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Antropologia Filosófica Antropologia Filosófica: Uma Introdução Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Isacir Heleno Andreoni Júnior Revisão Textual: Profa. Karina Barbosa 5 • Introdução • Cosmocentrismo Grego • Teocentrismo Patrístico - Escolástico Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. · Nessa unidade você terá a oportunidade de um contato inicial com a Antropologia Filosófica. Além do texto base, fundamental no sentido de formar os primeiros conhecimentos sobre o tema, por meio de uma reflexão, você terá uma vídeo-aula, e uma gravação sonora, em que o mesmo tópico da unidade será abordado de perspectivas diferentes, complementares à do texto. Antropologia Filosófica: Uma Introdução • Antropocentrismo Moderno 6 Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução Contextualização O que é o homem? Como explicar a variação das diferentes configurações do humano ao longo da história? Elas se dariam para além de um caráter essencial, imutável, presente, desde todo sempre, em todo humano? Como já se pode perceber a partir do que está sendo estudado nessa unidade, e que será aprofundado nas unidades subsequentes, isso que chamamos “o homem” não é algo já pronto, um dado da natureza, pronto e acabado. “O homem”, ou seja, aquilo que cada época, que cada civilização, que cada contexto histórico-político entende como sendo “o homem” varia. O que a filosofia procura é, de alguma maneira, tentar chegar a algo além de todas essas diferentes concepções contextuais do que seja o homem, alcançando aquilo que é essencial ao humano. Agora, a pergunta é: será que essa busca é possível? Renderá frutos? Ou o que os mais de dois milênios de filosofia no Ocidente nos tem mostrado é que a busca por algo “essencial” também é algo questionável? Bem, como tudo em Filosofia, devemos questionar, e, no caso do tema deste curso, como você deve estar percebendo, o próprio objetivo de uma antropologia de cunho filosófico é algo a ser questionado. 7 Introdução Partindo da ideia de que a antropologia é um conhecimento sobre o homem, estudo sobre o homem, segundo a própria etimologia do termo derivado do grego anthropos + logos (homem + estudo/saber), é preciso, contudo, entendermos uma diferença fundamental entre essa busca de conhecimento do humano como ciência, de um lado; e como um aspecto da filosofia, de outro. É preciso, enfim, diferenciarmos a antropologia de um campo específico da filosofia que é a Antropologia Filosófica. De um lado, temos a Antropologia como ciência – a mais humana dentre as ciências, e a mais científica dentre as humanidades, como se costuma dizer: uma ciência que se volta ao estudo das culturas e sociedades humanas. Ao antropólogo, um cientista social, cabe investigar as diversas formas de organização e arranjo do que se chama “humano”: comportamentos, procedimentos, instituições, crenças. Tudo isso por meio de uma descrição dos fenômenos socioculturais. E essa especialidade dentre as ciências humanas, mais precisamente, as ciências sociais, também se divide em subáreas: antropologia biológica (ou física) e antropologia sociocultural. Interessada pelo homem como um ser biológico, social e cultural, no âmbito das sociedades humanas, a antropologia pode ser compreendida como ciência que estuda as culturas humanas. Assim, cabe aos antropólogos investigar as formas do desenvolvimento do comportamento humano a fim de descrever os nossos fenômenos socioculturais. Imagem 1: tribos urbanas (colocar qualquer imagem de “tribo urbana”: grupo punk, gótico, skatista, etc) Fonte – Thinkstock/Getty Images Na atualidade, as “tribos urbanas” constituídas nas grandes metrópoles são objetos de estudos, dentre outros, de diversos pesquisadores que se interessam por descrever e analisar a dinâmica de jovens que, reunidos em grupos como pichadores, “manos”, góticos, etc., articulam pontos de encontro, formas de apropriação do espaço urbano, além de relações de trocas e conflitos. Esses tipos de estudo percorrem um dos campos da ciência antropológica: a Antropologia Sociocultural. Esta vertente da antropologia ajuda-nos a compreender o comportamento dos 8 Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução grupos humanos, as convenções sociais, os jogos simbólicos em torno das relações sociais, sejam elas familiares, escolares, religiosos, o lazer ou o trabalho. As manifestações culturais, como as canções populares, a literatura de cordel e os mitos assumem aqui papéis fundamentais para