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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO
bachaReLado em serviço social
antonia roberta meireles de freitas lima
VIOLêNCIA DOMéSTICA CONTRa a mulher
São José dos Campos-SP
2017
ANTONIA ROBERTA MEIRELES DE FREITAS LIMA
Trabalho de Conclusao de Curso apresentado a Universidade Norte do Parana – UNOPAR como requisito parcial para a obtenção do título de bacharelado em serviço social.
ORIENTADORA: AMANDA BOSA GONCALVES CARVALHO.
Monografia apresentada em ____/____/____
Banca examinadora
Prof (a). Orientador (a)
1º membro
2º membro
SÃO JOSE DOS CAMPOS – SP, 2017
Dedico em primeiro lugar a Deus e a toda a minha familia e amigos.
 AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus sabedoria e força que me deu para prosseguir com o curso e por cada dia me fortalecer, sendo a real providência durante toda minha existência, possibilitando-me superar todos os desafios e abençoando todos os meus planos;
Aos meus familiares pelo incentivo de todos os dias e a todos os meus amigos. 
Enfim, todos que estiveram nesta minha caminhada.
Agradeço minha orientadora de campo que sempre esteve ao meu lado, com sua força e seus conselhos;
Em especial aos meus pais (Roberto e Socorro) que foram fundamentais em toda a minha trajetória acadêmica. 
E por fim obrigada a todos que fazem parte da minha vida.
LIMA, Antonia Roberta. Violência doméstica contra a mulher. 2017. 56 p. Monografia (Graduação Bacharelado em Serviço Social) – Sistema de Ensino Conectado, Universidade Norte do Pará, São José Dos Campos – SP.
RESUMO
A pesquisa relatada nessa publicação teve como objetivos analisar o papel do serviço social junto à questão da violência contra a mulher e discorrer sobre a sua importância, identificar os aspectos sociais da violência doméstica, conhecer as principais causas e consequências, explanar sobre a Lei Maria da Penha, assim como a cerca da ficha de notificação compulsória de violência doméstica. Sendo uma pesquisa de natureza bibliográfica, obtida através de consultas em diversos sites nos últimos dezesseis anos. Assim, quando se trata da profissão serviço social, se observou que tanto o profissional quanto as conquistas dos movimentos feministas caminharam juntos na busca de melhorias para as condições de vidas das mulheres frente a violência doméstica, sempre priorizando seu valor na sociedade, onde aos poucos foram conquistando seu espaço.Tornandoevidente que a violência doméstica tem se transformado numa forma cada vez mais brutal de violência contra a mulher, mesmo que esta já possa contar com atendimento especializado.
Palavras-chaves: Violência doméstica. Mulher. Lei Maria da penha. Ficha de notificação. Serviço social.
LIMA, Antonia Roberta. Violência doméstica contra a mulher. 2017. 56 p. Monografia (Graduação Bacharelado em Serviço Social) – Sistema de Ensino Conectado, Universidade Norte do Pará, Esperantina – PI.
ABSTRACT
The research reported in this publication aimed to analyze the role of social service to the issue of violence against women and discuss its importance, identify the social aspects of domestic violence, know the main causes and consequences, explain about the Law Maria da Penha, as well as about the mandatory reporting of domestic violence form. It is a bibliographical research, obtained through consultations at several sites in the last sixteen. So when it comes to the professional social service, it was observed that both the professional and the achievements of feminist movements walked together in the search for improvements to living conditions for women against domestic violence, always prioritizing their value in society, which gradually They were conquering its space. Making clear that domestic violence has become a form increasingly brutal violence against women, even if it can count on specialized care.
Key words: Domestic violence. Woman. Maria da Penha Law. Notification form. Social service.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BVS – Biblioteca Virtual da Saúde
CEDAW – Conferência para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres
CEVIC – Centro de Atendimento à Vítima de Crime
DAPS – Divisão de Administração e Planejamento em Saúde
DDM – Delegacia de Defesa da Mulher
DEAM – Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
DM – Delegacia da Mulher
DVS – Divisão de Vigilância em Saúde
JECRIM – Juizados Especiais Criminais
LILACS – Literatura Latino Americana
LMP – Lei Maria da Penha
NC – Notificação Compulsória
NPSPV – Núcleo de Promoção da Solidariedade e Prevenção das Violências
OEA – Assembleia Geral das Organizações dos Estados Americanos
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
PAISM – Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher
PNPM – Plano Nacional de Políticas para as Mulheres
SCIELO – ScientificElectronic Library Online
SPM/PR – Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
SPS – Superintendência de Promoção da Saúde
VCM – Violência Contra as Mulheres
VIVA – Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes
SUMARIO
INTRODUCAO…....…............................………………………………………………...10
1. CONTEXTO HISTÓRICO E ATUAL DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER....................................................................................................................13
2. FATORES E CONSEQUÊNCIAS RELACIONADOS A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA FEMININA .................................................................................................................27
3. LEI QUE PROTEGE AS MULHERES CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA....31
3.1. Origem da Lei Maria da Penha............................................................................31
3. Perfil da violência doméstica pós-Lei Maria da penha...........................................33
4. FICHAS DE NOTIFICAÇÂO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.................................42
5. ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL FRENTE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER................................................................................................45
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................52
INTRODUÇÃO
A violência é um fenômeno social e universal que atinge populações de todas as classes, religiões e culturas, com diferenciais por gênero, idade e etnia.Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ‘violência é o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio ou contra outra pessoa, grupo ou comunidade, resultando ou que tenha a possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação’ (SILVA et al., 2013).
Assim como, a violência doméstica é toda e qualquer ação ou omissão que acarreta prejuízos na liberdade e no desenvolvimento dos envolvidos, sejam eles membros da mesma família ou agregados e visitantes esporádicos. Assim, tais atos podem ser cometidos dentro ou fora do lar e consistem, na grande maioria dos casos, em agressões físicas, psicológicas, sexual e negligência (SALIBA et al., 2007; DAY et al., 2003 citado por PORTO, 2014).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou em 2002 um relatório intitulado “Relatório Mundial sobre Violência e Saúde”. Neste relatório, a violência é conceituada como “o uso intencional da força física ou do poder, real ou ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação” (ZUMA, 2005, p. 02 apud FONSECA, p.307, 2012)
Ainda, segundo estudoda Organização das Nações Unidas (ONU) de 2006, “violência contra a mulher”é todo ato de violência praticado por motivos de gênero, dirigido contra uma mulher (GADONI-COSTA; DELL’AGLIO, 2010, p. 152 citado por FONSECA, p. 308, 2012).
Portanto, diante de tais conceitos deliberados a cerca da tematica, levando em consideracao que a tematica foi por anos desconhecida da sociedade, sendo inserida nos estudos acadêmicos como uma das formas mais horriveis de violação dos direitos humanos, necessitando diante disso de intensa mobilização social. A violência doméstica éum problema universal que atinge milhões de pessoas, na maioria das vezes, se tornando silenciosa.
Assim, um fato importante a ser visto como meio para se estabelecer vínculos de confiança e empatia nas relações entre serviços de saúde, profissionais e usuários, o acolhimento deve ser assegurado como prática que garanta uma assistência humanizada e resolutiva as vitimas de tais violência.
Contudo, diante da total inexistência da justiça perante casos de violência doméstica, surgiu a Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006, sendo denominada Lei Maria da Penha, que veio para contribuir demasiadamente para banalização da violência doméstica e a sua consequente descriminalização.
Seguido a esse feito, surgiram as fichas de notificação compulsória contra a violência doméstica, criada pela organização mundial da saúde para aobtenção de um controle estatistico a cerca da temática, facilitando a obtenção desses dados, assim como, a conduta.
Contudo, esse tipo de violência não é um fato isolado, que só ocorresse um episódio ou nenhum, são fatos que ocorrem constantemente, mas que é tolerado e escondido pelas vitimas em nome da vergonha e medo da família. Fato infeliz e preocupante que acontece diante da sociedade e na maioria das vezes, as pessoas a volta da vitima não vêem ou fingem que não vêem as agressões, transformando o lugar que deveria abrigar e acolher em uma prisão sem grades.
Segundo a Convenção Interamericana para prevenir, punir, erradicar a violencia contra a mulher, conhecida como Convenção de Belém do Pará realizada em 1994, “ toda mulher tem o direito ao reconhecimento, gozar do exercicio e proteção de todos os direitos humanos e liberdades consagradas em todos os instrumentos regionais e internacionais relativos aos direitos humanos e das mulheres” (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS, 1948).
“O grande desafio no enfrentamento da violência contra a mulher é a efetivação de uma rede de serviços que agregue os diferentes programas e projetos, consolidando uma política social de atendimento (LISBOA; PINHEIRO, p.200, 2005).”
Historicamente, muitas foram as conquistas das mulheres ao longo do tempo, em relação a inserção no trabalho e a conquista da tão falada independência, não só financeira mais principamente, social.
