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Geração Z Ciência e tecnologia o corpo humano

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fronteiras educação
GeraçãoZdiálogos com a
Ano 2 | #02 | 2011
Apoio culturAl reAlizAção
A “Geração z” conecta a web e o mundo, abre fronteiras com teclas e telas e aprende a 
navegar em todos os meios digitais e eletrônicos. ela zapeia livremente em meio a uma 
multiplicidade de informações. transita entre diversos canais de tV, navega na web, vive 
conectada, participa de redes sociais, baixa conteúdos no computador ou no celular, 
pratica jogos eletrônicos como se fossem esportes reais e até namora com a ajuda 
de teclado e mouse. Nesta geração, as ciências realizam várias revoluções históricas, 
encontram soluções e transformam o conhecimento sobre a humanidade. cabe a nós 
agora, com celulares ou computadores, compreender quem somos, o que podemos, para 
onde vamos e realizar isso conjuntamente, na grande saga da ciência contemporânea.
pAtrocíNio
Ciência e tecnologia: 
o corpo humano
A ciência deseja compreender o mundo, tudo o que pode 
ocorrer dentro e fora dos corpos, na natureza e na socie-
dade, no passado, no presente e no futuro, em todas as 
regiões e condições do planeta e no espaço. Com conhe-
cimento e técnica, a ciência consegue diminuir nossos 
problemas e melhorar as condições de vida. O avanço 
da pesquisa tem consequências poderosas. Ele põe em 
cheque o que se sabia por séculos, abre novas questões 
e gera desejos e imaginação. Isto ocorre atualmente em 
vários campos, sobretudo na área das neurociências, no 
conjunto de disciplinas que estudam a mente e o corpo 
humano em todas as suas dimensões.
As pesquisas em neurociências envolvem grupos de 
cientistas estudando o sistema nervoso em universida-
des e laboratórios em todo o mundo. Desponta o nome 
do brasileiro Miguel Nicolelis, que hoje realiza experi-
mentos entre neurociências e robótica, e provoca mu-
danças históricas, descobertas surpreendentes e muitas 
promessas e expectativas. 
A primeira questão levantada pelo trabalho de Miguel 
Nicolelis é sobre a filosofia da mente. Desde os gregos 
clássicos, a filosofia tenta definir o que é o ser humano, 
o pensamento, a mente e a formação das ideias. Ocorre 
que todos os pensadores, do ateniense Platão (424-347 
a.C.) ao austríaco Sigmund Freud (1856-1929), falaram 
da mente humana sem ter acesso às percepções hoje 
acessíveis; portanto, estes 2.400 anos de filosofia não 
servem mais para explicar o fato central da história, o 
pensamento, tal como o compreendemos na atualidade. 
Avançamos rumo a uma nova teoria da mente, que já 
está sendo desenhada e praticada pelos neurocientistas. 
A segunda questão é uma conclusão de Nicolelis. “O ser 
humano não se encerra na última camada de epiderme, 
mas na última camada de átomos da prótese a que está 
conectado.” O homem é um ser cultural e se define pelas 
suas tecnologias; está ligado aos aparelhos que cria para 
estender seu corpo e poderes, fato que notamos facilmen-
te nesta era em que temos à mão aparelhos que nos ga-
rantem velocidade e qualidade de informação. O cérebro 
identifica as próteses e as integra ao seu funcionamento. 
Se tivéssemos oito membros, como os polvos, mesmo que 
mecânicos, o cérebro os comandaria, perfeitamente. 
A terceira contribuição do neurocientista é para a espe-
rança de solução de problemas decorrentes da perda 
da comunicação entre mente e corpo, entre os quais 
a paraplegia (perda das funções sensoriais e motoras 
nos membros inferiores) e a tetraplegia (perda destas 
funções também no tronco, incluindo braços). Reativa-
da a transmissão de estímulos provenientes do cérebro, 
um esqueleto externo (exoesqueleto) ou apoios robóti-
cos podem devolver o movimento a corpos hoje inertes. 
Este heroico cientista já propôs que o pontapé inicial da 
Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil seja dado 
por um indivíduo para ou tetraplégico, ajudado por um 
exoesqueleto. O pontapé inicial no campo da ciência já 
foi dado.
Estas conquistas científicas procedem de avanços his-
tóricos e se relacionam a tudo o que se sabe e produz 
no campo das ciências da vida e áreas conectadas. Os 
progressos destas ciências estão entre as grandes con-
quistas da humanidade nos últimos 150 anos. Há ainda 
muito a ser realizado, na busca de vacinas e tratamentos 
para doenças que ainda vitimam a humanidade. Esta 
ainda é uma das grandes utopias, e promete lances es-
petaculares nas próximas décadas. A ciência é uma gran-
de escola cujas portas estão abertas a todos, pois os 
resultados são sempre cooperativos e comunitários. Há 
vários caminhos para se fazer parte da história da ciên-
cia e ajudar a humanidade a viver melhor, como prêmio 
pelo conhecimento e esforços conjuntos. Este fascículo 
é, portanto, um convite à ciência.
As ciências da vida e a vida
 ‑ 
Em 460 a.C., em Atenas,
 o escultor e arquiteto 
Policleto de Argos publicou 
o livro Cânone (Kanon), em 
que determina as proporções 
do corpo humano à razão de
 um para sete.
Doríforo de Policleto (450 a.C.), 
cópia romana de original grego.
Museu Nacional de Nápoles, 
Itália.
Leonardo da Vinci 
(1452-1519) retomou a 
tradição de análise do corpo 
humano, com modelos antigos 
e experimentos modernos.
Estudou as proporções do 
corpo humano descritas pelo 
romano Vitrúvio (1 d.C.) 
e realizou autópsias.
Desenhos de Leonardo da Vinci,
Coleção do Palácio de Windsor, 
Inglaterra.
Decifrar as leis de 
proporções de Vitrúvio foi 
um desafio assumido por 
artistas-cientistas modernos.
Desenho de Cesare Cesariano, 
edição de 1521 de De Architectura, 
de Vitrúvio.
Andreas Vesalius 
(1514-1564) publicou em 
1543 o tratado de anatomia
De humani corporis fabrica 
libri septem, constituído de 
7 livros sobre a fábrica – ou 
tecido – do corpo humano.
O alemão Leonhart 
Fuchs (1501-1566) é 
considerado um dos pais 
da botânica. O herbário 
De Historia stripivm 
commentarii insignes 
traz a descrição de mais 
de 500 plantas.
Basileae: In officina 
Isingriniana, 1542.
Charles Darwin (1809-1882), 
naturalista inglês, publicou Zoology 
of the voyage of H.M.S. Beagle 
entre 1839 e 1843, resultado de 
suas pesquisas durante a viagem 
de circum-navegação a bordo do 
brigue Beagle. 
Thomas Henry Huxley (1825-1895), biólogo britânico, foi um 
grande defensor da teoria da evolução de Darwin. 
A figura, publicada na obra Evidence as to man’s place in nature, 
de 1863, compara o esqueleto de vários macacos ao do homem.
#método empírico
Doutrina filosófica que defende que as teorias das ciências 
devem ser formuladas e explicadas a partir da observação 
do mundo e da prática de experiências científicas. Fundador 
do empirismo moderno, o filósofo inglês #Francis Bacon 
(1561-1626) defendeu que a investigação cientifica é 
experimental e indutiva: os cientistas devem observar a 
natureza e levantar hipóteses, verificando a verdade destas 
suposições por meio de experimentação.
#teoria da evolução
Também chamada evolucionismo, afirma que as espécies 
animais e vegetais não são imutáveis. Defende que as 
espécies sofrem, ao longo das gerações, uma modificação 
gradual que inclui a formação de novas raças e de novas 
espécies. Até o século 18, o mundo aceitava apenas a #teoria 
criacionista, na qual as espécies animais ou vegetais teriam 
sido criadas, exatamente como são, através de um ato divino. 
A General Natural History, 
do botânico inglês John 
Hill (1716-1775), trata de 
botânica, mineralogia e 
zoologia.
Athanasius Kircher (1601-
1680) colecionou, examinou 
e publicou estudos sobre 
diversos fenômenos, da 
vulcanologia aos hieroglifos.
Análise dos cantos de aves,
Musurgia Universalis (1650).
A lição de anatomia do Dr. Nicolaes Tulp (1632),
óleo sobre tela de Rembrandt (1606-1669).
