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Resumo sobre o Capítulo 8 – Aprendizagem de Fatos e Comportamentos – do livro Aprendizes e Mestres Aluno: Felipe Sachet da Silveira Turma: 347 “Aprendizagem de Fatos: O Condicionamento Clássico” A forma mais elementar de aprendizagem de que nós, seres humanos, dispomos é a associação implícita de vários fatos que tendem a acontecer juntos. A aprendizagem associativa de fatos é, talvez, a forma de aprendizagem mais ancestral, mais antiga que dispomos. Aprender a estabelecer cadeias de fatos é uma forma elementar de aprendizagem de um alto valor informativo e de sobrevivência. A aprendizagem associativa de fatos, ou de mudanças estimulares no ambiente, mesmo sem implicar a medição de um comportamento efetivo por parte do organismo que aprende, permite ao aprendiz antecipar ou prever fatos relevantes a partir dos sinais ou indícios proporcionados por outros fatos anteriores. O estudo do condicionamento clássico, que consiste em associar um estímulo relevante para o animal (estímulo não-condicionado) a um sinal ou indício antecipatório, que serve como estímulo condicionado. Basicamente a aprendizagem de fatos consiste em associar um fato inicialmente neutro ou irrelevante com outro fato relevante para o aprendiz, por seu valor fisiológico intrínseco ou por ter sido associado anteriormente com outro estímulo relevante. “Do condicionamento clássico à aprendizagem de relações no ambiente” Não só as pessoas, mas também os animais aprendem sobre fatos de forma mais complexa, levando em conta não só a contiguidade e coocorrência entre os fatos, como sua contingencia e também o valor informativo das relações entre fatos. A escuridão pode ser ameaçadora não porque sempre está acompanhada de um perigo, mas porque a probabilidade do perigo é maior. A ocorrência conjunta de dois fatos não basta para que aprendamos a associá-los. É necessário que ocorram juntos com maior probabilidade que separadamente. Mas se a contingência é uma condição necessária para este tipo de aprendizagem associativa, ainda não é suficiente. Um fato servirá de sinal ou indício de uma gratificação ou de um perigo imediato se, além de ser contingente com essa consequência, tem um valor informativo, no sentido de incrementar nossa capacidade de previsão em relação a esse fato. Além disso, dentre os muitos fatos contingentes e potencialmente informativos em relação a mudanças ambientais que nos afetam, costumamos estabelecer uma associação com aqueles que são mais destacados – que atraem mais nossa atenção – ou que guardam uma certa sintonia ou semelhança com o efeito observado. Tendemos a transformar as associações em relações casuais. O importante é que não se trata de processos de inferência racional, de busca explícita de causas, mas de associação implícita entre fatos. “Aprendendo a nos emocionar” Aquelas situações que possuem uma certa carga emocional para nós, porque nos produzem prazer ou bem-estar ou porque geram ansiedade ou dor, tendem a se associar aos estímulos ou fatos que as precedem de modo contingente, de modo que esses estímulos acabam por adquirir, para nós, boa parte da carga emocional, desejável ou aversiva, que gerava a situação original. Um livro ou um filme associados a fatos muito significativos adquirem fortes conotações emocionais. Muitas dessas fobias e muitas de nossas filias adquirimos assim, de um modo implícito, por associação com suas consequências ou com certas circunstancias pessoais, mais ou menos gratas que rodeavam esse fato. “A mudança das emoções aprendidas: Técnicas para desaprendê-las” Habitualmente convivemos bem com nossas fobias e filias, com nossas simpatias e nossas rejeições. Mas às vezes, porque essas simpatias e rejeições não são socialmente aceitáveis ou porque chegam a interferir severamente em nosso comportamento cotidiano, ou em nossa própria saúde, podemos necessitar desaprender essas emoções adquiridas de modos implícitos. Adquirimos as emoções de modo implícito, sem nenhuma ajuda nem intervenção planejada, mas modificá-las é muito mais custos, pois há