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Universidade Estadual de Ponta Grossa Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Química Licenciatura em Química Química Orgânica Experimental EXPERIMENTO 03 – CROMATOGRAFIA Hualace Vinícius Emiliano; Luana Borge Soares; Paloma de Jesus Cubas. Química Orgânica Experimental – Prof.ª Franciane Dutra de Souza Palavras-chave: Cromatografia em papel; cromatografia em coluna, solvente, fase estacionaria, fase móvel. Resumo Cromatografia consiste em técnica físico-química de separação de misturas, utilizada neste experimento para separar corantes (indicadores ácido-base) a partir das interações que são resultados da polaridade e solubilidade dos componentes envolvidos. A primeira técnica utilizada foi a cromatografia em papel utilizando eluentes água, etanol e mistura de água e etanol para separa as misturas de (1) azul de metileno e alaranjado de metila (2) amarelo de alizarina e vermelho de metila e (3) amarelo de alizarina e verde de bromocresol. E a segunda técnica foi a cromatografia em coluna onde a fase estacionária era a sílica gel, o eluente era etanol e a fase móvel era uma mistura de azul de metileno e alaranjado de metila. De modo geral, os resultados obtidos confirmaram propriedades esperadas de polaridade e solubilidade. As substâncias com maior polaridade mantiveram maiores interações com a fase estacionária não sendo arrastadas no papel e adsorvendo na sílica na coluna. Já as substâncias apolares foram separadas com maior facilidade devido a menores interações com a fase estacionária. Quando se mudava o eluente, a polaridade também variava, mudando as interações e por consequência a separação das substâncias que constituíam a fase móvel. Introdução A cromatografia é um processo físico-químico de separação de mistura, que tem como função analisar, identificar ou separar componentes de uma mistura. Esse processo fundamenta-se no fato das substâncias presentes na mistura terem diferentes propriedades e composições, assim, a interação delas com as duas fases imiscíveis (fase estacionária e fase móvel) será diferente também (SKOOG, 2008). Ou seja, a velocidade com que uma migra será maior e de outra, será menor. Fase estacionária: fase fixa onde a substância que está sendo separada ou identificada fixa-se na superfície de outro material. Já a Fase móvel: nesta fase as substâncias que queremos isolar são “arrastadas” por um solvente fluido, que pode ser líquido ou gasoso. Essas forças de interação, variam na seguinte ordem: Universidade Estadual de Ponta Grossa Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Química Licenciatura em Química Química Orgânica Experimental Formação de sais > coordenação > ligações de hidrogênio > dipolo-dipolo > London (dipolo induzido). De acordo com as duas fases, há vários tipos de cromatografia, sólido- líquido (coluna, camada fina, papel) que fazem parte da fase estacionária; líquido-líquido e gás-líquido que fazem parte da fase móvel. (SKOOG, 2008) 1. Cromatografia em Coluna É uma técnica de partição entre duas fases, sólida e líquida, baseada na capacidade de absorção e solubilidade. O sólido deve ser um material insolúvel na fase líquida associada, sendo que os mais utilizados são a sílica gel (SiO2) e a alumina (Al2O3), geralmente em pó. A mistura a ser separada é passada através de um tubo de vidro vertical preenchido com sílica ou alumina e é coletada em pequenas frações. Os vários componentes de uma amostra podem ser separados através da interação diferenciada com o solvente (fase móvel) e a fase estacionária. Para uma fase estacionária contendo sílica, compostos polares irão interagir mais fortemente que compostos não polares, ficando mais retidos e sendo eluídos posteriormente. (VOGUEL, 1984) O fluxo de solvente deve ser contínuo. Os componentes da mistura mover-se com velocidades distintas dependendo de sua afinidade relativa com pelo adsorvente e também pelo eluente (solvente). Assim, a capacidade de um determinado eluente em arrastar um composto absorvido na coluna depende quase diretamente da polaridade do solvente com relação ao composto. (BRONDANI, 2016) Com a separação dos compostos, bandas ou zonas móveis começam a ser formadas; cada banda contendo somente