Rijksmuseum, Amsterdam.
FrancisBacon ajudou a 
fundar o método empírico, 
base da ciência moderna.
A históriA dA ciênciA é A históriA 
dos métodos e técnicAs pArA 
compreender e AnAlisAr o mundo.
desde A GréciA clássicA, desenvolve-
se umA culturA que AnAlisA e 
decifrA o corpo humAno e A 
nAturezA, em umA trAdição que une 
Arte e ciênciA AtrAvés dos séculos.
Arte, ciênciA humAnoe corpo
02
03
AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é 
uma doença até hoje incurável, transmitida pelo ví-
rus HIV através do sangue, sêmen, fluidos vaginais 
e leite materno. O vírus invade as células responsá-
veis pelo sistema imunológico (sistema de defesa 
do corpo humano) e expõe o indivíduo portador à 
ação de outras doenças.
A melhor maneira de combater o vírus é impedir 
sua multiplicação. É o que fazem os medicamentos 
anti-HIV, que baixam a carga viral, tornando possí-
vel restaurar o sistema imunológico. Sintetizado em 
1987, o AZT ainda é o remédio mais utilizado. 
Hoje em dia, são cada vez mais raros os casos em 
que pacientes morrem de AIDS, mas levar uma vida 
normal ainda é uma realidade distante. Os efeitos 
colaterais das drogas são muito fortes: cansaço, 
náusea, vômitos, anemia, diarreia, dores muscula-
res, dor de cabeça e irritação na pele.
Para evitar a doença, é inquestionável o uso de ca-
misinha em qualquer tipo de relação sexual e não 
utilizar objetos cortantes de uso comum (seringa, 
agulha, alicate). Mulheres grávidas soropositivas 
(portadoras do vírus HIV) devem tomar o AZT, evi-
tando o contágio do bebê, sendo desaconselhado o 
aleitamento materno nestes casos.
Cientistas do mundo todo estão trabalhando no de-
senvolvimento de uma vacina contra a Aids, o que 
vem se mostrando um grande desafio, pois o HIV 
tem uma capacidade de mutação muito grande.
O teste anti-HIV é um exame de sangue específico, 
que pode ser feito de forma gratuita, anônima e sem 
prescrição médica em postos de saúde pública. A 
distribuição de camisinhas também é gratuita em di-
versas ONGs e em todos os postos de saúde do país. 
Um acidente revolucionário
Raios X são ondas de energia eletromagnética, pa-
recidos com os raios de luz visíveis mais comuns, 
como a luz de uma lâmpada. A diferença entre raios 
X e raios de luz visíveis é a energia de cada fóton, 
partícula responsável pela luminosidade. 
Foram descobertos acidentalmente em 1895, pelo 
físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923), 
que fazia experiências com feixes de elétrons em 
um tubo por onde passava gás. Toda a vez que Rön-
tgen ligava os feixes, uma tela fluorescente que ha-
via em seu laboratório começava a brilhar. Surpreso 
com a reação, colocou vários objetos entre o tubo e 
a tela, verificando que ela ainda brilhava. Foi então 
Penicilina e DSTs
AIDS
Os grandes avanços 
da medicina
As vacinas são substâncias orgânicas que aumentam 
a imunidade contra certas doenças. O princípio ativo 
da vacina é geralmente o próprio agente patogênico 
previamente enfraquecido, ou o seu DNA. A introdução 
deste agente enfraquecido no organismo estimula o 
sistema imunológico a reconhecê-lo como intruso, des-
truindo-o e criando um tipo de memória que previne 
contatos posteriores com o mesmo agente infeccioso.
Embora métodos parecidos de prevenção já tivessem 
sido empregados pela medicina popular chinesa e por 
alguns povos do Mediterrâneo, a primeira vacina de 
que se tem notícia foi a do cientista inglês Edward 
que decidiu colocar sua própria mão na frente do 
tubo, e viu que a sombra de seus ossos era proje-
tada na tela fluorescente. Assim, o físico descobriu 
os raios X e uma de suas mais importantes utilidades: 
analisar os ossos, cavidades e tecidos. 
Marie Slodowska-Curie (1867-1934), ou Madame Curie, 
uma das mais conhecidas cientistas mundiais, ganha-
dora de dois Prêmios Nobel, deu importante contribui-
ção para o uso da radioatividade durante a Primeira 
Guerra Mundial, ao propor o uso da radiografia móvel. 
Além de serem usados para diagnósticos e tratamen-
tos na área da medicina, os raios X são, 
ainda, explorados na área industrial.
A prevenção como princípio
#agente 
patogênico 
Organismo, 
microscópico ou não, 
capaz de produzir 
doenças em seus 
hospedeiros. Podem 
ser bactérias, vírus, 
protozoários etc. Eles 
se multiplicam no 
organismo causando 
infecções e outras 
complicações. 
#Louis Pasteur 
(1822-1895)
Químico e 
microbiologista francês 
reconhecido por suas 
descobertas sobre 
causas e prevenções 
de doenças. Seus 
experimentos 
fundamentaram a 
#Microbiologia: estudo 
dos micro-organismos, 
como bactérias, fungos 
e vírus. Curiosidade: 
Pasteur se graduou em 
Ciências com uma nota 
medíocre em Química.
bém das DSTs, como sífilis e gonorreia. Em 1920, 
Fleming trabalhava no seu laboratório, em Londres, 
observando o comportamento do Staphylococcus 
Aureus, bacilo (bactéria em forma de bastão) que 
causa infecção generalizada. Mas o calor do verão 
fez a experiência mofar e, analisando o mofo, Fle-
ming percebeu que o bacilo tinha morrido por causa 
do fungo Penicillium notatum. O cientista, então, 
isolou o fungo e descobriu que ele continha uma 
substância capaz de matar muitas das bactérias co-
muns que infectam o homem.
#Alexander 
Fleming 
(1881-1955)
Biólogo e farmacêutico 
escocês, Prêmio Nobel 
de Medicina em 1945, 
ao lado de Howard 
Florey e Ernst Chain, 
pela descoberta da 
penicilina.
#AZT
Também chamado 
de Zidovudina ou 
Azidotimidina, impede 
que o vírus HIV escape 
da célula infectada 
para atacar as células 
vizinhas. O avanço 
no tratamento com o 
AZT é a descoberta, 
constante, de outras 
drogas que aumentam 
a sua eficiência.
Doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) são do-
enças contraídas nas relações sexuais sem preven-
ção. Sífilis, gonorreia, herpes e AIDS são as mais 
conhecidas. Os principais agentes patogênicos são 
os vírus, as bactérias e os fungos. 
Uma das maiores revoluções na história da medi-
cina foi a descoberta do antibiótico penicilina, por 
Alexander Fleming. Derivada do fungo que forma o 
bolor do pão, a penicilina revolucionou o tratamento 
de diversas doenças causadas por bactérias e tam-
Jenner (1749-1823), em 1796, contra uma doença in-
fectocontagiosa que acometia bois e vacas, chamada 
varíola bovina.
Os estudos de Louis Pasteur também foram essen-
ciais para a prevenção de muitas doenças. Além da 
vacina contra a raiva, ele desenvolveu a pasteuriza-
ção, método que reduz significativamente o número 
de agentes patogênicos nos alimentos, sem afetar 
seu sabor e qualidade. A pasteurização consiste em 
aquecer o produto e logo após resfriá-lo, conservan-
do-o em embalagem esterilizada. Alimentos como 
leite, sucos e sorvetes são pasteurizados.
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Genoma, 
o manual do corpo humano
Quando queremos aprender a utilizar um novo 
programa de computador, software, lemos o manual. 
Se quisermos aprender a fazer algo já criado por 
alguém, lemos o tutorial passo a passo. O genoma é 
o manual/tutorial do corpo humano. 
Dentro do núcleo de nossas células, existem 23 pares 
de cromossomos com genes em seu interior. Estes 
aproximadamente 27 mil genes são nosso código, 
nosso genoma, são todas as informações necessárias 
para o desenvolvimento e o funcionamento do 
organismo. 
Os programas que fazem nossos computadores 
executarem tarefas nada mais são do que uma 
sequência de instruções. O processador lê essas 
instruções, dado a dado, e cumpre as tarefas. O 
genoma é o programa gerenciador desta máquina 
complexa que chamamos de corpo humano. 