compreendermos o homem em sociedade. Imagem 2: grafite nas ruas. Imagem 3: Pintura Rupestre Imagem 4: Dança / Ritual Tribal Fonte: Thinkstock / Getty Images 9 O olhar antropológico: cada contexto, cada sociedade, cada época manifesta suas buscas, suas identidades de formas variadas. Já a antropologia biológica (ou física), um segundo campo da antropologia, estuda o homem do ponto de vista físico-somático, ou seja, interessa-se pelos aspectos biológicos dos seres humanos, mergulhando nas questões das diferenças raciais e étnicas, formulando pressupostos sobre a origem e a evolução da humanidade. E quanto à Antropologia Filosófica? Em que ela difere da antropologia, ciência humana do campo sociocultural? Primeiramente, é preciso lembrar que, no caso da Antropologia Filosófica, não se trata de mais um campo da antropologia; mas de uma especificidade investigativa da filosofia. É verdade que, assim como a antropologia, ela também tem o homem como objeto de estudo, porém, a Antropologia Filosófica se interessa pelo homem como um todo, corpo e alma. O homem não é interpretado apenas como natureza, vida, vontade ou espírito, mas como homem, ou seja, ele nos interessa pela complexidade da relação entre os elementos que o constituem (corpo/alma; vida/ espírito) e o seu modo de existência específico, que o distingue em geral de outros animais. Trata-se de uma investigação preocupada fundamentalmente com a essência e a estrutura eidética (relativo à essência das coisas e não à sua existência ou função) do homem, ou seja, estão em questão o lugar que o homem ocupa na natureza e as relações que ele estabelece com o universo das coisas. Por isso é que, enquanto a antropologia (sociocultural) se constrói por meio de uma descrição dos fenômenos socioculturais empíricos, e, portanto, observáveis; a antropologia filosófica, como toda investigação filosófica, aliás, se faz como abstração: a reflexão (abstrata) do pensamento que se volta para o sentido de ser humano: o que é o homem, afinal? Imagem 5 – “O homem vitruviano” (1490), de Leonardo da Vinci: expressão clássica do ideal antropocêntrico. 9 Imagem 7 – O pensador (1902), Auguste Rodin. Mas o pensamento é reflexivo, volta-se sobre si mesmo, da mesma forma que o homem se torna objeto de investigação para si mesmo. Fonte: Saiko / Wikimedia Commons Em outras palavras, enquanto a antropologia sociocultural busca compreender as características empíricas das culturas humanas, priorizando investigar como em uma determinada comunidade o homem vive, sem desprezar as condições particulares desta vivência; a antropologia filosófica dedica-se a refletir a respeito das características essenciais do ser humano em geral e de sua diferença em relação a outros seres. Não se trata, como no caso da antropologia, de desvendar os mecanismos das diferenças intrínsecas ao âmbito humano, ou seja, de estudar diferenças de hábitos, crenças, valores, etc. entre diferentes povos/tribos/sociedades/culturas; mas de determinar o que é o homem (acima de toda essa diferenciação interna; para além de toda variedade de cultura, crença, organização), oque é o homem em sua essência. Vemos, então, que enquanto uma se interessa pelo particular de uma determinada cultura, a outra se faz como uma procura por algo mais abrangente, mais geral, mais essencial, enfim, mais “universal”, digamos: pelos aspectos característicos que podem ser encontrados em qualquer ser humano. É o homem na sua plenitude e complexidade que interessa a uma filosofia antropológica, a uma filosofia humanista. Antropologia Sociocultural » Área das Ciências Sociais surgida na segunda metade do século XIX. » Estudo das características empíricas das diversas sociedades/ culturas humanas. » Método - o estudo de caso, o trabalho de campo (empírico), os dados/ características particulares. 10 Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução Antropologia Filosófica » Investigação que se dá no contexto da Filosofia, desde sua origem, mas, sobretudo a partir da filosofia socrática. » Reflexão que visa à determinar o que é o homem em sua essência. » Método - dedução a partir do que é mais geral, o pensamento abstrato, o elemento universal. A Antropologia Filosófica se coloca a tarefa de compreender a condição humana ou a natureza do homem. “O que é o homem?” é uma questão central deste campo filosófico que, diferente de outras ciências como a biologia, a medicina, a história, etc., tem a pretensão de dar uma resposta completa – a mais abrangente, a mais essencial – a este enigma. É verdade que o