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1 Universidade Estácio de Sá – Campus Resende Disciplina: Psicologia Aplicada ao Direito Prof.: Ciro Ferreira dos Santos AULA 08 - ABORDAGEM PSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA. A violência é um comportamento cada vez mais frequente nas relações sociais, em todas as sociedades. Não é possível analisar qualquer comportamento humano dissociado de seu contexto, de quem o pratica e dos estímulos internos e externos que o motiva. A sociedade violenta desenvolve estratégias tecnológicas, materiais e humanas para lidar com a violência, incorporando-as à vida das pessoas. Definições de Violência DICIONÁRIO HOUAISS – ação ou efeito de violentar, empregar a força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral (contra alguém); ato violento, crueldade, força. Aspecto jurídico – constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém para submeter-se à vontade do outro; coação. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS – imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis. COMUNIDADE INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS - a violência é compreendida como toda violação de direitos civis; políticos;econômicos e culturais. PSICOLOGIA – BOCK , FURTADO E TEIXEIRA - uso desejado da agressividade, com fins destrutivos, podendo ser voluntário, racional e consciente ou involuntário, irracional e inconsciente. MANGINI (2008) - a violência ocorre quando a agressividade não está relacionada à proteção de interesses vitais, trazendo em si a ideia de destruição entre seres da mesma espécie, quando outras soluções poderiam ser empregadas. A agressividade, segundo Mangini (2008), citada por Fiorelli e Mangini (2010), é como se fosse uma força, um comportamento, algo que ajuda a sobrevivência e a adaptação do indivíduo. Para essa autora (Mangini, 2008), a agressividade é uma característica da personalidade que aparece no comportamento da pessoa. Não canalização da agressividade para fins construtivos - a falta de estabilidade emocional, a impulsividade e a baixa tolerância a frustrações. 2 Mecanismos de controle da agressividade - por exemplo, a educação, a lei e a tradição. Desde a infância - o ser humano é levado a aprender a reprimir e a não expressar a agressividade de forma descontrolada. Mundo - transformação dos impulsos agressivos em produções consideradas socialmente positivas, como a criação intelectual, as artes e o esporte. Violência e agressividade - contexto social e cultural no qual o ato é realizado. O comportamento agressivo em um contexto pode ser considerado violência em outro, e vice-versa. Não há uma linha divisória entre a agressividade e a violência. A interpretação dessas situações dependerá do contexto legal e sociocultural. Interpretação dinâmica - porque se modifica na medida em que os costumes se modificam. Teorias sobre a agressividade PSICANÁLISE A agressividade é constitutiva do ser humano e, ao mesmo tempo, afirma-se a importância da cultura e da vida social, como reguladoras dos impulsos destrutivos. A função de controle dos impulsos destrutivos - processo de socialização em que é esperado que as ligações significativas com os outros sejam determinantes. Winnicott (2012), psicanalista inglês, afirma que a agressividade e a destrutividade humanas estão intrinsecamente relacionadas à questão da constituição do sentido da realidade externa. A importância está nos estágios iniciais do desenvolvimento, em que se mostram as raízes da agressividade. GESTALT A Gestalt destaca este tema afirmando que a agressividade é resultado de uma percepção inadequada dos comportamentos realizados, ou seja, a pessoa não conseguiu discriminar os detalhes que diferenciam um comportamento agressivo de outro socialmente adaptado. BEHAVIORISMO O Behaviorismo explica que existe a possibilidade do comportamento agressivo ser aprendido por meio de um condicionamento por reforço positivo. Por exemplo : o indivíduo apresenta um comportamento agressivo; consegue o que quer; ele volta a agredir pelo mesmo ou outro motivo e obtém novamente sucesso, com isso, torna-se cada vez mais agressivo. 3 SOCIOCOGNITIVA A abordagem psicológica da linha social-cognitiva afirma que a agressividade pode ter origem nos modelos: a criança e o adolescente aprendem o que é considerado agressividade ou violência com os pais, colegas de escola, ídolos etc. A partir daí, passam a se comportar de forma a repetilos, para estar “à altura deles” ou mais perto deles. O importante é perceber que todas as perspectivas podem ser integradas. As visões teóricas da Psicologia não se contradizem, se complementam, reforçam-se e possibilitam a compreensão deste fenômeno sob diferentes visões. Formas de Violência Violência estrutural Nesse grupo de classificação da violência se enquadram aquelas violências que negam a cidadania para alguns indivíduos ou determinados grupos de pessoas, pautados principalmente na discriminação social contra os “diferentes”. Violência urbana As formas de violência, tipificadas como violação da lei penal, como: 1) assassinatos, 2) sequestros, 3) roubos e, 4) outros tipos de crime contra a pessoa ou contra o patrimônio formam um conjunto que se convencionou chamar de violência urbana, porque se manifesta principalmente no espaço das grandes cidades. A violência urbana, no entanto, não compreende