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TCC - A Audiência de Custódia e Seus Reflexos na Aplicação Excessiva de Prisões Cautelares

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UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DO VALE DO IGUAÇU - UNIGUAÇU 
FACULDADES INTEGRADAS DO VALE DO IGUAÇU 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LUIZA ROSA MOREIRA DE CASTILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E SEUS REFLEXOS NA APLICAÇÃO EXCESSIVA 
DE PRISÕES CAUTELARES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIÃO DA VITÓRIA 
2017 
 
 
LUIZA ROSA MOREIRA DE CASTILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E SEUS REFLEXOS NA APLICAÇÃO EXCESSIVA 
DE PRISÕES CAUTELARES 
 
Trabalho de Curso apresentado ao Curso de 
Graduação em Direito das Faculdades Integradas 
do Vale do Iguaçu, como requisito parcial à 
obtenção do título de Bacharel em Direito. 
 
Orientador: Prof. Emerson Luciano Prado Spak 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIÃO DA VITÓRIA 
2017 
 
 
LUIZA ROSA MOREIRA DE CASTILHO 
 
A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E SEUS REFLEXOS NA APLICAÇÃO EXCESSIVA 
DE PRISÕES CAUTELARES 
 
Trabalho de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito das Faculdades 
Integradas do Vale do Iguaçu, como requisito parcial à obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
 
COMISSÃO EXAMINADORA 
 
 
 
 
_____________________________________ 
Professor 1(Titulação e nome completo) 
Instituição 1 
 
 
_____________________________________ 
Professor 2 (Titulação e nome completo) 
Instituição 2 
 
 
_____________________________________ 
Professor 3 (Titulação e nome completo) 
Instituição 3 
 
 
 
 
 
 
União da Vitória, ____ de ________ de 2017. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço aos meus pais, Luis Alberto e Manuela. 
À minha irmã, Marina. 
Aos meus avós, Almir e Orli. 
Ao Luiz Eduardo. 
Às pessoas com quem tive oportunidade de aprender, Dr. Sergio, Dr. Emerson, Dra. 
Erika, Vilmar, Siomara e Alvarino. 
Por fim, aos meus amigos e amigas, especialmente à Karlize, Amanda, Sabrina, 
Renata, Danieli e Lurian. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cada crime uma sentença, cada sentença 
um motivo. Uma história de lágrima, 
sangue, vidas e glórias, abandono, 
miséria, ódio, sofrimento, desprezo, 
desilusão, ação do tempo. Misture bem 
essa química, pronto: eis um novo 
detento. 
(RACIONAIS MC’S, 1997) 
 
 
 
RESUMO 
A realidade do sistema judicial criminal e das prisões brasileiras, em especial a 
situação dos presos provisórios, entra em confronto com os dispositivos 
consagrados nos tratados internacionais firmados pelo Brasil. O Pacto de San Jose 
da Costa Rica e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, consignam a 
garantia de apresentação do flagranteado, sem demora, à autoridade judicial, para 
que sejam analisadas as circunstâncias da prisão e sua eventual manutenção. Com 
o propósito de colocar em prática esse instituto já previsto nas normas 
internacionais, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ impulsionou a instalação da 
audiência de custódia em todo o território brasileiro. Essa medida tem como um de 
seus objetivos a observância dos direitos fundamentais do preso e, 
consequentemente, a redução da população carcerária. 
A presente pesquisa pretende conferir aplicabilidade dos regramentos de direito 
internacional, abordar a questão de superlotação das cadeias públicas e examinar o 
impacto das medidas adotadas nas práticas do sistema de justiça no tocante à 
audiência de custódia. 
 
Palavras-chave: prisão cautelar; direitos fundamentais; superlotação prisional; 
audiência de custódia. 
 
 
ABSTRACT 
The reality of the Brazilian criminal justice system and prisons, particularly when it 
comes to the situation regarding provisional detainees, goes against various 
validated articles in the international deals signed by Brazil. The American 
Convention on Human Rights as well as the International Pact on Civil and Political 
Rights consign the assurance of the detainee’s submission, forthwith, to the judicial 
authority, so the circumstances of their arrest can be analyzed, furthermore its 
eventual maintenance. With the aim to put this institution already foreseen in the 
international norms into practice, the National Council of Justice boosted the insertion 
of the custody hearings throughout the whole of Brazil. One of the purposes of this 
measure is the observance of the fundamental rights of the detainee and, 
consequently, the shrinkage of the prison population. 
The present dissertation intends to grant applicability of international law’s rules, to 
approach the matter of overcrowding in public jails and to examine the impact of the 
adopted measures in the practices of the justice system concerning the custody 
hearings. 
 
Key-words: custodial imprisonment; fundamental rights; jail overcrowding; custody 
hearings. 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 
2 DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ............................................................... 11 
2.1 PRISÃO CAUTELAR .......................................................................................... 12 
2.1.1 Prisão em Flagrante ....................................................................................... 12 
2.1.1.1 Das espécies de flagrante ............................................................................. 13 
2.1.1.1.1 Flagrante impróprio .................................................................................... 13 
2.1.1.1.2 Flagrante presumido ................................................................................... 14 
2.1.1.1.3 Flagrante próprio ........................................................................................ 14 
2.1.1.1.1 Flagrante esperado .................................................................................... 14 
2.1.1.1.2 Flagrante forjado ........................................................................................ 14 
2.1.1.1.3 Flagrante preparado ................................................................................... 14 
2.1.1.1.1 Flagrante prorrogado .................................................................................. 15 
2.1.1.2 Do procedimento ........................................................................................... 14 
2.1.2 Prisão Preventiva ........................................................................................... 16 
2.1.2.1 Prisão domiciliar ............................................................................................ 18 
2.1.3 Prisão Temporária .......................................................................................... 18 
3 AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA .................................................................................. 20 
3.1 PREVISÃO NORMATIVA .................................................................................... 20 
3.1.1 Direito Comparado ......................................................................................... 21 
3.1.1.1 Europa ........................................................................................................... 21 
3.1.1.1.1 Alemanha ................................................................................................... 21 
3.1.1.1.2 Espanha ..................................................................................................... 21 
3.1.1.1.3 França ........................................................................................................ 22 
3.1.1.1.4 Portugal ......................................................................................................22 
3.1.1.2 África ............................................................................................................. 22 
3.1.1.2.1 África do Sul ............................................................................................... 22 
3.1.1.3 América do Norte ........................................................................................... 22 
3.1.1.3.1 México ........................................................................................................ 22 
3.1.1.4 América do Sul .............................................................................................. 23 
3.1.1.4.1 Argentina .................................................................................................... 23 
3.1.1.4.2 Chile ........................................................................................................... 23 
3.1.1.4.3 Colômbia .................................................................................................... 23 
 
 
3.1.2 Ordenamento Brasileiro ................................................................................. 23 
3.2 PROJETO DE LEI DO SENADO FEDERAL ....................................................... 24 
3.3 AÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA .............................................. 25 
3.3.1 Extensão à Vara da Infância e Juventude .................................................... 28 
3.3.2 Reconhecimento Internacional ..................................................................... 28 
3.3.2.1 Acordo ........................................................................................................... 28 
3.3.2.2 Tese de Mestrado na Universidade de Stanford ........................................... 29 
4 OS REFLEXOS DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA NA APLICAÇÃO EXCESSIVA 
DE PRISÕES CAUTELARES ................................................................................... 30 
4.1 DA NECESSIDADE DE UM INSTRUMENTO DE CONTROLE 
JURISDICIONAL... .................................................................................................... 30 
4.2 DO IMPACTO DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA ATRAVÉS DE SUA 
IMPLEMENTAÇÃO PELO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA ........................... 32 
4.2.1 Repercussão no âmbito das prisões cautelares ......................................... 32 
4.2.2 Do quociente de alegações de violência e tortura ...................................... 33 
4.3 DA NOTORIEDADE DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA NA REALIZAÇÃO DE 
SEUS OBJETIVOS ................................................................................................... 34 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 37 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39 
 
