfícies e cores básicas, de modo a criar um uni- verso de relações puras, harmonicamente ordenadas, que deveriam prenunciar uma nova ordem universal. Para Mondrian, o que importa é “a expressão pura da relação”, eliminando os detalhes e a variedade da natureza, a linha curva, a modelagem e as texturas� O espaço pictórico torna-se bidimensional, estrutu- rando-se por um jogo de relações assimétricas entre linhas horizontais e verticais dispostas sobre o plano (Figura 26, Figura 27 e Figura 28)� 35 Figura 26: Composição com vermelho, azul e amarelo (1930). Fonte: WikiArt. Figura 27: Cadeira vermelha e azul (1918-1923). Fonte: Wikicommons. 36 https://www.wikiart.org/en/piet-mondrian/composition-with-red-blue-and-yellow-1930 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rietveld_chair_1bb.jpg Figura 28: Capa para De Stijl (1922). Fonte: WikiArt. Gerrit T. Rietveld adotou as concepções do movimen- to De Stijl em seus projetos de arquitetura e design de interiores, como a Cadeira vermelha e azul, que consiste em simples sarrafos de madeira e duas tá- buas como assento e encosto� Os elementosque constituem a cadeira são diferen- ciados pelas cores; é inegável a semelhança desse objeto com as pinturas de Mondrian� Entretanto, essa cadeira evidencia que os objetos desse movimento eram mais símbolos e obras de arte do que objetos apropriados para o uso cotidiano� A concepção estético-formal do movimento De Stijl foi aplicada diretamente no design gráfico, com a utilização de estruturas horizontais e verticais para o formato das letras e para o leiaute como um todo� Na capa para a revista De Stijl, de Theo van Doesburg, os tipos são assimetricamente equilibrados nos quatro cantos de um retângulo implícito� O título De Stijl 37 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e8/Stijl_vol_05_nr_04.jpg é combinado com as letras “N” e “B”, que indicam Nieuwe Beelden (Novas imagens)� REFLITA Ao longo da história da Arte e do Design, podemos nos deparar com diversas tendências internacio- nais do século 20 e diversos “ismos”. Entretanto, conforme observam Janson e Janson (1996), é possível considerar três vertentes principais que norteiam muitos “ismos”, que surgiram a partir do pós-impressionismo e têm se desenvolvido des- de então: a expressão, a abstração e a fantasia. A “expressão” relaciona-se com a atitude emocio- nal do artista com relação a si mesmo e à sua obra; a “abstração” envolve a estrutura formal da obra de arte; e a “fantasia” abrange a imaginação e o domínio do irracional e da espontaneidade� Reflita sobre essas vertentes e identifique as ca- racterísticas associadas a elas nos movimentos artísticos de vanguarda que temos estudado. BAUHAUS, “BOA FORMA” E ESCOLA DE ULM A Bauhaus foi uma escola de produção artística e industrial fundada na Alemanha; é reconhecida como a responsável pela introdução, na arquitetura e no design, do Estilo Internacional, além de consolidar 38 as bases necessárias para o desenvolvimento do design moderno no século 20. Bauhaus A Bauhaus (bau.haus, “construir casa” ou “casa de construção”) surgiu após o término da Primeira Guerra Mundial (1919) e foi dirigida pelo arquiteto Walter Gropius, proveniente da Werkbund Alemã. No manifesto de sua fundação, Gropius clama pela uni- dade das artes plásticas sob a égide da arquitetura, bem como se demonstra bastante interessado na possibilidade de desenvolvimento de um “estilo uni- versal” de design que esteja a integrado à sociedade. Em conformidade com a xilogravura que acompa- nha o Manifesto da Bauhaus (Figura 29, Figura 30, Figura 31 e Figura 32), a Bauhaus estatal (Staatliches Bauhaus) aponta para uma orientação expressionista e busca a unidade entre artistas e artesãos na cons- trução do futuro, no qual a catedral gótica simboliza a realização de uma beleza espiritual que transcende a utilidade e necessidade� O estilo e o repertório do primeiro selo da Bauhaus expressam as afinidades medievais e artesanais do seu início. Observe: 39 Figura 29: Kathedrale (Catedral, 1919). Xilogravura impressa na folha de rosto do Manifesto. Fonte: WikiArt. Figura 30: Primeiro selo (1919) e o selo posterior da Bauhaus (1922). Fonte: Fulhaus Life. 40 https://uploads5.wikiart.org/images/lyonel-feininger/cathedral-of-socialism-1919.jpg http://aeqai.com/main/wp-content/uploads/2014/05/1_BauhausSeals-650x379.jpg Figura 31: Diagrama com o programa da escola (1922). Fonte: Research Gate. Figura 32: Cartaz de exposição da Bauhaus (1923). Fonte: www.365posterblog.com. 41 https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Esquema-do-Curso-da-Bauhaus-Fonte-http-wwwarkitekturboarqbr_fig1_282850516 