As instruções do nosso organismo ficam inscritas 
no DNA, que controla todas as células do corpo 
para que cada uma cumpra a sua função específica. 
Estas instruções determinam não apenas nossa 
estrutura, tamanho, cor e outros atributos físicos, 
mas também nossa inteligência,suscetibilidade a 
doenças, tempo de vida e até alguns aspectos do 
nosso comportamento. 
Com a descoberta do funcionamento do genoma, o 
“programa original” do corpo humano, os cientistas 
também poderão consertar as falhas de nosso 
organismo (doenças e deficiências) e melhorá-lo, 
aumentando nossa saúde e diminuindo as chances 
de termos as mesmas doenças que nossos pais ou 
avós tiveram. 
Porém, as coisas são um pouco mais complexas do 
que isso... 99,8% dos dados genéticos são comuns 
a todas as pessoas. Mas esse 0,2% supõe cerca 
de seis milhões de diferenças, cujas combinações 
são matematicamente suficientes para moldar 
seres muito diversos. A estrutura genética de 
cada indivíduo é única e peculiar e as doenças 
hereditárias e/ou as suas propensões diferem em 
cada organismo. Portanto, sequenciar o genoma da 
espécie humana como um todo não é suficiente pra 
impedir doenças individuais. 
Câncer
O câncer é uma doença caracterizada por um con-
junto de células que cresce e se divide de forma 
anormal, invadindo e destruindo tecidos do corpo, 
sejam estes pele, ossos, membranas de órgãos etc. 
Dividindo-se rapidamente, estas células são muito 
agressivas e incontroláveis, determinando a forma-
ção de tumores (aumento anormal de uma parte ou 
da totalidade de um tecido). 
As causas d0 câncer são variadas e podem ser exter-
nas ou internas ao organismo. As causas externas 
estão ligadas ao meio ambiente e aos hábitos das 
pessoas. As causas internas são, na maioria das ve-
zes, geneticamente predeterminadas. Mas, de 80% 
a 90% dos cânceres estão associados aos fatores 
externos: cigarro, exposição excessiva ao sol, com-
ponentes dos alimentos que ingerimos... O próprio 
envelhecimento causa mudanças nas células que 
aumentam a suscetibilidade à doença. 
Porém, como o câncer nada mais é do que células 
que se reproduzem demais, é difícil diferenciar as 
células malignas das células normais do corpo. Am-
bas têm a mesma origem e são muito semelhantes. 
Em média, duas a cada três pessoas podem evitar 
o câncer se tiverem hábitos saudáveis: não fumar, 
beber moderadamente, usar protetor solar, praticar 
exercícios físicos e ingerir uma dieta sem alimentos 
ricos em gordura e que inclui porções generosas de 
frutas e vegetais. 
Se a doença for detectada em seu estágio inicial, a 
chance de cura é grande.
Os dois tipos de tratamento mais comuns para o 
câncer são a radioterapia e a quimioterapia. 
Radioterapia: tratamento que utiliza radiação 
para atingir as células doentes, tentando impedir 
o seu aumento e causar a sua destruição, com o 
menor dano possível às células normais vizinhas, 
já que serão estas que farão a regeneração da área 
irradiada. Nesse tipo de tratamento a radiação tam-
bém atinge tecidos e órgãos que estiverem no traje-
to do feixe de radiação até o tumor.
Quimioterapia: tratamento que utiliza substân-
cias químicas que afetam o funcionamento celular. 
Dezenas de medicamentos fazem parte dessa cate-
goria e um mesmo paciente recebe uma combina-
ção de vários deles para atingir o efeito desejado. 
Mas a quimioterapia também atinge as células nor-
mais, provocando efeitos indesejáveis ao organis-
mo, como: queda dos cabelos, náuseas e vômitos, 
diarreia, prisão de ventre, anemia profunda, infec-
ções, hemorragia e até o aparecimento de outros 
tumores.
Sendo uma doença tão complexa e de difícil tra-
tamento, é uma das que mais recebe atenção nas 
pesquisas. Todos os meses, dezenas de relatórios 
são publicados com notícias sobre a possibilidade 
de cura do câncer, e as pesquisas são cada vez mais 
promissoras. 
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Os grandes desafios 
das ciências da saúde e da vida
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Avanços tecnológicos e científicos nas áreas que lidam com a saúde e com os organismos 
vivos, como a biologia celular e a genética, não foram suficientes para proporcionar 
qualidade de vida para todo o gênero humano. A desnutrição e a mortalidade infantil 
ainda são enormes. Doenças como AIDS, malária e tuberculose ameaçam diariamente 
a população das regiões mais pobres do planeta. Cada vez mais, as ciências buscam 
respostas às doenças do envelhecimento. A diabetes tornou-se a epidemia do século 
e o uso de agrotóxicos nos alimentos, o responsável por diversas doenças. Esses, 
entre outros, constituem ainda desafios importantes para a ciência e a sociedade.
No dia 8 de setembro de 2000, os 191 Estados-mem-
bros da Organização das Nações Unidas – ONU assi-
naram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. 
Acabar com a extrema pobreza e a fome, promover 
a igualdade entre os sexos, erradicar doen ças que 
matam milhões e fomentar novas bases para o de-
senvolvimento sustentável dos povos são algumas 
das oito metas apresentadas na Declaração do Milê-
nio, e que se pretendem alcançar até 2015. 
A primeira meta do milênio quer reduzir pela meta-
de o número de crianças desnutridas. No Brasil, essa 
meta já foi alcançada. A quarta meta é reduzir em 
dois terços a mortalidade de crianças com menos 
de cinco anos. No país, essa meta deve ser atingida 
em 2013. Estes aspectos de melhoria da saúde no 
Brasil receberam atenção internacional através de 
uma série de publicações científicas no ano de 2011.
Apesar desse progresso, disparidades entre regiões 
geográficas e níveis socioeconômicos persistem 
como um grande desafio. Por outro lado, à medida 
que causas de mortalidade como desnutrição, diar-
reia, infecções e problemas de parto são resolvidos, 
as causas genéticas e ambientais de mortalidade e 
de deficiências crescem e já são a segunda causa de 
mortalidade infantil no Brasil. Desta forma, o país, 
da mesma maneira que precisa resolver as dispa-
ridades socioeconômicas, deve também voltar-se 
para encarar estes novos desafios da saúde pública.
Os desafios que as ciências da saúde e da vida en-
frentam, por vezes, têm um componente científico, 
mas, no estágio atual, há, sobretudo, um compo-
nente social que faz com que grande parte da popu-
lação não se beneficie com os avanços da ciência. 
Na sexta meta da Declaração do Milênio, lemos:
Seja no caso da AIDS, seja no caso de outras doenças 
que ameaçam acima de tudo as populações mais 
pobres e vulneráveis, como a malária, a tuberculose 
e outras, parar sua expansão e depois reduzir sua in-
cidência dependerá fundamentalmente do acesso da 
população à informação, aos meios de prevenção e 
aos meios de tratamento, sem descuidar da criação 
de condições ambientais e nutritivas que estanquem 
os ciclos de reprodução das doenças.
#Declaração do 
Milênio
(2000)
Documento que 
estabelece um com-
promisso mundial 
compartilhado com a 
sustentabilidade do 
planeta. Os países-
-membros da ONU 
concordaram em 
pôr em prática um 
conjunto de objetivos a 
serem atingidos até o 
ano de 2015, por meio 
de ações concretas 
dos governos e da 
sociedade.
#ciências da vida
É o conjunto de 
saberes que abordam 
organismos vivos 
como biologia, biologia 
celular, genética e etc.
#África 
Subsaariana
Região geográfica, 
conhecida como “África 
Negra”, compreende os 
países do continente 
africano que ficam 
ao sul do deserto do 
Saara. Ela se diferencia 
do Norte da África, 
considerado parte do 
mundo árabe.
Dados da  Organização Mundial de Saúde – OMS 
de 2006 mostram que cerca de 1,5 milhão de 
pessoas morrem anualmente pela picada do 
mosquito da malária. A cada 30 segundos uma 
criança morre de malária na África. As que não 
morrem, podem ficar com problemas mentais 
para sempre. 
Em fevereiro de 2011, cientistas anunciaram os 
resultados de uma promissora vacina contra ma-
lária. Milhares de crianças foram imunizadas na 
África e quase a metade (45,8%) ficou protegida. 