9 
 
1 INTRODUÇÃO 
É senso comum que a garantia de liberdade, que é fundamental a qualquer 
indivíduo da sociedade, além de relativa também é condicionada. Tem-se autonomia 
até os limites estabelecidos pela lei que a restringe. 
Dentre as fontes conhecidas de continência de liberdade estão as prisões 
previstas no Código de Processo Penal. Uma delas, a prisão cautelar, que deveria 
ser tratada como último recurso, tem sido uma medida utilizada 
despropositadamente como um feedback do Estado para a lamúria da sociedade 
brasileira. 
Às custas disso, o número de pessoas presas aumenta, causando a 
superocupação carcerária em todo território e, em consequência, o atendimento aos 
direitos fundamentais padece. 
Nesta baliza, o Brasil, enquanto subscritor do Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Políticos e da Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, 
assumiu o compromisso de salvaguardar os direitos dos detentos, o que inclui a 
observância do preceito que fixa o prazo máximo para apresentação do preso em 
flagrante à autoridade judicial. 
Diante deste cenário, é evidente o paradoxo entre o ônus do Estado e a 
realidade enfrentada pelos encarcerados. Para suprir essa paráclase, com base nas 
diretrizes firmadas pelos tratados internacionais, despontou a chamada Audiência de 
Custódia. 
Esse instituto, que permanece sem regulamentação oficial pela legislação 
brasileira, pois o projeto de lei ainda está tramitando no Congresso Nacional, visa a 
observância dos preceitos estipulados pelos tratados internacionais de forma efetiva. 
A despeito dessa situação, a proposta tem sido concebida pelo Conselho Nacional 
de Justiça em vários estados pelo País e, tem provocado impactos, mesmo que 
mínimos, no complexo prisional brasileiro. 
É em razão disto que a presente pesquisa irá abordar, estreitamente a 
aplicabilidade e eficácia dessa audiência no cotidiano judiciário. Para tanto, foi 
utilizada a metodologia bibliográfica, integrada por livros, e-books, leis e artigos 
publicados na internet. 
Três capítulos dividirão o estudo, sendo o primeiro a tratar sobre as prisões 
cautelares, seu momento processual, procedimentos e aplicação jurídica. 
10 
 
Adiante, o segundo capítulo tratará puramente do instituto da audiência de 
custódia, aludindo sobre sua previsão legal e trâmite. 
Por fim, o último capítulo traçará os reflexos da prática da audiência de 
custódia em face do uso hiperbólico de prisões cautelares e da superpopulação 
prisional brasileira. 
11 
 
2 DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE 
É anseio da sociedade a regulamentação para que a convivência permaneça 
dentro dos limites da liberdade de cada indivíduo. 
As penas são formas de correção e punição trazidas pela lei com o objetivo 
de controlar o comportamento social e proteger o interesse das pessoas. Essas 
sanções restringem a liberdade do criminoso, a fim de castigá-lo pelo cometimento 
de um fato ilícito e prevenir sua reincidência, bem como para servir de lição aos 
demais integrantes de seu corpo social (NUCCI, 2006). 
O Código Penal (1940), em seu artigo 32, dispõe que as penas a que estão 
sujeitos os indivíduos que cometem infração penal se dividem em três, podendo ser 
privativas de liberdade, restritivas de direitos e de multa. 
Chama-se pena privativa de liberdade a prisão que opera o encarceramento 
do indivíduo ao ergástulo, impedindo-o de exercer seu direito de ir e vir (NUCCI, 
2016, Cap. XXII). Dessa maneira, o sujeito fica desprovido de sua liberdade em 
razão da prática, ou suposta prática, de um delito. 
Rogério Greco (2015, p. 119) afirma que a individualização da pena privativa 
de liberdade possibilita a avaliação da proporcionalidade entre a punição e o bem 
jurídico protegido pela norma. 
Dessa sanção sobrevém a prisão penal, que é a que ocorre após o trânsito 
em julgado da sentença penal condenatória e, portanto, é definitiva (LIMA, 2016, 
Cap. II, 4). 
Além disso, no julgamento recente das Ações Declaratórias de 
Constitucionalidade - ADC’s 43 e 44 (2016), em que se discutia a constitucionalidade 
do art. 283 do Código Penal (com redação dada pela Lei nº 12.403/2011), restou 
reconhecido que “é coerente com a Constituição o principiar de execução criminal 
quando houver condenação confirmada em segundo grau, salvo atribuição expressa 
de efeito suspensivo ao recurso cabível”. Isto é, para que haja o cumprimento 
provisório da pena, basta a existência de acórdão que condene o acusado. Assim, 
também é prisão penal aquela decorrente de condenação em segundo grau. 
Em contrapartida, existe a prisão processual, também chamada de provisória 
ou cautelar, de que trata o próximo item. 
 
 
12 
 
2.1 PRISÃO CAUTELAR 
Caracteriza-se por ser medida especial, de caráter pessoal, determinada 
antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, que não visa a 
punição do indivíduo, mas possui como principal finalidade a garantia da eficácia do 
processo penal como um todo. 
Alexandre Morais da Rosa (2014) destaca que “a prisão écautelar ao 
processo e não à sociedade, ou seja, somente se pode prender para garantia da 
prova e aplicação da lei penal”. 
Fernando Capez (2016, 16.12.5) considera que antes de possuir condenação 
definitiva, o indivíduo poderá ser preso apenas em três situações, são elas: o 
flagrante, a prisão preventiva e a prisão temporária. Todavia, “somente poderá 
permanecer preso nas duas últimas, não existindo mais a prisão em flagrante como 
hipótese de prisão cautelar garantidora do processo”. 
As hipóteses de prisão cautelar adotadas para assegurar o curso do processo 
serão elucidadas a seguir. 
2.1.1 Prisão em Flagrante 
Flagrante é palavra derivada do latim que tem por significado o fogo, flama, 
chama, ardência, representando algo que ainda queima. Assim, entende-se por 
flagrante, a prisão do indivíduo durante ou logo após o cometimento de um crime, 
realizada por qualquer pessoa, sem a necessidade de expedição de mandado 
(REIS, GONÇALVES, 2016, 10.2.1). 
Sobre o tema, Aury Lopes Jr. (2011, p. 76) enxerga o flagrante como uma 
medida precária, “que não está dirigida a garantir o resultado final do processo”. 
Enfatiza que: 
Com esse sistema, o legislador consagrou o caráter pré-cautelar da prisão 
em flagrante. Como explica BANACLOCHE PALAO, o flagrante – ou 
ladetenciónimputativa – não é uma medida cautelar pessoal, mas sim pré-
cautelar, no sentido de que não se dirige a garantir o resultado final do 
processo, mas apenas destina-se a colocar o detido à disposição do juiz 
para que adote ou não uma verdadeira medida cautelar. Por isso, o autor 
afirma que é uma medida independente, frisando o caráter instrumental e ao 
mesmo tempo autônomo do flagrante. 
Guilherme de Souza Nucci (2016, Título IX, Cap. II, ‘1’) arremata a questão 
atestando o caráter administrativo da prisão em flagrante, porquanto manifesta a 
13 
 
indispensabilidade de que qualquer pessoa que presencie um crime possa deter o 
agente delituoso. 
O fundamento da prisão em flagrante é justamente poder ser constatada a 
ocorrência do delito de maneira manifesta e evidente, sendo desnecessária, 
para a finalidade cautelar e provisória da prisão, a análise de um juiz de 
direito. De outra parte, essa prisão, realizada sem mandado, está sujeita à 
avaliação imediata do magistrado, que poderá relaxá-la, quando vislumbrar 
ilegalidade. 
Por outro lado, Alves aponta que além do caráter administrativo, a prisão em 
flagrante também possui caráter judicial. Isto porque, “em um segundo momento, 
essa prisão deverá ser submetida à análise judicial da sua legalidade” (ALVES, 
2015, 4.2.1.). 
Não obstante, Távora e Alencar (2016), seguindo o entendimento de Tourinho 
Filho, caracterizam a natureza jurídica da prisão em flagrante como ato complexo, 
por ser administrativo na origem, mas judicializado ao final. 
2.1.1.1 Das espécies de flagrante 
No art. 5º, LXI, da Constituição Federal (1988), tem-se que “ninguém será 
preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade 
judiciária competente”. Essa exceção autorizadora da detenção sem ordem judicial 
prévia é fracionada pela doutrina em diversas espécies, sendo que as principais 
serão destacadas na sequência. 
2.1.1.1.1 Flagrante impróprio 
Verifica-se esta modalidade quando há perseguição do agente logo após o 
cometimento da infração penal (Art. 302, III, do Código de Processo Penal). 
Nos ensinos de Mirabete (2008, p. 372): 
Deve-se entender que o “logo após” do dispositivo é o tempo que corre 
entre a pratica do delito e a colheita de informações a respeito da 
identificação do autor, que passa a ser imediatamente perseguido após 
essa rápida investigação procedida por policiais ou particulares. 
Este é o caso da perseguição do autor do fato que, segundo Gerber (2003, p. 
138), pode ser realizada pela autoridade ou qualquer do povo, em razão da 
visibilidade da infração ou pressuposição de seu agente. 
 