https://365posterblog.com/2019/09/30/still-undead-will-gompertz-reviews-the-bauhaus-show-in-nottingham-%E2%98%85%E2%98%85%E2%98%85%E2%98%85%E2%98%85-bbc-news/ No curso da Bauhaus, aconteceram seminários sobre os materiais (vitrais, madeira e metal), que foram ministrados por artistas e artesãos e organizados segundo o modo de produção da guilda medieval Bauhütte (mestre, artífice e aprendiz — tal qual indi- cado no diagrama da Figura 29, Figura 30, Figura 31 e Figura 32)� Em sua primeira fase, de 1919 a 1923, na cidade de Weimar, a Bauhaus reuniu artistas como Johannes Itten, diretor do curso preliminar (vorkurs), Wassily Kandinsky, Paul Klee� Com isso, a escola buscou re- tomar muitas das tradições artesanais, com a pre- dominância de uma produção individualista-artística e elitista-artesanal� A questão “individualismo artesanal X tipificação da forma, em técnica na produção em série”, polemizada na Werkbund Alemã, é transferida para a Bauhaus que, em sua primeira fase, não tem estrutura para a adequação da criação à produção industrial, pois seu sistema de ensino-aprendizado, baseado na hie- rarquia mestre, oficial e aprendiz, favorece o culto ao princípio individualista da arte� A Bauhaus passou então a receber influência do Construtivismo e do grupo De Stijl nos anos de 1920, o que resultou na substituição de Johannes Itten, diretor do curso preparatório, pelo designer, fotó- grafo e pintor László Moholy-Nagy, que defendeu a integração entre tecnologia e indústria no ensino do design e das artes� 42 Para ele, era essencial conhecer a “linguagem dos materiais”, por isso realizou experimentações a fim de entender as propriedades e o uso adequado de cada material, além de fazer experimentações com pintura, escultura, cinema, design gráfico e fotogra- fia, através da colagem de negativos e instrumentos para fazer interferências artísticas na impressão das fotos, fotomontagens e fotogramas, além de meios visuais que incluíam movimento, luz e transparência (Figura 33, Figura 34 e Figura 35)� Na concepção de Moholy-Nagy, tanto a palavra quanto a imagem devem estar integradas para a comunicação imediata e unificada, processo que foi denominado tipofoto, como podemos observar na figura a seguir. Figura 33: Fotograma (1922). Fonte: ColetivoMinimo. 43 https://coletivominimo.wordpress.com/2015/07/03/os-fotogramas-de-laszlo-moholy-nagy/ Figura 34: Das Veltgebaude (A criação do mundo, 1927). Fonte: Mutual Art. Figura 35: Pneumatik, cartaz de tipofoto para pneus (1923). Fonte: WikiArt. 44 https://media.mutualart.com/Images/2018_07/03/10/101519394/e5f32e4c-440b-4cf2-a191-5ebaefe216ff_570.Jpeg https://www.wikiart.org/en/laszlo-moholy-nagy/pneumatik-1924 Devido à mudança da Bauhaus da cidade de Weimar para a de Dessau, em 1925, ocorreu também uma mudança na formação da Escola, que teve como eixo principal o design industrial e a arquitetura, passan- do a desenvolver uma linguagem formal elementar, baseada em elementos geométricos, isto é, a “for- ma Bauhaus”, que consolidou a evolução do design moderno, ao propiciar a aproximação entre design e produção industrial. Surgiu, dessa maneira, a corporação Bauhaus, cria- da para controlar a venda de protótipos de oficinas para indústria. A meta era criar produtos para a pro- dução em massa, baratos, voltados às camadas mais amplas da população. Assim, muitos projetos e realizações surgiram da Bauhaus, influenciando a vida no século 20: projetos de móveis e outros pro- dutos, arquitetura funcional, equipamentos urbanos e tipografia. Os mestres passaram a ser chamados de profes- sores, e abandonou-se o sistema medieval mestre- -artífice-aprendiz. Em 1926, a Bauhaus assumiu o nome de Escola Superior da Forma (Hochschule für Gestaltung), dando início à influente revista Bauhaus (Figura 36, Figura 37 e Figura 38)� 45 Figura 36: Alfabeto Universal (1925). Fonte: Meggs e Purvis (2009, p. 410-412). Figura 37: Cartaz para exposição dos 60 anos de Kandisnky (1926). Fonte: MoMA. 46 https://www.moma.org/media/W1siZiIsIjE2NTYwMyJdLFsicCIsImNvbnZlcnQiLCItcmVzaXplIDIwMDB4MjAwMFx1MDAzZSJdXQ.jpg?sha=67572385273731e1 Figura 38: Capa para a revista Bauhaus (1928). Fonte: Virginia Barros. Nessa segunda fase, Herbert Bayer, ex-aluno da Escola, tornou-se professor da recém-criada oficina de tipografia e design gráfico. À frente dessa oficina, Bayer realizou diversas experimentaçõese inovações em design tipográfico a partir de uma visão funcio- nalista e construtivista� Por exemplo, desenhou um alfabeto universal sem serifa, cujo desenho fez uso de formas claras, sim- ples e racionalmente construídas, aumentando com isso as diferenças entre as letras para obter maior legibilidade� Experimentou diversos tipos de compo- sição (alinhada