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Greice Patrícia Fuller Direito Ambiental Sumário 03 CAPÍTULO 4 – Tutela processual ambiental .......................................................................05 4 Tutela processual ambiental .........................................................................................05 4.1 Instrumentos processuais ...........................................................................................05 4.1.1 Imprescritibilidade das ações coletivas ...............................................................05 4.1.2 Coisa Julgada nas ações coletivas.....................................................................06 4.2 Ação civil pública ambiental ......................................................................................06 4.2.1 Objetivo e legitimidade da ação civil pública .....................................................07 4.2.2 Litisconsórcio entre os Ministérios Públicos .........................................................09 4.2.3 Objeto da ação (pedido de providência jurisdicional) ..........................................09 4.2.4 Legitimação Passiva .........................................................................................09 4.2.5 Desistência da ação ........................................................................................10 4.2.6 Intervenção de terceiros ...................................................................................10 4.2.7 Competência ..................................................................................................10 4.2.8 Litispendência .................................................................................................10 4.2.9 Conexão e continência ....................................................................................10 4.2.10 Objeto da ação ............................................................................................11 4.3 Inquérito civil ...........................................................................................................11 4.4 Compromisso de ajustamento de conduta ...................................................................11 4.5 Mandado de segurança ambiental .............................................................................12 4.5.1 Legitimidade ativa ...........................................................................................12 4.5.2 Legitimidade passiva ........................................................................................13 4.6 Mandado de injunção ambiental ................................................................................13 4.6.1 Pressupostos de cabimento ...............................................................................13 4.6.2 Objeto ...........................................................................................................13 4.6.3 Legitimidade ativa ...........................................................................................13 4.6.4 Legitimidade passiva ........................................................................................13 4.6.5 Sentença em mandado de injunção ...................................................................13 4.7 Ação popular ambiental ............................................................................................14 4.7.1 Pressupostos para o ajuizamento: ......................................................................14 4.7.2 Legitimidade ativa ..........................................................................................14 4.7.3 Legitimidade passiva ........................................................................................14 4.7.4 Prazo prescricional ..........................................................................................14 4.7.5 Competência ..................................................................................................14 4.7.6 Custas ...........................................................................................................14 4.8 Habeas data ambiental .............................................................................................15 Referências Bibliográficas ................................................................................................16 Capítulo 4 05 4 Tutela processual ambiental