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LITISCONSÓRCIO Litisconsórcio é o fenômeno caracterizado pela pluralidade de partes da demanda. Pode se dar pela presença de mais de um autor, mais de um réu, ou ambos, na formação da relação processual. Pode ser classificado da seguinte forma: 1) Quanto à posição na relação processual: a) Ativo: mais de um autor b) Passivo: mais de um réu c) Misto: mais de um autor e mais de um réu 2) Quanto ao momento de formação: a) Litisconsórcio originário: É aquele se forma no início do processo. b) Litisconsórcio ulterior: É aquele que se forma depois de instaurado o processo. 3) Quanto aos efeitos da decisão para os litisconsortes: Nesse ponto, o litisconsórcio pode ser classificado em: a) Litisconsórcio unitário: a decisão no processo DEVE ser a mesma para todos os litisconsortes, b) Litisconsórcio simples: a decisão PODE ser diferente para cada um dos litisconsortes. Para que se identifique se o litisconsórcio é simples ou unitário deverão ser analisadas quantas relações jurídicas estão sendo decididas naquela demanda. Se houver mais de uma relação jurídica, indubitavelmente o litisconsórcio será simples. A questão se torna mais complexa se houver somente uma relação jurídica, pois nesse caso o litisconsórcio poderá ser simples ou unitário, dependendo da divisibilidade ou não da relação jurídica: se for a relação jurídica indivisível será caso de litisconsórcio unitário; por outro lado, se a relação jurídica for divisível, teremos um litisconsórcio simples. Pense no exemplo de uma ação de anulação de casamento proposta pelo MP. Temos uma única relação jurídica, de caráter indivisível. Logo, o litisconsórcio deve ser unitário, pois não se pode anular o casamento para um cônjuge e não anular para o outro. Quanto ao caso dos devedores solidários, o litisconsórcio pode ser simples ou unitário, a depender da divisibilidade da obrigação. Se a obrigação for indivisível (Ex: entrega de um touro reprodutor), o litisconsórcio será unitário. No entanto, se tivermos uma obrigação indivisível, é possível que o litisconsórcio seja simples, inclusive com decisões diferentes para cada um dos devedores. Nesse sentido, veja as claras lições de Fredie Didier: "Não basta que a discussão conjunta restrinja-se a uma relação jurídica. É preciso que esta relação jurídica seja indivisível. Elucidativo, para perceber este aspecto, é o exame do litisconsórcio quando a relação jurídica afirmada for uma obrigação solidária. Nestes casos,havendo litisconsórcio, está-se diante de uma discussão conjunta de uma única relação jurídica. Sucede que a obrigação solidária pode ser divisível ou indivisível. A obrigação solidária de pagamento de quantia é divisível; a de entrega de um cavalo, indivisível. Assim, nem sempre a solidariedade implicará unitariedade. Mas pode haver unitariedade se se discutir em juízo obrigações solidárias – quando forem indivisíveis. Ora, se os litisconsortes discutem uma relação jurídica indivisível (ares in iudicium deducta), não há como a decisão sobre ela (decisão de mérito) ser diferente para esses litisconsortes. Não obstante sejam vários, formem uma pluralidade, os litisconsortes serão tratados como se fossem um único sujeito; serão tratados como unidade. 4) Quanto à obrigatoriedade: a) Litisconsórcio necessário: É aquele que é obrigatório ser formado na relação processual. Ele deve formar-se por 2 razões: -> Por disposição de lei: a lei cria determinadas hipóteses em que o litisconsórcio deve se formar obrigatoriamente (Ex: art 73, §1º e 2º do NCPC: precisa da presença do cônjuge no polo passivo de ações que envolvam direito real imobiliário e nas ações possessórias nos casos de composse ou de atos por ambos praticados). § 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges. § 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. § 3o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos. -> Pela natureza da relação jurídica discutida no processo: Existem determinadas relações jurídicas que, por sua natureza, exigem a formação do litisconsórcio. Quando, por exemplo, o processo discutir uma relação jurídica única, indivisível (que não admite cisão), todos os sujeitos dessa relação têm que fazer parte do processo. Exemplo: Ação de anulação de casamento proposta pelo MP em face do marido e da mulher. Esse litisconsórcio é necessário, ainda que não haja nenhuma lei exigindo. Isso porque a relação jurídica discutida é o próprio casamento, logo deve haver a citação do marido e da mulher. Se o autor não requerer a citação de litisconsorte necessário, o que deve fazer o juiz? Verificando o juiz que é caso de litisconsórcio necessário passivo, de acordo com o art. 115, PU do NCPC, deve determinar ao autor que ele promova (requeira) a citação dos litisconsortes não indicados. NCPC, Art. 115, Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo. Alguns autores, como Fredie Didier, entendem que nesses casos seria possível a chamada “INTERVENÇÃO IUSSU IUDICIS”, tratada no antigo CPC de 1939. Esta intervenção aconteceria quando o próprio juiz determinasse a citação de terceiros que entendesse