necessidade de uma aprendizagem explícita. A modificação de comportamentos emocionais se baseia em demonstrar a associação estabelecida entre um fato e suas consequências fazendo com que esse fato fique associado a consequências antagônicas. “Aprendizagem de comportamentos: O conhecimento operante” Antecipar um perigo ou uma situação agradável e em geral adquirir informação sobre os fatos que ocorrem em nosso ambiente é muito importante não só para a sobrevivência dos organismos, como também para manter elevada nossa autoestima como seres informados, quando não informívoros. Porém, ainda mais importante e eficaz pode ser o controle desses fatos, fazendo, mediante à aprendizagem de comportamentos, com que os mais inquietantes e desagradáveis sejam mais improváveis e os que nos gratificam, mais frequentes. Aqueles comportamentos que tenham um efeito gratificante terão mais probabilidade de voltar a se repetir. Esse é o principio básico do conhecimento operante ou instrumental. Um comportamento é reforçado, o que, portanto, aumenta sua probabilidade de ocorrência, quando é contingente com a obtenção de um prêmio (reforço positivo) ou com a retirada de um castigo (reforço negativo). Em troca de um comportamento será castigado, o que, consequentemente, reduz sua probabilidade de ser executado, quando é contingente com a apresentação de um castigo (castigo positivo) ou com a retirada de um prêmio (castigo negativo). O condicionamento de recompensa (reforço positivo) é aquele em que um comportamento aumenta a probabilidade de obter um prêmio; o castigo ocorre quando um comportamento aumenta a probabilidade de que se produza uma situação aversiva ou não desejada (castigo positivo), reduzindo no futuro a probabilidade de que ocorra esse comportamento; a omissão reduz a probabilidade de executar comportamentos seguidos da retirada de um prêmio; finalmente a aprendizagem de evitação ou fuga aumentará a probabilidade de que executemos os comportamentos que impedem ou terminam um castigo. Como acontecia na aprendizagem de fatos, as situações estimulantes desejáveis (recompensa) e inibitórias aversivas (evitação) tem consequências similares para o comportamento, que ficaria reforçado (reforço positivo e negativo) e, portanto, aumentaria sua probabilidade de ocorrer em situações futuras. Em troca, as situações estimulantes aversivas (castigo) ou inibitórias desejáveis (omissão) reduzem a probabilidade de que ocorra esse comportamento, ao ser contingências de castigo (positivo ou negativo) “Os programas de reforço” O reforço ou o castigo intermitente produz efeitos mais estáveis do que o reforço e o castigo continuo. Se quisermos que os alunos adquiram um hábito de modo estável e consistente devemos reforçá-lo de modo intermitente, umas vezes sim e outras não, já que se o premiamos sempre, quando ocasionalmente desapareça o prêmio, o comportamento se extinguirá rapidamente. “Aprendendo o controle e controlando o aluno” Skinner (1953) pensava que mediante a aprendizagem de comportamentos se adquire toda a gama da conduta humana, desde amarrar os sapatos ou a dirigir um carro a ler e escrever, desde fazer macarrão com tomate a falar e pensar. Realmente, para Skinner, o condicionamento operante servia não só para que os alunos controlassem o mundo como também, pelo contrário, para que o mundo (social) controlasse os alunos. A aprendizagem deve se mover por algo mais do que a distribuição externa de prêmios e castigos, já que uma aprendizagem estável etransferível deve apoiar-se em motivos ligados à própria autoestima do aluno e a seu próprio desejo de aprender, quer dizer, em motivos mais intrínsecos. Se o alcance da aprendizagem de comportamentos no ensino e na instrução é forçosamente menor do que a “utopia skinneriana” fez supor no seu tempo, nem por isso devemos menosprezar sua importância. Aprender a controlar as consequências ambientais mediante comportamentos eficazes é básico para um funcionamento cognitivo e emocional adequado e para a manutenção da autoestima em níveis satisfatórios. Sejamos alunos ou professores, policiais ou