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1 Primeira Prova de BBPM III Regulação Genética do Ciclo Celular - A função básica do ciclo celular é duplicar, de forma exata, a imensa quantidade de DNA nos cromossomos, e então segregar com precisão as cópias em duas células-filhas geneticamente idênticas. - O ciclo celular é composto de duas principais fases: - Fase S: ocorre a duplicação dos cromossomos (S de síntese de DNA). Requer de 10 a 12 horas. - Fase M: ocorre a segregação dos cromossomos e a divisão celular (M de mitose), que requer muito menos tempo (menos de uma hora em uma célula de mamífero). A fase M compreende dois eventos principais: a divisão nuclear, ou mitose, durante a qual os cromossomos copiados são distribuídos em um par de núcleos-filhos; e a divisão citoplasmática, ou citocinese, quando a própria célula se divide em duas. - Ao fim da fase S, as moléculas de DNA em cada par de cromossomos duplicados se entrelaçam e são mantidas fortemente unidas por ligações proteicas especializadas. No começo da mitose, em um estágio chamado de prófase, as duas moléculas de DNA são gradativamente desembaraçadas e condensadas em pares de bastonetes rígidos e compactos chamados de cromátides-irmãs, as quais permanecem ligadas por meio da coesão de cromátides-irmãs. Quando posteriormente o envelope nuclear se desmantela na mitose, os pares de cromátides-irmãs ficam ligados ao fuso mitótico. As cromátides- irmãs são fixadas a polos opostos do fuso, e, finalmente, todas as irmãs se alinham no equador do fuso em um estágio chamado de metáfase. A destruição da coesão de cromátides-irmãs, no início da anáfase, separa as cromátides-irmãs, que são puxadas para polos opostos do fuso. O fuso é em seguida desmontado, e os cromossomos segregados são empacotados em núcleos separados na telófase. A citocinese então cliva a célula em duas, de forma que cada célula-filha herde um dos dois núcleos. - A maioria das células necessita de muito mais tempo para crescer e duplicar sua massa de proteínas e organelas do que o necessário para duplicar seus cromossomos e se dividir. A fim de reservar, em parte, mais tempo para o crescimento, a maioria dos ciclos celulares possui fases de intervalo extras - a fase G1 entre a fase M e a fase S, e a fase G2 entre a fase S e a mitose. - G2: assegura a completa replicação do DNA antes da mitose; existe pequena síntese de RNA e proteínas essenciais para o início da mitose; inicia-se a condensação da cromatina para que a célula possa progredir para a mitose. - As fases G1, S e G2 são em conjunto chamadas de intérfase. O crescimento celular ocorre ao longo do ciclo celular, exceto durante a mitose. - As duas fases de intervalo são mais do que um simples retardo de tempo que garante o crescimento celular. Elas também dão tempo para que a célula monitore o ambiente interno e externo a fim de se assegurar de que as condições são adequadas e os preparativos estejam completos, antes que a célula se comprometa com as principais transformações da fase S e da mitose. Nesse sentido, a fase G1 é especialmente importante. Sua duração pode variar imensamente, dependendo das condições externas e de sinais extracelulares de outras células. Se as condições extracelulares são desfavoráveis, por exemplo, as células retardam a progressão a G1 e podem entrar em um estado de repouso especializado conhecido como G0, no qual podem permanecer por dias, semanas ou mesmo anos antes que a proliferação seja retomada. Se as condições extracelulares são favoráveis e os sinais para crescer e se dividir estão presentes, as células no início de G1 ou G0 avançam até um ponto de comprometimento próximo ao fim de G1 conhecido como Início (em leveduras) ou ponto de restrição (em células de mamíferos). - Uma vez passado esse ponto, as células se comprometem com a replicação do DNA, mesmo que os sinais extracelulares que estimulam o crescimento e a divisão celular sejam removidos. - O sistema de controle do ciclo celular: - Sinais químicos que controlam o ciclo provêm de fora e de dentro da célula: - Sinais externos: hormônios, fatores de crescimento. - Sinais internos: dois tipos de proteínas ciclinas e quinases (Cdks). - Os sinais externos se ligam à receptores de membrana das células alvo e o complexo receptor-ligante ativa a produção de sinalizadores intracelulares. Esses sinalizadores ativam uma cascata de fosforilação intracelular, induzindo a expressão de genes. O produto da expressão desses genes serão os componentes essenciais do Sistema de Controle do Ciclo Celular (composto por Cdks e ciclinas). - Na maioria das células eucarióticas, o sistema de controle do ciclo celular ativa a progressão do ciclo celular em três principais pontos de transição reguladora, ou pontos de verificação ou de checagem, nos quais o ciclo pode ser interrompido se os eventos 2 anteriores não se completarem. Além de fornecerem tempo para que o dano seja reparado, os pontos de checagem também são importantes, pois são pontos do ciclo que podem sofrer regulação de sinais extracelulares de outras células. Estes sinais podem promover ou inibir a proliferação celular e tendem a agir regulando o progresso no ponto de checagem em G1. - Os pontos de checagem tendem a agir por meio de sinais intracelulares negativos que interrompem o ciclo celular, em vez da remoção dos sinais positivos que normalmente estimulam o avanço do ciclo celular. - O primeiro ponto de verificação é o ponto de restrição no final de G1 onde a célula se compromete à entrada no ciclo celular e à duplicação dos cromossomos. - O segundo é o ponto de verificação G2/M, onde o sistema de controle desencadeia os eventos mitóticos iniciais que levam ao alinhamento dos cromossomos no fuso metafásico. - O terceiro é a transição entre metáfase e anáfase, onde o sistema de controle estimula a separação das cromátides-irmãs, levando à conclusão da mitose e da citocinese. - O sistema de controle bloqueia a progressão a cada um desses pontos de verificação se detecta problemas dentro ou fora da célula. Se o sistema de controle percebe problemas na conclusão da replicação do DNA, por exemplo, ele manterá a célula no ponto de verificação G2/M até que aqueles problemas sejam resolvidos. Similarmente, se as condições extracelulares não são apropriadas à proliferação celular, o sistema de controle bloqueia a progressão ao ponto de restrição, impedindo com isso a divisão celular até que as condições se tornem favoráveis. - Os componentes centrais do sistema de controle do ciclo celular são membros de uma família de cinases conhecidas como cinases dependentes de ciclinas (Cdks). As atividades dessas cinases sobem e descem à medida que a célula avança no ciclo, levando a mudanças cíclicas na fosforilação de proteínas intracelulares que iniciam ou regulam os principais eventos do ciclo celular. - O aumento da atividade das Cdks no ponto de verificação G2/M, por exemplo, aumenta a fosforilação de proteínas que controlam a condensação dos cromossomos, a desintegração do envelope nuclear, a montagem do fuso e outros eventos que ocorrem no início da mitose. - As mudanças cíclicas na atividade das Cdks são controladas por um complexo arranjo de enzimas e outras proteínas que regulam essas cinases. O mais importante desses reguladores das Cdks são proteínas conhecidas como ciclinas. As Cdks, como implica o nome, são dependentes de ciclinas para sua atividade: a menos que estejam fortemente ligadas a uma ciclina, elas não têm atividade de cinase. - As ciclinas foram originalmenteassim denominadas porque sofrem um ciclo de síntese e degradação a cada ciclo celular. Por outro lado, os níveis das proteínas Cdk são constantes, ao menos nos ciclos celulares mais simples. As mudanças cíclicas nos níveis proteicos de ciclinas resultam na montagem e na ativação cíclica dos complexos de ciclina-Cdk; por sua vez, essa ativação desencadeia eventos do ciclo celular. - Existem quatro classes de ciclinas, cada uma definida pelo estágio do ciclo celular no qual se ligam às Cdks e em que funcionam: 1. G1/S-ciclinas: ativam Cdks no final de G1 e, com isso, ajudam a desencadear a progressão ao ponto de restrição, resultando no comprometimento à entrada no ciclo celular. Seus níveis caem na fase S. 2. S-ciclinas: se ligam a Cdks logo após a progressão ao ponto de restrição e ajudam a estimular a duplicação dos cromossomos. Os níveis das S-ciclinas permanecem elevados até a mitose, e essas ciclinas também contribuem ao controle de alguns eventos mitóticos iniciais. 3. M-ciclinas: ativam Cdks que estimulam a entrada na mitose no ponto de verificação G2/M. Mecanismos que discutiremos posteriormente destroem as M-ciclinas no meio da mitose. 4. Na maioria das células, uma quarta classe de ciclinas, as G1-ciclinas, ajuda a regular as atividades das G1/S- ciclinas, as quais controlam, no final de G1, a progressão ao ponto de restrição. - Os diferentes complexos ciclina-Cdk direcionam os diferentes eventos do ciclo celular não somente através da ativação, pela proteína ciclina, de sua Cdk associada, mas também as ciclinas conduzem as Cdks para as proteínas-alvo específicas. - O aumento e a diminuição dos níveis de ciclinas são os determinantes primordiais da atividade das Cdks durante o ciclo celular. Contudo, vários mecanismos adicionais ajustam precisamente a atividade das Cdks em estágios específicos do ciclo. - A ligação de proteínas inibidoras de Cdk (CKIs, Cdk inhibitor proteins) também regula os complexos de ciclina-Cdk. A estrutura tridimensional de um complexo de ciclina-Cdk-CKI revela que a ligação de CKI estimula um grande rearranjo na estrutura do sítio ativo da Cdk1, tornando-o inativo. 