à esquerda, desalinhada, à direita e sem justificação). Utilizou contrastes extremos entre tamanho e peso dos tipos para criar uma hierarquia visual estabelecida por uma avaliação objetiva da 47 https://virginiabarros.com.br/bauhaus/capa-da-revista-bauhaus-1928/ importância relativa das palavras� Fez uso de uma composição aberta em um grid implícito e um sis- tema de tamanhos para tipos, fios e imagens que conferiram unidade aos projetos, além de trabalhar a composição dinâmica com fortes horizontais e verticais (e, às vezes, diagonais)� Podemos observar tais aspectos na Figura 36, Figura 37 e Figura 38, que ilustra o cartaz de Bayer para a exposição dos 60 anos de Kandinsky. Nesse cartaz, o texto está organizado por um grid de sete colunas, com cuidadosos alinhamentos horizontais e verti- cais, e com um giro do para dar conteúdo inteiro na diagonal mais dinâmica à composição. Entre 1926 e 1927, a Escola passa por conflitos em função de sua orientação filosófica e pedagógica (pela arte X pela indústria), e isso culminou na sa- ída de Walter Gropius em 1928� Seu sucessor foi o arquiteto suíço Hannes Meyer, quem deslocou a ênfase teórico-prática da Bauhaus para a técnica e o “funcionalismo social”, tornando-a comparável às Wchutemas soviéticas, onde lecionaram, entre outros, Rodchenko, El Lissitzky e Tatlin� Apesar de ter estado à frente de uma grande e inova- dora produção, Hannes Meyer foi removido da dire- toria em 1930, em função de suas ideias comunistas e da crescente politização de seus alunos, entrando em conflito com autoridades locais. Com a demissão de Hannes Meyer, o arquiteto Ludwig Mies van der Rohe assumiu a direção da Escola, distanciando a formação dos estudantes 48 de seu engajamento sócio-político e da ideologia so- cialista. Sob a direção de Mies van der Rohe, ocorreu a redução no tempo de formação, o curso preliminar deixou de ser obrigatório, as oficinas tornaram-se secundárias e houve o fim da produção artesanal, visto que o foco da Escola passou a estar na área de arquitetura. O trabalho de Moholy-Nagy na área de tipografia, fotografia e design gráfico gerou um novo modo de pensar a comunicação visual. O tipógrafo e designer gráfico Jan Tschichold, um discípulo da Bauhaus, divulgou esse “novo design”, enfatizando uma comunicação clara e objetiva, cujo intuito era o desenvolvimento da forma a partir das funções do texto� Em 1925, publicou o artigo Elementare Typographie (Figura 39, Figura 40 e Figura 41) na revista Typographische Mitteilungen (Notícias tipo- gráficas) e explicou a um público de impressores, tipógrafos e designers a nova tipografia assimétrica. Após 1927, Tschichold publicou A Nova Tipografia, em que estabeleceu uma base teórica sólida para o uso moderno da tipografia, caracterizando-se pela renúncia a elementos supérfluos, redução dos tipos de letras sem serifas às suas formas mais elementa- res, construção do design a partir de uma estrutura básica horizontal e vertical, espaços vazios como elementos importantes da composição e também pelo uso de riscos, linhas e caixas para a estruturação do equilíbrio e da ênfase. 49 Figura 39: Capa para o número especial Elementare Typographie (1925). Fonte: Josef Chladek. 50 https://josefchladek.com/book/jan_tschichold_-_typographische_mitteilungen_sonderheft_elementare_typographie_oktoberheft_1925 Figura 40: Páginas de Elementare Typographie (1925). Fonte: Josef Chladek. Figura 41: Páginas de Elementare Typographie (1925), ilustrado pelo trabalho de Lissítzki, o design construtivista russo é explicado. Fonte: Josef Chladek. As concepções funcionalistas de Tschischold a respei- to da tipografia também se fazem presentes em sua 51 https://josefchladek.com/book/jan_tschichold_-_typographische_mitteilungen_sonderheft_elementare_typographie_oktoberheft_1925 https://josefchladek.com/book/jan_tschichold_-_typographische_mitteilungen_sonderheft_elementare_typographie_oktoberheft_1925 https://josefchladek.com/book/jan_tschichold_-_typographische_mitteilungen_sonderheft_elementare_typographie_oktoberheft_1925 prática projetual aplicada ao design de impressos co- merciais, anúncios e cartazes (Figura 42 e Figura 43)� Figura 42: Cartaz de cinema para Die Hose (As calças, 1927). Fonte: MoMA. Figura 43: Cartaz para Der Berufsphotograph (O fotógrafo profissio- nal, 1938). Fonte: Christie's. 52 https://www.moma.org/media/W1siZiIsIjExNzA5Il0sWyJwIiwiY29udmVydCIsIi1yZXNpemUgMjAwMHgyMDAwXHUwMDNlIl1d.jpg?sha=b3fd102d2df5ff12 https://www.christies.com/img/LotImages/2013/CSK/2013_CSK_09462_0052_000(jan_tschichold_der_berufsphotograph).jpg Nas eleições da Alemanha de 1932, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nazi) tornou-se