14 
 
2.1.1.1.2 Flagrante presumido 
É considerado flagrante presumido a prisão de indivíduo encontrado logo 
depois do acontecimento dos fatos, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que 
façam pressupor ser ele autor da infração, conforme disposto no artigo 302, IV, do 
Código de Processo Penal. 
2.1.1.1.3 Flagrante próprio 
Previsto no art. 302, I e II, do Código de Processo Penal, o flagrante próprio 
ocorre quando o indivíduo é surpreendido cometendo o crime ou momentos após 
cometê-lo. 
Neste caso, para Tourinho Filho (2005, p. 454) “não há dúvida de que houve 
um verdadeiro flagrante, porquanto o surpreendimento do agente ocorreu quando o 
delito ainda estava em chamas, ainda crepitava”. 
2.1.1.1.4 Flagrante esperado 
Trata-se de flagrante esperado aquele em que a atividade policial ou de 
terceiro aguarda o momento da prática do crime (CAPEZ, 2014, p. 254). 
Isto significa que a autoridade policial ou o terceiro, previamente informado de 
um crime que está na iminência de acontecer, promove as diligências necessárias 
para a prisão do agente, sem induzi-lo ou instiga-lo ao cometimento do referido 
crime. 
2.1.1.1.5 Flagrante forjado 
Por ser circunstância artificial, composta por terceiros, o flagrante forjado 
torna a conduta atípica. É o tipo que se perfaz por meio de armação, vez que o 
indivíduo preso em flagrante não age para produzir o resultado delitivo (NUCCI, 
2016, Título IX, Cap. II, ‘16’). 
Esta espécie de prisão é realizada com o intuito de incriminar o agente por 
crime não cometido por ele. 
2.1.1.1.6 Flagrante preparado 
No entendimento de Damásio de Jesus (1988, p. 176), o flagrante preparado 
se dá por meio de duas situações. Isto porque o mesmo indivíduo induz o agente ao 
15 
 
cometimento de um delito e, simultaneamente, opera medidas para realizar sua 
detenção. 
Nesta modalidade de flagrante, tida como “crime de ensaio” por Nucci (2016, 
Cap. XVIII, 5.5), a instigação ocorre com o intuito de prender o agente por uma 
infração que somente surge através da própria provocação. 
2.1.1.1.7 Flagrante prorrogado 
De acordo com Nucci (2016, Título IX, Cap. II, ‘18’) o flagrante prorrogado se 
dá mediante o atraso da voz de prisão a quem se encontra na situação autorizadora. 
A Lei 12.850/2013, coloca essa variante do flagrante como meio de prova. 
Vejamos: 
Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem 
prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da 
prova: 
[...] III - ação controlada; 
Art. 8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou 
administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela 
vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que 
a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas 
e obtenção de informações. 
Percebe-se aqui que o objetivo maior é a obtenção de informações e dados 
importantes sobre a atuação da organização criminosa relacionada ao flagranteado. 
2.1.1.2 Do procedimento 
Sobre o Auto de Prisão em Flagrante, Renato Brasileiro de Lima (2016, Cap. 
IV, ‘10’) evidencia que “todas as formalidades legais devem ser observadas quando 
de sua lavratura”, tanto em relação à documentação, quanto no que diz respeito aos 
direitos constitucionais do preso. Isto porque, se não respeitados os requisitos, a 
prisão será relaxada ante o reconhecimento de sua ilegalidade. 
O art. 304 do Código de Processo Penal dispõe que o flagranteado será 
apresentado à autoridade competente e, após, serão ouvidos o condutor, as 
testemunhas, a vítima e, ao final, interrogado o indiciado, com o colhimento de todas 
as assinaturas. Por conseguinte, serão reunidos todos os documentos e realizada a 
entrega da nota de culpa ao preso, encaminhando-os ao juízo competente. 
À vista disso, com a notícia do flagrante, o juiz possui três opções, que devem 
ser desempenhadasalternativamente e fundamentadamente. São elas: (I) relaxar a 
prisão ilegal; (II) converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os 
16 
 
requisitos constantes do art. 312 do Código de Processo Penal, e se revelarem 
inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; (III) 
conceder liberdade provisória, com ou sem fiança (Art. 310 do Código de Processo 
Penal). 
Fauzi Hassan Choukr (2011, p. 57) defende que o flagrante, por ser de 
natureza precautelar, exige “a apreciação judicial na presença dos requisitos 
cautelares para manter-se a pessoa presa, não podendo subsistir a constrição, 
durante toda a relação processual, a título da prisão decorrente do estado de 
flagrância”. 
2.1.2 Prisão Preventiva 
A prisão preventiva é providência excepcional que pode ser decretada a 
qualquer momento, tanto no curso do inquérito policial, como da ação penal, desde 
que preenchidos seus requisitos legais, elencados no artigo 312 do Código de 
Processo Penal. 
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem 
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou 
para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência 
do crime e indício suficiente de autoria. 
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em 
caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de 
outras medidas cautelares (art. 282, § 4º). 
Ainda, de acordo com os artigos 311 e 313, do mesmo Código de Processo 
Penal, o juiz poderá decretar a prisão preventiva a requerimento do Ministério 
Público, do querelante, da autoridade policial, ou até mesmo de ofício. Isto poderá 
ocorrer nos casos seguintes: 
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação 
da prisão preventiva: 
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima 
superior a 4 (quatro) anos; 
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada 
em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do 
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; 
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, 
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para 
garantir a execução das medidas protetivas de urgência; 
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver 
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer 
elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado 
imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese 
recomendar a manutenção da medida. 
17 
 
Nucci (2016, Título IX, Cap. III, ‘7-A’) defende a ideia de que, por ser medida 
extraordinária, a prisão preventiva serve para proporcionar um procedimento 
adequado à instrução processual, “não podendo esta prolongar-se indefinidamente, 
por culpa do juiz ou por provocação do órgão acusatório”. 
Destaca-se que a prisão preventiva, “só se sustenta se presentes o lastro 
probatório mínimo a indicar a ocorrência da infração, os eventuais envolvidos, além 
de algum motivo legal que fundamente a necessidade do encarceramento” 
(TÁVORA; ALENCAR, 2016, 7.2). 
No momento em que se analisa a eventual aplicação desta medida, o 
equilíbrio e a proporcionalidade se fazem essenciais, conforme se depreende da 
fundamentação da decisão em sede de habeas corpus: 
HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO 
RECURSO ORDINÁRIO CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE. TRÁFICO DE 
ENTORPECENTES. ASSOCIAÇÃO PARA O NARCOTRÁFICO. 
CORRUPÇÃO DE MENORES. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA 
EM PREVENTIVA. DESCLASSIFICAÇÃO PARA PORTE DE DROGAS 
PARA USO PRÓPRIO. AUSÊNCIA DE REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE 
CUSTÓDIA. MATÉRIAS NÃO APRECIADAS NO ACÓRDÃO COMBATIDO. 
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. SEGREGAÇÃO FUNDADA NO ART. 312 
DO CPP. REDUZIDA QUANTIDADE DE MATERIAL TÓXICO 
APREENDIDO. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. PROVIDÊNCIAS 
CAUTELARES ALTERNATIVAS. ART. 319 DO CPP. ADEQUAÇÃO E 
SUFICIÊNCIA. COAÇÃO ILEGAL EM PARTE DEMONSTRADA. ORDEM 
CONCEDIDA DE OFÍCIO. 
1. O STF passou a não mais admitir o manejo do habeas corpus originário 
em substituição ao recurso ordinário cabível, entendimento que foi aqui 
adotado, ressalvados os casos de flagrante ilegalidade, quando a ordem 
poderá ser concedida de ofício. 2. Vedada a apreciação, diretamente por 
esta Corte Superior de Justiça, da pretendida desclassificação para o delito 
previsto no art. 28 da Lei de Drogas, bem como da alegação de ausência de 
realização de audiência de custódia, quando as questões não foram 
analisadas no aresto combatido. 3. A aplicação de medidas cautelares, aqui 
incluída a prisão preventiva, requer análise, pelo julgador, de sua 
necessidade e adequação, a teor do art. 282 do CPP, observando-se, 
ainda, se a constrição é proporcional ao gravame resultante de eventual 
condenação. 4. A prisão preventiva somente será determinada quando não 
for cabível a sua substituição por outra medida cautelar e quando realmente 
se mostre necessária e adequada às circunstâncias em que cometido o 
delito e às condições pessoais do agente. Exegese do art. 282, § 6º, do 
CPP. 5. No caso, mostra-se devida e suficiente a imposição de medidas 
cautelares alternativas, dada a apreensão de reduzida quantidade de 
estupefacientes e as condições pessoais do agente. 6. Habeas corpus não 
conhecido, concedendo-se, contudo, a ordem de ofício, para substituir a 
cautelar da prisão pelas medidas alternativas previstas no art. 319, I, IV e V, 
do Código de Processo Penal. 
(STJ - HC: 372948 SP 2016/0255418-4, Relator: Ministro JORGE MUSSI, 
Data de Julgamento: 15/12/2016, T5 - QUINTA TURMA, Data de 
Publicação: DJe 01/02/2017) 
18 
 
