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01.1 TEORIA DO CONHECIMENTO

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1 
 
 
EPISTEMOLOGIA 
 
Estudo sobre a teoria do conhecimento 
 
Professor Mestre Obertal Xavier Ribeiro 
Março de 2014 
 
 
I. A posição da teoria do conhecimento no sistema da filosofia 
 
 O estudo da filosofia no seu conteúdo histórico e na evolução do conhecimento nos leva a 
uma divisão da filosofia em suas diferentes disciplinas. A filosofia é antes de qualquer coisa 
auto-reflexão do espírito sobre seu comportamento valorativo teórico e prático. 
 
 
 Divisão da filosofia em suas diferentes disciplinas: 
 
1.Teoria cientifica: enquanto reflexão sobre o comportamento teórico, sobre aquilo que 
chamamos de ciência, a filosofia é teoria do conhecimento científico, teoria da ciência. 
2.Teoria de valor: enquanto reflexão sobre o comportamento prático do espírito, sobre o que 
chamamos de valor no sentido estrito, a filosofia é teoria do valor. 
3.Teoria da visão de mundo: a auto-reflexão do espírito, porém, não é fim em si, mas meio para 
atingir uma visão de mundo. A filosofia é teoria da visão de mundo. 
 
 O campo da filosofia divide-se, portanto em três partes, a teoria da ciência, a teoria do 
valor e teoria da visão de mundo. 
 
 
 Principais disciplinas da filosofia: 
 
 Uma segunda divisão dessas partes fornece as principais disciplinas da filosofia. A que 
mais nos interessa nesse estudo é a da teoria da ciência, que nos propôs a teoria do 
conhecimento, nos abre caminho para epistemologia. 
 
1. A teoria da visão de mundo é decomposta em metafísica. Esta divide-se em metafísica da 
natureza e metafísica do espírito; e em teoria da visão de mundo em sentido estrito, que investiga 
as questões referentes a Deus, à liberdade e à imortalidade. 
2. A teoria do valor divide-se, segundo os diferentes tipos de valor, nas teorias dos valores éticos, 
estéticos e religiosos. Obtemos, assim, três disciplinas: ética, estética e filosofia da religião. 
3. A teoria da ciência é decomposta em teoria formal e doutrina material da ciência. 
 A teoria formal chamamos de lógica; e a doutrina material da ciência chamamos de teoria do 
conhecimento. 
 
 
 Lugar que a teoria do conhecimento ocupa na filosofia, sua relação com as teorias: 
 
 Compreendemos o lugar que a teoria do conhecimento ocupa no conjunto da filosofia, 
como uma parte da teoria da ciência. Podemos defini-la como teoria material da ciência ou como 
teoria dos princípios materiais do conhecimento humano. 
 Enquanto a lógica investiga os princípios formais do conhecimento, as formas e leis 
gerais do pensamento humano, a teoria do conhecimento dirige-se aos pressupostos materiais 
 2 
mais gerais do conhecimento científico. Enquanto a primeira prescinde da referência do 
pensamento aos objetos e considera o pensamento puramente em si, a segunda tem os olhos fixos 
justamente na referência objetiva do pensamento, na sua relação com os objetos. Enquanto a 
lógica pergunta a respeito da correção formal do pensamento, sobre sua concordância consigo 
mesmo, com suas próprias formas e leis, a teoria do conhecimento pergunta sobre a verdade do 
pensamento, sobre sua concordância com o objeto. 
 Uma outra forma é definir a teoria do conhecimento como a teoria do pensamento 
verdadeiro, por oposição à lógica, definida como a teoria do pensamento correto. Torna-se claro, 
assim, o significado fundamental da teoria do conhecimento para todo o campo da filosofia. É 
com todo o direito que ela será chamada de philosophia fundamentalis, ciência filosófica 
fundamental. 
 
 Costuma-se dividir a teoria do conhecimento em geral e especial: 
 
1. A geral investiga a relação do pensamento com o objeto em geral. 
2. A especial toma como objeto de uma investigação crítica os axiomas1 e conceitos 
fundamentais em que se exprime a referência de nosso pensamento aos objetos. 
 
 
II. A história da teoria do conhecimento 
 
 A compreensão da teoria geral do conhecimento necessita do olhar histórico da teoria do 
conhecimento. Como ela evolui, como se constitui no contexto histórico para a sua formulação 
atual. 
 Como disciplina filosófica independente, não se pode falar de uma teoria do 
conhecimento nem na Antiguidade nem na Idade Média. Certamente, encontraremos numerosas 
reflexões epistemológicas na filosofia antiga, especialmente em Platão e em Aristóteles. São, 
porém, investigações epistemológicas que ainda estão completamente embutidas em contextos 
psicológicos e metafísicos. 
 
 
Idade Moderna: A essência é a certeza do conhecimento humano. 
 
 É só na Idade Moderna que a teoria do conhecimento aparece como disciplina 
independente, fundada por John Locke e seguida por Leibniz, George Berkeley e David Hume; 
por Immanuel Kant e seguida por Fichte, Schelling e Hegel, Schopenhauer e em Hartmann. 
 
 
John Locke fundador da teoria do conhecimento: 
 
 O filósofo inglês John Locke deve ser considerado seu fundador. Sua principal obra, An 
Essay concerning Human Understanding,
2
 publicada em 1690, trata de modo sistemático as 
 
1
 Axioma (axíome) - Proposição indemonstrável, que serve para demonstrar outras proposições. Os axiomas são 
verdadeiros? Foi o que se acreditou por muito tempo: um axioma, para Espinosa ou Kant, é uma verdade evidente 
por si mesma, que portanto não necessita ser demonstrada. Os matemáticos ou lógicos de hoje vêem-nos, antes, 
como convenções ou hipóteses, que não o podem ser. A verdade, portanto, já não está nas proposições (se os 
axiomas não forem verdadeiros, nenhum teorema o será), mas nas relações de implicação ou de dedução que as 
unem. Equivale a dizer que não há axioma, no sentido tradicional do termo, mas apenas postulados (v. "postulado"). 
Isso, no entanto, é um postulado, não um axioma. Postulado (postulat) - Um princípio que formulamos, sem poder 
demonstrá-lo. Distingue-se do axioma apenas por uma evidência menor. Aliás, os matemáticos modernos 
renunciaram à distinção. É que renunciaram à evidência dos princípios, para não reconhecer mais que a necessidade 
das inferências. 
COMTE-SPONVILLE, André, Dicionário Filosófico. São Paulo, 2003: Martins Fontes, p. 72.464. 
2
 An Essay concerning Human Understanding - Um Ensaio relativo (ou sobre o) ao entendimento 
humano. 
 3 
questões referentes à origem, à essência, à certeza e o alcance do conhecimento humano. No 
livro Nouveaux essais sur l 'entendement humain
3
, publicado postumamente em 1765, Leibniz 
tentou refutar o ponto de vista epistemológico de Locke. Na Inglaterra, George Berkeley, em sua 
obra A Treatise concerning the Principies of Human Knowledge
4
(1710), e David Hume, em sua 
obra principal, A Treatise on Human Nature 
5
(1739/40) e em outra de menor dimensão, o 
Enquiry concerning Human Understanding
6
 (1748), continuaram edificando sobre a base dos 
resultados obtidos por Locke. 
 Ao investigar a origem das idéias, Locke prefere o caminho "psicológico" e distingue 
duas fontes possíveis de nossas idéias: 
 
1. A sensação, que é o resultado da modificação feita na mente por meio dos sentidos. 
2. A reflexa, que é a percepção que alma tem daquilo que nela ocorre. 
 