apenas os crimes, mas todo o efeito que provoca sobre as pessoas e as regras de convívio na cidade. A violência urbana prejudica a qualidade das relações sociais, destrói a qualidade de vida das pessoas. Um dos principais fatores que gera a violência urbana é o crescimento acelerado e desordenado das cidades. Violência institucional A violência institucional é aquela praticada nas instituições prestadoras de serviços como hospitais, postos de saúde, escolas, Delegacias, Judiciário. É perpetrada por agentes que deveriam proteger as vítimas de violência garantindolhes uma atenção humanizada, preventiva e também reparadora de danos. Violência simbólica A violência simbólica é um tipo de atentado, desvalorização ou restrição do patrimônio material ou imaterial de determinado grupo identificado culturalmente. São relações estabelecidas entre grupos dominantes e dominados que aparecem de forma “naturalizada”. A violência simbólica é sutil e permeia nosso cotidiano de forma implícita. 4 Violência doméstica A violência doméstica é o tipo de violência que ocorre no lar, compreendido como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas. Existem cinco tipos de violência doméstica: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Violência de Negligência A negligência é o ato de omissão ou abandono do responsável pela criança/idoso/outra (pessoa dependente de outrem) em proporcionar as necessidades básicas, necessárias para a sua sobrevivência, para o seu desenvolvimento. Violência psicológica Violência psicológica é um tipo de violência que geralmente ocorre de forma “indireta”, como humilhações, ameaças, palavrões, privação de liberdade, entre outras. A agressão não ocorre necessariamente em seu corpo, mas a violência gera transtornos de natureza psicológica, constrangendo a vítima a adotar comportamentos contra sua vontade ou tirando-lhe a liberdade. Violência sexual A violência sexual ocorre quando o agressor abusa do poder que tem sobre a vítima para obter gratificação sexual, sem o seu consentimento, sendo induzida ou obrigada a práticas sexuais com ou sem violência física. Violência verbal Muitas pessoas confundem a violência verbal.Ela pode ocorrer através do silêncio, que muitas vezes é muito mais violento do que os métodos utilizados habitualmente, como as ofensas morais (insultos), depreciações e os interrogatórios infindáveis. Violência física É o uso da força com o objetivo de ferir, deixando ou não marcas evidentes. São comuns, murros, tapas e agressões com diversos objetos e queimaduras. 5 Caso Concreto A exploração sexual de crianças e adolescentes vêm sendo investigada como um fenômeno de caráter social e histórico demarcando sérias e complexas consequências no reconhecimento de si e nas muitas teias afetivas/sociais que envolve a sociedade, a família e a própria criança e/ou adolescente. Clarice, aos 16 anos foi criada pela avó, uma vez que sua mãe a tivera muito cedo. A jovem afirmou ter sido estuprada durante anos por um dos seus padrastos. Já tentou o suicídio quando estudava na 4ª série do Ensino Fundamental e não apresentava bom rendimento na escola e relatou que não achava importante estudar, e que não se sentia bem naquele ambiente. Afirmou fazer sexo com pessoas de ambos os sexos, e apresentava inconsistência na utilização de preservativos. Sonha com um casamento. Foi levada ao atendimento psicológico do Posto de Saúde pela mãe, mediante queixas sobre suas companhias, seu comportamento e uso compulsivo de drogas injetáveis. A mãe diz se preocupar com a tristeza que não sai dos olhos da filha. Relata um sentimento de cuidado provindo da avó materna, por quem demonstra bastante afeto. A mãe, ao seu jeito, estabelece relações afetivas com a filha preocupando-se com o uso das drogas e com a tristeza que Clarice tem no olhar. Atualmente é dependente de drogas injetáveis e participa de alguns furtos para obtenção de dinheiro. Clarice tem uma filha de dois anos que mora com sua avó, em um dos seus contatos com a filha queimou a mão da menina com ferro de passar roupa e os vizinhos fizeram uma denúncia no Conselho Tutelar. Todavia, não houve maiores consequências em função do comprometimento de sua avó em afastar a mãe da filha, responsabilizando-se pela vida e cuidado da criança. Clarice sempre morou com a avó numa humilde casa no lixão da cidade. Quando pequena sonhava em ser manicure como sua tia, mas em função das necessidades básicas da família foi vender balas no semáforo da rua principal de sua cidade. Sentia muitas dores de dente e descobriu que o uso de drogas injetáveis amenizava tais dores, além do mais a partir do uso das drogas injetáveis passou a ter amigos mais próximos que ofereciam o pertencimento que ela tanto desejava. Segundo Clarice “era sua família”. Em seus delírios pelo uso de droga, sonhava em ser uma princesa da Disney daquelas bonitas, loiras, ricas e que todos gostavam. Quando o efeito das drogas passava retomava sua habitual rotina: furtos, brigas, uso de drogas e muita tristeza. A partir da análise do discurso de Clarice podemos pontuar uma série de abandonos: familiar, social e afetivo. Faça uma análise destes abandonos à luz do Artigo 227 da Constituição Federal da República do Brasil. Gabarito: Analisar a história de vida de Clarice a partir da Doutrina da Proteção Integral.
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