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Semana 4 Atos de comunicação Processual

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Atos de Comunicação Processual
Prof. Dra. Adriana Geisler
2017.1
Citação
I – Conceituação e considerações preliminares:
• Ato processual por meio do qual é comunicado ao acusado que contra ele foi recebida uma denúncia ou queixa-crime, a fim de que possa se defender.
Art. 396 (regra geral): Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
• Art . 394, § 4.º, do CPP: as disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. 
OBS.: Quanto aos processos de competência originária dos Tribunais, considerando a normatização específica da Lei 8.038/1990, não se aplica a regra do art. 396 do CPP. De acordo com o que dispõe o art. 7.º daquele diploma, o acusado processado segundo aquele procedimento será citado para interrogatório e não para resposta ou manifestação similar.
• Destinatário da citação: réu.  não pode ser citada qualquer pessoa em seu lugar, nem mesmo seu advogado, ainda que com procuração com poderes especiais para tanto. 
- Divergências - citação imprópria: aquela realizada na pessoa do curador nomeado ao acusado considerado incapaz em incidente de insanidade mental instaurado por determinação judicial: 
Primeira (Contrária a essa modalidade citatória): Apenas o acusado pode ser citado, já que a CRFB/88 erigiu a citação à categoria de garantia individual, ao dispor que “aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (art. 5.º, LV);
b) Segunda (Favorável à citação imprópria): Em razão do que prevê o art. 151 do Código de Processo Penal, reconhecida em incidente de insanidade mental a incapacidade ao tempo do fato, o processo terá prosseguimento por meio de curador.
OBS.: Situação diferente da prevista no art. 152 do CPP, que trata da incapacidade superveniente ao fato e persistente à época do processo: o feito ficará paralisado até o restabelecimento do acusado ou a extinção da punibilidade pela prescrição. 
Melhor entendimento doutrinário:
“Não gozando de plenitude mental à época da infração penal, evidentemente, não se pode considerar válida (art. 564, III, “e”, do CPP) a citação realizada unicamente na pessoa do réu, quanto mais se desatender ele o chamado judicial, mantendo-se revel. Desta forma, entendemos que, em qualquer hipótese, deve o oficial de justiça tentar proceder à citação pessoal do acusado. Percebendo sua incapacidade de compreensão, deverá certificar esta situação, deixando de cumprir o mandado citatório. Constatando, porém, ao menos uma certa capacidade de entendimento, deverá citá-lo, certificando sua percepção quanto a eventuais sinais de alienação mental. Independentemente de uma ou outra situação, deverá, também, ser ordenada pelo juiz a citação por meio do curador nomeado por ocasião da instauração do incidente (art. 149, § 2.º), até porque, não fosse assim, desapareceria o sentido do art. 151 do CPP ao dispor que, nestes casos, o processo prosseguirá com a presença de curador.
 
• Revelia: Citado o réu validamente, se não atender ao comando judicial e deixar de comparecer a juízo, a consequência será a decretação de sua “revelia”? 
IPC.: Não se pode falar de revelia no processo penal (ver caderno).
- Duas situações:
O réu foi citado pessoalmente - incide o art. 367 do CPP: o processo seguirá sem a presença do acusado. Apenas seu advogado será comunicado dos atos processuais, pois ele, réu, não será notificado ou intimado para qualquer outro termo da ação penal, salvo em relação à sentença condenatória (art. 392 do CPP). 
O réu foi citado por edital - incide o art. 366 do CPP: se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. 
- Questão doutrinária: Mas e o art. 282, § 6º, do CPP? 