O trabalho é de dois cientistas brasileiros, Ruth e 
Victor Nussenzweig, que fun-
damentaram a concepção e 
o desenvolvimento dessavacina. Eles moram 
nos EUA e trabalham 
na Universidade de 
Nova Iorque.
Segundo dados da ONU, o núme-
ro de infectados no mundo chegou 
a 33 milhões em 2008. No Brasil, 
foram 544 mil casos até 2009. Somente na África 
Subsaariana, são mais de 22 milhões, representan-
do 67% do total de infectados. Um quinto deles são 
crianças. O desafio da AIDS no mundo é nos últi-
mos anos um conflito de interesses econômicos das 
empresas farmacêuticas. Como disse o infectologis-
ta brasileiro Guido Levi, “quem se trata não morre 
mais de AIDS”. Mas ainda há populações que não 
têm acesso à medicação em tempo. 
A Gilead Sciences, farmacêutica líder em drogas con-
tra o HIV, acaba de licenciar a produção de medica-
mentos genéricos contra o HIV para países pobres. 
A empresa norte-americana é a primeira a assinar o 
Fundo Comum para Patentes de Medicamentos, 
um acordo que negocia remédios mais bara-
tos contra a AIDS para países subdesenvolvi-
dos. A empresa irá receber royalties de 3% 
das vendas dos medicamentos.
AIDS Malária
Segundo a OMS, a tuberculose ainda causa a mor-
te de mais de 4 mil pessoas por dia no mundo e 
o número de infectados continua a aumentar. As 
altas taxas de incidência da tuberculose no mu-
nicípio de Porto Alegre, com uma média de 100 
casos para 100 mil habitantes, contrastam com o 
Índice de Desenvolvimento Humano da cidade, de 
0,865, considerado elevado. Pesquisa desenvolvi-
da na UFRGS pela professora Lisiane Morelia Wei-
de Acosta analisou a distribuição espacial da taxa 
de incidência da tuberculose na cidade e concluiu 
que ela está associada a determinantes sociais, 
por esses casos acontecerem, em sua maioria, nos 
bairros mais pobres da cidade. 
A falta de planejamento e 
políticas públicas que pro-
movam a justiça social 
são as causas aponta-
das na pesquisa.
Intoxicações crônicas que, em longo prazo, resultam em câncer, descontrole da tireoide, do sistema 
neurológico em geral, surdez, diminuição da acuidade visual e até mesmo Mal de Parkinson são 
possíveis problemas de saúde causados pelos agrotóxicos. Produtos banidos pela União Europeia 
continuam a ser usados no Brasil, país do mundo que mais emprega pesticidas em suas lavouras. 
A situação é tão grave que, além de serem encontradas nos alimentos, na água, no solo, no ar, essas 
substâncias foram detectadas, inclusive, no leite materno. Alguns agrotóxicos são produzidos com partículas 
nanotecnológicas, o que, pode aumentar os riscos de toxicidade no solo e na água. A nanotecnologia oferece 
novas oportunidades para indústrias ligadas à cadeia de produção agrícola, mas também pode gerar enormes 
riscos para saúde e o meio ambiente. 
O diabetes está se tornando a epidemia do 
século e já afeta cerca de 246 milhões de pes-
soas em todo o mundo. Até 2025, a previsão é de 
que esse número chegue a 380 milhões. Estima-se 
que boa parte das pessoas que têm diabetes, do-
ença que pode atingir crianças de qualquer idade, 
desconhece a sua própria condição. O diabetes me-
litos (tipo 2), que no passado era raro em crianças, 
atualmente cresce cada vez mais, devido ao grande 
número de crianças obesas, o que contribui para a 
manifestação precoce da doença. A meta do trata-
mento do diabetes é manter o nível de açúcar no 
sangue o mais perto do valor considerado normal. 
O primeiro passo é levar uma dieta saudável e fazer 
exercicios. Às vezes são necessários medicamentos 
ou injeções de insulina. Há também novas terapias 
em teste, como o implante liberador de insulina e a 
implementação de músculos artificiais para restaurar 
o movimento de músculos danificados pela doença.
No ano 44 a.C., Marco Tulio Cícero (106 a.C.-44 a.C.)
escreveu Saber envelhecer, texto no qual aproxima 
o saber envelhecer do saber viver, encarando a ve-
lhice como uma experiência a ser assumida, sem 
negá-la ou antecipá-la. O autor afirma que acumular 
conhecimento e boa saúde é o modo de viver uma 
velhice digna e feliz. Na época de Cícero, a velhice 
significava menos de quatro décadas de vida. Hoje, 
a expectativa de vida atinge oito décadas em pelo 
menos 15 países do mundo. 
Apesar de ser uma das mais antigas preocupações 
da humanidade, o envelhecimento passou a ser es-
tudado com rigor científico somente há algumas dé-
cadas. Contudo, o conhecimento sobre o tema nun-
ca evoluiu tanto, devido a dois fatores: a explosão 
da população idosa, que, nos países ricos, ultrapas-
sou o número de jovens menores de 14 anos; e o 
avanço da pesquisa genética, especialmente após o 
genoma humano ser desvendado. 
De acordo com a Alzheimer’s Disease International, 
será de 115 milhões o número de pessoas com al-
gum tipo de demência em 2050. A entidade britâni-
ca prevê que esses casos dobrem a cada 20 anos.
O Mal de Alzheimer é uma doença degenerativa que 
ainda é incurável, mas possui tratamento. Ele per-
mite retardar o declínio cognitivo, tratar os sinto-
mas, controlar as alterações de comportamento e 
proporcionar qualidade de vida ao idoso e sua fa-
mília. É a principal causa de demência em pessoas 
com mais de 60 anos no Brasil e em Portugal.
O Mal de Parkinson é uma doença 
neurológica que afeta os membros do corpo, causan-
do tremores, desequilíbrio, lentidão nos movimentos 
e rigidez muscular. A causa e a cura desta patologia 
ainda não foram descobertas. Estudos mostram que 
a doença tende a afetar pessoas mais idosas, porém 
esta não é uma regra. Como é uma doença progres-
siva, os sintomas se agravam ao longo dos anos e 
podem ser distintos, dependendo de cada paciente. 
Em 2010, células-tronco retiradas do útero de uma 
mulher se transformaram em neurônios quando in-
jetadas em cérebros de ratos que sofriam de Parkin-
son. A pesquisa sugere que mulheres que sofrem 
com a doença podem ser suas próprias doadoras. 
A pesquisa, feita na Universidade de Yale, diz que 
seria possível fazer um banco de células-tronco ute-
rinas. Segundo os cientistas, o útero é a fonte mais 
abundante e mais segura de células-tronco. 
Existe um procedimento que, embora não cure o 
Mal de Parkinson, diminui seus efeitos em pacien-
tes que não apresentam outras complicações. Apeli-
dado de “marca-passo cerebral”, já é utilizado des-
de a década de 1980, mas ainda pouco conhecido 
por ser muito caro. Ele alivia os tremores, ajuda a 
controlar a lentificação dos movimentos, melhora o 
andar e reduz a rigidez. Implanta-se 
um eletrodo com um gerador a 
bateria, debaixo da clavícula, 
que, através de um contro-
le remoto, pode ser ligado e 
desligado pelo paciente.
A ciência e o 
envelhecimento#agrotóxicosSão substâncias químicas, vírus, 
bactérias, 
anitimicrobianos, 
desinfetantes etc. 
destinados a prevenir, 
destruir, repelir ou 
abrandar qualquer 
praga, como insetos, 
agentes patogênicos 
de plantas, ervas 
daninhas e micróbios 
que destroem as 
plantações e/ou 
disseminam doenças. 
Embora possam ter 
uma ação benéfica à 
saúde, apresentam 
potencial tóxico para 
humanos e outros 
animais. 
#genoma
É o código genético 
do ser humano, 
onde estão todas as 
informações para 
o desenvolvimento 
e o funcionamento 
do organismo, e 
fica localizado no 
núcleo de cada 
uma das células. O 
genoma é constituído 
por 23 pares de 
cromossomos, que 
contêm os genes 
em seu interior. O 
mapeamento do 
genoma é uma 
das chaves para a 
descoberta da causa 
e da cura de muitas 
doenças. 
#Alzheimer’s 
Disease 
International
Federação de 
associações de 
Alzheimer de todo o 
mundo, situada em 
Londres. Trabalha para 
promover e oferecer 
cuidados e apoio para 
pessoas com demência 
e seus cuidadores, 
e também atua 
globalmente chamando 
a atenção sobre a 
doença.
