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Ciência Política para Administração BOM

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CIÊNCIA 
 
 
POLÍTICA 
 
 
PARA 
 
 
O CURSO DE ADMINISTRAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ailton Guimarães
1
 
 
 
1
 Mestre em Economia de Empresas pela UCB - Universidade Católica de Brasília; Especialista 
em Finanças pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina e Especialista em 
Controladoria pela Faculdade Tibiriçá/SP. 
 1 
SUMÁRIO 
 
1. PARTE I - CAPÍTULO 1, página 2. 
Significado e objeto da Política. 
Evolução Histórica do Pensamento Político. 
Pensamento Político Contemporâneo. 
 
2. PARTE I - CAPÍTULO 2, página 22. 
Evolução Histórica do Pensamento Político. 
Grécia. Roma. Maquiavel. 
Maquiavel e a Administração. 
Pensamento Político Contemporâneo. 
 
3. PARTE I - CAPÍTULO 3, página 49. 
Poder e sociedade. Conceito de poder. 
Tipos e fontes de poder. 
Maquiavel e o poder político. 
Legitimidade e legalidade do poder político. 
Teoria das elites. As elites e o poder. 
 
4. PARTE I - CAPITULO 4, página 62. 
Concepção e evolução de Estado. 
O Estado Moderno. 
Teorias sobre a origem do Estado. 
Burocracia. Burocracia e poder. 
A estrutura burocrática das empresas capitalistas. 
 
5. PARTE II - CAPITULO 5, página 72. 
Política, poder e Administração. 
Liderança e poder. 
Dependência, a chave do poder. Táticas de poder 
O poder em ação, o comportamento político. 
 
6. PARTE II - CAPITULO 6, página 80. 
Teorias contratualistas. 
Economia Política. 
Poder político e o poder econômico. 
Intervenção do Estado na economia. 
 
7. PARTE II - CAPITULO 7, página 100. 
Teoria dos jogos. História. Conceitos. Importância. 
Teoria da escolha Racional. 
O poder do eleitor. 
Teoria das votações. 
Teorema do eleitor mediano. 
O jogo do apadrinhamento. 
 2 
CAPITULO I 
 
O que veremos neste capítulo: 
 Significado e objeto da Política. 
 Evolução Histórica do Pensamento Político. 
 Pensamento Político Contemporâneo. 
 
 
“O homem é um animal político” 
Aristóteles 
1. Introdução 
O estudo da ciência política permite-nos conhecer o exercício e 
organização do poder em uma sociedade. Além disso, através desta ciência 
social, podemos ver como acontece a distribuição e transferência de poder em 
processos de tomada de decisão. 
Estes processos de distribuição e transferência de poder 
envolvem, normalmente, interesses contraditórios, e a ciência política é o veiculo 
apropriado para entendermos estes processos. 
A ciência política faz parte das ciências humanas, pois analisa o 
Estado, a soberania, a hegemonia, os regimes políticos, os governos, as linhas 
históricas destas partes da política nos países desde a antiguidade até hoje e a 
influência que têm sobre a sociedade incluindo as Relações internacionais. É 
frequentemente um exemplo aplicado na Teoria dos jogos e sob este prisma 
podemos avaliar os ganhos - como o lucro privado de pessoas ou das empresas 
ou da sociedade (o desenvolvimento econômico) - e as perdas - como o 
empobrecimento de pessoas ou da sociedade (Corrupção política) - como 
resultados de uma luta ou de um jogo em que existem regras não explícitas que 
a pesquisa deve explicitar. 
A ciência política tem relação com diversos campos do 
conhecimento, como os sistemas políticos, ideologia, teoria dos jogos, economia 
política, geopolítica, análise de políticas públicas, relações internacionais, 
 3 
análise de relações exteriores, estudos de administração pública e governo, 
processo legislativo e outros. 
 
2. Definição 
O termo ciência política foi cunhado em 1880 por Herbert Baxter 
Adams, professor de História da Universidade Johns Hopkins. Significa o estudo 
da política. 
Mas o que é política? 
Segundo Dias (2011), a definição do termo política foi dada 
pelos gregos. Este povo vivia em cidades ou estados conhecidos como polis. Do 
termo polis vem os adjetivos "politiké" (política em geral) e "politikós" (dos 
cidadãos, pertencente aos cidadãos). 
Ainda segundo Dias, o termo política é usado também para 
representar uma atividade ou conjunto de atividades que tem como referência a 
polis ou, em outras palavras, o Estado. 
Max Weber, citado por Dias (2011), diz que o conceito da 
palavra política é bastante amplo e abrangente. O termo pode ser usado para 
indicar a política de desconto de um banco, política de greve de um sindicato, 
política da diretoria de uma associação e, até, da política de uma esposa para 
controlar o marido. Para Weber, política é o conjunto de esforços feitos com 
vistas a participar ou influenciar a divisão do poder. 
Política também significa a arte ou ciência da organização, 
direção e administração de nações ou Estados. Nesse sentido temos a política 
interna - aplicação desta ciência aos negócios internos da nação - e política 
externa - referente aos negócios externos. 
 
2.1 Outros significados 
No sentido mais simples, política representa a arte de guiar ou 
influenciar o modo de governo pela organização de um partido político, pela 
influência da opinião pública, pela aliciação de eleitores. 
 4 
Para Hobbes, política consiste nos meios adequados à obtenção 
de qualquer vantagem. 
Já Rousseau, ensina que política é o conjunto dos meios que 
permitem alcançar os efeitos desejados. 
Enquanto que para Maquiavel, política é a arte de conquistar, 
manter e exercer o poder, o governo. 
Política pode ser ainda a orientação ou a atitude de um governo 
em relação a certos assuntos e problemas de interesse público: política 
financeira, política educacional, política social, política do café com leite. 
Dos diversos significados podemos inferir que política pode ser 
entendida como tudo aquilo que acontece nas relações sociais e que envolve 
poder. Sendo assim, os conceitos mais apropriados para o nosso curso são: 
1) Política é a arte ou ciência da organização, direção e 
administração de nações e Estados; 
2) Política é o conjunto de esforços feitos com vistas a participar 
ou influenciar a divisão do poder. 
Dessa forma, podemos relacionar a política e suas aplicações 
nos negócios privados (empresas) e reescrever: 
Política significa a arte ou ciência da organização, direção e 
administração de nações ou Estados e empresas. 
 
2.2 Objeto da ciência política 
Em 1948 a UNESCO – Organização para a Educação, a 
Ciência, e a Cultura das Nações Unidas – promoveu um encontro entre 
cientistas políticos com o objetivo de estabelecer o objeto da disciplina Ciência 
Política. Duas posições se destacaram: 
1) a que defendia que a ciência política tem como o objeto do 
estudo o poder; e. 
2) a que defendia que o objeto de estudo da ciência política é o 
Estado. 
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Não havendo consenso, a UNESCO elaborou um rol de objetos 
de estudos. Estes objetivos foram divididos em quatro grandes áreas. Vejamos: 
Área I – Teoria política 
a) Teoria política 
b) História das idéias políticas 
Área II – Instituições políticas 
a) A constituição 
b) O governo central 
c) O governo regional e local 
d) A administração pública 
e) As funções econômicas e sociais do governo 
Área III – Partidos Grupos e Opinião Pública 
a) Os partidos políticos 
b) Os grupos e associações 
c) A participação do cidadão no governo e na administração 
d) A opinião pública 
Área IV – As relações internacionais 
a) A política internacional 
b) Os organismos internacionais 
c) O direito internacional 
Esta sugestão da UNESCO não esgota os objetos de estudo da 
ciência política, pois muitos autores apontam outros focos de observação. 
 
3. Sistema político 
Um sistema político é definido por Robert Dahl, citado por Dias 
(2011), como qualquerpadrão permanente de relações humanas que implique 
de maneira significativa, em poder, governo ou autoridade. 
Este sistema tem as seguintes características: 
a) Controle desigual dos recursos políticos 
Recurso político é meio pelo qual uma pessoa consegue influenciar o 
comportamento de outras pessoas. Em geral os recursos políticos - 
 6 
representados por dinheiro, informação, alimento, empregos, amizade, posição 
social, direito de elaborar leis ou votos - são distribuídos de maneira desigual. 
b) Busca de influência política 
 A busca da influência política acontece quando um membro do sistema procura 
adquirir controle sobre as diretrizes, regras e decisões determinadas pelo 
governo. 
c) Distribuição desigual da influência política 
A distribuição desigual da influência política, em geral, está relacionada com o 
controle desigual ou o uso eficiente dos recursos políticos. 
d) Objetivos conflituosos 
Conflito e consenso são aspectos presentes e importantes de qualquer sistema 
político, pois os membros do sistema nem sempre tem os mesmo pensamentos. 
e) Aquisição de legitimidade 
A legitimidade é o meio pelo qual os líderes de um sistema político procuram 
transformar sua influência em autoridade. A legitimidade pode ser conseguida 
por meio da força, mas também por meio da convicção. 
f) Desenvolvimento de uma ideologia 
Ideologia é um conjunto de doutrinas (princípios). Nos sistemas políticos, 
normalmente os líderes procuram desenvolver ou adotar uma ideologia para 
legitimar sua liderança. 
g) Impacto de outros sistemas políticos 
O comportamento de um sistema político é, em geral, influenciado pela 
existência de outros sistemas políticos. 
h) Influência da mudança 
O comportamento de um sistema político é, em geral, influenciado pela 
existência de outros sistemas políticos. 
 