 Assim se conclui que a reflexão se reduz apenas à experiência interna do resultado da 
experiência externa produzida pela sensação. 
 O que ocasiona a produção de uma idéia simples na mente é a "qualidade" do objeto. 
 Dois tipos de qualidades: 
 
1. Há qualidades primárias, como a solidez, a extensão, a configuração, o movimento, o repouso 
e o número. Estas são objetivas por existirem realmente nas coisas. 
2. Há qualidades secundárias, como cor, som, odor, sabor etc, que provocam no sujeito 
determinadas percepções sensíveis.Estas variam de sujeito para sujeito, são relativas e 
subjetivas. 
 
 Por meio da análise, o sujeito ata e desata as idéias simples, produzindo as idéias 
complexas. Estas, já que são formadas pelo intelecto, não tem validade objetiva. São nomes de 
que nos servimos para denominar e ordenar as coisas. Daí seu valor prático, e não cognitivo. 
Locke enfatiza o papel do objeto e afirma que a alma é como uma tabula rasa, tábua sem 
inscrição, como cera em que não há qualquer impressão, como papel branco desprovido de 
qualquer caractere, sem qualquer idéia e o conhecimento só começa após a experiência sensível. 
Todo conhecimento, nela está fundado, e dela deriva fundamentalmente. 
 
 
Immanuel Kant, a fundamentação crítica e o método do conhecimento das ciências 
naturais: 
 
 Na filosofia continental, Immanuel Kant aparece como o verdadeiro fundador da teoria 
do conhecimento. Em sua principal obra epistemológica, a Crítica da razão pura (1781), tentou 
fornecer uma fundamentação crítica ao conhecimento das ciências naturais. Como 
fundamentação crítica do conhecimento científico. Não se limita porém ao domínio teórico, mas 
avança a partir dele, para a fundamentação crítica dos valores e sua totalidade. Além da crítica 
da razão pura surge a crítica da razão prática que trata do âmbito ético dos valores e a crítica do 
juízo, que toma os valores estéticos como objeto da investigação crítica. 
Kant formula um projeto de filosofia crítica que visa dar conta da possibilidade do homem 
conhecer o real e de agir livremente. 
 A Crítica da razão pura contém os princípios básicos da teoria do conhecimento 
kantiana. O conhecimento resulta da contribuição das faculdades da sensibilidade e do 
entendimento que constituem o sujeito do conhecimento. 
 
3
 Nouveaux essais sur l 'entendement humain - Novo ensaio sobre o entendimento humano 
4
 Treatise concerning the Principies of Human Knowledge - Tratado relativo à princípios do conhecimento 
humano. 
5
 Treatise on Human Nature - Tratado sobre a natureza humana. 
6
 Enquiry concerning Human Understanding - Questionáro relativa a compreensão humana. 
 4 
 A sensibilidade possibilita que o objeto pensado por conceitos (entendimento) seja 
determinado espaço-temporalmente como objeto de uma experiência possível. 
Kant estabelece uma moral do dever que se fundamenta na racionalidade humana e tem como 
princípio básico o imperativo categórico.
7
. 
 O método que usou foi chamado por ele próprio de "método transcendental". Esse 
método não investiga a gênese psicológica do conhecimento, mas sua validade lógica. Não 
pergunta, à maneira do método psicológico, como surge o conhecimento, mas sim como é 
possível o conhecimento, sobre quais fundamentos, sobre quais pressupostos ele repousa. Em 
virtude desse método, a filosofia de Kant também é chamada abreviadamente de 
transcendentalismo ou, ainda, de criticismo. 
 Em Fichte, o sucessor imediato de Kant, a teoria do conhecimento aparece pela primeira 
vez intitulada "teoria da ciência". Mas já apresenta aquele amálgama de teoria do conhecimento 
e metafísica que ganhará livre curso em Schelling e Hegel e que também estará 
inconfundivelmente presente em Schopenhauer e em Hartmann. 
 
 
Neokantismo e separação entre o questionamento metafísico do epistemológico: 
 
 Em contraposição a esses tratamentos metafísicos da teoria do conhecimento, o 
neokantismo, surgido na década de 1860, esforça-se por separar nitidamente o questionamento 
metafísico do epistemológico. No entanto, o problema epistemológico foi tão vigorosamente 
empurrado para o primeiro plano que a filosofia corria o perigo de reduzir-se à teoria do 
conhecimento. O neokantismo desenvolveu a teoria kantiana do conhecimento numa direção 
muito bem determinada. A unilateralidade de questionamento que isso provocou fez logo 
surgirem numerosas correntes epistemológicas contrárias. 
 
 
III. Um breve estudo sobre a teoria geral do conhecimento. 
 
 Hoje existe uma enorme quantidade de direcionamentos epistemológicos, e os mais 
importantes serão apresentados a seguir em conexão sistemática. 
 
 
Investigação fenomenológica preliminar: 
 
 A teoria do conhecimento, como o nome já diz, é uma teoria, isto é, uma interpretação e 
uma explicação filosóficas do conhecimento humano. Antes, porém, de filosofar sobre um 
objeto, é necessário examiná-lo com exatidão. Qualquer explicação ou interpretação deve ser 
precedida de uma observação e de uma descrição exatas do objeto. Isso vale também para o 
nosso caso. Devemos, pois apreender com um olhar penetrante e descrever com exatidão esse 
fenômeno peculiar de consciência que chamamos de conhecimento. Fazemos isso na medida em 
que tentamos apreender as características essenciais desse fenômeno mediante a auto-reflexão 
sobre o que experimentamos quando falamos em conhecimento. 
 
 
Diferenciando o método psicológico do fenomenológico: 
 
 O método psicológico investiga os processos mentais concretos em seu curso regular e 
em suas relações com outros processos. 
 O método fenomenológico procura apreender a essência geral no fenômeno concreto. 
Não descreve um processo de conhecimento determinado, não procura estabelecer o que é 
 
7
 A teoria do conhecimento de Kant será tratada e aprofundada seguidamente na página 10 e seguintes. 
Item VI Kant e filosofia crítica. 
 5 
característico de um determinado conhecimento, mas aquilo que é essencial a todo 
conhecimento, aquilo em que consiste sua estrutura geral. 
 
 
Características fundamentais do conhecimento: 
 
 Dualismo e correlação do sujeito e objeto. 
 O fenômeno do conhecimento se nos apresenta, nas suas características fundamentais 
defrontando-se consciência e objeto, sujeito e objeto. O conhecimento aparece como uma relação 
entre esses dois elementos. Nessa relação, sujeito e objeto permanecem eternamente separados. 
O dualismo do sujeito e do objeto pertence à essência do conhecimento. 
 Ao mesmo tempo, a relação entre os dois elementos é uma relação recíproca, de 
correlação. O sujeito só é sujeito para um objeto e o objeto só é objeto para um sujeito. Ambos 
são o que são apenas na medida em que o são um para o outro. Essa correlação, porém, não é 
reversível. Ser sujeito é algo completamente diverso de ser objeto. A função do sujeito é 
apreender o objeto; a função do objeto é ser apreensível e ser apreendido pelo sujeito. 
 