O referido dispositivo condiciona o cabimento da prisão preventiva a que não seja possível a sua substituição por outra medida cautelar diversa da prisão dentre as arroladas no art. 319 do mesmo diploma. Se foi o acusado citado por edital, no entanto, é porque foram esgotadas todas as diligências possíveis para sua localização pessoal. Ora, tal circunstância, até que seja localizado o réu, inviabiliza a aplicação de qualquer outra medida cautelar alternativa e, se presentes os requisitos legais, pode conduzir à decretação da prisão preventiva do acusado. Observe-se que ao referirmos a ineficácia da aplicação dos provimentos cautelares do art. 319 do CPP enquanto não for localizado o réu, não estamos afirmando a obrigatoriedade da custódia cautelar, pois a sua imposição condiciona-se, sempre, à analise das peculiaridades do caso concreto.
II - Espécies de citação: citação real e citação ficta (ou presumida).
II.1) Citação real: é aquela realizada na pessoa do réu, sendo efetivada por meio de uma das seguintes formas: mandado (cumprido por oficial de justiça, no âmbito da jurisdição do juiz perante o qual responde o acusado o processo criminal); carta precatória; carta rogatória; ofício requisitório; e, por fim, mediante carta de ordem. 
II.1.a) Citação por mandado
- Encontrando-se o réu no território do juiz que preside o processo criminal e, nessa condição, ordenada a citação, deve o réu ser citado por mandado, cumprido por oficial de justiça, ressalvando-se desta regra apenas as seguintes situações: hipótese de se encontrar ele em legação estrangeira, caso em que deve ser citado mediante carta rogatória (art. 369 do CPP), ou se for militar, situação na qual deverá ser citado por intermédio do chefe do respectivo serviço (art. 358 do CPP).
Objetivo: levar ao acusado o conhecimento de que, contra ele, foi movida uma ação penal, bem como o teor da acusação a ela incorporada. Deverá, portanto, conter, os requisitos intrínsecos previstos no art. 352 do CPP. 
OBS.: A lei processual penal não faz restrições quanto a dia, hora e lugar da citação. Poderá o oficial de justiça cumprir o mandado em qualquer momento e onde quer que encontre o acusado, devendo ater-se, no entanto, às restrições quanto à inviolabilidade do domicílio.
Quanto aos requisitos extrínsecos do mandado, são aqueles previstos no art. 357 do CPP, consistentes na leitura do mandado de citação ao réu e entrega a ele de contrafé (cópia do inteiro teor do mandado) na qual constarão dia e hora da citação, bem como a respectiva certificação quanto à entrega desta contrafé ao réu e sua aceitação ou recusa.
II.1.b) Citação por meio de carta precatória
Destina-se ao réu que se encontra em território nacional, mas fora da jurisdição do juiz que preside o processo criminal. 
Prevista no art. 353 do CPP.
Processamento: 
▪ Ordenada sua expedição pelo juízo deprecante (juízo do processo), conterá os requisitos do art. 354 do CPP e será encaminhada ao juízo deprecado (juízo em que será cumprida). 
▪ aportando neste local, o juiz deprecado determinará sua execução mediante despacho de “cumpra-se”. 
▪ Caberá ao escrivão expedir o competente mandado, observando os requisitos do art. 352 do CPP, alcançando-o
ao oficial de justiça para cumprimento.
▪ Localizado o citando pelo oficial de justiça e executado o objeto do mandado, a carta precatória será restituída ao juízo deprecante devidamente cumprida (art. 355 do CPP).
- Hipótese de o oficial de justiça não localizar o réu e nem tiver notícias de seu paradeiro: a carta será devolvida à origem sem cumprimento, com certidão narrativa quanto à impossibilidade de ser efetivada a citação do acusado.
- Carta precatória itinerante, prevista no art. 355, § 1.º, do CPP:
Pode ocorrer que o oficial de justiça
tome ciência de que o acusado não se encontra naquela localidade, mas sim em outra, correspondente à jurisdição de juiz distinto, certificando o provável endereço. Por questões de economia processual, caberá ao próprio juiz deprecado enviá-la àquele local, desde que haja tempo para se fazer a citação. 
E se for constatado que o réu está se ocultando para não ser citado?
 Art. 355, § 2.º: “a precatória será imediatamente devolvida, para o fim previsto no art. 362”. 