4. As origens do pensamento político 
È consenso entre os estudiosos da ciência política que a Grécia 
é o berço do pensamento político. A política tinha uma importância muito grande 
para os gregos e é lá que surgem os primeiros mestres desta ciência. 
 7 
4.1 Os sofistas 
Os primeiros mestres ou especialmente o primeiro grupo de 
pensadores políticos foram os sofistas. 
Sofística era originalmente o termo dado às técnicas ensinadas 
por um grupo altamente respeitado de professores retóricos na Grécia antiga. 
Protágoras, Górgias e Prodico foram os principais expoentes deste grupo de 
pensadores que defendia a ideia de que o homem é a medida de todas as 
coisas e que cada individuo podia definir, de acordo com suas crenças, o que 
era direito. 
Esta ideia expressa o sentido de que o ser humano não deve 
adequar-se aos padrões estabelecidos sem contestação, mas sim moldar-se 
segundo a sua liberdade. 
Os sofistas são considerados os primeiros advogados do 
mundo, pois cobravam de seus clientes (discípulos) para efetuar suas defesas, 
dada sua alta capacidade de argumentação. 
 
4.2 Platão 
Platão é considerado um dos primeiros filósofos políticos. As 
idéias de Platão sugerem que as pessoas devem se sujeitar a um governo 
composto dos melhores indivíduos. 
Platão considerava que a política como a arte de tornar os 
homens mais justos e virtuosos. 
Sua obra mais importante é “A república” (Escreveu também “O 
político e As leis”.) onde defende que a autoridade governamental tem que estar 
associada à cultura e ao conhecimento mais amplo, e que o filosofo deve ser o 
homem de Estado. 
 
4.3 Aristóteles 
Aristóteles foi discípulo de Platão. Entretanto, difere bastante do 
mestre no que diz respeito ao método e os pontos de vista sobre o sistema 
político. 
 8 
Aristóteles defendeu a ideia de que a ciência política tem como 
principal objetivo a busca do bem estar comum. Neste sentido, o Estado é o 
meio adequado para satisfazer as necessidades intelectuais e morais dos 
homens. Somente através do Estado o homem poderia alcançar seus fins 
essenciais. Para ele o homem era um animal político (zoon politikón). Fora da 
vida social o homem seria considerado uma besta. 
Para Aristóteles cada individuo teria sua função no Estado 
segundo suas aptidões. Assim, os homens aptos para governar seriam aqueles 
dotados de altas condições espirituais. Os que tinham somente vigor físico e 
pouca cultura não poderiam governar. Desta forma a escravidão seria útil e 
benéfica para todos. 
Segundo Aristóteles há uma diferença clara entre Estado e 
governo. O Estado é representado pelo total dos cidadãos, enquanto o governo 
é o exercício daqueles que, ocupando os postos públicos e detendo o poder, 
ordenam e regulam a vida dos outros. 
 
5. Maquiavel 
Além dos clássicos gregos muitos autores contribuíram para o 
desenvolvimento da ciência política. No entanto, cabe destacar os ensinamentos 
Nicolau Maquiavel. 
A partir de sua obra “O Príncipe” a política passa a ser 
entendida como um conjunto de técnicas, táticas e estratégias em função do 
poder. 
 
6. Karl Marx 
Marx também dá uma importante contribuição à teoria política 
com sua visão materialista da história. Para Marx, os fatores econômicos 
determinam as mudanças na vida das pessoas. 
 
7. Os contratualistas 
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Hobbes, Locke e Rousseau também são importantes fontes de 
estudo de política, principalmente no que se refere a constituição do Estado. 
 
8. A igreja e a concepção do Estado 
Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino são os pensadores 
cristãos que mais se destacaram no estudo do poder político, em especial no 
estudo do poder político. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia 
Dias, Reinaldo. Ciência Política. São Paulo: Editora Atlas, 1ª ed. 2011. 
 
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Textos para discussão 
 
Política e Gestão Empresarial 
Gutemberg B. de Macêdo - 29.10.2010 - http://www.oprincipiodasabedoria.com/?p=312 
 
 “Se você deseja uma descrição de nossa era, eis aqui uma: a civilização dos 
meios sem os fins; opulenta em meios para além de qualquer outra época, e 
quase para além das necessidades humanas, mas esbanjando-os e utilizando-
os mal porque não possui nenhum ideal soberano; um vasto corpo com uma 
alma esquálida.” R. W. Livingston, 1880-1960 - Escritor inglês 
 
O conhecimento e a prática da ciência política nos dias atuais é imprescindível e 
insubstituível. Nenhum profissional deveria se abster, sob qualquer justificativa, 
de exercer os seus deveres de cidadãos em todos os instantes de sua vida. E, 
mais importante ainda, nenhum profissional, por mais preparado que seja, 
deveria assumir uma posição de liderança se não a conhecesse e a dominasse 
em profundidade. 
 
A ausência desse conhecimento e de sua prática no dia-a-dia de suas atividades 
é a responsável pelo avanço dos maus políticos e das políticas governamentais 
comprovadamente equivocadas. 
 
Eis alguns dos motivos: 
 
1 - O homem é um ser eminentemente político. Portanto, o profissional que não 
se ocupa do estudo e da prática da ciência política, já tomou a decisão política 
de que gostaria de ter-se poupado: serve a classe política dominante e contribui 
para a proliferação e avanço de pseudos líderes – governantes despreparados, 
populistas e corruptos. 
 
2 - A intervenção dos governantes em todos os campos das atividades 
humanas. Nesse caso, quando tremendos poderes se concentram nas mãos de 
alguns poucos políticos e nenhum profissional é capaz de compreender as 
conseqüências desastrosas dessa tendência, a sociedade está prestes à 
mergulhar num sistema ditatorial sem que ao menos percebam. [...] 
 
3 - A maioria absoluta dos brasileiros jamais leu ou estudou a constituição de 
seu país. São cidadãos cegos efáceis de serem manipulados. Eles não sabem 
quais são os seus verdadeiros deveres e direitos constitucionais. E, por não 
saberem quais são eles, se tornam cidadãos de terceira categoria e sujeitos a 
serem influenciados e governados por políticos corruptos, despreparados, 
mentirosos e populistas. 
 
4 - O Brasil está enterrando rápida e sorrateiramente todos os seus valores, se é 
que eles existiram algum dia ao longo de sua história republicana. A avaliação 
internacional do povo brasileiro, na questão de ser capaz de perceber a 
 11 
corrupção, e de se insurgir contra ela, chega a ser constrangedora e vergonhosa 
para homens e mulheres com princípios éticos e morais. [...] 
 
5 - É um erro muito comum entre os cidadãos de acreditar que aqueles que 
fazem mais barulho ao se lamentar a favor do público sejam os mais 
preocupados com o seu bem-estar. Na verdade, a maioria deles se vale da 
causa alheia para defender, proteger e manter os seus interesses pessoais e 
mesquinhos. R. Hooker, teólogo anglicano, 1554-1600, “Of the Laws of 
Ecclesiastical Polity”, I, 1, escreveu: “Quem tenta convencer uma multidão de 
que ela não está sendo tão bem governada como deveria, nunca deixará de ter 
ouvintes atentos e favoráveis.” 
 
6 - Aqui, vale lembrar as sábias palavras do político alemão e o grande líder da 
resistência alemã ao nazismo, Konrad Adenauer, 1876-1967, “É muito 
importante que a tarefa da oposição seja exercida por um grande partido, fixado 
em bases democráticas”… Considero que uma boa oposição num parlamento 
seja uma necessidade absoluta; sem uma oposição realmente boa, cria-se 
acescência e esterilidade. Infelizmente, no Brasil não há oposição e, mais triste 
ainda, o Congresso Nacional se tornou um grande balcão de negócios e Brasília, 
um grande shopping center de barganhas políticas fétidas. 
 
À luz dessas considerações, qual o caminho proposto às empresas e aos seus 
profissionais? 
 
Primeiro – Colocar os holofotes sobre os reais problemas do país que são bem 
diferentes dos comumente propalados pelos governantes na televisão. Estamos 
muito mal colocados no ranking de desenvolvimento humano e qualidade de 
vida e assistimos passivamente a deterioração, obsolescência e 
desindustrialização do país, enquanto outros países estão se desenvolvendo 
rapidamente. 
 
Segundo – Promover a valorização da educação e do conhecimento em todos 
os níveis sociais como únicas fontes de emancipação da mente. Quem leu a 
entrevista dada pelo reitor da Universidade de São Paulo à revista Veja, 27 de 
outubro de 2010, deve ter ficado assombrado como algumas de suas 
afirmações: “Nossas universidades ainda são medievais perto das novas 
exigências;” “O ensino superior no Brasil está hoje em nível semelhante ao dos 
Estados Unidos um século atrás,” entre tantas outras. 
 
Terceiro – Empresários e executivos deveriam promover em suas empresas 
cursos sobre a ciência política, a fim de afastar de seu meio a ignorância, a 
influencia de líderes sindicais corruptos, autoritários, truculentos e sem nenhum 
compromisso com a democracia. 
 
Quarto – Empresários e executivos não deveriam ficar passivos diante dos 
discursos demagógicos de líderes políticos e sindicais que pregam um 
 12 
socialismo barato e de fachada. E, além disso, atribuem todos os males da 
sociedade moderna ao capitalismo. É bom frisar, não existe desenvolvimento, 
progresso, inovação e sustentabilidade sem riqueza. [...] 
 
Quinto – Promover a competição entre todos os setores da economia é vital 
para o desenvolvimento do país. A sociedade não pode continuar pagando 
impostos para pagar salários e benefícios a uma classe de profissionais que 
pouco contribui para o aprimoramento das instituições públicas e dos serviços 
que prestam. Estão aparelhando o estado e inchando a máquina do governo e 
ela se apresenta cada vez mais ineficiente. Mas poucos falam contra esse 
desmando. Continuamos como nos dias do jurista Rui Barbosa a procurar os 
cargos para os homens e não os homens para os cargos. 
 