ladrões, louros ou morenos, nós seres humanos, necessitamos sentir que controlamos o que nos acontece. Quando não temos controle sobre os acontecimentos criamos uma ilusão de controle. Esse controle ilusório consiste em acreditar que controlamos acontecimentos independentes de nosso comportamento. Exemplos dessa ilusão de controle, tão necessária para nossa autoestima, porque de ilusão também se vive, seriam as crenças supersticiosas, mágicas e religiosas. “O desamparo adquirido: recuperando o controle sobre a aprendizagem” O fenômeno do desamparo adquirido, termo cunhado por Seligman (1975), consiste em adquirir uma expectativa generalizada de perda de controle sobre os fatos de nosso ambiente. Supostamente o desamparo é adquirido quando o que nos acontece nesses domínios é independente do que nós façamos ou tentamos fazer. O desamparo adquirido se define por várias características que podemos citar: (a) uma redução da taxa de comportamento; (b) uma perda de autoestima; (c) uma perda de eficiencia cognitiva e (d) uma maior sensibilidade emocional. De forma mais detalhada, uma estratégia eficaz deveria abordar os quatro traços que mencionamos , já que, como vimos, não só são consequência da falta de defesa, como também atuam como causas, num circulo tremendamente vicioso. “Aprendizagem de teorias implícitas: A estrutura correlacional do mundo” Nos ambiente complexos em que nos movemos, em nossa cultura da aprendizagem, há algo mais que simples fatos que se encadeiam entre si e com nosso comportamento. É a grande quantidade de informação que somos capazes de processar ou computar em cada momento, estabelecendo relações implícitas entre os elementos que a compõe. As teorias implícitas se apoiariam nesses processos associativos, tanto na aquisição de informação, como na organização e ativação da informação adquirida, pelo que tem certas características em comum com os modelos conexionistas. No entanto, as teorias implícitas não se limitam a repetir, ou estilizar, a estrutura correlacional do mundo, mas também dão lugar à construção de modelos mentais ou interpretações dessa realidade que não podem ser reduzidas a processos associativos. “Os processos de aquisição das teorias implícitas” Segundo hipóteses muito recentes e sugestivas, os bebês já dispõem, quase desde o nascimento, de verdadeiras ideias ou teorias sobre o mundo dos objetos e das pessoas. Ao tentar assimilar, ou reduzir, o comportamento desses objetos a suas teorias, os bebês vão descobrindo e explorando as leis que regem o comportamento desses objetos, físicos e sociais. Ao abandonar o berço, tudo se torna mais incerto e variável, mas também cresce a capacidade de detectar regularidades no ambiente, ao aumentar a potencia e a eficácia dos processos de aprendizagem associativos. Quando um aprendiz se depara com uma situação relativamente nova, tenta assimilar essa situação a suas aprendizagens anteriores mediante uma busca de elementos de informação associados a esse efeito surpreendente, que possam funcionar como causa do mesmo. Entre essas regras de aprendizagem associativa estariam (Pozo, 1987; Pozo e Gómes Crespo, 1994. Pozo et al., 1991): (a) A semelhança entre causa e efeito ou entre a realidade que observamos e o modelo que a explicaria. Se faz calor, tiramos a roupa, já que a roupa “dá” calor. Se me dói o estômago, deve ser alguma coisa que comi. (b) A contiguidade espacial, e, se é possível, o contato físico entre causa e efeito. Se ouvirmos um ruído na parte traseira do carro, logicamente procuraremos a causa ali. (c) A contiguidade temporal entre a causa e o efeito. Se nos dói a cabeça ou o estômago, será devido à última coisa que fizemos ou comemos. (d) A co-variação qualitativa entre causa e efeito. As variáveis relevantes serão aquelas que co-variam com o efeito. Se cada vez que tenho febre e dor de cabeça tomo antibiótico, digam o que disserem os médicos, acharei que os antibióticos curam a gripe. (e) A co-variação quantitativa entre causa e efeito. Quando se incrementa a causa deve-se aumentar proporcionalmente o efeito, e vice-versa. Se