Nesse sentido, Leonardo Barreto Moreira Alves (2015) revela que os 
requisitos para decretação da prisão preventiva devem ser detectados em concreto 
e que sua imposição só é válida enquanto persistir a imprescindibilidade de mantê-
la, do contrário haveria violação de direitos humanos. 
2.1.2.1 Prisão Domiciliar 
Providência de cassação da liberdade do agente delituoso, através de seu 
confinamento em sua própria residência nos casos especificados no art. 318 do 
Código de Processo Penal. 
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando 
o agente for: 
I - maior de 80 (oitenta) anos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; (Incluído pela Lei 
nº 12.403, de 2011). 
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) 
anos de idade ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) 
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; (Incluído 
pela Lei nº 13.257, de 2016) 
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 
12 (doze) anos de idade incompletos. 
Conforme os ensinamentos de Nucci (2016, Título IX, Cap. IV, “44-A”), “a 
prisão domiciliar não possui condições e elementos próprios; ela é apenas uma 
forma de cumprimento da prisão preventiva”. É, portanto, um elemento humanitário 
inserido no sistema de prisão preventiva, em razão da observância de comprovação 
idônea de alguma das situações relacionadas anteriormente. 
2.1.3 Prisão Temporária 
Instrumento processual que objetiva a privação da liberdade de locomoção do 
investigado com o fim de se obter melhor resultado nas investigações durante a fase 
inquisitorial (TÁVORA, ALENCAR, 2016, Cap. IX, 8.2.). 
“Na realidade, a prisão temporária serve exclusivamente à busca da confissão 
ou delação premiada, sendo esses os objetivos reais (ainda que não assumidos) 
que a motivam” (VARGAS, apud LOPES JR, 2012, p. 315). 
Esta modalidade está regulamentada pela Lei nº 7.960/1989. Conforme 
adiante se vê:Art. 1° Caberá prisão temporária: 
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; 
19 
 
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos 
necessários ao esclarecimento de sua identidade; 
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova 
admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado [...] 
Fernando Capez (2016, 16.14) constata que, dentre os crimes que viabilizam 
o emprego da prisão temporária, estão o homicídio doloso, o estupro, o tráfico de 
drogas e outros previstos na referida lei. Porém, para ser decretada esta modalidade 
de prisão, é necessário um requerimento específico da autoridade policial ou do 
parquet, devendo tal decisão ser proferida no prazo de vinte e quatro horas. 
Conforme o art. 2, §4º, da Lei nº 8.072/1990 e art. 2 da Lei nº 7.960/1989, a 
deliberação a favor do pedido tem como prazo máximo de prisão trinta dias, 
prorrogáveis por igual período, no caso de crimes hediondos e, para os demais 
delitos, o prazo é de cinco dias, também prorrogáveis por igual período, quando 
comprovada a necessidade em ambos os casos. 
Lima (2016, Cap. VI, 5) destaca que a prorrogação não é automática, 
“devendo sua imprescindibilidade ser comprovada com base em elementos colhidos 
enquanto o acusado estava preso”. Além disso, se escoado o prazo determinado, 
sem prorrogação ou ao final dela, o indivíduo deve ser colocado em liberdade, sem 
necessidade de alvará de soltura. 
20 
 
3 AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA 
3.1 PREVISÃO NORMATIVA 
A Constituição Brasileira é turva quanto à oitiva do preso em flagrante, sem 
demora, pelo juiz. Mas os conjuntos normativos internacionais aprovados como 
Emenda Constitucional pelo Congresso Nacional desempenham o papel de prever 
expressamente essa garantia. 
Estes tratados, como o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e a 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica), 
regulam a prisão em flagrante e estabelecem o instituto da audiência de custódia. 
Neste contexto, o art. 7.5 da Convenção Americana Sobre Direitos Humanos 
(1969) dispõe que: 
Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à 
presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer 
funções judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser 
posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua 
liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu 
comparecimento em juízo. 
De acordo com o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966), 
em seu art. 9.3: 
Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá 
ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade 
habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada 
em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de 
pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas 
a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o 
comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do 
processo e, se necessário for, para a execução da sentença. 
Portanto, sendo regra internacional vigente no ordenamento jurídico dos 
países subscritores, os tratados têm validade de lei no Brasil. Assim, observa-se que 
a controvérsia não é com relação à apresentação do preso, vez que tal questão está 
expressamente disposta no texto da Convenção, mas o prazo em que ela deve 
ocorrer. 
Diante da imprecisão normativa quanto a fixação desse período, cada país 
traceja sua própria interpretação, conforme será visto à frente. 
21 
 
3.1.1 Direito Comparado 
Além dos países signatários da Convenção Americana Sobre Direitos 
Humanos e do Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos, outros países 
como a África do Sul e membros da União Europeia, também possuem o mesmo 
entendimento de que o indivíduo que é detido provisoriamente deve ser 
apresentado, sem demora, ao juiz, para que este possa decidir sobre a manutenção 
ou não da prisão. 
A Convenção Europeia de Direitos Humanos, apesar de dispor de uma certa 
flexibilidade – ainda que limitada – prevê, igualmente, a condução imediata do preso 
e o seu direito a um julgamento no prazo razoável. E, se o motivo para manter a 
custódia for, exclusivamente, a possível fuga do flagranteado, sua soltura deve ser 
emprazada. 
A semelhança entre as disposições que preveem a garantia de direito 
internacional de apresentação instantânea do preso ao juiz é inegável, mas o prazo 
para que isso ocorra não é unânime, pois cada jurisdição possui uma noção de 
imediatidade de acordo com sua sensatez. 
3.1.1.1 Europa 
3.1.1.1.1 Alemanha 
De acordo com o Código de Processo Penal alemão (1950) o recém preso 
deve ser levado à presença do juiz até o dia seguinte da prisão. Mas “o período 
máximo não deve ser aproveitado com frequência” e a autoridade policial não pode, 
por conta, manter a prisão além do tempo estabelecido (KALMTHOUT, A. M. van; 
KNAPEN, M. M.; MORGENSTERN, C., p. 409). 
3.1.1.1.2 Espanha 
Conforme determinado pela Constituição Espanhola (1978), a pessoa presa 
deve ser posta em liberdade ou entregue às autoridades judiciais no prazo máximo 
de 72 horas, pois este seria o lapso necessário para executar a apuração dos 
acontecimentos. Ainda que o sujeito seja detido por prazo menor, o seu direito à 
liberdade é transgredido caso a prisão não seja imprescindível. 
As razões para realizar a prisão estão contidas no artigo 490 do Código de 
Processo Penal Espanhol (1882). 
 
22 
 
3.1.1.1.3 França 
Na França, a presunção de inocência se dá até o limite da indispensabilidade 
em prender o indivíduo. Esta custódia, ou “garde à vue”, pode durar até 24 horas, 
conforme previsão do art. 63-1 do Código de Processo Penal francês (2016). Porém, 
de acordo com o art. 706-88 e 706-88-1, este prazo pode ser dilatado para 48 horas 
se houver justificativa plausível pelo Ministério Público, bem como para 96 a 120 
horas se o fato for considerado suspeita de terrorismo. 
Nos casos em que a única forma de evitar a obstrução do julgamento for 
decretar a prisão preventiva, esta poderá ser estabelecida de modo a proteger o 
suspeito e asseverar sua disposição, prevenir o desrespeito de uma ordem ou 
qualquer outra defesa da persecução penal. 
3.1.1.1.4 Portugal 
O artigo 28 da Constituição Portuguesa (1976) enxerga a prisão preventiva 
como último recurso e determina a submissão da detenção estritamente até 48 
horas ao juiz. 
Nesta linha, o Código de Processo Penal português (1987), no art. 254, 
também estipula o limite de 48 horas de custódia inicial do detido até sua 
apresentação à autoridade judiciária, que irá realizar o primeiro interrogatório e 
analisar a aplicação de outras medidas. 
3.1.1.2 África 
3.1.1.2.1 África do Sul 
Quem for preso pelo suposto cometimento de um crime, de acordo com o art. 
35 da Constituição africana (1996), deve ser apresentado dentro do prazo de 48 
horas após a prisão. Caso esteja fora do expediente forense, o tempo pode ser 
aumentado até o fim do dia útil seguinte à expiração das 48 horas. 
3.1.1.3 América do Norte 
3.1.1.3.1 México 
No art. 312 do Código de Processo Penal mexicano, há previsão de 
realização da audiência de custódia para que o detido seja ouvido pelo juiz na 
presença do representante de seu defensor e de um representante do Ministério 
23 
 