“[...] a questão da violência contra a mulher tornou-se cada vez mais visível e passou a ser discutida como um problema público a ser enfrentado (LISBOA; PINHEIRO, p. 203, 2005)”.Garcia et al. (2016) concluiram que, a violência doméstica e familiar contra a mulher é um problema complexo e multifatorial. Essas políticas não podem, obviamente, ser restringidas ao setor saúde e devem incluir diversas áreas, como gênero, direitos humanos, justiça, segurança pública, trabalho e previdência, entre outras. Porém, os serviços de saúde têm um papel relevante por serem, em muitos casos, o primeiro contato da vítima com as instituições públicas, que além de procederem o atendimento, devem estar prontos para o acolhimento das vítimas e para ampliar a possibilidade dos passos seguintes no caminho da superação desta condição.
Diante do exposto, temos como objetivos analisar o papel do serviço social junto à questão da violência contra a mulher e discorrer sobre a sua importância, identificar os aspectos sociais da violência doméstica, conhecer as principais causas e consequências, esplanar sobre a Lei Maria da Penha, assim como a cerca da ficha de notificação compulsória de violência doméstica.
Tendo como metodologia aplicada, a de natureza exploratória do tipo pesquisa bibliográfica, quantitativa e transversal com a finalidade de sintetizar resultados obtidos em pesquisas relevantes ao tema em questão com o intuito de contribuir para o conhecimento do estudo em questão.
Segundo Gil (2002, p.44-45): 
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos [...]. No entanto, a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.
A pesquisa foi realizada através dos sites: Scielo (ScientificElectronic Library Online), Literatura Latino Americana (LILACS), Google Acadêmico, Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), datados de 2000 a 2016, utilizando os descritores: violência doméstica, mulher, Lei Maria da penha, ficha de notificação, serviço social. No primeiro momento foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema em vista para elaboração do trabalho. No segundo momento foram feitas leituras exaustivas dos artigos pesquisados utilizando os descritores propostos, assim sendo avaliados a partir do seu conteúdo com ênfase em conhecer o perfil desse usuário de crack.
A partir da leitura acurada dos seus resumos, foram incluídos aqueles estudos que preenchiam alguns critérios como, artigos e estudos publicados entre os anos de 2000 a 2016 relacionados ao tema, publicações que condiziam com pelo menos um dos descritores, publicações na íntegra, publicações de abordagem quantitativa com o perfil dos sujeitos e estudos manuscritos em português. Assim como também foram utilizados critérios de exclusão neste estudo, tais como, artigos manuscritos em outros idiomas que não fosse o português, publicações duplicadas, estudos que antecediam 2000, enfim, publicações que não atendiam aos critérios de inclusão.
Todas as publicações utilizadas no presente estudo são recentes. Com isso, fazem-senecessário novas publicações com pesquisas quantitativas, pois há inúmeras publicações, porém muito repetitivas e na maioria das vezes, com dados desatualizados.
Assim, a pesquisa trará contribuições importantes e oferece material para que os profissionais nas áreas de assistência social e de outras áreas reflitam sobre como agir diante de casos de violência doméstica contra a mulher.
1. CONTEXTO HISTÓRICO E ATUAL DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER
Antigamente as mulheres eram tidas como inferiores aos homens, se submetendo na maioria das vezes ordens e humilhações que a própria cultura racista lhe continha, vista apenas como cuidadora do lar e doadora de amor, tida assim, como vinda ao mundo somente para reprodução e cuidados com a alimentação e comodidade.
Desde a metade do século XIX até depois da Primeira Guerra Mundial, o panorama econômico e cultural do Brasil mudou profundamente. A industrialização e a urbanização alteraram a vida cotidiana, particularmente das mulheres, que passaram a, cada vez mais, ocupar o espaço das ruas, a trabalhar fora de casa, a estudar etc (BLAY, p. 87, 2003).
Assim, no inicio da década de 50, a Organização das Nações Unidas (ONU) priorizou esforços contra essa forma de violência; entre os anos de 1949 a 1962 criou-se a Comissão de Status da Mulher, impulsionando uma série de tratados fundamentados nas provisões da Carta das Nações Unidas, quais reforçam ideia de igualdade de direitos e liberdade humana, que em sua natureza deveriam ser aplicados igualmente entre homens e mulheres, sem distinção (ALEXANDRE; ARAUJO, 2015).
Portanto, apartir da década de 1970 começaram a se formar os primeiros grupos feministas, que se encontravam para discutir as questões que lhes afligiam, em especial o corpo, a sexualidade e o prazer. Eram grupos informais que se autoconduziam até mesmo quando o objetivo era terapêutico (PINTO, 2003 citado por PORTO, 2012).
Assim, devido às distintas atribuiçõesdos papéis sociais, a violência contra a mulher é naturalmente concebida e perpetuada através das gerações no âmbito doméstico e ainda é muitas vezes silenciada por não ser compreendida como violência, tanto pelos agressores, quanto pelas vítimas. Este silêncio não ocorre apenas pelo medo ou mágoa do abuso sofrido, compreensivelmente está relacionada às ligações de afeto existentes entre a vítima e seu agressor, neste momento é importante salientar que não apenas os companheiros são os autores destas violações, mas também seu pai, irmão, filhos entre outras pessoas do círculo familiar da vítima (ALEXANDRE; ARAUJO, 2015).
“Para Maria Berenice Dias (2008) citado por Alexandre e Araujo (p. 08, 2015), é nesse contexto que surge a violência, pois a mulher começa “a falhar” no cumprimento dos seus papéis, e a violência é uma justificativa para compensar tais falhas.”
O termo violência contra a mulhersurge nos anos 70, através do movimento feminista, ao denunciar para a sociedade que as mulheres eram o alvo principal da violência praticada pelos homens. A violência contra a mulher tanto pode ocorrer dentro de casa como fora dela. Muitas vezes ela é praticada por pessoas não relacionadas à família, mas que mantêm um certo poder sobre a mulher. A justificativa para os atos de violência estaria somente no fato de ser mulher, portanto um ser submisso, que deve obediência ao homem (LISBOA; PINHEIRO, p. 201, 2005).
Assim, no ano de 1976, na cidade de Belo Horizonte/ MG, a socialite Angêla Maria Fernandes Diniz, foi brutalmente assassinada por seu ex cônjuge, Raul Fernando Amaral Street (vulgo Doca), motivado pela rejeição ao rompimento do relacionamento; quando levado a julgamento, sua alegação em “legitima defesa da honra” lhe garantiu a liberdade. Devido a sua posição social, o assassinato de Angêla teve uma imensa repercussão midiática, inflamando o movimento de mulheres em torno do lema: “Quem ama não mata!” (ALEXANDRE; ARAUJO, 2015).
No entanto, o caso Angêla é nada mais que mais uma triste história de impunidade a violência contra a mulher na sociedade brasileira, contudo, a partir deste momento o movimento feminista propõe definições para as violações contra a mulher; expressões tais como conhecemos: violência física, sexual, psicológica, estupro, abuso sexual, assédio sexual em local de trabalho, violência contra homossexuais, tráfico de mulheres, turismo sexual, violência étnica e racial, violência cometida pelo Estado por ato ou omissão, mutilação genital feminina, violência ou assassinato motivado por dote, estupro em massa em regiões de guerra ou conflito armado (ALEXANDRE; ARAUJO, p. 04-05, 2015).
Enquanto que, no ano de 1979, a Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher / Committee on the Elimination of Discrimination Against Women (CEDAW), foi incorporada a Assembléia Geral das Nações Unidas; internacionalmente conhecida como Lei Internacional dos Direitos da Mulher, qual promove a busca pela igualdade de gênero e promoção dos direitos da mulher tal como a repressão a qualquer forma de discriminação (ALEXANDRE; ARAUJO, 2015).
No Brasil a década de 70, marcou o inicio dos primeiros movimentos feministas politicamente engajados com a defesa dos direitos da mulher perante um sistema social opressor. No entanto foi no final da década, inicio dos anos 80 que fortes mobilizações ocorreram na defesa da causa, sendo potencializada pela constante responsabilização do Estado diante da condição da mulher perante a sociedade (ALEXANDRE; ARAUJO, p. 04, 2015).
Nessa concepção, a violência foi ensinada de geração em geração, configurando as regras do patriarcado, onde o homem detém o poder sobre a mulher, dominando-a e oprimindo-a, perpassando as relações, Rocha (2010, p. 05) citado por Alexandre e Araujo (2015) destacam que: "Nessa sociedade o que não vem descartável é a violência. Porque a marca dela não se retira com a facilidade com que ela entra".
Portanto, a violência contra a mulher, enquanto objeto de denúncia, não é recente; porém, o esforço para combatê-la e preveni-la ocorre somente a partir dos anos 80, quando esse tema passa a incorporar as lutas dos movimentos feministas que tornam o debate público. Até então a mulher brasileirasofria em silêncio a violência que lhe era infligida, geralmente, no espaço privado de sua casa e praticada por alguém com quem ela mantinha uma relação afetivo-conjugal, porque, aos olhos do poder público e da sociedade, “em briga de marido e mulher não se metia a colher” (LISBOA; PINHEIRO, 2005).
No inicio da década de 80, no estado do Rio de Janeiro, a partir da pressão dos movimentos feministas e forte compromisso do movimento de mulheres, surge o SOS Mulher, idealizando um espaço de atendimento a mulheres vitimas de violência, além de um espaço de reflexão e promoção de mudanças das condições de vida destas mulheres. O SOS não se limitava ao estado de origem, tal ferramenta, também foi implementada por outros estados tais como, São Paulo e Porto Alegre (ALEXANDRE; ARAUJO, p. 05, 2015).