temos uma panela com água fervendo e aumentarmos a intensidade do fogo, a maior parte das pessoas acredita que aumenta a temperatura da água. “A ativação contextual das teorias implícitas” A ativação repetida de modelos mentais em situações idênticas ou parecidas pode acabar por condensar e automatizar essas representações, de forma que se armazenem, como tais, já empacotadas e prontas para o consumo cognitivo, em nossa memória permanente. Esses esquemas, ou pacotes já elaborados de informação, tem a vantagem de uma ativação rápida e confiável, sem cometer erros, quando se trata de situações ou tarefas sobreaprendidas. Nossas teorias implícitas, e as representações que se originam a partir delas, seja em forma de modelos mentais contextuais ou de esquemas estáveis, têm uma função descritiva ou de previsão, mas escassamente explicativa. Por sua origem associativa, servem para prever fatos, mas não para compreendê-los. “A mudança das teorias implícitas: a explicação do conhecimento” A compreensão requer que se relacione a nova informação com os conhecimentos prévios do aluno, que em muitos casos estão formados por teorias implícitas. A própria natureza associativa das teorias implícitas, suas funções de capturar, de modo forçosamente simplificado ou estilizado, a “estrutura correlacional” do mundo faz com que muitas vezes as teorias implícitas tenham uma estrutura incompatível com as teorias cientificas ou disciplinares para esse domínio. Enquanto teorias implícitas tem a função de simplificar a estrutura correlacional do mundo, fixando-se em suas características mais destacadas e primárias, e estabelecendo a partir delas sequências de previsões, as teorias cientificas, ou, em geral, o conhecimento disciplinar, geram representações complexas, com fins explicativos ou interpretativos, que transcendem o mesocosmos, as dimensões essenciais do mundo cotidiano. Em maior medida ainda que os outros tipos de aprendizagem analisados neste capítulo, a mudança das teorias implícitas vai necessitar de formas de aprendizagem explícita bastante elaboradas, regidas não só por processos associativos mas, principalmente, construtivos. O processo de reflexão consciente, também chamado de metaconhecimento, permite transformar o saber implícito em saber explícito. Se trata de um processo construtivo, que não se limita apenas a lançar luz nos bastidores do conhecimento, a trazer a tona o iceberg submerso de nossas teorias implícitas, senão que é um processo que modifica ou reestrutura o que se conhece. O processo de explicação passaria por várias fases. Num primeiro momento, já descrito, se formariam, por processos associativos, teorias implícitas que gerariam representações contextuais, cuja automatização e condensação produziria, por sua vez, “pacotes de informação” ou esquemas presentes de modo explícito na memória permanente e não só como representações distribuídas ou implícitas.Tal conhecimento “empacotado” teria as características do conhecimento automatizado (rapidez, eficácia, escasso consumo de recursos, encapsulamento ou fechamento sobre si mesmo). No entanto devido ao êxito de sua ativação rotineira, esses “pacotes de informação condensada” acabariam por “se expandir” para novas tarefas afins, por se desempacotar, rompendo seus limites. Tal processo ainda não é consciente, mas, ao romper-se a cerrada capsula desses pacotes informativos, vai-se abri-los à possibilidade dessa reflexão consciente, que implicará uma nova redescrição representacional. Essa necessidade de mudar ou flexibilizar os conhecimentos que tanto trabalho nos tinha custado empacotar está na origem da mudança das teorias implícitas, facilitando sua reestruturação em teorias explícitas por processos de mudança conceitual. Nem sempre que explicitamos nosso conhecimento conseguimos ou necessitamos reestruturá-lo. Só quando as restrições estruturais de nossas teorias implícitas impedem a geração de representações mais complexas e adequadas às demandas da tarefa de aprendizagem, essa reestruturação será necessária.
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