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Contratos Agrários Existem várias relações jurídicas entre os produtores rurais, seus parceiros, fornecedores, prestadores de serviços, arrendatários, compradores e outros, e cada uma dessas relações jurídicas corresponde a uma norma legal. Nos contratos agrários deve conter a capacidade jurídica dos contraentes, licitude do objeto do contrato e sua forma que deve ser permitida ou não proibida. Os contratos agrários que a lei reconhece, são os contratos de arrendamento e parceria, que tem como finalidade a posse ou uso temporário da terra, entre o proprietário (que detêm a posse ou tem a livre administração do imóvel rural) e aquele que nela exerça qualquer atividade agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, conforme elencado na Lei n. 4.504 de 30/11/64 art. 92 e Lei n. 4.947 de 06/04/66, art. 13. Os contratos de arrendamento e de parceria poderão ser escritos ou verbais. Nos contratos verbais presume-se ajustadas as cláusulas obrigatórias estabelecidas no Regulamento do Estatuto da Terra e Direito Agrário Decreto n. 59.566/66. ESPECIÉS DE CONTRATOS AGRÁRIOS ARRENDAMENTO É o ato jurídico celebrado entre o proprietário (possuidor, usufrutuário ou arrendador), que cede o imóvel, no todo ou em parte, a outro (arrendatário), que nela explorará uma atividade econômica, por prazo certo ou não, e por certo preço, para a exploração agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista. Espécies de Arrendamento a) Arrendamento agrícola: este arrendamento é para o cultivo de espécies vegetais; b) Arrendamento pecuário: este arrendamento é para a criação, recriação, invernação ou terminação de gado (bovino, equino, ovino e bubalino); c) Arrendamento agroindustrial: este arrendamento é para o beneficiamento de produtos agrícolas, pecuários ou vegetais, no qual as instalações industriais são de propriedade do arrendador ou delas seja este legítimo possuidor; d) Arrendamento de extração: este arrendamento é para que o arrendatário explora a extração de espécimes florestais nativas (madeiras, palmitos), animais (pesca) ou agrícola (madeiras cultivadas como o eucalipto), que são de propriedade do arrendador; e) Arrendamento misto: quando o contrato de arrendamento abranger mais de uma das modalidades de exploração (agrícola e pecuário) ou o plantio de arroz e as instalações de seu beneficiamento industrial. Direitos do Arrendatário Ao arrendatário é assegurado, pelo Estatuto da Terra, uma proteção de lhe experimentar um crescimento social e econômico. Os direitos do arrendatário são: a preferências na aquisição do imóvel, em igualdade de condições com terceiros; irrenunciabilidade dos direitos garantidos por lei e indenização pelas benfeitorias úteis e necessárias, podendo permanecer no imóvel e dele usufruir enquanto não for indenizado. Também são indenizáveis as voluptuárias, desde que autorizados anteriormente pelo arrendador. Deveres do Arrendatário Os deveres do arrendatário são: pagar pontualmente o valor do arrendamento as obrigações trabalhistas e previdenciárias; conservar o imóvel, assim como o recebeu; preservar a fauna, a flora e os mananciais hídricos; manter o imóvel livre de invasões e turbações e devolver os bens recebidos , assim como os recebeu e se houver animais, deverá devolver no mesmo número, espécie e valor, conforme o Decreto n. 5.9566/66, artigo 43. Prazos de Arrendamento a- O prazo mínimo legal para arrendamento pecuário para criação de gado é de cinco anos, mas quando se tratar de engorda o prazo mínimo é de três anos; b- O prazo mínimo legal para arrendamento agrícola é de três anos; Se o prazo for indeterminado para o arrendamento pecuário e agrícola, o prazo deverá ser de três anos, conforme previsão legal do Estatuto da Terra, sendo oportunizado ao arrendatário a colheita, mas se o arrendatário renunciar, por se tratar de direito público indisponível, poderá pleitear judicialmente o cumprimento da norma legal. Em se tratando de prazo superior a dez anos, é necessário que o cônjuge do arrendador ou parceiro outorgante concorde. Extinção do Arrendamento O arrendamento se extingue, conforme Decreto n. 56.566/66, art. 26: a) pelo término do prazo do contrato e do de sua renovação; b) pela retomada; c) pela aquisição de gleba arrendada, pelo arrendatário; d) pelo distrato ou rescisão do contrato; e) por motivo de força maior, que impossibilite a execução do contrato; f) por sentença judicial irrecorrível; g) pela perda do imóvel rural; h) pela desapropriação parcial ou total do