O melhor exemplo que encontrei na história foi dado pelo general Robert Wood 
Johnson, ex-Chief Executive Officer da Johnson & Johnson, que diante dos 
problemas que assolavam os Estados Unidos em seus dias, implementou em 
sua organização, na década de quarenta, um programa de consciência e 
preparo político para todos os seus colaboradores. A sua premissa era: 
“No man in business can be successful unless he has some knowledge of 
practical politics.” (Nenhum homem poder ser bem sucedido no mundo dos 
negócios a menos que tenha algum conhecimento prático de política) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 13 
O homem e a máquina 
Cristiane Mano - São Paulo – Revista Exame – Edição 1.005 – 30.11.2011. pág. 
48 
 
Mesmo para os padrões brasileiros, poucas vezes na história os políticos 
causaram tanta repulsa — mais do que justificada, diga-se — quanto agora. A 
sequência de escândalos de corrupção já derrubou cinco ministros da presidente 
Dilma Rousseff, o sexto está cada vez mais enrolado em suas próprias mentiras 
e, agora, a bolsa de apostas se sofisticou — especula-se não somente quais os 
próximos da lista mas também a ordem com que seguirão para o cadafalso. 
Brasília nunca mereceu tanto a alcunha de ilha da fantasia, um lugar onde 
uma minoria parece conspirar diariamente para sugar o dinheiro de quem 
trabalha. Tudo, lá, opera a favor do “malfeito”, para usar uma expressão cara à 
presidente. Temos quase 40 ministérios. Quase 1 milhão de pessoas trabalham 
para o governo federal, das quais 20 000 são apadrinhadas nos chamados 
“cargos de confiança”. 
O orçamento do governo federal é de invejáveis 2 trilhões de reais, o que 
faz do mandatário brasileiro uma das pessoas que mais movimentam recursos 
em todo o mundo. Essa montanha de dinheiro circulando num ambiente de 
pouca transparência, em meio a um sistema político sedento por recursos, só 
podia dar no que deu. 
O Brasil é o 69º país mais corrupto da atualidade, segundo um ranking 
elaborado pela ONG Transparência Internacional. Temos uma das maiores 
cargas tributárias do mundo — sem que isso se materialize em serviços públicos 
de padrão digno. No relatório mais recente do Banco Mundial, divulgado em 
julho, o Brasil aparece na posição 136 entre 142 nações analisadas no quesito 
de qualidade de gastos do governo. 
O orçamento trilionário do governo é incapaz de financiar uma 
infraestrutura compatível com o tamanho de nossa economia. A máquina pública 
brasileira suga muito e devolve pouco, dando um exemplo de improdutividade e 
ineficiência que extrapola os limites das repartições, impõe travas ao 
crescimento e não serve o cidadão. 
 14 
Mais de 15 anos atrás, o Brasil conseguiu vencer a instabilidade 
econômica, com as consequências que todos nós conhecemos. Agora, parece 
ser consenso que um novo salto do país só será possível se conseguirmos 
vencer o enorme desafio da melhoria da gestão pública. “O Brasil que 
estabilizou a moeda e voltou a crescer se vê obrigado, agora, a se tornar mais 
eficiente”, diz o cientista político Murillo de Aragão. 
Hoje, o rosto que melhor personifica essa busca é o do empresário Jorge 
Gerdau Johannpeter. Durante 56 anos de trabalho na iniciativa privada, Gerdau 
ajudou a construir o 12º maior grupo empresarial brasileiro, um conjunto de 
empresas ligadas à área siderúrgica espalhadas hoje por 14 países, com 45 000 
funcionários e um faturamento global de 37 bilhões de reais. 
Sua trajetória e sua estatura como homem de negócios o colocaram na 
categoria de ministeriável. Recusou todos os convites. No último deles, porém, a 
conversa tomou um rumo diferente. O diálogo se deu em novembro do ano 
passado, num encontro a portas fechadas com Dilma, no escritóriodo governo 
de transição no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. 
Durante a reunião, Gerdau rabiscou o esboço do modelo que poderia 
levá-lo à equipe da presidente. De acordo com o modelo, Gerdau seria parte de 
uma espécie de conselho consultivo para projetos de melhoria da gestão 
pública. “Anotei algumas ideias e ela pediu para ficar com o papel”, diz. 
Ali surgiu o embrião do que se tornou, em maio deste ano, a Câmara de 
Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade. Presidida por Gerdau, a 
câmara é formada por representantes do governo e do setor privado. De um 
lado, estão quatro ministros — Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, Guido Mantega, 
da Fazenda, Miriam Belchior, do Planejamento, e Fernando Pimentel, do 
Desenvolvimento. 
De outro, o ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reischtul, o 
presidente da Suzano Papel e Celulose, Antonio Maciel Neto, e o empresário 
Abilio Diniz, presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar. 
Nenhum deles recebe remuneração pelo trabalho. 
 15 
Há pouca coisa que une a rotina do Gerdau empresário à do Gerdau que 
circula por Brasília. À frente dos negócios, suas decisões significavam execução. 
No governo é diferente. À frente da câmara, Gerdau não tem autoridade para 
mudar o que bem entender. 
Não pode demitir quem se recusar a seguir os planos ou premiar os 
melhores desempenhos nem tem mandato para decidir livremente o escopo de 
atuação do grupo. O foco do trabalho da câmara foi definido por Dilma ainda em 
2010 e se concentrou nos ministérios da Saúde e dos Transportes, na Infraero e 
nos Correios. 
Até agora, o grupo realizou sete reuniões oficiais no Palácio do Planalto 
— mas Jorge Gerdau já participou de quase uma centena de encontros com 
ministros e secretários de governo para discutir a importância e a necessidade 
de mudanças. Algumas medidas práticas, que contaram com o apoio de 
consultorias como McKinsey, Accenture e o INDG, do especialista em gestão 
Vicente Falconi, já começam a sair do papel. 
Uma das metas mais ambiciosas está nos Correios — entre aumento de 
receita e corte de custos, os ganhos previstos são de 1,5 bilhão de reais por 
ano. Os resultados, segundo os planos da câmara, começarão a aparecer em 18 
meses. Outro projeto busca formas de reduzir a burocracia para licitação e 
execução de obras em rodovias e ferrovias. 
“É um modelo inédito de coope­ração que nos permite perseguir metas 
objetivas”, diz a ministra Gleisi Hoffmann, uma das principais interlocutoras de 
Gerdau no governo. “A presidente Dilma tem acompanhado de perto os 
resultados.” 
Hoje, a câmara vale mais pelo simbolismo do que pelos resultados. Numa 
visão otimista, ela seria, antes de mais nada, o reconhecimento de que 
mudanças precisam ser feitas, o primeiro passo para a ação. Não é pouca coisa, 
mas também não é garantia de nada. 
“No Brasil, o governo federal é o reino da rigidez”, diz o economista Raul 
Velloso, especialista em contas públicas. “Executar mudanças expressivas 
 16 
nesse contexto é um trabalho heroico.” É evidente que Gerdau sabe disso. A 
máquina que ele quer ajudar a trabalhar tem, sim, funcionários comprometidos. 
Mas também está impregnada de gente que, por interesses pes-soais ou 
políticos, prefere que as coisas continuem exatamente como estão. E elas vão 
resistir. Gerdau sabe, ainda, que o sucesso de seu grupo depende da entrega 
de resultados nos próximos meses e anos — e do impacto que eles provocarão 
na opinião pública e, consequentemente, no meio político. 
“A burocracia é lenta. Exige paciência, insistência”, diz Gerdau. “Mas os 
resultados são tão grandes e tão fantásticos que vale a pena insistir. Esse 
movimento pode mudar o Brasil." 
 
Notas aos políticos 
Prestes a completar 75 anos de idade, Gerdau baseia sua confiança nas 
experiências que vem colecionando nos últimos anos com governos estaduais e 
municipais. Seu trabalho pela melhoria da gestão pública começou em mea-dos 
dos anos 2000 e se intensificou a partir de janeiro de 2007, quando transferiu a 
presidência executiva do grupo Gerdau a seu filho, André. 
Foi quando passou a buscar recursos e apoio de outros empresários para 
sustentar projetos de aumento de eficiência da máquina. O ceticismo, tanto de 
homens de negócios quanto de políticos, era enorme. “Muita gente não 
acreditava que pudesse dar certo”, diz Beto Sicupira, sócio da AB Inbev, o 
primeiro empresário a acompanhar Gerdau nas conversas com governadores. 
Os dois se conheceram por meio de um amigo em comum, o consultor 
Vicente Falconi, com quem ambos trabalhavam havia mais de duas décadas. As 
primeiras visitas a políticos interessados num choque de gestão, como Aécio 
Neves, então governador de Minas Gerais, e Eduardo Campos, de Pernambuco, 
sempre eram feitas pelo trio. 
Para escolher aqueles que mereciam uma segunda visita, Gerdau, 
Falconi e Sicupira criaram um sistema de notas que iam de zero a 100, de 
acordo com o interesse do político e as chances de sucesso. “Não voltávamos a 
conversar com quem recebia nota abaixo de 70”, diz Falconi. 
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Um dos governadores visitados ganhou nota zero após uma experiência 
que beirava o patético. “Fomos recebidos pela televisão local”, diz Falconi. “O 
governador pensou que o Gerdau tinha ido até lá para anunciar investimentos e 
não entendeu nada daquele discurso todo sobre gestão eficiente.” 
Hoje, Jorge Gerdau e seu grupo têm a seu favor os números. Mais 
precisamente 14 bilhões de reais em ganhos com aumento de receita e corte de 
despesas em programas de choque de gestão realizados em 11 governos 
estaduais e oito municípios. Trata-se de um retorno de quase 200 vezes o valor 
investido nos projetos de consultoria — boa parte dele financiada por mais de 
200 empresários. 
“Em vez de insistir no embate puro e simples entre empresa e Estado, 
Gerdau construiu uma parceria em busca de soluções práticas numa proporção 
inédita”, diz Elcior Santana, responsável pela área de gestão pública do Banco 
Interamericano de Desenvolvimento, que estuda levar o modelo para outros 
países da América Latina. 
A aproximação com diversas esferas do poder, ao contrário do que pode 
parecer, é quase sempre um trabalho duro e sem glamour. Gerdau já chegou a 
visitar até quatro governadores num intervalo de dois dias. Recentemente, 
chegou às 8 da noite e saiu a 1 hora da manhã de um jantar em Londrina, no 
interior do Paraná, para arrecadar verbas para projetos de melhoria de 
efi-ciência na prefeitura. 
Um leiloeiro de gado foi chamado para animar os cerca de 400 
convidados que fecharam uma cota de 2,6 milhões de reais, suficiente para 
cobrir todos os custos com o início do projeto. (Estima-se que, nos últimos cinco 
anos, o carioca Jorge Gerdau tenha colocado mais de 15 milhões de reais de 
seu próprio dinheiro em projetos de Porto Alegre, sua cidade por adoção.) 
Mesmo depois de assumir a dianteira da câmara de políticas de gestão do 
governo federal, ele faz questão de marcar o primeiro encontro pessoalmente 
com novos interessados em montar programas de choque de gestão. Em 
dezembro, tem previsto em sua agenda um encontro com o prefeito de Criciúma, 
em Santa Catarina. 
 18 
“Em geral, a aproximação entre empresários e o setor público acontece 
muito mais para prestígio mútuo do que para a obtenção de resultados práticos”, 
diz Sicupira. “Com o Gerdau é diferente.” 
 