3 - O controle do ciclo celular depende crucialmente de pelo menos dois complexos diferentes de enzimas, que atuam em diferentes momentos do ciclo, causando a proteólise das proteínas-chave do sistema de controle do ciclo celular, inativando-as. Mais notavelmente, os complexos ciclinas-Cdks são inativados pela proteólise regulada de ciclinas em certos estágios do ciclo celular. A destruição dessas ciclinas ocorre por um mecanismo ubiquitina- dependente. Um complexo de enzimas ativadas reconhece sequencias específicas de aminoácidos nas ciclinas e fixa múltiplas cópias de ubiquitina nelas, marcando a proteína para a destruição completa nos proteossomos. - Nos ciclos celulares mais complexos da maioria dos tipos celulares, o controle transcricional proporciona um nível adicional de regulação. Os níveis de ciclinas em muitas células, por exemplo, são controlados não somente por mudanças na degradação da ciclina, mas também por mudanças na transcrição dos genes da ciclina, e na síntese da ciclina. - Controle intracelular dos eventos do ciclo celular: - O complexo ciclina-CDK Fase-S (S-Cdks) inicia a replicação do DNA uma vez por ciclo: - Uma célula deve resolver vários problemas para controlar o inicio e o termino da replicação do DNA. Não somente a replicação deve ocorrer com extrema exatidão, para minimizar riscos de mutações na próxima geração da célula, mas todos os nucleotídeos do genoma devem ser copiados uma vez, para evitar danos na amplificação dos genes. - Os primeiros dados sobre a regulação na fase S veio de estudos em que as células humanas de vários estágios do ciclo celular estavam unidas para formar uma única célula com dois núcleos. Esses experimentos revelaram que, quando uma célula em fase G1 é fusionada com uma célula em fase S, a replicação do DNA ocorre no núcleo da G1 (presumivelmente desencadeada pela atividade da S-Cdk na célula em fase S). A fusão de uma célula em fase G2 com uma célula em fase S, entretanto, não promove a síntese de DNA no núcleo da G2. Esses estudos fornecem uma clara sugestão de que somente as células em G1 são competentes para iniciar a replicação do DNA, e que as células que tenham completado a fase S (células G2) são incapazes de re-replicarem seus DNAs, mesmo quando fornecida uma S-Cdk ativa. Aparentemente, a passagem pela mitose é necessária para a célula recuperar a capacidade de sofrer a fase S. - O inicio da mitose é bloqueado pela replicação incompleta do DNA: o ponto de checagem da replicação do DNA (checkpoint 2) - Se uma célula inicia a mitose antes de ter finalizado a replicação do DNA, ela irá passar grupos de cromossomos quebrados ou incompletos para as células-filhas. Este desastre é evitado, em muitas células, pelo mecanismo de ponto de checagem da replicação do DNA, que se certifica de que o inicio da mitose não ocorra até que o último nucleotídeo do genoma tenha sido copiado. Os mecanismos sensores, de natureza molecular desconhecida, detectam o DNA não-replicado ou uma forquilha de replicação não- finalizada e mandam sinais negativos para o sistema de controle do ciclo celular, bloqueando a ativação da M- Cdk. - Os cromossomos não-fixados bloqueiam a separação das cromátides-irmã: ponto de checagem da fixação do fuso (checkpoint 3) - Em muitos tipos celulares, o mecanismo de ponto de checagem da fixação do fuso opera para garantir que todos os cromossomos estejam apropriadamente fixados no fuso antes que ocorra a separação das cromátides- irmã. O ponto de checagem depende de um mecanismo sensor que monitora o estado de cinetócoro, uma região especializada no cromossomo que fixa os microtúbulos no fuso. Qualquer cinetócoro que não estiver apropriadamente fixado no fuso manda um sinal negativo para o sistema de controle do ciclo celular, bloqueando a ativação da anáfase e, com isso, a separação das cromátides-irmã. - A proteína Rb age como um freio nas células G1 de mamíferos: - As células animais suprimem a atividade da Cdk em G1 por três mecanismos: a ativação da Hct1, a acumulação da proteína p27 e a inibição da transcrição dos genes da ciclina. A ativação do complexo G1-Cdk reverte todos os três mecanismos inibitórios no final de G1. - Existe uma proteína reguladora do gene, a E2F, que se liga a sequências específicas de DNA nos promotores de muitos genes que codificam proteínas necessárias para a entrada na fase S, incluindo a G1/S-ciclina e a S- ciclina. A função da E2F é principalmente controlada por uma interação com a proteína retinoblastoma (Rb), uma inibidora da progressão do ciclo celular. Durante a G1, a Rb liga-se à E2F e bloqueia a transcrição dos genes da fase S. Quando as células são estimuladas a se dividir pelos sinais extracelulares, a G1-Cdk ativa acumula-se e fosforila a Rb, reduzindo a sua afinidade por E2F. A Rb então se dissocia, permitindo que a E2F ative a expressão dos genes da fase S. 4 - Esse sistema inclui uma retroalimentação que reforça a transcrição G1/S: - O E2F livre aumenta a transcrição do seu próprio gene. - A transcrição do E2F-dependente dos genes G1/S ciclinas e S-ciclina leva a um aumento na atividade das G1/S-Cdk e S-Cdk, que aumentam a fosforilação de Rb e promovem mais liberações de E2F. - O aumento na atividade da G1/S-Cdk e da S- Cdk eleva a fosforilação da Hctl e da p27, levandoa suas inativações ou destruições. - A continuidade do ciclo celular é bloqueada por danos no DNA e pela p53: ponto de checagem do DNA danificado (checkpoint 1) - Quando os cromossomos estão danificados, como pode ocorrer após exposições à radiação ou a certos agentes químicos, é essencial que eles possam ser reparados antes de a célula tentar duplicar ou segregar. O sistema de controle do ciclo celular pode prontamente detectar o dano no DNA e parar o ciclo no ponto de checagem: um no final de G1, que impede a entrada na fase S, e um no final de G2, que impede a entrada na fase M. - O ponto de checagem G2 depende de um mecanismo que atrasa a entrada em mitose em resposta à replicação do DNA incompleta. Quando as células em G2 são expostas a radiações danosas, por exemplo, o DNA danificado envia um sinal para uma série de proteíno-quinase que fosforilam e inativam a fosfatase Cdc25. Isso bloqueia a desfosforilação e a ativação da M-Cdk, bloqueando também a entrada em mitose. Quando o dano no DNA é reparado, o sinal inibitório é desligado e o ciclo celular é retomado. - O ponto de checagem G1 bloqueia a continuidade para a fase S por inibir a ativação dos complexos G1/S-Cdk e S-Cdk. Nas células dos mamíferos, por exemplo, os danos no DNA levam à ativação dos genes regulatórios da proteína p53, a qual estimula a transcrição de vários genes. Um desses genes codifica a proteína CKI, denominada p21, que se liga aos complexos G1/S-Cdk e S-Cdk e inibe suas atividades, ajudando a bloquear a entrada na fase S. - O DNA danificado ativa a p53 por um mecanismo indireto. Em células não danificadas, a p53 é altamente instável e está presente em baixas concentrações. Isso acontece porque ela interage com outra proteína, a Mdm2, que age como uma ubiquitina-ligase que se liga a p53 para a sua destruição pelos proteossomos. O DNA danificado ativa a proteíno-quinase que fosforila a p53 e reduz a ligação com a Mdm2. Isso diminui a degradação da p53, o que resulta em um notável aumento na concentração da p53 na célula. Além disso, a diminuição na ligação com a Mdm2 aumenta a capacidade da p53 de estimular a transcrição do gene. 5 - Mutações pontuais: Classificam-se as mutações pontuais em duas categorias: a) As mutações de troca de sentido (missense) definem-se pela codificação de um aminoácido diferente do normal. Os efeitos fenotípicos são em princípio tanto mais drásticos quanto maior for a diferença na natureza química das cadeias laterais dos resíduos dos aminoácidos em causa (por exemplo a substituição de um resíduo polar por um apolar, ou a inversão da carga eléctrica do resíduo), mas também dependem altamente do papel que esse resíduo desempenha na estrutura e função da proteína em causa: mesmo as chamadas substituições conservadoras (entre resíduos quimicamente semelhantes, por exemplo leucina, L, e isoleucina, I), se incidirem numa posição "sensível" da proteína (nomeadamente no centro ativo), podem resultar na inativação da proteína, ou numa atividade anormal da mesma. Por exemplo, a mutação CUA → AUA é missense (leucina em isoleucina) conservadora; a mutação CAU → GAU é missense (histidina, H, em aspartato, D) e inverte a carga eléctrica; a mutação CUA → CCA é missense (leucina em prolina, P) e, apesar de manter o carácter neutro do resíduo, pode ter efeitos muito drásticos se ocorrer numa hélice α da proteína; a mutação UGU → UAU é missense (cisteína, C, em tirosina, Y) e também pode ser muito drástica se impedir a formação de uma ponte dissulfureto (de cisteínas) envolvendo essa posição no polipeptídio. b) Nas mutações sem sentido (nonsense), um determinado códon de resíduo de