imóvel rural e; i) por qualquer outra causa prevista na lei. PARCERIA RURAL É o contrato agrário celebrado entre o parceiro-outorgante (proprietário ou usufrutuário do bem), que cede ao parceiro-outorgado, por tempo determinado ou não, o uso específico do imóvel rural, incluindo ou não as benfeitorias, outros bens ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercido a exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa vegetal ou mista, e/ou lhe entregue animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de matérias- primas de origem animal, mediante partilha de riscos (caso fortuito ou força maior) do empreendimento rural e dos frutos e produtos ou lucros havidos, conforme previsão e percentuais da lei (art. 96, VI do Estatuto da Terra), no qual o parceiro-outorgado que participará do empreendimento com a sua mão-de-obra em sentido amplo. É comum o parceiro-outorgado participar com o conjunto familiar. Espécies de Parceria Rural a) Parceria agrícola: quando o objeto da cessão for o uso do imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, com a finalidade de se exercer atividade de produção vegetal; b) Parceria pecuária: quando a finalidade da cessão forem de animais para cria, recria, invernagem ou engorda; c) Parceria agroindustrial: quando a finalidade da cessão for o uso do imóvel rural, de parte ou de partes do mesmo, e/ou maquinaria e implementos com o objetivo de ser exercida atividade de transformação do produto agrícola, pecuário ou florestal; d) Parceria extrativa: quando a finalidade da cessão for o uso do imóvel rural, de parte ou de partes do mesmo, e/ou animais de qualquer espécie com o objetivo de ser exercida atividade extrativa de produto agrícola, animal ou florestal e; e) Parceria mista: quando a finalidade da cessão abranger mais de uma das modalidades de parceria rural. Prazos da Parceria Rural Os prazos são os mesmos previstos no contrato de arrendamento, porém, não há pagamento de arrendamento e sim divisão dos frutos. A divisão dos frutos obedecerá as seguintes porcentagens a favor do parceiro outorgante: a) 10 %, quando ele concorrer só com a terra-nua; b) 20%, quando ele concorrer com a terra preparada e a moradia; c) 30%, caso concorra com o conjunto básico de benfeitorias, constituído especialmente de casa de moradia, galpões, banheiro para gado, cercas, valas ou currais, conforme o caso; d) 50%, caso concorra com a terra preparada, a moradia, o conjunto básico de benfeitorias acima referido e mais as máquinas e implementos agrícolas, sementes, animais de tração, e na parceria pecuária, com animais de cria em proporção superior a 50%, do número total de cabeças objeto de parceria e; e) 75%, nas zonas de pecuária ultra-extensiva em que forem os animais de cria em proporção superior a 25%, do rebanho e onde se adotem a meação do leite e a comissão mínima de 5%, por animal vendido. O parceiro-outorgante pode cobrar do parceiro-outorgado pelo preço de custo o valor dos fertilizantes, vacinas, medicamentos e inseticidas fornecidos no percentual que corresponder à participação deste. Se o parceiro-outorgado receber do parceiro-outorgante pagamento em dinheiro, fica descaracterizadaa parceria agrícola, prevalecendo o trabalho rural, sujeitando-se assim, à legislação trabalhista. Obrigações da Parceria Rural O contraente que não cumprir suas obrigações contratuais e legais, deverá ser constituído em mora, através de notificação judicial e extrajudicial, que se não for purgada no prazo, gerará rescisão do contrato agrário. Se a inadimplência for do parceiro-outorgado ou arrendatário, a ação que deve ser proposta é o despejo (podendo o arrendatário indicar as benfeitorias úteis e necessárias feitas no imóvel, quantificar os custos, indicar a valorização do imóvel, pedir indenização por elas e retenção do imóvel enquanto não for indenizado). Mas se a culpa for do parceiro-outorgante ou arrendador, poderá ser aforada ação de cumprimento de contrato ou rescisão com perdas e danos. Características da Parceria Rural a) diversidade de deveres e atribuições entre parceiro-outorgante e o parceiro-outorgado; b) participação por ambas as partes nos resultado e a partilha nos riscos (por caso fortuito e força maior); c) semelhança à situação de sociedade de capital e indústria; d) finalidade econômica do contrato; e) bilateralidade do contrato, não sendo permitido a intervenção de terceiro; f) é intuito persona, não se transmitindo aos herdeiros e; g) o administrador do empreendimento é o parceiro-outorgante nas relações com