Buscar

texto_1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

92� JOAO QUARTIM DE MORMS
superiorcs do quc parn Os nfcriorcs, para Os ricos c nao para Os pobrcs ' . 0 autor
certamcrte não teve tempo para rcicr seu texto corn a dcvida calma, Se a tivesse
fcito, não Hie rena escapado a contradição, nada dialética, entre atribuir ao
fundador do posirivismo a tese, antes refcnida, de que a ordem moral rcpousa
sohrc a social, csta sabre a vital c a vital sohrc a material, para, cm seguida, corn
mais accrto, lembrar quc para o rncsrno pcnsador a ordern social repousa sobrc a
ordem educaciona!, base das dernais.
A pa rte final do artigo cstã coiisagrada a Teixeira Mendes. Salicnta os aspcctos
progressistas c gencrosos dc sua obra c açâo, inclusive sua atinide em relaçao ao
comunismo, do qual divergia, mas recon}iecia-lhc o direito exisréncia corno
correnre condenando a rcprcss3o policial de qiic cra ob j eto. No final, contrasta
posirivistas c católicos. "Estes servem aos ricos para set por des scrvidos, recom-
pensados. Aquelcs, não. Os mais aurorizados a elcs servem porque cstão firme-
mcnte convcncidos de que, corn arnor, podeni set resolvida a questão social."
"Teixeira Mcndcs foi urn dcsscs. Sc nio mcrcccu, pois, nossa admiraçao, ao
rrlcnos, 00550 respeito.
- ...a.. Sc o Iriteressc do artigo, como anblise comparariva do posirivismo e do
comunismo, é pequeno, constitui riorñvcl restemunho hisroniograuico da inflexbo
intelecrual da esquerda brasilcira 005 anos 20. 0 adeus a Tcixcira Mendes di
ocasiao ao autor (provavcln-entc dirctor do jorrial, professor Leôntdasdc
Rescndc) Para tarnhni dar adtus an positivisnio. Corno coda suprema dcspedida,
vem carrcgado da nostalgia qIic inspiram os arnores monros.
•�.�¶\.�-
• ...�.,..-�-�--
Os !NTELECTUAIS F Os ANOS 20:
MODERNO, MODERN!STA, MODERNIZAçAO
MILTON LAHUERTA'
A mociclade sene que 1hu cabe uma rnissão importante,
mas não atin.-i corn a inaneira pot quc deva tal rniss.io concreticar-se.
(Sérgio Millie:, 1936)
Os anos 20 são dc mudanças. 1arnb6rn são sirnbOlicos na história politica c
cultural brasileira, por inaugurarem a génese do Brasil Moderno, corn a introdu-
çiio de proccdimenros, hbbitos, bngilos dé visbo, diagnOsticos que onienraram e
mobilizaram viirias geraçOcs. Nesse sntido falar deles é entrar em polémica crrra,
p015 rnuitOs 550 Os bngulos a partir dos quais se pode abordii-los. HiiCOriSCnSO
apenas quanto no fato de neles ter cxplicitado a crise da rcpüblica oligbrquica
c de ter surgido urn novo ângulo para pensar o Brasil. Afinal, 6 justamcntc nos
anos 20 clue a deccpçbo quanta a pdssibilidade de a Repiiblica realizar o ideal de
urna sociedade nova torna-se absolutamentc cxplosiva. Particularmente para os
intclectuais, a década de 1920 serb de quesrionamentos inéditos, are então, c que
permanecem em paura pelas próximas dCcadas. Nbo apenas conccpçöes tradicio-
nais são atacadas, mas tambCm as instituiçôs republicanas - identificadas corn urna
legalidade que não tern corrcspondéicia no real -, elevando o pathos de ruptura,
trazendo b tona novos atores c a problcrnárica dos direitos e da participaçbo.
1 Professor dc Teoria Polirica - UNESP - Araraquara.
96� MILTON LAHUERTA�
A DECADA DE I90 E AS ORIGENS DO BRASIL MODERNO� 97
No cotanro, sc d verdade c l ue tinus "socicdadc civil" cm germe Sc movirnenta
num scntido mudancisra c genericamente rcnovador, não lid contudo oem uma
situação de constnangimenro insuporrável, nem urn projeto que a ]eve a se articular
nactona[menrc em tomb da perspcctiva de urn desenvolvimento histórico alter-
nativo. Em comurn, ha uma demanda genrica de unificaço cultural, urn es'lrito
de renovação e atualizaçao clue prerende it além da dirnensão esrriramentc literãria
e uma preocupação difusa de superar a disrància entre o erudito e o popular.
Luciano Martins, fazertdo diagnóstico da situação da intelectualidade do period-o,
dma clue cia se caractcriza par urna "ida no povo" i brasilcira, "scm utopia ou
rcoria do sociedade, corn humor, corn mallcia".
E por isso que entre os intelectuais inspirados no modernismo, ainda que haja ,-.
uma prctensão de rever o racismo e de criticar a rerórica do academicismo,',
permanecem urn culto a erudicao c urn senrirnento de set parre da elite ral quid
cram cultivados nos salóes arisrocrLjticos. Dc tz'l maneira isso ocorrc, clue a
ambiguidade será o tour de force dessc5 intclectuais. Nesse scntido, a movimento
modernista - considerado pela critica urn marco, uma ruptura - é exemplar de
como uma intelcctualjdade viajada, apoiada por umna aristocracia ilustrada, 15 vai
ito enconrro do povo como Se este fosse urn objeto exótico, quase uma massa
qual é preciso dar forma, flertando !s distncia, scm estabelecer relaçoes de maior
proximidade. Uma inrekctualidade que, mesmo ntarcada pelo industrialismo c
pelo maquinismo, presentes na variguarda artistica européia, nao d capaz de
reconheccr plenamente a importândia do classe operdria emergence.
Noessencial, a intelecrualidade modcrnisra, mesmo suas figunas mais radicais,
presa a unit visao de cultura rradicional e preocupada cm construir a Cuirura - -
Nacional, quando "loi to povo", o fez eperando enconcrar nas nuanifestaçoes
populares urna macdna-prima punt e dotads dc autenticidade, qual cabria dar
forma final mcdiante urn crabaiho dc sincese emineritemente intelectual.' A
poifrica, essa arividade, quando a dxcrcessem, continuaria a se dar nos mar cos
dos partidos oligárquicos. Basta norar clue, pclo menos ate 30, as prOcercs do
modernismo se mantérn no órbita dcsses partidos (Oswald no PRP; Mario de
Andrade e SCrgio Millict no PD).
Depois de 30, ha uma "politizaça" das questôcs culturais e oterna da modcrni-
zaçSo fica intcgralrneri tc subsumido to da construçao de urn Jrojéro riacional.
14 MARTINS, op. cit., 1987, p.69.
IS Alfredo Bost considena impens5vcis as obras mais represenrarivas do modcrnismo "scm a
uniSo dc alto burguesia paulisrana coin uma inrcligdncia viajcira, cuniosa e critica", qua se
move no interior de uma chas.se pront part zarpar - real ou meraforicamenre - para os
ccnrros do modernidade (BOSI, op. cit. 1979).
16 0 !:nsa,o sobrc a ',r,sjca /,r,,si/eira, (53o Panic,: Martins, 1972) sIc Miirio de Andradc,
publicado pcla primetra yen. em 1928, contdni :ndicaçóes cxcmpharcs nesse scntudo.
ATRAO IIIS10RICO,
CRISE DE IDENTIDADE SOCIAL E AçAo POLIIICA
AparccLndo coino resultado da rtsc da eOnomia do c.1fd e das inst,tuiçOcs
da Prirucira Repdhlica, it ctctgiscia dc rnodcrnizaçao que rnovimcntara as cncrgias
da sociedade no iongo dos anos 20 não tinha urn scnido niuiro dcfinido. Pois,sc
é vcrdadciro quc a intcicctuand;idc passa a pensar o pals, propondo reformas e a
consrruçSo dc uma naço modcrna, hi clue se fazer a ressalva de quc tudo isso
Ocorrc dc rnanc,ra motto arnhigua. No fsindo, a prcssão por racionalidade rdcoica
era no Brasil ainda muiro incipienrc, jzi clue a cIncia concinuava a n5o coordenar
dc fato nosso real'" - ainda quc a esra airsara ralvcz comcçasse a ter irnporrãncia
corno ideologia. Ronaldo de Brito, cm belo rexto sobre as vicissitudes do moder-
nismo, dtz sobre o tema:
nossa arre (e podcriamos direr nosso pensarnenro - M. L) introicrava suhjctivamcnrc,
mats do que 'v,via objetivarnenre, a qiicstão di rdcnica c cia cincia. Ela nao resultava
do choque dircto corn a estrurura lógica do real c sirn de urn anseto csperançoso, urn
pouco angusriado, dianre do mundo rnodcrno ... Porquc, a rigor, gosrariamos,
qucriamos 5cr modernos. Al a'arcce verdade deslocada - o simples qucrcr prova qtc
030 ramos 1�r-� -
E por isso clue a prcrcnsão de ser rnodcrno se desloca paularinamcnrc parao
rema nacional, pois dcsdc as acividacs prcparatárias para a comemoraçäo dhs
cern anos da Indcpcndtncia, ao medirpelo metro hegcmonico nossa siruacão aric
a Europa, a "atraso" rornava-s cada icz mais Flagrinte. 11 N5o s toa, dar rcsposa
a dc passa a scr is prcocupaç dc :riirneras csrrarégias rcfercrsciadas - posiri'.-a
ou :iegativaincnte - no nlocicr(,isniouc nesse processo vrn a tona. Mesmo c
romarmos corno cxcrn p lo a rnas sui gcneris dcssas estratégias (a Antropofagia de
Oswald de Andrade), e impossivcl dixar de reparar nisso, ja que no centro
suits prcocupaçOcs e de suit podrica csro cxatarncntc as dissonâncias enrrc padrós
burgucscs c realidades derivadits do parriarcado rural.'3
10 Ver sobre essa discussão: SCHW.\RZ. R. As iddias bra do lugar. In: Ao veneedor as batatas.
Sao Paulo: Duas Cidades, 1977.
11 IIRITO, R. A Samaria de 22, o rrati,n) do moderno. In: VV. AA. Sete enSalos sobre o
modernismo. Rio de Janeiro, Fuiartc, 103. p.15. (Cadernos de rextos, 3).
12 Cl. WISNIK, J . M. 0 coro dos contrd,os: a mt'isica no Semana de 22. São Paulo: Dus
Cidades, 1979.� •
13 Roberto Schwarz dirá quc o sui gcticrr esni cm quc •'o dcsajustc não é cncarado coma
vexarric, c tim corn otirnismO - a novidade - como indicio de inocëncia nacional c do
possihilidide de urn rum,, bisrórico altciiarivu, quer duet, n3o hurguës. (SCI-PsVARZ, K..
Quc I,or,s sã() ? S.'t, Paulo: Con,1 a,,J:i.) , t as Ictras, 1987. p.37
-
MILTON LAHUERTA
Arnpham-se, Issirn, as tentativas dc interprctaçao de conjunro e a intelcctualidadc
cnsaia a proposição de mudanças n3o mais pcnsadas corn base na raça c no meio.
A busca de idcnndadc social do insciectual brasileiro passa pela procura de urn
ponto enrre a perspccnva de renovaçao cultural c as possihilidades de reforma da
sucicdade, nas palavras dc Luciano Martins, ponrc) entrc a rnodcrnidadc c a
n)odernizaçao do pals".' Dc ccrta forina, o rnodcrnisiuo como adcsao i rnudança
cm todos os scntjdos, n3o limitada i arrc e a literatura, mas filosófica, politica,
social etc., vai sendo paulannarnente frustrado pelo carircr resraurador do pro-
cesso inaugurado cm 30. Por isso, no longo desses anos, cm grande parrc da
intclecrualidacic VãO se cornhinar contradiroriamenre urna enorme vonrade de agir
c urn sentirncnro dc imporéncia e isolarnenco dianre do pals que a inquicra, mas
(iuc 113o conseguc decifrar. Pclo rncnos entre 1930 c 1935 (are a derrora delinitiva
do nosso "lacobirnsnlo radical'). o potcncial de rnudanças C muito signiuicativo,
crnbora rnaior ainda seja a diliculdade de qualquer aço eferiva.