 Apresentam em si pontos de vista: 
 
1. Vista a partir do sujeito, essa apreensão aparece como uma saída do sujeito para além de sua 
esfera própria, como uma invasão da esfera do objeto e como uma apreensão das 
determinações do objeto. Com isso, no entanto, o objeto não é arrastado para a esfera do 
sujeito, mas permanece transcendente a ele. Não é no objeto, mas no sujeito que algo foi 
alterado pela função cognoscitiva. Surge no sujeito uma "figura" que contém as determinações 
do objeto, uma "imagem" do objeto. 
2. Visto a partir do objeto, o conhecimento aparece como um alastramento, no sujeito, das 
determinações do objeto. Há uma transcendência do objeto na esfera do sujeito 
correspondendo à transcendência do sujeito na esfera do objeto. Ambas são apenas aspectos 
diferentes do mesmo ato. Nesse ato, porém, o objeto tem preponderância sobre o sujeito. O 
objeto é o determinante, o sujeito é o determinado. 
 
 É por isso que o conhecimento pode ser definido como uma determinação do sujeito pelo 
objeto. Não é, porém o sujeito que é pura e simplesmente determinado, mas apenas a imagem, 
nele, do objeto. A imagem é objetiva na medida em que carregaconsigo as características do 
objeto. Diferente do objeto, ela está, de um certo modo, entre o sujeito e o objeto. Ela é o meio 
com o qual a consciência cognoscente
8
 apreende seu objeto. 
 Dizer que o conhecimento é uma determinação do sujeito pelo objeto é dizer que o sujeito 
comporta-se receptivamente com respeito ao objeto. Essa receptividade, contudo, não significa 
passividade. Pelo contrário, pode-se falar de uma atividade e de uma espontaneidade do sujeito 
no conhecimento. Certamente, a espontaneidade não está relacionada ao objeto, mas à imagem 
do objeto, na qual a consciência pode muito bem ter uma participação criadora. Receptividade 
com respeito ao objeto e espontaneidade com respeito à imagem do objeto no sujeito podem 
perfeitamente coexistir. 
 
 
Transcendência e objetos do conhecimento: 
 
Na medida em que determina o sujeito, o objeto mostra-se independente do sujeito, para além 
dele, transcendente. Todo conhecimento visa, busca, intenciona um objeto independente da 
 
8
 Cognoscente - sujeito que conhece 
Cognitivas, ciências (cognitives, sciences) - São as ciências ou as disciplinas que têm como objeto o 
conhecimento e os meios do conhecimento. 
COMTE-SPONVILLE, André, Dicionário Filosófico. São Paulo, 2003: Martins Fontes, p. 109. 
 
 6 
consciência cognoscente. Por isso o caráter transcendente é adequado a todos os objetos de 
conhecimento. 
 
 
Objetos do conhecimento: 
 
Dividimos os objetos em reais e ideais. 
 
Os objetos reais ou efetivos todos que nos são dados na experiência externa ou interna ou 
são inferidos a partir dela. Os objetos ideais aparecem como irreais, meramente pensados. 
 
Esses objetos ideais são, por exemplo, as estruturas da matemática, os números e as 
figuras geométricas. O estranho é que também esses objetos ideais possuem um ser em si, uma 
transcendência no sentido epistemológico. As leis numéricas, as relações existentes, por exemplo, 
entre os lados e ângulos de um triângulo têm uma independência de nosso pensamento subjetivo 
semelhante à dos objetos reais. Apesar de sua irrealidade, defrontam-se com nosso pensamento 
como algo em si mesmo determinado e independente. 
 
 
Correlação entre sujeito e objeto: 
 
Parece existir uma contradição entre a transcendência do objeto em face do sujeito e a 
correlação constatada há pouco entre sujeito e objeto. Essa contradição, porém, é apenas aparente. 
O objeto só não é separável da correlação na medida em que é um objeto de conhecimento. A 
correlação entre sujeito e objeto não é em si mesma indissolúvel; só o é no interior do 
conhecimento. Sujeito e objeto não se esgotam em seu ser um para o outro, mas têm, além disso, 
um ser em si. 
No objeto, este ser em si consiste naquilo que ainda é desconhecido. 
No sujeito, consiste naquilo que ele é além de sujeito que conhece. Além de conhecer, ele 
também está apto a sentir e a querer. 
Assim, enquanto o objeto cessa de ser objeto quando se separa da correlação, o sujeito apenas 
deixa de ser sujeito cognoscente. 
Assim como a correlação entre sujeito e objeto só não é dissolúvel no interior do 
conhecimento, ela também só não é reversível enquanto relação de conhecimento. Em si mesma, 
uma reversão é perfeitamente possível. Ela ocorre, de fato, na ação, pois nesse caso não é o objeto 
que determina o sujeito, mas o sujeito que determina o objeto. Não é o sujeito que muda, mas o 
objeto. O sujeito não mais se comporta receptivamente, mas espontânea e ativamente, ao passo 
que o objeto comporta-se passivamente. Desse modo, conhecimento e ação apresentam estruturas 
completamente opostas. 
 
 
A essência do conhecimento, sua busca na relação: 
 
A essência do conhecimento está estreitamente ligada ao conceito de verdade. Só o 
conhecimento verdadeiro é conhecimento efetivo. "Conhecimento não-verdadeiro" não é 
propriamente conhecimento, mas erro e engano. 
Em que consiste, então, a verdade do conhecimento? 
A verdade deve consistir na concordância da "figura" com o objeto. 
Um conhecimento é verdadeiro na medida em que seu conteúdo concorda com o objeto 
intencionado. Conseqüentemente, o conceito de verdade é um conceito relacional. Ele expressa 
um relacionamento, a saber, o relacionamento do conteúdo do pensamento, da "figura", com o 
objeto. O próprio objeto, ao contrário, não pode ser nem verdadeiro nem falso. De certo modo, 
ele está para além da verdade e da inverdade. Uma representação inadequada, por sua vez, pode 
ser verdadeira, pois apesar de incompleta pode ser correta, se as características que contém 
existirem efetivamente no objeto. 
 7 
 O conceito de verdade que obtivemos a partir da consideração fenomenológica do 
conhecimento pode ser chamado conceito transcendente de verdade, vale dizer, ele tem a 
transcendência do objeto como pressuposto. É esse o conceito de verdade da consciência ingênua 
e também o da consciência científica. Ambos visam, com a verdade, a concordância do conteúdo 
do pensamento com o objeto. 
 
 
 
Conhecimento e certeza: 
 
 Devemos chegar também à certeza de que o conhecimento é verdadeiro. 
 Surge assim a seguinte questão: em que posso reconhecer um conhecimento como 
verdadeiro? 
 Essa é a questão acerca do critério da verdade. 
 Os achados fenomenológicos nada dizem sobre a existência de tal critério. Apenas a 
exigência desse critério pertence ao fenômeno do conhecimento, não a satisfação dessa 
exigência. 
 
