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1 A INTERAÇÃO VERBAL SOB O VIÉS DO CÍRCULO DE BAKNTIN

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1 A INTERAÇÃO VERBAL SOB O VIÉS DO CÍRCULO DE BAKHTIN
	A linguagem é essencial para o ser humano, e por ela que demonstramos sentimentos, ou seja, expressa-se através da fala, ou da escrita, até mesmo de outras formas convencionais, e por se definida como essencial a mesma não deve apenas ser sujeita de estudo de ciências lingüísticas, esta deve ser direcionada como uma realidade definidora da própria condição humana. Cita Duarte (2002, p. 12) 
A linguagem pode ser considerada como a capacidade estritamente humana capaz de manifestar algo, visando à expressão de sentimentos, à manifestação de desejos e opiniões, à troca de informações entre diferentes culturas, dentre outros procedimentos. 
A linguagem fundamenta-se na troca de informações, não apenas no modo formal, mas, no informal, na interação verbal que se faz entre os indivíduos. Bakhtin alcançou a lingüística com seu trabalho de identificar a natureza social da linguagem. Bakhtin (1986) a linguagem é uma prática social cotidiana que envolve a experiência do relacionamento entre sujeitos, e que a língua concretiza as atividades humanas, e nela os enunciados, sejam eles, orais, escritos, concretos ou únicos, reflete as condições e finalidade de cada uma dessa, não apenas pelo conteúdo temático ou verbal, mas, pela sua construção composicional. E importante dizer que a linguagem desenvolve-se por meio de troca, transformando essas trocas em concretizações da língua, salienta-se que a fala não precisa ser formal para concretiza-se, mas, que os envolvidos nos processo da comunicação precisam entender o que se diz e o que quer passar aos outros.
Na interação verbal Bakhtin rompe com o modelo de que o processo comunicativo e que seus protagonistas (receptor, interlocutor e ouvinte) apenas sejam pautados numa teoria de informação mecanicista, ele tenta trazer para o centro da cena dos estudos lingüísticos a noção de comunicação social, este considera que a interação verbal entre os falantes que se expressam constroem dessa forma a conversação ou correspondência, e se comunicam e negociam significados, expressando assim, argumentos que satisfazem a comunicação entre os integrantes. 
Na interação por meio do diálogo, Barros (1996), coaduna com Bakhtin quando se refere que o emissor e o receptor não podem ser considerados como caixas ou casas vazias de emissão e recepção de mensagens, estes precisam ser reconhecidos como sujeitos “plenos” ou “preenchidos”. Desse modo, e notório saber que a língua tem um caráter verdadeiramente social, onde os envolvidos trazem consigo historias e ideologias que são vivenciadas no cotidiano.
A interação verbal que ocorre com determinado grupo, tem como finalidade passar uma mensagem significativa, é a prática da análise lingüística. Vale salientar que o círculo de Bakhtin e Volochinov tem como foco os seguintes modelos lingüísticos como relembra Leviski (2016, p. 02)
Objetivismo abstrato, em que se defende a ideia de que a língua é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas ou sistema de signos, tendo como principal referência os postulados de Saussure; por sua vez, ante a perspectiva do subjetivismo idealista a língua é apreendida como expressão monológica isolada ou como representação mental. Sob o olhar teórico-metodológico do Círculo, a língua não é vista como estrutura imanente, nem como pensamento psíquico, antes é fundamentado por uma concepção dialógica sócio-histórica. 
Na proposta do Círculo de Bakhtin o enunciado é formulado como unidade da comunicação verbal, em oposição à oração/frase como unidade da língua, sendo que, durante a enunciação coexistem ações responsivas, intersubjetivas e dialógicas com os enunciados dos outros. Afirma Pinheiro (2009, p. 01) que a linguagem pelo círculo de Bakhtin é como um constante processo de interação mediado pelo diálogo e não apenas como um sistema autônomo. 
Então, o ato da lingüística é igualmente o ato artístico, pois, em ambos tem como direcionamento a expressão de sentimentos, então, a linguagem tende a seguir um caminho sociológico, onde o sujeito se define pelas relações sociais que se estabelece com os seus interlocutores, da qual a língua por meio de suas manifestações sejam elas por meio de palavras ou gestos tem duas faces, onde Bakhtin destaca que ficam mais bem esclarecidas com a noção de atitude responsiva ativa, que consiste na reação e/ou reações em que o locutor apresenta para o seu interlocutor nas situações comunicativas, desse modo, e como uma réplica ocasionando o aparecimento de uma resposta.