N,i,'nrs rnriceS„r, ,.t..,-,,.,,,,.,.., ... .............I,'.,,,,,SS, '''�S�'''n'' ''�0 rcni;i (U, ' prevarcct'
.1 Ies iii.tIid.iiI' 0 I.i 4 'i',.niii.iç.o ti,tticui,iI. r,'stilt,irnli IICI fit ;C .in.i
inodcririzadur.i, 911c iciiC Ill) 'tiionopóI<> d.i ri/al) por pane de uma rnielligenisia
an va, prumeteica, tqirido cTIi n'inie do hem cornuni”, ° a qwi pedra anuI;ir, A
rcndCncja de subordinar a dir 3rnica cia socicdadc e de scus conflitos an principio
ahsrrato da organl7.açao vai .'c'r cor1sanrc ncsscs anos. E cxplica, cm larga mcdida,
C) Irc'ncsi�,,,I.i',ic,�tic�'r'�tidc�i(ti'tii.i�a sCIIRIe pcl;t ctliic.�,i,, cr,iInIo
Ccnicos c renovando as elites': Explica tanihCrn o descaso para corn os politicos c
para corn a atividade polirica propri l menre dira. No vids organicisra ou "jacohino"
(tipico da juventude rnilitar), dircita c i esquerda, ha cniorme dificuldade dc Sc
pensar posirivamcnte as insritfiiçñes c de se aprofundar a discussão sabre o regime
dc governo. A associaç3o fcia cnrc "arraso", podcr oligárquico c lihcrali.mo
constirucional aproxirna paularinancnte a nacionalismo, dc matriz organicista e
corporativa, das posruras da equcrd.i que resultarn da combinaçao do jacobinismo
da ;uvcntudc milirar corn a v&r.s5o j'nilitarizada do comunismo da 111 lntcrna60-
nal.' 9 E por isso que, rncsrnc divergindo quanto an carninho, ha urn cald(4 dc
cultura cornum cnrrc as vária corrcites intetcctuais que fará quc, durance mUiro
tempo, as questOcs rclatcvas ama ördeni polIrica dernocrática fiquem relegadas
a urn piano absoluramente sccundio.
A cornprecnsão dc quc a onsriuiçio dc 1934 ficar,i bern aquCrn do esforço
de rcavaliaçSo da rcalidadc qi ernegira das crises de 1930 c 1932 conrribui paris
17 MARTINS, op. cit., 1987
IS REZENDE CARVALI-ID, M. A. Opir,io c Modernidade. Prescnça (Rio deJaneira), n.13,
main 1989,�-
19 DEL ROlO, M. T. A dassc opera na m ri.)o!:çao ('uriruesa: a politica de aliancas do L'CII,
928-I935. Campinas, 1988. )isscrraç5o (Mcsrrado) - Univcrsidadc dc Campinas.
A DtCADA DE 1910 E AS ORIGENS DO BRASIL MODERNO� 99
gerseralizar a polarizaçao ideoogica. 0 clima de p&arizaçao e into]erância já se relic-
tins durance a Assenibidia Naciorsal Constiruince, prejudicando o aprofundarnento
de muitas das conquistas obtidas durante o Governo Provisório. Ainterpretaç5o
do processo hisrórico corn parca consideraçao pelos aspectos institucioriais cnrri-
bui para o dcsenvolvimento (e C conscqUCncia) de uma culrura politica que pcnsa
as rranslorrnaçocs esscncialmcnrc a parrir de golpes de rn5o, tiros c violência flsica
(no clue, a esquerda e a direita, não era dssonante corn o "espirito do tempo").21
A polanizzsção idcológica cresccntc levis as alianças mais incsperadas:1s
catóiicos enalteciam como rnisticas obras que, quando muito, tinharn carárer
litargico; a csquerda procurava a presenrar corno marxistas e socialistas obras que
cram, no maxima, populistas. A confusão era de tal monta que os inregralistas e
os rcprescnranrcs da "rcação cspiritualista", isro C, a dircira carólica, nião hesitavam
cm confundir a causa rnodcrnista, tmplicita ou expticitamenre, ora corn o ccthu-,
nismo, ora corn a pornografia, ora corramliós.ao.mcsrno tempo.2'
A rectis., rn nrtidcniiisnio - Cninl' situ c:lpini lo da polanizaçio idcnlógica -
11ev):, coinittli,, ser vi,,,:, coot Inhtini ,_;ti,ccI.i. Afin:il, ti,oslcrii,r,t:i,s c aii,nuilcrisisias
coincidiam quanro a dcn,anda de uniIicaçao cultural e nao Ihes.era estranho o
conscn.co inrernacional a respeito a niorte do liheralismo. Tributarios todos dc
urn caldo de cultura antiindividualicta e epiritua]ista, aceitavarn de vilrios modos
a prevalCncia LIe urna posrura que rrcrcndia inrcgrar o Brasil no "nacionalismo
dos novas tempo:;". Aqu, tainbdin, (urarrl 0101105 us quc pcosiirani 0 liberalismo
e a socialismo corno produtos dc mesmo espmnito burgués fundados no ateIsmo,
no firn da farnilia, no intcrnacional,smo c no inaterialismo. Pot isso rncsrno, se C
evidente que havia urn processo de po!arizaçao ideologica cm curso, dc nSo Sc
dava de mincir-, Oio simples c transparence quanta foi conisider-sdo postertornenre
TambCrn, nio foram poucos, priscipalrncnte entre a jovem.incelecrualidadc,
aqueles que, condenando moralmente a nazi-fascismo, aderirarn act integralisrno
par scu caribter nacionalista, comuriitarista e organicistainas p rincipalmenteicIr
sua identificaçao corn os principios da Igreja cat6lica.11
• Ate mcsrno no nócleo principal dos modernistas paulistas (Mario de Andrade
e SCrgio Mifliet, por exemplo), qua' se colocarn nit oposiço e a esquerda, ha em
muitas dc suns colocaçoes a invocaço impilcira dc urn Estado centralizador que
realize o inreresse coletivo. Não C de estranhar, porranto, que o Esrado Novo,
I.�l..�..�.�,�1'L.�l,.\.•.......
20 I.IMA, H. Travessia, Rio de Janeiro: JosC 011cnpio, 1974, p.1 10 s.
21 MARTINS, W. Hisidria da intdigência brasileira. Silo Paulo: Cuirnix, Edusp, 1978; v.V1I
(1933-1960).�-
22 Paulo Cavalcann, conhecido militant comun;sra do Recife, dá inreressante dcpoimenro de
sua passagem quando iovem pelas filciras do inrcgralisino em virtude de suas preocupaçocs
sociats (CAVAL(ANT), P. Da co?u,la ]'rcstcs a queda de Arraes, Silo Paula: Alfa-Omega,
1978).
A DECAOA DE 930 E AS ORIGENS DO BRASTL MODERNO� 101
clicntclisnio c no carárcr "clántco" da soctedade, podcria realizai a consrrução da
nação e a rnodernizaçao da sociedade (ainda quo em algumas versôes, como 0
inregralismo, a construção da naço sc fizessc nurna obra conrrria a moderniza-
-: -�çao). Porranro, no é pot acaso, nern muiro rnenos por cooptação, quo a institu-
cionaIzaçño corporariva irnplantada corn o Esrado Novo renha obtido tanra
acciração cntrc a intciccnjalidadc.21E assim que, atravCs da mcdiaç5o do Esrado, sc consolida uma culrura politica
cu jo cixo estruturador C urn dcsenvolvtmcnro capiralista 2° cxcessivamcntc uris-
dicionado, rccobcrto pela norma do dirciro e quc busca sun legirirnidadc na
realizaçao do fins sociais. A tal ponro isto so dá quc "o privado carece do
kgitimidade própria, qualquer inreresse dependcndo clue o Esrado Ihe confira o
estaruto dc pOblico". 27 Dc rnodo quo o capitalismo avança cumprindo o percurso
dc urna "revoluçao-passiva", na qual a nação não tern idenridade própria, C
criarura do Esrado, sendo organizada 'corno urn corpo dc funcioriários a serviço
do ideal dc expansão da acurnu!açao".
Porranro, se a 'rcvoluçao" aprofunda a cxigCncia dc rcnovação, o Estado
Corporarivo, quc se qucr Novo, rcconhcce a neces5idade do niudança e de
rnodcrniznço, mas procura domesricar cssc impulso transformador, trazcrara
Si essa exigCncra. It cm nonie da ordeni e arC da rradição, c sempre pleitcando o
primado do pOblico sobre o privad6, que b Esrado Novo, realizando expecrarivas
difuadi socicdadc civil, se assunic conio arauto da modcrnidadc e rcalizador
dos ideais dos anos 20.
REVOLUçAO-PASSIVA E CULTURA POLITICA
A qucstáo-chave, portanto, C crimprecndcr do clue rnancira o anscio mudan-
cisra c rnodernizador, clue mobilizara as cncrgias utópicas ao longo dos anos 20,
25 No periodo é quasc 3btoluroopredonlinio do uma visio organicista c antiliberil, vcrdadeirci
caldo do cultura paraoviccjamcnto çlo urna os p ri cie !cariticapitaI j smorornntico quo s6
adcr a inoderriazaçao proposra polo istado Novo por set cia aprosent3da como a concre-
rizacão do urn ideal de conunidadc ,icional quo so liz cm riome di odcrn e da iradição.
Vor, sobro 050: V1EIRA, E. A. Olri,eir. Vianna 00 Estado Coporaeivo. São Paulo: Cri1albo,
1976; MEDEIROS, J . do. A ideologia auloritdria no Brasil (1930-2945). Rio do Janeiro:
Nova Fronreira, 1979; SADEK, M. T. A. Maquidre1, maquióve,s: a tragãdia oraviana. Sao
Paulo: Simbolo, 1978; TRINDADE, H. !ntegralisrno: 0 (ascismo hrasilc'iro na década do
30. São Paulo: Di(el, 1974; CHASIN,). 0 in:cgralisnio do Plinks Salgado. São Paulo: Loch,
1978; VA5CONCELOS, C. F. A idealogia curupira. São Paulo: llrasilicnse, 1979,
26 DRJSII3E, S. M. Rumos c netamorfoccs: Sao Paulo: Brasilicnc, 1985.
27 WIRNECK VIANNA. L. 0 prohiow.r d crtf:ultiiri ia irora da rranstçio dernocritica.
lrarcss,a: s/a ,lbcrtzr,',� Rio do Jaricirir: T.rurus, 1986. . 2.
29 :hk, p.43.
100� MILTON LAHUERTA
para akin do scu car3tcr cocrcttivo c de scu proicto do 111corporig5o da nrcicc-
• rua!idade, tcnha tido tanta acciraç3o. E quc como coroarnento do caminho da
"revoluc5o.passiva", corrcsporidia a urn3 dcnianda do Esrado, cxpressa tarnbcm
como dcmanda do uniuicaçao cultural, quo se traduzia nurn projero sui-generis: a
urn so rcrnpo modernizador c rcsraurador dos pilares da nacionalidade. E rude
cm nomc do hem cornum c da construção di nação. Dc tal forma quc urn govcrno
forte era tacitarnente esperado e, qtiando concreti y.;ido, foi hem aceito pot ;iipkis
setores da iiitcicctualidadc.