terceiros, salvo exceções expressas no contrato. Cadastro Ambiental Rural – CAR O Cadastro Ambiental Rural – CAR é um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais, que tem por finalidade integrar as informações ambientais referentes à situação das Áreas de Preservação Permanente - APP, das áreas de Reserva Legal, das florestas e dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Uso Restrito e das áreas consolidadas das propriedades e posses rurais do país. Criado pela Lei 12.651/2012 no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA, o CAR se constitui em base de dados estratégica para o controle, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de vegetação nativa do Brasil, bem como para planejamento ambiental e econômico dos imóveis rurais. A inscrição deve ser feita junto ao órgão ambiental estadual ou municipal competente, que disponibilizará na internet programa destinado à inscrição no CAR, bem como à consulta e acompanhamento da situação de regularização ambiental dos imóveis rurais. Estados que não possuem sistemas eletrônicos poderão utilizar o Módulo de Cadastro para fins de atendimento ao que dispõe a Lei 12.651/12 e acesso a seus benefícios. Desta forma, antes de acessar o Módulo CAR para realizar inscrição, verifique se o imóvel rural que pretende cadastrar se localiza em unidade da federação no qual o órgão ambiental responsável por recepcionar as inscrições no CAR possui sistema eletrônico próprio e página específica para tal finalidade. Nesses casos, não será possível inscrever seu imóvel rural no CAR por meio do Módulo de Cadastro disponibilizado nesta página. Para realizar a inscrição, acesse o sítio eletrônico e/ou entre em contato com o órgão ambiental competente do Estado da federação em que se localiza o imóvel rural para obter informações acerca dos procedimentos a serem adotados. Benefícios: Além de possibilitar o planejamento ambiental e econômico do uso e ocupação do imóvel rural, a inscrição no CAR, acompanhada de compromisso de regularização ambiental quando for o caso, é pré-requisito para acesso à emissão das Cotas de Reserva Ambiental e aos benefícios previstos nos Programas de Regularização Ambiental – PRA e de Apoio e Incentivo à Preservação e Recuperação do Meio Ambiente, ambos definidos pela Lei 12.651/12. Dentre os benefícios desses programas pode-se citar: Possibilidade de regularização das APP e/ou Reserva Legal vegetação natural suprimida ou alterada até 22/07/2008 no imóvel rural, sem autuação por infração administrativa ou crime ambiental; Suspensão de sanções em função de infrações administrativas por supressão irregular de vegetação em áreas de APP, Reserva Legal e de uso restrito, cometidas até 22/07/2008. Obtenção de crédito agrícola, em todas as suas modalidades, com taxas de juros menores, bem como limites e prazos maiores que o praticado no mercado; Contratação do seguro agrícola em condições melhores que as praticadas no mercado; Dedução das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural-ITR, gerando créditos tributários; Linhas de financiamento atender iniciativas de preservação voluntária de vegetação nativa, proteção de espécies da flora nativa ameaçadas de extinção, manejo florestal e agroflorestal sustentável realizados na propriedade ou posse rural, ou recuperação de áreas degradadas; e Isenção de impostos para os principais insumos e equipamentos, tais como: fio de arame, postes de madeira tratada, bombas d’água, trado de perfuração do solo, dentre outros utilizados para os processos de recuperação e manutenção das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito. Usucapião Especial Rural 1. Noções Gerais A usucapião rural é um instrumento de Reforma Agrária, que se move por iniciativa privada, atuando o Estado, apenas como homologador. É um instrumento de Reforma Agrária, pois sua estrutura ideológica é baseada no conceito de que aquele, que mesmo não sendo o proprietário real do imóvel, tornou-se de fato, por aquele imóvel ter sido entregue ao léu, e ocupado por alguém que lhe dê uma função. A usucapião rural é disciplinada pelo art. 191 da Constituição Federal, que em seus termos: “Aquele que não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á propriedade”. A mesma disciplina é trazida no art. 1.239 do Código Civil. 