Segundo Alexandre e Araujo (2015), em 1983, a implementação de políticas públicas resultou na criação do Conselho Estadual da Condição Feminina, ratificado em 1984 pelo Brasil na Committee on the Elimination of Discrimination Against Women (CEDAW); seguido em 1985, pela implementação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, e da primeira Delegacia de Defesa da Mulher. De forma pioneira, a criação das Delegacias de Proteção a Mulher, adotada por outros países da América Latina.
Ao ratificar a CEDAWo Estado brasileiro afirma perante o sistema global o compromisso em suas ações em coibir todas as formas de violência contra a mulher e a adotar políticas destinadas à prevenção e erradicação de qualquer violência de gênero, e que seus autores tenham as devidas punições legais (ALEXANDRE; ARAUJO, p. 05, 2015).
Segundo Lisboa e Pinheiro (2005), em função dessa mobilização a cerca do tema, em 1985 foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, como um órgão consultivo, com o objetivo de promover políticas sociais para as mulheres, no sentido de eliminar qualquer tipo de discriminação e garantir condições de igualdade para o exercício da cidadania.
E ainda que, esse Conselho exigiu a modificação da legislação que discriminava a mulher e apresentou propostas para a Constituinte de 1988, com o slogan: “Constituinte pra valer tem que ter direitos da mulher” (LISBOA; PINHEIRO, 2005).
Assim, um marco nesse processo foi a Constituição de 1988 com o reconhecimento formal de vários direitos da cidadania para as mulheres. Os avanços na situação das mulheres brasileiras, suas participações política, social e econômica são bastante visíveis na sociedade e estão expressos em indicadores nacionais. No entanto, ainda persiste uma grande lacuna entre os direitos formais e os direitos de fato, excluindo da cidadania largas parcelas da população feminina (PASINATO, 2015).
E ainda que, segundo Lusa (2009) na Constituição Federal de 1988 está explícito o direito à não-violência e à igualdade de gênero, definindo-se a responsabilidade estatal no combate a esta prática. A mobilização dos movimentos feministas e de gênero no Brasil conquistou além desta anuência na Carta Magna, a criação, ainda em 2004, da Lei nº 10.886/04, que acrescentou dois parágrafos ao Art. 129 do Código Penal (Decreto-Lei no 2.848/40), criando o tipo especial de crime, denominado “Violência Doméstica”.
Em decorrência dessas lutas, o tema da violência contra a mulher passou a ser publicizado no cenário brasileiro, com o slogan: “Quem ama não mata”. Nessa época dois assassinatos de mulheres da classe média pelos seus companheiros, crimes justificados pela tese de defesa da honra, tiveram repercussão nacional. Foram os de Ângela Diniz (Minas Gerais) e de Eliane de Grammont (Rio de Janeiro). Estes crimes serviram para denunciar a realidade de milhões de mulheres que estavam submetidas a situações de violência doméstica (LISBOA; PINHEIRO, p. 200, 2005).
Segundo Campos (2015)referiuem seu estudo, aconcentração da atuação feminista na esfera da segurança pública iniciada na década de 1980 deveu-se à constatação de que as mortes de mulheres ficavam impunes. Nesse período, o feminismo denunciou a absolvição dos chamados “crimes da honra”(legítima defesa da honra masculina) ou “crimes da paixão” e a visão privatista/familista do direito que se recusava a punir os homicidas de mulheres e a violência doméstica.
E ainda que, aação feminista focalizava no sistema de justiça e segurança e objetivava romper com a lógica da impunidade. A forte atuação das feministas durante quase duas décadas foi responsável pela revogação da tese da legítima defesa da honra masculina e pelo fortalecimento das pesquisas na área de violência. Com isso, consolidou-se um campo de atuação política e acadêmica, com resultados significativos para as mulheres (CAMPOS, 2015).
Na década de 1980, novos temas passaram a despertar a atenção dos grupos de mulheres, agora mais organizados e autônomos: a violência e a saúde. Nesse momento, as feministas obtiveram conquistas importantes na Constituição de 1988 e a efetivação das primeiras políticas públicas para as mulheres – as delegacias especializadas de atendimento à mulher (DEAM) e o programa de atenção integral à saúde da mulher (PAISM), por exemplo (Pinto, 2003 citado por PORTO, p.567, 2012).
“Vista inicialmente apenas como problema do âmbito da justiça e da segurança, a violência passou a ser considerada como questão de saúde motivada pela demanda de atendimento pontual e específico das lesões, traumas e mortes (PORTO, p. 788, 2014)”.
Assim, por afetar a saúde individual e coletiva das populações, a problemática da violência ganhou destaque mundial. Além de produzir consequências à vítima, ao agressor e aos familiares, a violência também afeta o desenvolvimento econômico e social, desencadeando consequências para toda a sociedade (PORTO, 2014).
“Na década de 1990 vieram as casas-abrigo, os serviços de interrupção da gravidez previstos em lei e, mais recentemente, os centros de referência para mulheres em situação de violência (PORTO, p.368, 2012).
Assim como, em 1993, o assunto ressurge ao cenário internacional, a partir da Declaração de Viena, outras manifestações da violência foram consideradas, tais como: preconceito cultural e tráfico de pessoas. Outro grande marco na conquista por direitos e igualdade de gênero refere-se à revogação da violência privada como criminalidade comum, sendo assim considerada a violência contra a mulher infração aos direitos humanos, qual normalmente é praticado na esfera privada das relações. Em 06 de Junho do ano seguinte, a Assembléia Geral das Organizações dos Estados Americanos – OEA – aprovou a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a mulher, conhecida como Convenção de Belém do Pará. Essa convenção foi ratificada pelo Brasil em 1995 (ALEXANDRE; ARAUJO, 2015).
Segundo Silva, Coelho e Caponi (2007), em março de 1997, com a finalidade de atender a vítimas de violência, foi criado, em Florianópolis, Estado de Santa Catarina, o Centro de Atendimento a Vítimas de Crime (CEVIC), fruto de uma parceria entre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, subordinada ao Gabinete da Presidência da República, e a Secretaria da Segurança Pública e Defesa do Cidadão. Seu principal objetivo é prestar atendimento social, psicológico e jurídico às vítimas de crime que, segundo a resolução 40/34 da Organização das Nações Unidas (ONU, 1985), são:
[...] as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido danos, inclusive lesões físicas e mentais, sofrimento emocional, perda financeira ou redução substancial nos direitos fundamentais, como conseqüência de ações ou omissões que violem a legislação penal vigente nos estados membros, incluída a que prescreve o abuso de poder [...]
O serviço atende moradores da grande Florianópolis, sem distinção de idade, sexo, raça ou condição socioeconômica, desde que sejam vítimas de violência. O perfil da população atendida caracteriza-se por mulheres com baixa escolaridade, domésticas ou do lar, moradoras da região, com idades entre vinte e 49 anos, que registraram boletim de ocorrência na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), em Florianópolis, sendo vítimas de violência doméstica perpetrada pelo companheiro (SILVA; COELHO; CAPONI, 2007).
Lisboa e Pinheiro (p. 200, 2005) citaram em estudo que:
Nesse percurso, o movimento feminista teve um papel preponderante no que tange a lutas e conquistas de políticas sociais para as mulheres que sofrem violência. Inicialmente, a atuação das feministas esteve mais ligada à perspectiva de denunciar a violência contra a mulher e, num segundo momento, desenvolveu ações buscando garantir o atendimento e o apoio através de serviços específicos para as mulheres que viviam situações de violência, como os SOS Mulher e as Delegacias Especiais de Atendimento a Mulher (DEAM).
E ainda que, segundo Alexandre e Araujo (2015), no ano 2002, Organizações Não-Governamentais Feministas, iniciaram a elaboração o projeto de lei que teria por essência o combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. Em 2004, apresentou-se um anteprojeto à Secretaria de Polícia para as mulheres da Presidência da República que originou em um grupo de trabalho para a elaboração de um Projeto de Lei que visava criar mecanismos de combate e prevenção à violência doméstica contra as mulheres (Decreto 5.030, de 31 de março de 2004).
Assim como, em janeiro de 2003 foi criada a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, pelo então Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. A Secretaria assumiu status de Ministério e tem como função elaborar, articular e executar políticas direcionadas à eqüidade de gênero. Um dos principais serviços que está sendo viabilizado por essa Secretaria tem sido a construção de abrigos/casas de apoio. Os abrigos são parte integrante do “Programa de Prevenção, Assistência e Combate à Violência Contra a Mulher”, proposto pelo poder executivo federal em parceria com os municípios, e é considerado o tipo de serviço que deve estar presente na constituição de uma rede de atendimento para mulheres em situação de violência (LISBOA; PINHEIRO, 2005).
A aprovação de leis especiais para o enfrentamento da violência baseada no gênero tem sido uma estratégia adotada pelos movimentos de mulheres em vários países para criar garantias formais de acesso à justiça e a direitos para mulheres em situação de violência (PASINATO, p. 408, 2015).
Portanto, este processo de mudanças legislativas tem seus avanços registrados particularmente a partir da década de 1990 no contexto de duas importantes convenções internacionais de direitos das mulheres: a Conferência para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres – CEDAW (1979) e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – Convenção de Belém do Pará (1994). Além das Conferências Internacionais de Direitos Humanos, População, Mulheres que colocaram em relevo os direitos das mulheres como direitos humanos e as estratégias para seu reconhecimento e promoção (PASINATO, 2015).