o partido dominante� Como con- sequência, a Bauhaus foi transferida para Berlim, mas seu fechamento definitivo só ocorreu em 1933, devido à ausência de incentivo governamental. As crescentes perseguições do corpo docente pelos nazistas levaram muitos dos membros da Escola a migrarem para os Estados Unidos, o que propiciou uma grande mudança no design norte-americano após a Segunda Guerra Mundial� Em 1937, Walter Gropius e Marcel Breuer vão lecionar na Universidade de Harvard; Mies van der Rohe e Moholy-Nagy dão origem à Nova Bauhaus (Instituto de Design) em Chicago; em 1938, Herbert Bayer tam- bém migra para os Estados Unidos, iniciando sua carreira de designer no país� A Bauhaus tornou-se o centro de liderança do mo- dernismo e, juntamente com as obras e ideias do arquiteto Le Corbusier, de disseminação do funcio- nalismo e do Estilo Internacional, lançou as bases para o desenvolvimento do design moderno, que predominou na prática profissional em design até meados dos anos de 1970. 53 SAIBA MAIS Na década de 1920, podemos considerar que um passo importante na área da comunicação, vi- sando ao desenvolvimento de uma “língua mun- dial sem palavras”, foi a criação de um sistema denominado Isotipo, ou Sistema Internacional de Educação pela Imagem Tipográfica, também chamado de Método de Viena. Esse sistema foi inventado pelo cientista social Otto Neurath, com vistas a comunicar informa- ções de forma simples. Foi baseado em um siste- ma de pictogramas ilustrado pelo artista gráfico Gerd Arntz, valorizando a linguagem não verbal. A partir desse sistema, surgiram pictogramas (e ícones) utilizados no design gráfico para siste- mas de sinalização nas cidades e na internet. Saiba mais a respeito desses pictogramas, con- sultando este link. Acesso em: 22 nov. 2019. Podcast 1 “Boa forma” e Escola de Ulm Após o término da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha Ocidental, em 1947, a Werkbund Alemã é refundada� Em 1951 foi criado o Conselho de Design (Rat für Formgebung) e, em 1953, ocorreu a implan- 54 http://gerdarntz.org/isotype https://famonline.instructure.com/files/168875/download?download_frd=1 tação da Escola Superior de Design (Hochschule für Gestaltung – HfG) de Ulm, uma iniciativa da Fundação Irmãos Scholl com a intenção original de formar políticos, literatos e artistas em um es- pírito antifascista, internacional e democrático que mudassem o cenário dos acontecimentos, além de produzirem um “bom design”, formulado a partir da retomada modelo funcionalista anterior à guerra e reimportado dos Estados Unidos, uma vez que os integrantes da Bauhaus haviam dado continuidade ao “estilo internacional” na América. A Escola Superior de Design de Ulm, de modo similar à Bauhaus, propiciou a formação em design por meio de um curso de 4 anos, cujo conteúdo programáti- co contava com um aprendizado básico, grupos de trabalho(learning by doing), argumentação teórica e fundamentação do fazer, formação multidisciplinar ao invés de especializada e com a participação dos estudantes na administração da Escola. Sob a direção do artista suíço Max Bill, a Escola con- tava com um corpo docente de artistas e designers, como Otl Aicher (Alemanha), Hans Gugelot (Suíça) e Tomás Maldonado (Argentina)� De modo similar à Bauhaus, depois de seu período inicial, deslocou sua ênfase para uma formação baseada em conhe- cimentos científicos, tecnológicos e metodológicos do design; os docentes citados defendem a cisão entre arte e design no desenvolvimento de projetos, o que ocasionou a demissão de Max Bill. 55 Tomás Maldonado assumiu a nova direção da Escola e introduziu uma série de disciplinas científicas, como: Teoria da Estrutura, Análise Matemática das Operações, Ergonomia, Semiótica, Metodologia ou Cibernética, promovendo assim uma maior integra- ção entre teoria e prática. Sob a direção de H. Ohl, as instituições Werkbund Alemã e Escola Superior de Design permanecem ligadas aos princípios neofuncionalistas da “Boa Forma”, que significa esteticamente simples, sem ornamentação supérflua, funcional e com material adequado, atemporal e alto valor de uso, longa vida útil, boa compreensibilidade, processamento e tec- nologia, ergonômica, com sustentabilidade ecológica e socialmente útil, tal qual está expresso na relação de critérios do júri do Prêmio Nacional da Boa Forma, organizado pelo Conselho de Design, a partir da dé- cada de 1950. A “Boa Forma” rejeita o design para fins comerciais, sendo um símbolo de qualidade que se estendeu de 1952 a 1968. Na década de 1960, uma conhecida empresa alemã, a Braun, tornou-se referência para produtos com “Boa Forma” (Figura 44 e Figura 45)� 56 Figura 44: Phonosuper, modelo SK6, projetado por Dieter Rams. Fonte: Wikipedia. Figura 45: Logotipo da Braun projetado por Wolfgang Schmittel. Fonte: LogoDesignLove. 