Buscar

ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Antropologia 
Filosófica
Antropologia Filosófica: Uma Introdução
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Isacir Heleno Andreoni Júnior
Revisão Textual:
Profa. Karina Barbosa 
5
• Introdução
• Cosmocentrismo Grego
• Teocentrismo Patrístico - Escolástico
 
 Atenção
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as 
atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
 · Nessa unidade você terá a oportunidade de um contato inicial 
com a Antropologia Filosófica. Além do texto base, fundamental 
no sentido de formar os primeiros conhecimentos sobre o 
tema, por meio de uma reflexão, você terá uma vídeo-aula, 
e uma gravação sonora, em que o mesmo tópico da unidade 
será abordado de perspectivas diferentes, complementares à 
do texto. 
Antropologia Filosófica: Uma Introdução
• Antropocentrismo Moderno
6
Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução
Contextualização
O que é o homem? Como explicar a variação das diferentes configurações do humano ao 
longo da história? Elas se dariam para além de um caráter essencial, imutável, presente, desde 
todo sempre, em todo humano?
Como já se pode perceber a partir do que está sendo estudado nessa unidade, e que será 
aprofundado nas unidades subsequentes, isso que chamamos “o homem” não é algo já pronto, 
um dado da natureza, pronto e acabado. “O homem”, ou seja, aquilo que cada época, que 
cada civilização, que cada contexto histórico-político entende como sendo “o homem” varia. O 
que a filosofia procura é, de alguma maneira, tentar chegar a algo além de todas essas diferentes 
concepções contextuais do que seja o homem, alcançando aquilo que é essencial ao humano. 
Agora, a pergunta é: será que essa busca é possível? Renderá frutos? Ou o que os mais de 
dois milênios de filosofia no Ocidente nos tem mostrado é que a busca por algo “essencial” 
também é algo questionável? Bem, como tudo em Filosofia, devemos questionar, e, no caso do 
tema deste curso, como você deve estar percebendo, o próprio objetivo de uma antropologia de 
cunho filosófico é algo a ser questionado.
7
Introdução
Partindo da ideia de que a antropologia é um conhecimento sobre o homem, estudo sobre o 
homem, segundo a própria etimologia do termo derivado do grego anthropos + logos (homem 
+ estudo/saber), é preciso, contudo, entendermos uma diferença fundamental entre essa busca 
de conhecimento do humano como ciência, de um lado; e como um aspecto da filosofia, de 
outro. É preciso, enfim, diferenciarmos a antropologia de um campo específico da filosofia que 
é a Antropologia Filosófica.
De um lado, temos a Antropologia como ciência – a mais humana dentre as ciências, e a mais 
científica dentre as humanidades, como se costuma dizer: uma ciência que se volta ao estudo das 
culturas e sociedades humanas. Ao antropólogo, um cientista social, cabe investigar as diversas 
formas de organização e arranjo do que se chama “humano”: comportamentos, procedimentos, 
instituições, crenças. Tudo isso por meio de uma descrição dos fenômenos socioculturais. E essa 
especialidade dentre as ciências humanas, mais precisamente, as ciências sociais, também se 
divide em subáreas: antropologia biológica (ou física) e antropologia sociocultural. 
 Interessada pelo homem como um ser biológico, social e cultural, no âmbito das sociedades 
humanas, a antropologia pode ser compreendida como ciência que estuda as culturas humanas. 
Assim, cabe aos antropólogos investigar as formas do desenvolvimento do comportamento 
humano a fim de descrever os nossos fenômenos socioculturais. 
Imagem 1: tribos urbanas (colocar qualquer imagem de “tribo urbana”: grupo punk, gótico, skatista, etc)
Fonte – Thinkstock/Getty Images
Na atualidade, as “tribos urbanas” constituídas nas grandes metrópoles são objetos de estudos, 
dentre outros, de diversos pesquisadores que se interessam por descrever e analisar a dinâmica 
de jovens que, reunidos em grupos como pichadores, “manos”, góticos, etc., articulam pontos 
de encontro, formas de apropriação do espaço urbano, além de relações de trocas e conflitos. 