historiador, o médico, o antropólogo, o biólogo entre outros se interessam pelo homem, mas é também verdade que nos oferecem um conhecimento fragmentado, parcial e superficial do homem. Já o filósofo envereda por uma busca exaustiva para apresentar uma resposta que seja capaz de esclarecer plenamente o que é o homem em um sentido global, na sua totalidade; interessa-se pelo que de fato o homem é, procura sua essência ao invés de se perder no que, para ela, são meras aparências do humano. Imagem 8 – Evolução do Homem. Fonte: Thinkstock / Getty Images Contudo, conforme nosso conhecimento filosófico se amplia, vamos percebendo que cada contexto filosófico (cada “período”, se adotarmos uma perspectiva mais histórica da filosofia), e, em última instância, cada filósofo, apresenta uma visão específica sobre essa questão. Cada época – e cada filósofo, em cada época – apresenta uma definição particular do que é o homem, de acordo com o que, tanto o filósofo, quanto o contexto histórico-filosófico vigente entendem não apenas quanto ao humano, mas quanto ao pensamento, à ética, à estética, à política, enfim, à própria filosofia de maneira mais ampla. O que queremos dizer é que, de certa maneira, e em grande medida, diferentes definições filosóficas do humano se relacionam a diferentes concepções da própria filosofia; diferentes finalidades em nome das quais cada filósofo, e cada contexto, constroem sistemas de pensar. Assim, será tratado com maior detalhe, ao longo deste curso, em toda a história da filosofia, os diferentes pontos de vista em que o homem aparece como objeto de estudo. 11 Cosmocentrismo Grego Imagem 9 – o conceito de homem na antiguidade: força da physis; potência da razão. Fonte: Thinkstock / Getty Images Na filosofia clássica grega o homem foi compreendido a partir de uma leitura cosmocêntrica, em que o fundo sobre o qual se desenvolve a vida humana é a natureza; ou seja, ao explicar a natureza, a filosofia também explicava a origem e as mudanças dos seres humanos. Se o homem se transforma é porque o mundo está sujeito a uma mudança contínua, uma vez que a natureza é uma mobilidade permanente. Platão e Aristóteles são os filósofos que melhor elaboraram um estudo do homem nesta concepção cosmocêntrica. Imagem 10 – Detalhe de “A escola de Atenas” de Rafael Sanzio. No centro da imagem, vemos Platão (com o dedo apontado pro alto, numa possível referência à verdade, ao mundo das ideias), acompanhado de seu discípulo Aristóteles. Para Platão, o homem era essencialmente alma (espiritual, incorruptível e imortal). O filósofo não se limitava a entender a alma apenas como o princípio da vida, mas também como princípio de conhecimento, em que assume uma independência do corpo, é eterna. Enquanto o corpo 12 Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução pertence ao mundo sensível ou físico — este sim, mutável e ilusório — a alma pertence ao mundo inteligível (ou mundo das ideias). As ideias, segundo Platão, possuem uma realidade objetiva, ou seja, elas se materializam como modelo ideal (arquétipos) de todas as coisas que existem no mundo sensível ao passo que este, o mundo sensível, é ilusório, na medida em que é composto de cópias das ideias originais, verdadeiras. Por isso, as almas aspiram a se libertar dos corpos e retornarem ao mundo das ideias. Essa maneira de entender o homem, e a realidade, aparece, por exemplo, no Mito da Caverna, presente na obra A República, de Platão. Já Aristóteles compreende que o homem, assim como todos os outros seres do mundo, é essencialmente constituído de alma e corpo. A alma, para Aristóteles, é simplesmente um princípio de vida, é a fonte das atividades próprias de cada ser vivo. Aqui alma e corpo constituem um composto humano, por sua vez a alma é única em cada homem (ou ser vivo), tendo várias faculdades e realizando diversas atividades: vegetativa, sensitiva e racional. É Aristóteles o primeiro a sistematizar uma Antropologia Filosófica. Teocentrismo Patrístico - Escolástico A perspectiva teocêntrica, característica da filosofia crista, é marcada por uma abdicação em relação à natureza e também em relação à primazia da razão. Nesse contexto, o homem e a vida humana não são compreendidos, seja no âmbito das dinâmicas do próprio mundo (cosmocentrismo), da própria physis (natureza); seja pela via de um conhecimento puramente racional-humano. Neste novo cenário filosófico, explica-se o homem sob o amparo das relações entre Deus e a humanidade, ou seja, o homem, enquanto ser está determinado por uma força maior, exterior