um composto. Em geral, os compostos apolares passam através da coluna com uma velocidade maior do que os compostos polares, porque os primeiros têm menor afinidade com a fase estacionária. Se o adsorvente escolhido interagir fortemente com todos os compostos da mistura, ela não se moverá. Por outro lado, se for escolhido um solvente muito polar, todos os solutos podem ser eluídos sem serem separados. Por uma escolha cuidadosa das condições, praticamente qualquer mistura pode ser separada. (BRONDANI, 2016; SKOOG, 2008) Universidade Estadual de Ponta Grossa Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Química Licenciatura em Química Química Orgânica Experimental Se feita de maneira correta, a cromatografia em coluna, pode levar a compostos com alto grau de pureza. No entanto, em muitos aspectos do ponto de vista prático, a sua realização pode apresentar alguns desafios. A experiência no laboratório e algumas dicas podem ajudar na otimização desta técnica. (BRONDANI, 2016) 2. Cromatografia em Papel: Esta técnica é assim chamada porque, é simples e utiliza para a separação e identificação das substâncias ou componentes da mistura a migração diferencial sobre a superfície de um papel de filtro de qualidade especial (fase estacionária). A fase móvel pode ser um solvente puro ou uma mistura de solventes, os componentes que têm capacidade de formar ligações de hidrogênio migram mais lentamente. Este método é muito útil para separar substâncias muito polares, como açúcares e aminoácidos. Possui o inconveniente de poder-se cromatografar poucas quantidades de substância de cada vez. Materiais e Métodos 1. Preparação da Cromatografia em Papel Foram utilizados papéis de filtro, os quais foram cortados no formato retangular com dimensões de 9 cm x 9 cm e posteriormente foi traçado, com o auxílio do lápis e da régua, uma linha com distância equivalente a mais ou menos 1,5 cm em relação à parte inferior de papel. Nesta linha, foram marcados três pontos, e com o auxílio de capilares foi gotejada uma espécie em cada ponto. No ponto 1 ponto analisou-se uma mistura contendo uma solução de azul de metileno e alaranjado de metila; no ponto 2 aplicou-se uma solução de amarelo de alizarina e vermelho de metila; e no ponto 3 uma mistura de azul de metileno e alaranjado de metila. Tendo sido aplicado as amostras na mesma sequência em três papéis, enrolou-se o mesmo e com o auxílio de grampos para formar um cilindro, e só então ser colocada no béquer contendo cerca de 1 cm do eluente (fase móvel) Universidade Estadual de Ponta Grossa Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Química Licenciatura em Química Química Orgânica Experimental de água no béquer 1, uma proporção 1:1 (v/v) de água e etanol no béquer 2 e etanol no béquer 3. Após coberto por um vidro relógio, com o intuito de saturar o ambiente com o solvente, buscando facilitar o arraste da amostra e evitar uma evaporação acelerada do eluente, aguardando até o momento em que a marca atinja a marca superior do papel. 2. Preparação da Coluna Cromatográfica A coluna cromatográfica teve seu empacotamento com 7g de sílica dissolvida em hexano até se obter uma pasta fluída, agitando-se com um bastão de vidro eadicionando-se solvente, até a formação de uma pasta que pudesse se moldar a forma da coluna, evitando assim a formação de bolhas. Antes da adição da sílica em sua forma pastosa, adicionou-se um chumaço de algodão na parte inferior da bureta antes do escoamento, a fim de evitar o escoamento da sílica para o registro, feito isso, adicionou-se a pasta fluida com o auxílio do bastão de vidro na bureta, deixando-se escorrer pela parede da coluna, tomando cuidado para evitar a formação de bolhas de ar, e a possível cristalização no interior da coluna. Posterior ao empacotamento adicionou-se solvente até o nível de aproximadamente 1 cm acima do nível da sílica. Resultados e Discussão 1. Cromatografia em Papel Na cromatografia em papel observou-se que uma amostra líquida flui por uma tira de papel adsorvente vertical, onde os componentes depositam-se em locais específicos. O papel é composto por celulose que é um polímero, o que significa é ela é composta por milhares de moléculas menores que se organizam juntas. Esta organização molecular