 
IV. Fenômeno do conhecimento e elementos para psicologia, a lógica 
e a ontologia: 
 
 O conhecimento possui três elementos principais: sujeito, "imagem" e objeto. 
 
1. Pelo sujeito, o fenômeno do conhecimento confina com a esfera psicológica. 
2. Pela "imagem", com a esfera lógica. 
3. Pelo objeto, com a ontológica9. 
 
 
Na esfera psicológica: 
 
 Enquanto processo psicológico num sujeito, o conhecimento é objeto da psicologia. Vê-
se de imediato que a psicologia não pode solucionar as questões referentes à essência do 
conhecimento humano. A investigação fenomenológica mostrou, que o conhecimento consiste 
na apreensão espiritual de um objeto. A psicologia se abstém, em sua investigação dos processos 
de pensamento, dessa referência objetual. Ela dirige sua atenção para a gênese e para o curso dos 
processos psicológicos. Ela pergunta como o pensamento se dá e não se o pensamento é 
verdadeiro, isto é, se concorda com seu objeto. A pergunta sobre o conteúdo de verdade do 
conhecimento está fora, portanto, de seu domínio. Se, não obstante, ela tentasse responder a essa 
questão, ocorreria uma rematada metábasis eis alio génos, uma passagem para outra ordem. É 
aqui exatamente que reside o erro de base do psicologismo. 
 
 
Na esfera lógica: 
 
 Com seu segundo elemento, a imagem, o conhecimento ascende à esfera lógica. A 
"imagem" do objeto no sujeito é uma estrutura lógica e, enquanto tal, objeto da lógica. Mas, se 
 
9
 Ontologia: (ontologie) - o discurso sobre "o ser como ser", como dizia Aristóteles, ou sobre o ser do que 
é (os entes em geral, ta onta, e não determinado ente em particular). É uma parte, salvo para os 
heideggerianos, da metafísica. Mas sobre o ser como ser, o que dizer, a não ser que é? As ciências 
nos ensinam mais. O ser puro não é senão um sonho de filósofo. Mais vale a impureza do real. 
COMTE-SPONVILLE, André, Dicionário Filosófico. São Paulo, 2003: Martins Fontes, p. 424. 
 
 8 
vê que a lógica não é capaz de resolver o problema do conhecimento. Ela investiga as estruturas 
lógicas enquanto tais, sua constituição interna e suas relações mútuas. Ela pergunta sobre a con-
cordância do pensamento consigo mesmo, não sobre sua concordânciacom o objeto. O 
questionamento epistemológico também se situa, portanto, fora da esfera lógica. Desconhecer 
esse fato é cair no logicismo. 
 
 
 
Na esfera ontológica: 
 
 Com seu terceiro elemento, o objeto, o conhecimento humano toca a esfera ontológica. O 
objeto defronta-se com a consciência cognoscente enquanto algo que é, quer se trate de um ser real 
ou ideal. O ser, porém, é objeto da ontologia. Também aqui, deve-se reconhecer que a ontologia 
não pode resolver o problema do conhecimento, pois, assim como não podemos eliminar o objeto 
no conhecimento, também não podemos eliminar o sujeito. Conforme o exame fenomenológico já 
mostrou, ambos pertencem ao conteúdo essencial do conhecimento humano. Quando se ignora 
isso e se encara o problema do conhecimento, de forma unilateral, a partir do objeto, o resultado é 
o ponto de vista do ontologismo. 
 
 
 
V. Relação sujeito e objeto e nova disciplina filosófica autônoma: 
 
 Nem a psicologia, nem a lógica, nem a ontologia são capazes, portanto, de resolver o 
problema do conhecimento, que é algo completamente peculiar e independente. Se quisermos 
rotulá-lo com um nome específico, poderemos falar, de um fato gnoseológico. 
 A referência objetual de nosso pensamento, a relação entre sujeito e objeto, não cabe em 
nenhuma das três disciplinas mencionadas e funda, portanto, uma nova disciplina, a teoria do 
conhecimento. 
 O exame fenomenológico também conduz ao reconhecimento da teoria do conhecimento 
como uma disciplina filosófica autónoma. 
 Poder-se-ia pensar que a tarefa da teoria do conhecimento estaria cumprida, no essencial, 
com a descrição do fenómeno do conhecimento. Mas não é assim. A descrição do fenómeno ainda 
não é uma interpretação e uma explicação filosóficas. O que acabamos de descrever é aquilo que 
a consciência natural entende por conhecimento. Vimos que, segundo a concepção da 
consciência natural, o conhecimento é uma afiguração do objeto e a verdade do conhecimento 
consiste numa concordância da "imagem" com o objeto. Está fora do alcance do questionamento 
fenomenológico, porém, perguntar se essa concepção é justificada. 
 O método fenomenológico só pode oferecer uma descrição do fenômeno do 
conhecimento. Com base nessa descrição fenomenológica, deve-se buscar uma explicação e uma 
interpretação filosóficas, uma teoria do conhecimento. Essa é a verdadeira tarefa da teoria do 
conhecimento. 
 Esse fato é muitas vezes desconsiderado pelos fenomenólogos. Eles crêem poder 
solucionar o problema do conhecimento por meio da mera descrição do fenômeno do 
conhecimento. Às objeções vindas de epistemólogos de diferentes orientações, reagem 
apontando os dados fenomenológicos do conhecimento. Mas se esquecem de que fenomenologia 
do conhecimento e teoria do conhecimento são coisas muito distintas. 
 
 
 Distinção entre fenomenologia do conhecimento e teoria do conhecimento: 
 
 A fenomenologia tem a capacidade unicamente de trazer à luz a fatualidade da concepção 
natural, jamais de decidir a respeito de seu direito, de sua verdade. Essa questão crítica 
 9 
permanece fora de sua esfera de competência. A fenomenologia é um método, mas não é uma 
teoria do conhecimento. 
 A descrição do fenômeno do conhecimento tem uma significação apenas preparatória. 
Sua tarefa não é resolver o problema do conhecimento, mas conduzir-nos até o problema. A 
descrição fenomenológica pode e deve descobrir e trazer à nossa consciência os problemas que 
se apresentam no fenômeno do conhecimento. 
 
 
 Aprofundando na descrição do fenômeno do conhecimento, veremos sem dificuldade que 
há, sobretudo cinco problemas principais contidos nos achados fenomenológicos. 
1. Questão sobre a possibilidade do conhecimento humano: 
 
 Vimos que o conhecimento significa uma relação entre sujeito e objeto, que entram em 
contato um com o outro: o sujeito apreende o objeto. A pergunta que imediatamente se faz é 
se essa concepção da consciência natural é justificada, se ocorre realmente esse contato entre 
sujeito e objeto. Será o sujeito realmente capaz de apreender o objeto? Essa é a questão sobre 
a possibilidade do conhecimento humano. 
 