Assim como, Porto (2012) tambem referiu que, no início do Século XXI, no Brasil, houve acriação da Secretaria de Política para as Mulheres – SPM - da Presidência da República, em 2003; a realização da I e II Conferência Nacional de Política para as Mulheres, respectivamente em 2004 e 2007, e, por fim, o I e II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM (Presidência da República, 2004, 2008). Ambos, fruto das conferências e que servem de documento básico para a implantação das políticas específicas para as mulheres.
Portanto, os movimentos feministas brasileiros não estiveram alheios a esses debates. Além de o Estado brasileiro ter assinado e ratificado os acordos internacionais, a participação de militantes feministas brasileiras no contexto internacional das Nações Unidas e da Organização de Estados Americanos,e a articulação interna de diferentes grupos de mulheres e feministas somaram forças decisivas para lutar contra o déficit histórico no acesso à justiça e à cidadania que afeta as mulheres em todo o País (PASINATO, 2015).
“O jogo de poder masculino advém dessas crenças de o homem possuir certos direitos e privilégios a mais do que as mulheres. Os ciúmes podem estar relacionados à possessividade: muitos homens tratam as mulheres como objeto de sua propriedade (FONSECA, p.312, 2012)”.
“A inclusão da violência na pauta do setor saúde ocorreu de maneira lenta e fragmentada (PORTO, p. 788, 2014).”
Assim, os problemas ligados à saúde emergem em grande proporção; desde a década de 80 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera assunto de saúde pública pela sua dimensão e pela gravidade das sequelas orgânicas e emocionais que produz.Tornando identificação dos casos de violência a fase primordial da atuação profissional (PORTO; BISPO JUNIOR; LIMA, 2014).
No Brasil, em 2007, as causas externas representaram a terceira causa de óbito na população geral e a primeira causa de morte nos indivíduos de 15 e 40 anos de idade. Homens jovens, negros e pobres foram as principais vítimas e os principais agressores em relação à violência comunitária, ao passo que mulheres e as crianças negras e pobres foram as principais vítimas da violência doméstica (SILVA et al., p. 404, 2013).
“A magnitude do problema foi evidenciada em estudo desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde, em 2005, com 25 mil mulheres de diversos países. Estima-se que uma a cada seis mulheres já sofreu violência doméstica no mundo (MADUREIRA et al., p. 601, 2014).”
Enquanto que no Brasil, essa situação mostra-se ainda mais grave, pois de acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, com uma amostra de 2.365 mulheres, uma em cada cinco mulheres consideram já ter sofrido algum tipo de violência de parte de um homem (MADUREIRA et al., 2014).
E ainda que, os principais agressores, em uma variação de 50 a 70% são os cônjuges, que em uma relação de poder aproveitam da vulnerabilidade das vítimas para praticá-la (MADUREIRA et al., 2014).
Estudo realizado com 789 homens presentes em unidades de saúde da cidade de São Paulo mostrou que mais da metade dos entrevistados (52,1%) já havia praticado algum tipo de violência contra sua parceira íntima, sendo que 40% perpetrou violência psicológica, 31,9% física e 3,9% sexual (MADUREIRA et al., p. 601, 2014).
Enquanto que, cabe ressaltar que este é um fenômeno que gera vergonha, insegurança, isolamento, culpa e medo por parte de quem sofre a violência. A respeito deste assunto a pesquisa do Instituto AVON/ IBOPE, realizada com apoio do Instituto Patrícia Galvão (2009), revelou que 17% dos entrevistados acreditam que as mulheres não abandonam o agressor com medo de serem mortas caso rompam a relação, um dado que leva ao exemplificado ciclo da violência. Rigorosamente, relação violenta constitui em verdadeira prisão (ALEXANDRE; ARAUJO, 2015).
“Neste sentido, o próprio gênero acaba por se revelar uma camisa de força: o homem deve agredir, porque macho deve dominar a qualquer custo; e mulher deve suportar agressões de toda ordem, porque seu “destino” assim determina (SAFFIOTI, 1999apudALEXANDRE; ARAUJO, p. 08, 2015).”
Assim, violência contra a mulher, além de uma violação aos direitos humanos, é um importanteproblema de saúde pública. A violência física e sexual contra as mulheres resulta em expressivos custos econômicos e sociais, pode gerar graves consequências para a saúde mental e reprodutiva, assim como afetar também as crianças e o ambiente familiar (GARCIA et al, 2016).
Portanto, segundo Madureira et al. (2014), a ocorrência de violência contra a mulher nas relações familiares tende a se repetir ao longo da coexistência com o agressor e, quando não é refreada, pode evoluir e tornar-se mais danosa para a vítima.
A severidade da violência praticada contra as mulheres é evidenciada nos registros de óbitos de mulheres em todo o mundo. No Brasil, somente na última década foram assassinadas 43,5 mil mulheres, razão pela qual, o país ocupa a sétima posição mundial em número de homicídios femininos, com uma taxa de 4,5 para cada 100 mil mulheres. O estado do Paraná apresenta uma taxa superior à nacional onde 6,3 em 100 mil são mortas, ocupando a terceira posição no ranking brasileiro5, fato que evidencia a gravidade da violência contra esta população no estado paranaense (MADUREIRA et al., p. 601, 2014).
Enquanto que Garcia et al. (2016) referiram em sua publicacao que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência global de violência física e/ou sexual contra a mulher perpetrada por parceiro íntimo foi de 30%. As mulheres residentes nos países da África, Oriente Médio e Sudeste da Ásia reportaram as prevalências mais elevadas (em torno de 37%), seguidas por aquelas das Américas (aproximadamente 30%).
E ainda que, no Brasil, o estudo multicêntrico sobre saúde da mulher e violência doméstica, coordenado pela OMS (WHO Multi-country Study on Women’s Health and Domestic Violence), foi realizado em São Paulo e Pernambuco, no período 2000-2001. Em São Paulo, 41,8% das mulheres relataram ao menos uma vez na vida terem sofrido violência psicológica, 27,2% física e 10,1% sexual. Em Pernambuco, essas prevalências foram ainda mais elevadas, correspondendo a 48,9%, 33,7% e14,3%, respectivamente (GARCIA et al., 2016).
Uma pesquisa encomendada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República do Brasil, em 2013, revelou que 54% dos entrevistados declararam conhecer pelo menos uma mulher que havia sido agredida por um parceiro e 56% afirmaram conhecer pelo menos um homem que havia agredido uma parceira. Ainda, 89% e 88% dos entrevistados consideram que, nos últimos cinco anos, houve aumento, respectivamente, da ocorrência de agressões e assassinatos de mulheres por parceiros ou exparceiros. A pesquisa do Instituto Avon e do Datapopular, realizada no mesmo ano, revelou que 56% dos homens admitiram que já haviam cometido alguma ação considerada violência contra a mulher, como xingar, empurrar, humilhar em público ou ameaçar com palavras (GARCIA et al., p. 02, 2016).
Assim, a violência doméstica e familiar contra a mulher é um problema de grande magnitude no Brasil. Dentre as notificações ao Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) em 2008, em 75,9% dos casos de violência contra a mulher os agressores foram familiares e conhecidos. Ademais, 39,7% das mulheres indicaram ter sofrido violência de repetição, enquanto que, entre os homens, esta proporção foi 26,3% (GARCIA et al., 2016).
Anualmente as estatísticas apresentadas por institutos de pesquisa, tal como IBGE, alertam para um crescente número de recorrentes denúncias de violência intra-familiar, o que sugere um triste reflexo da insuficiência política de proteção a pessoa vitima de violência doméstica ou intra-familiar; que compactua para o regresso da vítima ao ambiente hostil e muitas vezes ao convívio do agressor (ALEXANDRE; ARAUJO, p. 02, 2015).
Segundo Garcia et al. (2016), o consumo de bebida alcoólica pela vítima foi o fator mais fortemente associado ao atendimento resultante de violência doméstica e familiar contra a mulher neste trabalho. A relação entre consumo abusivo de álcool e violência doméstica é amplamente conhecida e documentada. O estudo transversal realizado em um município paulista revelou risco duas vezes e meia maior de sofrer violência por parceiro íntimo para as mulheres que relataram ter realizado uso de álcool.
“Ademais, a associação entre violência doméstica e familiar e uso de álcool pela mulher pode ser confundida ou potencializada pelo uso de álcool pelo agressorque, todavia, não pôde ser investigado no presente estudo, realizado com dados secundários (GARCIA et al., p. 07, 2016)”.
Um estudo realizado nos Estados Unidos revelou que o uso de álcool pelo agressor foi associado ao aumento de oito vezesna ocorrência de abuso à mulher, após ajuste paraas variáveis demográficas. Em um estudo transversal com usuárias do SUS de Campinas (São Paulo), foi revelado que o uso de álcool pelo parceiro esteve associado à violência doméstica na gravidez (GARCIA et al., 2016).
Contudo, aparentemente o usodo álcool, tanto pela vítima como pelo agressor ou por ambos, é apenas um fator contribuinte em uma complexa rede causal de determinação da violência doméstica e familiar. É amplamente conhecido que a violência doméstica e familiar contra a mulher é de natureza multicausale inclui fatores sociais, culturais, familiares, da relação entre os parceiros e individuais (GARCIA et al., 2016).