Público. No país, “pessoas detidas em flagrante precisam ser entregues 
imediatamente aos promotores, que, por sua vez, devem apresentar os suspeitos a 
um juiz no prazo de 48 horas ou liberá-los” (CANINEU, 2014). 
3.1.1.4. América do Sul 
3.1.1.4.1 Argentina 
O Código Processual Penal da Nação (2014), em seu art. 286, estipula o 
período de até 6 horas para o presoser apresentado a autoridade judicial. Por 
consequência, há uma determinação constitucional, contida no art. 18, de que a 
prisão deve ser disciplinada pela autoridade competente (ARGENTINA, 1994). 
No art. 69, ainda na legislação processual penal argentina, consta a proibição 
de prestar declaração para diretamente à polícia, devendo ser realizada perante a 
autoridade judiciária e o Ministério Público, o que, conforme Malarino (2004, p. 159, 
apud Ávila, 2016), serve “para prevenir a ocorrência de interrogatório sob violência”. 
3.1.1.4.2 Chile 
Consoante disposto no Código de Processo Penal chileno (2000), em seu art. 
91, quando efetuada a prisão, a autoridade policial deve informar o Ministério 
Público em até 12 horas. Se o aprisionado, ainda que sem advogado, quiser prestar 
esclarecimentos naquele primeiro momento, é encaminhado ao Ministério Público ou 
o promotor autoriza a polícia a ouvi-lo diretamente. Não obstante, conforme 
descreve o art. 131 do referido Código o prazo para apresentação do preso ao juiz é 
de, no máximo, 24 horas. 
3.1.1.4.3 Colômbia 
Segundo Maria Laura Canineu (2014), o Código de Processo Penal 
colombiano preconiza a apresentação do preso ao juiz, em casos de flagrante, em 
um prazo de até 36 horas. 
3.1.2 Ordenamento Brasileiro 
O Brasil, como signatário dos regramentos internacionais, como o Pacto 
Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção Americana Sobre Direitos 
Humanos, contraiu o compromisso de incorporar suas cláusulas ao ordenamento 
jurídico nacional. Confirma o Conselho Nacional de Justiça (2016, p. 09): 
24 
 
O Brasil, como Estado-membro fundador da Organização dos Estados 
Americanos (OEA), por ocasião da assinatura da Carta de Bogotá, em 
1948, assumiu compromissos de envergadura, encampando a atribuição de 
fortalecer, no plano interno, os princípios e pilares fundamentais da OEA. 
Entre esses, destaca-se o empenho em conferir efeito às normas da 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José). 
No entanto, o cumprimento dos referidos preceitos não se deu na devida 
dimensão, posto que algumas determinações simplesmente não tomaram efeito, 
especialmente no que diz respeito à proteção dos direitos do detido. 
Dessarte, Aury Lopes Jr. e Alexandre Morais da Rosa, em “Afinal, quem tem 
medo da audiência de custódia?” (2015), afirmam que a audiência de custódia “é o 
direito do acusado ser apresentado perante um Juiz, no prazo de 24 horas, portanto, 
não é nenhuma novidade legislativa. Simplesmente não era aplicado, mas é regra 
válida do jogo processual”. Ainda, pontuam, em seu artigo “Não sei, não conheço, 
mas não gosto da audiência de custódia” (2015), que “a convenção se aplica ao 
Brasil e era ignorada, como, aliás, boa parte da normativa de Direitos Humanos. 
Nenhuma novidade, dirão”. 
Igualmente, o Ministro Luiz Fux, no julgamento da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade - ADI 5.240, afirmou que a aparição do preso perante o 
magistrado é inerente ao preceito fundamental de liberdade que já fazia parte da 
Magna Carta (ADI 5.240, 20 de agosto de 2015). Nesse sentido, Maria Laura 
Canineu em “O direito à ‘audiência de custódia’ de acordo com o direito 
internacional” (2013) revela que “é injustificável que em uma democracia 
consolidada como o Brasil esse direito fundamental tenha sido ignorado por tanto 
tempo”. 
Em razão disso é que o Conselho Nacional de Justiça, juntamente com o 
Ministério de Justiça e o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em fevereiro 
de 2015, promoveu o projeto audiência de custódia, que se fundamenta na garantia 
de apresentação rápida do flagranteado à autoridade judicial. “A ideia é que o 
acusado seja apresentado e entrevistado pelo juiz, em uma audiência em que serão 
ouvidas também as manifestações do Ministério Público, da Defensoria Pública ou 
do advogado do preso” (CNJ, 2015). 
3.2 PROJETO DE LEI DO SENADO FEDERAL 
Apesar de já ter sido implementada pelo CNJ, a audiência de custódia ainda 
não faz parte do Código de Processo Penal, como já é realidade naqueles outros 
25 
 
países. Entretanto, não se trata de ausência de vontade, dado que, em 2011, o 
Senador Antonio Carlos Valadares elaborou o Projeto de Lei nº 554, com a proposta 
de alteração do art. 306, §1º, do referido Código que, nos termos atuais, assegura 
somente o encaminhamento do Auto de Prisão em Flagrante no prazo de 24 horas 
para apreciação pelo juiz competente e entrega de cópias ao advogado ou defensor 
público do autuado. Essa iniciativa pretende regulamentar o controle judicial 
imediato, bem como estipular o mesmo prazo de 24 horas para apresentação do 
flagranteado à autoridade judicial, conforme descrito na propositura: 
§ 1º No prazo máximo de vinte e quatro horas depois da prisão, o preso 
deverá ser conduzido à presença do juiz competente, ocasião em que 
deverá ser apresentado o auto de prisão em flagrante acompanhado de 
todas as oitivas colhidas e, caso o autuado não informe o nome de seu 
advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. 
Além disso, o planejamento tenciona, dentre outras questões, decretar a 
imprescindibilidade da presença de defensor ao autuado desde seu interrogatório 
perante a autoridade policial e regulamentar os passos a serem tomados no decorrer 
da audiência de custódia. 
Para o Ministério da Justiça, apesar de ser um número reduzido, alguns 
magistrados têm transformado a audiência de custódia em um ato de rito 
sumaríssimo. Isto, segundo o professor Felipe Villavicencio (2016 apud DEPEN, 
2016, p. 28), acaba atrapalhando o combate aos dilemas enfrentados e, também, 
ampliando as taxas de autoincriminação. Além do mais, disse que “as novas 
modalidades processuais têm acelerados processos que podem gerar efeitos 
inversos ao que se busca”. 
Logo, cresce a necessidade de um baluarte para amparar tal instituto. Em 
novembro de 2016, o projeto foi aprovado no Senado Federal, tendo por relatora a 
Senadora Simone Tebet e, no momento, aguarda análise na Câmara dos 
Deputados. 
3.3 AÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA 
Durante o tempo em que aguarda a aprovação da proposta que legitimará o 
programa, a audiência de custódia se desenrola por mérito do Conselho Nacional de 
Justiça. 
Através deste método, o indivíduo detido, que é autuado em flagrante, deve 
ser apresentado em juízo com a devida nota de culpa, simultaneamente ao protocolo 
26 
 
e distribuição do auto de prisão (Luis Geraldo Sant'Ana Lanfredi. Termo de Abertura 
do Projeto, 2015, p. 8). 
Conforme apresentado, o autuado é ouvido pelo juiz, na presença de um 
defensor, sendo ele público ou constituído, e do representante do Ministério Público. 
No decorrer do ato, o juiz verifica os pontos principais do instante da prisão, como a 
legalidade, a necessidade e eventual ocorrência de maus tratos e outras 
irregularidades (CNJ, 2015). 
Não sendo o Auto de Prisão em Flagrante suficiente para deslindar a 
regularidade do procedimento, é durante a audiência que se busca constatar a 
legalidade da detenção. Então, são adotadas as previsões do art. 310 do Código de 
Processo Penal. Se ilegal, a prisão é relaxada imediatamente, do contrário, o 
flagrante é homologado e passa-se à próxima etapa (CAPEZ, 2016, 16.12.8). 
Nucci (2015, Título IX, Cap. II, 49) explica que, “avaliando o juiz ter sido legal 
a prisão em flagrante, além de estarem presentes os requisitos do art. 312 do CPP, 
mantém o cárcere provisório mediante a conversão da prisão em flagrante em 
preventiva”. 
Logo, como bem pontua Renato Brasileiro de Lima (2016, 11.1): 
Não se pode confundir o juízo de legalidade da prisão em flagrante com o 
juízo de necessidade das medidas cautelares. O que não se pode admitir, 
todavia, é o relaxamento da prisão em flagrante, porque ilegal, e a 
subsequente e automática decretação de eventual prisão preventiva. 
O procedimentoé apontado por Reis e Gonçalves (2016, 10.2.8): 
Na audiência, o juiz, depois de informar o preso sobre o direito ao silêncio, o 
indagará sobre sua qualificação e condições pessoais (estado civil, grau de 
alfabetização, meios de vida ou profissão, local de residência, lugar onde 
exerce sua atividade), bem como sobre as circunstâncias objetivas da 
prisão, sem que faça ou admita perguntas que antecipem instrução própria 
de eventual processo de conhecimento. 
Captadas as informações primordiais, o magistrado decide sobre a 
necessidade de manutenção do detido em cárcere mediante decretação da prisão 
preventiva, podendo, senão, aplicar medidas cautelares que julgar apropriadas. 
Neste estágio, pondera-se, essencialmente, o direito fundamental da presunção de 
inocência previsto no art. 5º, LVII, da Constituição Federal (1988), que considera 
inocente todo aquele que não tiver contra si sentença condenatória transitada em 
julgado. 
27 
 