Na husca do urna nova idencidade, vêcm-se os intcicctuais confrontados corn
o poder scm a mcdiaç2o de unia perspectiva realmente polirica. 0 quo faz c lue se
aprofundc a deja de que Ihes cahc urn papcl difcrcnciado no proccsso social. Isro
ocorre tanto no ccntido organicista, quc os ye corno hcróis civilizadores, como
artifices da modcrnizaço c fundadores da cuirura nacional (poderiarnos dizer,
como condutorcs de urna "rcvo!uç5o passiva"), quanro no scnrido "jacobino", quc
os v como rcvolticionnnos Cli) porencial aspirando 10 .iss;ilto 30S CciS C :1
insurrciçio (o 'prcstisrno", cmv;irios scntidos, C uma vcrsño quase caricata deste
rtpo de intclecrual).3
Tal arnhtCnci;i cultural p ssihil:ta quc, na segurcIa merade dos anos 30, sob a
Cgtdc do Estado, se levc is tiltinias coscqiiCncias a idcologia organicista c
antiliberal quc, force na rradiçobrasileira, desde os anos 20 vinha so radicalizarido
pela crise da ordern olig;rquica c pelas criricas ao carñtcr exciudente do lihcralisl4io
consagrado pC!.I Consriruiçñode 1891. 0 rcsgatc dc Alberto Torres pelagcraço
de Oliveira Vianna cria - i esqueda e a dircita�enorme conscnso entrc a
intcicctualidade quanro a necessidade do unificaçao do pals, alCrn de radicalizar a
perspcctivn dc quo somenrc o Estido, sohrcpondo-se no parricularismo, no
23 E por isso quo entro a poquena ,ntc]e didade (ou scja, aquela parccla quo, mosmo sendo
icirada o corn prcrensOcs de escr'cver, mantinha urn conrato muito rudimentar corn as toorias
dcscnvolviejas nos ccnrros mao avancaqus, ficando, porranto, sob o predominlo dc refcrän-
cias rnulio diltisas e qaise sempre rncd:sLias polas intorvcncOes dos próccrcs do niodernismo
ue IaT.Iam a Iunç2o do ' rirlec'ruas ir trtuiçàos' - oriontando caminhos, dandc, contcihos
Cricos c esriicos. ostabeiccendo o qurora válido ou n5o di pruduçao cultural) generaliza-se
urn ostilo do perisaincnro forte rncnrcdo:irrin.5rro, pouco dado a qualqucr veicidade phiralsta
C (001 1)ctCfl'.I)o5 do Icr cxpIica'.o para todos to prublornas. Isto so WI de tal rnanora qLIC
o prnocsso politico c poiarii.adu, cm srias circunstSncia,, do forma artificial, cntrc dois
randt',. ri .-c,' - irrciti i esqirorda -, ,irnbrrs ruircidus por lncorpnraçao CNC(SIViut1cfltC
tcctñrra das inrimoras roorras dcscnvolv,das no Ocidenre, imcdiataincntc instrumciitali-catjas
Para scrvir JOS vrlcis prcrorcrs do rnodcrnioaçac> c/ou do construç3u da iiacau quo OS
rntcicctuais Crocm tot a missao do cornandar.
AMO INIFIt, R. lorrnacio d�ini pcnsanronrcr .,irr,rrrr.irl, ii Prirircir., It 1' rihho.r. In:
\IJSFQ, N. (Dir.) () Brasil rcpihlzoar:r,. S3cr Paulo: Dud, 977: 1.111. vi (I lrsi,irij gcr.il
Cv:i7.r�llrl:r:r.1
02� MILTON LAI-IUERTA
transmura-se cm cultura politica esradonovista. Nesse sentido é que estamos
procurando qualsfscar o movimcnro de 30 como inaugurando urn proccsso de
"rcvoluç3o-passiva" ou de "revoluçao-restauracão". E óbvio que ha enorme
•
�
�_conrrovdrsla sabre o significado do "Rcvolução dc 30" para a consrituição do
"rdcm burgucsa no Brasil (a respeiro do carárer mais ou menos revolucionário do
• movimento, de sua rclaç5o corn a indusrrialszação e, principalmenre, acerca de
queni forrtrn Os SU}CItOS históncos quc o real izaram). 19 Seja corno for, a dcspeiro
dc algurnas intcrprctaçOcs considerarem o rnovimcnro de 30 e sua denominação
corno "rcvoluçao" mcros cxpcdienrcs ideoiógscos de dcsrruição do memória dos
"vcncidos",'° ha algum consenso sobre o caráter de ruprura presence neic c não
são poucos Os autores clue colocam-no como "marco histórico" no processo de
consriruição canto do Esrado brasileiro, enquanto Estado nacionat, 3 ' coma do
prOpria cultura, principalmcntc por ter gerado urn movimenro de "unificaçao
cultural, projerando no escala do nação faros quc antes ocorriam no âmbiro das
rcgi6cs'. 2�•.
'�Importa-nos aqui, acima dc rudo, chamar a arcnção para a dimensão dáplice
de ruprura c continutdade, de revoluçao c resrauração - irsscrira no movimento
_....de 30. Ou seja, urn processo de rcvoluçâo-passsva, diferentemente de uma revolu-
ção popular, contém dots morncntc anragônicos e simulrãneos: o do "restaura-
cr10' (já quc d Lima rcação i p)sSihilidadc dc urna efetiva e radical rransformaçao
"dc baixo para cima") c o da ."rcnovação" (no mcdida em que muitas demandas
popularcs so assimiladas c pdctas crft prática pelas vclhas camadas dominanrcs.33
0 aspccro rcstaurador não jhega .i anular o faro de que ocorrem alteraôes
efctivas, "rnodiftcaçocs rnolccilarcs uc no realidade niudam progressivamente a
cornposição precedence das foi'ças e )or isso se cransforniam cm matrizes de novas
modificaç6es" 34 Portanto, se é verdide que nesse processo Sc rcvela "a auséricia
de urns iniciarsva popular un!tária" no desenvolvirnento da hisrória, que ocdre
"como rcaçSo das classes donlinano's I subversao esporádica, elemenrar,inorgá-
29 Ver, principaimente, "A revoldcão de 30" (Seminãrio realizado pelo Centro de Pesquisa e
Documcnração de História Cntem j orãnea do Brash (CPDOC) da Fundacão Gctülio
Vargas. R. J . . set. 1980. Brasihs, Ed. Tjnsversidade de Brasilia, 1983.
30 DE DECCA, E. 0 s,le.'ciii dos icuci,log. São Paulo: Brasiliense, 1981.
31 DRAIISE, op. cit., 1995.
32 CANDIDO, A. A RevoluçSo dc 30 e 1 cuirura. NOLrnS &sudos CEBRAP (São Pau/o), v.2,
n.4, p.27, abr. de 1984.
(3T Carlos Nelson Courinho slcscivn1vc interessanres indhcacôcs acerca di possibilidade da
utilizaçSo dessas categorlas dcGratnsci para c(smpreensSo do processo politico brasileiro
dos anos 30. Vet COUTINHO, C. N. As categorias de Gramsci c a realidade brasilcira.
Prescnça (Rio dejanesro), n.8, o.141-62, ago. 198; CO(JTINHO, C. N. Cultura e demo.
cracla no Brash!. In: A den,ocrac,a como valor universal. Sin Paulo: l.ccli, 1979.
34 GRAMSCI, A. I! Risorgirnenlo. Buenos Aires: Granica, 1974. p.142.
A DECADA DE 19M E AS OR5ENS DO BRASL MOlE'JO�103
nica das massas populates"," d irnpDssiv:. dixar de reconhecer o sentido de
renovaçlo presence ncle. Afinal, as 'ress3es de baixo" que durance os anos 20
pelejavam por direitos civis e sociais, cxigilm maior participação politica e mora-
lidade no trato d.s coisa pübli, envolviam di :Lsamcrttc a parcela urbana e letrada
(ilusrrada) do sociedade, confundindo . sc corn a expectativa de uma culrura moder-
na; essas pressôes, mesmo scm corlseguir zanhar organicidade (por scu "subver-
sismo" voluntarisra, mcssiânico, lcirnra, "arranhavam" a modorra da socic-
dade oligarquica, quasc a tnsralar a urëncia do novo, do mudança, do moderno.
A permanéncia dcssc impulso rcoovac.r quc vem do sociedade, bern como a
vonrade poiftica de lcvá-lo adiantc, poie sci medida pcla efervescéncia que marca
a primeira metade dos anos 30. Em vñrios ._pisOdios, contra o carárer elitista que
o processo ia adquirindo, recoloca-se c ided dernocrarico de uma Repüblica Nova
presence nos movimentos dos anos 20. Mas rambém nessas ocasióes prevalece
uma cspdcic de "subversismo elemencar", -uja manifestação mais evidence foi o
putsch dc 1935, "urna desastrosa iniciariva cornurn dos comunisras c renentes de
esquerda". A derrora do democrntisnio iadca:, nessas rentativas dc se confronrar
corn a carcicer exciudente do novo slsrcrna de ordem que se constirufa, Se di
simultancamente a incorporação de al , urnzs de suas principais reivindicaçacs.
No mcsmo movimenro cm qu sc consrrocm csrrururas coercitivas c centra-
lizadoras do poder, realizam-se "rn"odificáça5es enoleculares" que incorporam, re-
conhcccndo como IegItimas, dcrcrminadas dcrandas do socicdade civil, inclusive
das camadas suhalternas. Dcnde se comareende que muitas prcocupaçOes c
problemas colocados pelas corrcnrcs oposiconistas nesses embates serão incorpo-
rados não apenas nas agendas do .stado, n-as tambérn em sua própria estrutura.
Essc fenOmcno - próprio de siruaçOcs em quc a transformismo di o sentido do
desenvolvimento histórico - f:ca claraniert:r explicitado durante o Estado Novo
(corn a criaçâo do DASP - em 1933 - sisando A racionalizaçao administrariva; do
DIP - no final de 1939 - visando rsii) so ceiis.rar, mat tarnbrn organizar a produçäo
cultural, imprimindo-lhe urn scnddo rnOcerna c nacionalisra; c do lcgislaçao
trabaihisra, encre outras iniciativas) Porém, ias medidas rornadas imtdiatamente
após as eventos dc 30, ja sc revclava o caráter centralizador do projeto de
construção do Esrado, que, em name ca urtficaçao do nação, procura crazer para
si, para sua alçada, a cxigncia dc rcno'açãa c Os ternas quc cram colocados corn
base no dinâmica do sociedade :ivil(direito :o traba]ho, ensino pOblico, lcgislacño
social, rnodcrnizaciio c ractonalizaçio '.dminisrrariva, cuirura nacional etc.). 37
35 GRAv1SCI, A. E cnster,aJ,s,,,o hjsticr, -y ':,.'oeofio de Benedetto Croce. Buenos Aires:
Edicioncs Nueva VisiOn. 1971. a. 206-7.
36 COLJTINI-I0, op. cit., 1986, p.147.
37 Em ibis excmplsss esac project, podc scr percei 'rda. E dc novembro dc 1930 a crlaçño do
Mcnhstirc,s do Trahall,,,, Jndcistr,a c : s,ncirccn :cccn:cccido corno Mhnisterio da RcvoluçSo,
101� MILJON LAIfLI[RTA
y.�.