57 https://ca.wikipedia.org/wiki/Fitxer:Schneewittchensarg-braun-sk5-002.jpg https://www.logodesignlove.com/braun-logo A empresa tem o designer Dieter Rams à frente do desenvolvimento de seus diversos produtos, os quais têm formas mais duras, angulosas e práticas, e me- nos inspiradas, porém adequadas para a produção em massa� Além da Braun, o design funcionalista estabelecido pela Escola Superior de Design de Ulm pode ser en- contrado no projeto de diversos sistemas de iden- tidade visual, como o das Olimpíadas de Munique, elaborado por Otl Aicher, no metrô de Hamburgo, no logotipo da Lufthansa, no carrossel para dispositivos da Kodak, em cartazes de cinema e shows, entre outros� Os princípios da “Boa Forma” exercem influência sobre o desenvolvimento do design suíço da década de 1950 até a de 1980, consolidando o selo Swiss Design; e também na Itália, na década de 1960, com o Bel Design, pautado por um design racional, com ênfase no produto, adequado à produção em série. Embora tenha estado em funcionamento por um curto período (1953-1968), a Escola de Ulm é consi- derada a experiência mais importante do design ne- ofuncionalista após a Segunda Guerra Mundial, visto que estabeleceu uma nova metodologia no campo do design, tornando-se uma referência mundial na formação em design. Até o final de sua existência, a Escola Superior de Design trabalha com diversas em- presas, como a Braun e Kodak, com uma orientação bem definida em torno da prática voltada ao projeto. 58 FIQUE ATENTO 10 regras para um “Bom Design” (Dieter Rams)� O bom design: É inovador� Contribui para a utilidade do produto� É design estético. Torna o produto facilmente compreensível� É discreto� É honesto� É duradouro� É consequente – em cada detalhe. É o menos design possível (apud SCHEIN- DER, 2010, p. 113). ESTILO TIPOGRÁFICO INTERNACIONAL O design suíço é conhecido por diversas formas: Swiss Style, Neue Grafik, Konstruktive Grafik, es- cola suíça, tipografia suíça, estilo tipográfico inter- nacional e Estilo Internacional; tem como base o Construtivismo e a Bauhaus e predominou ao longo dos anos de 1950 e 1960. 59 Esse movimento surgiu nas décadas de 1920 e 1930 com a Nova Tipografia, florescendo com a mediação de expoentes alemães e suíços da Bauhaus, como Herbert Bayer e sobretudo Jan Tschichold. O design gráfico suíço, cuja influência se estendeu até a déca- da de 1990, caracterizou-se por um design racional, baseado em métodos precisos e na capacidade de expressar suas ideias complexas clara e objetivamen- te por formas elementares, elevando ao máximo a expressividade com a maior simplificação possível. Os pressupostos filosóficos do design suíço têm base na atuação do designer por meio de um design objetivo, comprometido com o bem comum, bem composto e refinado, o que expressa a base de um comportamento democrático� O trabalho do designer deve conter qualidades que o tornem claramente inteligível, tanto do ponto de vista estético quanto do funcional� Desse modo, o Estilo Tipográfico Internacional faz uso extensivo do sistema de grelhas (grid systems, rastersysteme), isto é, a base da ordenação e orga- nização do espaço, e indica a concepção do projeto em termos racionais e construtivos� As características visuais do Swiss Style são: unidade visual – obtida através da organização assimétrica dos elementos da composição a partir de um esque- ma construído matematicamente; fotografia e cópia objetivas – que apresentam as informações visuais e verbais clara e objetivamente, sem as afirmações exageradas da propaganda e da publicidade comer- 60 cial; utilização da tipografia sem serifa em textos alinhados à esquerda (e descontinuados à direita). Dentre os representantes e protagonistas dessa Escola, destacam-se: Adrian Frutiger, Hans Eduard Meier, Emil Ruder, Max Bill, Josef Müller-Brockmann, Max Miedinger e Eduard Hoffmann, Hans Rudolf, Bosshard e Max Caflisch, dentre outros. Observe a figura a seguir. Figura 46: Cartaz de conscientização pública (1960). Fonte: MoMA. 61 https://www.moma.org/media/W1siZiIsIjY0NTAiXSxbInAiLCJjb252ZXJ0IiwiLXJlc2l6ZSAyMDAweDIwMDBcdTAwM2UiXV0.jpg?sha=75b9bacf43f6544c Figura 47: Cartaz de exposição (1945). Fonte: MoMA. Figura 48: Tipo Helvética (1961). Fonte: Wikipedia. 