Outrossim, o art. 14.1 do Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos 
(1966), proclama que “qualquer pessoa acusada de infração penal é de direito 
presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido legalmente estabelecida”. 
A pessoa presa em flagrante certamente não possui condenação pelo crime 
que acabara de cometer, portanto, reputa-se inocente. Deste modo, só será 
necessária a prisão quando decretada com a intenção de impedir fuga, alteração de 
provas, prática de novo crime ou quando houver provas suficientes para crer que o 
detido constitui ameaça clara e grave para a sociedade a qual se não possa arrostar 
de outro modo (ALVES, 2014, p. 120). 
Conforme os ensinamentos de Paiva (2015, p. 89), a audiência de custódia 
não serve para antecipar as provas, tanto que não há interrogatório sobre os fatos, 
mas para garantir um controle jurisdicional imediato ao flagrante. Em razão disso é 
que o ato deve ser direcionado e limitado ao momento da prisão e suas 
circunstâncias objetivas e subjetivas. 
No mesmo seguimento, aponta a decisão em sede de Agravo em Execução 
proferida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal: 
AGRAVO EM EXECUÇÃO. REGRESSÃO DE REGIME - AUDIÊNCIA DE 
JUSTIFICAÇÃO - NECESSIDADE - NÃO SUPRIMENTO PELA OITIVA DE 
INDICIADO EM AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. AGRAVO A QUE SE DÁ 
PROVIMENTO. 
A audiência de custódia, entre outras finalidades, tem por escopo verificar a 
legalidade da prisão; a presença ou não dos requisitos autorizadores da 
segregação provisória e a eventual imposição de medidas cautelares. Nada 
se apura quanto ao mérito do fato conducente à prisão, motivo pelo qual 
não é possível a conclusão de que o ato levado a efeito perante o juízo da 
custódia possa suprir aquele pelo qual o apenado poderia se manifestar, em 
justificação, nos termos do art. 118, § 2º, da Lei de Execuções Penais. A 
falta grave, consistente na prática de crime doloso, pode ser reconhecida 
pelo Juiz da Execução Criminal, desde que ouvido o apenado em audiência 
de justificação e garantidos os direitos ao contraditório e à ampla defesa. 
(TJ-DF 20170020045854 0004890-20.2017.8.07.0000, Relator: ROMÃO C. 
OLIVEIRA, Data de Julgamento: 06/04/2017, 1ª TURMA CRIMINAL, Data 
de Publicação: Publicado no DJE : 20/04/2017 . Pág.: 103/117) 
Toscano Jr. (2015) arremata que “na audiência de custódia não se aborda 
questão de mérito, senão a instrumentalidade da prisão e a incolumidade e a 
segurança pessoal do flagranteado, quando pairam indícios de maus-tratos ou riscos 
de vida sobre a pessoa presa”. 
Desse modo, fica claro que é por meio da audiência de custódia que o 
autuado também divulga eventuais arbitrariedades dos condutores e autoridades 
28 
 
policiais. Isto se trata de uma proteção judicial já outorgada pela Convenção 
Americana Sobre Direitos Humanos, em seu artigo 25: 
1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer 
outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a 
proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela 
Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal 
violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de 
suas funções oficiais. 
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, os propósitos dessa 
audiência de apresentação, que possui duração média de 10 minutos, podem 
resultar no relaxamento de eventual prisão ilegal, a concessão de liberdade 
provisória, com ou sem fiança, a substituição da prisão em flagrante por medidas 
cautelares diversas, a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva. 
Também, a análise do cabimento da mediação penal, o encaminhamento de 
natureza assistencial ou o encaminhamento de providências para a apuração de 
eventual prática de maus-tratos ou de tortura durante a prisão. 
3.3.1 Extensão à Vara da Infância e Juventude 
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (2016), em alguns estados 
membros, como Mato Grosso do Sul, São Paulo e Maranhão, o projeto da audiência 
de custódia foi estendido para atender os adolescentes infratores em situação de 
flagrante. 
O procedimento tende a ser semelhante ao que acontece com os detentos 
maiores de idade. 
Com as audiências de custódia, assim como ocorre atualmente com os 
adultos, o adolescente deve ser levado à presença de um juiz em até 24 horas, para 
que o magistrado analise a possibilidade de o acusado responder ao processo em 
liberdade mediante condições. O juiz avalia também eventuais ocorrências de tortura 
ou de maus-tratos, entre outras irregularidades. 
3.3.2 Reconhecimento Internacional 
3.3.2.1 Acordo 
Um acordo de cooperação entre o Conselho Nacional de Justiça - CNJ e a 
Organização dos Estados Americanos - OEA foi assinado em 19 de outubro de 2015 
por seus representantes, respectivamente, Ricardo Lewandowski e Luis Almagro, 
29 
 
para aprimorar a política judiciária e o sistema carcerário nos estados-membros 
interessados. Este memorando tem como objetivos a execução de medidas 
alternativas ao encarceramento, melhoria da eficiência do Judiciário para reduzir a 
população carcerária, implementação da audiência de custódia, entre outras práticas 
(JUSTIÇA FEDERAL DIGITAL, 2015). 
Segundo notícia destaque publicada pelo Supremo Tribunal Federal (2015), 
esses projetos de iniciativa do CNJ foram indicados como modelo de atuação judicial 
aos integrantes da OEA. Até porque, ausente uma iniciativa como a audiência de 
custódia, o flagranteado muitas vezes fica enclausurado em delegacia, sem qualquer 
contato com o magistrado, até a instrução do processo. 
3.3.2.2 Tese de Mestrado na Universidade de Stanford 
Conforme fatos apresentados pelo Portal do CNJ (2016), a Audiência de 
Custódia, como instrumento para redução de prisões preventivas e identificação das 
denúncias de violência policial, se tornou objeto de pesquisa na Universidade de 
Stanford, nos Estados Unidos no ano de 2016. 
O mestrando, Thiago Nascimento dos Reis, asseverou que, o fato de o 
flagranteado ficar “cara a cara” com a autoridade judicial permite uma melhor 
avaliação da prisão e das condições do preso, vez que algumas circunstâncias 
podem não ser difundidas apropriadamente caso sejam desenroladas de outra 
forma. Relatou, também, que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
entende que a fundamentação da prisão preventiva, com suporte na garantia da 
ordem pública, infringe os preceitos da Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos. 
Além disso, o estudo constatou, preliminarmente, alguns dados, a partir do 
acompanhamento de audiências realizadas no Fórum Criminal da Barra Funda/SP, 
que revelam falhas no procedimento, vez que a audiência ainda é novidade. Por 
outro lado, averiguou resultados positivos no que diz respeito a apuração de 
eventual violência policial ocorrida no momento do flagrante. 
 
30 
 
4 OS REFLEXOS DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIANA APLICAÇÃO EXCESSIVA 
DE PRISÕES CAUTELARES 
4.1 DA NECESSIDADE DE UM INSTRUMENTO DE CONTROLE JURISDICIONAL 
A sociedade tem encontrado na prisão a principal solução para coibir a 
criminalidade. Essa cultura pode ser proveniente da demora na conclusão dos 
julgamentos, fazendo a comunidade sentir necessidade de ver o preso em flagrante 
cumprindo a eventual pena de imediato, sem mesmo possuir uma condenação 
transitada em julgado. 
O atendimento ao clamor público permite a decretação excessiva de prisões 
cautelares, o que acarreta no crescimento do número de presos preventivos, ainda 
que o crime tenha sido considerado menos importante ou de menor potencial 
ofensivo. 
Nas palavras de Masi (2014, p. 94), o processo penal brasileiro tem a prisão 
cautelar como espécie de tradição. E, mesmo que existam outras providências 
possíveis, elas continuam não sendo adotadas por grande parte dos juízes criminais. 
Por este ângulo, o desembargador Alexandre Victor de Carvalho, em entrevista para 
o Jornal O Tempo (SUAREZ; DINIZ, 2017), afirma: 
Não adianta a gente ter a audiência como ferramenta, se os juízes têm uma 
mente encarceradora. Por causa da pressão da opinião pública, eles 
acabam mantendo a prisão de quase todos e entregando de bandeja novos 
soldados para o crime organizado. 
No mesmo sentido, em entrevista para o G1 (2015), o Defensor Público, 
Serjano Torquato, revela que é muito comum os juízes transformarem o flagrante em 
preventiva. Declara que “muitas vezes essa prisão não tem respaldo legal. Não é 
necessária. O réu pode responder em liberdade e, além de poder retomar a vida e 
se reintegrar à sociedade, não vai estar ocupando uma vaga no sistema prisional 
que já sofre com a superlotação”. 
De acordo com a criminóloga Cristina Zackseski (2010, p. 06): 
Os relatórios dos Mutirões Carcerários apresentam exemplos claros dos 
abusos cometidos, como estes citados por Santos (2010): “FLS foi preso em 
26 de dezembro de 2007. Em quase dois anos a instrução sequer havia 
sido iniciada. AA furtou dois tapetes em um varal. Foi preso em novembro 
de 2006 e condenado, em julho de 2009, a um ano de prisão no regime 
aberto. Apesar disso, apenas uma semana após a sentença AA foi liberado. 
LSM foi preso em janeiro de 1998. Sem sentença até junho de 2009, LSM 
foi solto no mutirão carcerário. RS ficou preso mais de 2 anos sem sequer 
ser denunciado. 
31 
 