Observa-se que em face do princípio constitucional da indeclinabilidade da jurisdição, o Estado está obrigado a prestar tutela jurisdicional ao jurisdicionado, objetivando dizer o direito e as- segurar a segurança jurídica através da coisa julgada (art. 5º, inciso XXXVI, da CF). Aliado ao princípio acima, o devido processo legal também deverá ser aplicado, posto que direcionador do ordenamento jurídico. Portanto, o devido processo legal, sob o viés dos direitos coletivos, caracteriza a denominada “jurisdição civil coletiva”, que é formada, especialmente, por dois diplomas, a saber: o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90) e a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7347/85). Dessa maneira, a jurisdição civil apresenta dois sistemas de tutela processual: a) aquele desti- nado às lides individuais instrumentalizada pelo Código de Processo Civil; e b) outro, inerente às lides de tutela coletiva, aplicado pela Lei da Ação Civil Pública e do Código de Defesa do Consumidor (NERY JUNIOR, 1991, p. 70). Portanto, em relação à tutela do meio ambiente e em face da natureza do bem ambiental, aplicar-se-ão as normas previstas no Código de Defesa do Consumidor (CDC) e na Lei da Ação Civil Pública (LACP) de forma direta e, de forma indireta ou secundária, o Código de Processo Civil. Assim, o Código de Processo Civil terá aplicação subsidiária naquilo que não contrariar o procedimento da jurisdição civil coletiva, as regras previstas no CDC e na LACP (art. 19 da Lei 7347/85). É importante salientar que a jurisdição civil coletiva em matéria ambiental visa assegurar aos jurisdicionados o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 4.1 Instrumentos processuais 4.1.1 Imprescritibilidade das ações coletivas As ações coletivas que visam a tutela do meio ambiente apresentam o traço da imprescritibilida- de (MAZZILLI, 2014, p. 515): Tratando-se de direito fundamental, indisponível, comum a toda a humanidade, não se submete à prescrição, pois uma geração não pode impor às seguintes o eterno ônus de suportar a prática de comportamentos que podem destruir o próprio habitat do ser humano. Também a atividade degradadora contínua não se sujeita a prescrição: a permanência da causação do dano também elide a prescrição, pois o dano da véspera é acrescido diuturnamente. Tutela processual ambiental 06 Laureate- International Universities Direito Ambiental 4.1.2 Coisa Julgada nas ações coletivas A coisa julgada nos processos coletivos de defesa de direitos difusos tem efeitos erga omnes e secundum eventum litis, portanto, a coisa julgada atinge toda a coletividade, ainda que não tenha participado do processo, “dependendo do resultado da demanda” (Lei 7347/85, art. 16; Lei 8078/90, arts. 103 e 104 e Lei 4717/65, art. 18). Dessa forma, se procedente o pedido para a tutela do meio ambiente, o mesmo beneficiará a terceiros e se improcedente, serão levantadas as seguintes hipóteses, segundo o art. 103 do Código de Defesa do Consumidor: a) se a improcedência for por falta de provas, qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento; b) se a improcedência não se deu por falta de provas, a inexistência de direito material alegada resta reconhecida, alcançando os demais legitimados que não poderão ajuizar a mesma ação; c) não importando o fundamento da improcedência do pedido, qualquer pessoa (individualmente reconhecida) poderá ajuizar ação para a reparação dos danos ao meio ambiente, posto que não foi atingida pela improcedênciado pedido. 4.2 Ação civil pública ambiental A Lei 6938/81, ao definir a Política Nacional do Meio Ambiente e conceder legitimação ao Mi- nistério Público para o ajuizamento da ação de responsabilidade civil em face do poluidor por “danos causados ao meio ambiente”, estabeleceu pela primeira vez, de forma concreta, a de- nominada ação civil pública para assegurar a tutela do meio ambiente (MILARÉ, 2016, p. 455). Posteriormente, a Lei 7347/85 incorporou a disciplina da ação civil pública como instrumento de defesa de interesses transindividuais (referentes ao meio ambiente, consumidores e patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico). Em 1998, a ação civil pública foi erigida à categoria constitucional ao ser reconhecida como função institucional do Ministério Público, sem prejuízo da legitimação de