Entre as variáveis estudadas, ficou evidente a associação do atendimento por violência doméstica e familiar contra a mulher com a pior condição socioeconômica da vítima, mensurada pela menor escolaridade e não exercício de atividade remunerada. De maneira consistente, um estudo transversal realizado em São Paulo e Pernambuco identificou a menor escolaridade como fator de risco para a violência por parceiro íntimo (GARCIA et al., p. 08, 2016).
Assim, uma vez que é reconhecido que as mulheres que sofrem violência por parceiro íntimo têm maior risco de desenvolver depressão 18 e que a violência doméstica e familiar pode levar a comportamentos suicidas. Nos Estados Unidos, de 35% a 40% das vítimas que sobreviveram à violência doméstica tentaram cometer suicídio em algum momento durante ou após o término da relação abusiva (GARCIA et al., 2016).
A violência contra as mulheres (VCM) é considerada um problema de saúde, de direitos humanos, de segurança pública e de justiça. A violência doméstica e familiar exerce grande impacto nas taxas de homicídio contra mulheres. O Brasil, num ranking de 84 países, ordenados segundo as taxas de homicídios femininos, é o 7º onde mais se matam mulheres. No período entre 1996 e 2006, o número total de homicídios registrados pelo Sistema de Informação de Mortalidade (SIM/DATASUS) teve um aumento de 20%, sendo superior ao crescimento da população, que foi de 16,3% nesse mesmo período. Atualmente, esta taxa chega a 33-39% (WAISELFISZ, 2013 citado por AMARAL et al., 2016).
A ocorrência durante os finais de semana, bem comonos períodos da noite e madrugada foram fatores associados ao atendimento. Esses achados reforçam a importância de que os serviços voltados ao atendimento às mulheres vítimas de violência funcionem em horários diferenciados, justamente para cobrir os períodos de maior demanda – finais de semana, noites e madrugadas. Vale destacar que são nesses dias e horários que o contato entre agressor e vítima ocorre de maneira mais continuada, intensificam-se as possibilidades de consumo de álcool, que poderá interagir com os demais determinantes da violência, e ampliam se as possibilidades de eventos sociais que podem favorecer os episódios de violência. Esses fatores devem ser mais bem investigados em trabalhos futuros (GARCIA et al., 2016).
A OMS reforçou a necessidade de melhorar a capacidade dos serviços de saúde para identificarem a violência doméstica contra a mulher e o risco de feminicídio. O encaminhamento adequado e oportuno da mulher agredida, e seu acesso aos serviços de segurança pública e justiça para a obtenção de medidas protetivas podem fazer a diferença entre a vida e a morte. Nesse sentido, alguns estados brasileiros, a exemplo do Rio Grande do Sul, adotaram um serviço conhecido como “Patrulha Maria da Penha”. Trata-se de patrulhas que atuam com viaturas exclusivamente destinadas à realização de visitas domiciliares rotineiras e coordenadas, com o objetivo de atuar de forma preventiva junto a situações nas quais já tenham sido emitidas as medidasprotetivas em defesa de mulheres vítimas de agressões (GARCIA et al., 2016).
Enquanto que, o Ceará é um Estado vanguardista neste segmento, tendo instaurado, desde 1992, a Casa do Caminho, unidade da Secretaria de Ação Social do Governo, de proteção especial em funcionamento no Estado, que surgiu com a necessidade de oferecer proteção e acolhimento às mulheres que denunciam a violência sofrida, oferecendo assistência jurídica e psicossocial, além da reintegração dessa população no âmbito familiar e social. O abrigo recebe mulheres em situação de risco, encaminhadas pelas Delegacias de Defesa da Mulher, que não dispõem de situação financeira para viver longe do lar ou não têmparentes ou amigos que possam acolhê-las, acompanhadas pelos filhos, onde podem permanecer acolhidas até 90 dias. Constitui-se, muitas vezes, na única e última alternativa que possibilita o rompimento da relação conjugal. (AMARAL et al., 2016).
Com base nos resultados deste estudo, Garcia et al. (2016) recomendaram que a atividade das patrulhas seja intensificada durante os dias e horários identificados como de maior risco, e que as causas de busca de mais de um serviço de saúde para atendimento dessa natureza sejam mais estudadas.
Assim, Madureira et al. (2014) referiram que, apesar dos elevados índices apresentados, a mortalidade feminina por causas externas, onde se insere a violência, não ocupa os principais índices de óbitos entre as mulheres. Todavia, as consequências da violência sofrida pelas mulheres são graves em função dos expressivos custos e da alta procura das vítimas pelos serviços de saúde para o tratamento, não apenas dos traumas físicos, mas de todas as alterações provocadas em seu perfil de saúde-doença.
Atualmente, as vítimas de agressores e outras formas de violência podem contar com programas de apoio na resolução de seus problemas familiares, tanto governamentais quanto não-governamentais. Pela prática, nesses programas de atendimento à vítima, percebe-se que a maioria das queixas (98%) parte de mulheres que são vítimas de alguma forma de violência no interior do espaço doméstico (SILVA; COELHO; CAPONI, p. 94, 2007).
E ainda que, mesmo frente à gravidade evidenciada, uma grande parcela de mulheres, que vivenciam a violência, optam em permanecer no convívio com o agressor e, dessa forma, a atenção e a prevenção devem incluir não apenas as vítimas, mas também os homens autores dessa violência, com vistas a atuar em prol da prevenção de sua revitimização (MADUREIRA et al., p. 601, 2014).
Assim, Os maus-tratos sofridos pela mulher geram perdas significativas em sua saúde física e mental. As repercussões na vida da mulher violentada são enormes. O Ministério da Saúde vem, ao longo dos anos, implementando políticas e normatizando ações de prevenção e tratamento dos agravos decorrentes da violência contra as mulheres, uma vezque são agravos de alta frequência e que causam sérias repercussões ao estado físico, psíquico e social, sendo determinantes no processo de saúde e adoecimento das pessoas (JANUÁRIO et al., 2010apud FONSECA; RIBEIRO; LEAL, 2012).
Portanto, a violência contra a mulher é passível de prevenção e necessita ser enfrentada. Acredita-se que a sua superação implica a eliminação das condições desiguais da mulher na sociedade. Todavia, até que esse ideal seja alcançado, as políticas públicas têm um papel fundamental. É evidente a necessidade de estudos para subsidiar a elaboração e a avaliação dessas políticas, visando ao seu constante aprimoramento (GARCIA et al., 2016).
2. FATORES E CONSEQUÊNCIAS RELACIONADOS A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA FEMININA
Violência doméstica, é definida por Teles e Melo (2002, p. 19)apud Lisboa e Pinheiro (2005), como “[...] a que ocorre dentro de casa, nas relações entre pessoas da família, entre homens e mulheres, pais/mães e filhos, entre jovens e pessoas idosas”. Este conceito delimita o espaço da ocorrência para dentro de casa (espaço doméstico), deixando aberto campo de quem seja o agressor, principalmente na violência contra crianças e adolescentes.
“Ressaltando-se, que o fenômeno da violência doméstica ou familiar contra a mulher não atinge apenas mulheres adultas, mas também meninas e mulheres em idade avançada, devido à característica de violência de gênero (ALEXANDRE; ARAUJO, p. 08, 2015).”
Para o Ministério da Saúde e estudiososque trabalham essa questão como Silva, Coelho e Caponi (p. 96, 2007), a violência doméstica pode ser dividida em:
Violência física ocorre quando alguém causa ou tenta causar dano, por meio de força física, de algum tipo de arma ou instrumento que pode causar lesões internas: (hemorragias, fraturas), externas (cortes, hematomas, feridas).
Violência sexual é toda a ação na qual uma pessoa, em situação de poder, obriga uma outra à realização de práticas sexuais contra a vontade, por meio da força física, da influência psicológica (intimidação, aliciamento, sedução), ou do uso de armas ou drogas...
Negligência é a omissão de responsabilidade, de um ou mais membros da família, em relação a outro, sobretudo, com aqueles que precisam de ajuda por questões de idade ou alguma condição específica, permanente ou temporária.
Violência psicológica é toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à auto-estima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. Inclui: ameaças, humilhações, chantagem, cobranças de comportamento, discriminação, exploração, crítica pelo desempenho sexual, não deixar a pessoa sair de casa, provocando o isolamento de amigos e familiares, ou impedir que ela utilize o seu próprio dinheiro. Dentre as modalidades de violência, é a mais difícil de ser identificada. Apesar de ser bastante freqüente, ela pode levar a pessoa a se sentir desvalorizada, sofrer de ansiedade e adoecer com facilidade, situações que se arrastam durante muito tempo e, se agravadas, podem levar a pessoa a provocar suicídio. (Brasil, 2001)
Alguns autores, entendem tambem algumas situações corriqueiras da rotina da mulher como um tipo de violência, ainda que não sofram agressões físicas ou psicológicas. A violência simbólica, assim entitulada por ser entendida como expressões de crenças historicamente construidas para fundamentar relações de dominação, situações essas que restrigem a liberdade de expressão ao se basearem em papeis sociais de gênero (homem/mulher) determinados. Toda mulher já passou por algum tipo de situação em que ela ouviu diversas vezes a frase “isto não é coisa de menina”, expressão clara da violência simbólica. Sendo situações sutis do dia a dia que passam despercebidas aos olhos da vitima.