2. Requisitos À primeira leitura do art. 191, pode se comete o erro de passar os olhos rápido demais pelo verbete, não prestando a devida atenção em suas peculiaridades. Ao passo que, uma leitura correta do artigo seria: Aquele que: não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano / possua como seu / por cinco anos ininterruptos / sem oposição / área de terra em zona rural / não superior a cinquenta hectares / tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família / tendo nela sua moradia / adquirir-lhe-á propriedade. A necessidade de pausas revela-se pelo fato de que cada espaço entre as orações corresponde a um dos requisitos para que seja configurada a usucapião rural, logo se faremos então, a análise de cada requisito separadamente. 1) não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano - para ser possível a usucapião rural, o usucapiente não deve possuir imóvel de qualquer tipo. Sendo a usucapião rural um instrumento de reforma agrária, seria um absurdo considerar seu uso indevido para enriquecimento. Já foi dito antes, terra não existe para ostentar patrimônio, por isso há a necessidade de ser possível um instrumento como este, mas o Estado, que deve fornecer os meios para a reforma agrária, e mais, também é o fiscalizador desta, não pode permitir que haja ilícitos, ou injustiças. Pensa-se, que a pessoa disposta a ocupar e tornar útil uma área abandonada, não disponha de outro patrimônio. Esta é única justificativa aceita para a sociedade, já que é melhor entregar a terra à alguém que carece, do que deixá-la abandonada, porque para seu dono, este patrimônio não se faz necessário. 2) possua como seu - a pessoa que ocupa a terra desamparada, deve querê-la para si, demonstrandoseu animus domini (intenção de ser ou agir como dono). A ocupação não seria justificada sem essa vontade de possuir o imóvel. Não pode uma pessoa que pretende a usucapião, na verdade, não desejar a terra para si, pois aí estaria configurada fraude. A usucapião, como instrumento de modificação social, deve ser destinada a quem não tem e a quem quer. 3) por cinco anos ininterruptos - trata-se de requisito temporal. Para ser configurada a usucapião, o interessado deve, além de preenchidos os requisitos materiais, cumulando estes com a posse da terra, estar nela, permanecer nela, por um período mínimo de cinco anos, sem haver interrupção, ou seja, em nenhum momento poderia ter deixado a terra (“deixado” refere-se à pessoa que abandona a terra, para depois retorná-la, propondo a usucapião, nestes termos, conta-se o prazo de cinco anos a partir do zero a partir de seu retorno, não podendo existir “pausa” na contagem de prazo). 4) sem oposição - durante o período de permanência, a “posse” não pode ser contestada. Se o verdadeiro proprietário, antes de deflagrado os cinco anos mínimos, reclamar o imóvel, estaria aí desconfigurada a usucapião. 5) área de terra em zona rural - a usucapião especial (rural) só pode ser proposta aos imóveis em zona rural. Mesmo para o imóvel rural em zona urbana não cabe a usucapião rural, devendo o interessado pleitear a usucapião tradicional. 6) não superior a cinquenta hectares - um dos requisitos materiais. Versa-se na impossibilidade de ser a usucapião um meio para o enriquecimento, já que esta se baseia na ideologia da terra corresponder apenas às necessidades de uma unidade familiar. Neste ponto, há uma contradição entre o art. 191 da Constituição Federal e o a Lei 6.969. A lei define 25 hectares como limite máximo, a Constituição estabelece 50 hectares, vigorando esta última, como o limite máximo legal. 7) tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família - com base na função social, a terra deve ser produtiva. O interessado deve torná-la produtiva. O art. ao dispor o trabalho do usucapiente ou de sua família, não veda a possibilidade da contratação dos trabalhadores temporários, como em épocas de colheitas, onde é necessário um aumento da força de trabalho, desde que essa força de trabalho não se torne permanente, pois, a usucapião segue os moldes de uma propriedade familiar. 8) tendo nela sua moradia - o interessado deve fixar moradia na terra que pretende usucapir. Diante disso, os requisitos para a usucapião especial rural são: - Requisitos temporais: • 5 (cinco) anos (possuindo e cumulando os requisitos materiais para ser configurada a usucapião rural). - Requisitos materiais: • Posse e trabalho na terra; • Gerar produtividade; • Fixando moradia na terra; • Ser em área rural, não superior a 50 hectares (ao imóvel rural em área urbana não cabe a usucapião especial rural); • Animus Domini (intenção de ser ou agir como dono); • A posse não pode ser contestada; • A pessoa não pode ser proprietária de outro imóvel. Para ser configurada a usucapião rural todos os requisitos devem ser preenchidos cumulativamente. O parágrafo único do art. 191 da Constituição Federal, versa sobre a exceção aos bens possíveis de serem usucapidos, protegendo assim, os imóveis públicos, não podendo estes ser objeto de usucapião especial rural (também em desacordo com a Lei 6.969 que prevê esta possibilidade, prevalecendo a doutrina da Constituição). 