a ele e a seu domínio e, portanto, pela salvação. Isso porque, para os pensadores cristãos, a razão é algo limitado e imperfeito, e por isso o homem depende de uma potência extra-humana, divina, tanto para existir como para conhecer. Nas épocas compreendidas como patrística — que se inicia com as epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIII — e escolástica (ou medieval) — período entre os séculos VIII e XIV — os grandes expoentes da filosofia de cunho teocêntrico foram Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Conhecido como o fundador da filosofia medieval e cristã, Agostinho acreditava que toda a filosofia anterior ao advento de Cristo estava sujeita a um erro fundamental: o poder da razão era exaltado como o mais alto poder do homem. No entanto, o que o homem não sabia — pelo menos enquanto não fosse iluminado por uma revelação divina especial — era que a própria razão era um poço de ambiguidade. No entender de Agostinho, a razão não era capaz de nos proporcionar o caminho da claridade, do esclarecimento, da verdade e da sabedoria. A razão estava envolta a uma obscuridade, um mistério que só a revelação cristã seria capaz de solucionar. Ao contrário dos pressupostos da filosofia grega, que tinham a razão como o mais alto privilégio do homem, objeto de seu orgulho, vê-se aqui a razão no âmbito do perigo e da tentação, convertendo-a na mais profunda humilhação. A filosofia antropológica de Agostinho se inspira em Platão, ou seja, prevalece a mesma dicotomia entre a alma e corpo, sendo o homem reduzido essencialmente à alma. Silvia Realce Silvia Realce Silvia Realce 13 Imagem 12 e 13 – Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, respectivamente. Santo Agostinho (imagem 12) acreditava que somente a revelação divina era capaz de propiciar ao homem o acessoà verdade e à sabedoria. Em São Tomás de Aquino (imagem 13) é a alma que possui o ser diretamente. Fonte: Wikimédia Commons Já São Tomás de Aquino, reconhecendo, no pensamento de Aristóteles sobre o homem, algo mais substancial do que a filosofia de Platão, mas, também reconhecendo que o primeiro era incompatível em alguns pontos com a revelação cristã, acaba, assim, por elaborar uma nova antropologia filosófica. Nela o homem é interpretado como um composto de alma e corpo (herança aristotélica), em que a alma aparece como aquela que possui o ser diretamente. Entretanto, mesmo a alma tendo um papel fundamental no ato de ser do homem, o autor concebe que a morte do corpo não implica morte da alma. Logo, a alma é de direito imortal (uma dívida com Platão). Antropocentrismo Moderno No caso da filosofia moderna e, em certa medida, a contemporânea, deparamos com uma tendência antropocêntrica: aqui o homem é o ponto de partida de toda investida filosófica. O homem é sujeito do conhecimento, compreendido como consciência de si reflexiva, ou seja, como consciência que conhece sua capacidade de conhecer. Se considerarmos tanto o cosmocentrismo grego, quanto o teocentrismo, veremos que o antropocentrismo faz o caminho inverso para conhecer o homem. Ao invés de primeiro compreender seja a natureza, seja Deus, para só depois se indagar sobre o homem, os filósofos modernos preferem começar por questionar os limites de compreensão, de conhecimento do próprio homem, ou seja, investigar qual a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos, para, então, voltar tal intelecto para algum objeto. Fonte: Thinkstock / Getty Images Silvia Realce 14 Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução Descartes, a razão desdobrada em inúmeros conhecimentos: da aritmética à geometria; da óptica à anatomia e à visão do homem como pensamento. Para René Descartes, conhecido como o fundador do pensamento moderno e famoso pela frase “Cogito, ergo sum” (“penso, logo existo”), a alma humana existe e é substancial. No entanto, este filósofo reconhece a total separação entre a alma e o corpo no que se refere à sua natureza. Descartes definiu a alma como consciência ou pensamento. Logo, para ele, o sentido primordial da alma para se orientar no mundo é a razão. Para o autor, a alma possui uma natureza indivisível, o que a difere do corpo, sendo este sempre divisível. Mas esta diferença, esta separação entre pensamento (res cogitans), alma, de um lado; e extensão (res extensa), corpo, de outro, não impedia que a alma interagisse com o corpo, relação que era possível graças a uma glândula denominada pineal, um pequeno órgão do cérebro que tinha sido escolhido por se tratar de uma das poucas