A tecnologia contra a saúde?
Tuberculose Diabetes
10
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13
#totipotente 
Significa “poder tudo”, 
ou seja, cada uma 
destas células podecriar um ser humano 
completo.
#placenta
É um anexo 
embrionário 
presente somente 
nos mamíferos. Ela 
é responsável por 
fornecer nutrição, 
oxigênio e proteção ao 
embrião.
#anexos 
embrionários 
Os anexos 
embrionários são 
estruturas ligadas ao 
embrião de répteis, 
aves e mamíferos, 
relacionados com a 
adaptação desses 
vertebrados ao 
ambiente terrestre.
CÉLULAS-TRONCO TOTIPOTENTES
óvulo + espermatozoide = célula-ovo (zigoto)
Após a fertilização, essa célula começa a se dividir: o zigoto se transforma em duas células; estas duas, em 
quatro; as quatro, em oito e as oito em 16 células totipotentes. 
Esta divisão inicial das células totipotentes vai até mais ou menos o quarto dia de vida do embrião. A partir 
daí, as divisões prosseguem, mas originam células diferentes umas das outras... São células especializadas 
em funções distintas. Portanto, não são mais totipotentes. 
CÉLULAS-TRONCO PLURIPOTENTES 
Por volta do quinto dia de vida do embrião, quando ele já tem mais ou menos 100 células no corpo, ocorre 
uma primeira diferenciação, as células já não são todas iguais. As células externas formarão a placenta e os 
anexos embrionários. As células internas, chamadas de células-tronco pluripotentes, formarão os diferentes 
tecidos do corpo humano. Aqui, o embrião atingiu o estágio chamado de blastocisto. 
As células-tronco pluripotentes conseguem formar todos os tecidos do corpo (com exceção da placenta e dos 
anexos embrionários), por isso são tão pesquisadas por cientistas. 
CÉLULAS-TRONCO OLIGOPOTENTES
Conseguem se diferenciar em poucos tecidos. As células-tronco oligopotentes ainda são objeto de pesquisa e 
são encontradas em diversos tecidos já formados, como nos tecidos dos intestinos, por exemplo.
CÉLULAS-TRONCO UNIPOTENTES 
Conseguem se diferenciar em um único tecido. As células-tronco unipotentes, encontradas em órgãos já for-
mados, têm a provável função de reparar os tecidos aos quais pertencem. As unipotentes da medula óssea 
são responsáveis por manter o nível de elementos do sangue que necessitam constante substituição.
As células-tronco têm a capacidade de se transformar em outros tipos de células, incluindo as do cérebro, 
coração, ossos, músculos e pele. Existem quatro tipos de células-tronco: totipotentes, pluripotentes, oligopo-
tentes e unipotentes. As oligopotentes e unipotentes são específicas ou de tecidos adultos e ainda não tão 
importantes nas pesquisas científicas atuais, que precisam de células capazes de se transformar no máximo 
de tipos de tecidos possíveis. Ou seja, são aquelas que possuímos quando ainda pequenos embriões na bar-
riga de nossas mães: as totipotentes e as pluripotentes. 
Células-tronco
Do que é feito o corpo humano? São tantos tecidos e órgãos 
que executam funções tão diferentes... De onde vêm e como se 
formam estas estruturas? Do cérebro à pele de nossas mãos, tudo 
no corpo humano é composto por células. De acordo com o tipo 
de célula (existem por volta de 200) e como elas se organizam, 
temos estruturas com diferentes funções: células musculares, 
células nervosas, células ósseas etc. 
CORPO HUMANO = CÉLULAS
 1998 
 2003-2009 
 2005
 2006
 2007
 2009
 2010
Acompanhe como as pesquisas têm evoluído 
#Lygia da Veiga Pereira 
 (1967)
Doutora em Ciências Biomédicas, 
a brasileira é considerada uma 
das mais renomadas geneticistas 
do mundo. A cientista fez parte 
do grupo que criou o primeiro 
camundongo transgênico do país, 
produzindo modelos para o estudo 
de doenças genéticas. Sua bem-
sucedida pesquisa de extração e 
multiplicação de células-tronco 
retiradas de embriões congelados 
colocou o Brasil no seleto grupo de 
países que dominam essa tecnologia. 
Atualmente, é Professora Associada 
e Chefe do Laboratório Nacional 
de Células-Tronco Embrionárias da 
Universidade de São Paulo.
A POLÊMICA: EMBRIÕES 
Cientistas norte-americanos da Universidade de Wisconsin de-
senvolvem o primeiro método para isolar e derivar células em-
brionárias humanas.
O Ministério da Saúde investe R$ 533 milhões em 2.694 projetos 
científicos de universidades e instituições de pesquisa brasileiras.
Lei de Biossegurança é aprovada, estabelecendo normas e meca-
nismos de fiscalização a qualquer atividade que envolva organis-
mos geneticamente modificados e seus derivados.
 
Pesquisador japonês desenvolve técnica revolucionária para pro-
dução de células pluripotentes através da reprogramação genéti-
ca de células adultas de camundongos.
A pesquisa japonesa evolui para as células humanas. A repro-
gramação pode ser feita com diferentes tipos celulares, mas, em 
geral, são usadas células da pele. Estas células derivadas são 
chamadas de células-tronco de pluripotência induzida (iPS) e 
são muito similares às células-tronco embrionárias, apresentan-
do as mesmas características de autorrenovação e potencial de 
diferenciação.
 
Pesquisa coordenada pelos cientistas brasileiros Lygia da Vei-
ga e Stevens Rehen, no Laboratório Nacional de Células-Tronco 
Embrionárias, desenvolve a primeira linhagem de célula-tronco 
embrionária humana do Brasil. Neste mesmo ano, o laboratório 
produz a primeira linhagem de células-tronco obtidas sem o uso 
de embriões (células-tronco induzidas).
O biólogo brasileiro Alysson Muotri e sua equipe transformaram 
neurônios de uma alteração neurológica grave, a síndrome de 
Rett, em células saudáveis, demonstrando que é possível rever-
ter os efeitos da doença no nível neuronal. 
Pesquisas com as células-tronco embrionárias de camundongos são feitas 
desde a década de 80. Estes estudos iniciais permitiram que os cientistas de 
hoje saibam como transformar células embrionárias em células cardíacas, em 
neurônios e outros tecidos que podem aliviar os sintomas de muitas doenças.
Mas questões técnicas, legais e éticas dificultaram a obtenção das primeiras 
linhagens humanas. No Brasil, a primeira linhagem de células-tronco 
embrionárias humanas foi derivada em 2009, pelo grupo do Laboratório 
Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE), coordenado pela cientista 
brasileira Lygia da Veiga Pereira. Elas foram obtidas a partir das células 
internas de blastocistos também humanos. Os embriões usados seriam 
descartados e foram doados para pesquisa, com o consentimento informado 
dos doadores. 
Como essas pesquisas exigem a destruição de um embrião humano de 
cinco dias (o blastocisto, conglomerado de aproximadamente 100 células), 
uma nova polêmica surgiu no mundo: esse embrião é uma vida humana 
ou não? E, se for “vida”, vale ser sacrificado em nome da cura ou do 
tratamento para diversas doenças?
“O conceito de vida é subjetivo, mas vale lembrar que todo dia milhares 
desses embriões excedentes são descartados ou esquecidos em tanques de 
congelamento nas clínicas de reprodução assistida.” Lygia da Veiga Pereira
Lygia foi convidada do Fronteiras do Pensamento em agosto de 2011, quando 
conversou sobre os mitos e as realidades das pesquisas em células-tronco. 
A cientista lembrou que a Lei de Biossegurança (2005) prevê que é permitido 
o uso de embriões que tenham mais de três anos de congelamento. Três 
anos foi definido como período de tempo suficiente para que o casal que 
gerou o embrião tenha certeza de que quer doá-lo para a ciência. Contudo, 
para Lygia, mais importante do que quando começa a vida, é definir quais 
formas de vida a constituição trata.
De acordo com as leis brasileiras, é permitido doar órgãos de um indivíduo 
com morte cerebral, que é uma forma de vida, mas o estudos com embriões 
sofrem diversos empecilhos, pois ainda não ficou esclarecido sobre qual 
vida estamos falando.14
15
Clonagem
É importante que 0 tema clonagem passe por discussões abertas de toda a sociedade para 
que a ciência possa avançare trazer benefícios sem ameaçar a biodiversidade ou prejudicar 
algum indivíduo ou grupo. 