Boas ideias na gaveta 
Encarar o trabalho na administração federal é encarar o risco de 
frustração. Há anos, Gerdau tenta reproduzir em Brasília pelo menos parte do 
sucesso obtido em algumas cidades e estados do país. 
Em 2007, estudos para a reestruturação do sistema de Previdência Socialapontaram ganhos de até 50 bilhões de reais em quatro anos — num projeto 
que incluía um amplo esforço para acabar com as fraudes na área. A proposta 
esbarrou em alas mais resistentes do governo e nunca foi levada adiante. 
Um ano depois, outro projeto propôs a redução de 2 bilhões de reais de 
custos em diversos ministérios, numa ação coordenada pela pasta do 
Planejamento. A meta também nunca foi atingida. “Temos uma tradição de 
ministérios encastelados, que funcionam sob a lógica de um jogo de poder 
extremamente complexo”, diz Aragão. 
Tradução: para não perder apoio no Congresso, os presidentes 
costumam simplesmente deixar na gaveta os projetos que confrontem a base 
aliada, instalada em ministérios loteados. Dilma fugirá dessa armadilha? 
Uma conjunção de fatores, acredita Gerdau, pode tornar o momento atual 
mais favorável a mudanças. Um deles, que facilitou o avanço da conversa com a 
presidente no final do ano passado, é a proximidade entre os dois. Ambos se 
conheceram nos anos 80, quando Dilma ocupou a Secretaria Municipal da 
Fazenda de Porto Alegre, no governo de Alceu Collares. 
Mas foi entre 2003 e 2010, período em que ela presidiu o conselho de 
administração da Petrobras (do qual Gerdau faz parte desde 2001), que os dois 
encontraram afinidades. “Tivemos uma relação muito próxima. As reuniões eram 
mensais e duravam até 7 horas. Percebemos que tínhamos opiniões 
convergentes sobre temas de gestão”, diz Gerdau. 
 19 
O relacionamento evoluiu para um contato frequente — hoje, eles se 
falam pelo menos uma vez por semana, pessoalmente ou por telefone. “Ela quer 
saber o tempo todo como está o andamento dos projetos, quais são as 
dificuldades e está sempre pronta para resolver”, afirma Gerdau. 
Um dos exemplos mais recentes diz respeito à burocracia na contratação 
de consultorias envolvidas nos projetos — que quase sempre esbarram em 
lentos e ineficientes processos de licitação. 
Segundo Gerdau, ao perceber o problema, Dilma decidiu fechar os 
contratos de maneira centralizada na Presidência, num processo que exigiu um 
trâmite já aprovado na Procuradoria-Geral da União. “Há uma evolução cultural 
em torno do tema da gestão pública”, diz o empresário. “Noto que as portas 
estão abertas para avançar.” 
Para os políticos, as portas se abrem na medida em que os votos se 
multiplicam. E esse talvez seja o maior dos trunfos de Gerdau e seus 
companheiros. O choque de gestão promovido em Minas Gerais fez com que 
Aécio Neves fosse eleito por duas vezes governador do estado e ainda fizesse 
seu sucessor, Antonio Anastasia. 
Em Pernambuco, outro estado a perseguir metas de eficiência, Eduardo 
Campos reelegeu-se com mais de 80% dos votos válidos. É o que Jorge Gerdau 
chama de “contrato inteligente”. “Com resultados assim, alguns começam a ver 
esses projetos como oportunidade, não como ameaça”, diz o conselheiro 
Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano. 
Confiança mútua é fundamental para a lógica de interação desenvolvida 
por Gerdau. Nos projetos estaduais e municipais, tornou-se praxe o 
acompanhamento dos resultados das mudanças — conduzido sempre por um 
grupo de empresários envolvidos em suas metas desde o início. 
É o que acontece há cerca de cinco anos em Pernambuco. As reuniões 
no estado ocorrem três vezes por ano e reúnem seis empresários, entre os 
quais o próprio Gerdau. 
“Prestamos contas dos resultados e aprendemos a acompanhar de perto 
o que acontece aqui dentro”, diz o governador Eduardo Campos, que conseguiu 
 20 
dobrar a capacidade de investimento apenas com uma gestão mais eficiente. Na 
câmara, a função dos conselheiros é reproduzir a mesma cultura de 
acompanhamento. 
Os projetos pioneiros escolhidos por Dilma visam obter resultados 
rápidos, de modo a encorajar novas iniciativas. Além disso, também vão aliviar 
situações emergenciais. Um deles, conduzido com a ajuda da consultoria 
Accenture, busca reduzir o tempo de embarque e desembarque de passageiros 
no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. 
As medidas ainda estão sendo estudadas, mas deverão incluir alterações 
óbvias, como direcionar passageiros barrados pelo detector de metais para uma 
fila separada, em vez de fazê-los atrasar a passagem dos demais. Os primeiros 
resultados são esperados para dezembro. 
Juntamente com a consultoria McKinsey, a câmara vem trabalhando na 
criação de uma nova metodologia de acompanhamento de projetos do governo. 
A ideia é impor uma padronização das informações prestadas e uma 
regularidade de prestação de contas em cerca de dez projetos prioritários, como 
a execução de obras para a Copa do Mundo de 2014. 
O modelo é a delivery unit, criada pelo ex-premiê britânico Tony Blair no 
início dos anos 2000. Até 2002, entre 20% e 25% dos pacientes ingleses 
passavam mais de 4 horas nos prontos-socorros em hospitais e centros de 
saúde — um percentual considerado alto demais. 
Os projetos de definição de prioridades fizeram esse patamar baixar para 
apenas 4% em 2005. Os ganhos chegaram a 44 milhões de libras por ano. Nas 
mãos do novo primeiro-ministro, David Cameron, a unidade foi fechada no ano 
passado, o que evidencia outro desafio da gestão pública — a continuidade. 
 
O verdadeiro teste 
Quais as chances de Gerdau e seu time liderarem uma mudança cultural 
em Brasília? O lamentável histórico brasileiro no terreno da gestão pública 
sugere cautela. Gerdau estima que um trabalho abrangente realizado em todos 
 21 
os ministérios possa trazer ganhos de até 80 bilhões de reais nos próximos 
anos, mas ele próprio admite que, por ora, seu escopo de trabalho é tímido. 
Para alguns analistas, a Câmara poderá ter bons resultados em projetos 
isolados, mas o teste definitivo só viria depois de enfrentar áreas mais 
pantanosas. É o caso do Ministério dos Transportes, em que as metas são 
diminuir em até 70% o tempo de execução das obras do governo federal e cortar 
o desperdício de recursos em 30% num prazo de 24 meses. 
Além da burocracia, a mudança nessa área deverá esbarrar em outros 
males arraigados. Boa parte da cúpula do ministério foi demitida em julho após 
denúncias de superfaturamento e recebimento de propina. Quem se dispuser a 
enfrentar os bandos que dominam feudos inteiros do governo terá de desmontar 
práticas consolidadas no país desde a redemocratização. 
Conseguirá Dilma trilhar um caminho diferente de seus antecessores na 
luta por apoio da classe política? O Brasil está pronto para virar uma página e 
dar um salto na administração do dinheiro público? Gerdau diz acreditar que sim 
— e a imensa maioria dos brasileiros espera que ele esteja certo. “Sabemos que 
vai demorar”, diz Gerdau. “Mas para persistir é preciso manter o idealismo.” 
 
Com reportagem de Alexa Salomão e Luiza Dalmazo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 22 
CAPITULO II 
 
O que veremos neste capítulo: 
 Evolução Histórica do Pensamento Político. 
 Grécia e Roma. 
 Maquiavel e a Administração. 
 Maquiavel em resumo. 
 Pensamento Político Contemporâneo. 
 