que compõe as cadeias de celulose é altamente polar e, como resultado, a celulose tem muitas regiões de altas e baixas densidades de elétrons. As regiões "carregadas" em uma cadeia de celulose são atraídas para as regiões de cargas opostas de outras cadeias adjacentes, e isto ajuda a unir as fibras de papel. O solvente utilizado tem que ser polar para poder interagir com as áreas polares da celulose e subir através Universidade Estadual de Ponta Grossa Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Química Licenciatura em Química Química Orgânica Experimental do papel por capilaridade arrastando consigo o que interagir menos com a fase estacionária. (BECKER et al, 1997) Os solventes utilizados possuem características polares. Porém, sabe-se que a água é mais polar que o etanol, o que pode influenciar no arraste dos compostos no papel. Por exemplo, corantes polares se fixarão mais no papel por poderem formar ligações de hidrogênio com a água que a celulose absorver e os apolares serão arrastados com facilidade pelo papel. Corantes menos polares (polaridade intermediaria) terão uma menor interação com o papel, utilizando o eluente água, mas podem interagir mais com o papel quando o eluente for o etanol (baixa a polaridade). Sendo assim, os resultados alcançados com o experimento de cromatografia em papel estão dispostos na tabela 1, a seguir, quando utiliza-se o termo “arrastar” estamos indicando as interações dos corantes com a fase estacionária e também solubilidade: Eluente Azul de Metileno + Alaranjado de Metila Vermelho de Metila + Amarelo de Alizarina Amarelo de Alizarina + Verde de Bromocresol Água O alaranjado sofreu um arraste enquanto o azul de metileno não apresentou interações. O amarelo apresentou uma pequena interação, mas não houve grande arraste. O Vermelho não interagiu. Não houve arraste de ambas as espécies Água e Etanol Azul de metileno não sofreu arraste enquanto o alaranjado foi arrastado pelo eluente. Observou-se uma pequena interação e erraste do eluente com o vermelho de metila, o que não se repetiu com o amarelo de alizarina. O amarelo de alizarina sofreu um muito pequeno arraste e o verde interagiu. Etanol O azul de metileno permaneceu sem interações enquanto o alaranjado de metila foi arrastado. O amarelo de alizarina sofreu arraste enquanto o vermelho não interagiu com o eluente. O amarelo sofreu um maior arraste e o verde de bromocresol também. Tabela 1 – Resultados Experimentais da Cromatografia em Papel Universidade Estadual de Ponta Grossa Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Química Licenciatura em Química Química Orgânica Experimental Observou-se que os corantes (indicadores ácido-base) com maior capacidade de interação com a celulose do papel não foram arrastados pelo eluente, isso se deve à formação de ligações de hidrogênio já citadas. Por esse motivo, o azul de metileno não sofreu nenhum arraste em todos os testes, pois, sua interação com o papel é muito forte, por ser mais polar que os demais. Alguns corantes foram arrastados com facilidade com os três eluentes, como o alaranjado de metila por possuir características mais apolares, não sofrendo interações com a fase estacionária. Os outros corantes apresentaram mudança na interação conforme a mudança de polaridade do eluente. O amarelo de alizarina e o verde de bromocresol sofreram maior arraste com eluente etanol e não sofreram com a água, isso se deve às suas polaridades intermediárias e o etanol sendo um composto molecular que possui em sua estrutura uma cadeia polar outra apolar, pode então solubilizar compostos polares e apolares. Observou-se um pequeno arraste do vermelho de metila quando o eluente era água e etanol. 