Para pensar nos limites e a regulamentação das pesquisas existem os Comitês de Ética. São 
órgãos colegiados nas universidades, compostos por profissionais de diferentes áreas do co-
nhecimento e também por representantes da comunidade, responsáveis pela avaliação ética 
e metodológica dos projetos de pesquisas que envolvam seres humanos, tendo por objetivo 
proteger o bem-estar dos indivíduos pesquisados. 
Existem também os Comitês de Bioética, grupos interdisciplinares, compostos por profissionais 
de saúde e de outras áreas, assim como representantes da comunidade, que têm por objetivo 
auxiliar na reflexão de dilemas morais que surgem na aplicação da ciência além de prestar 
consultorias, ensinar, pesquisar e sugerir normas institucionais em assuntos que envolvam 
questões éticas. Esses comitês são responsáveis, portanto, por pensar sobre questões nas 
quais não existe consenso moral, como a fertilização in vitro, o aborto, a clonagem, a eutaná-
sia, os transgênicos e as pesquisas com células-tronco, bem como a responsabilidade moral de 
cientistas em suas pesquisas e suas aplicações.
O sonho da vida eterna sempre foi perseguido pelo 
ser humano. Existem pessoas que pagam uma for-
tuna para terem seu corpo, após a morte, congelado 
em nitrogênio líquido, pela ilusão de garantir a sua 
continuidade biológica. As academias de ciência de 
63 países posicionaram-se contra a clonagem de seres 
humanos. Pesquisadores como a Dra. Lygia da Veiga 
Pereira defendem que é um risco que não podemos 
correr, mas alerta que é possível que haja cientistas 
tentando, às escondidas. Talvez algum dia seja possí-
vel clonar seres humanos sem riscos de malformações 
ou doenças, mas as questões éticas permanecem. 
Atualmente, as experiências com animais clonados 
depois da ovelha Dolly mostraram que, além da efi-
ciência ser baixíssima (1%), praticamente todos os 
animais clonados tiveram problemas graves e um 
terço deles, morte prematura.
Se a penalização da clonagem humana gera consen-
so na comunidade científica internacional, a clona-
gem terapêutica em seres humanos a partir de cé-
lulas-tronco embrionárias é objeto de grande debate 
com a expectativa da cura de doenças irreversíveis.
A clonagem (do grego Klon = broto vegetal) é o pro-
cesso natural ou artificial onde são produzidos orga-
nismos geneticamente idênticos. Trata-se de um tipo 
de reprodução assexuada, pois não envolve troca de 
gametas (células sexuais).
Em 1903, Herbert J. Webber criou o termo clonagem. 
Mas a palavra só ficou mundialmente conhecida com 
a clonagem da ovelha Dolly, realizada pelos cientis-
tas Ian Wilmut e Keith Campbell. 
Já em 2003, foi anunciado o nascimento por clona-
gem de quatro porcos saudáveis e sem os dois ge-
nes que fazem os humanos rejeitarem o tecido suí-
no. Fato comemorado devido à escassez de órgãos 
para transplantes em seres humanos. Os porcos são 
considerados uma fonte potencial para transplantes, 
porque seus órgãos têm, mais ou menos, o mesmo 
tamanho dos órgãos humanos. Hoje, as válvulas car-
díacas desses animais, que contêm apenas cartila-
gem, já são amplamente usadas em pessoas. 
Em 2007, foram clonados embriões de macacos e, 
a partir deles, isolaram linhagens de células-tronco 
embrionárias. A técnica, grande esperança da me-
dicina para o desenvolvimento de tratamentos para 
uma série de doenças incuráveis, havia sido aplicada 
antes apenas em camundongos. 
 
Do ponto de vista da alimentação, o consumo de ani-
mais clonados é tratado com cautela. A Comissão Eu-
ropeia propôs recentemente uma moratória até 2015, 
pela qual não poderá haver carne nem leite proceden-
tes de animais clonados nas prateleiras dos supermer-
cados europeus. A moratória barra a possibilidade de 
se conceder estas autorizações, permitindo um tempo 
para reflexão sobre as consequên cias dessa prática, 
tanto para os seres humanos quanto para os animais. 
#ovelha Dolly
(1996-2003) 
A ovelha Dolly foi o 
primeiro mamífero 
clonado por 
transferência de núcleo 
de células somáticas. 
Ela teve uma morte 
prematura, aos seis 
anos de idade, fato 
que acirrou o debate 
sobre a segurança, 
a validade e a ética 
nos processos de 
clonagem.
#Herbert J. 
Webber
(1865-1946) 
Botânico norte-
americano. Utilizou 
a palavra “clone” 
para se referir a 
uma colônia de 
organismos derivados 
assexuadamente de 
um único progenitor.
#Ian Wilmut 
(1944), e #Keith 
Campbell (1954) 
respectivamente, 
embriologista e biólogo
ingleses, líderes da 
equipe do Roslin 
Institute (Universidade 
de Edimburgo, Reino 
Unido), responsável 
pelo processo de 
clonagem que resultou 
no nascimento da 
ovelha Dolly.
16
17
#Bioética 
Estudo transdisciplinar 
entre Biologia, 
Medicina, Filosofia 
(Ética) e Direito 
(Biodireito) que 
investiga as condições 
necessárias para 
uma administração 
responsável da 
vida humana, da 
vida animal e da 
responsabilidade 
ambiental.
#realidade virtual
Tecnologia entre um 
usuário e um sistema 
computacional com o 
objetivo de recriar ao 
máximo a sensação 
de realidade para 
um indivíduo em um 
#cibermundo: 
mundo virtual.
#transgenia
Técnica da engenharia 
genética que combina 
material genético 
de organismos com 
o objetivo de criar 
organismos com 
características novas 
ou melhoradas.
#biorrobótica
Área de estudo que 
pretende criar um 
organismo vivo a partir 
de materiais comuns 
como metal, plástico 
entre outros. Pode 
ser definida também 
como a criação de 
robôs que simulam 
ou se aproximam ao 
funcionamento de 
organismos vivos.
#nanoengenharia
Capacidade humana de 
fabricar protótipos da 
robótica em miniatura.
#Raymond 
Kurzweil
(1948)
Realizou a primeira 
teleconferência 
holográfica do sul do 
Brasil no Fronteiras 
do Pensamento de 
2010, apresentando 
previsões sobre o 
futuro da tecnologia 
e a sua utilização nas 
mais diversas áreas do 
conhecimento.
As extensões
HumanAS
Todas as coisas que criamos são extensões de alguma 
faculdade psíquica ou física humana. A utilização da 
roda é uma potencialização dos pés. Com a aceleração 
dos pés, surgiu a necessidade da estrada. As próteses 
são invenções nossas, mas, uma vez criadas, elas nos 
reinventam e nos demandam novas outras. O avião é 
também uma extensão dos pés; o livro, dos olhos; a 
roupa, da pele; o circuito elétrico, do sistema nervoso 
central. Quanto mais nos envolvemos na criação de 
próteses tecnológicas, desenvolvemos uma de nos-
sas faculdades e tornamos obsoleta outra. Ao acender 
um palito de fósforo, desaprendemos a produzir fogo; 
ao usar um computador, reduzimos a capacidade de 
memorizar e efetuar cálculos ou, ainda, a habilidade 
motora da escrita. Temos também próteses em nossos 
corpos: auditivas, dentárias, ortopédicas, estéticas. A 
fusão homem-máquina, portanto, não é uma questão 
de futuro, é uma capacidade natural do ser humano 
inventar próteses para se estender na história. 
Ser humano 2.0
Diversos artistas contemporâneos estão envolvidos 
com projetos nas áreas de realidade virtual, ciber-
mundos, transgenia, biorrobótica e nanoengenharia. 