 
2. Questão sobre a fonte, o fundamento para buscar o conteúdo: 
 
 Deparamos com outro problema quando consideramos mais de perto a estrutura do 
sujeito cognoscente. Essa estrutura é dualista. O homem é um ser espiritual e sensível. 
Distinguimos correspondentemente um conhecimento espiritual e um conhecimento sensível. 
A fonte do primeiro é a razão; a do segundo, a experiência. Pergunta-se, então, qual é a 
principal fonte em que a consciência cognoscente vai buscar seus conteúdos. A fonte e o 
fundamento do conhecimento humano é a razão ou a experiência? Essa é a questão sobre a 
origem do conhecimento. 
 
 
3. Questão sobre a determinação na relação sujeito e objeto: 
 
 Somos conduzidos ao problema verdadeiramente central da teoria do conhecimento 
quando fixamos o olhar sobre a relação entre sujeito e objeto. A descrição fenomenológica 
caracteriza essa relação como uma determinação do sujeito pelo objeto. Agora, porém, 
também perguntamos se essa concepção da consciência natural é a correta. Como veremos 
mais tarde, numerosos e importantes teóricos do conhecimento definiram a relação num 
sentido diametralmente oposto. Segundo eles, a situação real é exatamente inversa: não é o 
objeto que determina o sujeito, mas o sujeito que determina o objeto. A consciência 
cognoscente não se comporta receptivamente frente a seu objeto, mas ativa e 
espontaneamente. Pergunta-se qual das duas interpretações do conhecimento humano é a 
correta. De forma abreviada, podemos chamar esse problema de questão sobre a essência do 
conhecimento humano. 
 
 
4. Questão sobre outro conhecimento além do racional: 
 
 Até agora, quando falamos em conhecimento, sempre pensamos apenas numa apreensão 
racional do objeto. O que se pergunta é se, além desse conhecimento racional, existe um 
outro, de outro tipo, um conhecimento que, por oposição ao conhecimento racional-
discursivo, poderíamos chamar de intuitivo. Essa é a questão sobre os tipos de conhecimento 
humano. 
 
 
 10 
5. Questão sobre o critério da verdade: 
 
 Existe o problema da descrição fenomenológica se existe um conhecimento verdadeiro e, 
como posso reconhecer sua verdade? Qual é o critério que me diz em cada caso se um 
conhecimento é verdadeiro ou não? 
 O problema do conhecimento divide-se, assim, em cinco problemas parciais. No restante 
do livro de Hessen. J - Teoria do Conhecimento, eles serão discutidos um após o outro. O 
dogmatismo, o ceticismo, o subjetivismo e relativismo, o pragmatismo e o criticismo. 
Mostrando, em cada caso, as principais soluções dadas ao problema no curso da história da 
filosofia, e assumindo então uma posição crítica, indicando a direção na qual busca uma solução. 
 
 
 
VI. Kant e a filosofia crítica 
 
 
1. A concepção kantiana de filosofia 
 
 A obra de Immanuel Kant (1724-1804) pode ser vista como um marco na filosofia 
moderna. 
 
 Seu pensamento é geralmente dividido em duas fases: 
 
1. A pré-crítica, que vai até a Dissertação de 1770. 
 
2. A crítica, a partir da publicação da Crítica da razão pura de 1781. 
 
 Em sua fase pré-critica, Kant pode ser considerado um representante típico do chamado 
"racionalismo dogmático", caracterizado pela forte influência do "sistema Leibniz-Wolff', isto é, 
do predomínio, sobretudo no contexto alemão, da filosofia racionalista inspirada em Leibniz e 
desenvolvida e sistematizada por Christian Wolff (1679-1754). Segundo ele mesmo nos relata 
em seus Prolegômenos, foi a leitura de Humeque o despertou de seu "sonho dogmático". Os 
questionamentos céticos de Hume abalaram profundamente Kant, que visava empreender uma 
defesa do racionalismo contra o empirismo cético. Percebeu, no entanto, a importância das 
questões levantadas pelos empiristas, destacadamente Hume, e acabou por elaborar uma filosofia 
que caracterizou como racionalismo critico, pretendendo precisamente superar a dicotomia entre 
racionalismo e empirismo. É significativo que Kant, formado no contexto do racionalismo 
alemão, tenha dedicado a Crítica da razão pura a Bacon, o iniciador do empirismo. 
 
 
As quatro questões da sua lógica, e suas determinações. 
 
 Em sua Lógica, Kant define a filosofia como "a ciência da relação de todo conhecimento 
e de todo uso da razão com o fim último da razão humana", caracterizando-se pelo tratamento de 
quatro questões fundamentais: 
 
1. O que posso saber? 
 
 Questão que diz respeito à metafísica, no sentido kantiano de investigação sobre a 
possibilidade e legitimidade do conhecimento. 
 
2. O que devo fazer? 
 11 
 
 Cuja resposta é dada pela moral. 
 
3. O que posso esperar? 
 
 O problema da esperança, de que trata a religião. 
 
4. O que é o homem? 
 
 
 Objeto da antropologia, à qual em última análise se reduzem as outras três e que é na 
verdade a mais importante das quatro. 
 
 Tendo em vista estas questões, o filósofo deve determinar: 
1. As fontes do saber humano. 
 
2. A extensão do uso possível e útil de todo saber. 
 
3. Os limites da razão. 
 
 
 Sendo este último item o mais difícil, porém o mais necessário, na perspectiva da 
filosofia crítica. 
 No Prefácio à segunda edição (1787) da Crítica da razão pura, Kant se refere ao 
"escândalo" das disputas entre as várias correntes e doutrinas filosóficas, que segundo ele, só 
podem ser superadas pela introdução da crítica. Um dos objetivos fundamentais da filosofia na 
Crítica da razão pura, que trata da razão teórica, isto é, do uso da razão no conhecimento da 
realidade, é precisamente estabelecer critérios de demarcação, entre o que podemos 
legitimamente conhecer e as falsas pretensões ao conhecimento, que nunca se realizam. Na visão 
de Kant, a critica se opõe ao dogmatismo, "à pretensão de progredir apenas com um 
conhecimento puro baseado em conceitos (o filosófico), segundo princípios há tempos usados 
pela razão, sem se indagar, contudo de que modo e com que direito ela chegou a eles. 
Dogmatismo é, portanto, o procedimento dogmático da razão sem uma critica precedente de seu 
próprio poder." A tarefa da crítica consiste assim em examinar os limites da razão teórica e 
estabelecer os critérios de um conhecimento legítimo. 
 
 
2. A Crítica da razão pura 
 
 É na Critica da razão pura que Kant formula sua concepção de uma filosofia 
transcendental, isto é, uma investigação que, "em geral, se ocupa não tanto com objetos mas com 
o nosso modo de conhecimento de objetos". 
 
 
Filosofia transcendental e a análise das condições do conhecimento: 
 
 A filosofia transcendental, portanto, contém a teoria do conhecimento de Kant, ou seja 
sua análise das condições de possibilidade do conhecimento, por meio da qual se pode delimitar 
a ciência da pseudociência, distinguindo o uso cognitivo da razão, que efetivamente produz 
conhecimento do real, de seu uso meramente especulativo, em que ao pensamento não 
correspondem objetos. Pode-se dizer que essa obra consiste, por um lado, no exame da 
constituição interna da razão; por outro lado, no exame de seu funcionamento. 
 