62 https://www.moma.org/media/W1siZiIsIjc4NjciXSxbInAiLCJjb252ZXJ0IiwiLXJlc2l6ZSAyMDAweDIwMDBcdTAwM2UiXV0.jpg?sha=a0ad5ba0cee86f3f https://pt.wikipedia.org/wiki/Helvetica#/media/Ficheiro:Helvetica Specimen CH.png Segundo Schneider (2010), o desenvolvimento do estilo suíço tem por base as duas escolas de artes e ofícios de Basiléia, caracterizada por um design gráfico ilustrativo, que privilegiava pincel e lápis e criava principalmente cartazes. A escola de Zurique, caracterizada por um design construtivo e que focava os meios técnicos, a tipografia e a fotografia, voltava- -se principalmente ao design de livros, prospectos e logotipos� Na área de tipografia, o estilo suíço desenvolveu, na década de 1950, algumas famílias de tipos sem serifa, construídos matematicamente, entre os quais se destacam a Helvética, uma reelaboração da tradi- cional família de tipos sem serifa Antiqua, projetada por Max Miedinger e Eduard Hoffmann; a família de 21 tipos chamada Univers, que foi concluída em 1954 por Adrian Frutiger� Uma das grandes contribuições do design suíço está relacionada ao desenvolvimento do design corpo- rativo, ou seja, ao desenvolvimento de sistemas de identidade corporativa, fazendo com que as artes gráficas de antes passassem a ser entendidas como comunicação visual. DESIGN GRÁFICO NOS ESTADOS UNIDOS O desenvolvimento do design gráfico nos Estados Unidos diferencia-se daquele ocorrido na Europa, 63 tendo se definido pelo comportamento de consumo, pelo desenvolvimento técnico, pela sua proximida- de mais direta e despreocupada com a produção e com o mercado. O Styling associa-se à expansão da profissionalização do design nos Estados Unidos, sendo responsávelpela consolidação da figura do designer como consultor de empresas� Styling Além do Estilo Internacional, e em oposição ao fun- cionalismo, o Styling é uma filosofia de design sur- gida nos Estados Unidos da América no início do sé- culo 20; sua prática está associada ao presidente da General Motos, Alfred P. Sloan, que buscou convencer os consumidores a trocar de carro frequentemente, tendo como apelo a mudança anual de modelos e acessórios� Entre as décadas de 1930 e 1940, as práticas as- sociadas ao styling consolidam uma sociedade de consumo de massa� Assim, o American way of life, baseado na obsolescência planejada, é uma estra- tégia de mercado que visa a garantir um consumo constante pela insatisfação, de modo que os produ- tos que satisfazem as necessidades dos consumi- dores param de funcionar ou tornam-se obsoletos em um curto espaço de tempo, devendo ser obriga- toriamente substituídos de tempos em tempos por produtos mais modernos� 64 Dessa forma, entre as décadas de 1920 e 1940, o de- sign americano esteve diretamente relacionado ao styling como instrumento de incentivo às vendas, e em sua forma aerodinâmica, já utilizada pelo Futurismo, que consiste na configuração ideal de um objeto, em forma de gota, com a menor resistência possível ao ar. Entre os designers americanos que atuaram dentro da lógica do Styling, destacam-se Walter Dorwing Teague, que trabalhou para a Kodak, Norman D. Guedes (projetos automobilísticos e ferroviários), Henry Dreyfuss e sobretudo Raymond Loewy� Nascido na França e radicado nos Estados Unidos em 1919, Raymond Loewy destacou-se como um dos designers de maior fama e sucesso profissional, tendo atuado em diversas áreas, ou seja, desde marcas e lo- gotipos, embalagens (Figura 49, Figura 50 e Figura 51) até eletrodomésticos (geladeira Coldspot, em 1935), automóveis e aviões, inclusive o design do ambiente interno da nave espacial Skylab para a Nasa� Figura 49: Marca Exxon. Fonte: Wikicommons. 65 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Exxon_logo.svg Figura 50: Embalagem dos cigarros Lucky Strike. Fonte: Wikimedia. Figura 51: Embalagens e geladeira térmica da Coca-Cola. Fonte: Dutch Cow Boys. 66 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e2/Lucky_strike.jpg https://www.dutchcowboys.nl/uploads/images/loewy-coca.jpg https://www.dutchcowboys.nl/uploads/images/loewy-coca.jpg Loewy e seus contemporâneos foram responsáveis por inovações na prática profissional do design, tais quais as de consultoria na área, relativa a uma preo- cupação com os aspectos de mercado, integrando-os com os aspectos formais-estéticos e de materiais e processos na elaboração de projetos de design. De acordo com a fórmula Maya (Most Advanced Yet Acceptable) de Loewy, para ser bem-sucedido, é necessário que a informação transmitida por um produto expresse uma relação equilibrada entre o novo e o familiar no design; isso só pode ser alcan- çado por pesquisas de mercado e motivação, e em uma política apoiada na psicologia da propaganda� No final da década de 1930, chegaram aos Estados Unidos imigrantes europeus, arquitetos e designers representantes do estilo internacional, o que foi uma grande transformação, abrindo caminho para o desen- volvimento do design moderno no país, bem como fez com que os Estados Unidos