II�•�.�-•�•�'�-�1-•
A DICAIM Dl 010 AS Okl(N5 DO BRASh MODERN O
:
�105
A exigéncla de rcnovação da socicdade tornava-sc slnônlmo de apareiharnen-
to c ccntralização do Estado. De tal forma isso ocorre que é possIvel qualificar o
periodo clue Sc abre em 30 como inaugurando uma nova fasc, tanro no clue se
refere a dinâmica do capitahsmo brasileiro quanto a centralizaçao das funçôes de
gesrão, regulaçao e. administraçao do Esrado) 8 Esse sentido de transforrnaçao e
rcnovaçao do próprio apareiho estatal revela o quanto as relaçoes entre Estado e
socicdadc passariam a se dar dc forma dtstinta daqucla vigcnrc na economia do
café. Durantc a Primeira Rep(iblica, havia uma efetiva apropriação do aparciho
estatal pelas oligarquias dominantes, que, como oligarquias "pré-nacionais","
compcttarn pela ocupação c controle dos postos nacionais e centrais do podcr
visando a otimização de suas posicoes regionais. No p6s-30, ocorre uma verda-
dcira inversão, marcada por urn paulatino proccsso de centralizaçao e de unifica-
ção dos mccanismos esrarais, ate se chcgar a urn novo "padrao estrurural de
formulaçao dc poilticas" (claramenc esrabeiccido durante o Estado Novo) e a
urna "perspcctiva próprra, espec ([sea eautonomizada frente aos inreresses na forma
onginária e brura cm quc cram perseguidos pelas classes econ6micas".4°
Este processo, que Giusti Tavares caracreria conio "bismarckiano", é próprio
dc sltuaçaes de revolucão-passiva ri p s quais o Estado acaba por ser o "dirigéirc"
dos grupos quc devcriam set dirigcntes. Dito cm outros tcrrnos, "o Esrado subsitui
aos grupos soclais locais na dircção. da luta rcnovadora" , h I subsritui "as c!asscs
sociats cm sua funçao de prot'igomsas do processo dc transformaço e no papel
de 'dirigir' poliricamenrc as própras classes cconomicamenre dorninantes":1
Dcmiurgicarncnte, passa a o'orrcr urn proccsso no qua! o Estado, scm se?vir
dircramenrc a cste ou aqucic sror da classe dorninanrc, faa o papcl de "capitalira"
rnais avançado. Ou seja, esrc i urn ciso rIpico cm clue a primazia para a indCisria
c para a industriahzaçao sc fa a parhr de urn impulso csraral.43
inha par IunçSo fixar as direfrizes 6 politico crabalhisto do governo dirigindo ateoçño
particular 5s lorma& dc organizaco mohilizaç.io da classe rabalhadora). A Reforma
Francisco Campos de 11.4.193 , que rinha como alvo o casino superior (a de maior alcnce
cntre todas as qua se rcaltzarars ...em mats de quarenta anos de regime republicano' era
uttificada pelo próprio como 0 m3ii valioso concurso do esplrito revoIucionrio para a
grande obra de reconsrrucâo", pie se rcaliznva no pais dcntro da perspectiva de qua "smear
e educar o Brasil constinhi o dcer de nina revoluç5o qua se fez para libertar os brasileiros'.
38 DRAIBE, op. cit., 1985.� -
39 TAVARES, J . A. C. A estrutura do autr,tarisrno brasilciro. Porto Alcgrc: Mcrcado Alsirto,
1982. (cspec. cap.!!!)
40 Ilsidem, p.1 24.
41 (;RAMSCI, up. cit., 1974, p.40.
42 COUTINHO, op. cit., 19.86, P;150
43 Paulo Arm isics cltsciirc cnsc tctrio; coin i iidicaçsics muiro ilItigonres, a parrir da sirusç5o aInriii
do século XIX cm ARANTFS, I'. IL C) l'artido da Inccligncia Almanaque (Sñt) Paulo), ii.9,
1979.
A exigéncia de renovação, que nos anos 20 se traduzira por uma genérica
densanda de unificaçao naciona!, quc se combinava corn uma não rncnos gcnérica
expecrariva do rnodcrnizaçao, acabaria scndo paulatinarnente canalizada para o
Estado, ate se explicitar como cultura politica esradonovista na forma de urn
corporarivismo bifronte (em parte estatista - ao trazer pars o interior do.estado
os confliros próprios da sociedade civil -, cm parte privatista - so rornar determi-
nados espaços dc dccisão do Estado ob jeto dc acirrada dispurados intcrcsscs
privados). Na raizdisto esti o fato de que, canto durante a efervescéncia quc leva
a 30 quanto nos cpisódios clue dcscrnbocam no Estado Novo,vários nücleos
homogtneos de classes dominantes se movimentam revelando a tendéncia de
unificaçao e a predorninância do tema nacional (da cultura, do projeto, do Estado
nacionais). Conrudo, esres nücleos rnosrrarn-se incapazes de- se unificar politica-
rncnrc, na cxara medida cm clue nãó consàgucm set dirigcntcs nem no scu próprio
mbito, pcla incapacidade de gencralizar c universalisf interesses: Dc cerra
maneira, agcm corno se "csperaseem" pot uma força que, garantindo os scus
irttcrcsscs, ftzcsse as vczes de urn paiddo, Cu seja, de urn "pessoal" corn capacidade
dc dirigir amplos grupos sociais. Pcr isso,d possIvcl dizcrdontc]eoquccomanda
e arricula o Esrado Novo quc dc acabs por f-izera (unçao dc urna classe dirigente
nacional havcndo ate quLro conidcre o partido7eal di hur&,ucsta pclo pipc1
clue jogs na consriniiç5o do Esrado naional, dando impilo decisivo pars a
tansfoiadbciedade
almentc, cm sociedade urbana, naclonal c ccnrralrnite oricntada-O Etãd6Nc
representa portanto o coroameno de urn ideal do rnodrszaçdi de irna
demanda do unzf:caçao - cultural olrt:ca etc —que forte la antes,
difusarnente ao longo dos anos 20 mrnpondo a prevalencia do tna nactonl e quo
pode ter sua retornada simbolicamfnrc loializada érn22.� --
Nessa modalidade dc desenvcslvirncnto hisrórico, a obra de rnodernizaçio
nao results do dinamismo c do crnprccndimcnto da sociedadc civil, mas tern no
Esrado o projcro da modernidade associado so ideal dc construção da riaç5o. A
perspcctiva de realizar a obra dc "c!vilizaçiio" c a construção da nação colocam-se
como obra cstaral que, por sua vcz, reivindica a tutela permanente sobre cudo clue
n5o se enquadre num rcsrrito conciro do "civilizaçibo" e numa limirada idOia dc
"na0o". 45 Arribuindo-sc essa funçao de partido de govern o (Grarnsci), o Estado
Novo, rncsrno tendo urns face reressivi, oferecia a massa_dps intelcctuais urn
horizonrc pit-s s sari'.fsç so dc sU.ls cij,c.nci-ic gcrais inclusive as cricis acollicn
44 WERNECK VIANNA, L. Problemas de politico e organizaço dos inrelccruais. Prcsença.
(Sir) Paulo), ui, nov. 19113.
45 LAHUERTA, M. - 0 nacional como pr>si'tnidade: turela do povo c domino do tcrritório,
1982. (Mimcogr.)� .
06� MILTON LAMLIERTA� A DECADA DE 1920 E AS ORIGENS DO BRASIL MODERNO� 107
S. 
Y.
' 3-
do-os e procurando dat sentido a sua arividadc, engajando-os na construçaode
urnEsido etico, rnodcrnizador, quc se pretcndia a própria encarnaçfio di nação.
Ao sc propor a "organizar" a sociedade, a cultura, a econornia e o direito
modernos, o Esrado Novo procura ganhar os intciccruais, oferecendo-Ihes as
condiçoes para a satisfaçao das exigncias gerais que pode oferecer urn governo,
urn parrido no governo, Es.ca funçao, dc partido nacional de govcrno, Ioi
perfcirarncnrc realiznda durantc cssc periodo, pcla criação dc intrncros organis-
mos estatais ccnrra!izadorcs corn ramificaçocs cstaduais (DASP, DIP, corn 05
rcspectivos "Daspinhos" c "DEIP"s) quc acothiam os intclectuais, mostrando-
lhcs urn carninho segliro, cvidenremenre quc COW Sell ;lSSCiltimeflro, para .1
rcalizaç:co de setis idcais e de stias utopias: o da construçio (Ia naç.to pot Tiicio
do Esrado que corn eta queria sc confundir. E pot isso que não se rrata dc
coopração, mas de consrituição de urn novo bioco dc poder corn uma simiittiinca
r(,sr('rlv.c ,iiciccr j iirj.i 4. ciicccic'r?Ic/.ccl(,r: l �(III(- llii,i ccII,I'uso�'flhIi�1 mu-h', uuc.uhi
dade cha uuu.tndo-a p:ur.0 p.urttcupur do procciour, realizando a fusäo de rnodernidadc
C projero nacjonal.'� -
Da rcrniItica eciucacionat a') dcbrc sobre dirciro do trabalho, o que se per c'be
ciaramenre 6 a virór,a dc urn pnsarnnro quc, csratisra c permcado de rcfcrenei
inodcrno,t.us, ucfcrcct,i ms ilitclectilMs uiflhc ccuiicc.'pçicc tic tiutiuttit, e turn c.unciiuhutc
para realizá-la. Emhcbuda de At iflo!crnIsmc) gcntrico, boa partc da inrciccrua-
itdade acc:ta o caminho estarisa que 5e qucr original c nacionl, na sua prctcnsao
de arualizar a xriteligncia don, inclusive imprirnindo senrido a sua atividade.
AI<m de pretender colocar o Basil enu sintonia e no unesmo piano das naçócs mais
desenvols'idas, vusando dat unla novt dignidade ao pcnsamenro brasileiro, Pela
capacidade de rcaiizaçao c dc ircorpo-ação de algurnas das demandas dii socicdadc
civil, o caminho estaral vat sc :ufirmiihdo corno horizonrc (efetivo ou sirnbOiko)
para urn grande conringcnte dc intekctuais (pequenos e grandes inrelectuais).
N5o é ñ ton quc rnuiro dii nadkahidadc prcserutc cnrrc a intelectuauidiidc
duranre os debates dos anos 20 I cnha ido canalizado para a dirnensão pcdagogica.
Nos embarcs sobre a Iaicidadc do ensiho, ou nas discussOcs sobre cultura popular,
as posiçOes dc urn Fernando de Azcvdo, de urn Anisio Teixeira, de urn Mario dc
Andrade, de urn Villa Lobos tIcram norune sigmlicadu, por sua nIacc cdig6-
46 GRAMSCI, op. cit., 1974, p.39. Gransci, rcfcrindo.se�problcmdtka sccne]Iiarirc V31dczer. 'i hcgemccnca de urn ccntro dcre,uvo subre us mitclecrtia ls cc afirma atravcs dc duahinhas prcnccpais. 1) cima Lc)nccpo gcrii da vcda, tima fiiccscuIb (Giobcrtu) quc okrce insurna 'dcgncciadc' intelectual qu C Lim prcncipio dc disiinço C urn Clemenic) dc IotaContra as anrugas cdculogca.s co&rclicyacc1rc. dominanics, 2) urn programa cscolar, urnpricicipto educausco c petlagógcco 1crcguccz quc in teresc C olcrcça tima arividade prdprca, cmiscu carnpo tcncco, àqucha Iraço dos cntclecmau quc a mais homogénca Ca mats numerosa
(a do ensino, desdc cc rncsrrc macc cicmcmar ité cis prokssorcs cli Lciccvcrsccladcy
gica, no estabclecimento dos mecanismos de hegemonia do caminho estatista
sobre os intelcctuais. Afinal, na perspectiva de criar a cuirura nacional, fazendo
do Estado o instrumento para isso, atribuindo uma "rnissão" act intelectual, havia
"uma conccpção gerat da vida, urna filosofia que oferecia aos aderentes unia
'dignidade' intetect-ual", que se desdobrava "nurn principio educadvo e pedago-
gico original". Atérn disso, a atividadc escolar, em todos os nIveis, tern imporrância
enorrnc, inclusive cconôrnica, para os inreiectuais. São notórias, ncsscs anos: a
escassez de possibilidades de ascensiio social aberras a iniciativa dos pequenos
empreendedores (ou pequenos burgueses); a inexisténcia efetiva de partidos - de
rnquinas partidárias; a restrita industrializaçao; as limitaçocs do mcrcado cultu-
ral; o conrrolc sobrc a imprensa etc.). Diii scr comprccnsivcl quc a arnpliaçao do
apararo csratal tenha na area educacional urn espaço privilegiado para a forrnaçao
de consenso e para o desenvolvimcnto do projero esradonovista.