 12 
 
O processo que usa: 
 
 Kant parte da distinção tradicional entre juízos analíticos e juízos sintéticos. 
 
1. Os analíticos são de caráter lógico, aqueles em que o predicado está contido no sujeito, isto é 
não produzem conhecimento, mas simplesmente explicitam a definição do sujeito do juízo, 
como por exemplo: "Todo triângulo tem três ângulos" São, portanto, a priori, ou seja, 
independentes da experiência, universais e necessários, mas não-cognitivos. 
 
2. Os juízos sintéticos são a posteriori, dependem da experiência e constituem uma ampliação de 
nosso conhecimento, tais como "A água ferve a 100 graus centígrados." Produzem 
conhecimento, mas não são universais nem necessários, pois baseiam-se na experiência e, no 
máximo, resultam de generalizações empíricas. 
 
 Kant considera, entretanto, que a distinção analítico (a priori) / sintético (a posteriori) é 
insuficiente para explicar a possibilidade da ciência, pois precisamos dar conta de juízos 
universais e necessários que ampliem o conhecimento: os juízos sintéticos a priori. Este último 
tipo de juízo é caracterizado por Kant como independente da experiência, porém relacionado a 
ela, já que diz respeito às suas condições de possibilidade. Os princípios mais gerais da ciência, 
os fundamentos da física e da matemática e os juízos filosóficos da teoria do conhecimento que 
Kant pretende estabelecer, pertenceriam a esta nova classe de juízo. 
 
 
O novo é que objeto é determinado pelo sujeito e suas relações: 
 
 No Prefácio à segunda edição (1787), Kant formula a famosa metáfora da revolução 
copernicana na filosofia, que pretende empreender. Assim como Copérnico teria invertido o 
modelo tradicional de cosmo em que o Sol girava em torno da Terra, mostrando ser a Terra que 
girava em torno do Sol, do mesmo modo, na relação de conhecimento, não é o sujeito que se 
orienta pelo objeto (o real), como quis a tradição, mas o objeto que é determinado pelo sujeito. 
 A Crítica da razão pura visa, assim, investigar as condições de possibilidade do 
conhecimento, ou seja, o modo pelo qual, na experiência de conhecimento, sujeito e objeto se 
relacionam e em que condições esta relação pode ser considerada legítima. "Sujeito" e "objeto" 
são, portanto, para Kant, termos relacionais, que só podem ser considerados como parte da 
relação de conhecimento, e não autonomamente. Só há objeto para o sujeito, só há sujeito se este 
se dirige ao objeto, visa apreendê-lo. 
 
 
Conhecimento resulta da contribuição da sensibilidade e do entendimento: 
 
 Na concepção kantiana, o conhecimento do objeto resulta da contribuição de duas 
faculdades de nossa mente, ou de nossa razão, a sensibilidade e o entendimento. 
 
1. A primeira parte da Critica da razão pura, a Estética Transcendental, trata da contribuição das 
formas puras da sensibilidade, as intuições de espaço e tempo, para o conhecimento. 
 
2. A segunda parte, a Analítica Transcendental, examina a contribuição dos conceitos puros do 
entendimento, as categorias, para o conhecimento, considerando ainda, nas seções relativas à 
unidade sintética da apercepção e ao esquematismo da razão pura, como sensibilidade e 
entendimento se unem para constituir a experiência cognitiva. 
 
Trata-se, portanto, da formulação de um modelo do uso da razão no conhecimento que 
procura dar conta de como se constitui este conhecimento de forma legitima, buscando assim 
 13 
evitar e superar as dificuldades e os impasses que o empirismo e o racionalismo, o materialismo 
e o idealismo enfrentavam em sua época. 
 
 
Kant e Estética Transcendental - a teoria da sensibilidade: 
 
 Kant emprega o termo "estética" ainda no sentido tradicional de análise da sensibilidade 
(do grego aisthesis) do ponto de vista do conhecimento. Sua teoria da sensibilidade, entretanto, 
não é uma teoria das sensações, ou da percepção sensível, como encontramos em Locke e Hume. 
Ao contrário, a Estética Transcendental pretende investigar as formas puras da sensibilidade, as 
intuições de espaço e tempo, precisamente como condições de possibilidade da experiênciasensível, como elementos constitutivos portanto de nossa relação com objetos enquanto 
determinados espaço-temporalmente. Kant rejeita a noção de uma intuição intelectual, que 
poderia nos dar acesso direto à essência das coisas, tal como encontramos na metafísica 
tradicional. Por definição, a essência é o incondicionado, conhecê-la seria entrar numa relação 
com a essência, a partir do quê esta deixaria de ser incondicionada. A intuição é sempre sensível, 
é o modo como os objetos se apresentam a nós no espaço e no tempo, condição de possibilidade 
para que sejam objetos. O que conhecemos não é o real, "a coisa-em-si", mas sempre o real em 
relação com o sujeito do conhecimento, isto é, o real enquanto objeto. Kant distingue assim o 
mundo dos fenômenos, a realidade de nossa experiência, do mundo do número, a realidade 
considerada em si mesma, a qual podemos pensar, mas não conhecer. 
 
 Segundo a Analítica Transcendental (§27): "Não podemos pensar nenhum objeto senão 
mediante categorias; não podemos conhecer nenhum objeto pensado senão mediante intuições 
que correspondam àqueles conceitos." E, em uma passagem famosa da Introdução, "a intuição 
sem conceitos é cega, os conceitos sem intuição são vazios". Eis o sentido do que se poderia 
denominar o "construtivismo" de Kant, a idéia de que "só conhecemos a priori das coisas o que 
nós mesmos colocamos nelas". 
 
 
 Temos assim a seguinte relação: 
 
 
sujeito objeto (fenômeno) / real (coisa-em-si) 
 
 
 A este respeito há uma passagem ilustrativa nos Prolegômenos (§13, Observação II): 
 
O idealismo consiste apenas na afirmação de que não existe outro ser senão o 
pensante; as demais coisas, que acreditamos perceber na intuição, seriam apenas 
representações nos seres pensantes, às quais não corresponderia, de fato, 
nenhum objeto fora deles. Eu afirmo, ao contrário: são-nos dadas coisas como 
objetos de nossos sentidos, existentes fora de nós, só que nada sabemos do que 
eles possam ser em si mesmos, mas conhecemos apenas seus fenômenos, isto é, 
as representações que produzem em nós ao afetarem nossos sentidos. 
 
 
Analítica Transcendental e as categorias do conhecimento: 
 
 Na Analítica Transcendental, encontramos uma consideração da contribuição dos 
conceitos puros do entendimento (as categorias) para o conhecimento. Kant apresenta aí uma 
tabela das categorias, as formas puras do entendimento, que nos permitem pensar objetos. 
 
 No § 10 lemos que: 
 
 14 
O primeiro elemento, que nos deve ser dado a priori para o conhecimento de 
todos os objetos, é o múltiplo da intuição pura; a síntese deste múltiplo, 
mediante a capacidade da imaginação, constitui o segundo elemento, mas sem 
fornecer ainda um conhecimento. Os conceitos, que dão unidade a esta síntese 
pura e consistem apenas na representação desta unidade sintética necessária, 
constituem o terceiro elemento para o conhecimento de um objeto, que aparece, 
e repousam sobre o entendimento. 
 