Esses tipos de estudo percorrem um dos campos da ciência antropológica: a Antropologia 
Sociocultural. Esta vertente da antropologia ajuda-nos a compreender o comportamento dos 
8
Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução
grupos humanos, as convenções sociais, os jogos simbólicos em torno das relações sociais, 
sejam elas familiares, escolares, religiosos, o lazer ou o trabalho. As manifestações culturais, 
como as canções populares, a literatura de cordel e os mitos assumem aqui papéis fundamentais 
para compreendermos o homem em sociedade. 
Imagem 2: grafite nas ruas. Imagem 3: Pintura Rupestre Imagem 4: Dança / Ritual Tribal
Fonte: Thinkstock / Getty Images
 9 O olhar antropológico: cada contexto, cada sociedade, cada época manifesta suas buscas, 
suas identidades de formas variadas. 
Já a antropologia biológica (ou física), um segundo campo da antropologia, estuda o homem 
do ponto de vista físico-somático, ou seja, interessa-se pelos aspectos biológicos dos seres 
humanos, mergulhando nas questões das diferenças raciais e étnicas, formulando pressupostos 
sobre a origem e a evolução da humanidade. 
E quanto à Antropologia Filosófica? Em que ela 
difere da antropologia, ciência humana do campo 
sociocultural? Primeiramente, é preciso lembrar 
que, no caso da Antropologia Filosófica, não se 
trata de mais um campo da antropologia; mas 
de uma especificidade investigativa da filosofia. 
É verdade que, assim como a antropologia, ela 
também tem o homem como objeto de estudo, 
porém, a Antropologia Filosófica se interessa pelo 
homem como um todo, corpo e alma. O homem 
não é interpretado apenas como natureza, vida, 
vontade ou espírito, mas como homem, ou seja, ele 
nos interessa pela complexidade da relação entre 
os elementos que o constituem (corpo/alma; vida/
espírito) e o seu modo de existência específico, que 
o distingue em geral de outros animais. Trata-se de 
uma investigação preocupada fundamentalmente 
com a essência e a estrutura eidética (relativo à essência das coisas e não à sua existência ou 
função) do homem, ou seja, estão em questão o lugar que o homem ocupa na natureza e as 
relações que ele estabelece com o universo das coisas. Por isso é que, enquanto a antropologia 
(sociocultural) se constrói por meio de uma descrição dos fenômenos socioculturais empíricos, 
e, portanto, observáveis; a antropologia filosófica, como toda investigação filosófica, aliás, se 
faz como abstração: a reflexão (abstrata) do pensamento que se volta para o sentido de ser 
humano: o que é o homem, afinal?
Imagem 5 – “O homem vitruviano” (1490), de Leonardo da Vinci: 
expressão clássica do ideal antropocêntrico.
9
Imagem 7 – O pensador (1902), Auguste Rodin. Mas o pensamento é reflexivo, volta-se sobre si mesmo, da 
mesma forma que o homem se torna objeto de investigação para si mesmo. 
Fonte: Saiko / Wikimedia Commons
Em outras palavras, enquanto a antropologia sociocultural busca compreender as características 
empíricas das culturas humanas, priorizando investigar como em uma determinada comunidade 
o homem vive, sem desprezar as condições particulares desta vivência; a antropologia filosófica 
dedica-se a refletir a respeito das características essenciais do ser humano em geral e de sua 
diferença em relação a outros seres. Não se trata, como no caso da antropologia, de desvendar 
os mecanismos das diferenças intrínsecas ao âmbito humano, ou seja, de estudar diferenças 
de hábitos, crenças, valores, etc. entre diferentes povos/tribos/sociedades/culturas; mas de 
determinar o que é o homem (acima de toda essa diferenciação interna; para além de toda 
variedade de cultura, crença, organização), oque é o homem em sua essência.