As obras desses artistas parecem também dialogar 
com as proposições de alguns cientistas como Ray-
mond Kurzweil, que afirma que as máquinas irão 
tomar consciência e substituir o homem dentro dos 
próximos 30 anos. Segundo o cientista, como o ho-
mem evoluiu do australopitecus ao homo-sapiens 
biologicamente, desta vez estamos literalmente cons-
truindo a nova criatura que irá nos substituir na esca-
la evolutiva, algo como o humanimal-roboticus, uma 
espécie de “Ser Humano Versão 2.0”:
 
“Nossa espécie já aumentou a ordem “natural” de nos-
sas vidas por meio de nossa tecnologia: drogas, suple-
mentos, peças de reposição paravirtualmente todos os 
sistemas corporais e muitas outras invenções. Já temos 
equipamentos para substituir nossos joelhos, bacias, 
ombros, cotovelos, pulsos, maxilares, dentes, pele, ar-
térias, veias, válvulas do coração, braços, pernas, pés e 
dedos. (...) Estamos aprendendo os princípios de opera-
ção do corpo e do cérebro humanos e logo poderemos 
projetar sistemas altamente superiores, que serão mais 
agradáveis, durarão mais e funcionarão melhor, sem se-
rem suscetíveis a panes, doenças e envelhecimento.” 
Raymond Kurzweil
O corpo pós-humano: 
Francis Bacon já descrevia, em 1627, a necessidade 
humana de:
“...prolongar a vida; retardar o envelhecimento; curar as 
doenças consideradas incuráveis; aliviar a dor; transfor-
mar o temperamento, a estatura, as características físicas; 
reforçar e exaltar as capacidades intelectuais; transformar 
um corpo em outro; fabricar novas espécies; efetuar trans-
plantes de uma espécie à outra; criar novos alimentos re-
correndo a substâncias não usadas hoje”. 
Ao redor do corpo de cada um, se condensam as pos-
sibilidades incessantemente oferecidas pela biologia 
e pela genética, pela inovação informática, pelas 
neurociências, pelas nanotecnologias. Para alguns 
cientistas, o corpo está prestes a se transformar jus-
tamente em uma “nano-bio-info-neuro-máquina”. 
As imagens do corpo se multiplicam. Mostram-no 
modificado tecnicamente para “reparar” seus defei-
tos ou “melhorar” seu desempenho; descrevem-no 
através das construções das relações entre cérebro e 
computador. As fronteiras se deslocam para formas 
de integração entre pessoa e máquina, e nascem in-
terrogações novas e mais radicais. 
ciência, ficção, 
arte ou 
realidade?
O potencial para as combina-
ções entre vida artificial, 
robótica, redes neurais 
e manipulação gené-
tica é tamanho que 
nos leva a pensar que 
estamos nos aproximando de um tempo 
em que a distinção entre vida natural e 
artificial não terá mais onde se apoiar. O 
efeito conjunto de todos esses desenvol-
vimentos tem recebido o nome de pós-
-humanismo. Mas esse anseio por um 
humano que supera todos seus limites 
não é novidade. 18
19 
A arte pós-humana
Stelarc (1946), artista plástico da Body Art (gênero artístico no qual 
o corpo do artista é o meio ou o suporte da expressão), implantou 
mãos robóticas em seu corpo para sugerir que a tecnologia supera 
em muito algumas capacidades do próprio corpo que a inventou. “A 
tecnologia ligada simbioticamente e implantada no corpo cria uma 
nova síntese evolucionária, cria um híbrido humano. O orgânico e o 
sintético se unindo para criar um novo tipo de energia evolucionária”.
20
21
Vejamos algumas das 
mais recentes descobertas:
Olho biônico 
O projeto do médico francês José Sahel desenvolveu 
uma retina artificial que recupera parcialmente a visão. 
Uma microcâmera com um chip é conectada a eletrodos 
anexados às células da retina por meio de um pequeno 
implante atrás da orelha. A imagem é capturada pela 
câmera e a informação é convertida em sinais eletrôni-
cos que viajam, via nervo óptico, para o cérebro. 
Prótese wireless
A Universidade de Michigan, EUA, está desenvolvendo 
um implante cerebral, chamado BioBolt, com o objetivo 
da interface cérebro-máquina. O dispositivo wireless usa 
a pele do corpo como condutor para transmitir os sinais 
cerebrais. Microcircuitos são ligados ao cérebro para cap-
turar o padrão dos neurônios e convertê-lo em sinais digi-
tais, transmitindo-o através da pele para um computador. 
Mão possuída
A Universidade de Tóquio e a Sony se uniram para 
desenvolver o Possessed Hand, uma cinta para o ante-
braço com 28 eletrodos que controla o movimento dos 
dedos de forma involuntária. Ao usar a cinta, o usuá-
rio perde o controle do braço, mas pode programá-lo 
para realizar outras tarefas. O dispositivo já controla o 
movimento de 16 juntas nas mãos e foi bem-sucedido 
ao colocar uma pessoa para tocar o koto, instrumento 
musical japonês.
Liga-desliga
O Ph.D. em bioengenharia Theodore Berger e sua equi-
pe desenvolveram uma maneira de “ligar” e “desligar” 
a memória. Os pesquisadores fizeram ratos aprender a 
apertar um botão. Em seguida, bloquearam, com o uso 
de drogas, a ligação entre as duas regiões cerebrais 
que convertem memórias de curto prazo em memórias 
de longo prazo. Assim, cinco segundos após apertar o 
botão, o ratinho já havia desaprendido. Posteriormen-
te, usando um sistema eletrônico que imita os sinais 
neurais associados à memória, os cientistas consegui-
ram fazer as cobaias se lembrarem de tudo novamente.
 
O homem sente antes de explicar, 
o cérebro vê antes de enxergar
Já notou como existem alguns segundos entre o mo-
mento em que nos deparamos com algo novo e o 
momento em que colocamos esta nova experiência, 
sensação, aprendizado em palavras? Estes instantes 
são o tempo necessário para traduzirmos as coisas 
de forma compreensível. Com o cérebro é a mesma 
coisa. 
O cérebro acessa memórias do passado, puxa essas 
lembranças e combina com o momento presente. 
Com base em todas estas associações e experiên-
cias complexas, o cérebro dirá se é uma experiência 
boa, como você deve agir e o que dizer. Isso tudo 
acontece num espaço de tempo mínimo e impercep-
tível para nós, “donos” deste cérebro. 
Essa combinação de passado e presente, de lem-
branças internas e vivência externa, é o que produz 
nosso comportamento e se chama princípio da con-
textualização: 
“A forma como o cérebro responde como um todo, 
seja em resposta a um estímulo sensorial, seja para 
produzir um comportamento motor particular, de-
pende de seu estado global interno a cada instante; 
isto é, a dinâmica cerebral contínua é essencial para 
definir a solução ótima que o cérebro encontra para 
a geração de qualquer comportamento.”
O futuro do cérebro: 
o cérebro do futuro
A ligação entre cérebro e máquina vai além da seme-
lhança na complexidade de executar diversas tarefas 
simultaneamente. As máquinas têm, cada vez mais, 
ganhado espaço nas pesquisas da neurociência: são 
computadores minúsculos que agirão como próteses, 
substituindo defeitos neurológicos nos seres humanos. 
Já nos anos 70, a primeira prótese bem-sucedida 
foi o implante de cóclea (parte interna do ouvido, 
responsável pela audição). Debaixo da pele, atrás da 
orelha, os cientistas implantaram um chip que envia 
estímulos aos nervos da cóclea. O som é captado 
por um microfone anexado atrás da orelha, proces-
sado por um dispositivo e enviado ao cérebro. 
Desde então, incontáveis próteses têm sido desen-
volvidas em laboratórios de todo o mundo. Com o 
crescimento da tecnologia, essas maquininhas não 
apenas executam uma função fixa (como captar e 
transmitir sons ao cérebro), mas aprendem com o 
usuário da prótese conforme este a utiliza. 
Existem pesquisas e próteses sendo criadas para as 
mais diferentes funções do corpo humano. Seja para 
recuperar funções biológicas perdidas ou melhorar a 
performance do corpo humano, a união entre neuro-
ciência e tecnologia cresce rapidamente e aproxima 
a ideia de humano e ciborgue cada vez mais. 
Num futuro não muito distante, a ficção científica se unirá à realidade para ajudar seres humanos que per-
deram movimentos do corpo em acidentes ou por doenças neurológicas. É a proposta do Walk Again Project 
(Projeto Caminhe Novamente), reunião de diversos cientistas e instituições do mundo inteiro.