E ainda mas quandoas violências que ocorrem dentro das casas, na maioria das vezes, são cometidas pelos companheiros, maridos, namorados, amantes, ou seja, por aquela pessoa com a qual a mulher mantém uma relação afetiva/conjugal. A violência doméstica não interfere apenas na relação do casal, mas gera conseqüências desastrosas para todos os membros da família (LISBOA; PINHEIRO, 2005).
Os maus-tratos sofridos pela mulher geram perdas significativas em sua saúde física e mental. As repercussões na vida da mulher violentada são enormes. O Ministério da Saúde vem, ao longo dos anos, implementando políticas e normatizando ações de prevenção e tratamento dos agravos decorrentes da violência contra as mulheres, uma vez que são agravos de alta frequência e que causam sérias repercussões ao estado físico, psíquico e social, sendo determinantes no processo de saúde e adoecimento das pessoas (MONTEIRO; SOUZA, 2007, JANUÁRIO et al., 2010 citado por FONSECA, p.310, 2012).
Assim, segundo Casique e Furegato (2006) duas das formas mais comuns de violência contra a mulher são o abuso por parte dos companheiros íntimos e a atividade sexual forçada,ocorrendo tanto na infância, como na adolescência ou na vida adulta. O abuso pelo companheiro íntimo, também conhecido como violência doméstica, maltrato da esposa ou agressão, quase sempre é acompanhado por abuso psicológico e, em grande parte dos casos, por relações sexuais forçadas. Em sua maioria, as mulheres maltratadas por seus companheiros sofrem agressões. Na realidade, as relações abusivas se desenvolvem usualmente em atmosfera de medo e até de terror.
Casique e Furegato (2006) referiram em sua publicacao que, em países industrializados, as formas de violência de gênero não são as mesmas para todos os casais que vivenciam conflitos violentos. Existem pelo menos dois padrões:
1. Uma forma grave e crescente de violência, caracterizada por diversas formas de abuso, terror e ameaças, acompanhada de comportamentos cada vez mais possessivos e controladores por parte de quem pratica o abuso.
2. Uma forma mais moderada de violência no relacionamento, onde a frustração constante e a raiva ocasionalmente irrompem em agressão física.
E ainda que, a violência de gênero perpetrada por companheiros íntimos em mulheres, pode manifestar-se através de atos físicos, violência psicológicos assim como atos sociais que envolvem esta situação de violência em que vive a mulher (CASIQUE; FUREGATO, 2006).
“As mulheres objetivam a violência sofrida como inexplicável, destruindo a harmonia do casal e a convivência familiar, além da frequência com que ocorre, estando associada a sentimentos como tristeza, medo, preocupação e sentimentos de impotência” (FONSECA, p. 310, 2012).
Assim, de acordo com Soares (2004) citado por Fonseca (2012), muitas vezes uma mulher em situação de violência se sente especialmente amedrontada e envergonhada por não conseguir se fazer ouvir e respeitar por seu agressor, gerando sentimentos de impotência.
Muitas mulheres simbolizam a imagem do casamento perfeito e feliz em seus sonhos, com a esperança constantemente renovada de que o agressor vai mudar, que as coisas vão melhorar e que “tudo um dia vai passar como num passe de mágica”, sentimento esse que também é, segundo elas, frequentemente desfeito pelas decepções em contato com a realidade do comportamento do companheiro. Perdura no relacionamento o misto de esperança e decepção, fazendo com que o desgaste se acentue (FONSECA, p. 311, 2012).
“As causas da violência são descritas principalmente pelo ciúme e jogo de poder. Considerando-se a complexidade do problema, associada à questão da construção social dos papéis masculinos e femininos e da desigualdade existente nas relações de gênero segundo Galvão e Andrade (2004) citado por Fonseca (p. 312, 2012)”.
Segundo Fonseca (2012), as consequências da violência são numerosas. Dentre as mais compreendidas pelas mulheres, estão: trauma, desamor e insensibilidade.
A questão da autoestima, é um termo recorrente entre os profissionais da rede de atendimento às mulheres e nos próprios textos sobre violência contra as mulheres, aparece explicitamente em quase todos os documentos e, apesar de ser um elemento da subjetividade, é referido como construído e reconstruído no social, sendo algo influenciado por questões macro, e não como da ordem emocional, pessoal, subjetiva, sendo subjetividade entendida aqui como: instâncias psicológicas que compõem este sujeito: o psiquismo, a cognição, a ‘mente’, a consciência, a identidade, o self; mas também, as percepções, as interpretações, e uma certa dimensão ‘intrapsíquica’, das emoções, do desejo, do inconsciente (PORTO, 2012).
Alguns fatores são referidos pela literatura como relacionados às limitações da atuação do setor. Assim, ainda se faz presente nas sociedades contemporâneas a reprodução de padrões culturais em que se aceitam a punição física ou outros tipos de violência como prática educativa (PORTO; BISPO JUNIOR; LIMA, 2014).
Existe ainda, problemas estruturais e conjunturais do setor saúde acaba por afetar a atuação dos profissionais(PORTO; BISPO JUNIOR; LIMA, 2014).
Assim, os profissionais da saúde da família apresentam grande potencialidade para a detecção, abordagem e acompanhamento qualificado das vítimas. Esses profissionais lidam cotidianamente com situações de violência doméstica e sexual e vivenciam na prática as dificuldades inerentes ao processo de assistência e acompanhamento dos casos (PORTO; BISPO JUNIOR; LIMA, 2014).
Mas, questões relacionadas ao medo de represálias, falta de tempo e o sentimento de impotência dos profissionais contribuem para a atuação superficial, fragmentada e pouco resolutiva (WANDERBROOCK; MORE, 2012 apud PORTO; BISPO JUNIOR; LIMA, 2014).
“Observa-se, pois, que a violênciadoméstica é marcada por invisibilidade, silêncio e negação (PORTO; BISPO JUNIOR; LIMA, p. 793, 2014).”
Observa-se que de tantos fatores envoltos a violência doméstica contra mulheres, o que mais prevalece éo abrigo, e um local de confiança, onde essas mulheres possam sentir-se seguras, longe de seus agressores, para isso existem locais propriamente para esse tipo de serviço.
Assim, Campos (2015) referiu que, a SPM/PR no documento Diretrizes nacionais para o abrigamento de mulheres em situação de risco e violência entende o conceito de abrigamento de forma ampla, incluindo várias possibilidades (serviços, programas e benefícios) de acolhimento provisório destinados a mulheres em situação de risco e violência (doméstica, familiar, tráfico) que se encontrem sob ameaça e necessitem de um lugar seguro e acolhedor.
O abrigamento, portanto, não se refere somente aos serviços propriamente ditos (albergues, casas-abrigo, casas-de-passagem, casas de acolhimento provisório de curta duração, etc.), mas também inclui outras medidas de acolhimento que podem constituir-se em programas e benefícios (benefício eventual para os casos de vulnerabilidade temporária) que assegurem o bem-estar físico, psicológico e social das mulheres em situação de violência, assim como sua segurança pessoal e familiar (CAMPOS, p. 527, 2015).
	Percebe-se contudo isso, que são diversos as causas e consequências advindos da violência doméstica mais que ainda hoje é dificil de se combater, pois as próprias vitimas, ou entendem como sendo normais na maioria das vezes, ou passam à sentir vergonha da situação vivenciada no lar.
3. LEI QUE PROTEGE AS MULHERES CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
3.1. Origem da Lei maria da Penha
Segundo Pasinato (2015), o reconhecimento social da violência doméstica e familiar contra a mulher é relativamente recente no país, com pouco mais de 30 anos de emergência no cenário público nacional, mesmo período em que a violência contra as mulheres tornou-se objeto de interesse das ciências sociais, constituindo um campo de estudos cujos contornos definiram-se, principalmente, na interface das teorias feministas.
No Brasil, com vista ao amparo das mulheres em situação de violência, foram criadas, em 1998, as unidades de proteção asseguradas pelo Programa de Prevenção, Assistência e Combate à Violência contra a Mulher, conveniado com estados, municípios e organizações não governamentais (PINHEIRO; FROTA, 2006apud AMARAL et al., 2016). 
Assim, ainda anterior à Lei Maria da Penha (LMP), as situações de violência contra a mulher eram julgadas segundo a Lei 9.099/95 e grande parte dos casos era considerada crime de menor potencial ofensivo, cuja pena ia até dois anos e os casos eram encaminhadosaos Juizados Especiais Criminais – JECRIM (MENEGHEL et al., 2013).
Assim, as penas muitas vezes eram simbólicas, como cestas básicas ou trabalho comunitário, o que contribuía para produzir um sentimento de impunidade (MENEGHEL et al., 2013).
Mais tarde, em 2006, foi sancionada a Lei no 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, que crioumecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher no Brasil. Todavia, poucos estudos investigaram os fatores associados a esse tipo de violência no país. O conhecimento desses fatores pode ser útil para subsidiar políticas e programas voltados a seu enfrentamento (GARCIA et al., 2016).