Vemos, então, que enquanto uma se interessa pelo particular de uma determinada cultura, 
a outra se faz como uma procura por algo mais abrangente, mais geral, mais essencial, enfim, 
mais “universal”, digamos: pelos aspectos característicos que podem ser encontrados em 
qualquer ser humano. É o homem na sua plenitude e complexidade que interessa a uma filosofia 
antropológica, a uma filosofia humanista. 
 
Antropologia Sociocultural
 » Área das Ciências Sociais surgida na segunda metade do século XIX.
 » Estudo das características empíricas das diversas sociedades/ culturas humanas.
 » Método - o estudo de caso, o trabalho de campo (empírico), os dados/ características 
particulares.
10
Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução
Antropologia Filosófica
 » Investigação que se dá no contexto da Filosofia, desde sua origem, mas, sobretudo a 
partir da filosofia socrática.
 » Reflexão que visa à determinar o que é o homem em sua essência.
 » Método - dedução a partir do que é mais geral, o pensamento abstrato, o elemento universal. 
A Antropologia Filosófica se coloca a tarefa de compreender a condição humana ou a 
natureza do homem. “O que é o homem?” é uma questão central deste campo filosófico que, 
diferente de outras ciências como a biologia, a medicina, a história, etc., tem a pretensão de 
dar uma resposta completa – a mais abrangente, a mais essencial – a este enigma. É verdade 
que o historiador, o médico, o antropólogo, o biólogo entre outros se interessam pelo homem, 
mas é também verdade que nos oferecem um conhecimento fragmentado, parcial e superficial 
do homem. Já o filósofo envereda por uma busca exaustiva para apresentar uma resposta que 
seja capaz de esclarecer plenamente o que é o homem em um sentido global, na sua totalidade; 
interessa-se pelo que de fato o homem é, procura sua essência ao invés de se perder no que, 
para ela, são meras aparências do humano.
Imagem 8 – Evolução do Homem.
Fonte: Thinkstock / Getty Images
Contudo, conforme nosso conhecimento filosófico se amplia, vamos percebendo que cada 
contexto filosófico (cada “período”, se adotarmos uma perspectiva mais histórica da filosofia), 
e, em última instância, cada filósofo, apresenta uma visão específica sobre essa questão. Cada 
época – e cada filósofo, em cada época – apresenta uma definição particular do que é o homem, 
de acordo com o que, tanto o filósofo, quanto o contexto histórico-filosófico vigente entendem 
não apenas quanto ao humano, mas quanto ao pensamento, à ética, à estética, à política, enfim, 
à própria filosofia de maneira mais ampla. O que queremos dizer é que, de certa maneira, 
e em grande medida, diferentes definições filosóficas do humano se relacionam a diferentes 
concepções da própria filosofia; diferentes finalidades em nome das quais cada filósofo, e cada 
contexto, constroem sistemas de pensar.
Assim, será tratado com maior detalhe, ao longo deste curso, em toda a história da filosofia, 
os diferentes pontos de vista em que o homem aparece como objeto de estudo.
11
Cosmocentrismo Grego
Imagem 9 – o conceito de homem na antiguidade: força da physis; potência da razão.
Fonte: Thinkstock / Getty Images
Na filosofia clássica grega o homem foi compreendido a partir de uma leitura cosmocêntrica, 
em que o fundo sobre o qual se desenvolve a vida humana é a natureza; ou seja, ao explicar a 
natureza, a filosofia também explicava a origem e as mudanças dos seres humanos. Se o homem 
se transforma é porque o mundo está sujeito a uma mudança contínua, uma vez que a natureza 
é uma mobilidade permanente. Platão e Aristóteles são os filósofos que melhor elaboraram um 
estudo do homem nesta concepção cosmocêntrica. 
 Imagem 10 – Detalhe de “A escola de Atenas” de Rafael Sanzio. No centro da imagem, vemos Platão (com o dedo 
apontado pro alto, numa possível referência à verdade, ao mundo das ideias), acompanhado de seu discípulo Aristóteles.