A evolução da língua se torna evidente quando se analisa a mesma sob o ângulo de que esta como um processo contínuo, a linguagem não é apenas tratada como um objeto de reflexão filosófica, mas como um estudo que se veicula a função construtiva da linguagem, deste modo, Bakhtin (1995, p. 124) conclui que a ordem metodológica para o estudo da língua deve ocorrer da seguinte maneira:
1º) “As formas e os tipos de interação verbal em ligação com as condições concretas em que se realiza”.
2º) “As formas das distintas enunciações, dos atos de fala isolados, em ligação estreita com a interação de que constituem os elementos, isto é, as categorias de atos de fala na vida e na criação ideológica que se prestam a uma determinação pela interação verbal”.
3º) “A partir daí, exame das formas da língua na sua interpretação lingüística habitual”.
	A língua então se desenvolve e evolui nessa ordem, da qual primeiramente, se tem as relações sociais, e no segundo momento, ocorre à comunicação e a interação verbal onde acontece nas relações sociais, e nesse instante ocorre à ação da fala entre os envolvidos que em consequência gera a interação verbal, neste processo reflete a mudança de formas da língua. Vale salientar, que a palavra na interação verbal ocorre com a inclusão desta no contexto social, assim, o que é dito ou o que esta se ouvindo ou lendo, deve-se chegar com sentido, e por ser inserido no contexto social as palavras e seus sentidos são determinadas pelos seus contextos, e o contexto de uma única palavra pode ser oposto, isso porque não se recebe uma linguagem pronta, mas, como indivíduo organiza-se a mesma de acordo com a natureza social.
	  Pela concepção da linguagem transformam-se caminhos significativos que contesta a unilateralidade, partindo então de um processo dialógico-interativa. Silva; Almeida (2013) no circulo de Bakhtin aponta-se os gêneros discursivos sendo dividido em primário e secundário, o primário equivale à vida cotidiana abrangendo o diálogo oral que se faz com famílias, amigos, reuniões sociais e replicas de diálogos, enquanto a segunda envolve a troca cultural, podendo ser de teor artístico, cientifico, sócio-político, este apresentam uma estrutura mais complexa enquanto discursos literários, ideológicos e científicos. Deste modo, ressalta-se que os gêneros discursivos são inesgotáveis e procuram cada vez mais atender uma situação social de interação, sendo que o gênero depende diretamente da habilidade do sujeito falante em saber transmitir a subjetividade. 
	Dessa forma, a linguagem não é neutra, não existindo um sujeito idealista, pois, na interação verbal defendem-se as condições contextuais, mostrando que a linguagem e sua evolução acontecem através dos indivíduos e de suas vivencias, então, deste modo representa o campo da linguagem como sendo de múltiplos sentidos, onde há encontros e desencontros, construindo o sujeito social em permanente comunicação com os demais.
REFERÊNCIAS
BARROS. G. L. P de. (1996). Contribuições de Bakhtin às teorias do texto e do discurso.  In: FARACO. C. A; TEZZA. C; CASTRO. G de. (Orgs). Diálogos com Bakhtin. Paraná: UFPR, 1996.
BAKHTIN, M. (VOLOCHÍNOV) (1929) Marxismo e filosofia da linguagem. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1986.
____________. (1973-1977). A interação verbal. In: BAKHTIN. M. Marxismo e filosofia da linguagem. (tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira) São Paulo: Hucitec, 1995.
DUARTE. Vânia Maria do Nascimento.Linguagem, língua e fala. Disponível em http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/linguagem-lingua-fala.htm Acesso em: 23/07/2017.
LEVISKI. Charlott Eloize. Dialágos entre a teoria da enunciação de Bakhtin e a prática de análise lingüística. RevLet – Revista Virtual de Letras, v. 08, nº 01, jan/jul, 2016 ISSN: 2176-9125. Disponível em: http://www.revlet.com.br/artigos/353.pdf. Acesso em: 21/07/2017.
PINHEIRO. Tatiana. Mikhail Bakhtin, O filósofo do diálogo. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1621/mikhail-bakhtin-o-filosofo-do-dialogo. Acesso em: 24/07/2017
SILVA. Rivaldete Oliveira; ALMEIDA. Maria de Fátima. Análise da interação verbal na Teoria Bakhtiniana. Macabéa – Revista Eletrônica do Netlli / V. 2, N.1., jun. 2013, p. 117-127. Disponível em: http://periodicos.urca.br/ojs/index.php/MacREN. Acesso em: 23/07/2017.

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