NJat, isli.ti.cuiie 1 iunhcucru.luuci;I ;uuiiucitLi jact.i Iica ctltic;uciori;tl, cli) ra,.ti cj,
dirncnsão expticinarncnrc pcdagógica do programa do Estado Novo, ourros orga-
nisrnos criados no perlodo exercerarn furiçao scmclhante.47
A funçao, de "partido de governo", exercida pelo Estado Novo, é uma obra
intelectual de fôlego, na medida etii que mobiliza e subrnere vontades dispersas
em rorno de cciii projeto iiccuuicacloi, caracrerizando uma daquctas siruaçUcs nas
quais "as iddias avançadas, c port:\nto a asccndéncia ideologica e, no limire,
politica, (não) são apanágio das clases fundarnentais, mas encontram seus porta-
dores nas camadas intelectuais". 45 Desenvolvirnento, progrcsso, modernidade,
superação do "atraso" nacionat, essas são aijiarnas da bandeiras perseguidas pelo
quc Fia de rnclhor na intelectualida Sie Es-se e urn processo, Portanro n5 uat a
intelectualidade vivencia urna ruptuta corn os padróes de consagração vigFesnii
Primeira Repüblica e passa a sc vr no flo da navalha: entreonlilismo e a
ambigusdadeser vanguarda na e7luivoca circunstancia do atraso hisrórico e
urna espécic de consurnação, ajustada a essa mesrna cilcunstânèia de "-atraso", de
urn certo 5entidode missdo que. se entranha àcondiçao do intclecrua]e que tern
47 Sobre o DASP, é possivcl duzer Clue, no contexro de urna ditadura modernizadora, scm a
existéncla dc urn partido de massas, tcvc nuação absolutamente dccisiva para o controle
central do sistema administrativo. Pot meio de uma vasta gama de atribuiçoes, corn uma
rede de departamentos estaduais (os u3)aSpinhos••) que se estendia pot todo o pals, o DASP
descnvolvca tambm atrcbuuçoes do pocler legisbtivo e de controlc dc interventores. E isso
ocorria de Uma maneira tal que ante , a cmpossmbilidade de funcionarem partidos reais, o
DASP (por sua forte disciplina vertical c peculiar csrrutura federativa), no Cut: se refere 2i
capacidade de processamento, compatchilizaç5o e aghutinaçao de mui1rip1os e plurals interea-
ses da sociedade, bern como de cransformação da sfnrese desres em politicas, parece ter
cum prido boa partc das funçoes de "pzfrvido dc governo",
48 ARANTES, P. E. Uma reforma uniclectual e moral: Grarnsci c as origens do idealisrno aiemSo.
Presença (Rio de Janeiro), n.17, nov. 1991.
lOS� MILTON LAHUIRTA� A IXCADA IX 1920 C AS ORIG(N5 DO BRASh MODIRNO� 109
no E.srado o desaguadouro de suas inquieraçôes e o instrurncnto para sua consa-
gração. Em ambos os cases, a problemática do "atraso" dcsvia das qucstôes
_própriasaomcrcado a . atcnção dos inrelccruas.
E assirn quc, num contexto dc rcvolução-passiva, constltui-se urn universo
paradoxal que dá forma a uma cuirura poiltica estatista, antimercado e, sob uma
séric de aspectos, anticapitalista. Em nome da ordem e da tradição, do projero e
cIa cuirura naciona!, alirmou-se urn carninho para a acumulaçao capitalista, mas
1550 não significou nem o forralecimento imediato do universo mercanril, nem o
reconhecimento positivo do inrcrcsse edo emprcendirncnro individuais, 'a margern
c ate contra o Estado, Clue continuam ainda muito prccários. Fragilidade do
mercado, desenvolvimento capiralisra concebido como obra püblica, dificuldade
de o individualismo sc afirmar como valor lcgitirno, condiçOcs nas quais as
ideologias inregrativas, ao mcnos entre intclectuais, vão ter enorme rcssonãncia e
a "ida ao povo" será a forma mais frequente c recorrcnte nas tentarivas da
intciccrualidade resolver a quesrão dc sua identidade social.
MISSAO X PROFISSAO: once est a nioderno?
A Guerra Civil Espanhdla, a j'olarizaçao ideologica, a rnovimentaçaodos
intelccruais nos Congresses dr Escriores Internacionais e, por fim, as atrocidides
no nazi-fascismo durante a Segunda Grande Guerra propunham, de maneira
jarnais vista, o rema da missio do scritor em todo o mundo. No Brash, isso se
dava no mesmo tempo cm ue utha volumosa e crcscenrc arividadc editorial
começava a impor o problcma da prof issionalizaç'ao do escritor-inrelectual.
Osório Borba, cm agosto de 1939, colocava o problema nos seguintcs rermos: "o
escritor profissional C estrhramertte c Clue o rcrrno exprime, o indivfduo c lue faz
cIa lireratura o seu meio de vida". 49 So que a maioria dos que escreviam tinha outra
fonte de rerida e o trabalho de escrver, do ponro de vista econômico, era urna
"scgurrda ocupaçao". Nas pakvras dc, mcsmo 0. Borba: "Não C pot simpics acaso,
ou caprichos pcssoas, que todos nossos cscritorcs são burocratas, ou medicos, ou
advogados ou comerciantes, ou engenheiros, ou industriais. Mesmo os rnais
'profissionais', no senrido da inrcnsidade corn que se dedicam ao ofIcio grarui-
ro...".° Diantc disso, !3orha sgcria qUC cra precise fazer algo para defender 'os
dircitos do rrabalho litcrzIrio, como se faz no rearro, no radio c, ate certo porno,
na imprensa". Poderiamos argumcnt.sr que ralvez o verdadciro problerna esrivessc
nas dimensôcs rcduzidas do rilcrcadb consurnidor c na parca insrinicionalizaçao
49 BOIUIA, 0. apud MARTINS, ' Xe ., op. cit., 1978, p.128.
SO Ibidcm.
das atividades jntcicctuais, pOIS, sc C verdadc que aumcntara a atividade inrelectual
c crescera a produçao editorial, isso nio significava, pot si So, urn aumento do
nimero de leitores suficienrc para sustentar autonomarnenre o trabaiho de
escrever. A questão permancceria na pauta nos anos posteriores, funcionando
como elcmcnto norteador para a fundaçao da Associação Brasileira de Escritores
(ABDE), em 1942, ate desembocar em projeto de lei sobre os direitos autorais,
quc será durarnente cornbatido pelos editorcs.
A exigOidade do mcrcado e as dificuldades de profissionalizacao, na virada
dos anos 30, levaram a que urna parccla dos jovens intclectuais, conrando os de
esquerda, se aproximasse dos organisrnos cuirurais do Estado Novo, particular-
mente das revistas controladas pelo Departarnenro dc Imprensa e Propaganda
(DIP). Estes, assim coma aqucics quc vivcnciararn o pro;eto estaral como urna
espCcie de guarda-chuva para o dcscnvolvirncnto de sua arividadc criadora,5'
cvidentcmente se diferenciam daqueles otirros que aderiram de corpo e alma ao
projcro csratzil, ccrros dc quc, por rncio delc, cstariam realizando urna missdo corn
carirer psblico: a rnodernização conro forma de criar a nação. Os que se
enquadram nessa condiçao rinharn, rarnbCrn, a pretcnsao de organizar, por meio
dos organisrnos estatais, as advidad's dos ourros inrelecruais, de forma a inregrá-
los dcfinitivamente 'a vida nacional, crirando-os da secular situaçio de isolaniento
(essa era a rcrOrica da intelcctualidsdc articulada em torno das revistas do DIP:
Cultura Poiltica c Ciência PolItica).11
A perspecriva dc fazer coro con\ as proposiçóes cia poiltica cultural estadono-
vista evidenternente nao foi t'ao cscaricarada entre todos os intelectuais Clue
estiveram próxirnos ao nücleo do koder. Muitos foram os quc, nos dizeres de
Carlos Drummond, "serviram sob tima ditadura", 53 scm aderir de corpo c alma a
SI A prcsença de Gustavo Capanerna ne Ministrio de EducacSo e Cuirura possibilitou para
muiros irrtelcctuais o descnvolvimcnto cIt suaz atividades criativas. Vet SCHWARTZMANN,
S. et. at. Tempos de Capanema. Rio de Janeiro: Paz c Terra; SSo Paulo: Edutp, 1984.
52 Toda a tcmStxca desenvolvida pelos incelcctuais quc aderem ideologicamente no Esrado
Novo rernere a urn nCicko comurn: d uma 'nova conccpc5o de cult-urn" que se prerende
integrada 5 dimensSo polirica. Por isso, pans esscs intclectuais, o Estado Novo a urn marco
da participacSo inrelectual isa vida politicu. Donde a aceiracão de controle sobre a producSo
cultural mire amplos scrorcs da intelcctualidadc, incorporados S burocracia estaral c nos.
organlaTiscIs qile pretendiam estabelecer tuna Iiguciu cnirc o Estado c a cultura. Accito o
pressuposro (que tern raiz na demands dc uniulcacSo cultural) de quc a nova ordem exigia
ccnrralizaçSo do poder politico e da produçio cultural; restringe-se esta ültima so conrrote
dc "urn circulo espccializado de tróricos c/oil dirigenics que Sc colocarn corno guardidcs
privilcgiados das idcologia.s' (VELLOSO, M. P.'Culruru c poder politico: urna conliguraçso
do carnpo iiitclecrtial. In: LIPI 5 ! et it., op. Cit., 1992, p.77.
53 ANDRADE, C. 1). de. A rorina ea quimera. n:_, Passe:os ira 1/ha: divagaçacs sobrc a
vicEs litcr5ria c outras matarias. Rio dc Janeiro: Sirnócs, 1952
MILTON LAI-IUERTA� A DkADA DE 1920 E AS ORIGENS DO BRASIL MODERNO� U.
seu projeto polItico Estes— talvez os mais representativos hcrdejros do espirico
modernisra - cram expres5ivos de urna prob!emática relaçao do escritor corn o
mercado e corn o püblico, muito marcada por uma avaliação individuahsta da
questio do poder central, da questão do Estado e da poiltica. Drummond sintetiza
cssa rclacno:
Sern mérodo escrevo tals coisas pensando 00$ poetas, nos conrisrs, nos ensaistas
9 uc a esra hora ainda não sabcrn o quc 0 sSo, Icnramcntc sc elaboram na Direroria de
Aguas, no Ipase, na Divisão de Forncnto da Produçio Vegeral. Hi que conrar corn
des, pars quc prossiga, entre nós, ccrra tradição medirativa c irônica, ceno jeito entre
desencantado e piedoso de ver, inrerprerar e conrar Os homens, as acoesque cks
prancam, suas dores amorosas c suas aspiraçöes profundas - o que ralvez so urn
escriror-furiciornirto, ou urn funcionirio-cscriror,seja capaz de oferecer-nos, dc que
consrrói, sob a prorcçio da Ordem Burocritica, o scu cdifIcio de nuvens, como urn
louco manso e subvcncionado.54
-- Ern outras palavras, mesmo os que não aderiam cxplicitamenre ao Esrado
Novo, de uma manejra ou de outra, adequaram-se ao scu projeto de ordem,
revetando irma lccitaço t3ctri do alrrorir.rrismo quc rinha per cixo a "comprc-
criso de que o 'atraso' da naçSo csrava, bern ott ma!, sendosanado pela irnposiçio
dc urna ditadura quc acerrava o passo dcntro das exigéncias do progresso", 55 Ainda
que por linhas cortas, carninhávamos para o moderno
Ou sc ja, mats ar6 do quc a .scciração da capzscrdadc dc incorporaçio idco!Ogica
cfou politica do Esrado Novo, o quc Importa comprccndcr 6 como se dava o
exercfcto prcc5rro do ofIcto de escriror, ante a parca insrirucionalizaçao 'das
funçocs inrelecruais e o limirado tblico leitor. Afina!, nesses anos, falar cm
inre!ccruais 6 fundamcntalmcnte flar cm polIgrafos quc escrevem para urn
piblico basrante rcsrrtro: os pr6prios produrores dc !ircratura, Os professores C OS
alunos das cscolas superiores, os dricranres, e, por urn, o cidadio insar!sfeito.5'
No final dos anos 30, o acirramer-Ito ideologico, a insatisfação dc amplos
setores da opinião püblLca con relação ao regime e 0 clima de urgéncia irnposto
pela conflagraçio rnundial propiciarn urn relarivo aumenco dos leitores, mas, mais
do que isso, garanteni urn piThitco cativo de "cidadãos insatisfeitos" que cada vcz
mais sc ericarrega de consumir e divulgar uma literarura corn velcidades sociais.
0 que nio significa muito para aqucics inrelectuais que, definindo-se corno
modernistas, prctcndiam manter urns "certa tradiçao meditariva c irônica". Tal
como Os modernistas da fase hcróica quc Os inspiravam, a esrcs talvez não se
pudesse defini-los ainda como profissionais da palavra, como alguern que vivesse
54 Ibidern,pIIS.
;155 SANTIAGO, S. Calcidoscopio de quesroes In: op. cit., 1983, p.28.