aminoácido é substituído por um códon de terminação (por exemplo, na mutação UGG → UGA), resultando num polipeptídio truncado, que também pode ter efeitos muito diversos segundo os casos. Certas mutações supressoras de nonsense localizam-se em tRNAs que impedem que a tradução termine porque emparelham com o códon de terminação da mutação nonsense, introduzindo um aminoácido, possivelmente em missense. c) Nas mutações frameshift, houve a inserção ou a deleção de pares de nucleotídeos (em número não múltiplo de 3), fazendo com que no mRNA respectivo o ribossomo passe a identificar códons defasadamente a partir desse ponto (a 3' da mutação, portanto), produzindo uma cadeia polipeptídica que não só tem uma série de mutações missense como tem um número de aminoácidos diferente (geralmente menor) do que o normal. Por exemplo, se a terceira adenina na sequência de códons AAG- AUU-UCC-UCA-AUG-GAA-U fosse removida, o peptídeo correspondente seria ...KFPQWN... em vez do ...KISSME... normal. Genômica e Genética do Câncer - O câncer não é uma doença única, mas um nome usado para descrever as mais virulentas formas de neoplasia, um processo de doença caracterizado por proliferação celular descontrolada, que leva a uma massa ou tumor (neoplasma). Entretanto, para o neoplasma ser um câncer, ele deve ser também maligno, o que significa que o seu crescimento não é mais controlado e o tumor é capaz de progredir invadindo tecidos vizinhos ou espalhando-se (metastatizando) para locais mais distantes, ou ambos. - Os tumores que não invadem ou metastatizam não são cancerosos, mas são referidos como tumores benignos, embora seu tamanho e localização possam torna-los tudo, menos benignos ao paciente. - A neoplasia é um acúmulo anormal de células que ocorre devido a um desequilíbrio entre a proliferação celular e o desgaste celular. As células proliferam à medida que passam pelo ciclo celular e sofrem mitose. O desgaste, devido à morte celular programada remove as células de um tecido. - O desenvolvimento do câncer (oncogênese) resulta de mutações em um ou mais do vasto arranjo de genes que regulam o crescimento celular e a morte celular programada. - Quando o câncer ocorre como parte de uma síndrome de câncer hereditário, a mutação inicial causadora do câncer é herdada através da linhagem germinativa e, portanto, já presente em cada célula do corpo. Entretanto, a maioria dos cânceres é esporádica porque as mutações ocorrem em uma única célula somática, que então se divide e prossegue para desenvolver um câncer. - Muitas mutações ocorrem, sem dúvida, nas células somáticas e fazem com que uma célula, entre muitas, perca a função ou morra, mas essas mutações não têm efeitos fenotípicos, porque a perda de uma célula é mascarada pela grande maioria de células saudáveis em um órgão ou tecido. O que distingue as mutações oncogênicas é que, por sua natureza, elas permitem que uma célula mutante se desenvolva em uma doença que ameaça a vida. - O catálogo de genes envolvidos no câncer inclui também os genes que são transcritos em RNAs não-codificantes a partir dos quais microRNAs (miRNAs) reguladores são gerados. Existem, pelo menos, 250 miRNAs no genoma humano que realizam a inibição mediada por RNA da expressão de seus genes-alvo codificadores de proteína, ou por induzirem a degradação dos seus mRNAs-alvo ou por bloquearem sua tradução. Aproximadamente, 10% dos miRNAs são encontrados fortemente hiperexpressos ou inibidos em vários tumores, algumas vezes de maneira tão notável, e são referidos como oncomirs. - Uma vez iniciado, um câncer progride por acúmulo adicional de danos genéticos através de mutações em genes de manutenção, que codificam a maquinaria celular que repara o DNA danificado e mantêm a normalidade citogenética. As lesões nesses genes produzem uma cascata pior de mutações em um número crescentede genes que controlam a proliferação celular e o reparo aos danos do DNA. Dessa forma, o clone original de células neoplásicas funciona como um reservatório de células geneticamente instáveis, conhecidas como células-tronco do câncer. Estes dão origem a múltiplas sublinhagens de graus variáveis de malignidade, cada uma carreando um conjunto de mutações que são diferentes, mas que se sobrepõem com mutações de outras sublinhagens. - Nesse contexto, o câncer é, fundamentalmente, uma doença “genética” e as mutações são centrais para sua etiologia e progressão. 6 - Os genes nos quais as mutações causam câncer são classificados em duas categorias distintas: os oncogenes e os genes supressores tumorais (TSGs). Os TSGs, por sua vez, são os “controladores” ou os “de manutenção”. Oncogenes: - Um oncogene é um alelo mutante de um proto-oncogene, uma classe de genes normais que codificam proteínas que promovem o crescimento e a sobrevivência das células. Com isso, sua função ou expressão alterada resulta em uma estimulação anormal da divisão e proliferação celular. Os oncogenes facilitam a transformação maligna por estimularem a proliferação ou a inibição da apoptose. - A mutação pode ser uma mutação ativadora de ganho de função na sequencia que codifica o próprio oncogene, ou uma mutação nos seus elementos reguladores ou ainda um aumento do número de cópias genômicas, levando a uma função heterocrônica ou ectópica desregulada do produto do oncogene. - Os oncogenes tem um efeito dominante a nível celular; isto é, quando ele é ativado ou hiperexpressos, um único alelo mutante é suficiente para iniciar a mudança do fenótipo de uma célula, de normal para maligno. - Os oncogenes ativados codificam proteínas que agem em muitas etapas na via que controla o crescimento celular, incluindo os fatores de crescimento que estimulam a divisão celular, os receptores e proteínas citoplasmáticas que traduzem esses sinais, os fatores de transcrição que respondem aos sinais traduzidos e as proteínas que impedem a apoptose. - Ativação de Oncogenes por translocação cromossômica: - Nem sempre os oncogenes são resultados de uma mutação do DNA. Em alguns casso, um proto-oncogene é ativado por uma mutação cromossômica, geralmente através de translocação. Em alguns casos, os pontos de quebra das translocações são dentro dos íntrons de dois genes, fusionando dois genes em um gene anormal que codifica uma proteína quimérica com novas propriedades oncogênicas. Ex: - Leucemia Mielóide Crônica: A anomalia cromossômica observada é o cromossomo Philadelphia, resultado da translocação entre os cromossomos 9 e 22. A translocação move o proto-oncogene ABL, uma tirosina quinase, de sua posição normal no cromossomo 9q para a “região de grupo de ponto de quebra” do gene (BCR), um gene de função desconhecida no cromossomo 22q. A justaposição das sequencias BCR e das sequencias ABL permite a síntese de uma proteína quimérica que é maior do que a proteína ABL normal e que tem a atividade de tirosina quinase aumentada. O aumento da atividade da tirosina quinase da nova proteína codificada pelo gene quimérico constitui-se no evento primário que causa a leucemia crônica. - A telomerase como um oncogene: - Outro tipo de oncogene é o gene que codifica a telomerase, uma transcriptase reversa que é necessária para sintetizar a repetição hexamérica TTTAGG, como um componente dos telômeros, nas extremidades dos cromossomos. - A medida que a função da telomerase é perdida, os telômeros encurtam, com uma perda de cerca de 35 pares de base de repetições teloméricas de DNA, a cada divisão celular. Após centenas de divisões celulares, as extremidades dos cromossomos ficarão danificadas. Por sua vez, o dano ao DNA faz com que as células parem de se dividir e entrem na fase de G0 do ciclo celular; finalmente as células entram em apoptose. Ao contrário, em muitos tumores, a expressão da telomerase persiste e permite às células tumorais proliferarem indefinidamente. Em alguns casos, o surgimento da atividade da telomerase é resultado de mutações cromossômicas ou genômicas que hiperexpressam diretamente o gene da telomerase; em outros casos, a telomerase pode ser apenas um dos muitos genes cuja expressão é alterada por um oncogene transformante. Genes supressores de tumor: - Enquanto as proteínas codificadas pelos oncogenes promovem o câncer, as mutações nos genes supressores de tumor (TSGs) contribuem para a malignidade por um mecanismo diferente, isto é, através da perda de função de ambos os alelos de um gene. - Os TSGs são altamente heterogêneos. Alguns suprimem realmente os tumores por regularem o ciclo celular ou por causarem a inibição do crescimento pelo contado célula-célula. Os 7 TSGs desse tipo são os controladores porque eles regulam diretamente o crescimento celular. Outros TSGs, os de manutenção, estão envolvidos no reparo de danos ao DNA e na manutenção da integridade genômica. - A perda de ambos os alelos de genes que estão envolvidos no reparo de danos ao DNA ou quebras cromossômicas leva indiretamente ao câncer, pois permite que mutações secundárias adicionais se acumulem ou em proto-oncogenes ou em outros TSGs. - O Modelo dos “dois eventos” da origem do câncer: - A existência de mutações no TSG, levando ao câncer, foi proposta originalmente nos anos 1960 para explicar por que certos tumores podem ocorrem em ambas as formas, hereditária e esporádica. - Por exemplo, foi sugerido que a forma hereditária