terceiro: Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...] III- promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Posteriormente, a Lei 8078/90, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor em sua parte processual, alterou a Lei 7347/85 modificando e ampliando o tratamento coletivo às lides pro- cessuais, segundo o art. 117: Art. 117. Acrescente-se à Lei 7347/85, o seguinte dispositivo, renumerando-se os seguintes: Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor. 07 4.2.1 Objetivo e legitimidade da ação civil pública Consiste em fazer atuar a função jurisdicional, visando a tutela de interesses fundamentais da comunidade. No que tange à legitimidade ativa, observa-se que, na ação civil pública, a Lei autoriza alguém a litigar, em nome próprio, sobre direito alheio para a tutela de interesses transindividuais. A legi- timidade ora mencionada foi conferida por lei (art. 5º da Lei 7347/85; art. 82 da Lei 8078/90; art. 129, inciso III e §1º da CF/88) ao Ministério Público, à Defensoria Pública, às pessoas jurí- dicas estatais, às entidades e órgãos da administração pública direta e indireta, mesmo que sem personalidade jurídica, e às associações que ostentem um mínimo de representatividade (art. 5º, incisos I a V da Lei 7347/85), mesmo que não haja coincidência entre o titular do bem lesado e o sujeito do processo: Art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I – Ministério Público; II- Defensoria Pública; III- a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV- a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V- a associação que, concomitantemente: a) Esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) Inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnico ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Em relação às pessoas físicas, embora não legitimadas expressamente, estão legitimadas a mo- ver a ação popular, segundo a ressalva prevista no art. 1º da Lei 7347/85 e no art. 5º, inciso LXXIII, da CF. Trata-se de legitimação concorrente e disjuntiva (GRINOVER; WATANABE; NERY JUNIOR; 1995, p. 511), no sentido de que todos os legitimados ativos acima estão autorizados para a promoção de demanda, bem como cada um pode agir isoladamente, sozinho, sem que seja necessária a anuência dos demais. Ademais, vale dizer que os entes legitimados para a propositura da ação civil pública são “res- ponsáveis pela condução do processo” e não desempenham a função de substitutos processuais. a) Ministério Público A legitimação do Parquet encontra-se assentada no art. 129, inciso III, da CF e é caracterizada como autônoma, visto que a Lei não permite que o substituído proponha a demanda de forma individual. A adequação da representatividade do Ministério Público é presumida pela própria Constituição Federal que lhe outorga a legitimidade para agir em face dos direitos transindividuais. Ainda, de- ve-se asseverar que o Ministério Público possui legitimidade para promover o inquérito civil, com poderes de notificação e requisição (art. 129, incisos VI e VII, da CF) e sempre atuará como su- jeito da ação, como fiscal da lei (art. 5º, §1º, da Lei 7347/85) ou como assistente litisconsorcial. Ademais, segundo o art. 5º, §3º, da Lei 7347/85, em caso de abandono ou desistência da ação por um dos legitimados, o Ministério Público poderá assumir a titularidade da mesma e nela prosseguir. Por fim, observa-se que, encerrada a fase do conhecimento e decorridos 60 dias do trânsito em jul- gado da sentença condenatória sem que o legitimado ativo tenha pedido a execução, o Ministério Público deverá fazê-lo (art. 15 da Lei 7347/85) assim como os demais terão a citada faculdade. 08 Laureate- International Universities Direito Ambiental b) Defensoria Pública A Lei 11448/2007 acrescentou ao rol dos legitimados ativos a Defensoria Pública, que detém como função a prestação de assistência jurídica, judicial e extrajudicial, integral e gratuita (art. 134 da CF e art. 1º da LC 80/1994). A questão que se põe é sobre os limites da legitimação, verificando-se que deve ser sempre ana- lisada a chamada pertinência temática institucional, ou seja, deve-se buscar em juízo somente a tutela do bem jurídico estabelecido no âmbito de sua competência que, no caso, é a defesa dos interesses dos necessitados. Isso quer dizer que: A Defensoria Pública pode propor ações civis públicas ou coletivas, em defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos de pessoas que se encontrem na condição de necessitados, ou seja, de quem tenha insuficiência de recursos para custear a defesa individual, mesmo que, com isso, em matéria de interesses difusos (que compreendem grupos indetermináveis de lesados), possam indiretamente beneficiadas terceiras pessoas que não se encontrem na condição de deficiência econômica, até porque não haveria como separar os integrantes desse grupo atingido. (MAZZILLI, 2014, p. 324). Portanto, deve-se gizar que a Defensoria Pública possui ilegitimidade ativa para a proteção irres- trita do meio ambiente, em face da Constituição Federal, da legislação infraconstitucional e da natureza jurídica dos direitos que ela tutela (identificados como defesa daqueles desprovidos de recursos). Desse modo, a Defensoria Pública possui legitimidade apenas em matéria ambiental para a composição de danos experimentados por terceiro em decorrência da atividade poluidora (dano ambiental individual ou reflexo) e não para a tutela do ambiente em si mesmo (dano am- biental coletivo), conforme o art. 14, §1º, da Lei 6938/81. c) Administração direta, indireta e fundacional As pessoas jurídicas da administração direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), as da administração indireta (autarquia, empresa pública e sociedade de economia mista) e as fun- dações estão legitimadas para propositura da ação civil pública. No que tange às fundações, deve-se sublinhar que se tratam das pública ou privadas, desde que tenham entre as suas finalidades a defesa do ambiente e ostentem a correspondente legitimidade para a ação protetiva. d) Associações As associações regularmente constituídas há pelo menos um ano, que tenham entre suas finali- dades institucionais a defesa do meio ambiente, poderão atuar em juízo através do ajuizamento da ação coletiva ambiental, segundo art. 5º, V, “a” e “b” da Lei 7347/85: a) regular constituição nos termos da lei civil, ou seja, ter personalidade jurídica, com a inscrição dos seus estatutos no Registro Civil das Pessoas Jurídicas; b) militânciamínima de 1 (um) ano, após a sua constituição; e c) com finalidade institucional relacionada à proteção do meio ambiente. Um dado que merece atenção é que não há necessidade de previsão estatutária explícita para que a associação se legitime à defesa do meio ambiente. Ademais, o juiz poderá dispensar o requisito de pré-constituição há pelo menos um ano, nos casos das associações que se formam ex post factum (salvo para o caso do mandado de segurança coletivo por imposição do art. 5º, inciso LXX CF). 09 e) Órgãos despersonalizados Não se pode confundir pessoas jurídicas e órgãos despersonalizados, pois os primeiros são as entidades dotadas de personalidade jurídica, enquanto os órgãos são partes internas das pes- soas, traduzindo mera divisão de trabalho através da desconcentração de funções, como v.g. as Secretarias, Superintendências, Departamentos, Divisões etc. (CARVALHO FILHO, 2007, p. 214). 4.2.2 Litisconsórcio entre os Ministérios Públicos O Ministério Público não possui legitimidade para demandar ação individual em nome do lesado por dano ambiental, pleiteando a prevenção ou reparação do direito individual não homogêneo, visto que o objeto da tutela é um bem difuso. Entretanto, o Parquet possui legitimidade para ajuizar ações coletivas para a tutela dos direitos difusos (meio ambiente), coletivos e individuais homogêneo, conforme prescreve o art. 81, parágrafo único e 82 do CDC). Nesse diapasão, o art. 5º, §5º, da Lei 7347/85 permite o litisconsórcio facultativo entre o Mi- nistério Público da União, dos Estados e do Distrito Federal. O art. 5º, §2º, da Lei da Ação Civil Pública permite a ocorrência do litisconsórcio facultativo unitário, podendo o Poder Público e as associações legitimadas habilitarem-se como litisconsortes de qualquer das partes ou como assistentes litisconsorciais. 