▪ Trata-se de uma impropriedade do legislador. Não há razão alguma para que a carta precatória seja imediatamente devolvida ao juízo deprecante, cabendo ao próprio oficial de justiça no juízo deprecado adotar as medidas previstas no citado art. 362 (para a citação por hora certa na forma prevista nos arts. 227 a 229 do CPC), para depois aí sim devolver o mandado a cartório a fim de que a precatória seja restituída à origem.
II.1.c) Citação por meio de carta rogatória
Duas são as hipóteses:
Acusado que se encontra no estrangeiro, em lugar conhecido (art. 368 do CPP).
II. Citando que se encontra em legação estrangeira (art. 369 do CPP).
▪ Quanto a suspensão do prazo prescricional determinada pelo art. 368 do CPP, até que haja o efetivo cumprimento da carta: retornando esta ao juízo rogante e constatado o efetivo cumprimento, a fluência do prazo prescricional do crime é automática, devendo-se considerar como primeiro dia para contagem de prazo não a data em que os autos da carta aportaram em cartório, mas sim aquela em que houve seu cumprimento no juízo rogado.
▪ Quanto à aplicação dos dispositivos pertinentes à carta precatória às cartas rogatórias (Art. 222-A, parágrafo único) - “findo o prazo marcado pelo juízo deprecante para o seu cumprimento, poderá ser realizado o julgamento do processo sem que se aguarde o seu retorno”
Questão: Entre nós, o Juiz fixa prazo para cumprimento das precatórias. Tratando-se de rogatória, o Juiz
brasileiro não tem a menor autoridade para determinar prazos para seu cumprimento.
- Impropriedade da fixação de prazo pelo juiz rogante (juiz brasileiro), para que o juiz rogado (juiz estrangeiro) cumpra a carga rogatória: como pode o Juiz Rogante estabelecer prazo ao Juiz rogado para cumprir a rogatória? Como pode a autoridade brasileira querer que a autoridade de outro país observe a nossa lei, desrespeitando-lhe a soberania?
▪ A expedição da carta rogatória para os fins do art. 369 do CPP, não suspende a prescrição, ao contrário da hipótese prevista no art. 368 do CPP, relativa à situação do réu que efetivamente se encontra no exterior.
II.1.c) Citação por meio de carta de ordem
Expediente semelhante à carta precatória, dela se diferenciando pela circunstância de que, ao passo que esta última tramita entre autoridades judiciárias de idêntico grau e insere uma solicitação (por exemplo, de juiz de direito para juiz de direito), a primeira é expedida por Órgão Jurisdicional de grau superior para outro de grau inferior, incorporando uma ordem, como o próprio nome sugere.
II.2) Citação Ficta (ou presumida): é aquela efetivada por meio de edital publicado na imprensa, ou afixado no átrio ou na porta do Fórum e, também, nas hipóteses de citação por hora certa.
II.2.a) Citação por edital (art. 365 do CPP)
Consiste o edital em similar do mandado de citação, apenas publicado na imprensa oficial ou afixado em locais específicos junto ao edifício do Fórum.
- Hipóteses:
1. Não localização do réu (arts. 361 e 363, § 1.º, ambos do CPP): a validade condicionada ao fato de que as tentativas de localização do réu tenham sido esgotadas:
▪ Impõe-se que tenha sido o acusado procurado por oficial de justiça em todos os endereços existentes no inquérito e no processo, sem embargo de outras diligências serem realizadas, de acordo com as particularidades do citando. 
▪ Deve o Juiz é oficiar aos Órgãos responsáveis pela administração da população carcerária e às varas de execuções criminais com o objetivo de cientificar-se quanto ao fato de não estar o acusado preso, pois, se ocorrer essa hipótese, for ele citado por edital, tal citação será nula.
2. Encontrar-se o citando no estrangeiro em lugar não conhecido: 
Art. 368 do CPP: encontrando-se o réu no estrangeiro em lugar conhecido, será citado por meio de carta rogatória. 