que deveriam figurar no processo. No entanto, trata-se de corrente minoritária, pois o CPC prevê apenas que o juiz deve ordenar que o autor requeira a citação dos litisconsortes necessários, não podendo atuar de ofício nesse sentido, pena de violação do princípio da inércia da jurisdição. Qual a consequência de não formação do litisconsórcio necessário? Se, nos casos de litisconsórcio necessário, o autor ajuíza ação apenas em face de um dos réus, e não houver a intervenção do terceiro (seja por falta de requerimento posterior, seja por falta de determinação judicial, na art. 47, PU), a sentença não irá atingir a outra parte que não foi citada, pois ela não fez parte do devido processo legal, sendo certo que a Constituição veda que alguém seja privado dos seus bens sem o devido processo legal. Como regra, a sentença no processo individual não pode produzir efeitos para fora do processo, e por isso exige-se a formação do litisconsórcio necessário. Nessa linha, o antigo CPC (art. 47) mencionava que a eficácia da sentença dependeria da citação de todos os litisconsortes. Art. 47. Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes; caso em que a EFICÁCIA da sentença dependerá da citação de todos os litisconsortes no processo. No entanto, o novo CPC adota a posição que já vinha sendo firmada pelo STJ: a sentença de mérito será nula se a decisão deveria ser uniforme em relação aos litisconsortes (ou seja, nos casos de litisconsórcio unitário). No entanto, quando a decisão não tiver que ser igual para todos (casos de litisconsórcio simples), a sentença de mérito será ineficaz para os que não foram citados. NCPC, Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será: I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriamter integrado o processo; II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados. Ex: anulação de casamento, sendo que a mulher não foi citada para o processo -> como não seria possível a anulação apenas para o homem, seria caso de nulidade da sentença. Ex²: ação popular -> o art. 6º traz a necessidade de formação de um litisconsórcio necessário entre a pessoa jurídica em nome de quem o ato foi praticado, os responsáveis pelo ato e os beneficiários do ato. Como se trata de um litisconsórcio necessário, mas simples, o responsável que não foi citado não sofrerá os efeitos da condenação, sendo esta ineficaz para ele. L4717, Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo. b) Litisconsórcio facultativo: É aquele que PODE ser formado, com o objetivo de proporcionar maior celeridade e economia processual. O litisconsórcio facultativo, ativo ou passivo, pode ocorrer nas hipóteses do artigo 113: Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. O artigo 113, portanto, traz algumas hipóteses de cabimento do litisconsórcio facultativo: - Quando houver comunhão de direitos entre as partes (Ex: 2 oficiais de justiça contra o Estado do RJ pleiteando um mesmo benefício). => litisconsórcio facultativo no polo ativo. - Quando houver comunhão de obrigações entre as partes (Ex: consumidor ajuíza ação contra o fabricante e o revendedor). => litisconsórcio no polo passivo. Nesses 2 casos, as partes estão formulando o mesmo pedido. - Quando houver conexão pela causa de pedir. (Ex: 2 pessoas pleiteiam reparação por danos materiais contra um motorista que causou um acidente a elas; os pedidos, que provavelmente serão diferentes, derivam do mesmo fato, que é o acidente). - Quando houver afinidade de questões por um ponto comum: a causa de pedir não é igual, mas semelhante. É a hipótese mais fraca de interrelação, pois enquanto nas outras há o mesmo pedido ou a mesma causa de pedir, aqui há uma mera afinidade de questões. O que é litisconsórcio multitudinário? É a hipótese do art. 113, §1º, quando há um elevado número de litigantes que compromete a rápida solução do litígio ou prejudica a defesa: § 1o O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. § 2o O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar. Essa limitação do litisconsórcio multitudinário só vale para litisconsórcio facultativo! Não vale para o necessário, pois nesse caso todos deverão ser obrigatoriamente citados ou intimados. O juiz irá limitar esse litisconsórcio facultativo desmembrando o processo em tantos quantos forem necessários. A lei não menciona um número máximo de autores; tudo depende da análise do juiz no caso concreto. Exemplo: ação proposta por 100 autores em face de um mesmo réu, em virtude do desabamento em um estádio de futebol => 100 torcedores X clube de futebol -> o clube teria que contestar cada uma das 100 ações, o que prejudicaria a defesa. Destaque-se que, para a doutrina majoritária, deve de fato haver o desmembramento do processo, e não a extinção do processo sem resolução do mérito, vide Enunciados 386 e 387 do Fórum Permanente de Processualistas Civis. Enunciado 386: A limitação do litisconsórcio facultativo multitudinário acarreta o desmembramento do processo. Enunciado 387: A limitação do litisconsórcio multitudinário não é causa de extinção do processo Ainda em relação ao litisconsórcio multitudinário, importante