partes não duplicadas do cérebro. Descartes também era anatomista, tendo conhecimento da descrição completa do corpo humano, da circulação do sangue, entre outras teorias médicas que circulavam na época. Imagem 15 - A razão que escolhe seu próprio caminho: eis o conceito de livre-arbítrio. Fonte: Thinkstock / Getty Images Para finalizar, Descartes acreditava que a essência da alma era o pensamento. Mas o que ele entendia por pensamento? Eram todas as operações voluntárias, dizia o filósofo; identificando assim o “ato de pensar” como toda atividade psíquica exercida pelo homem. Neste sentido, colocando a razão como elemento definidor do homem, o autor assumia o livre-arbítrio humano, ou seja, o homem não era mais interpretado como parte de Deus; em outros termos, o homem era livre, podia dizer sim ou não às ordens de Deus. É por meio do livre-arbítrio que o homem se faz merecedor ou culpado. Silvia Realce Silvia Realce Silvia Realce Silvia Realce Silvia Realce 15 O lugar da Antropologia Filosófica: metafísica, filosofia transcendental? Como vimos no início da unidade, a antropologia filosófica se define como uma busca pela essência do que é humano, enfim, aquilo que é mais geral, mais abstrato, mais universal, e que, portanto, se coloca como elemento definidor do humano, acima e além de todas as diferenças humanas. Mas falar em essência, em ser, enfim, numa tal abstração localizada além de toda aparência, não é algo tão simples. Ao usarmos tais conceitos, já estamos adentrando um âmbito filosófico específico, para o qual estes conceitos são centrais. Trata- se da metafísica, e da filosofia transcendental. Com isso, queremos ressaltar que, embora todos os filósofos modernos partam de uma perspectiva antropocêntrica, eles insistem em elaborar uma Antropologia Filosófica de cunho metafísico ou transcendental (parte da filosofia que estuda o “ser enquanto ser” e se interessa por explicar a essência do universo, a existência da alma e de Deus, por exemplo), geralmente inspirada no pensamento de Platão. Nesse contexto, surge, com Imannuel Kant, uma nova forma de olhar o homem na filosofia. Segundo Kant, a mente humana era incapaz de adquirir um saber absoluto, seja sobre o mundo (a natureza), o homem ou sobre Deus. Na visão do autor, a mente humana só pode atingir um conhecimento de caráter prático e moral. Foi em Antropologia de um ponto de vista pragmático, publicado em 1778, que Kant procurou mostrar que o homem é um ser diferente dos outros no tocante aos seus valores morais, à sua dignidade, à sua condição de pessoa e que, a essas características, ele corresponde com um comportamento adequado. Foi Kant que acabou por fixar um lugar devido à antropologia no campo da filosofia. No seu manual de Lógica, Kant propõe quatro questionamentos que sintetizariam a filosofia: 1) O que posso saber? (teoria do conhecimento ou metafísica); 2) O que devo fazer? (domínio da ética e da moral); 3) O que me é lícito esperar? (domínio da religião); e 4) O que é o homem? (domínio da Antropologia Filosófica). Mas que segundo o próprio filósofo as três primeiras questões poderiam ser reduzidas a uma só, a última. Isso porque as três primeiras questões fazem referência à última, no entender do autor. Portanto, a antropologia filosófica é regida por uma preocupação originalmente filosófica e humanista de responder à seguinte questão: “o que é o homem?”. Nas próximas unidades veremos, com maiores detalhes, de que maneira diferentes formulações e respostas vão sendo dadas a esta pergunta. Silvia Realce Silvia Realce Silvia Realce Silvia Realce Silvia Realce Silvia Realce 16 Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução Material Complementar Para enriquecer seus estudos a respeito do tema abordado nesta Unidade, sugiro a leitura do artigo de Jeff Tyson, traduzido para o site comotudofunciona, Nele, você encontrará temas como chave pública SSL, algoritmo de espalhamento, Autenticação entre outros. Tal artigo pode ser encontrado em: 9 http://informatica.hsw.uol.com.br/criptografia.htm 17 Referências LIMA, V. C. Antropologia Filosófica I-II. São Paulo: Loyola, 2004. MONDIN, B. O homem, quem é ele? São Paulo: Paulus, 2005. FILOSOFANDO. Disponível em: <http://www.filosofando.da.ru/>. Acessado em: 22 dez. 2007. FÉLIX, L. O que é o homem? Disponível em: <http://www.esdc.com.br/CSF/artigo_homem. htm>. Acessado em: 19 dez. 2007. 18 Unidade: Antropologia Filosófica: Uma Introdução Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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