3. Ação de Usucapião Rural O objeto da ação é o reconhecimento pelo Estado-Juiz de uma situação já consumada de fato, que quando consumada, gera o reconhecimento de um direito. Na ação de usucapião, o que se deseja é a mera declaração, o reconhecimento de uma ação fática. A ação declaratória não é a única via de ser reconhecida a usucapião. Ex.: em uma ação reivindicatória, na qual o réu alega a usucapião, e o juiz a defere, este tem o seu direito reconhecido pela via incidental. A competência para a Ação de Usucapião é do juiz da Comarca onde se encontre o imóvel (art. 4º da Lei 6.969). Duas posições se contradizem na doutrina nos casos de interesse da União, a primeira diz que se há interesse da União no bem, a ação seria proposta na Justiça Federal; a segunda posição nega esta hipótese, preservando a competência do juiz da comarca onde está localizado o imóvel. 3.1. Procedimento na Ação de Usucapião Rural São as seguintes diretrizes que devem ser observadas na ação de usucapião rural: I. A competência é a do juiz da Comarca da situação do imóvel; II. O rito é sumaríssimo. Embora na prática o que se verifique é a ocorrência do procedimento ordinário; III. É admissível a realização de audiência de justificação prévia da posse, com vista à concessão de sua manutenção em caráter liminar (o autor, com base na Lei 6.969/81, art. 5º, § 1º, poderá requerer ou não a audiência preliminar, fazendo também o pedido para continuar com a posse do imóvel, até o trânsito em julgado do processo); IV. Deve acontecer a citação pessoal daquele em cujo nome esteja registrado o imóvel objeto da usucapião, dos réus ausentes, incertos e desconhecidos, sob a égide estabelecida no art. 257 do NCPC, valendo para todos os atos do processo; V. O prazo para contestar a ação é contado a partir da intimação da decisão que declara justificada a posse (segundo a Lei 6.969, essa intimação seria da audiência de justificação prévia, art. 4º da Lei 6.969, sendo esta facultativa, caso não ocorra, na prática, admite-se o prazo para contestação até a audiência de julgamento); VI. Se o autor pedir a assistência judiciária gratuita, envolve esta até os emolumentos para o registro da sentença favorável que for prolatada; VII. O usucapiente pode invocar, como matéria de defesa, o seu direito de usucapir o imóvel, valendo a sentença que o reconhecer como título registrável. IRPF - ATIVIDADES RURAIS DA PESSOA FÍSICA – TRIBUTAÇÃO A renda das atividades rurais é tributada pelo imposto de renda, na pessoa física produtora dos rendimentos. Considera-se atividade rural: I – a agricultura; II – a pecuária; III – a extração e a exploração vegetal e animal; IV – a exploração da apicultura, avicultura, cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras culturas animais; V – a transformação de produtos decorrentes da atividade rural, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura, feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matéria-prima produzida na área rural explorada, tais como a pasteurização e o acondicionamento do leite, assim como o mel e o suco de laranja, acondicionados em embalagem de apresentação; VI – o cultivo de florestas que se destinem ao corte para comercialização, consumo ou industrialização. O conceito de atividade rural não se aplica à mera intermediação de animais e de produtos agrícolas. ARRENDATÁRIOS, CONDÔMINOS E PARCEIROS Os arrendatários, os condôminos e os parceiros na exploração da atividade rural, comprovada a situação documentalmente, pagarão o imposto, separadamente, na proporção dos rendimentos que couberem a cada um (Lei 8.023/1990, art. 13). Na hipótese de parceria rural, o disposto aplica-se somente em relação aos rendimentos para cuja obtenção o parceiro houver assumido os riscos inerentes à exploração da respectiva atividade. ITR - IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL O ITR é previsto constitucionalmente, através do inciso VI do artigo 153 da Constituição Federal. O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, de apuração anual, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por qualquernatureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano. Considera-se