56 Ibidem, p.27,
exclusira ou prioritariamente dos rendimentos auferidos corn a venda de seu
trabaiho de escrever, sejam livros ou texcos para jornais e revistas. 57 Nesse senrido,
não procurarn escrever para o püblico em gera!, mas principairnente atingir uma
seleta parcela dde: a dos "iguais", na qual se define quern tern valor, ou não. Em
linguagem áspera e enigmática, quando comparada a escrita daqueles que querem
"it ao povo" e/ou fazer literatura social, esse tipo de escriror-intelectual se coloca
deliberadamenrc em antagonismo corn o gosro do ptThlico, dando a criação
artIstica uma condiçao de cal forms inquestionvel que se justifica qualquer
proximidade corn o poder para realizi-la.
No caso, o suposto é que a modcrnizaçao, mesmo que por vias autorirárias,
conrribuirá para a criação de urn Icitor aprimorado no fururo, como esta magis-
trairnente revelado na brincadeira antropofagica, quando Oswald goza a relaçao
escriror-püblico ("A massa ainda comcrá do biscoito fino que fabrico"). Em outras
palavras, auto-suficienre c ate ehtisra, cssc tipo de inrelectual, pot nio depender
do pCiblico, considera que dc (pCiblico) C quc dcve ilusrrar-se para atingir sua obra.
A preocupaço corn o artesanato C urns marreira de se afirmar a autonom'a do
trahaiho dc cscrcver perantc a ideologizaçao c a politizaçao da produçao intelec-
tual, mesmo quc sua fonte dc sobrevirincia seja a "Ordcna Burocrftica". Alma!,
o reconhecimento c a consagração nesses casos, não vCrn do gosro do piiblico,
mas da accitação ern urna esIcra esiritarnenre intcicccual.
Portanto, pars cssc ripo de nrc!ccrual, o crit6rio dc consagraçSo tarnbCrri rião
passa pelo mercado, enrcndido conio cspaço irnpessoal onde se dá urna dctcrmi-
nada rclação entre o cscritor e o ktblico genérico, cfetivando-se ainda muito
dentro dc padrães instituldos pcla ruptura modernista. Esta, ainda que bastante
inovadora nas qucstOes estéticas, ndre apccro reproduzia a dirsimica dos salôes e
saraus onde "Inrelectuais-insrituiçoes" pontificavam estabclecendo os critCrios de
seleçao acerca do que C ou no vilido. Nessa csfera e5rritarnente intelectual, nesse
carnpo cultural nascente, circulam virios tipos de personagens iciccuais os q u e
enfrentararn sua arise de identidade social atribuindo-se a "missio" decriar a
naçio, a cukura c o povo, fazend do Esrado o insrrunaenro para isso; os que
"servern sob a ditadura", fazendo do Esrado órgâo "financiador" para dcsenvolver
urn trabalho criativo; as clue vão pars a oposição por razôcs idcolOgicas ou não;
osque estao em disponibilidade, em virrude do mercado 5cr restrito edas funçoes
estatais nao incorporarem todos. Seja como for, nenhurn deles encontra no
mercado de mancira clara, o critériô principal de consagração cultural.
I -�.
57 Sihviano Santiago diz desse ripo de intelecrual: "nas convenincizis dc urn ernprcgo pübico,
o poets ou romancjsta modernists pouco tinha a ver corn as leis do mrrcsdo, julgando-as
grosseiras c nada condicentes corn as regras dc consurno que requer pars o scu produto'.
Ibidem, p.22.�j \�'-''%•.�.�.�-�-�'--
H 2� MILTON LAHUERTA� A DECADA DE 1920 E AS ORIGENS DO BIRASIL MODERNO� 113
E pot isso quc, durante os anos 30, apcsar de aflorar o tema da profissiona-
Iização do crabaiho (oflcio) do escritor, ainda ha uma forte presença daquilo que
charnamos "intefectuai-instituiçao". Dentre esses, Mario de Andrade talvez ten ha
personificado aqucle quc kvou as ültirnas conseqüéncias a pretensão de fazer as
vczcs tins iirsrtriiiçöcs dc Cilitlira qiic aincla 11:10 Cxistiafll plcnatiientc. r)i, quando
da febre de avaliaçocs do rnodcrnisrno que corncça a ser feita no início dos anos
40, as suas posiçöes tenham sido as mais influenres, estabelecendo o ãngulo que
prevaicceria nas prOxirnas d&adas. Nessa reavaliaçao, Mario faz uma aurocrIrica
do inodernismo e coloca no ccrne dc suas inqutctaçocs a probkrnáric tica c o
rerna da parricipação e do compromisso do intekcnial. A radicalidade presente
tresses textos de M. de Andrade 51 não pode ser desvncu1ada das incertezas que
advinham do conflito mundial, dos horrrores da barbirie nazi-fascisra, dos ecos
dos debates iriternacronais cnrrc os intclectuais e, pot urn, da perplexidade diante
da ambrguidade que marcava o regime do Esrado Novo. Mario fazia assim as veze.s
dc urn papa laico, dc urn "intelcctual-instrruiçno", quc °benzia as armas" dc paulistas,
cariocas, mineiros, nordestinos etc. Ac, longo de sua trajerória conquistara, pelo
trabaiho paciente de consrrução estética c de desenvolvirnenro de instrurnentos
crIticos e por sua cnorrne dcdicaçao piiblica (na preocupaçio mais ampla de dat
dentidade c univcrsalidade a cultura nacional, na ação prática procurando
concrcnzar scus projcros culwrais ac, longo dos anos 30), urn espaço scm precedentes
nn hisriria da cuirura brasileira. Por isso não é de esrranhar que, nesse momenro, suns
ntcrvcnçOcs tenharn rido rabto impacto, dando o torn a parrir do qua] se dana a
rcvisäo do modernisrno. As inrcrvcnçöes a partir dc 1941 sic, marcadas pdr urn
arnargo torn dc dcrrorado preocupadissimo em revelar as insuficiéncis do
Modernismo pela faira de cornpromisso corn a vida, 60 pela inconseqüéncia tjue a
.tS lsro podc ser conIcriilo pela Icitura dos tcxtos "A cicgia dc abril", cscriici par.1 0 nLimrro (IC
ahcrttira da revisra Chma, Iançada cm 1941; na conleréncia proferida cm 1942 no Irariirary:
"0 Movimcnro Modernista"; e em uma entrevisra dada para a revisra Dire: rizes, em janeiro
de 1944, corn o lirulo sugestivo de "A arte tern de servir". No é a ton clue Carlos Guilhcrme
Mona tenha charnado Mtrio dc Andrade de a consciêncla mire" do periodo. Em suas
-N.5o sri, sao, par-i se scri (icar a cxlst(n,.I.i (IC rr;,çns nacjr,n,,I isia.s ,ia Ioriuii,I,i
,ôcs de Mario qiic cc cliiiiinar.i a caacterlstica radical. sobretudo no clue diz respeiro aruprura corn o quadra social c culrura interor. 0 radicalismo de Mario eati na vcrificação
il.i�r.i(,c'r,�iI'irISpic;is de sia�iIoiIIç.i�nIcIiL'ru;II: toss, ii,eiIiiIa, I % irL\'(' L'sl,ii sI(ii,i(fI) no
lilimc tin cuiiscii,cia pi.icsivcl. 0:i iIIC$flhli 1(11 Potwo iu,iii, (1 qile di o senridu (IC ri-s pturJ"
(MOTTA, C. C. ldea/ogza da cnlrura Iirasir,ra, 2. cd. So Paulo: Atica, 1977, p.1 09
59 Vir, ol,rc iss irS ANI)RONI , U. '-fan,, (0,1/n,, 'sI,:r,sn,ti',,j,,- Cull Ilr;I C uuIiti.i run Mn,, ile
Andrade. Sit) Paulo: Vért,cc, I 985 (esp. cap.3); ANCONA LOPEZ, T. P. M4riodeAndrade:
rarnaus c camunhos. So Paulo: Duas Cdidcs, 1972. (esp. cip.4).
60 Essa Icirura da con luntura, baccada na idëra de comprornisso, vat scr dctcrmunantc para a
gcração que busca definir sirs udcnridudc untre o lusco-fusco das qucsrOcs profissionais c o
drarnaticidade da 6poca estava a condcnar. E essa busca de senudo para a atividade
intelectual, essa rentativa de definir as atribuiçoes sociais dos intelectuais, que
passam a galvanizar as atençócs dos jovens e antigos inrelectuais, que tern no
modernismo, negariva ou posidvamente, a sua referéncia mais forte.
Dc 1922 a 1945, o modcrnisnro cunipre urns trajctOria rut qual, to mesmo
tempo em qué se debruça sobre o comportarnento humano em seu Intirno e sobre
o tema do inconsciente, procura .'uma rcformulaçao ideologica dtretamente Isgada
comprccns3o da nacionalidade, da unrvcrsalidadc, e ao compromisso do intelec-
rual corn o povo de seu pals c de rodo o mundo". 11 Nos prirneiros anos da década
de 1940, coma radicalizaçao da conjunrura-e a dcslegitimaçao da-polirica cultural
estadonovista, é cxatamente esse segundo aspecto do legado modernista que
prcvalccc na definição do carnpo cu1uraI. Donde o impacto das colocaçOcs de
Mario, no anuriciar o mal-esrar do artista, do homem de cultura, peranre a impos-
sibilidade dc pèrmanecer limitado a vigilnèia uramnre estética, cons &angido a
cnfrcnrara questao da vigilancia do pensamento criador em geral, em virtude do
compromisso corn urn fururo que se mostracadavczrnaisaterrorizante.62
A luz de urn peculiar resgate da idéia de compromisso do inrelectual, Mrio,
consrrangrdo pclo confliro inundial c dcccpcionado por suas cxperiCncias profis-
sionais e pclos proletos descnvolvidos junto a Capanema, cstabclecc urn ãngulo
novo para fazer urn balanço dos ialEimos anos: o do anti-hcrói, o do derrorado.
Ens "A clegia de abril", texro de 1941, desanca a geraçSo de 22, na qüal se inclui,
por sua indifcrença para corn a época social em que viviam. Impilcita está uma
arnblgua colocaçao sobre a necessidade de os inrelecruais parriciparem, não se sabe
se po[iticarnenre ou de alguma outri maneira. Diz cle:
NSo éramos "zsbstcncionistas",o que implica uma atiwdc conscientc do aspiriro:
nós éramos uns inconscienres. Nem rncsmo o nacionalismo quc praticávanios corn urn
pouco maror de largueza que os rcgionalisras nossos anrecessores, conseguira definir
em nós qualqucr conscuéncua da conducão do inrciccrual, scus dcvcrcs para corn a arte
c a humanidade, suas relaçocs corn a sociedadc c corn o Estado.'-'
A avaliação quc Mario tinha dos rnais jovens não era das rnelhores, considc-
rando-os, cm rclaço a s un gcraç5o, ainda rnais fragcis, mais marcados pclo
CStCtiClSnlO c pclo clitismo. Mario, u,Ic certo modo, era arnhIguo porquc parece
prcocupado corn a profissionalizaçio c corn a constiruiçAo de urn campo cultural
sentudo tic ,nuss5o, qu tahiti o Esrzdru N,,suu qi:;riitr> as prcssOrs de conjunrura intrnacionaI
1.,au.uuiu aflorar cuuu,, grandc iuuiensididc.
61 ANCONA LOPEZ, op. cit., 1972 (esp. cap. 4),
62 Vcr a cntrcvusta a Francisco dc Assis Barbosa, "A aric rem tic scrvir", publicada na rcvusra
Dirctr:zes, pn. 1944, c republicada cm Alniaiiaque (São Paulo), n,8, 1979.