“Não há nada mais difícil do que planejar, mais duvidoso do que obter sucesso, 
nem mais perigoso de administrar que a criação de uma nova ordem das 
coisas... Uma vez que os inimigos tenham a ocasião de atacar o inovador, eles o 
farão com a paixão de um guerrilheiro, enquanto os outros o defenderão tão 
preguiçosamente, que o inovador e seus parceiros se tornarão vulneráveis”. 
Maquiavael 
 
1. Introdução 
No capítulo 1 iniciamos nosso curso 
de Ciência política, conhecendo primeiramente a 
origem e o significado da palavra política. Embora 
no contexto atual, quando ouvimos esta palavra 
geralmente fazemos uma associação negativa,ela 
significa a arte da organização, direção e 
administração de nações, Estados e também das 
empresas. Desta forma, a sua ligação com o poder 
é indiscutivel. 
A ciência política por sua vez é o estudo da política e, 
consequentemente sobre o poder. 
Segundo Bonavides (2010), ciência política, em sentido amplo, é 
o estudo dos acontecimentos, das instituições e das ideias políticas tanto no 
passado, quanto no presente e possibilidades futuras. 
A evolução desta ciência que tem fortes vinculos com a filosofia, 
direito constitucional, história, psicologia, sociologia e, principalmente com a 
 23 
economia, vem da Grécia Antiga, uma sociedade baseada na escravidão mas 
também um modelo de democracia. Platão, em sua obra “A República”, já fazia 
referências à especialização do trabalho e da produção. 
A ciência política atravessou diversas fases, passando de uma 
posição mais filosófica a outra mais materialista e naturalista. Esta última, 
fundamentada pelo positivismo, movimento com raízes historicas na Revolução 
Industrial. 
Mas foi na Grécia que surgiram os primeiros pensadores 
políticos, com destaque para Platão e Aristotóles. 
Além destes, não podemos esquecer o italiano Maquiavel, que 
ao rejeitar a tradição idealista de Platão e Aristoteles mostra outro sentido para a 
política e o poder. 
Vejamos a seguir um pouco mais sobre estes pensadores e a 
evolução do pensamento político. 
 
2. A política na Grécia antiga. 
A vida política na Grécia antiga tinha como uma de suas 
principais características a realização das assembléias onde todos os membros 
da polis podiam participar. Entretanto, somente aqueles que estivessem 
habilitados a disputar o cargo de rei poderiam opinar. Estar habilitado significava 
possuir alguns recursos políticos tais como terras e o apoio de outros membros 
importantes da polis. 
Fato interessante era que, apesar de permitir a expressão das 
opiniões, a assembléia não decidia nada. Era um lugar de discussão, não de 
deliberação. Essa cabia unicamente ao rei decidir. 
Apesar disso, este procedimento mostra que os antigos gregos 
consideravam a participação dos cidadãos como fator fundamental de 
sustentação do poder político, e não no uso, ou ameaça do uso, da força estatal 
em si. 
Na verdade, a visão política dos gregos acerca da cidadania e 
da responsabilidade do indivíduo para com o Estado se apoiava, principalmente, 
 24 
mas não exclusivamente, na noção da integração voluntária do cidadão ao 
processo de tomada de decisões políticas e na sua respectiva execução 
responsável por parte daqueles cidadãos encarregados da administração 
política da cidade-estado (a polis). 
O poder de coerção do Estado, ainda que reconhecido e aceito 
como algo necessário, ocupava um lugar de menor importância na escala de 
valores políticos da civilização grega. 
 
2.1 O pensamento platônico 
As idéias de Platão não se limitavam ao campo da política. 
Como filosofo ele escreveu sobre o amor, conhecimento, política e sobre o 
homem e alma. 
No que se refere ao conhecimento, Platão defendia a ideia de 
que o filosófico, contido na alma, representava o verdadeiro conhecimento, 
embora admitisse a existência do conhecimento técnico. 
Platão certa vez escreveu: 
“Os males não cessarão para os humanos antes que a raça dos 
puros e autênticos filósofos chegue ao poder, ou antes, que os chefes das 
cidades, por uma divina graça, ponham-se a filosofar verdadeiramente.” (Platão, 
Carta Sétima, 326b). 
Sobre o poder político, o homem e sua alma, Platão acreditava 
que as virtudes humanas, em número de três, estavam baseadas na alma. 
Acreditava também que o homem era dividido em duas partes: 
I) O corpo – a matéria – que mudava ao longo da vida; e 
II) A alma – a parte imaterial e divina – que não sofria alteração 
durante a vida. 
 Para Platão a alma é divida em 3 partes: 
 
I – Racional (Que se baseia no raciocínio): cabeça; esta tem 
que controlar as outras duas partes. Sua virtude é a sabedoria ou prudência. 
II – Irascível (Que se irrita facilmente): tórax; parte da 
impetuosidade, dos sentimentos. Sua virtude é a coragem. 
 25 
III – Concupiscente (desejo forte): baixo ventre; apetite, desejo 
carnal (sexual), ligado à libido. Sua virtude é a moderação ou temperança. 
A interação entre virtude, corpo e alma determinava a posição 
que o cidadão ocuparia na hierarquia da pólis, como evidenciado a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Platão acreditava que a alma depois da morte reencarnava em 
outro corpo, mas a alma que se ocupava com a filosofia e com o Bem, esta era 
privilegiada com a morte do corpo. A ela era concedida o privilégio de passar o 
resto de seus tempos em companhia dos deuses. 
Por meio da relação de sua alma com a Alma do Mundo, o 
homem tem acesso ao mundo das Idéias e aspira ao conhecimento e às idéias 
do Bem e da Justiça. A partir da contemplação do mundo das Idéias, o 
Demiurgo (divindade responsável pela criação do universo), tal como Platão 
descreveu, organizou o mundo sensível. Não se trata de uma criação ex nihilo, 
isto é, do nada, como no caso do Deus judaico-cristão, pois o Demiurgo não 
criou a matéria nem é a fonte da racionalidade das Idéias por ele contempladas. 
A ação do homem se restringe ao mundo material; no mundo 
das Idéias o homem não pode transformar nada. Pois, se é perfeito, não pode 
ser mais perfeito. 
 
2.2 Aristóteles 
Aristóteles, discipulo de Platão, preocupou-se mais em analisar 
as diferentes formas de estado (monarquia, aristocracia, governo constitucional, 
Virtude Tipo de alma Orientação Parte do corpo Posição na polis
Sabedoria Ouro Razão Cabeça Governante
Coragem Prata Vontade Tórax Soldado
Moderação Bronze Desejo Baixo ventre Trabalhador
A alma e as virtudes segundo Platão
 26 
tirania, oligarquia, democracia). Esta posição 
contrastava com a do seu mestre que defendia, 
como vimos, a ideia de uma classe dominante de 
"reis filósofos". 
Analisadas sob a ótica do 
pensamento econômico, as posições defendidas 
pelos dois mostram que, enquanto Platão tinha 
desenhado um modelo de sociedade com base na 
propriedade comum de recursos, Aristóteles via este modelo como um anátema 
(maldição). Para ele um modelo baseado na propriedade privada seria mais 
apropriado, mas o dinheiro serviria somente como um meio de troca, nada mais 
do que isto. Aristóteles escreveu certa vez: 
"É claramente melhor que a propriedade seja privada, mas o uso dela em 
comum deve ser incentivada pelo legislador". 
Ele desaprovava a usura e o lucro através do monopólio. 
3. O pensamento político em Roma 
 Os romanos assimilaram muitos aspectos da cultura dos povos 
vencidos, principalmente dos gregos. 
Dotados de notável senso prático, souberam reelaborar essas 
influências, nas quais introduziram inovações que levaram à formação de uma 
cultura original. Com isso, acabaram por legar às gerações futuras várias 
contribuições nas mais diversas áreas. 
No que se refere ao pensamento político, Cícero foi o nome de 
maior destaque. Como escritor, foi ele quem apresentou aos Romanos as 
escolas da filosofia grega. Além de escritor talentoso foi um ardoroso defensor 
da república como forma de governo, colocando-se inclusive contra o império. 
 