Assim, não é de se descartar que a presunção de inocência consagrada pela 
Constituição parece ser uma prática abandonada pelo judiciário (WGAD, 2013). 
Neste entrecho, a Secretaria de Assuntos Legislativos (2015) enfatiza: 
O Brasil está em quarto lugar dentre os países que mais encarceram no 
mundo hoje, e de acordo com as informações consolidadas pelo 
Departamento Penitenciário Nacional (2015), 41% da população prisional no 
país é composta por presos sem condenação, que aguardam privados de 
liberdade o julgamento de seu processo. 
No estudo sobre o excesso de prisões provisórias, a Secretaria de Assuntos 
Legislativos (SAL, 2015, p. 64), continua: 
A duração razoável da prisão cautelar e a duração razoável do processo se 
interpenetram porque, sendo processual a finalidade da prisão provisória, é 
de acordo com a complexidade específica do tipo de processo em que essa 
função deve ser cumprida que a duração razoável da prisão preventiva deve 
ser medida. [...] Ao ser medida pelo nível da eventual reprimenda, e não do 
perigo atual contra o processo, a duração da cautelar trata, a rigor, de 
antecipar àquela e não propriamente de garantir este. Neste caso, a bem 
daquele que se encontra preso provisoriamente, são juízos de tipos 
diferentes. 
Esse cenário já vem sendo analisado e, em março de 2013, foi tido como 
preocupante pelo Work Group on Arbitrary Detention - WGAD no relatório da 
Organização das Nações Unidas - ONU. 
Uma pesquisa feita em parceria entre o Departamento Penitenciário Nacional 
e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2014) apontou que, em 37,2% dos 
casos em que há aplicação de prisão preventiva, os réus não são condenados à 
prisão no fim do processo ou recebem penas menores que seu período de 
encarceramento final. 
Para Sanguine, (2014, p. 18), “no quadro constitucional do Estado liberal, o 
problema da prisão provisória é uma questão de regime, de limites, e implica uma 
restrição severa da mesma aos limites das estritas necessidades processuais”. 
Como bem frisado pelo Ministério da Justiça, “o excesso de prisão no sistema 
penal brasileiro se inicia pelo excesso de prisões em flagrante e se completa pela 
alta taxa de conversão dos flagrantes em medidas cautelares de prisão” (SAL, 2015, 
p. 38). 
O relatório apresentado pelo Work Group on Arbitrary Detention (2013) 
demonstrou sua preocupação com a omissão da aplicação do princípio da 
proporcionalidade e observou que não houve redução significativa no uso exagerado 
de detenção desde a introdução da alteração do Código de Processo Penal que 
32 
 
prevê a adoção de medidas alternativas à prisão. Ademais, ressaltou que a 
quantidade de prisões cautelares contribui para superocupação e desemboca na 
ausência de separação entre presos definitivos e preventivos, além de agravar a 
situação calamitosa de convivência dentro dos presídios. 
Não é à toa que, conforme Luis Antonio Pedrosa, Presidente da Comissão de 
Direitos Humanos da seccional maranhense da OAB, “com a superlotação 
exagerada, cresce a tensão entre os membros de facções criminosas e entre os 
presos e os agentes prisionais” (CNJ, 2015). 
José Renato Nalini, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São 
Paulo afirma que, em consequência disso, “quem ingressa sem necessidade sai 
revoltado, ressentido, pronto para se vingar da sociedade que o trancafiou” (CNJ, 
2015). Até porque, os presos condenados e provisórios deveriam permanecer 
separados nas celas, segundo o CNJ (2012), mas isto não acontece na prática, 
gerando problemas que vem sendo enfrentados pela maioria das cadeias e 
penitenciárias do país. 
Paiva (2015, p. 22) admite que: 
O cenário que se vê no Brasil inibe qualquer perspectiva otimista a respeito 
do encarceramento. Prendemos cada vez mais. O país transita – 
artificialmente – entre rebeliões e mutirões: as rebeliões para demonstrar 
que o sistema penitenciário não funciona, os mutirões para ocultar que o 
Poder Judiciário não funciona como deveria funcionar. 
Em junho de 2014, o Departamento de Monitoramento e Fiscalização do 
Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas do CNJ, 
apresentou um diagnóstico de pessoas presas no Brasil, mostrando que, apesar da 
Constituição Federal tratar a prisão cautelar como excepcional, o país ocupava a 
quarta posição de maior população carcerária no mundo, contando com 563.526 
detentos, dos quais 41% eram presos preventivos. 
4.2 DO IMPACTO DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA ATRAVÉS DE SUA 
IMPLEMENTAÇÃO PELO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA 
4.2.1 Repercussão no âmbito das prisões cautelares 
Para diminuir essas taxas de encarceramento, legitimar a assinatura dos 
tratados internacionais e diminuir os custos de manutenção do preso em cárcere ao 
erário, o Conselho Nacional de Justiça colocou em prática, no ano de 2015, o projeto 
piloto da audiência de custódia. 
33 
 
O magistrado Rosivaldo Toscano contou para o G1 (2015) que já aplicava a 
medida antes de o ato se tornar efetivo, ou seja, há, aproximadamente, 4 anos. 
Ressalta: 
Eu fazia quando surgia alguma dúvida, porque tem processo que de cara 
você sabe se o suspeito deve permanecer preso. Em outros, também de 
cara, você sabe se ele deve ficar solto. Mas, em alguns casos, fica a dúvida. 
E nesses casos eu sempre fazia o que a gente chamava de audiência de 
apresentação 
Segundo o Ministro Luiz Fux, no julgamento da ADI 5.240 em 20 de agosto de 
2015, o programa semostra profundamente eficiente, pois “tem interferido 
diretamente na obstrução de prisões ilegais e nesse abarrotamento do sistema 
prisional brasileiro”. 
Neste raciocínio, no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito 
Fundamental - ADPF 347 em 09 de setembro de 2015, o Ministro Marco Aurélio 
antecipa que a medida pode atenuar uma parcela da população carcerária e reduzir 
os gastos da custódia cautelar. Não obstante, o Conselho Nacional de Justiça (2016, 
p. 15) calculou que a possível redução pela metade do número de presos sem 
condenação suscitaria uma economia de, aproximadamente, 4,3 bilhões de reais por 
ano. 
Com a materialização do projeto, as informações consolidadas até dezembro 
de 2016, demonstram que em um total de 174.242 audiências realizadas, 46,20% 
resultaram em soltura, ou seja, por volta de 80.508 audiências finalizaram com 
decisão de liberdade provisória. No ano de 2017, já foram contabilizadas 41.087 
audiências até o mês de março, sendo que 17.196 delas transformaram o flagrante 
em liberdade (CNJ, 2017). 
Esses números, na visão de Lewandowski, asseveram que o comparecimento 
do preso perante o juiz, influencia no modo de agir diante da prisão ou liberdade 
provisória. Assim como, testificam que “com o incentivo à utilização de medidas 
cautelares alternativas, como tornozeleiras eletrônicas, prisões domiciliares e 
restrições a direitos, é possível manter em liberdade, pessoas que não representam 
perigo à sociedade” (CNJ, 2016, p. 07). 
4.2.2 Do quociente de alegações de violência e tortura 
A Secretaria de Assuntos Legislativos salienta que, para mais de verificar a 
presença dos requisitos que autorizam a conversão da prisão preventiva em medida 
34 
 