Para Platão, o homem era essencialmente alma (espiritual, incorruptível e imortal). O filósofo 
não se limitava a entender a alma apenas como o princípio da vida, mas também como princípio 
de conhecimento, em que assume uma independência do corpo, é eterna. Enquanto o corpo 
12
Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução
pertence ao mundo sensível ou físico — este sim, mutável e ilusório — a alma pertence ao 
mundo inteligível (ou mundo das ideias). As ideias, segundo Platão, possuem uma realidade 
objetiva, ou seja, elas se materializam como modelo ideal (arquétipos) de todas as coisas que 
existem no mundo sensível ao passo que este, o mundo sensível, é ilusório, na medida em que é 
composto de cópias das ideias originais, verdadeiras. Por isso, as almas aspiram a se libertar dos 
corpos e retornarem ao mundo das ideias. Essa maneira de entender o homem, e a realidade, 
aparece, por exemplo, no Mito da Caverna, presente na obra A República, de Platão. 
Já Aristóteles compreende que o homem, assim como todos os outros seres do mundo, 
é essencialmente constituído de alma e corpo. A alma, para Aristóteles, é simplesmente um 
princípio de vida, é a fonte das atividades próprias de cada ser vivo. Aqui alma e corpo constituem 
um composto humano, por sua vez a alma é única em cada homem (ou ser vivo), tendo várias 
faculdades e realizando diversas atividades: vegetativa, sensitiva e racional. É Aristóteles o 
primeiro a sistematizar uma Antropologia Filosófica.
Teocentrismo Patrístico - Escolástico
A perspectiva teocêntrica, característica da filosofia crista, é marcada por uma abdicação 
em relação à natureza e também em relação à primazia da razão. Nesse contexto, o homem 
e a vida humana não são compreendidos, seja no âmbito das dinâmicas do próprio mundo 
(cosmocentrismo), da própria physis (natureza); seja pela via de um conhecimento puramente 
racional-humano. Neste novo cenário filosófico, explica-se o homem sob o amparo das relações 
entre Deus e a humanidade, ou seja, o homem, enquanto ser está determinado por uma força 
maior, exterior a ele e a seu domínio e, portanto, pela salvação. Isso porque, para os pensadores 
cristãos, a razão é algo limitado e imperfeito, e por isso o homem depende de uma potência 
extra-humana, divina, tanto para existir como para conhecer. 
Nas épocas compreendidas como patrística — que se inicia com as epístolas de São Paulo e o 
Evangelho de São João e termina no século VIII — e escolástica (ou medieval) — período entre 
os séculos VIII e XIV — os grandes expoentes da filosofia de cunho teocêntrico foram Santo 
Agostinho e São Tomás de Aquino. 
Conhecido como o fundador da filosofia medieval e cristã, Agostinho acreditava que toda a 
filosofia anterior ao advento de Cristo estava sujeita a um erro fundamental: o poder da razão 
era exaltado como o mais alto poder do homem. No entanto, o que o homem não sabia — 
pelo menos enquanto não fosse iluminado por uma revelação divina especial — era que a 
própria razão era um poço de ambiguidade. No entender de Agostinho, a razão não era capaz 
de nos proporcionar o caminho da claridade, do esclarecimento, da verdade e da sabedoria. A 
razão estava envolta a uma obscuridade, um mistério que só a revelação cristã seria capaz de 
solucionar. Ao contrário dos pressupostos da filosofia grega, que tinham a razão como o mais 
alto privilégio do homem, objeto de seu orgulho, vê-se aqui a razão no âmbito do perigo e da 
tentação, convertendo-a na mais profunda humilhação. A filosofia antropológica de Agostinho 
se inspira em Platão, ou seja, prevalece a mesma dicotomia entre a alma e corpo, sendo o 
homem reduzido essencialmente à alma. 