 
TABELA DOS JUÍZOS E CATEGORIAS 
 
Juízos (quanto a sua forma) Categorias 
1. Quantidade: 
universal: "Todo homem é mortal." 
particular: "Algum homem é mortal." 
singular: "Sócrates é mortal." 
 
unidade 
pluralidade 
totalidade 
2. Qualidade: 
afirmativo: "Todo homem é mortal." 
negativo: "Não é o caso que Sócrates é 
mortal." 
limitativo: "Sócrates é não-mortal." 
 
realidade 
negação 
 
limitação 
3. Relação: 
categórico: "Sócrates é mortal." 
hipotético: "Se..., então..." 
disjuntivo: "ou..., ou..." 
 
substância e acidente 
causalidade e dependência 
comunidade e interação 
4. Modalidade: 
problemático: "É possível que..." 
assertórico: "Sócrates é mortal." 
apodítico: "É necessário que..." 
 
possibilidade 
existência e inexistência 
necessidade e contingência 
 
 Os juízos e categorias deles derivados constituem as formas mais básicas e gerais de 
formulação de nosso pensamento. As tabelas apresentam assim uma espécie de "mapa" de nossas 
possibilidades de pensar. Os exemplos não se encontram em Kant, sendo meramente ilustrativos. 
 
 
Kant prioriza os juízos, na sua unidade e forma lógica: 
 
 Kant deriva os conceitos dos juízos, dando com isso prioridade aos juízos sobre os 
conceitos. Não pode haver nenhuma combinação de conceitos se não houver uma unidade 
originária que a permita. Dado o caráter predicativo dos conceitos, estes só podem ser entendidos 
a partir de seu papel nos juízos. Os juízos possuem uma unidade, ou seja, uma forma lógica que 
independe de seu conteúdo. Os conceitos enquanto predicados de juízos possíveis relacionam-se 
a uma representação de um objeto ainda não determinado. Assim, o conceito de corpo significa 
algo, por exemplo, um metal, que só pode ser conhecido a partir do conceito. É, portanto um 
conceito apenas por compreender outras representações através das quais se relaciona com 
objetos. É nesse sentido que é considerado predicado de um juízo possível, por exemplo: "Todo 
metal é um corpo". 
 
 Conhecimento é resultado da contribuição de três elementos: 
 
1. A sensibilidade que nos fornece os dados da experiência (o múltiplo). 
2. A imaginação que completa estes dados e os unifica. 
3. O entendimento que lhes dá unidade conceitual, permitindo-nos pensá-los. 
 
 O conhecimento resulta da contribuição desses três elementos. 
 15 
 A Dedução Transcendental visa fundamentar ou legitimar o conhecimento a partir do uso 
dos conceitos. É a explicação da maneira como conceitos a priori podem relacionar-se com 
objetos, distinguindo-a da dedução empírica, que indica a maneira como um conceito foi 
adquirido mediante experiência e reflexão sobre a mesma, e diz respeito, portanto, não à 
legitimidade, mas ao fato pelo qual obtivemos o conceito. Como exemplo: um juízo empírico 
objetivo, "Esta pedra é pesada", nós unificamos aparições através de conceitos explicitamente 
usados e da categoria inerente à sua forma lógica (neste caso, afirmativo, singular, assertórico 
etc.). Esta unificação ou síntese caracteriza-se por: 
 
1. Um múltiplo ou diverso de manifestações, percepções (dados), lembranças, imaginações. 
2. Essas manifestações são reunidas e completadas pela imaginação. 
3. Através da aplicação dos conceitos -"pedra", "pesado" - e da categoria correspondente. 
 
 Essa coleção adquire unidade sintética, referência objetiva. 
 
 Na seção (§16) sobre a unidade sintética originária da apercepção Kant mostra como 
nossas experiências devem ser sempre remetidas a um "eu penso" que lhes dá unidade. Pelo fato 
de poder conectar, em uma consciência, um múltiplo de representações dadas, é possível que o 
ser próprio se represente, nessas representações, a identidade da consciência". 
 
 
Diferente de Descartes e de Hume: 
 
 Ao contrário do que encontramos em Descartes, o "eu penso" kantiano não é puro, nem 
anterior às experiências da consciência, mas precisamente o que lhes dá unidade e não pode ser 
considerado independentemente delas. 
 Em relação a Hume, Kant afasta-se da questão de Hume sobre a identidade pessoal, que o 
teria levado a afirmar que o "eu" é apenas um "feixe de percepções"; ao contrário, para que haja 
experiências, estas têm de ser remetidas a um "eu" de que são experiências. Se o "eu" não é 
a substância pensante de Descartes, tampouco o é o "feixe de percepções" de Hume, mas 
consiste na unidade originária da consciência. 
 
 
As questões que trata a Dialética Transcendental e suas respostas: 
 
 A Dialética Transcendental trata do uso especulativo da razão, em que esta não produz 
conhecimento porque não remete a objetos de uma experiênciapossível. E nesse sentido que, 
para Kant, a metafísica tal como tradicionalmente concebida não pode ser uma ciência, não 
produzindo conhecimento efetivo do real porque não tem objetos. 
 As questões transcendentes de que trata tem respostas diferentes de outras como os da 
experiência. São elas: 
 
1. A infinitude do cosmo. 
2. A perfeição de Deus. 
3. A imortalidade da alma. 
 
Estas questões não podem ser respondidas da mesma maneira como são respondidas as 
questões da física e da matemática. 
A metafísica não tem objetos porque, por definição, Deus, o cosmo e a alma não podem 
ser objetos de minha experiência espaço-temporal, pois não se manifestam no espaço e no 
tempo. São, portanto, transcendentes, resultando de usos de conceitos aos quais não 
correspondem intuições. 
Kant examina nas antinomias e nos paralogismos da razão pura exatamente este uso 
indevido da razão, quando pretende tratar as idéias de Deus, do cosmo e da alma como se fossem 
 16 
objetos do conhecimento, produzindo conflitos e questões insolúveis (antinomias) e raciocínios 
defeituosos (paralogismos). 
A Estética e a Analítica, que contém a teoria kantiana do conhecimento, fornecem os 
critérios que permitem demarcar os usos legítimos dos usos ilegítimos da razão teórica no campo 
do conhecimento. Ao passo que as intuições e os conceitos puros são constitutivos do 
conhecimento, as idéias podem ter apenas um uso regulativo, estabelecendo metas e diretrizes 
para a investigação humana. Não são objetos do conhecimento, mas agimos como se o fossem, 
no sentido daquilo que visamos, ou a que tendemos, mesmo que não possamos efetivamente 
conhecer. 
 Contudo, já no Prefácio à primeira edição da Crítica da razão pura, Kant admitia que a 
razão humana se coloca questões que não pode evitar, porque provêm de sua própria natureza, 
mas que tampouco pode responder, porque ultrapassam totalmente sua capacidade cognitiva. Por 
isso, diz Kant, tive de suprimir o saber para dar lugar à fé. Essas questões são, no entanto, 
remetidas ao âmbito da razão prática. É o que veremos em seguida. 
 