cautelar ou concessão da liberdade, a audiência de custódia também serve para 
avaliar possíveis ocorrências de violência ou maus-tratos no momento da prisão. 
Ainda, realça: 
Assim, além de primar pela liberdade da pessoa autuada, assumindo sua 
presunção de inocência até uma eventual sentença condenatória, a 
audiência de custódia deve garantir que a prisão cautelar não seja usurpada 
por uma possível intenção de antecipar eventual pena. 
A Audiência de Custódia pode contribuir para a redução da tortura policial 
num dos momentos mais sensíveis para a integridade física do cidadão, o qual 
corresponde às primeiras horas após a prisão, quando o cidadão fica absolutamente 
fora de custódia, sem proteção alguma diante de eventual violência policial. 
Destaca o Ministério da Justiça (2016, p. 39): 
Pisadas na cabeça dos presos; cabeça dos presos jogadas contra a quina 
dos camburões; rostos sangrando; cabeças cortadas [...] são entendidos 
como atitudes “normais” para poder efetuar as prisões em flagrante que 
chegam às audiências de custódia, mesmo quando os presos não estão 
armados ou estão sozinhos ao serem detidos. 
Esse tipo de comportamento que se equipara à tortura, segundo o CNJ (2016, 
p. 11) pode ser: 
[...] decorrente de típica relação de poder, por meio do qual se infligem 
dores e sofrimentos graves, de natureza física e mental, por ação, 
consentimento ou omissão de agentes públicos que, via de regra, atuam 
para obter informação, para castigar ou mesmo para intimidar. 
Nos compromissos internacionais tomados pelo Brasil, estão previstos meios 
de combate a tais atrocidades, que englobam, inclusive, a audiência de custódia. 
Os resultados desta análise mais profunda no tocante as agressões, 
elaborada pelo CNJ, demonstram que houve alegação de violência no ato da prisão 
em 4,76% das audiências realizadas até o mês de dezembro de 2016, o que 
corresponde à, aproximadamente, 8.300 casos. Até março de 2017, essa 
porcentagem aumentou na razão de 0,43%, perfazendo um total de 11.176. 
4.3 DA NOTORIEDADE DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA NA REALIZAÇÃO DE 
SEUS OBJETIVOS 
Ainda que, conforme leciona Caio Paiva (2015, p. 22), a audiência de custódia 
não se mostre como uma saída para todos os dilemas da prisão, mas como um 
instrumento audacioso para contê-los, “é preciso ter uma alma exorbitantemente 
35 
 
inquisitorial e exageradamente tribalista (tribo engravatada de cima que odeia a tribo 
pé de chinelo de baixo, que é a única que é presa em flagrante pela polícia militar) 
para se posicionar contra tais audiências” (GOMES, 2015). 
Como instrumento evidenciado nos tratados internacionais, a audiência de 
custódia não é mero procedimento burocrático. Ela carrega o intuito de diminuir o 
encarceramento em massa e, consequentemente, honrar os direitos humanos. 
Consoante ao relatório da ONU (2016, p. 16), isso ocorre em virtude da sua 
prerrogativa de enfraquecer o emprego de tortura e, principalmente diminuir a 
quantidade de prisões provisórias desnecessárias. 
O Ministério da Justiça (2016, p. 07) frisa: 
As audiências de custódia teriam não só um efeito preventivo, na medida 
em que, sabendo que o preso seria imediatamente apresentado a uma 
autoridade judicial, as instituições policiais tomariam providências para 
orientar seus integrantes a garantir a incolumidade física dos custodiados, 
como também um efeito corretivo, a partir do momento que, se em 
audiência detectasse qualquer indício de que o preso pudesse ter sofrido 
algum tipo de violência, as autoridades envolvidas na audiência poderiam 
solicitar as providências necessárias para a apuração dos fatos alegados. 
Portanto, a medida possibilita, sobretudo, a minoração das prisões 
manifestamente ilegais, vez que enseja uma melhor avaliação da prisão em 
flagrante pela autoridade judicial. Ademais, acolhe substancialmente os princípios do 
contraditório e ampla defesa, além de outros previstos na Constituição Federal, bem 
como nos dispositivos internacionais que tratam dos Direitos Humanos. 
Analogicamente, o delegado chefe da Delegacia de Crimes Contra a Vida, no 
Espírito Santo, defende a audiência de custódia, afirmando que não seria um bom 
método se consentisse com a saída antecipada de criminosos da cadeia, mas 
reconhece que ocorre o inverso. Expõe que “[...] a audiência é apenas um 
procedimento. Caso o cidadão receba a liberdade, vá para a sociedade e volte a 
cometer delitos, o problema não é da audiência e sim do entendimento do juiz e, 
principalmente, do cidadão” (FERNANDES, 2016). 
Dessarte, Lopes Junior (2016, p. 637) proclama que: 
Essencialmente, a audiência de custódia humaniza o ato da prisão, permite 
um melhor controle da legalidade do flagrante e, principalmente, cria 
condições melhores para o juiz avaliar a situação e a necessidade ou não 
da prisão cautelar (inclusive temporária ou preventiva). Também evita que o 
preso somente seja ouvido pelo juiz muitos meses (às vezes anos) depois 
de preso (na medida em que o interrogatório judicial é o último ato do 
procedimento). 
36 
 
Ricardo Lewandowski, Ministro do Supremo Tribunal Federal e Presidente do 
Conselho Nacional de Justiça, enfatiza que “não haverá sentimento de paz social 
para ninguém se não fizermos da dignidade e do respeito aos direitos de todos, 
indistintamente, fora ou dentro de presídios, uma forma de atuação valorizada 
institucionalmente” (CNJ, 2016, p. 07). 
Para o Ministro Celso de Mello (2015 apud CNJ, 2016, p. 21), as audiências 
de apresentação mostram que cerca de 50% dos flagranteados são liberados em 24 
horas. Ele revela que “a implementação dessa medida representa um gesto de 
respeito ao estado de liberdade das pessoas e sobretudo um gesto de reverência à 
lei fundamental da República”. 
Por isso, a audiência de custódia, ao ser inserida no quadro legislativo 
brasileiro, poderá se tornar um ato garantidor dos princípios fundamentais a uma 
sociedade eivada pela conveniência do aprisionamento sem necessidade de grande 
respaldo. 
 
37 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Os direitos humanos consagrados nos tratados e normas internacionais 
firmadospelo Brasil pressupõem um dever do Estado de providenciar a solidificação 
de seus dispositivos. No entanto, claramente, esta não é a realidade que vem sendo 
vivida. 
Um grande exemplo disso é a questão das condições prisionais brasileiras. 
Pensamentos errôneos de que a prisão é a única solução e que ela traz segurança 
vão se disseminando e acabam por contaminar cada vez mais a esfera social, bem 
como os agentes responsáveis pelo apresamento. 
No país, conforme visto, dezenas de pessoas são aglomeradas em celas 
pequenas, em circunstâncias mínimas, ou zeradas, de subsistência. Esse 
encarceramento em massa gera um lampejo de que a dignidade da pessoa humana 
tem um fito ilusionista ou abstrato, caindo por terra a ideia tola de que os direitos 
fundamentais estão sendo concretizados. Sem contar que os resultados tão 
esperados, como a ressocialização, a melhoria na segurança e a supressão da 
criminalidade, nunca chegam. 
O que desponta essa questão é que muitos dos indivíduos presos ficam 
enclausurados desde a prisão em flagrante até o julgamento que, eventualmente, 
pode ter um resultado absolutório. Além de gerar revolta, essa maneira de atuação 
por parte do sistema da justiça criminal é impraticável e, de certa forma, injusto. 
Por esta razão, os pactos internacionais mencionam a garantia de o indivíduo 
detido ser apresentado à autoridade judicial, em um curto espaço de tempo, a fim de 
que a prisão seja avaliada quanto a sua legalidade e necessidade. Além disso, é 
neste momento que eventuais violações a outros direitos da pessoa presa são 
analisadas, como, por exemplo, a sua integridade física. 
Com o intuito de legitimar os referidos preceitos, favorecendo a apresentação 
do flagranteado, sem demora, perante o juiz, desabrochou o projeto da audiência de 
custódia por meio do CNJ. A exemplo de outros países como Argentina e Chile, ou 
até mesmo a França, a audiência de custódia veio, não só como um instrumento 
viabilizador dos direitos humanos, no que diz respeito à avaliação das condições do 
flagrante de um indivíduo, mas, também, como um mecanismo de colaboração para 
a diminuição da população prisional e demais problemas enfrentados na sociedade 
carcerária. 
38 
 
Os efeitos da implementação de tal método vêm sendo observados e 
aprimorados pelo CNJ, até que o projeto saia, de uma vez por todas, do papel, e se 
torne efetivo seu cumprimento em todo o território nacional através de lei específica. 
Sua repercussão no cenário prisional vem sendo positiva perante os olhares dos 
autores estudados. 
Assim, conclui-se que é visível que a instauração da audiência de custódia 
não pode ser a única saída para os problemas da sociedade carcerária, em especial 
a questão da superocupação dos presídios, entretanto, ela é um instrumento hábil a 
avalizar a observância dos direitos fundamentais do preso, tanto no âmbito 
individual, como no coletivo. 
 
39 
 
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