4.2.3 Objeto da ação (pedido de providência jurisdicional) Segundo o art. 3º da Lei 7347/85, que só previa ações condenatórias referentes ao pagamento em dinheiro ou às obrigações de fazer ou não fazer, foi ampliado a todas as espécies de ações tendentes a efetivar a defesa do meio ambiente, conforme disposição estabelecida no art. 83 da Lei 8078/90: Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela. 4.2.4 Legitimação Passiva Pode ser parte passiva qualquer pessoa física ou jurídica, inclusive a Administração Pública que venha a violar normas de direito material de tutela ao meio ambiente. Portanto, a lei considera aquele indicado poluidor como sujeito passivo (pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental – art. 3º, inciso IV, da Lei 6938/81). Nesse sentido, o Estado também pode ser considerado legitimado passivo se praticar atividade causadora de dano e houver a comprovação de nexo de causalidade entre uma autorização estatal e o resultado (dano) (NERY JUNIOR; MILARÉ; FERRAZ, 1990, p. 155). É importante lembrar que nos casos do mandado de segurança ambiental (individual ou coletivo) a legitimidade passiva é restrita à autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. 10 Laureate- International Universities Direito Ambiental 4.2.5 Desistência da ação Se houver desistência infundada da ação por um dos legitimados, o Ministério Público deverá as- sumir a titularidade da ação coletiva, observando-se que a indisponibilidade quanto ao Parquet atinge o direito material e não o processual. Portanto, veda-se a renúncia ao direito material e não ao direito processual. 4.2.6 Intervenção de terceiros Não se admite intervenção de terceiros, tendo em vista que o regime para reparação do dano ambiental é o de responsabilidade civil, objetiva e solidária (art. 14, §1º, da Lei 6938/81), que não se compatibiliza com o do Código de Processo Civil (individualista). Assim, deve-se frisar que não se admite denunciação da lide (art. 88, CDC) posto que a demanda secundária incluiria fundamento novo pautado no elemento subjetivo de culpa (RT 620/69). 4.2.7 Competência Segundo o art. 2º da Lei da Ação Civil Pública, o juízo competente para processar e julgar ações coletivas ambientais é o do lugar onde ocorreu ou deve ocorrer o dano. Trata-se de competência funcional e, portanto, absoluta, que não pode ser prorrogada e nem ser geradora de nulidade dos atos processuais decisórios (art. 113, § 2º, do CPC). 4.2.8 Litispendência Ocorre a litispendência quando duas ações em curso são idênticas, ou seja, quando os elemen- tos (partes, causa de pedir e pedido) que a identificam são exatamente os mesmos. Assim, observa-se que não há litispendência entre uma ação individual e uma ação coletiva, pois não haverá coincidência entre os legitimados ativos. O mesmo ocorrerá entre uma ação para a tutela de um direito difuso e outra inerente a um di- reito coletivo stricto sensu, pois não haverá identidade entre os pedidos de ambas, dado que a segunda terá âmbito mais restrito do que a primeira. Entretanto, pode ocorrer a litispendência entre uma ação civil pública que tenha por finalidade a desconstituição de um ato lesivo ao meio ambiente e uma ação popular com o mesmo objetivo. 4.2.9 Conexão e continência Ocorre conexão quando a causa de pedir ou o pedido são iguais (art. 103 CPC). Como exem- plo, pode-se citar o caso de duas ações civis de responsabilidade por danos ao meio ambiente com idênticos objetos imediatos (preservação do ecossistema do Rio Jacuí, ameaçado por cinzas poluidoras utilizadas por diferentes réus), ainda que diferentes os pedidos imediatos (em uma delas, visa-se impedir a construção de portos, e na outra a adoção de medidas preventivas e cor- retivas em face de rejeitos carboníferos de usinas termoelétricas (NERY JUNIOR, 1991, p. 1022). A continência ocorre quando, entre duas ou mais ações, houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma abrange o da outra por ser mais amplo (art. 104 CPC). 11 4.2.10 Objeto da ação Segundo o art. 84 do Código de Defesa do Consumidor: Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. §1º. A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. [...] §5º Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial. 4.3 Inquérito civil O inquérito civil consiste em um instrumento que antecede a propositura da ação civil pública, cujo objetivo é o esclarecimento de fatos. Trata-se de instrumento de atribuição exclusiva do Mi- nistério Público para que proceda às investigações do fato e de cunho não obrigatório, previsto no art. 8º da Lei 7347/85 e no art. 129, inciso III, da CF. Deve-se observar que, se ao final do inquérito não houver elemento suficiente para a propositura da ação civil pública, caberá ao Ministério Público pedir, de maneira fundamentada, o seu ar- quivamento. Esse arquivamento será definitivo