4. Maquiavel 
É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência 
política moderna, pelo fato de haver escrito sobre o Estado e o governo como 
realmente são e não como deveriam ser. 
Platão imaginava a 
sociaedade ideal como 
sendo aquele em que a 
proriedade fosse comum a 
todos. 
De forma diferente, 
Aristóterles acreditavana 
sociedade baseada na 
propriedade privada. 
 27 
Os pensadores que o precederam eram idealistas, orientados 
por crenças religiosas medievais. Maquiavel inverteu estas lógicas. Para ele, 
não havia meios que os fins não justificassem nem códigos morais que não 
pudessem ser transgredidos, nem princípios religiosos que reprimissem o 
governante. Surge então o termo razão de Estado, que tem o seguinte 
significado: 
O governante deve se valer de qualquer meio, independente de 
tal estratégia ser moralmente aceita ou não para garantir a integridade do 
Estado. De outra forma, caso o Estado não seja capaz de impor suas ordens de 
modo irresistível, é impossível garantir a ordem pública e qualquer progresso 
moral, econômico ou civil. Vem daí as famosas palavras de Maquiavel: “os fins 
justificam os meios”. 
 Maquiavel entrou para a política aos 29 anos de idade no cargo 
de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, ele observou o 
comportamento de grandes nomes da época e os adicionou aos conceitos da 
antiguidade clássica que estudou para fundamentar suas ideias. 
O Príncipe, publicado em 1532, é sua obra mais conhecida. 
Nela, defendeu a centralização do poder político, mas não propriamente o 
absolutismo, já que acreditava na república como forma de governo. 
Suas ideias foram desenvolvidas em uma época em que a Itália 
estava dividida em diversos pequenos Estados, entre repúblicas, reinos, 
ducados, além dos Estados da Igreja. Esta divisão levava a constantes disputas 
de poder entre esses territórios, a ponto de os governantes contratarem os 
serviços de mercenários com o intuito de obter conquistas territoriais. É neste 
cenário, que Maquiavel defende a unificação como forma de acabar ou 
minimizar os conflitos. 
Entretanto, uma leitura apressada das suas obras pode levar-
nos a entendê-lo como um defensor da falta de ética na política, em que os fins 
justificam os meios e não como uma estrategista. É o que nos revela alguns 
estudos recentes sobre sua obra, que admitem a interpretação errônea do seu 
 28 
pensamento ao vincular o adjetivo maquiavélico, criado a partir do seu nome, 
aos conceitos de esperteza, astúcia e até maldade. 
Em o Príncipe, ele apresenta os tipos de principados existentes 
e expõe as características de cada um deles. A partir daí, defende a 
necessidade do príncipe formar seus exércitos próprios e após tratar do governo 
propriamente dito e dos motivos por trás da fraqueza dos Estados italianos, 
conclui dizendo que um novo príncipe conquiste e liberte a Itália. 
Suas considerações e recomendações aos governantes sobre a 
melhor maneira de administrar o governo caracterizam a obra como uma teoria 
do Estado moderno. 
 É importante repetir que a obra de Maquiavel não deve ser 
analisada sem se considerar o contexto em que foi produzida. 
O método utilizado por ele de romper com a tradição vigente 
(medieval), e fundamentar-se no empirismo e na análise dos fatos recorrendo a 
experiência passadas - especialmente da Roma antiga – é um marco na forma 
de análise e estratégia. 
Além disso, ele foi o primeiro a propor uma ética para a política 
diferente da ética religiosa, ou seja, a finalidade da política seria a manutenção 
do Estado. 
Entre os conceitos mais importantes criados ou defendidos por 
Maquiavel estão os de virtù e o de fortuna. 
Estes conceitos são empregados várias vezes por Maquiavel em 
suas obras. 
Para ele, a virtù seria a capacidade de adaptação aos 
acontecimentos políticos que levaria à permanência no poder. 
A virtù seria como uma barragem que deteria os desígnios do 
destino. Mas segundo o autor, em geral, os seres humanos tendem a manter a 
mesma conduta quando esta frutifica e assim acabam perdendo o poder quando 
a situação muda. 
 29 
Já a fortuna2 representa as coisas inevitáveis que acontecem 
aos seres humanos (sorte ou falta de sorte). 
Para Maquiavel, o governante que possuisse a virtú 
consquistaria também a fortuna. 
Outro ponto importante das ideias de Maquiavel é a referência a 
natureza humana. Para ele, a natureza humana seria essencialmente má e os 
seres humanos desejam sempre obter os máximos ganhos a partir do menor 
esforço, apenas fazendo o bem quando forçados a isso. 
A natureza humana também não se alteraria ao longo da história 
fazendo com que seus contemporâneos agissem da mesma maneira que os 
antigos romanos e que a história dessa e de outras civilizações servissem de 
exemplo. Assim, o governante não deveria esperar o melhor dos homens ou que 
estes fizessem o que se espera deles. 
 
4.1 Maquiavel e a Administração 
Os autores Luiz Roberto Antonik e Aderbal Nicolas Muller em 
sua obra “O Príncipe revisitado: Maquiavel e o mundo empresarial”, mostram 
que os ensinamentos de Maquiavel estão bem atuais e no mundo dos negócios - 
ao contrário do que ensinam certos teóricos da administração - a prática e o 
conhecimento nos ensinam que um pouco de maldade, estresse e desafio são 
indispensáveis para o bom resultado, e isso apenas se obtêm com pessoas 
certas. 
Embora O Príncipe tenha sido escrito para descrever as 
maneiras de se conduzir os negócios públicos internos e externos e, 
fundamentalmente, como conquistar e manter um principado, seus 
ensinamentos são facilmente aplicáveis também aos negócios privados. 
 
2
 A idéia de fortuna em Maquiavel vem da deusa romana da sorte e representa as coisas inevitáveis que 
acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar 
alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na política. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel 
 
 30 
Como observador do comportamento humano, Maquiavel foi um 
renovador de costumes, um agente de mudanças, um estrategista. Suas 
observações de Maquiavel podem ser comparadas a postura de gestores, sejam 
eles chamados de líderes, gerentes, coordenadores ou governantes. 
 
4.2 Maquiavel em resumo 
4.2.1 Pensamentos sobre a Sociedade 
- Processo de ascensão do capitalismo: mercantilismo. 
- Desenvolvimento do Estado Nacional: soberanos locais são 
absorvidos pelo fortalecimento das monarquias e pela crescente centralização 
das instituições políticas (cortes de justiça, burocracias e exércitos) . 
- Estado absoluto: preserva a ordem de privilégios aristocráticos 
(mantendo sob controle as populações rurais), incorpora a burguesia e 
subordina o proletariado incipiente. 
 
4.2.2 Pensamentos sobre a natureza humana 
- Racionalidade instrumental: busca o êxito, sem se importar 
com valores éticos. 
- Cálculo de custo/benefício: teme o castigo. 
- Homem possui capacidades: força, astúcia e coragem. 
- Homem é vil, mas é capaz de atos de virtude. 
- Mas não se trata da virtude cristã. 
- O homem não muda. 
 
4.2.3 Pensamentos sobre a Política 
- Política: é mostrada como esfera autônoma da vida social. 
- Não é pensada a partir da ética, nem da religião e nem da 
filosofia: rompe com os antigos e com os cristãos. passa a ser campo de estudo 
independente. 
- A vida política tem regras e dinâmica independentes de 
considerações privadas, morais, filosóficas ou religiosas. 
 31 
- Política é a esfera do poder por excelência. 
- Política é a atividade constitutiva da existência coletiva: tem 
prioridade sobre todas as demais esferas. 
- Política é a forma de conciliar a natureza humana com a 
marcha inevitável da história: envolve fortuna e virtu. 
- Fortuna: contingência própria das coisas políticas: não é 
manifestação de Deus ou Providência Divina. 
- Virtu: qualidades como aforça de caráter, a coragem militar, a 
habilidade no cálculo, a astúcia, a inflexibilidade no trato dos adversários. Pode 
desafiar e mudar a fortuna: papel do homem na história 
 
4.2.4 Pensamentos sobre o Estado 
- O Estado: está além do bem e do mal: o Estado é. 
- Estado: regulariza as relações entre os homens, utilizando o 
que eles têm de bom e evitando o que eles têm de mal. 
- Tanto na política interna quanto nas relações externas, o 
Estado é o fim: e os fins justificam os meios. Daí a idéia de “razão de Estado”: 
existem motivos mais elevados que se sobrepõem a quaisquer outras 
considerações, inclusive à própria lei. 
- A tirania é uma resposta prática a um problema prático. 
 
5. Pensamento político contemporâneo 
Diversos autores contribuiram para formatar o pensamento 
político contemporâneo. 
John Locke com sua teoria do contrato social em que defendeu 
a ideia de que as pessoas contratavam com a sociedade (Estado) e que 
portanto, seus direitos de propriedade deveriam ser defendidos, foi um deles. 
Outro autor muito importante foi Karl Marx. 
A teoria marxista é uma crítica radical das sociedades 
capitalistas, notadamente as ideis de Adam Smith. 
 32 
O marxismo constitui-se como a concepção materialista da 
história, significando dizer que os fatos econômicos e que determinam a história. 
Karl Marx compreende o trabalho como atividade fundamental 
da humanidade. E o trabalho, sendo a centralidade da atividade humana, se 
desenvolve socialmente, sendo o homem um ser social. Sendo os homens seres 
sociais, a história, isto é, suas relações de produção e suas relações sociais 
fundam todo processo de formação da humanidade. Esta compreensão e 
concepção do homem são radicalmente revolucionárias em todos os sentidos, 
pois é a partir dela que Marx irá identificar a alienação do trabalho como a 
alienação fundante das demais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia 
Dias, Reinaldo. Ciência Política. São Paulo: Editora Atlas, 1ª ed. 2011. 
Bonavides, Paulo. Ciência política. São Paulo: Editora Malheiros, 17ª. ed. 2010. 
Weffort, Francisco C. Os clássicos da política. São Paulo. Editora Ática. 2006. 
http://search.babylon.com/?q=fortuna+e+virt%C3%BA+wikipedia&s=web&as=0&babsrc=home 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_pensamento_econ%C3%B3mico 
 33 
TEXTOS PARA DISCUSSÃO 
 
Fortuna e Virtù na Trajetória de Lula 
Por Lúcio Flávio Vasconcelos as 20:33 h 
http://www.wscom.com.br/blog/lucioflavio/post/post/Fortuna+e+Virt%C3%B9+na+Trajet
%C3%B3ria+de+Lula-761 
 