do câncer infantil retinoblastoma, podia ser iniciada quando uma célula, em uma pessoa heterozigota para mutação na linhagem germinativa em um gene supressor de tumor retinoblastoma, o qual é necessário para impedir o desenvolvimento do câncer, sofre uma segunda mutação, um evento somático, que inativa o outro alelo. Como consequência desse segundo evento somático, a célula perde a função de ambos os alelos, originando um tumor. O segundo evento em geral é uma mutação somática, embora a perda de função sem mutação, tal como ocorre com o silenciamento transcricional, tenha sido também observada em algumas células cancerosas. - Na forma esporádica do retinoblastoma, ambos os alelos estão também inativados, mas, nesse caso, a inativação resulta de dois eventos somáticos que ocorrem na mesma célula. - O modelo dos “dois eventos” é agora amplamente aceito como uma explicação para muitos cânceres familiares além do retinoblastoma. - Nesses cânceres familiares, o segundo evento é frequente, mas nem sempre é uma mutação. Pode ocorrer o silenciamento devido a alterações epigenéticas, como a metilação do DNA, associada à configuração de cromatina fechada e perda de acesso do DNA aos fatores de transcrição, é outro mecanismo molecular que pode levar a perda de função do gene TSG. - Como uma alteração na função do gene, devida à metilação, é transmitida de maneira estável através da mitose, ela se comporta como uma mutação; entretanto, porque não há mudança no próprio DNA, a alteração é referida como epigenética, em vez de alteração genética. Genes Supressores Tumorais Protetores nas Síndromes de Câncer Autossômicas Dominantes: - Retinoblastoma: - Causada por mutação em um TSG. - É um raro tumor maligno da retina, que afeta crianças. - O diagnóstico de retinoblastoma deve normalmente ser seguido pela remoção do olho afetado, embora em tumores menores, diagnosticados em estágio inicial, possam ser tratados por terapia local, de modo que a visão possa ser preservada.- 40% tem origem hereditária, na qual a criança herda um alelo mutante no locus de retinoblastoma (RB1), através da linhagem germinativa. Uma mutação somática ou outra alteração em uma única célula da retina leva a perda da função do alelo normal restante iniciando, assim, o desenvolvimento do tumor. - O distúrbio é herdado como uma característica dominante, porque um grande número de retinoblastos primordiais e sua rápida taxa de proliferação tornam muito provável que uma mutação somática ocorra em um ou mais dos mais de 106 retinoblastos. Como a chance de um segundo evento na forma hereditária é muito grande, o evento ocorre, frequentemente, em mais de uma célula e, portanto, os heterozigotos para o distúrbio são sempre afetados com tumores múltiplos que acometem sempre os dois olhos. Por outro lado, a ocorrência do segundo evento é uma questão de chance e não ocorre em 100% das vezes; portanto, a penetrância do retinoblastoma, embora alta, não é completa. - Os outros 60% dos casos são esporádicos; nesses casos, ambos os alelos RB1, em uma única célula da retina, foram inativados independentemente. Por ser os dois eventos na mesma célula um evento raro, em geral, há apenas um único tumor clonal, e o retinoblastoma é encontrado em apenas um olho. - A forma esporádica geralmente tem inicio no inicio da infância, mais tarde do que as crianças com a forma hereditária. - Perda da heterozigose: - Os indivíduos com retinoblastoma os quais eram heterozigotos no loci polimórficos próximos ao RB1 em tecidos normais, tais como nos seus leucócitos, tinham tumores que continham alelos de apenas um dos seus dois cromossomos 13 homólogos, revelando a perda da heterozigose (LOH) na região do gene. Em casos familiares, os marcadores mantidos para o cromossomo 13 eram aqueles herdados do genitor afetado, isto é, o com o alelo RB1 anormal. Assim, a LOH representou o segundo evento do alelo restante. - A LOH pode ocorrer por deleção intersticial, mas existem outros mecanismos, tais como a recombinação mitótica ou não-disjunção. - A LOH é o mecanismo mutacional mais comum, pelo qual a função do alelo restante RB1 normal é perdida em heterozigotos. Quando a LOH não é observada, o segundo evento é, geralmente, uma segunda mutação gênica somática ou, ocasionalmente, a inativação transcricional de um alelo não-mutado, através da metilação. - A LOH é uma característica de vários outros tumores hereditários e esporádicos e é sempre considerada 8 evidência da existência de um TSG, mesmo quando esse gene é desconhecido. - Síndrome de Li-Fraumeni (SLF): - Existem cânceres familiares raros nos quais há uma história marcante de muitas formas diferentes de câncer (incluindo várias espécies de sarcoma de osso e de tecidos moles; câncer de mama, tumores cerebrais, leucemia e carcinoma adrenocortical), que afetam vários membros da família, em idade incomumente jovem, herdados em padrão autossômico dominante. - Como o TSG TP53, que codifica a proteína p53, está inativado nas formas esporádicas de muitas dos cânceres encontrados na Síndrome de Li-Fraumeni, o TP53 foi considerado um candidato para o gene defeituoso nessa Síndrome. - Os membros afetados em mais que 70% das famílias com SLF são portadoras de uma forma mutante do gene TP53 como uma mutação de linhagem germinativa. Como observado também no retinoblastoma, uma das duas mutações necessárias para inativar o gene TP53 está presente na linhagem germinativa da LFS familiar, enquanto em muitos cânceres esporádicos, ambas as mutações são eventos somáticos. - A proteína p53 é uma proteína de ligação ao DNA que parece ser um componente importante da resposta celular aos danos no DNA. Além de ser um fator de transcrição que ativa a transcrição de genes que cessa a divisão celular e permite o reparo de danos ao DNA, a p53 parece, também, estar envolvida na indução de apoptose de células que tenham sofrido danos irreparáveis ao DNA. Portanto, a perda de função da p53 permite que as celulas com DNA danificado sobrevivam e se dividam, propagando, assim, as mutações potencialmente oncogênicas. O gene TP53 pode, portanto, ser também considerado um TSG controlador. Genes de Manutenção em Síndromes Autossômicas Dominantes: - Câncer de Mama Familiar devido a mutações em BRCA1 e BRCA2: - O câncer de mama tem sido há muito tempo reconhecido como um possuidor de um forte componente genético. - Embora até 20% de todos os casos de câncer de mama possam ter um componente genético significativo, como parte de um modo de herança multifatorial ou poligênica, apenas uma pequena proporção de casos parece ser devida a uma predisposição mendeliana herdada dominantemente ao câncer de mama. Essas famílias compartilham perfis característicos de câncer familiar (oposto ao esporádico): várias pessoas afetadas na família, idade jovem para o início, doença bilateral frequente e cânceres em outros tecidos, como ovário e próstata. - Os estudos de ligação genética em famílias com câncer de mama familiar de início precoce levaram à descoberta de mutações em dois genes que aumentam a suscetibilidade ao câncer de mama, o BRCA1 no cromossomo 17q21 e o BRCA2 no cromossomo 13q12.3. - Em conjunto, esses dois loci são responsáveis por cerca de metade e de um terço do câncer de mama familiar autossômico dominante, respectivamente, mas por menos que 5% de todos os cânceres de mama na população. - As mutações em BRCA1 e BRCA2 estão associadas a um aumento do risco de câncer de ovário em mulheres heterozigotas; as mutações em BRCA2 também respondem por 10 a 20% de todos os cânceres de mama masculinos. - Os produtos dos genes BRCA1 e BRCA2 são proteínas nucleares contidas dentro do mesmo complexo multiprotéico. Esse complexo foi implicado na resposta celular à quebra do filamento duplo do DNA, como normalmente ocorre durante a recombinação homóloga ou anormalmente como resultado de lesão no DNA. Como deve ser esperado de qualquer TSG, o tecido tumoral de heterozigotas para mutações em BRCA1 e BRCA2 demonstra, frequentemente, LOH com perda do alelo normal. - Xeroderma pigmentoso: - Caracteriza-se pelo desenvolvimento precoce de câncer. - Fotosensibilidade aguda, sardas. - 45% desenvolvem carcinomas – risco 1000X maior - Autossômico recessivo – mutação no gene de reparo de lesões ultravioletas - Envelhecimento: - Com o envelhecimento, há um maior tempo de exposição a cancerígenos e também, um acúmulo de lesões não corrigidas de DNA. Com isso, o aumento da incidência de câncer é maior. Envelhecimento do SNC - Envelhecimento: susceptibilidade a processos “deletérios” da passagem do tempo. - Sistema Nervoso: - Alta demanda energética: importância da circulação sanguínea preservada. - Baixíssima capacidade de substituição de neurônios: exceto em áreas restritas e em pequena quantidade. - Especialmente susceptível a radicais livres: manutenção da bainha de mielina. - Envelhecimento: - Peso do encéfalo decai com a idade. - Contagem de sinapses decai com a idade. - Deterioração do engrama. - Declínio de escores em testes de memória. 