Se estiver em local não sabido, descabe a rogatória, restando, em consequência, a citação editalícia com base nos arts. 361 e 363, § 1.º, do CPP.
Na maioria dos casos, não produz qualquer resultado o réu deixar atender seu comando e de constituir defensor para patrocinar seus interesses. Nestes casos, incide o art. 366 do CPP, determinando que o processo criminal permaneça suspenso, e também suspenso o prazo prescricional, sem prejuízo da possibilidade de o juiz ordenar a produção de provas urgentes e, se for o caso, decretar a prisão preventiva do acusado. 
- OBS.: Quanto à constitucionalidade da suspensão indefinida do prazo da prescrição determinada pelo mencionado
dispositivo. Duas posições:
Primeira: O período máximo de suspensão do prazo prescricional, na hipótese do art. 366 do CPP, corresponde ao que está fixado no art. 109 do CP (prazo da prescrição), observada a pena máxima cominada para a infração penal. 
STJ: “consoante orientação pacificada nesta Corte, o prazo máximo de suspensão do lapso prescricional, na hipótese do art. 366 do CPP, não pode ultrapassar aquele previsto no art. 109 do Código Penal, considerada a pena máxima cominada ao delito denunciado, sob pena de ter-se como permanente o sobrestamento, tornando imprescritível a infração penal apurada”.
Ver ainda Súmula 415, do STJ: dispondo que o período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.
Segunda: Não há qualquer óbice à indefinição do prazo de suspensão da prescrição previsto no art. 366 do CPP. 
STF: “a indeterminação do prazo da suspensão da prescrição não constitui, a rigor, hipótese de imprescritibilidade: não impede a retomada do curso da prescrição, apenas a condiciona a um evento futuro e incerto, situação substancialmente diversa da imprescritibilidade. Ademais, a Constituição Federal se limita, no art. 5.º, XLII e XLIV, a excluir os crimes que enumera da incidência material das regras da prescrição, sem proibir, em tese, que a legislação ordinária criasse outras hipóteses. Não cabe, nem mesmo, sujeitar o período de suspensão de que trata o art. 366 do CPP ao tempo da prescrição em abstrato, pois, do contrário, o que se teria, nessa hipótese, seria uma causa de interrupção.
IMPORTANTE: O art. 366 do CPP, ao determinar a suspensão do processo e do prazo prescricional no caso de réu citado por edital que não comparece e nem constitui defensor, não é aplicável nos processos por crimes relacionados à lavagem de dinheiro. Nestes casos, por força do que dispõe o art. 2.º, § 2.º, da Lei 9.613/1998 (alterado pela Lei 12.683/2012), a ação penal terá prosseguimento normal, devendo o juiz proceder à nomeação de defensor dativo ao acusado, e não de suspensão”.
II.2.a) Citação por hora certa (art. 362, do CPP)
- Tem lugar na hipótese em que o réu, presumidamente, se oculta para evitar a citação. 
- Se, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, suspeitando de que ele está se ocultando, deverá intimar qualquer pessoa da família, ou, na falta, qualquer vizinho de que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, em hora determinada. 
Parágrafo único, art. 362, do CPP: Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo”. 
- Essa é a diferença que há entre a citação por hora certa no cível e no crime: ao réu citado com hora certa que não comparece será nomeado defensor dativo, situação esta que não ocorre no processo civil.
- No dia e hora designados, retornando o oficial de justiça para realizar a diligência, se ainda assim o citando não estiver presente, após tentar informar-se das razões da ausência, o
oficial dará por citado o réu, certificando essa ocorrência e deixando a contrafé com pessoa da família ou com qualquer vizinho, consignando-lhe o nome na certidão. 
- Feita essa citação, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe ciência do ocorrido.
- Ao contrário do que ocorre com o réu citado por edital, em relação ao qual o não comparecimento importa em suspensão do processo nos termos do art. 366 do CPP, para o acusado citado por hora certa que não se fizer presente não ocorre tal suspensão, prosseguindo o processo, como visto, com defensor dativo.

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