[...] batizada com este nome pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em homenagem a uma vítima da violência e ícone da luta contra a violência doméstica no Brasil, a biofarmacêutica Maria da Penha Maia. Essa lei foi embasada no parágrafo 8º do artigo 226 da Constituição Federal, na Convenção sobre a eliminação de todas as formas de violência contra a mulher, na Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher e em outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil, com o objetivo de criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, conforme refere o art. 1ºda citada lei (CARNEIRO; FRAGA, p. 377, 2012).
Assim, baseada nessa triste história que lhe deu o nome, a LMP alterou o Código Penal Brasileiro e possibilitou que os homens agressores de mulheres no espaço doméstico sejam presos em flagrante ou tenham sua prisão preventiva decretada. Assim, a agressão contra a mulher tornou-se crime e quem a comete não pode mais ser castigado com penas alternativas, como era na época da lei nº 9.099/95 (BRASIL, 1995 citado por ROMAGNOLI, 2015).
Portanto, segundo Lusa (2009) na forma da Lei, o não cumprimento dos direitos humanos das mulheres no que tange a uma vida sem violência, passa a ser considerado como um crime, em que pode incorrer tanto o agressor - independente do seu sexo -, como o Estado, no que tange a omissão ou a negligência de atendimento.
E ainda que, a mesma Lei prevê em seu Art. 3º, Inciso 1º, que “o poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. O que é complementado pelo Art. 9º que determina:
A assistência á mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso (LUSA, p. 05, 2009).
Segundo Carneiro e Fraga (2012), a LMP instituiu a criação de juizados especiais para os crimes previstos nessa legislação e estabeleceu medidas de assistência e proteção às vítimas, além de assegurar a criação de políticas públicas para a garantia dos direitos da mulher. O artigo 5º dessa lei define violência doméstica como:
[...] configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I — no âmbito da unidade doméstica [...]
II — no âmbito da família [...]
III — em qualquer relação íntima de afeto [...]
A promulgação dessa lei, que de acordo com Reginato (2011) citado por Romagnoli (2015) é resultado de uma ação articulada do movimento feminista brasileiro em consonância com a Corte Interamericana de Direitos Humanos, trouxe um aumento do rigor das punições contra essas agressões, sendo essa legislação uma das três leis mais avançadas no mundo para o enfrentamento da violência contra as mulheres. Vivemos no país, desde 2006, um processo de institucionalização da lei Maria da Penha, sustentado não só na esfera jurídicas, na qual já está implementada, mas principalmente nas delegacias e no cotidiano das uniões que têm na violência o seu principal liame.
Muitas são as implicações envolvendo o fenômeno da violência doméstica contra a mulher, com a repercussão de casos nos meios de comunicação e atingindo a sociedade de uma maneira geral, a ponto de ter sido criada e sancionada uma Lei Maria da Penha, visando a coibir a violência contra as mulheres, caso da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (FONSECA, 2012).
3.2. Perfil da violência doméstica pós-Lei Maria da penha
Portanto, a partir da aprovação da Lei Maria da Penha, em agosto de 2006, o reconhecimento social ganhou novos contornos e a violência doméstica e familiar contra amulher deixou de ser um tema acadêmico ou das pautas feministas e do governo para tornar-se conhecido por toda a sociedade brasileira (PASINATO, 2015).
Diante deste novo cenário jurídico e social, observa-se o fortalecimento nas redes de medidas protetivas para vitimas de violência, tal como a criação das Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAM), que anseiam pelo atendimento qualificado à mulheres vitima de violência. Assim como a qualificação profissional da rede de atenção parceira, concessão do prazo de 48 horas, aoJuiz, para que este aplique medidas protetivas de urgência, tais como: afastamento do agressor do lar, suspensão de porte de armas do agressor, distanciamento da vitima, dentre outras possibilidades quais devem ser analisada de acordo com cada situação. Estas medidas são possíveis de solicitação pela vítima junto às delegacias especializadas, ou quando não acessível, em delegacias comuns (ALEXANDRE; ARAUJO, p. 07, 2015).
“Essa lei é inovadora e também polêmica (CARNEIRO; FRAGA, p. 377, 2012).”
“A aprovação dessa legislação decorreu de um longo processo de discussão nacional (PASINATO, p. 533, 2015).”
Para Campos (2010) citado por carneiro e Fraga (2012), a Lei Maria da Penha trouxe consigo um paradigma jurídico novo ao proporcionar uma proteção específica para a mulher.
A legislação amplia ainda o tempo máximo de detenção previsto de um para três anos e prevê medidas tais como a saída do agressor do domicílio e a proibição de sua aproximação da mulher agredida. Outro ponto é o impedimento da retirada da acusação pela vítima nesses crimes (ROMAGNOLI, 2015).
Segundo afirma Bandeira (2009) citado por Romagnoli (2015) a lei possibilitou ainda a especificidade de cada tipo de violência, historicamente agrupada de forma pouco precisa pela área de segurança pública e pelo judiciário, o que dificultava o reconhecimento dessas situações e, consequentemente, sua punição. Com certeza, essa legislação, a partir de uma lógica penal, insiste no viés punitivo, muitas vezes sem problematizar seus efeitos nas relações.
“O movimento feminista foi um ator fundamental no processo de elaboração e aprovação da lei denominada Maria da Penha” (MENEGHEL et al, p. 693, 2013).
Meneghel et al. (2013) referiram ainda que, a Lei Maria da Penha tipificou a violência, denominando-a violência doméstica e a definiu como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico e dano moral ou patrimonial às mulheres, ocorrida em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. A denominação violência doméstica provocou críticas, na medida em que restringiu a violência de gênero ao âmbito do domicílio conjugal, retirando do conceito a conotação de desigualdade de gênero e focando a atenção na família e não na mulher.
A Lei 11.340/20062, denominada de Lei Maria da Penha fundamenta-se em normas e diretivas consagradas na Constituição Federal, na Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher e na Convenção Interamericana para Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (PORTO, p. 692, 2012).
Assim, a violência doméstica contra a mulher ainda faz parte de uma realidade que assombra o público feminino, violando os seus direitos em diferentes cantos do planeta, nas mais variadas idades, etnias e estratos sociais. No Brasil, a LMP emerge como uma possibilidade jurídica para resguardar os direitos da mulher, a qual apregoa que a violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos (CARNEIRO; FRAGA, 2012).
A Lei afirma ainda, que toda mulher, independentemente, de classe, raça, etnia ou orientação sexual goza dos direitos fundamentais e pretende assegurar a todas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar a saúde física e mental e o aperfeiçoamento moral, intelectual e social, assim como as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança e à saúde (PORTO, 2012).
“Dentre muitos aspectos, essa Lei apontou a criação de delegacias especializadas e unidades de apoio à mulher vítimae a seus filhos, bem como punições mais rigorosas aos homens agressores”(FONSECA, p. 309, 2012).
Fonseca (2012) cita que na própria Lei n° 11.340, que rege os mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher (2006), que define os tipos de violência, delimitando-as emcinco domínios: físico, patrimonial, sexual, moral e psicológico. Assim:
A violência física implica ferir e causar danos ao corpo e é caracterizada por tapas, empurrões, chutes, murros, perfurações, queimaduras, tiros, dentre outros; violência patrimonial refere-se à destruição de bens materiais, objetos, documentos de outrem; violência sexual, entre outros tipos de manifestação, ocorre quando o agressor obriga a vítima, por meio de conduta que a constranja, a presenciar, manter ou a participar de relação sexual não desejada; violência moral constitui qualquer conduta que caracterize calúnia, difamação ou injúria e a violência psicológica ou emocional é a mais silenciosa, deixando marcas profundas, por não ter um caráter momentâneo e ter efeito cumulativo, sendo caracterizada por qualquer conduta que resulte em dano emocional como a diminuição da autoestima, coação, humilhações, imposições, jogos de poder, desvalorização, xingamentos, gritos, desprezo, desrespeito, enfim, todas as ações que caracterizem transgressão dos valores morais (FONSECA, p. , 2012).
Portanto, a entrada em vigor dessa legislação representa um marco político nas lutas pelos direitos das mulheres no Brasil e no reconhecimento da violência contra as mulheres como problema de políticas públicas. É também um importante divisor de águas na abordagem jurídica da violência baseada no gênero, uma vez que estabelece novos patamares para o enfrentamento da violência contra as mulheres no país (PASINATO, 2015).
De acordo com o relatório “Progresso das Mulheres/2003-2010” (BARSTED PITANGUY, 2011), a aprovação da Lei Maria da Penha representa a força do movimento feminista brasileiro em sua contínua busca de espaços de diálogo com os poderes da República em prol dos direitos das mulheres. Na redação dessa lei, um consórcio de ONGs exerceu uma inovadora ação legislativa apresentando aos Poderes Executivo e Legislativo uma proposta de texto que foi aprovada praticamente sem alterações. Esse consórcio também manteve uma ação de advocacy em todo o percurso de tramitação do projeto que deu origem à Lei Maria da Penha (BARSTED, 2011 citado por PASINATO, p. 409, 2015).
Assim, nos dias atuais o Brasil possui mais de 300 delegacias especializadas, em quase todos os estados. As delegacias têm diversas denominações: Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), Delegacia para a Mulher (DM), Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM). Essas instituições se tornaram de grande importância, pois através do trabalho multidisciplinar de vários profissionais, aliados a implementações de políticas públicas, tem sido empenhado esforços no intuito de prevenir e erradicar o fenômeno da violência contra a mulher (SAGOT, 2007; SCHRAIBER et al., 2007apud FONSECA, 2012).