 
3. A filosofia moral de Kant - Critica da razão prática. 
 
 As três principais obras de Kant sobre questões éticas, que para ele pertencem a outra 
dimensão de nossa racionalidade, a razão prática e não à razão teórica, são: 
 
1. Fundamentação da metafísica dos costumes (1785). 
2. Crítica da razão prática (1788). 
3. Metafísica dos costumes (1797). 
 
As duas primeiras que tratam da ética no sentido puro. 
 
 A terceira que consiste numa tentativa de aplicação dos princípios éticos. 
 
 Pretende considerar, portanto, o homem não como sujeito do conhecimento, mas como 
agente livre e racional. 
 
 
Os dois domínios, da razão prática e da razão teórica: 
 
 É no domínio da razão prática, na visão de Kant, que somos livres, isto é, que se põe a 
questão da liberdade e da moralidade. 
 Enquanto no domínio da razão teórica, do conhecimento, somos limitados por nossa 
própria estrutura cognitiva. 
 Segundo essa concepção, a ética é, no entanto, estritamente racional, bem como 
universal, no sentido de que não está restrita a preceitos de caráter pessoal ou subjetivos, nem a 
hábitos e práticas culturais ou sociais. Os princípios éticos são derivados da racionalidade 
humana. A moralidade trata assim do uso prático e livre da razão. Os princípios da razão prática 
são leis universais que definem nossos deveres. Portanto, os princípios morais resultam da razão 
prática e se aplicam a todos os indivíduos em qualquer circunstância. Pode-se considerar assim a 
ética kantiana como uma ética do dever, ou seja, uma ética prescritiva. 
 No mundo dos fenômenos, da realidade natural, tudo depende de uma determinação 
causal. Ora, se o homem é parte da natureza e as ações humanas ocorrem no mundo natural, 
então suas ações seguem uma determinação causal e o homem não é livre nem responsável por 
seus atos. Porém, o homem é essencialmente um ser racional e por isso se distingue da ordem 
natural, não estando, no campo do agir moral, submetido às leis causais, mas sim aos princípios 
morais derivados de sua razão, ao dever, portanto. É este o sentido da liberdade humana no plano 
moral. A moral é assim independente do mundo da natureza. No campo do conhecimento, Kant 
 17 
parte da existência da ciência para investigar suas condições de possibilidade; no campo da ética, 
parte da existência da consciência moral para estabelecer seus princípios. 
 
 
 
Objetivo estabelecer princípios universais e imutáveis: 
 
 O objetivo fundamental de Kant é, portanto, estabelecer os princípios a priori, ou seja, 
universais e imutáveis, da moral. Seu foco é o agente moral, suas intenções e motivos. O dever 
consiste na obediência a uma lei que se impõe universalmente a todos os seres racionais. 
 Eis o sentido do imperativo categórico (ou absoluto): "Age de tal forma que sua ação 
possa ser considerada como norma universal." Toda ação exige a antecipação de um fim, o ser 
humano deve agir como se este fim fosse realizável. Daí a acusação de "formalismo ético" 
freqüentemente lançada contra Kant, já que este princípio não estabelece o que se deve fazer, 
mas apenas um critério geral para o agir ético, sendo este precisamente o seu objetivo. 
 Os imperativos hipotéticos, por sua vez, têm um caráter prático, estabelecendo uma regra 
para a realização de um fim, como: "Se você quiser ter credibilidade, cumpra suas promessas". 
 Segundo Kant, a noção de busca da felicidade, que fundamenta por exemplo as éticas do 
período helenístico, como a estóica e a epicuristas, é insuficiente como fundamento da moral, 
porque o conceito de felicidade é variável, dependendo de fatores subjetivos, psicológicos, ao 
passo que a lei moral é invariante, universal; por isso seu fundamento é o dever. 
 Na concepção kantiana, a razão prática pressupõe uma crença em Deus, na liberdade e na 
imortalidade da alma, que funcionam como ideais ou princípios regulativos. A crença em Deus é 
o que possibilita o supremo bem, recompensar a virtude com a felicidade. A imortalidade da 
alma é necessária, já que neste mundo virtude e felicidade não coincidem, e a liberdade é um 
pressuposto do imperativo categórico, libertando-nos de nossas inclinações e desejos, uma vez 
que o dever supõe o poder fazer algo. 
 
 
Critica do Juízo, atividade intermediária: 
 
 Na terceira crítica, a Crítica do juízo (ou Da faculdade de julgar, 1790), Kant pretende 
analisar os juízos de gosto, fundamento da estética (no sentido de arte), e os juízos teleológicos 
(de finalidade). 
 Seu objetivo principal é superar a dicotomia anterior entre razão teórica (ou cognitiva) e 
prática (ou moral), considerando a faculdade do juízo como uma faculdade intermediária. Kant 
examina nessa obra a idéia da natureza como dotada de um propósito ou finalidade. A beleza, na 
medida em que tem um sentido estético, é definida como "uma finalidade sem fim". 
 Kant considera que o juízo estético, ou seja, o juízo de gosto, não pode ser simplesmente 
subjetivo, devendo ser, em princípio, dotado de objetividade e universalidade. 
 Isso suscita questões: 
 Como é possível, entretanto, a objetividade e universalidade do juízo estético? 
 Como conciliar o sentimento de beleza com o caráter conceitual de um juízo? 
 Segundo a Crítica do juízo, o juízo estético tem como objeto algo de particular, 
considerado em si mesmo, sem nenhum interesse específico por parte do sujeito além da 
consideração do próprio particular. É esta ausência de interesse que garante sua objetividade e 
universalidade. 
 
 
Influência da filosofia Kantiana: 
 
 Foi grande a influência da filosofiakantiana. O período que se segue à sua morte na 
Alemanha foi conhecido pela história da filosofia como idealismo alemão pós-kantiano, devido 
 18 
ao desenvolvimento de sua filosofia por pensadores como Fichte e Schelling, em um sentido 
essencialmente idealista. 
 A Crítica do juízo exerceu uma forte influência sobre a estética do romantismo alemão. 
Hegel criticou a concepção kantiana de consciência e subjetividade, procurando, no entanto, 
levar adiante seu projeto de uma filosofia crítica. 
 A Crítica da razão pura foi talvez sua obra mais influente ao longo do século XIX e início 
do século XX pelo modelo de uma teoria do conhecimento que propõe, por sua formulação da 
questão da possibilidade da fundamentação da ciência e pela demarcação entre o conhecimento e 
a metafísica, pontos estes que serão desenvolvidos sobretudo pelos neo-kantianos da escola de 
Marburgo, dentre os quais destacou-se Ernst Cassirer (1874-1945). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
 
HESSEN, J. Teoria do Conhecimento. São Paulo, 2003: Martins Fontes. 
COMTE- SPONVILLE, André, Dicionário Filosófico. São Paulo, 2003: Martins Fontes. 
HUISMAN. Denis. Dicionário dos Filósofos. São Paulo, 2004: Martins Fontes. 
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio 
de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 
ARANHA, Maria e MARTINS, Maria. Filosofando: Introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 
2004.

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