Silvia
Realce
Silvia
Realce
Silvia
Realce
13
Imagem 12 e 13 – Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, respectivamente. Santo 
Agostinho (imagem 12) acreditava que somente a revelação divina era capaz de propiciar ao 
homem o acessoà verdade e à sabedoria. Em São Tomás de Aquino (imagem 13) é a alma que 
possui o ser diretamente.
Fonte: Wikimédia Commons
Já São Tomás de Aquino, reconhecendo, no pensamento de Aristóteles sobre o homem, algo 
mais substancial do que a filosofia de Platão, mas, também reconhecendo que o primeiro era 
incompatível em alguns pontos com a revelação cristã, acaba, assim, por elaborar uma nova 
antropologia filosófica. Nela o homem é interpretado como um composto de alma e corpo 
(herança aristotélica), em que a alma aparece como aquela que possui o ser diretamente. 
Entretanto, mesmo a alma tendo um papel fundamental no ato de ser do homem, o autor 
concebe que a morte do corpo não implica morte da alma. Logo, a alma é de direito imortal 
(uma dívida com Platão). 
Antropocentrismo Moderno
No caso da filosofia moderna e, em certa medida, a contemporânea, 
deparamos com uma tendência antropocêntrica: aqui o homem 
é o ponto de partida de toda investida filosófica. O homem é 
sujeito do conhecimento, compreendido como consciência de si 
reflexiva, ou seja, como consciência que conhece sua capacidade 
de conhecer. Se considerarmos tanto o cosmocentrismo grego, 
quanto o teocentrismo, veremos que o antropocentrismo faz o 
caminho inverso para conhecer o homem. Ao invés de primeiro 
compreender seja a natureza, seja Deus, para só depois se 
indagar sobre o homem, os filósofos modernos preferem começar 
por questionar os limites de compreensão, de conhecimento 
do próprio homem, ou seja, investigar qual a capacidade do 
intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos 
conhecimentos, para, então, voltar tal intelecto para algum objeto. Fonte: Thinkstock / Getty Images
Silvia
Realce
14
Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução
Descartes, a razão desdobrada em inúmeros conhecimentos: da aritmética à geometria; da 
óptica à anatomia e à visão do homem como pensamento.
Para René Descartes, conhecido como o fundador do pensamento moderno e famoso pela 
frase “Cogito, ergo sum” (“penso, logo existo”), a alma humana existe e é substancial. No 
entanto, este filósofo reconhece a total separação entre a alma e o corpo no que se refere à sua 
natureza. Descartes definiu a alma como consciência ou pensamento. Logo, para ele, o sentido 
primordial da alma para se orientar no mundo é a razão. Para o autor, a alma possui uma 
natureza indivisível, o que a difere do corpo, sendo este sempre divisível. Mas esta diferença, 
esta separação entre pensamento (res cogitans), alma, de um lado; e extensão (res extensa), 
corpo, de outro, não impedia que a alma interagisse com o corpo, relação que era possível 
graças a uma glândula denominada pineal, um pequeno órgão do cérebro que tinha sido 
escolhido por se tratar de uma das poucas partes não duplicadas do cérebro. Descartes também 
era anatomista, tendo conhecimento da descrição completa do corpo humano, da circulação do 
sangue, entre outras teorias médicas que circulavam na época. 
 Imagem 15 - A razão que escolhe seu próprio caminho: eis o conceito de livre-arbítrio.
Fonte: Thinkstock / Getty Images
Para finalizar, Descartes acreditava que a essência da alma era o pensamento. Mas o que ele 
entendia por pensamento? Eram todas as operações voluntárias, dizia o filósofo; identificando 
assim o “ato de pensar” como toda atividade psíquica exercida pelo homem. Neste sentido, 
colocando a razão como elemento definidor do homem, o autor assumia o livre-arbítrio humano, 
ou seja, o homem não era mais interpretado como parte de Deus; em outros termos, o homem 
era livre, podia dizer sim ou não às ordens de Deus. É por meio do livre-arbítrio que o homem 
se faz merecedor ou culpado. 