9 - Declínio cognitivo pode ser retardado em indivíduos idosos que exercitam memória declarativa e não declarativa: ativação cerebral compensatória de maior área cerebral. - Compensação neural: o indivíduo idoso que mantém performance ativa mais áreas cerebrais do que o indivíduo jovem com a mesma performance. - Fatores que influenciam a estrutura e função cerebrais no envelhecimento: estilode vida; genética/epigenética; hormônios; sono; utilização de glicose; metabolismo sináptico; metilação do DNA; risco vascular; neuroinflamação; agregação proteica. - Idosos apresentam alterações na cognição, na função neural e na estrutura neural. As causas são debatidas: declínio neural é relacionado à idade (não-patológico) ou teria contribuição de doenças neurodegenerativas? - Doenças neurodegenerativas no idoso: - Doença de Alzheimer: afeta 1% das pessoas acima de 65 anos e até 30% das pessoas com 80 anos ou mais. - Doença de Parkinson: Até 10% da população de idosos é acometida. - Doença cerebrovascular: 20 a 30% dos indivíduos mais idosos apresentam; assintomática. - Iniciam de forma discreta vários anos antes do inicio sintomático (formas pré-clínicas). - Doença de Alzheimer: - Diminuição progressiva das habilidades cognitivas incompatíveis com o funcionamento independente: demência. - Inicio com amnésia anterógrada. - Declínio cognitivo inicial discreto. - É tão comum que já foi sugerido que esteja relacionada com o avanço normal da idade. - Definida por associação de sintomas cognitivos com o achado neuropatológico de placas senis (agregados de amiloide beta) e enovelamento neurofibrilares (proteína tau fosforilada associada à microtúbulos, agregada em filamentos pares helicoidais). - Doença cerebrovascular: - Derrame ou infarto cerebral são associados ao avanço da idade e ao declínio cognitivo. - Alterações na substância branca subcortical, redução do volume do córtex cerebral e oclusão de pequenas veias (infarto silencioso) são encontradas no envelhecimento normal. - DVC silenciosa pode ser base para declínio cognitivo no envelhecimento. - A prevenção de hipertensão, obesidade e diabetes pode prevenir envelhecimento cognitivo em pelo menos parte da população idosa. - Reserva cognitiva: indivíduos de alta performance quando jovens podem sofre perda cognitiva, atingindo performance mediana quando idosos. - Há múltiplos fatores que influenciam na estrutura e funções cerebrais, participando do processo de envelhecimento. - É possível ter controle sobre pelo menos parte desses fatores: - Dieta: “anything food for heart is good for the Brain” - Qualidade do sono - Redução da inflamação - Exercícios físicos e cognitivos Alterações Fisiológicas do Envelhecimento - Na velhice ocorre redução da capacidade funcional, que se expressa por dificuldade do organismo se adaptar às condições de sobrecarga funcional, especialmente aquelas que envolvem situações de estresse. - Envelhecimento fisiológico: - Envelhecimento usual ou comum: apresenta prejuízo significativo das funções, mas os indivíduos não são considerados doentes. - Envelhecimento bem-sucedido ou saudável: há perda fisiológica mínima. - Atualmente, considera-se que o envelhecimento relaciona-se fundamentalmente com alterações das proteínas que compõem o organismo. Existem diversos fatores que tem influência sobre os mecanismos de alteração proteica. Entre eles, sem dúvida o principal é o genético. - O DNA sobre modificações contínuas em sua estrutura em resposta a diversos fatores intrínsecos e extrínsecos. Entre os intrínsecos situam-se os radicais livres e as alterações do sistema imunológico, enquanto que entre os extrínsecos citam-se o fator alimentar, a radioatividade, a temperatura e a poluição atmosférica como os mais importantes. A tentativa de manutenção da estabilidade orgânica e funcional é realizada pela ação de enzimas de reparo, que estão deficientes no envelhecimento. - Características biofisiológicas gerais do envelhecimento normal: - Embora o momento de inicio do processo de envelhecimento seja ainda motivo de controvérsia, a maioria dos autores admite que ele tem inicio relativamente precoce, aproximadamente ao final da segunda década de vida, perdurando por mais de uma década pouco perceptível, quando então surgem as primeiras alterações funcionais e/ou estruturas próprias do envelhecimento. Estas são em seu inicio discretas, aumentando progressivamente, não se evidenciando incapacidade funcional total da maioria dos 10 sistemas orgânicos. Constituem exceção à regra dois órgãos – ovário e timo – cujas funções endócrinas diminuem ou mesmo desaparecem com relativa precocidade. Nos demais órgãos ou sistemas vai ocorrendo gradativa redução da reserva funcional, acarretando diminuição da capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático, caracterizado pela dificuldade de adaptação do organismo às modificações dos meios interno e externo. - Paralelamente ao declínio funcional, porém, não com a mesma intensidade e ritmo, ocorrem alterações teciduais, celulares, moleculares e enzimáticas. - Alterações celulares: - Núcleo: modificações de tamanho, inclusões e aumento do número e tamanho dos nucléolos. Além disso, as alterações cromossômicas que consistem de modificações da forma, fragmentação e encurtamento também são vistas. - Citoplasma: acúmulo de grânulos ou pigmentos castanho- amarelados após coloração pela hematoxilina e eosina, denominados lipofuscínicos. Alguns tratam da sua origem como “lixo celular”, ou seja, restos de organelas citoplasmáticas. Fragmentos do aparelho de Golgi, modificações do sistema retículo-endoplasmático e ruptura de lisossomas são também observadas no envelhecimento. - Membrana: peroxidação de lípides insaturados da membrana por radicais livres hidroxila. - Componentes celulares: acúmulo de água no interior das mitocôndrias e reticulo endoplasmático; decréscimo na capacidade celular de reter potássio em seu interior e de manter o sódio em seu exterior por deficiência de Na+-K+-ATPase (adenosinotrifosfatase) da membrana; pode ocorrer também acúmulo de glicogênio a ponto de formar vacúolos visíveis, aparentemente sem prejuízo das funções celulares; há acúmulo de gordura acompanhada da alteração na sua estrutura. - Alterações teciduais: - Sistema colágeno: A destruição do colágeno é realizada por colagenases específicas, produzidas em pequenas quantidades quando necessário. Com o envelhecimento, mais colágeno é formado, surgem ligações cruzadas na molécula e há maior resistência à ação da colagenase. Em consequência disso, aumenta a rigidez dos tecidos e há maior dificuldade de difusão dos nutrientes dos capilares para as células e dos metabólitos para os capilares, o que ocasionaria deterioração progressiva da função celular. - Sistema elástico: com o envelhecimento ocorrem alterações mais evidentes nas fibras elásticas, observando-se aumento na quantidade de fibras, alteração na sua composição de aminoácidos, fragmentação e irregularidades de forma, além do deposito de cálcio. Tais alterações levam à redução da elasticidade dos tecidos que as contêm. - Alterações orgânicas: - Estatura e peso: - A altura atinge seu pico máximo em torno dos 40 anos, diminuindo um centímetro por década até os 70 anos, quando, então, a redução é provavelmente maior. Esse declínio de estatura não é acompanhado da redução de ossos longos dos membros inferiores e superiores. A redução da altura é devida às alterações osteoarticulares da coluna, caracterizadas por achatamento das vértebras, redução dos discos intervertebrais e cifose dorsal; Devido à redução da altura, o IMC considerado normal no idoso varia de 22 a 27 Kg/m². - Em relação ao peso, o que se observa com o envelhecimento é uma redução discreta a partir dos 60 anos de idade. Isto porque ocorre a diminuição da massa celular e redução do peso da grande maioriados órgãos. O aumento do acúmulo de gordura, no entanto, pode ser responsável pela manutenção ou mesmo elevação ponderal. - Composição corpórea: redução da quantidade de água, da massa celular e do conteúdo mineral ósseo, enquanto se eleva a quantidade de tecido gorduroso. A redução da água deve-se quase que exclusivamente ao compartimento intracelular, o que acarreta diminuição da relação intracelular: extracelular de 2:1 no adulto jovem para 1,5:1 no idoso. Essa redução da água intracelular muito provavelmente é decorrente do menor conteúdo de massa celular no idoso do que da diminuição da água de cada célula. A retração do compartimento aquoso do organismo expõe o idoso a graves complicações perante perdas apenas moderadas de líquidos, podendo acarretar quadro de desidratação importante. Por outro lado, para evitar sobrecarga circulatória, a reposição de líquido perdido deve ser lenta. - Alterações das funções do sistema nervoso: - O peso do cérebro diminui significativamente com o envelhecimento, ou seja, apresenta em média redução de 5% aos 70 anos e cerca de 20% aos 90 anos de idade. - A perda de neurônios não é uniforme em todo o sistema nervoso, como por exemplo, o giro temporal superior pode apresentar perda de 50% de seus neurônios, enquanto o inferior perde menos de 10%. - Há acúmulo intraneuronal e intraglial de pigmento lipofuscínico e há, também, redução do número de dendritos e/ou de suas ramificações. - O metabolismo e o fluxo sanguíneo cerebrais podem ser considerados marcadores do envelhecimento cerebral, já que se mostram efetivamente alterados em pessoas idosas. - Alterações das funções do sistema endócrino: - O ADH, que é secretado pelo hipotálamo e armazenado na hipófise posterior, tem