Enquanto Campos (2015) referiu que, em 1985 foi criada a primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) em São Paulo.Em 1992, o país possuía 125 Delegacias da Mulher e, em 2012, já eram 443, registrando-se em 20 anos, um aumento quantitativo de 307 delegacias e núcleos. Observou-se, então, um crescimento significativo no número de delegacias da mulher no período equivalente a 345,6%. Assim, o crescimento revelou, por um lado, a forte atuação dos movimentos de mulheres na reivindicação e por outro, o esforço da SPM/PR na ampliação dos serviços.
Sendo que, conforme destaca o Relatório final da CPMI, o enfrentamento à violência contra as mulheres adquiriu caráter nacional com a criação, em 2003, da Secretaria de Políticas para asMulheres da Presidência da República (SPM/PR), o mais importante mecanismo para a elaboração, articulação e execução das políticas para as mulheres (CAMPOS, 2015).
E que, ainda segundo o Relatório final da CPMI citado por Campos (2015), a rede especializada é defi\ciente, há falta de profissionais capacitados, os serviços estão concentrados nas capitais ou regiões metropolitanas e não chegam a todas as mulheres. Dentre os principais serviços da rede destaca-se a análise dos juizados, das promotorias e defensorias especializadas, das delegacias da mulher e casas-abrigo.
Aindasendo mais exatos, Conforme a CPMIapud Campos (2015), existem no país 965 serviços especializados de atendimento às mulheres, dentre os quais 408 Delegacias da Mulher (DEAMs), 103 núcleos especializados em delegacias comuns, 202 Centros de Referência de Atendimento à Mulher, 71 casasabrigo, 66 juizados especializados, 27 varas adaptadas, 64 promotorias especializadas e 36 núcleos ou defensorias especializadas. Esses serviços constituem a rede especializada em atendimento e são fundamentais para as políticas de prevenção e assistência à violência doméstica e familiar, previstas na Lei Maria da Penha [...].
Portanto, a Lei Maria da Penha trouxe a possibilidade de instaurar medidas mais rigorosas em relação aos agressores, não havendo mais a possibilidade de julgamento das violências de gênero como crimes de menor potencial ofensivo e as punições corresponderem a cestas básicas ou serviços comunitários como previa a Lei 9.099/95 (MENEGHEL, 2013).
Portanto, segundo Pasinato (2015) a Lei Maria da Penha classifica-se como uma legislação de “segunda geração” que atende às recomendações das Nações Unidas para a adoção de medidas de proteção e promoção dos direitos das mulheres6 que extrapolam as ações de justiça criminal, punitivas e restritivas de direitos para os agressores, e promovem o acesso das mulheres ao direito de viver sem violência.
Segundo Campos (2015),a lei Maria da Penhaé sem dúvida, uma das mais importantes conquistas legais do feminismo, das mulheres e da sociedade brasileira. Conforme a ONU Mulheres, “a Lei Maria da Penha, cria múltiplos mecanismos, incluindotribunais especializados e assistência psicossocial para as vítimas, sendo posteriormente adotada, em 2006, representando um dos exemplos mais avançados de legislação sobre violência doméstica”.
E ainda que, esse endurecimento que a Lei representou instigou um intenso debate no cenário nacional, no qual o movimento de mulheres considera que não sepode deixar de responsabilizar os autores e enfatiza o aumento da vulnerabilização das vítimas em situações de impunidade, enquanto outros atores argumentam que os conflitos de gênero não podem ser tratados somente no âmbito criminal (MENEGHEL et al, 2013).
Existe muita resistência em relação à Lei, muitos juízes que não aplicam, tem juízes que consideram ela inconstitucional, existem visões distorcidas da lei, dizem ‘Ah! Se homens e mulheres são iguais, por que uma lei para as mulheres?’ ou ainda Uma lei para as mulheres é a prova que esta igualdade não existe, só existe no papel. E a lei para mulheres é justamente para que essa igualdade aconteça fora do papel (MENEGHEL et al, p. 694, 2013).
Enquanto que, a falta de estrutura das DEAMs reflete-se na ausência de servidores, na estrutura física inadequada, na ausência de plantões 24 horas, nas licenças médicas em excesso, na existência de profissionais desmotivados/as, dentre outros problemas (CAMPOS, 2015).
“Um ponto polêmico é a necessidade de representação por parte da vítima (MENEGHEL et al., p. 695, 2013).”
Enquanto, a Lei nº 9.099/95 considerava a violência como crime condicionado à representação e a ação penal só iniciava a partir da intenção da ofendida de processar criminalmente o acusado. Já a lei Maria da Penha, deixou de ter valor a exigência de representação e as lesões corporais passam a ser consideradas crimes de ação penal pública incondicionada, bastando que a vítima de violência compareça à delegacia para abrir um processo (MENEGHEL et al., 2013).
Segundo Campos (2015), a criação da Lei Maria da Penha (LMP) representou um avanço enormena legislação de enfrentamento à violência doméstica e familiar no Brasil. Rompendo com a visão meramente punitivista, a LMP incorporou as perspectivas da prevenção, assistência e contenção da violência, além de criar medidas protetivas de urgência e juizados especializados para o julgamento dos crimes praticados com violência doméstica e familiar.
Por outro lado, como diversas pesquisas atestam, há um amplo conhecimento da lei: 98% da população já ouviu falar da lei Maria da Penha. Embora se possa argumentar que esse conhecimento não se refere ao conteúdo integral da lei, é importante pontuar que a população sabe que se trata de uma legislação de proteção às mulheres. Assim, com esse significativo reconhecimento social pode-se afirmar que a Lei Maria da Penha é a lei mais “popular” do país (CAMPOS, p. 520, 2015) 
Enquanto que, quando tratado do registro de ocorrencia, Campos (p. 525, 2015) afirma que:
Não bastasse isso, foi identificado que, em alguns estados, os boletins de ocorrência não possuem campo específico para crimes da lei Maria da Penha e, em outros, praticam o “agendamento”, isto é, a oitiva completa do depoimento da vítima, em outro momento. A inexistência de campo específico compromete a obtenção de dados estatísticos confiáveis. No entanto, esse não é o único problema. A CPMI também constatou que nem todos os estados possuem um sistema informatizado, especialmente no interior, onde o registro é feito manualmente.
Além disto, observou-se contudo, a demora na investigação policial devido a despachos burocráticos nos inquéritos policiais que não atendem aos requisitos de uma ágil investigação. Na DEAM de Manaus, a CPMI constatou a existência de 4.500 inquéritos parados desde 2006, fato que estava sendo apurado pela Corregedoria da Polícia (CAMPOS, 2015).
Meneghel et al. (2013) referiram ainda que, segundo o movimento de mulheres, a transformação da ação penal pública incondicionada em ação penal pública condicionada significa despenalização. Além disso, sabe-se que muitas mulheres não são adequadamente informadas sobre esta questão jurídica e há juízes que não deferem as medidas protetivas sem representação, situações que levam as mulheres a desacreditarem da lei.
Em Porto Alegre, as mulheres disseram não se sentir seguras em relação à cessação das agressões e ameaças, pois os agressores não são responsabilizados e o sistema policial quando acionado não responde aos pedidos de proteção com a rapidez e presteza necessárias ou ainda quando realiza o contato com a mulher mostra-se incapaz de oferecer ajuda (MENEGHEL et al., p. 696, 2013).
A Lei nº 11.340/2006 cita e conceitua ainda, a violência sexual como sendo, qualquer ato que constranja o indivíduo a presenciar, manter ou participar de uma prática sexual não desejada. Ou ainda o anulamento dos direitos sexuais e reprodutivos, seja por meio da proibição do uso de métodos contraceptivos, da prostituição ou da indução ao aborto. Esse tipo de violência se configura como uma violação dos direitos sexuais e reprodutivos e como uma das formas mais hediondas de violência (PORTO, 2014).
O Ministério da Saúde estabeleceu distinções sobre as tipologias de violência doméstica e sexual, referindo-se às modalidades ou expressão dos atos violentos, que podem ocorrer de maneira isolada ou concomitante. Portanto, segundo Porto (2014), a violência doméstica pode ser perpetradapelas seguintes formas: violência física; violência psicológica; violência sexual; tráfico de pessoas; violência financeira e econômica; negligência e abandono; trabalho infantil e intervenção legal.
Assim, segundo Madureira et al. (2014) a violência contra as mulheres é um fenômeno que se desenvolve no nível relacional e societal e, assim, não pode ser entendida, sem considerar a construção social, política e culturaldas relações estabelecidas entre homens e mulheres, por esta razão, seu enfrentamento requer mudanças culturais, educativas e sociais. Frente ao exposto, a legislação brasileira, por meio da Lei nº 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, ao mesmo tempo em que contempla medidas protetoras voltadas às vítimas e acentua a punição dos agressores, estabelece que o poder público possa promover centros de educação e reabilitação de agressores, com vistas a atuar na constituição de seu comportamento violento. Dessa forma, a aprovação da referida lei favoreceu a construção de um novo lugar para os debates sobre a atenção à violência, no qual

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