63 ANDRADE, M. SIC. A elcgia de abril.In: op cut., 1974, p.] 86.
114�
MILTON LAHURTA
novo c autonornizado dos e qucmas consagratórios do Estado Novo, so quc suas
colocaçocs, cm facc da conl. I ntura drarnatizada c polarizada pcla conflagraço
mundial, (cram evidcnterncnte politizadas e lidas como u rna exortação para clue
os escritores clou aprendizes dc escritorcs se rornassem politica e ideologicarnente
arivos. Wilson Martins, dc forma simplisra, chega a afirmar que "Mario estava
prcgando o novo evangclho do escriror compromcrido', isto é, idcologicamcnte
ativista, mas literariamcritc tendncioso".6
Em realidade, ainda quc de maneira ambigua, C que, portanto presta-se a
mi:dtiplas inierpretaqbcs, creio nao 5cr arbitrario dizer quc Mtrio j5 antccipava o
quc scria nodc7-no cm tcrmos dc identidade incelecrual no fururo: solar-se na
"torte dc marfim", nao trair a coridiçao de inrciccrual tentando se confundir corn
a poifrica. Moderno dal para diantc seria, cada vez corn major nitidez, o intelectual
profissional, espccialisra, para qucm pcsam mais as instituiçôcs do quc a vocação
pOblica co sentido de missão. Mas, para quc ral vaticinio se realizassc plcnamcnte,
o pals ainda rena que passar por Outro surro de modcrnizaço conscrvadora,
Enquanto isso, a disponibilidade relativa da intelectualidade a manteria, corn seus
rraços difusamente anticapiralistas, nos marcos dc urna problernarica de intelligen-
isa: buscando assim Sc aproxirnar do popular corno forma de realizar o rnodcrno,
radicalizando unilatcralrnentc ncsse scnrdo a aurocritica quc Mario havia feito
do modern ismo. Portanro, cnrrc intelecruais, ainda pot mais trés décadas, rnodcr-
no scra sinônirno dc nacona!jsrno c dc proxirnidadc corn a cultura popular.
EDUCAcAO E POLITICA NOS ANOS 20:
A DESILUSAO COM A REPUBLICA
E 0 ENTUSIASMO PELA EDUCAçAO
MARTA MARIA CHAGAS DE CAR VALHO'
Nesra minha (ala farci urn recorre bern dclimitado, propondo-me a tratar do
terna a partir dc trabaiho que realizcj, já ha alguns anos, sobre a Associaçao
Brasilcira de Educaçao (ABE). Justifico o recorte por sua pertinéncia ao rema em
debate nestc Scrninárjo, visto quc a ABE é apontada corno principal instância de
articulaçao e propaganda do chamado rnovimcnto de renovação educacional, que
se desenrolou no Brasil nos anos 20 e 30. Promovendo inquériros, debates, cursos
C, especialmenre, organizando congrcssos nacionais de educaçao, a ABE constitu-
iu-se, scm düvida, na principal instáncia cm que se gestaram as politicas cducaci-
onais quc se desencadeararn a parrir de 1930.
Em outubro de 1924, urn grupo de intelecruais funda, na Escola Politécnica
do Rio de Janeiro, a Associaçao Brasileira de Educaçao. Erarn advogados,
medicos, professores e, principalmente, engenbeiros que, desiludidos corn a
RcpOhlica c convencidos dc quc na cducaçao rcsidia a soluç5o dos problernas do
pals, decidirarn organizar uma ampla campanha pela causa educacional, propon-
do polIncas, constiruindo objetos e estratégias de intervençäo e credenciandose
.1 Si rnesmos como quadros inte]cctuais c técnicos de forrnulaçao c execução
des ras.
64 MARTINS, W., op. ci t. 1978, p. 178.
I Pro(cssora dn Faculdade de Educaç5o - USP - S5o Paulo.
i\trav.s do tcxto analisado pudcinos obscrar quo no rnovimcnio polo qual essa
consrxuçäo dcsfigurou todas as outras propostas c so tornou ac'itc corno th]ica,a idóiadc rcvo[ução cumpriu polo menos duas funçöes. Scrviu, por urn ]ado,
lra jistiuicar a abertura dessa fase do "traiisiç3o" c do loutro, rcprcscntou o-.Onto nodal dssa tentativa do so rcfazcr a 'hisióra politica do Brasil". Assirn,
durante esse perIodo, o vcncedor, c1aboaiido c difundindo a sua visio du luta,
aperfeiçoa seus próprios instrumcntos de controle do poder-politico.
Cousiderando quo outras proposta, cmbora dcrrotadas, ficrarn parte desse
ccruirio, seria rnais do quo ]cgI[imo perguntar so do ponto do vista do outras
forças sociais - distaotcs do cxercIcjo do podcr - no havcria oitra possibi-lidado do period/zacao. c do rccuperaco daqucle momonto. Isto nos parece tanto
rnais nccessário, por verificarmos quo o marco - rcvoluçio de 1930 trazcm Si o conjunto dc irnplicacocs jA consjdcradas,
Rcvoluçodc 1930, ncsse concxto, jarnais pode ser tomada coirio urn mero
fato—_ 6 uma Construção extrcrnancnte claborada, Politicamcntc, a olaboraçaoWessa idia ocorrcu no contexto da luta e do cxcrcfcio da dorninaçao sob o
prisma do vencedor - tal 6ornovimcnto do constituicüo da rncmória.
Essa coristruco supöc cm seus lirnites ccrto conjuntO dc temas, dal derivados,
• quo a bibliografia cm geral c a historiografia em particular consideram objeto
dc cstudo. Assim, tcinas comb politica oliguJquica, fatos tipo rcvolucno do
1930 c revolução do 1932,atorcs corno a oligarquia o os tenentés continuam
sendo exaustivarnente cxaminados, crnbora a naior parte desscs tm-abalho$ notemiha so preocupado corn a critica da idéia quc subtantiva cssa refinada
construço.
As irnplicacocs dessa ausncia nio ficarn por al. Na maioria das vczcs as análi-
scs ton3 tratado a revoluçao do 1930 corno urn rncro fàto, corno dado crnpIrico.
A partir dal 6 possivel cornprccnder quo unma éric do "fatos" afinal, houve
1932, 1935, 1937. . . - sejam estudados tambCm conmo dados cmpirios decor-
rontcs de 1930 (2), Accites scm grandcs discussOcs, tais "dados" inémcras vcics
• passaram a 5cr "explicados". Afinal, ha quo con1rcendcr o quo do fato ocorrcu,
tanto mnais quo nao pairarn davidas sobrc o caritcr da SIIa construcio...
Em ditima instâr]cia, estaperiodizacao aceita esté intimamentc rclacionada corn
a montagern do certa idéia de rcvoluc5o. E (IC fato dove-so falar cm revolucao,
não Soria J)ossivcl qualquor outra construçio. 0 uso do concoito, ncstc caso
espccIlico, cumpre urna sério dc funçocs. 0 vocabulário da época anterior a
1930 faz largo uso do tormo e nño se tratava apcnas dc rctóica sim do pro-
postas politicas reais (s).
. 0 conirolc do poder politico dcsde al deve afirmar o fato da ua rcvolucão, no
mesmo tempo quo anula a realidado das propostas vcncidas Cabe ao vcmiccdor
nio 56 a 1iquidaco dos sous advcrsrios na luta politica, coma a apagar da
V.�Icrnbrança de suas propostas. Afirmar tcr fcito unia revoIuçio abre c legitima
a fase, do transiçao Nessa fascurni adinmmiistricao - nao falsos gutas -
dingo a Nacfio, c a tmansic5o permnanoce abcriu cuquattlo durat o "processo rcvo-tucionánjo".
0 marco quo scpara o autos do agora rcvolucionrio limnita a PCIccpcao da
ocorrOncia da.s propostasalmuladas A constinJicio da mernóiia incluj a definicIo
dos agcntes histório cjie participaram do proccsso politico, dc tal forma ouc
alguns sojam cxcluidos da . histórja. Ncssa mornória 1930 cumpre tal papel. Assim,
todo o proccsso rcvolucjonarjo anterior a 1930 6 rcduJdo a pric dos grandes
acntcs vistos ncssa nova etapa - ressalta oligarquia c •iidEninistraçijo/ESta(f()
3
Assumindo a existOncia do propostas do rcvoluçao descons jdcradas pole yen-ccd6r, e procurando os agentcs liistóricog esquccidos por ossa nicnmdrin, 11 'a, quorecuperar a processo politico anulado na constilüicOo do marco pcniodizaddr.
Assim, a crItica ,a cssa rnen)órja passa polo dcscaractcrizaçao dessc Marco --
rcvoluçso dc-193.0.
VoIta!]dooS, dcsdc aqui, para os passos inicjajs (lcssa rccuperaciio, alguma
cojsa dove ser dita sobre'a procura dc urn crit6ro do periodiza5o
(jUC
, co
perrnitarctomar o movim�
ormacnto politico cm toda a sua cxtonso. Dessa foside-rando o
m
 conjunto dessas propostas, inclusi.'o as quc mnas rafflalnicrm,ca orde existente - cm scu� goratns� ncaspcctos ecä 1ômicosociajs - a qtic rcssalt6DUO 6 o fato do tor 000rrido ou nüo umna rcvoluçeio no scmmtido dcssasiltimasA cxi� ,st6ncja mesma desse commjunto dc propostas ima luta politica é quo dcvë
ser considorada, F so urn processo revQlucjoflárjo estcve cm curso, nada justi-
lica a escol6a71c urn marco quo intcrrompa e anule porte do mcsrno. Urn corte
que,n5o respoito cssa exigOncia 1150 podc scr lcgitimnado, aihda mais qmando
sob a ótica do vcnccdor, corn as lirnitacôcs c .irnplicaçocs quo traz It an6lisc,
rcvof
A logitinmidad da pcniodizacibo 56 pode advir do alcançar a J)toCC()�u-cionrio em sun intogridade.
• Ncssc scntido, admitindo a cxistOncia dc urn movinmcflto politico dcssa
naureza, supomos quo o rncsrno deva ser cornprccndido no sou conjunto c
quo elc própnio scja scu crildrjo dc periodizaçibo. Assimn, o processo 1cvojucio-nrio fornece os Clelnentos pama.a sua própria periodizacibo. 0 quo csti Cmii jogo
6 entender cssc proccsso c nibo o cstabcicccr dc urn marco quo divida i "Jmistórjapolitica do Brasil" cm Si,
Enfixn, 1930 - rcvoluco dc 1930 - no podc ser lomoado conin cortc na
periodizacao, quanto mais marco divisor da HistOriu, por do's motivos. Pot urn!,-'do, ji 0 virnOs corno porte da consti[uiçüo do rncrnOria c csta anulando o
movinjento .revolucionário. Dc outro lado, ha quc cntormdcr 1930 apcmias como
nmon1 c f6dc6pFoccsso: urn corte no sea interior qucbra sua integridade - 1930
(y)
63
cxisc como parte do nivimito politico, indcpcndcntcrncnic da construcão
da ucrnória do vcnccdor, Ncssc sentido, 1930 dc'c scr t?cuperado, cntäo, näo
rnai} como marco periodizador, mas sirn corno urn momcnto cure oulros do
dàscnroiar do próprip movirnento politico.
Es.o processo rcvoluciondrio já cstá abcrio pelo mcnos em 1927/28. Assume o
sentido, durac o perIodo, dc urna rcvoiuçio dcmocrático-burguesa no scu con-
junto, crnbora haja propostas mais radkais, 1 difIcil encontrar o momento de
craç5o dessas possihiIididcs — isto porquc supic umu opçio sohic, IJUIl pro-
posta se deseja acompanhar na constituiço do rnovirncnto politico. A dificulda-
de d major quanto admitainos quo 6 possIvcl acompanhar tanto as propostas
dcrnocrdtico-burgucsas, como a proictária.
E possi'ci quo a rcvoiuçio dcmocrtico-burgucssa tcnha sua origcm wtcrior-
mcntc a 1927/28. Mas não rcsta divida de cjuc cia cstá cm andarnento no
periodo; a prcsença c absorclio do movirnento opertirio nesse proccsso politico,
atrav6s do 13]oco Oper6rio c Caxnponés já a carzictcriza. Prctericlernos acompa-
nhar as propostas dcrnociático-buzgucsas, c o I3ioco Operário c Carnponés ajuda
a pciiodi7.ar aquc]a, dcsd�mornento cm quo podo part[cipar da luta poiltica,
corno partido cleitoral de uma classe�isso nos parece suficiente para pen-
sarmos quc já estd cm aberto a possibilidadc dessa revoiução.