sua secreção reduzida em ratos senescentes. No homem idoso, ao contrário, admite-se que haja 11 aumento da secreção ou, pelo menos, potencialização da sua ação, evidenciada: por meio de estímulo induzido por elevação da osmolaridade plasmática, decorrente, por exemplo, da administração de solução salina hipertônica; por menor inibição da sua secreção, verificada após infusão de álcool; ou por metabolização diminuída. É possível que esta maior sensibilidade poderia compensar a reduzida capacidade do rim do idoso para conservar sal e água. De qualquer forma, a secreção aumentada deste hormônio poderia ser um dos fatores responsáveis pela hiponatremia, não raramente observada em idosos. - A aldosterona (aumenta a absorção de água e sódio e excreção de potássio) mostra ritmo de secreção e níveis plasmáticos reduzidos em idosos, devido à diminuição da secreção de renina, decorrente, provavelmente, da alteração do receptor adenilciclase justaglomerular. - Mais de 50% de pessoas com idade maior que 60 anos apresentam alteração do teste de tolerância à glicose, ou seja, os níveis de glicemia apresentam maior retardo para atingir níveis normais após administração oral ou parenteral de glicose, quando se compara com o comportamento de adultos jovens. Esta diminuição progressiva da tolerância à glicose que ocorre com o envelhecimento se deve a vários fatores: aumento da resistência à insulina devido à obesidade ou, pelo menos, ao aumento do tecido gorduroso e diminuição da massa muscular esquelética, observados na pessoa idosa; diminuição da sensibilidade dos tecidos à insulina e ao glucagon; aumento da liberação de ácidos graxos e dos níveis plasmáticos de proinsulina. É importante assinalar que, embora haja redução da liberação de insulina pelo pâncreas do idoso em condições de hiperglicemia, os níveis plasmáticos desse hormônio encontram-se elevados, possivelmente decorrente da diminuição do seu clearance. - Alterações das funções dos sistemas muscular e osteoarticular: - Músculos: - redução da massa muscular de 30 a 40% em pessoas com 80 anos de idade, quando comparada com as de 30 anos. Isso ocorre devido à diminuição do número de fibras musculares e redução do tamanho das mesmas. - redução da força muscular - Tendões, ligamentos e cartilagens articulares: - redução do conteúdo de água de tendões e ligamentos e, como decorrência, aumento da rigidez dessas estruturas. - ocorrência de processo degenerativo nas cartilagens articulares, acarretando redução da resistência elástica e, em ultima análise, perda gradativa de suas propriedades elásticas e da capacidade para resistir à deformação. - Ossos: - após os 40 anos de idade, começa a ocorrer perda progressiva de massa óssea. Ao nível cortical, leva a um aumento progressivo da porosidade do periósteo e do endósteo. Ao nível trabecular, a perda após a menopausa ocorre principalmente por redução do número de trabéculas e de sua espessura, ocasionando alteração da arquitetura óssea. Os espaços aumentam progressivamente pela coalescência de espaços próximos. Essas modificações determinam redução da resistência óssea, aumentando o risco de fratura. - a perda da massa óssea também é devida à diminuição dos osteoblastos. - Alterações das funções do coração e vasos: - No pericárdio e endocárdio há aumento do colágeno. No miocárdio há degeneração de fibras musculares com atrofia, hipertrofia das remanescentes, aumento dos sistemas colágeno e elástico, depósito de gordura e de substância amiloide, acúmulo de pigmento lipofuscínico. - Nas valvas, espessamento e calcificação ocorrem principalmente na mitral e aórtica. - Além de mudanças anatômicas, há também modificações bioquímicas. Assim, observam-se limitação do ATP disponível, diminuição da atividade da ATPase, da capacidade de oxidação e de mobilização do cálcio. - Nas grandes artérias há aumento do componente colágeno e perda do componente elástico, ocasionando maior rigidez na parede. - Devido à hipertrofia muscular e alterações dos sistemas colágeno e elástico, observa-se redução da complacência da parede ventricular. - Alterações nas funções pulmonares: - Diminuição da resposta ventilatória às variações das pressões parciais de oxigênio e de gás carbônico no sangue. Assim, o idoso é mais propenso a apresentar alterações respiratórias sob ação de drogas depressoras do sistema nervoso central. - Tórax senil + redução da elasticidade e atrofia dos músculos esqueléticos acessórios da respiração redução da capacidade de expansão torácica. - Diminuição da elasticidade e complacência pulmonar. - Redução do volume de reserva inspiratório (VRI) e expiratório (VRE), aumento do volume residual (VR) e manutenção do volume corrente (VC). - As alterações alveolares e do tecido conectivo intersticial determinam a diminuição da difusão alvéolo-capilar após os 40 anos de idade. - Alterações nas funções renais: - Diminuição do tamanho e peso dos rins e diminuição do número de néfrons. 12 - Comprometimento aterosclerótico das artérias interlobares, arqueadas e interlobulares. - Do ponto de vista funcional, verifica-se que o fluxo plasmático renal diminui aproximadamente 50%, e a filtração glomerular cerca de 35% entre os 30 e 80 anos. Como relativamente a filtração glomerular diminui menos que o fluxo plasmático renal, a fração de filtração aumenta. Para a determinação da filtração glomerular, o melhor método é a depuração de creatinina, porém, devido às dificuldades para sua realização no idoso, que tona necessária a sondagem vesical, emprega-se a fórmula proposta por Cockroft- Gault. A principal limitação da fórmula é a obesidade, que tende a superestimar o valor da depuração e, por esse motivo, em mulhereso valor obtido é reduzido em 15%, devido à maior proporção de gordura corporal que apresentam. - A alteração funcional do túbulo proximal é evidenciada pela redução da capacidade máxima de reabsorção de glicose. - O comprometimento tubular distal evidencia-se através da diminuição da capacidade máxima de concentração e de diluição urinárias, assim como pela redução da capacidade de reter ou excretar sódio. - O comprometimento da função endócrina renal evidencia-se pela diminuição da produção de renina pelo aparelho justaglomerular, pela redução da enzima 1-alfa-hidroxilase, responsável pela segunda hidroxilação da vitamina D, fundamental para a absorção intestinal de cálcio. - As alterações renais do envelhecimento implicam a necessidade de ajustar a dose a ser administrada de medicamentos que são eliminados pelos rins. Por outro lado, essas alterações constituem- se em fatores de risco para o desenvolvimento de insuficiência renal aguda após emprego de substâncias nefrotóxicas como contrastes radiológicos e aminoglicosídeos. - Alterações das funções digestivas: - Na cavidade oral, além das alterações dentárias, verifica-se a redução da excreção da saliva, acompanhada pela modificação da sua composição. - Distúrbios da deglutição levando a um aumento no risco de regurgitação e pneumonia aspirativa. - Disfagia esofágica: tem como principal causador o presbiesôfago, que se caracteriza por menor amplitude das contrações peristálticas síncronas que conduzem o alimento e pela presença de contrações assíncronas que dificultam a progressão. - No intestino observa-se alargamento e achatamento das vilosidades com redução da superfície de absorção. Há redução do fluxo sanguíneo mesentérico e provavelmente motilidade diminuída por alteração dos plexos mioentéricos. - A absorção de gordura encontra-se comprometida devido à redução da secreção de lipase pancreática, o que pode prejudicar a absorção de vitaminas lipossolúveis. Lesões irreversíveis - A lesão celular ocorre quando as células são estressadas a tal ponto que se tornam incapazes de se adaptarem, ou quando as células são expostas a agentes inerentemente danosos ou sofrem de anomalias intrínsecas. Os diferentes estímulos nocivos afetam muitas vias metabólicas e organelas celulares. A lesão pode progredir, passar de um estado reversível e culminar em morte celular. - Morte celular: com a continuação do dano, a lesão torna-se irreversível e, neste período, a célula não se recupera e morre. Há dois tipos de morte celular – a necrose e apoptose – que diferem em suas morfologias, mecanismos e papéis na fisiologia e na doença. - Quando o dano às membranas é grave, as enzimas extravasam dos lisossomos, entram no citoplasma e digerem a célula, resultando em necrose. Os conteúdos celulares também extravasam através da membrana plasmática lesada e iniciam uma reação inflamatória no hospedeiro. A necrose pode ser resultante de isquemia, de exposição a toxinas, várias infecções e trauma. - Quando a célula é privada de fatores de crescimento ou o DNA celular ou as proteínas são danificadas sem reparo, a célula se suicida por apoptose, caracterizada pela dissolução nuclear sem a perda da integridade da membrana. A apoptose é um tipo de morte celular ativa, dependente de energia e regulada com rigor. - Enquanto a necrose é sempre um processo patológico, a apoptose exerce muitas funções normais e não esta necessariamente associada a lesão celular patológica. - A resposta celular ao estímulo nocivo depende do tipo de lesão, sua duração e sua gravidade. - As consequências de um estímulo nocivo dependem do tipo, status