assumissem a liderança mundial na área de artes, arquitetura e design. Movimento modernista no design gráfico A presença de europeus como László Moholy-Nagy, Herbert Bayer, Josef Binder, Alexey Brodovitch, trouxe uma linguagem moderna e acabou gerando uma nova fase para o desenvolvimento do design gráfico ame- ricano. Um marco desse desenvolvimento é a funda- ção da New Bauhaus, em 1937, na cidade de Chicago 67 (EUA), cujo diretor foi Moholy-Nagy� Essa escola foi transformada em School of Design em 1939 e poste- riormente no Illinois Institute of Design (ITT) em 1944� Uma figura importante para o desenvolvimento do de- sign moderno americano da década de 1930 é Walter Paepcke, que tinha grande interesse pela Bauhaus e apoiou a New Bauhaus� Paepcke fundou a companhia publicitária Container Corporation of America (CCA), tornando-se o maior produtor de material para emba- lagens do país; buscando elevar o nível da publicida- de a partir da inserção da arte, contratou artistas e designers como Adolphe Mouron Cassandre, Herbert Bayer e Herbert Matter como colaboradores� Figura 52: Capa da Harper’s Bazaar (1940). Fonte: visualdiplomacyu- sa.blogspot.com. 68 https://4.bp.blogspot.com/-2qDPDplhED4/Wm-aL3GcdRI/AAAAAAAALwI/VX2mZR--bcoxaTCt1GgqO5uyzySYGkbaACEwYBhgL/s1600/M%2B1940%252C%2BHarper%2527s%2BBazaar%252C%2B1940.jpg https://4.bp.blogspot.com/-2qDPDplhED4/Wm-aL3GcdRI/AAAAAAAALwI/VX2mZR--bcoxaTCt1GgqO5uyzySYGkbaACEwYBhgL/s1600/M%2B1940%252C%2BHarper%2527s%2BBazaar%252C%2B1940.jpg Figura 53: Cartaz para a New York World’s Fair (1939). Fonte: Aproposter. Figura 54: Anúncio para a CCA (1943). Fonte: americanart.si.edu. 69 https://www.aproposter.com/wp-content/uploads/job-manager-uploads/job_gallery/2018/03/new_york_fair.jpg https://s3.amazonaws.com/assets.saam.media/files/files/images/1984/SAAM-1984.124.203_1.jpg É importante destacar aqui a Escola de New York, na década de 1950, na qual o design gráfico americano apoiado em raízes do movimento moderno europeu floresce. A Escola reuniu designers como Paul Rand, Bradbury Thompson, Saul Bass, Cipe Pineles e Herb F. Lubalin, que tornaram o design americano inter- nacionalmente reconhecido até a década de 1990, com novos caminhos, experimentações e invenções tipográficas. Confira alguns de seus trabalhos na Figura 55, Figura 56 e Figura 57: Figura 55: Cartaz do filme O homem do braço de ouro (1955). Fonte: Wikipedia. 70 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/23/The_Man_with_the_Golden_Arm_poster.jpg Figura 56: Capa da revista Direction (1941). Fonte: www.medium.com. Figura 57: Cartaz do filme No Way Out. Fonte: IMDB. Podcast 2 71 https://miro.medium.com/max/736/1*duMOjy5_n-x9_3pLK2aGdQ@2x.jpeg https://m.media-amazon.com/images/M/MV5BZmU2ZDA4YTMtN2Q5YS00MzRmLWFmMGUtMWQ1M2JhYWRhZjQ4XkEyXkFqcGdeQXVyMjUxODE0MDY@._V1_.jpg https://famonline.instructure.com/files/210458/download?download_frd=1 CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante este e-book, percebemos o intrincado proces- so de desenvolvimento do design ao longo do século 20. As rupturas e experimentações das vanguardas artísticas abriram um caminho para o desenvolvimen- to do design, influenciando a linguagem gráfica da forma e da comunicação visual do século 20, bem como forneceram as bases para a formação de sua filosofia, isto é, de uma teoria e prática do design moderno� Com isso, fez surgir escolas pioneiras no ensino de Design, como a Bauhaus, cujos preceitos modernistas e funcionalistas foram retomados pela Escola de Ulm, e o conceito de “boa forma” após a Segunda Guerra Mundial, sendo disseminados na Europa e nos Estados Unidos� Por fim, mostrou-se pertinente mencionar que a evo- lução do design gráfico ao longo do século 20 esteve ligada diretamente à sua inter-relação com as ar- tes visuais, tais quais a pintura, poesia e arquitetura modernas. Toda essa trajetória não só consolidou a atuação profissional do designer, como também o transformou em uma das profissões mais impor- tantes do século 20. 