citar interessante sugestão apontada pelo Enunciado 116 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, que se relaciona ao tema dos Negócios Jurídicos Processuais. Enunciado 116: Quando a formação do litisconsórcio multitudinário for prejudicial à defesa, o juiz poderá substituir a sua limitação pela ampliação de prazos, sem prejuízo da possibilidade de desmembramento na fase de cumprimento de sentença. Existe litisconsórcio necessário ativo? O entendimento dominante (Ex: Alexandre Câmara, Fredie Didier) é de que NÃO, só podendo haver litisconsórcio necessário no polo passivo, pois no povo ativo ofenderia o direito fundamental de acesso à justiça. O STJ também segue a mesma linha. Entretanto, alguns autores (Ex: Greco, Dinamarco e Marinoni) entendem que é possível litisconsórcio ativo necessário, pois a relação jurídica em jogo pode exigir a presença de mais de uma parte litigando no polo passivo. Desse modo, pode ser que seja uma exigência da demanda um litisconsórcio necessário no polo ativo, pela natureza da demanda. Para a doutrina majoritária, no entanto, aquele que deveria ser litisconsorte no polo ativo e não quer ajuizar a ação deveria ser citado como réu na demanda, por estar criando resistência à pretensão. Esta também é a solução dada pela jurisprudência, de modo que, caso não haja concordância quanto ao ajuizamento de uma ação que envolva uma demanda unitária, aquele que deveria litigar no polo ativo será citado para compor o polo passivo da demanda, uma vez que criou resistência à pretensão do autor. A título exemplificativo, veja a Súmula 406 do TST, que trata da Ação Rescisória: Súmula nº 406 - TST - Res. 137/05 - DJ 22, 23 e 24.08.2005 - Conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 82 e 110 da SDI-II Ação Rescisória - Litisconsórcio Necessário Passivo e Facultativo Ativo - Substituição pelo Sindicato I - O litisconsórcio, na ação rescisória, é necessário em relação ao pólo passivo da demanda, porque supõe uma comunidade de direitos ou de obrigações que não admite solução díspar para os litisconsortes, em face da indivisibilidade do objeto. Já em relação ao pólo ativo, o litisconsórcio é facultativo, uma vez que a aglutinação de autores se faz por conveniência, e não pela necessidade decorrente da natureza do litígio, pois não se pode condicionar o exercício do direito individual de um dos litigantes no processo originário à anuência dos demais para retomar a lide. (ex-OJ nº 82 - inserida em 13.03.02) É possível litisconsórcio facultativo unitário? SIM. Há casos, como visto, em que duas pessoas poderão ligar em conjunto (ativa ou passivamente, de forma facultativa) e a decisão deverá ser uniforme para elas. Em outras palavras, nem todo litisconsórcio unitário é necessário. Exemplo: Sociedade anônima, em que 3 sócios objetivam anular uma assembleia. O litisconsórcio é facultativo, já que não existe litisconsórcio necessário no polo ativo. Cada sócio tem o direito de pretender a anulação da assembleia, não podendo ser exigido que litiguem em conjunto. No entanto, caso formem esse litisconsórcio ativo facultativo, o mesmo será UNITÁRIO, pois não se pode anular a assembleia para um sócio e não anular para outro. Mas e em relação aos outros sócios, que não participaram da demanda? Será correto entender que eles sofrerão os efeitos da sentença, mesmo sem integrar o contraditório? O art. 472 do antigo CPC já previa o chamado “limite subjetivo da coisa julgada”: Art. 472. A sentença faz coisa julgada àspartes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros. Em sentido parecido, prevê o novo CPC: Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. No entanto, tem prevalecido na doutrina o entendimento de que é possível a extensão dos efeitos da coisa julgada àqueles colegitimados que não participaram do processo. De forma sistematizada, podemos indicar 2 correntes principais sobre o tema: 1º corrente (Didier, Ada Pelegrini e Barbosa Moreira): nesses casos, aqueles sócios que ajuizaram a ação também estão atuando como legitimados EXTRAORDINÁRIOS, ao defenderem em nome próprio interesse também alheio (dos sócios que não ajuizaram a ação). Por isso, há uma eficácia “ultra partes” da sentença, estendendo-se os efeitos da coisa julgada àqueles que não participaram do processo. 2º corrente (Leonardo Greco): só haverá uma extensão subjetiva da coisa julgada secundum eventum litis (a depender do resultado da demanda). Assim, a coisa julgada somente se estenderia aos demais titulares do direito se fosse para beneficiá-los, em caso de PROCEDÊNCIA do pedido (no caso concreto, só haveria a extensão dos efeitos da coisa julgada aos demais sócios se os sócios que ajuizaram a ação conseguissem a procedência do pedido; caso a ação fosse improcedente, os demais sócios poderiam novamente ajuizar a ação objetivando a anulação da assembleia). Perceba que essa corrente ganha força com o texto do novo CPC, que dispõe que a sentença não pode PREJUDICAR terceiros, tendo sido suprimido o trecho do antigo CPC que mencionava “não BENEFICIANDO terceiros”.
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