nutricional, adaptabilidade e do fenótipo genético da célula lesada. - Causas de morte celular: 13 - Privação de oxigênio - Agentes químicos - Agentes infecciosos - Reações imunológicas: reações autoimunes e reações alérgicas - Defeitos genéticos - Desequilíbrios nutricionais - Agentes físicos: traumas, extremos de temperatura, radiação. - Envelhecimento Necrose: O termo descreve uma série de alterações que acompanham a morte celular, que resulta da ação degradativa de enzimas nas células lesadas letalmente. As células necróticas são incapazes de manter a integridade da membrana e os seus conteúdos sempre extravasam. As enzimas responsáveis pela digestão da célula são derivadas dos lisossomos das próprias células (autólise) que estão morrendo ou dos lisossomos dos leucócitos (heterólise) que são recrutados como parte da reação inflamatória para as células mortas. - Morfologia: - Aumento da eosinofilia (coloração rósea): devido ao aumento da ligação entre a eosina às proteínas citoplasmáticas desnaturadas - Perda da basofilia (coloração roxa): perda do RNA citoplasmático que, normalmente, confere a cor ao citoplasma. - Presença de vacúolos no citoplasma: ocorre após a digestão das organelas citoplasmáticas pelas enzimas Parece ter sido roído por traças. - Alterações nucleares: - Picnose: retração nuclear e aumento da basofilia. - Cariorrexe: fragmentação do núcleo picnótico. - Cariólise: perda progressiva da basofilia do núcleo devido à digestão, pela DNase, da cromatina. Dentro de um a dois dias o núcleo da célula morta desaparece. - Necrose coagulativa: - Forma de necrose tissular na qual as células componentes estão mortas, mas a estrutura básica do tecido é preservada, por pelo menos alguns dias. - Os tecidos afetados adquirem uma textura firme. - Supostamente, a lesão desnatura não apenas as proteínas estruturais como também as proteínas enzimáticas, bloqueando assim a proteólise das células mortas; como resultado, células anucleadas e eosinofílicas podem persistir por dias ou semanas. - Por fim, as células necróticas são removidas por fagocitose dos restos celulares, por meio da infiltração de leucócitos e da digestão das células mortas pela ação das enzimas lisossômicas de leucócitos. - É característica de infartos (áreas de necrose isquêmica) em todos os órgãos sólidos, exceto o cérebro. - Necrose liquefativa: - Observada em infecções bacterianas focais ou, às vezes, em infecções fungicas, porque esses micróbios estimulam o acúmulo de células inflamatórias e as enzimas dos leucócitos a digerirem (“liquefazerem”) o tecido. - Por motivos desconhecidos, é comum a morte por hipóxia de células dentro do sistema nervoso central ocasionar necrose liquefativa. - A liquefação digere por completo as células mortas, resultando em transformação do tecido em uma massa viscosa, líquida. Se o processo for iniciado por inflamação aguda, o material é quase sempre amarelo-cremoso (pus). - Necrose caseosa (“semelhante a queijo”): - É encontrada com mais frequência em focos de infecção tuberculosa. - Tem aparência friável branco-amarelada. 14 - Ao exame microscópio, o foco necrótico exibe uma coloração de células rompidas ou fragmentadas, com aparência granular amorfa. Ao contrário da necrose coagulativa, a estrutura do tecido é completamente obliterada e os contornos celulares não podem ser distinguidos. - É quase sempre encerrada dentro de uma nítida borda inflamatória; essa aparência é característica de um foco de inflamação conhecido como granuloma (acúmulo de macrófagos epitelióides). - Necrose gordurosa: - Refere-se a áreas focais de destruição gordurosa, tipicamente resultante da liberação de lipases pancreáticas ativadas na substância do pâncreas e na cavidade peritoneal.- Ocorre na pancreatite aguda: as enzimas pancreáticas que escaparam das células acinares e dos ductos liquefazem as membranas dos adipócitos do peritônio e as lipases dividem os ésteres de triglicerídeos contidos dentro da massa de células. Os ácidos graxos liberados combinam-se com o cálcio, produzindo áreas brancas gredosas macroscopicamente visíveis (saponificação da gordura). - Ao exame histológico, os focos de necrose têm contornos sombreados de adipócitos com depósitos de cálcio basofílicos, circundados por uma reação inflamatória. - Aspecto macroscópico: cera de vela. - Necrose gangrenosa: - Em geral, é aplicado a um membro, comumente a perna, que tenha perdido suprimento sanguíneo e que sofreu necrose coagulativa, envolvendo várias camadas de tecido. - Quando uma infecção bacteriana se superpõe, a necrose é modificada pela ação liquefativa das bactérias e dos leucócitos atraídos e é chamada de gangrena úmida. OBS: a gangrena seca ocorre quando o agente externo é somente o ar. - Evolução: - As células mortas e autolizadas funcionam como um corpo estranho para o organismo, gerando uma inflamação, que depois é reabsorvida e reparada. - A evolução depende do tipo de tecido (se contém células lábeis, permanentes ou estáveis), do órgão acometido e da extensão da área atingida. 1ª possibilidade de evolução: Regeneração - O tecido necrosado irá ser substituído pelo tecido de origem. Para isso, o tecido precisa possuir capacidade mitótica. 2ª possibilidade de evolução: Cicatrização - O tecido necrosado é substituído por tecido conjuntivo fibroso. - Há proliferação endotelial e de fibroblastos para formar o tecido de granulação. 3ª possibilidade de evolução: Encistamento - O material necrótico não é absorvido inicialmente devido ao fato de ele ser ou muito volumoso ou a migração de leucócitos estar comprometida. - Há a formação de uma cápsula e o material necrótico é reabsorvido de forma lenta. 4ª possibilidade de evolução: Eliminação - Necessita da comunicação do meio interno e externo. Portanto, a necrose atinge a parede de uma estrutura canalicular. - O material necrosado é, então, eliminado para o meio externo. - No local da necrose, origina-se uma cavidade caverna tuberculosa. 5ª possibilidade de evolução: Calcificação - A zona de necrose se calcifica. - Há maior tendência de ocorrer na necrose caseosa. - Os mecanismos são desconhecidos. OBS: ao exame microscópio, não confundir com antracnose (pontos pretos derivados da inalação de partículas de carvão). Apoptose: - É uma via de morte celular induzida por um programa de suicídio rigorosamente regulado, no qual as células destinadas a morrer ativam enzimas capazes de degradar seu próprio DNA e as proteínas nucleares e citoplasmáticas. - A membrana plasmática da célula apoptótica permanece intacta, mas é alterada de tal maneira que a célula e seus fragmentos tornam-se alvo para os fagócitos. - Rapidamente, a célula morta é removida, antes que o seu conteúdo extravase e, por isso, a morte celular por essa via não induz reação inflamatória no hospedeiro. - Causas da apoptose: - Em situações fisiológicas: é um fenômeno que funciona para eliminar as células que não são mais necessárias e para manter, nos tecidos, um número constante de várias populações celulares. - Destruição programada de células durante a embriogênese: sindactilia. 15 - Involução de tecidos hormônios-dependentes sob a privação do hormônio: glândula mamária e célula endometrial após ciclo menstrual. - Perda celular em populações proliferativas. - Morte de células que já tenham cumprido seu papel: neutrófilos na resposta inflamatória aguda e linfócitos ao termino da resposta imune. - Eliminação de linfócitos autorreativos potencialmente nocivos: impedir reações contra os tecidos da própria pessoa. - Morte celular induzida por linfócitos T citotóxicos: mecanismo de defesa contra viroses e tumores que mata e elimina células neoplásicas e infectadas por vírus. - Apoptose em condições patológicas: A apoptose elimina células que estão alteradas sob o aspecto genético ou lesadas de tal modo que não podem ser reparadas, sem iniciar uma reação acentuada no hospedeiro, mantendo, assim, a lesão tão contida quanto possível. - A morte por apoptose é responsável pela perda das células em vários estágios patológicos: - Lesão de DNA: a radiação, as drogas citotóxicas anticâncer, os extremos de temperatura e mesmo a hipóxia podem lesar o DNA diretamente ou por meio da produção de radicais livres. Se os mecanismos de reparo não podem competir com a lesão, a célula dispara mecanismos intrínsecos que induzem a apoptose. - Acúmulo de proteínas mal dobradas: as proteínas inapropriadamente dobradas podem surgir de mutações nos genes que codificam essas proteínas ou devido a fatores extrínsecos, como a lesão causada por radicais livres. O acúmulo excessivo dessas proteínas leva ao estresse do RE, que culmina na morte apoptótica das células. - Lesão celular em certas infecções: sobretudo nas infecções virais adenovírus e vírus da imunodeficiência humana. - Morfologia da célula apoptótica: - Citoplasma intensamente eosinofílico. - Picnose do núcleo e, mais tarde, cariorrexe. - Retração das organelas. - Formação de brotos citoplasmáticos e fragmentação em corpos apoptóticos. - Fagocitose dos corpos apoptóticos, sem indução da resposta inflamatória. - Mecanismos da apoptose: - O evento fundamental na apoptose é a ativação de enzimas denominadas caspases. As caspases ativadas clivam numerosos alvos, culminando na ativação de nucleases que degradam o DNA e outras enzimas