Silvia
Realce
Silvia
Realce
Silvia
Realce
Silvia
Realce
Silvia
Realce
15
O lugar da Antropologia Filosófica: metafísica, filosofia 
transcendental?
Como vimos no início da unidade, a antropologia filosófica se define como uma busca 
pela essência do que é humano, enfim, aquilo que é mais geral, mais abstrato, mais universal, 
e que, portanto, se coloca como elemento definidor do humano, acima e além de todas as 
diferenças humanas. Mas falar em essência, em ser, enfim, numa tal abstração localizada 
além de toda aparência, não é algo tão simples. Ao usarmos tais conceitos, já estamos 
adentrando um âmbito filosófico específico, para o qual estes conceitos são centrais. Trata-
se da metafísica, e da filosofia transcendental. 
Com isso, queremos ressaltar que, embora todos os filósofos modernos partam de uma 
perspectiva antropocêntrica, eles insistem em elaborar uma Antropologia Filosófica de cunho 
metafísico ou transcendental (parte da filosofia que estuda o “ser enquanto ser” e se interessa 
por explicar a essência do universo, a existência da alma e de Deus, por exemplo), geralmente 
inspirada no pensamento de Platão. 
Nesse contexto, surge, com Imannuel Kant, uma nova forma de olhar o homem na filosofia. 
Segundo Kant, a mente humana era incapaz de adquirir um saber absoluto, seja sobre o mundo 
(a natureza), o homem ou sobre Deus. Na visão do autor, a mente humana só pode atingir um 
conhecimento de caráter prático e moral. Foi em Antropologia de um ponto de vista pragmático, 
publicado em 1778, que Kant procurou mostrar que o homem é um ser diferente dos outros 
no tocante aos seus valores morais, à sua dignidade, à sua condição de pessoa e que, a essas 
características, ele corresponde com um comportamento adequado. 
Foi Kant que acabou por fixar um lugar devido à antropologia no campo da filosofia. No 
seu manual de Lógica, Kant propõe quatro questionamentos que sintetizariam a filosofia: 1) O 
que posso saber? (teoria do conhecimento ou metafísica); 2) O que devo fazer? (domínio da 
ética e da moral); 3) O que me é lícito esperar? (domínio da religião); e 4) O que é o homem? 
(domínio da Antropologia Filosófica). Mas que segundo o próprio filósofo as três primeiras 
questões poderiam ser reduzidas a uma só, a última. Isso porque as três primeiras questões 
fazem referência à última, no entender do autor. Portanto, a antropologia filosófica é regida por 
uma preocupação originalmente filosófica e humanista de responder à seguinte questão: “o que 
é o homem?”.
Nas próximas unidades veremos, com maiores detalhes, de que maneira diferentes 
formulações e respostas vão sendo dadas a esta pergunta.
Silvia
Realce
Silvia
Realce
Silvia
Realce
Silvia
Realce
Silvia
Realce
Silvia
Realce
16
Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução
Material Complementar
Para enriquecer seus estudos a respeito do tema abordado nesta Unidade, sugiro a leitura 
do artigo de Jeff Tyson, traduzido para o site comotudofunciona, Nele, você encontrará temas 
como chave pública SSL, algoritmo de espalhamento, Autenticação entre outros.
Tal artigo pode ser encontrado em:
 9 http://informatica.hsw.uol.com.br/criptografia.htm
17
Referências
LIMA, V. C. Antropologia Filosófica I-II. São Paulo: Loyola, 2004. 
MONDIN, B. O homem, quem é ele? São Paulo: Paulus, 2005. 
FILOSOFANDO. Disponível em: <http://www.filosofando.da.ru/>. Acessado em: 22 dez. 2007. 
FÉLIX, L. O que é o homem? Disponível em: <http://www.esdc.com.br/CSF/artigo_homem. 
htm>. Acessado em: 19 dez. 2007.
18
Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução
Anotações
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil 
Tel: (55 11) 3385-3000

Outros materiais