imóvel rural a área contínua, formada de uma ou mais parcelas de terras, localizada na zona rural do município. A legislação que rege o ITR é a Lei 9.393/1996 e alterações subsequentes. Imunidade O ITR não incide sobre pequenas glebas rurais, quando as explore, só ou com sua família, o proprietário que não possua outro imóvel, conforme art. 2º, Parágrafo único, Lei 9.393/96. I- 100 ha, se localizado em município compreendido na Amazônia Ocidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense; II- 50 ha, se localizado em município compreendido no Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental; III- 30 ha, se localizado em qualquer outro município. Isenção – art. 3º, Lei 9.393/96 São isentos do ITR: Art. 3º - São isentos do imposto: I - o imóvel rural compreendido em programa oficial de reforma agrária, caracterizado pelas autoridades competentes como assentamento, que, cumulativamente, atenda aos seguintes requisitos: a) seja explorado por associação ou cooperativa de produção; b) a fração ideal por família assentada não ultrapasse os limites estabelecidos no artigo anterior; c) o assentado não possua outro imóvel. II - o conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário, cuja área total observe os limites fixados no parágrafo único do artigo 2º, da Lei 9.393/96, desde que, cumulativamente, o proprietário: a) o explore só ou com sua família, admitida ajuda eventual de terceiros; b) não possua imóvel urbano. Contribuinte Contribuinte do ITR é o proprietário de imóvel rural, o titular de seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título. O domicílio tributário do contribuinte é o município de localização do imóvel, vedada a eleição de qualquer outro. Incidência do ITR em imóveis localizados na área urbana Em razão da crescente e constante expansão urbana dos municípios, notadamente, das regiões metropolitanas, imóveis que antes se encontravam na zona rural hoje estão dentro da zona urbana. Esses imóveis que são utilizados para exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial depararam-se com a constatação de que, pelo critério espacial, se subordinam ao IPTU e não mais ao ITR. Conforme previsão expressa na Constituição Federal, a competência para instituir o ITR é da União, conforme previsão do art. 153, VI da CF. Por sua vez, compete ao Município instituir o imposto sobre propriedade predial e territorial urbana, com fulcro no art. 156, I da CF. Nesse sentido, o Código Tributário Nacional (CTN), em seu art. 29, determina como fator gerador do ITR a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localizado fora da zona urbana do Município. O art. 32 do mesmo diploma jurídico dispõe que o fator gerador do IPTU será a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município. Nota-se que o legislador escolheu o critério geográfico para determinar a competência tributária do ente federativo: se "fora da zona urbana do Município", será ITR; se "localizado na zona urbana do Município", será IPTU. A questão, agora, é definir o que é "zona urbana", e o que é "zona rural". Depara-se que o critério legal da zona rural é por exclusão, ou seja, é aquela localizada fora do perímetro urbano do município. Assim, de acordo o §1º do art. 32 do CTN, entende-se como zona urbana a definida em lei municipal, desde que observadas pelo menos duas das melhorias listadas em seus incisos. E considera-se, ainda, nessa situação, o imóvel localizado em área de expansão urbana, constante de loteamento aprovado pelos órgãos competentes, nos termos do §2º do art. 32. De acordo com o CTN, compete ao Município definir as zonas urbana e rural, por meio de lei municipal. Tal posicionamento foi ratificado pelo STJ, súmula 399, verbis: "Cabe à legislação municipal estabelecer o sujeito passivo do IPTU." Pelo critério adotado (topográfico), basta o imóvel estar na zona urbana para incidir o IPTU; caso estiver fora do perímetro urbano, será cobrado o ITR. O problema está para os contribuintes que antes estavam sujeitos ao ITR e que, agora, transformados em proprietários de áreas urbanas, sofrem com a alta carga tributária do IPTU. O ITR é um imposto progressivo e tem suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas, de modo que será reduzido dependendo do grau de utilização da terra e do grau de eficiência na produção (art. 153, §4º I, CF); já o IPTU considera a área do imóvel mensurada em metros quadrados e tem um aspecto qualitativo. A discussão a respeito da incidência do IPTU ou do ITR é um caso clássico de conflito de competência. Compete à lei complementar solucionar o impasse, como determina a Lei Maior no seu art. 146, I. Todavia, em que pese o respeito às correntes doutrinárias em contrário, além da localização geográfica do imóvel, é de suma importância observar a destinação do imóvel para definir qual imposto incidirá ao contribuinte que possui imóvel localizado em área urbana destinada para atividade rural. O critério espacial definido no art. 32 do CTN não é o único a ser considerado, haja vista que o Dec.