quando homologado pelo Conselho Superior do Ministério Público (art. 30 da Lei 8625/93) a quem deve o inquérito ser remetido em três dias do arquivamento, sob pena de falta grave, segundo art. 9º, §3º, da Lei 7347/85. Uma vez arquivado o inquérito civil, o Ministério Público não poderá mais propor a ação civil pública, tendo em vista que se trata deum instrumento instaurado para formar a sua opinio actio. Um outro dado importante é que o inquérito civil, assim como o policial, segue o procedimento inquisitório, não lhe sendo assegurando o contraditório. Ademais, não se trata de um procedi- mento administrativo, pois não se destina a aplicação de sanção, mas sim de averiguação de circunstâncias que justifiquem a propositura da aplicação da Lei da Ação Civil Pública. 4.4 Compromisso de ajustamento de conduta Por ocasião do inquérito civil, poderá ser firmado o compromisso de ajustamento de conduta, segundo o que prescreve o art. 5º, §6º, da Lei 7347/85: §6º. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. Trata-se de instrumento estabelecido pela Lei da Ação Civil Pública, cujo objetivo é a solução do conflito sem a propositura da ação, mediante o compromisso do empreendedor ou de qualquer outra pessoa a proceder a adequação de suas atividades às normas protetivas do meio ambiente. É importante notar que o compromisso estabelecerá cominações e terá eficácia de título exe- cutivo extrajudicial; não constitui transação, visto que esta constitui instrumento de direito civil que pressupõe concessões mútuas, o que não é permitido em matéria ambiental por tratar-se de interesse difuso pertencente a toda a coletividade. 12 Laureate- International Universities Direito Ambiental Para a validade da homologação do compromisso de ajustamento de conduta às exigências legais, faz-se importante que estejam preenchidos os seguintes pressupostos: a) necessidade da integral reparação do dano, em razão da natureza indisponível do direito violado; b) indispensabilidade de cabal esclarecimento dos fatos, de modo a ser possível a identificação das obrigações a serem estipuladas, já que desfrutará de eficácia de título executivo extrajudicial; c) obrigatoriedade da estipulação de cominações para a hipótese de inadimplemento; d) anuência do Ministério Público, quando não seja autor (MILARÉ, 2016, p. 64). Por fim, observa-se que o compromisso de ajustamento será executado por quem detenha legiti- midade para ajuizar Ação Civil Pública (art. 5º, §6º, da Lei 7347/85). 4.5 Mandado de segurança ambiental Trata-se de instrumento de tutela jurisdicional do meio ambiente, previsto no art. 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal, regulado pela Lei 12.016/2009 que exige prova pré-constituída da liquidez e certeza do fato. A Constituição Federal prescreveu acerca do mandado de segurança ambiental: Art. 5º [...] LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) Partido político com representação no Congresso Nacional; b) Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. Como exemplo, pode-se citar a possibilidade de impetração de mandado de segurança coletivo para fins de anular licenciamento ambiental concedido em desrespeito às leis reguladoras do citado procedimento (ALONSO JÚNIOR, 2006, p. 23). Nesse caso, o requisito da demonstração do direito líquido e certo restaria preenchido pela análise do procedimento de licenciamento e sua legislação. 4.5.1 Legitimidade ativa O rol estabelecido no art. 5º, inciso LXX, não é taxativo, podendo outros agentes impetrarem mandado de segurança coletivo, como o Ministério Público, segundo regra estabelecida no art. 129, inciso III, §1º da CF, partidos políticos, organizações sindicais, entidades de classe ou as- sociações (arts. 5ª, incisos XXI, LXIX, LXX; 8º, inciso III, todos da CF). 13 4.5.2 Legitimidade passiva O legitimado passivo do mandamus está determinado no art. 5º, inciso LXIX, da CF, que estabe- lece que o mencionado instrumento se encontra adstrito às hipóteses em que a ofensa ao direito líquido e certo seja oriunda da ilegalidade ou abuso de poder de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. 4.6 Mandado de injunção ambiental O mandado de injunção ambiental também se caracteriza como instrumento processual para a tutela do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (Lei 8038/90). 