As reflexões sobre a política não foram as mesmas depois dos escritos de Nicolau 
Maquiavel (1469-1527). Nascido em Florença, cidade italiana que vivia a plena 
efervescência do Humanismo renascentista, Maquiavel foi um homem dedicado ao 
exercício da administração pública, com o objetivo maior de fortalecimento do papel do 
Estado na condução da sociedade. 
Durante toda sua vida, o pensador florentino, acertadamente considerado o fundador da 
Ciência Política, foi um homem prático, que analisava a política com racionalidade. Nos 
seus escritos, desnudou as intenções políticas dos homens em sua crueza, com toda 
sua grandiosidade e mesquinhez. 
Em 1512, a república que servia com tanto zelo foi derrubada e os Médici retornaram ao 
poder. O dedicado servidor público Maquiavel foi preso e torturado, acusado de traição 
pela família Médici. 
Sem o cargo público que tanto prezava, Maquiavel recolheu-se a uma pequena fazenda 
de sua propriedade, em San Casciano, e dedicou-se com afinco ao seu segundo maior 
prazer: escrever. 
Nos catorze anos seguintes, Maquiavel vai produzir uma significativa obra, que engloba 
escrito históricos e obras literárias. Mas é com o livro seminal O Príncipe que ele 
encontrará a imortalidade. 
Na sua obra O Príncipe, Maquiavel tem a preocupação de aconselhar os governantes 
não só em obter o poder mas, principalmente, em como mantê-lo. Para tanto, lança 
mão de dois conceitos principais: Fortuna e Virtù. 
 34 
Para Maquiavel, a Fortuna seria o conjunto dos acontecimentos, os fatos que ocorriam 
no contexto social em que o governante vivia. Já a Virtù representa a série de 
qualidades pessoais do príncipe que possibilita o discernimento necessário para 
conquistar e manter o poder. 
Após essa rápida análise dos conceitos maquiavelianos, vamos nos debruçar nos 
últimos acontecimentos que assolam a nossa república. 
Desde o final dos anos 70 que se processa no Brasil uma mudança significativa na 
política nacional. Há o surgimento de um novo sindicalismo, que teve como base o ABC 
paulista. Também houve um profundo envolvimento da Igreja Católica nas questões 
sociais, culminando na articulação do Movimento dos Sem Terra (MST). A expansão do 
ensino universitário possibilitou a difusão de um conhecimento científico uniforme em 
todo o país. 
Surgiram no Brasil milhares de núcleos urbanos que passaram a abrigar setores de 
classe média sedentos por mudanças sociais e políticas. Foi dentro desse processo de 
alteração do cenário nacional que se deu a Fortuna de Lula. 
Aproveitando as profundas modificações ocorridas nos últimos 25 anos, Lula soube, 
como nenhum outro líder político brasileiro do século XX, capitalizar as transformações 
e ser o seu principal representante. 
Eis a sua Virtù! O líder operário de baixa escolaridade fundou um partido que se 
distanciou da prática política do Partido Comunista, sensibilizou setores 
intelectualizados da classe média com seu socialismo moderado, mobilizou segmentos 
dos trabalhadores com o seu sindicalismo de resultados e galvanizou setores 
desorganizados da sociedade com sua retórica salvacionista. 
Na sua trajetória política, Lula percebeu como poucos a oportunidade de chegar ao 
poder sem provocar a ira dos setores mais conservadores. Ao ganhar as eleições em 
2002, apresentou-se como um moderado que iria minimizar o sofrimento dos excluídos 
sem causar rupturas. 
Durante o seu mandato, o modelo econômico tão criticado por setores radicais do PT 
permaneceu no mesmo itinerário traçado pelo antecessor Fernando Henrique Cardoso. 
 35 
A onda de crescimento econômico que atingiu a América Latina, deu margem para que 
políticas públicas favoráveis aos setores populares fossem implantadas. Salário mínimo 
de R$ 350,00 é o maior em poder aquisitivo desde 1979. 
Mesmo após meses de bombardeio de seu governo, com a conseqüente perda de 
principais auxiliares na construção da sua trajetória, Lula demonstra uma força política 
inigualável. 
Os partidos de oposição, principalmente PSDB e PFL, não têm demonstrado Virtù 
suficiente para desbancar o prestígio que permeia o candidato Lula. Talvez isso se dê 
porque ainda está muito vivo na memória da maioria da população os oito anos do 
governo FHC. 
O desafio para Lula é enorme. Nem Nicolau Maquiavel arriscaria prever se o Governo 
Lula propiciará, até outubro próximo, a Fortuna tão necessária para que o candidato 
Lula continue exercendo a sua Virtù. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lúcio Flávio Vasconcelos é Graduado em História pela UFPB, tem Mestrado e Doutorado em 
História pela Universidade de São Paulo (USP). É professor do Departamento de História da 
UFPB e também Professor Orientador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS), 
do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPB. Publicou os livros História Política do 
Sendero Luminoso (1998), Guardiões da Ordem (2001) e América Latina: Entre a Civilização e 
Barbárie (2005), todos lançados pela UFPB. Atualmente é debatedor no programa Conexão 
Master. 
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Fortuna e virtù 
CláudiaVassallo - Revista Exame | 18/11/2010 
Maquiavel e as lições do príncipe: só sorte não basta 
 
Em seu magistral o príncipe, o pensador Florentino Nicolau Maquiavel defende que o 
líder precisa de dois atributos para triunfar: fortuna e virtù - sorte (algo fora do controle 
dos mortais) e competência. Fortuna é algo que aparentemente não faltará à presidente 
eleita, Dilma Rousseff, que a partir de 1o de janeiro assume a liderança do país. 
O Brasil vive hoje um momento que, se não é perfeito como alguns gostam de 
propagar, traz enormes oportunidades de construção do futuro. O momento histórico 
nos favorece de diversas maneiras. Mas talvez nada nos abra uma janela tão grande 
para o crescimento e o desenvolvimento quanto a transformação demográfica pela qual 
passaremos nos próximos 20 anos - um processo que começa agora e que envolverá o 
amadurecimento em massa e o ápice da capacidade produtiva da maioria da população 
brasileira. O chamado "bônus demográfico" chegará a seu pico em 2022, quando se 
estima que haverá quatro cidadãos inativos - crianças e velhos, sobretudo para cada 
dez economicamente ativos. Viveremos, então, um período de carga máxima de nossa 
capacidade de produção e de consumo. 
As conseqüências e as oportunidades geradas por essa transformação para o país e 
para quem faz negócios são brutais. E é sobre elas que se debruça a reportagem de 
capa desta edição, assinada pelo repórter Nicholas Vital. Um estudo assinado pelos 
professores Cássio Turra e Bemardo Queiroz, da Universidade Federal de Minas 
Gerais, mostra que apenas o fenômeno demográfico gera um potencial de crescimento 
do PIB brasileiro de 2,5% anuais até 2030. Trata-se de um cenário, esperamos 
improvável. Pressupõe que, num espaço de duas décadas, nada seja feito para 
modernizar o país e tomar sua economia mais dinâmica e mais pujante. O que os 
professores Queiroz e Turra estão dizendo é que, ainda que tudo dê absolutamente 
errado, seguiremos em frente. Por pura sorte. Agora é torcer para que a presidente 
Dilma e seus sucessores emprestem altas doses de sua própria virtù à enorme e 
efêmera fortuna derramada sobre o Brasil dos próximos 20 anos. 
 