que provavelmente destroem nucleoproteínas e proteínas do citoesqueleto. - A ativação das caspases depende de um equilíbrio finamente sintonizado entre vias moleculares pró e antiapoptóticas. - Duas vias distintas convergem para a ativação de caspases, chamadas via mitocondrial e via receptor de morte. - Via mitocondrial (intrínseca) da apoptose: - A escolha entre a sobrevivência e a morte celular é determinada pela permeabilidade da mitocôndria, controlada por uma família de mais de 20 proteínas, cujo protótipo é a BcL-2. - Quando as células são privadas de fatores de crescimento e hormônios tróficos ou são expostas a agentes que lesam DNA ou ainda acumulam quantidades inaceitáveis de proteínas mal dobradas, um grupo de sensores é ativado. - Alguns desses sensores, membros da família BcL-2, ativam, por sua vez, dois membros pró-apoptóticos da família Baz e Bak que se dimerizam e se inserem no interior da membrana mitocondrial, formando canais através dos quais o citocromo c e outras proteínas mitocondriais extravasam para o citosol. - Outros sensores relacionados inibem as moléculas antiapoptóticas BcL-2 e Bcl-X2, com o mesmo resultado final – o extravasamento de proteínas mitocondriais. - O citocromo c em conjunto com alguns cofatores, ativam a caspase-9, enquanto outras proteínas bloqueiam as atividades dos antagonistas das caspases, os quais funcionam como inibidores fisiológicos da apoptose. O resultado final é ativação da cascata de caspases, levando, por fim à fragmentação nuclear. - Se as células são expostas a fatores de crescimento e outros sinais de sobrevivência, sintetizam membros antiapoptóticos da família Bcl-2, dos quais os dois principais são o próprio Bcl-2 e Bcl-x2. Essas proteínas antagonizam a Bax e Bak, limitando, portanto, o escape das proteínas mitocondriaispróapoptóticas. - Via receptor de morte (extrínseca) da apoptose: - Muitas células expressam moléculas de superfície, chamadas de receptores de morte, que disparam a apoptose. Essas moléculas, na maioria, são receptores, membros da família do fator de necrose tumoral (TNF) que contêm em suas regiões citoplasmáticas um “domínio de morte” conservado, assim denominado porque medeia a interação com outras proteínas. 16 - Os receptores de morte prototípicos são do tipo TNF I e Fas (CD95). O ligante de Fas (Fas-L) é uma proteína de membrana expressa, sobretudo, em linfócitos T ativados. Quando essas células T reconhecem os alvos que expressam Fas, as moléculas Fas são ligadas em reação cruzada pelo Fas-L e suas proteínas de ligação adaptadoras, que, por sua vez, se ligam às caspase-8. - O agrupamento de muitas moléculas de caspases leva à sua ativação, iniciando, assim, a cascata de caspases. - Remoção das células apoptóticas: - As células apoptóticas sofrem várias alterações em suas membranas que promovem sua fagocitose. Em células normais, a fosfatidilserina está presente no folheto interno da membrana plasmática, mas nas células apoptóticas esse fosfolipídio move-se para fora e está expresso na camada externa da membrana, onde é reconhecido pelos macrófagos. - As células que estão morrendo também secretam fatores solúveis que recrutam os fagócitos. Isso facilita a remoção imediata das células mortas, antes que sofram uma segunda lesão de membrana e liberem seus conteúdos celulares (que podem resultar em inflamação). - Alguns corpos apoptóticos expressam glicoproteínas adesivas que são reconhecidas pelos fagócitos e os próprios macrófagos podem produzir proteínas que se ligam às células apoptóticas e direcionam a morte das células por fagocitose. Alterações do interstício - O interstício ou matriz extracelular é constituído por uma rede complexa de macromoléculas que preenchem os espaços intercelulares. Entre suas malhas, circula o líquido tecidual, que, originado da microcirculação, banha as células e retorna a ela ou aos vasos linfáticos. - As macromoléculas da MEC podem estar estruturadas em fibras (colágenas, reticulares e elásticas) ou sob a forma de um complexo amorfo, intimamente associado às fibras, denominado substância fundamental amorfa. - Tais macromoléculas são (1) proteínas fibrosas (colágeno e elastina), que formam as fibras colágenas e reticulares (colágeno) e elásticas (elastina); (2) proteínas não-fibrosas, de aderência (laminina e fibronectina), que aderem as células à MEC, e proteínas organizadoras também com função de aderência, como a tenascina, entactinas e ondulina; (3) glicosaminoglicanos (poliglicanos) e proteoglicanos, que formam um gel altamente hidratado, a substância fundamental, na qual as proteínas fibrosas são imersas. - Os componentes da MEC são sintetizados e excretados por fibroblastos, condroblastos, osteoblastos e odontoblastos. - Colágeno – Fibras colágenas e reticulares - A molécula de colágeno é formada por três cadeias polipeptídicas, do tipo cadeia alfa, enroladas de modo semelhante a uma corda torcida. - Existem cerca de 20 tipos de colágeno. Os mais bem definidos tipos são o I, II, III e IV. Os colágenos do tipo I, II e III formam fibrilas que se organizam em fibras visíveis ao MO. O colágeno do tipo IV não forma fibrilas, mas se organiza em forma de rede nas membranas basais. - A síntese do colágeno pode ser resumida nas seguintes etapas: (1) transcrição dos genes da cadeia alfa. (2) tradução do pró-colágeno do RER. (3) hidroxilação, no RER, da prolina e da lisina por ação da prolina-hidroxilase e da lisina-hidroxilase, na presença de O2 molecular e vitamina C; Etapa que, quando alterada, leva à patologias. (4) associação das três cadeias a partir dos peptídeos terminais, que contêm cisteína e formam pontes S-S unindo as cadeias entre si. A molécula assim formada é o pró-colágeno, pois contém ainda os peptídeos terminais. (5) glicosilação das moléculas de pró-colágeno no Golgi, principalmente em resíduos de hidroxilisina, por ação da galactosiltransferase e da glicosil-galactosiltransferase. (6) excreção das moléculas de pró-colágeno através da membrana plasmática. (7) no meio extracelular, junto ao glicocálice, as moléculas de pró- colágeno sofrem ação de peptidases, que clivam os peptídeos terminais; (8) livres dos peptídeos terminais, as moléculas de colágeno começam a se associar espontaneamente e formar as fibrilas colágenas. (9) as moléculas de colágeno organizadas em fibrilas passam a formar ligações cruzadas, transversais, feitas entre resíduos de lisina. Essas ligações ocorrem por ação da enzima lisil-oxidase, que forma resíduos de aldeído-lisina entre os quais se 17 estabelecem as ligações cruzadas. etapa importante para algumas patologias. (10) organização das fibrilas em fibras colágenas, que varia de acordo com o tecido. Alterações das fibras colágenas e reticulares: - Podem ocorrer devido a: (1) defeitos genéticos que comprometem a estrutura, síntese ou degradação do colágeno; (2) alterações adquiridas que interferem na sua síntese ou degradação. (1) Por defeitos genéticos: - São raras tanto em humanos quanto em outros mamíferos. - Ocorrem por mutações nos genes que codificam as cadeias alfa ou nos genes que controlam as modificações pós-translacionais da molécula e sua degradação. - As doenças são geralmente complexas e manifestam- se na pele (elasticidade e resistência alteradas), vasos sanguíneos (aneurismas), intestino, globo ocular (a esclerótica é rica em colágeno) e ossos (onde o colágeno é componente importante da parte orgânica). - Osteogênese imperfeita (doença dos ossos de vidro): A osteogênese imperfeita é uma doença determinada geneticamente, na qual está afetada a estrutura e a função do colágeno do tipo I, que representa mais de 90% do colágeno tecidual total, sendo responsável por 70% a 80% do peso seco dos tecidos fibrosos densos que formam o sistema músculo-esquelético. A apresentação clínica é heterogênea e variável sendo, no entanto, marcantes a fragilidade óssea, a frouxidão capsulo-ligamentar, a cor azulada da esclera e a surdez. (2) Por defeitos adquiridos: decorrem de agressões que perturbam os mecanismos pós-transcricionais de sua síntese. - Carência de vitamina C leva à hidroxilação deficiente do colágeno, o que compromete também a glicosilação e a formação das ligações cruzadas. É o que ocorre no escorbuto, no qual há alteração da membrana basal por modificações no colágeno do tipo IV (normalmente muito glicosilado), levando à fragilidade capilar e hemorragias. Além disso, há comprometimento dos alvéolos dentários e da dentina, podendo aparecer deformidades ósseas. - Alterações nas membranas basais: - Depósitos anormais de substâncias diversas podem se formar nas membranas basais de muitos órgãos: (1) imunoglobulinas e imunocomplexos na membrana basal dos glomérulos, produzindo espessamentos irregulares e alteração da sua permeabilidade; (2) metais pesados, como o mercúrio e o bismuto. - Espessamento das membranas basais na microcirculação ocorre caracteristicamente em diabéticos, fazendo parte da chamada microangiopatia diabética. Nessa doença, o espessamento da membrana basal se deve à alteração na síntese e glicosilação deficiente do colágeno produzido pelo endotélio, o que altera a formação dos complexos macromoleculares que constituem as unidades estruturais da membrana. - Elastina – Fibras elásticas
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