2. Cromatografia em Coluna No experimento de cromatografia em coluna observou-se a formação de duas fazes no momento da adição da mistura de corantes azul de metileno e alaranjado de metila. Os dois corantes juntos adquirem coloração com características verdes. As bandas formadas aumentavam de diâmetro à medida que se adicionava o eluente, no caso o etanol e, quando a mesma foi se separando, observou-se a formação de tons de amarelo, verde e azul. A separação da mistura foi feita através da passagem do solvente pela coluna e baseia-se na interação dos componentes da amostra e do solvente com a superfície do adsorvente, sílica (fase estacionária). Um adsorvente sólido ativo como a sílica, tem uma grande área superficial, dispondo de vários “sítios’ polares que podem se combinar reversivelmente ou adsorver pequena concentração de substâncias, através de interações entre cargas, dipolo-dipolo, Van der Waals e ligações de hidrogênio. O solvente movendo-se pela superfície do adsorvente, compete com a amostra adsorvida e com o adsorvente, e então Universidade Estadual de Ponta Grossa Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Química Licenciatura em Química Química Orgânica Experimental desloca seus constituintes reversivelmente e continuamente, visualizado como uma competição entre a amostra, o solvente e o adsorvente. (VOGUEL, 1984) Amostra- adsorvente ↔ solvente ↔ amostra-solvente A velocidade de eluição dos componentes depende da natureza da cada um deles. Compostos polares ou polarizáveis, tais com álcoois, ácidos carboxílicos, aminas e amidas, são adsorvidos mais fortemente e eluídos menos prontamente do que compostos pouco polares, tais como compostos halogenados, aldeídos, cetonas, ésteres e hidrocarbonetos. (VIEIRA et al, 1998) Isso ocorre devido a polaridade das substâncias e o tamanho das moléculas. Então, o mais polar, fica retido por mais tempo na coluna e o menos polar, por menos tempo. (VIEIRA et al, 1998) Observando a figura 1 com as estruturas do azul de metileno e alaranjado de metila, vemos que o azul de metileno possui características mais básicas e isso, além da polaridade, também permite maiores interações com a sílica. Já o alaranjado de metila é o contrário. Figura 01 – Estruturas do Azul de Metileno e Alaranjado de Metila Sendo assim, após abrir a torneira a substância amarela, o alaranjado de metila, pode ser separado com o solvente etanol. Já o azul de metileno ficou retido na coluna. Logo, concluiu-se que ele era mais polar, mais básico e tinha maior interação com a fase estacionaria. Não foi possível retirar o azul de metileno utilizando etanol, mas notou-se melhoreluição com o uso do ácido acético. Universidade Estadual de Ponta Grossa Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Química Licenciatura em Química Química Orgânica Experimental Considerações Finais A separação dos componentes de uma mistura por meio da cromatografia está baseada nas interações, diferenças de solubilidade e polaridade dos seus componentes com a fase estacionária e móvel. Foi possível observar que os componentes com maior solubilidade (maior interação, polares) na fase estacionária serão consequentemente retidos e terão uma movimentação mais lenta. Já os componentes com menor solubilidade (menor interação, apolares) na fase estacionária têm um deslocamento mais rápido ao longo do papel e da coluna. É bom ressaltar que a solubilidade dos componentes pode ser explicada de acordo com as propriedades estruturais dos solventes e do papel-filtro ou sílica. O álcool, por exemplo, possui em sua estrutura uma parte polar e outra apolar. Assim, ele é capaz de interagir tanto com compostos polares e apolares presentes na amostra a ser cromatografada, possibilitando uma melhor partição. O mesmo ocorre com a água e a celulose (compostos muito polares). Pode-se dizer que os melhores resultados em relação a separação são obtidos quando o eluente é uma mistura de solventes, de modo a se obter uma polaridade “média” em relação à polaridade dos componentes da amostra. Sendo assim, a prática da cromatografia possibilitou uma nova visão no processo de separação de misturas a partir de propriedades como interações, solubilidade e polaridade dos componentes envolvidos. Referências BECKER, Heinz G, et al. Organikum - Química Orgânica Experimental. 2ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. BRONDANI, Patrícia B. Cromatografia em Coluna. UFSC, 2016. SKOOG, Douglas A.; WEST, Donald M., Fundamentos de Química Analítica, 8 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. VIEIRA, Paulo C. Et al. Cromatografia: um breve ensaio. Química Nova na Escola, n. 7. Maio de 1998. VOGEL, A. I. Análise Orgânica Qualitativa; Ao Livro Técnico S.A.; 3ª ed. Vol. 1, 2, 3, 1984.
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