72 SÍNTESE BAUHAUS Fundada em 1919, pelo arquiteto Walter Groupius, proveniente da Werkbund alemã, foi uma escola de produção artística e industrial, fundada na Alemanha, que é reconhecida como responsável pela introdução, na arquitetura e no design, da filosofia do funcionalismo e o Estilo Internacional, além consolidar as bases para o desenvolvimento do design moderno no século 20. Na área de área de tipografia, fotografia e design gráfico gera um novo modo de pensar a comunicação visual, enfatizando uma comunicação clara e objetiva, na qual o desenvolvimento da forma deveria ser uma consequência da intenção/função. Essa escola tornou-se o centrode liderança do modernismo e, juntamente com as obras e ideias do arquiteto Le Corbusier, de disseminação do funcionalismo e do Estilo Internacional (International Style), lançando as bases para o desenvolvimento do design moderno, praticado até os anos de 1970. A “BOA FORMA” E A ESCOLA DE ULM Após a Segunda Guerra Mundial, é implantada a Escola Superior de Design na cidade de Ulm, que constitui a experiência mais importante do design neofuncionalista do pós-guerra. Estabeleceu uma metodologia nova no campo do design, formulou os princípios da “Boa Forma” (forma esteticamente simples, sem ornamentação supérflua, funcional e com material adequado, atemporal e alto valor de uso, longa vida útil, boa compreensibilidade, processamento e tecnologia, ergonômica, com sustentabilidade ecológica e socialmente útil), que exerceram influência sobre o desenvolvimento do design suíço da década de 1950 até a de 1980, consolidando o selo Swiss Design; e o Bel Design, na Itália, na década de 1960. ESTILO TIPOGRÁFICO INTERNACIONAL Refere-se ao design suíço que se caracteriza por um design racional e se baseia em métodos precisos e na capacidade de expressar ideias complexas de modo claro e objetivo por meio de formas elementares, com a maior simplificação possível. STYLING Trata-se uma filosofia e uma prática de design que surgiu nos Estados Unidos entre as décadas de 1920 e 1940, em oposição ao funcionalismo e ao Estilo Internacional praticados na Europa. A prática do styling consolida uma sociedade de consumo de massa, o estilo de vida americano ou American way of life, fundamentado na obsolescência planejada. As bases do crescimento do design americano entre as décadas de 1920 a 1950 se fundamentam no styling, e no desenvolvimento do design como um fator de marketing, sendo empregado para gerar competitividade e alavancar as vendas, conforme a fórmula MAYA, elaborada pelo designer Raymond Loewly. AS VANGUARDAS E O DESIGN O desenvolvimento do design moderno no século 20 também tem como bases os movimentos artísticos e culturais conhecidos como vanguardas históricas no continente europeu: Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo e Surrealismo, os movimentos da Vanguarda Russa – Suprematismo e Construtivismo, e, o Neoplasticismo (grupo De Stijl), que exerceram influência nos preceitos de ensino da Bauhaus, na Alemanha. TEORIA E HISTÓRIA DO DESIGN GRÁFICO DESIGN GRÁFICO MODERNO NO SÉCULO 20 MODERNISMO NO DESIGN GRÁFICO AMERICANO A presença de europeus, como Moholy-Nagy, Herbert Bayer, Josef Binder, Alexei Brodowitsch traz o modernismo para os Estados Unidos, e gera uma nova fase para o desenvolvimento do design gráfico americano através da fundação da Nova Bauhaus (New Bauhaus), em 1937, em Chicago, cujo diretor foi Moholy-Nagy. Referências Bibliográficas & Consultadas BURDEK, B� E� História, Teoria e Prática do Design de Produtos. 2. ed. São Paulo: Blücher, 2010 [Minha Biblioteca]� CARDOSO, R� Uma introdução à história do de- sign. São Paulo: Edgard Blücher, 2008 [Minha Biblioteca]� CONSOLO, C� (Org�)� Tipografía em Latinoamérica: Orígenes y Identidad. São Paulo: Edgard Blücher, 2013 [Minha Biblioteca]. HOLLIS, R� Design Gráfico: uma história concisa� São Paulo: Martins Fontes, 2001. LUPTON, E.; MILLER, J. A. (Orgs.). ABC da Bauhaus. São Paulo: Cosac Naify, 2009. JANSON, H. W.; JANSON, A. F. Iniciação à História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996. McDERMOTT, C. Design museum of the 20th-cen- tury design. Londres: Overlook Books, 1998. MEGGS, P. B.; PURVIS, A. W. História do Design Gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009. PATROCÍNIO, G.; NUNES, J. M. (Orgs.). Design e Desenvolvimento: 40 anos depois. São Paulo: Edgard Blücher, 2015 [Minha Biblioteca]. SANTOS, J. C. C. História da arte e do design� Porto Alegre: Sagah, 2018 [Minha Biblioteca]. SCHNEIDER, B� Design: uma introdução: o design no contexto social, cultural e econômico. São Paulo: Edgard Blücher, 2010. _GoBack _h198hx58ykqk _z5obyylpfm3k _wi76d7oycmj9 _pufefj3sl9id _v7go9aqn1la9 _iydxas7ilxzz _qf0bh9b4cjc6 _hdg5utwzcdwj _hving09nowh0 _c0devmz2jm5 _gw58nch17l2l _27k9hsv5z303 _ktbbcsr3zk2b _f3e0j3vamp2f _hgc6ubhrhem6 _56b956tdd331 _cc2xgjluqmyn _7aes0k8als9k _b2flcsgryu2r INTRODUÇÃO CONTEXTO HISTÓRICO E VERTENTES SURGIDAS VANGUARDAS ARTÍSTICAS E DESIGN Expressionismo e Fauvismo Cubismo Futurismo Dadaísmo Surrealismo Suprematismo e Construtivismo Neoplasticismo (De Stijl) BAUHAUS, “BOA FORMA” E ESCOLA DE ULM Bauhaus “Boa forma” e Escola de Ulm ESTILO TIPOGRÁFICO INTERNACIONAL DESIGN GRÁFICO NOS ESTADOS UNIDOS Styling Movimento modernista no design gráfico CONSIDERAÇÕES FINAIS Síntese
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