 
 37 
Vinte anos para o Brasil ficar rico 
Nicholas Vital, da EXAME - 17/11/2010 16:16 
 
Está em curso um fenômeno novo para o país: o amadurecimento em 
massa da população. Mas é preciso correr, pois a janela de oportunidades tem 
data para fechar 
Ronaldos e Giseles à parte, a maioria dos mortais segue um roteiro de 
vida semelhante. Primeiro experimentamos as delícias da infância e da 
adolescência. Depois, chega a hora de começar a trabalhar, um momento 
marcado por muito esforço e pouco dinheiro. Com o tempo, as oportunidades 
vão surgindo e o desafio é conseguir garantir um descanso tranquilo no período 
final. E assim passamos de geração em geração. Também os países seguem 
uma trajetória semelhante, com graus diferentes de sucesso. Numa fase inicial, 
nações jovens têm uma fatia grande da população abaixo da idade de trabalho. 
Com o tempo, as crianças crescem e começam a trabalhar. É um período ideal 
para aproveitar o impulso e crescer. Depois vem a fase do envelhecimento, em 
que o ímpeto econômico se esvaece. Se tudo der certo nesse caminho, haverá, 
então, riqueza suficiente para financiar o sossego dos idosos. 
O Brasil já foi uma nação jovem. E seremos, no futuro, um país velho. A 
boa notícia é que estamos — agora — no auge do período produtivo. Encontra-
se em curso um fenômeno demográfico e social novo para o país: o 
amadurecimento em massa da população. O crescimento populacional 
vertiginoso ficou para trás. Após crescer geometricamente por dois séculos, o 
número de brasileiros aumenta cada vez menos e não deve ultrapassar a marca 
de 220 milhões. Ao mesmo tempo, com expectativa de vida de 73 anos, o país 
tem hoje dois terços da população entre 15 e 64 anos — a faixa etária 
considerada economicamente mais produtiva. A proporção dos que estão em 
idade de produzir vai continuar a crescer até 2022, quando atingirá um pico de 
71%. A previsão é que nessa data o número de brasileiros em idade ativa passe 
dos atuais 130 milhões para 147 milhões. As chances de negócios abertas por 
essa transformação silenciosa são enormes. “Se em dez anos não abrirmos 100 
milhões de novas contas, é porque algo deu errado”, diz Luiz Carlos Trabuco 
 38 
Cappi, presidente do Bradesco. Segundo estimativa da Federação Brasileira de 
Bancos, o número de agências bancárias no país deve crescer 50% na próxima 
década, o que significa a criação de cerca de 150 000 postos de trabalho. O 
crescimento no setor bancário é apenas um exemplo do salto esperado em 
inúmeros mercados na próxima década. 
“Essa é uma chance única na história de qualquer país”, disse a EXAME 
Ronald Lee, diretor do departamento de demografia e economia da Universidade 
de Berkeley e membro da Comissão Americana para Estudos do 
Envelhecimento. A chance a que Lee se refere é batizada pelos especialistas de 
bônus demográfico — a fase com o máximo possível de gente trabalhando. Uma 
projeção realizada pelos professores Cássio Turra e Bernardo Queiroz, da 
Universidade Federal de Minas Gerais, mostra que o Brasil tem um potencial de 
crescimento de 2,5% ao ano gerado exclusivamente pelo bônus demográfico. 
Outra conta, feita por Marcelo Neri, pesquisador do Centro de Políticas Sociais 
da Fundação Getulio Vargas, sugere um aumento de até 2,7% ao ano na renda 
média dos brasileiros em função do bônus e do aumento da escolaridade, 
iniciado nos anos 90. No cenário elaborado por Turra e Queiroz, o Brasil, se 
crescer apenas à média anual de 2,5% propiciada pelo bônus demográfico, 
chegará a 2030 com um produto interno bruto de 3,3 trilhões de dólares, 50% 
maior que o atual. Mas o país tem crescido mais que isso — e os economistas 
avaliam que será possível manter um ritmo de 4,5%. Isso elevaria, no mesmo 
prazo, o PIB para 4,8 trilhões de dólares, o suficiente para alcançar um padrão 
de renda equivalente ao que Portugal tem atualmente. Numa hipótese mais 
otimista, de o bônus ser aproveitado para impulsionar reformas mais profundas, 
em duas décadas o Brasil atingiria o nível de renda per capita atual da Espanha 
e teria um PIB de 7 trilhões de dólares. “Os brasileiros estão diante de uma 
oportunidade de ouro, mas ela é temporária. Após duas décadas, o 
envelhecimento da população inverterá a curva e fará a proporção de inativos 
subir. Por isso, para tirar o máximo proveito até lá, o Brasil deve investir 
fortemente nas novas gerações, em especial provendo boa educação básica”, 
diz Lee. O recado é claro: temos mais 20 anos para fazer a lição de casa, 
 39 
modernizando a economia e melhorando a qualidade da educação, e, assim, 
nos tornar uma nação rica. Caso contrário, estaremos no pior dos mundos. 
Corremos o risco de envelhecer sem ter conseguido integrar o clube dos 
desenvolvidos — e aí será muito mais difícil chegar lá. 
O bônus tem como origem uma guinada no comportamento das famílias 
brasileiras. Desde meados dos anos 60, tem havido uma queda progressiva no 
tamanho das famílias. A média de filhos por mulher, que era de seis há meio 
século, caiu até chegar a menos de dois hoje. A presidente eleita Dilma Rousseff 
— de quem se espera um conjunto de políticas para aproveitar ao máximo o 
bônus demográfico — é um exemplo da nova mulher brasileira. Teve apenas 
uma filha, a qual, por sua vez, recentemente lhe deu o primeiro neto. A idade 
média da população, antes inferior a 20 anos, atualmente está próxima de 29 — 
e vai continuar a crescer. A pirâmide demográfica mudou de forma e agora é 
uma figura cada vez mais arredondada. No ponto atual, a maioriados que eram 
jovens nas décadas anteriores ainda não chegou à terceira idade e constitui uma 
inédita geração de brasileiros mais maduros e que estão no auge de sua carreira 
profissional. O resultado é que a proporção entre pessoas que não trabalham e 
as que são ocupadas caiu de mais de sete inativos (seja criança, seja idoso) 
para cada grupo de dez trabalhadores, há 20 anos, para menos de cinco para 
dez. No auge do bônus, em 2022, essa proporção será de quatro para dez. 
Quando há menos gente que precisa ser sustentada, a abundância de 
população em idade ativa dinamiza a economia e gera recursos adicionais que 
podem ser revertidos em poupança e investimento. Isso reforça o crescimento 
econômico e gera oportunidades em inúmeros mercados. 
A mudança do perfil demográfico da população brasileira deve fazer com 
que alguns setores da economia experimentem um ritmo de crescimento 
acelerado na próxima década, o que pode colocar o Brasil entre os líderes 
globais em vários segmentos. Os cosméticos são um bom exemplo. Hoje, o 
Brasil é o terceiro maior mercado de produtos de perfumaria e beleza do mundo, 
atrás de Estados Unidos e Japão. Caso a estimativa de crescimento do setor se 
confirme — 9,6% ao ano, de acordo com uma estimativa feita pela consultoria 
 40 
Euromonitor a pedido de EXAME —, o mercado brasileiro de cosméticos deverá 
chegar a 108 bilhões de dólares em 2020, quase o dobro do observado 
atualmente nos Estados Unidos. “Nossos consumidores, em sua maioria, são 
maduros”, diz José Vicente Marino, vice-presidente de negócios da Natura, a 
maior empresa de cosméticos do país. “Boa parte de nosso crescimento nos 
últimos anos já pode ser atribuída ao bônus.” O envelhecimento da população 
também deve impulsionar o segmento de serviços médicos, que inclui gastos 
com consultas, exames e hospitais. Hoje, os brasileiros gastam pouco mais de 
56 bilhões de dólares, montante que deve alcançar 112 bilhões em 2020, mais 
do que o gasto atual da Alemanha, em torno de 90 bilhões de dólares. O gasto 
com educação, segundo as projeções da Euromonitor, também deve dobrar na 
próxima década, de 91 bilhões de dólares para 182 bilhões. 
Para as empresas, um dado central é o perfil do brasileiro médio daqui a 
uma década, quando o bônus demográfico estiver empurrando o país com força 
máxima. Muito provavelmente, será próximo ao de Ana Rita Mazza Menani. Aos 
33 anos de idade, casada, com dois filhos, formada em comunicação social, ela 
e o marido, Rogério, têm uma pequena gráfica em Monte Alto, no interior 
paulista. Juntos eles dispõem de uma renda em torno de 8 000 reais por mês. 
Moram numa casa confortável e, na garagem, têm dois carros e duas motos. 
Dentro de casa, não faltam eletrodomésticos, móveis e computador. Os filhos, 
de 7 e 13 anos, estudam em escola particular, fazem aulas de inglês, artes, 
música e esportes. “Investimos cerca de 25% da renda familiar na educação 
deles”, diz Ana Rita. “Se tivéssemos mais filhos, seria difícil manter o padrão. As 
pessoas da minha geração não têm condições de ter mais que um ou dois 
filhos.” Embora muito tenha se falado sobre o crescimento na base da pirâmide, 
o exemplo de Ana Rita ilustra que a ascensão econômica em curso no país 
legará uma estrutura social com preponderância das classes média e alta. 
Nessa nova sociedade, algumas tendências comportamentais começam a ser 
detectadas. A importância crescente dada à educação dos filhos é uma delas. O 
desenvolvimento esperado para as próximas décadas está atrelado a fortes 
investimentos em educação e formação de mão de obra qualificada — uma das 
 41 
consequências diretas do bônus. “Saímos da baixíssima escolaridade para um 
nível menos ruim, e isso já está jogando a favor do desenvolvimento há um 
tempo”, afirma Neri, da FGV. “Nosso retrato provavelmente seria bem pior se 
não fosse isso. O que precisamos fazer é avançar com mais ambição no setor 
de educação, para não desperdiçar o bônus.” 
Essa necessidade faz com que as escolas constituam um mercado que 
evidentemente está entre os que mais proliferam atualmente no Brasil. De 
acordo com a Euromonitor, esse setor deve crescer quase 10% ao ano no Brasil 
até 2020, quando alcançará 400 bilhões de reais. A expansão tem atraído 
investidores estrangeiros principalmente para atuar no ensino superior. O grupo 
americano DeVry chegou ao país há três anos. Instalou-se na Região Nordeste 
e já conta com 14 000 alunos em suas quatro unidades. “Enxergamos uma 
grande oportunidade no mercado brasileiro de educação”, diz Carlos Filgueiras, 
presidente do braço local do DeVry. “O potencial de crescimento é muito grande. 
Hoje, apenas 30% dos jovens brasileiros entre 18 e 22 anos estão na faculdade. 
Na Grécia, o índice é de mais de 90%.” De acordo com ele, o efeito do bônus já 
é perceptível, mas poderá ser mais intenso porque as classes C e D estão 
começando a ter acesso às universidades. “Isso deve impulsionar o setor nos 
próximos anos”, diz. 
Potencial a ser descoberto 
Curiosamente, muitas empresas ainda não atentaram para o potencial de 
mercado aberto pela mudança na demografia brasileira. Recentemente, ao 
promover por seis meses um estudo com seus 100 executivos de nível mais alto 
para identificar tendências e planejar os próximos dez anos, o grupo de 
engenharia Promon descobriu o bônus. “O tema da demografia causou frisson 
nas nossas reuniões”, diz Luiz Fernando Rudge, presidente da Promon. “As 
pessoas não percebem seu efeito no dia a dia, mas vimos que, ao longo das 
décadas, o impacto é dramático.” A Promon identifica áreas de negócios que 
serão particularmente atraentes num cenário de amadurecimento da população, 
como as de saúde e bem-estar. “Podemos investir na construção e na operação 
de hospitais e condomínios para pessoas mais idosas”, afirma Rudge. Além 
 42 
disso, com a perspectiva de um crescimento econômico mais consistente, 
diversos setores de infraestrutura em que a Promon atua, de energia a 
telecomunicações e tecnologia da informação, também deverão ser 
positivamente afetados. 
De acordo com um estudo da consultoria Ernst & Young, a mudança do 
perfil demográfico da população brasileira deve dar ainda mais fôlego ao setor 
de construção civil. Estima-se que, todos os anos, cerca de 1,7 milhão de novas 
famílias sejam formadas no país. Até 2030, serão pelo menos 35 milhões de 
novas famílias, principalmente da emergente classe C, que precisarão de um 
lugar para morar. Trata-se de outra tendência que começa a ser detectada: o 
surgimento de famílias pequenas e em franca ascensão social. As construtoras 
já perceberam o fenômeno e vêm adequando seus produtos aos novos 
consumidores. “As famílias estão ficando cada vez menores. 
Consequentemente, os apartamentos também devem ficar mais compactos”, diz 
Antonio Carlos Ferreira, diretor de incorporações da Gafisa, uma das maiores 
construtoras do país. Em 2007, as famílias tinham, em média, 3,1 pessoas. Em 
2030, prevê-se que haverá apenas 2,4 pessoas por residência. O operador 
logístico mineiro Lando Tavares, de 34 anos, comprou seu primeiro apartamento 
há aproximadamente um mês. Casado há quatro anos e pai de uma menina de 
2 anos, ele aproveitou um aumento salarial e a oferta abundante de crédito para 
financiar em 25 anos um imóvel avaliado em 100 000 reais. Os Tavares 
representam a nova família brasileira — pequena e mais preocupada com a 
qualidade de vida. 
Uma população mais velha traz também mudanças em termos de objetos 
de desejo. Um segmento crescente é o formado por homens e mulheres 
maduros e com dinheiro para gastar. O envelhecimento costuma tornar os 
consumidores mais exigentes. Para as montadoras de automóveis, isso

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