4.6.1 Pressupostos de cabimento Segundo a Constituição Federal, pode-se depreender dois requisitos: a) ausência de uma norma regulamentadora; b) inviabilidade de exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas prescritas na norma (art. 103, §2, da CF). 4.6.2 Objeto A Constituição Federal estabelece a utilização do presente instrumento sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à soberania, à cidadania e à nacionalidade (art. 5º, inciso LXXI, CF). 4.6.3 Legitimidade ativa Observa-se que não há restrições quanto à legitimidade ativa em sede de mandado de injunção. Podendo, portanto, ser impetrado por pessoa física, jurídica, de direito público ou privado, e ente despersonalizado (v.g. espólio, massa falida etc.). 4.6.4 Legitimidade passiva Segundo o art. 5º, inciso LXXI, da CF, a legitimação passiva será daquele que detenha competên- cia e poderes para atender ao objeto protegido pelo mandado de injunção. Ademais, a ausência de “norma regulamentadora” pode estar vinculada à omissão de qualquer pessoa política ou derivar de qualquer dos Poderes Federativos, a saber: Legislativo, Executivo e Judiciário. 4.6.5 Sentença em mandado de injunção Cabe ao Poder Judiciário decidir qual é a melhor solução para o caso concreto, viabilizando o exercício do direito constitucional, dada a omissão do poder constitucionalmente competente (MI 758, Relator Ministro Marco Aurélio, j. 1º.7 – 2008). Portanto, observa-se que o mandado de injunção na tutela de direitos individuais opera efeitos apenas ao caso concreto em que incidiu. De outra parte, tratando-se de bens ambientais e, assim, de natureza difusa, a sentença atinge todos os titulares do mencionado direito, ou seja, toda a coletividade. 14 Laureate- International Universities Direito Ambiental 4.7 Ação popular ambiental A ação popular destina-se a proteger os bens expressamente determinados na Constituição Fe- deral: Art. 5º, LXXIII. Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. 4.7.1 Pressupostos para o ajuizamento: Dois são os pressupostos para o ajuizamento da ação popular ambiental. Na ação popular comum são exigidos dois pressupostos, a saber: a) ilegalidade; b) lesividade. Na ação popular ambiental não se fala na conjugação de tais pressupostos; sendo, assim, necessário apenas a existência do dano ambiental. 4.7.2 Legitimidade ativa Segundo a Constituição Federal e art. 1º, §3º, da Lei 4717/65, a propositura da ação popular é conferida a qualquer cidadão. Ocorre que dada a relevância do bem ambiental (bem de uso comum de todos), não se pode restringir o acesso ao Poder Judiciário apenas às pessoas que detenham a qualidade de eleitor, mas sim a qualquer pessoa, independentemente de regulari- dade com a Justiça Eleitoral (HC 94016, Rel. Min. Celso de Mello, j. em 16.9.2008, 2ª Turma, DJe de 27.2.2009). 4.7.3 Legitimidadepassiva Poderá figurar no polo passivo qualquer pessoa responsável pelo ato lesivo ao meio ambiente, segundo o conceito de “poluidor” indicado pela Política Nacional do Meio Ambiente. 4.7.4 Prazo prescricional É inaplicável o prazo prescricional de cinco anos previsto no art. 21 da Lei 4717/65, porque o bem ambiental é de extrema importância para submeter-se a esse prazo. 4.7.5 Competência Segundo o art. 2º da Lei 7348/85, observa-se que para o “[...] conhecimento da ação popular ambiental, o juízo competente é aquele do local do dano”. 4.7.6 Custas O texto constitucional determina que o autor da ação, salvo comprovada má-fé, fica isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. 15 4.8 Habeas data ambiental O habeas data encontra-se previsto na Lei 9507/97, art. 7º, que reza: Art. 7º. Conceder-se-á ‘habeas data’: I- Para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público; II- para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; III- para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável. Observa-se da Lei acima comentada que não há previsão da possibilidade de impetração de habeas data para a prestação de informações de natureza coletiva em matéria ambiental. Entre- tanto, o ordenamento jurídico autoriza o ajuizamento do citado instrumento para a prestação de informações injustificadamente omitidas por parte do órgão encarregado de realizá-las. 16 Laureate- International Universities Referências ALONSO JÚNIOR, Hamilton. Direito fundamental ao meio ambiente e ações coletivas. 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