Scndo o B.O.C. (Bloco Operário c Carnponés) urn pàrtido cicitorat de classe
portacior dc uma praposta e pcio fato de acompanharnios outras propostas,
scria piausivci perguntar so aqucia teve as mesmas possibiiidades politicas reais
das áitirnas. Scndo ö caso, terlamos duas rcvoiuçocs em andamento --. proie-
tária e dcmocrático-burgucsa. Entretanto, acreditainos qua tai não ocorrcu.
A própria inscco do moviniento operãrio no cemilrio politico, atrav6s do urn
partido cleitoral, isto 6, o B.O.C. - do urna [otma tonsentida — nos dá a
mcdida dc quo cste rido comnda o processo. Scu prograrna mininio coioca-o
no ibrnbito da conste]açiio dcmocrtbtico-burgucsa.
Em Sibo Paulo, durante esse perIodo, o !c,na do rco!uç2o 6 uma constante nas
rnanifestacOes de trés sctorcs: o Partido Democrático, os "tcncntc", e o Bioco
Operrio e Camponés, 0 idcário cnvovido nessas manh(estaçôcs engioba quais-
quer outras propostas sugeridas cm nivel nacional, e por outro lado, urna pola-
rizaçâo cm tcrmos dc intcrcsscs divergcntcs de grupos sociais já relativiza 0
carter de urn predominio da luta regional cutre grandes Estados. Assini, 0 tcrna
cia revoiuçibo define o ãmbito do uma oposicibo hctcrogénea no interior do pro-
cesso cal curso, quo eng]oba, concornitantcmcnte, o próprio parlido da situaco
o Partido R.epubhcano Paulistu. Estc ultimo, cmhora ilibo Sc ciclina no sentido
dc 'rcvoluçibo", age no interior dc ima situaçibo de rnudança ('). Dessa forma,
periodizarnos a obscrvarnos a rcvoluçiio democrático-burgucsa aravós da entra-
da cm cenado B.O,C., e a dcfinirnos em torno do terna da revoluçibo a de
situaçiio dc rnudanca - tafitocin propostas, corno cm movirnento real.
Esse processopolitico esi substantivado, cm 1927/23, cm unm conpoiç2()
heterogEnea contra o P.R.?., o qua], cntrctanto, UCJT1 scuipre coloca-se contra c
fora dos ternas da rcvoluçibo. 0 conjunto da oposicäo aparecc unido em urn
movinmcnto, mantido por urn acordo tilcito corn rclaciio a alguns ponins. A mn
Ihor cxpressão desse arranjo pode ser percebida no jornal 0 Combate, 0 qiI
naqucle momenta serviu do porta-voz concomitautcrncntc oat t:s ccrcs
tido Democthtico, "tenentes", Bboco Operário c Camponbs
Dois (cmar so cornuns mis propostas desscs 3 grupos c dio scn[ido ; !C) :.00d)
Luis Carlos Prcslcs, ''0 ca va Lci 10 da csperauça'', 6 U111 mi to en fa tic am ndntc 111;1: 1 -
tido ( h ) . A oposico ao fantasma da oligarquia L. 0 outmo tcrna. Oposicuo
"oligarquia" qucr dizcr combater a adrninistraciio, isto 6, o governo do morncmmto
ncsse caso, cspecificanicntc, o Partido Rcpublicano Paulista.
o Partido Dcmnocrfmtico, scndo urna oposiçibo no interior d:i classe dominanic,
acaba criando 0 espaço politico no qual o rnovuncimto pode existir. No cntanto,
o idcário liberal dessc partido nibo supöe, em primeira instância, urna "reVo-
ciio". Somente nos morncntos cm quo as (ormas sugcridus l)nru a ascensilo no
governo contidas no scu idcário revelam-se incficazes, frcntc ao dornimno do
P.R.P., 6 quo o Partido Democrático fala em ]uta armada, entendida como revo-
lucão. Ncsse sentido, leia-sc a declaracao do Francisco Morato, após a derrota
do P.D. no plcito do outubro do 1923 (6):
"Estarnos vcndo quo é impossival solucionar o probicrna politico biasilciro
dentro da ordem. Ternos feito todos os csjorços para regcncrar os costumes
politicos a moralizar a Repáblica pelos processos cormstiiucionais. Mas o governo
fecha todas as porlas, impede-nos sodas as ,ncios qua podcrIanlos urilizar-nos
basèados no Constituicao. So nos daixa urn, que do sabe qua! d..
As propostas dos "tenentes", no contrário do Partido Dcniocriitico, tern como
ponto do partida a iddia do revolucibo. Trata-s roaimucntc do propostas, no
plural, cxistcm várias "rcvoluç6cs", Propostas divcrgcnics, corn poiarizru;ibo
politica distinta, dão a mcdida do cariitcr do tcncnisrno como urn inomuncnto,
mais do quo como urn grupo politico dcuinido.
Urna das propostas quanto It rcvoluçâo, sugerida nossc bmbito, podc ser lidq
em Miguel Costa (i):
"Se a revoluçao era neccssária em acrcscida a Imistória do Rcpdbliccm cm 1924,
corn major razäo o é eat 1928, . . Não ha, portanto, cntcndmmemto posslvcl
cairo a revolu cOo a o governo, a incnos qua cslc duiimo so decida a 0cc/tar a
api/ca cOo do pro grarna ret'olucionOrio"...
Tendo em vista qua as propostas do P.D. e do tcacmitismno pertcnc.nn a nIvcis
difcrcritcs, vejamos urn texto do B.0.C., ncssa nicsma perspcctiva, tcndo pot
tltulo "0 Proletariado a as Eleicoes" (6):
65
d tC/npo dos prolctdrios dos fdbrico y c dos campUs tomar,?z par/c ativa nali1rtes cicuous
e CsSa tuna dos cxcelcntcs oportunidades corn quo poderd Cntar a�traba-pa/a 0 traballio do ponclraçao no terreno do burgue.ja, rninando-o,C )rlSeqücn ntc,en(•
( cnsidc,ando- o elci'ado 'ui/nero do ope'dros e ( raballidorey rurais existcij-
los cat lodo a Estado do São Paulo, é corn otirnismo acerca das possibilidades
Ck vitdria quo so dcie encarar a quest/Jo.
Ifast ante quo so cornccc dosdo jd urn trabaliso ,netddjco e lenaz do alistainenlo
eIciiorj do prolclarjac/o. Ness0 /njler as sindicatos podeiao pleslar seu valioso
C0/1CU,SO, inatigurando em suas sedes sccöes especlais para esse tim, e encor-
rega,ido os inililantes Faa/s aptos, mais capaes para levar avanse a e;npresaafraj'ds do wna propaganda /fltclige, gc c persoverante.
Corn to! processo n/Jo so so alistarão as trabaihadores Id sindicalizados, ma,,inilharcs do outros sent sindicazo. Isso scrd, aléni do tudo, urn ensejo para a
prOprja fortnaçao do sindicatos das corporacoes prolerdrjas quo os n/Jo possuernainda.
Rcvoluçao, a!, tern um. canipo do signiticaçio Prso Supbc Juta dc classes,isto 6, oposicoproI eta riado/burcsia claro o scnticio de quc esta contradi-
ção dcvc so orientar para os interesses cspccificos do proictariado, tanto 'ccoriô-
micos quanto politicos. Essa revolucao, porérn, e urn a posteriori. No prcscnte
do texto ela inclui-se no interior da revolucão dernocrático-burguesn - a prole-
tariado no pode prescindir dessa ciltiva, pois 6 atrav6s cia mcsmc que pode
atcnder 'a arregirncntaçao sindiciI da5 forcas dispersas. "; "obra preliminar",
imprescindivel" para outras lutas.
Como vimos, o movi,noiro cia oposiço formado pclos "tcnciitcs", B.O.C. o
P.D., alérn de conjugar propostas espccIftcas de cada urn desses setores, se
substantiva na luta politica através do urn acordo tácito sabre dais pontos já
citados. Sobre csse acordo, aparece urna proposta quc tende a cuglobar as
duferentes sugcstãcs do cada grupo da oposiçäo - foi claborada poe Mauricio
do Lacerda (s).
Do noticiário de 0 Combate retiramos o trecho abaixo, sabre urn discurso do
autor pronunciado cm urn comIcio do Partido Dcmocrdtico (l) Segundo o
jamal, 0 perSOnagem participara dcsse cornicio;
Al fornjaçao do Bloco Operdr/o c Campon is é urna access idade domanic nb. E por quo jugir a ía! access/dade?
Depois dossa a/na prelilnitiar, u1lpresci,ir1icl nada inais a fazer tord o proje ta-riado do quo stijragw O.T. hUmor do seus candidatos, previamenle escoihidosden Ire os sells "loaders" quo 'na/or capacidade do ac/Jo teitharn mostrado ate
0 ,nio,ncnto
.4 perspcctjpa do dorrota devcrá scr do i'odo banja'a, tanlo mais quando o ohio-//to principal do tuna luta dessa natuieza dcvcrd scr, ad,na 'do ludo, n/Jo a
vi(t5ria sobic os caildiclato,, do bztrguc.cia, nias a agiraç/Jo quo so lard em lombdessa Into c quo lord canto fritto mais preciosd. a arrrgiFneiifaç7o indical dasi'�forçns disperas do proletariado.
En/fin, o quo so laid agora sord n/Jo so urn ellsaio iiiiporta,iifsini0 dos traba-
l/jadore no Campo do Into do classc, nias, principalme,ite urn rncio Oponlunopara poder o proictariado so organiar e es/ar, entdo, preparado papa owrasinto,, do scu inleresse ocondniico-politico"
Eobora longo, o texto reproduzjdo nos dá 
it dimensão cia outra memória
au]a'que foi perdida dentre todas Isso nos anirnou a aprcscn-lo na Integra
No interior cia rcvoluçio dernocr,itico burguesa, a B 0 C 6 urn partitla elcttoral
Existe apiovcitarido o 'cspaco politico aberto polo P.D e polo P.R.P., incluindo-T so no rnovirncllto dc oposi00 já citado. Observe-se quo dc no pretede a
vitória c luta puranichte èlcitorais; csta 6 funcao c pretcxto para a tarefa olga.
uizatória, quc se propbc cm tths mornentos: propaganda, organizaçao da classe,
rc[orço dos sindicatos
(:1-
para rcslituir a grande c/dade dos jundadores d0 Pdtria a sna palo vra e a
seu compromisso e enrolar no Pantheon dos Atidradas, 'aos pds de ambos, a
bandeira branca do 'wi/s/ia, desfra(dartdo ali tarn bern a bandeira ver,nelha do-s
reivindicac6es nacionais, quo tinhan: por c/ic/c o gencral Luis Carlo,, Prestes,
Era plcna,nenee soliddrio corn este que o orador v/u/ia o- S/Jo Paulo encorrar a
cohnpanhja polo an/s/ia. . . E ma/s... estondcr izurna aliança a sna 'n/Jo de
combatente do palavra, ao gal/zardo Part/do Dc,nocrdtjco Paulista. Via ncssc urn
clomenbo do van guarda, qua prolon,qava no tempo e ann pisava no espaço 
0 eCO,o CSJ?Iribo C a obra nac/onal dos revolziçocs dc jisihzo, as qua/s vairgimam pate
dourojir a pal/i/ca da oligarquia, Os governos tic ps'o/itsionais, cm sett luger
colocar os governor tic /Jação c a politico do povo . -
I. A obra do Part/do Dc,nocrth'jco, coitto dos part/dos opemdrios, era do coope-
rat corn a agisaçdo fecunda dos esplritos, a ag/ta c/Jo das masses, a unarc/anacional quo conrcpnpla,nos para outro porvir, quo n/Jo o do cscrrn'idao pal/s/ca
e esmagarnenro econô,n/co quo nos espera como povo C como naçao... Cun pr/a,
pois, apoid-lo, eslimuid-lo awn pro pdsito liberal, sen t desprezo tam beth da
outra força quo i/re surgia paralela,

Outros materiais