-Lei 57/66 foi recepcionado pela nossa Constituição Federal como lei complementar, e o seu art. 15 acrescentou o critério da destinação do imóvel para delimitação da incidência do IPTU. O art. 15 do Dec.-Lei n. 57/66 exclui da incidência do IPTU imóveis que, “comprovadamente, seja utilizado em exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial, incidindo assim, sobre o mesmo, o ITR e demais tributos com o mesmo cobrados”. Outrossim, o Dec.-Lei é de 18/11/1966 enquanto o CTN é de 25/10/1966 (Lei n. 5.172/66), ou seja, o Dec.-Lei n. 57/66 é posterior e trouxe uma alteração ao enunciado previsto no art. 32 do CTN com o escopo de dirimir os conflitos entre as competências municipal e federal acrescentando o critério da destinação e da utilização do imóvel. Nesse sentido, sobre esses tipos de imóveis deve incidir o ITR, tributo de competência da União. Para solucionar o conflito de interesses, o Município deveria ou isentar esses proprietários ou adequar o plano diretor para excluir do perímetro urbano essas áreas. Uma alternativa mais rentável ao Município seria fiscalizar e cobrar o ITR, de modo que ficaria com a totalidade do seu produto da arrecadação, conforme previsão do art. 153, §4º, III c/c art. 158, II, ambos da CF, verbis: Art. 153, §4º, III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal. Art. 158, II - cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, cabendo a totalidade na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º, III. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem se posicionado no sentido que não incide IPTU sobre propriedade de imóvel localizado em área urbana que, comprovadamente, é utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial. Portanto, para os ministros, embora inserido em zona qualificada como urbana pelo município, o imóvel poderá ter natureza rural para fins de incidência do imposto federal (ITR). O Recurso Especial (REsp 1.112.646/SP) foi submetido ao rito dos recursos repetitivos, à luz da Lei 11.672/08, razão pela qual o entendimento do STJ deverá ser aplicado a outros processos em tramitação que versem sobre a mesma questão jurídica. A interpretação firmada pelo Egrégio STJ conciliaos interesses do proprietário que cultiva na zona urbana e tem apoio na moderna doutrina do direito urbanístico. Desta forma, para definir qual o imposto devido pelos contribuintes que possuem imóveis na zona urbana, não basta analisar o critério espacial previsto no art. 32 do CTN, mas também a destinação do imóvel, à luz do art. 15 do Dec.-Lei 57/66. TIPOS PENAIS DE INTERESSE DO DIREITO AGRÁRIO Outro relacionamento significativo é o Direito Agrário com o Direito Penal, porquanto há certos delitos que, frequentemente, ocorrem no meio rural. Alguns penalistas, com o auxílio da Sociologia Rural, têm procurado demonstra que há uma criminalidade urbana, com características próprias, em oposição a uma criminalidade rural. Os tipos penais mais frequentes são: 1 - Crimes contra o patrimônio - os mais frequentes são o furto e o roubo, aparecendo, especificamente, a figura do abigeato, subtração se semoventes; 2 - Supressão ou alteração de marca de animais; 3 - Modificação de limites e usurpação de água; 4 - Esbulho possessório; 5 - Crimes de dano (introduzir ou deixar animais em propriedade sem consentimento do proprietário). Sobre este relacionamento, entre o Direito Agrário e o Direito Penal, assevera Antônio Vivanco, em sua Teoria de Derecho Agrario: "Há determinados bens rurais que necessitam de uma proteção especial, por isso a destruição ou danificação dos mesmos com fins dolosos deve ser severamente castigada, a fim de evitar sérios prejuízos à comunidade. O âmbito do Direito Penal é muito diferente do campo do Direito Agrário, não obstante existe, entre os dois, uma matéria coincidente que se encontra representada pela proteção à atividade agrária, que ambos os direito exercem, mas de forma distinta: uma pela regulação jurídica comum e outro por meio de um regime punitivo".
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