Neste momento, o maior roboticista do mundo, o engenheiro Gordon Cheng, está na Suíça construindo uma 
veste robótica a partir das descobertas do médico e cientista brasileiro Miguel Nicolelis. Esta roupa agirá como 
um esqueleto externo (ou exoesqueleto), cobrindo o corpo do paciente do pescoço aos pés e lendo sua ativi-dade cerebral, que será transformada em comandos digitais. Em tempo real, os motores desta roupa robótica 
movimentarão o corpo do paciente, que voltará a caminhar sob o controle da sua própria mente.
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Darth Vader Anakin Skywalker era 
um poderoso guerreiro que lutava para 
manter a paz. Porém, ao se tornar amigo 
de um vilão secretamente disfarçado de 
senador, começa a perder a fé no uso da 
força para o bem. Em uma batalha com 
seu antigo mestre, perde vários membros 
e sofre graves queimaduras. Para salvá-lo, 
o “senador” decide construir 
próteses e um corpo mecânico 
que potencializa suas habili-
dades. Assim, nasce o cibor-
gue vilão Darth Vader.
Filme: Guerra nas Es-
trelas
Ano: 1977
Mega Man Criado por dois gênios da 
robótica, Dr. Albert Wily e Dr. Thomas Light, 
o androide foi projetado com tecnologia de 
ponta para realizar trabalhos que exigem 
força e percepção fora do alcance huma-
no. Possui agilidade ex-
cepcional e um canhão 
embutido em seu 
braço direito, além da 
capacidade de absorver 
os poderes dos inimigos 
quando os derrota.
Série: Mega Man
Ano: 1995
Robô, androide ou ciborgue?
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ser construído artificialmente para ser um humano potencializado, 
precisa, necessariamente, se parecer com um humano
Homem de Ferro Tony Stark era 
um físico bilionário, dono de uma empre-
sa multinacional de armamentos. Durante 
uma viagem de negócios, é sequestrado 
e fica gravemente ferido por estilhaços de 
uma explosão. Para evitar a morte e escapar 
de seus sequestradores, implan-
ta um gerador de energia em 
seu próprio peito, que alimen-
ta uma poderosa armadura 
capaz de voar e disparar 
mísseis. O Homem de Fer-
ro usa seu invento para 
combater o crime.
Filme: Homem de Ferro 
(ba seado nos quadri-
nhos originais de 1963)
Ano: 2008 
Você sabe a diferença? Vamos conhecer alguns dos mais famosos 
amigos e inimigos robóticos do cinema e dos desenhos.
Goddard Cão robô capaz de rea-
lizar 11 milhões de tarefas, desde 
voar e cortar a grama até disparar 
raios laser e falar várias línguas. 
Quando seu dono Jimmy Neutron 
arranja problemas, Goddard é o 
primeiro a aparecer para ajudar. 
Série: As aventuras de Jimmy Neu-
tron, o garoto gênio
Ano: 2002
Exterminador do Futuro Androide 
assassino enviado do ano de 2029 para o 
presente. Voltou com a missão de matar 
Sarah Connor, mãe de um garoto que, em 
2029, se tornará um líder revolucionário, 
responsável pela resistência dos huma-
nos perante a dominação dos 
robôs. O Exterminador possui 
um arsenal completo embu-
tido em seu próprio corpo, 
além de força extraordi-
nária e pele ultrarre-
sistente. 
Filme: O Extermina-
dor do Futuro
Ano: 1984
ser mecânico construído com uma função específica que não precisa, 
necessariamente, se parecer com um humanoRobô
androide
Astroboy Androide criado pelo Dr. Ten-
ma para substituir seu filho, que faleceu 
em um acidente de carro. As-
troboy tem uma força in-
crível e habilidade de voar 
para combater os robôs 
corruptos e defender a ci-
dade dos perigos da pró-
pria tecnologia androide.
Série: Astroboy
Ano: 1963
Robocop Alex Murphy era um poli-
cial que atuava nas ruas de Detroit, EUA. 
Porém, ao perseguir suspeitos de um as-
salto a banco, é baleado e morto. Após o 
ocorrido, uma poderosa empresa de se-
gurança da cidade decide restaurar seu 
corpo, transformando-o em um ciborgue 
dotado de alta tecnologia e 
poder de fogo.
Filme: Robocop, o policial 
do futuro
Ano: 1987 
ser orgânico com partes mecânicas, que potencializam os sentidos humanosCIBORGUE
Optimus Prime Nascido no 
pla neta Cybertron, é líder de um 
grupo de robôs heroicos chamados 
Autobots, que defendem os seres 
vivos dos ataques de robôs alie-
nígenas. Optimus é um guerreiro 
poderoso e suas principais armas 
são um rifle laser e um machado 
mecânico, além de poder se trans-
formar em um caminhão para não 
chamar a atenção dos humanos.
Série: Transformers
Ano: 1984
WALL.E Um dos robôs compac-
tadores de lixo criados no ano de 
2110, quando o ar do planeta Terra 
se tornou tóxico demais para os 
seres humanos. Quase 700 anos 
depois, WALL.E foi o único robô 
que resistiu ao tempo e perma-
neceu no planeta e segue lutando 
para alcançar seu principal objeti-
vo: acabar com a poluição.
Filme: WALL.E
Ano: 2008
Iniciação científica nas escolas
“O Brasil tem uma potência científica escondida nas escolas.” Isso é o que demonstra o 
Prêmio Jovem Cientista, instituído pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico – CNPq em 1981 e que, desde então, conta com a parceria de várias empresas. 
Nesses 30 anos, o Prêmio teve mais de 15 mil trabalhos inscritos; premiou 152 estudantes 
e pesquisadores, concedendo o mesmo número de bolsas de estudos. O projeto mobiliza 
anualmente 25 mil escolas do Ensino Médio e envolve mais de 2 mil instituições de pesquisa 
e ensino da ciência em seu processo de divulgação. Já pensou na possibilidade de observar o dia a dia 
da sua cidade e inventar, com ajuda dos seus pro-
fessores de ciência, algum instrumento que contri-
bua para melhorá-la? 
É o que aconteceu com o estudante Ricardo Castro 
de Aquino, de 18 anos. Ele queria reduzir a carga de 
poluentes emitidos pelos milhares de ônibus que 
circulam no Distrito Federal com baixo custo. Foi 
com essa ideia que elaborou o projeto vencedor do 
240 Prêmio Jovem Cientista, em 2010, na categoria 
Estudante do Ensino Médio. 
Aluno do Centro de Ensino Médio 404, Ricardo de-
senvolveu um filtro automotivo separador de po-
luentes, economicamente viável e com o melhor 
índice de desempenho do mercado. Em compara-
ção aos filtros comercializados, que não custam ao 
consumidor menos de R$ 800, o novo filtro pode 
ser produzido com um custo de R$ 60 e não exige 
manutenções recorrentes — pode ser limpo a cada 
dois meses. O maior diferencial do novo filtro, que 
Você pode desenvolver sua formação científica na 
escola e ainda receber uma bolsa para isso. Desde 
2003, o CNPq realiza o Programa de Iniciação Cien-
tífica Júnior, destinado aos estudantes do Ensino 
Médio. São 8.000 bolsas distribuídas aos 
alunos em todo o Brasil, todos os 
anos. Professores e alunos po-
dem se informar diretamente 
na página do CNPq. 
Na Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul, o Progra-
ma é realizado desde 2010, 
com participação do Colégio 
de Aplicação e escolas asso cia-
das. Todas as escolas de En sino 
Básico e Profissional, públicas e 
é instalado no fim do cano de des-
carga dos veículos, é seu poder de 
retenção de gases poluentes: 86%. 
As opções mais eficientes disponí-
veis para venda filtram, no máximo 
50% dessas substâncias.
A motivação para desenvolver o projeto 
nasceu da rotina diária do estudante, que 
utiliza o transporte público de Brasília 
para ir à escola e ao trabalho. Ele come-
çou a estudar em 2007 o funcionamento 
de filtros convencionais e os prejuízos 
que os gases tóxicos liberados na at-
mosfera podem causar à saúde. 
Determinado, teve que enfrentar a des-
crença de colegas e especialistas. Quan-
do foi anunciada a premiação do Jovem 
Cientista, Ricardo soube o quanto valeu a 
pena ter acreditado no potencial desse tra-
balho e na determinação de seus professores. 
privadas, podem participar do Salão UFRGS Jovem, 
que ocorre juntamente com o Salão de Iniciação 
Científica, anualmente. É interessante frequentar os 
salões de iniciação científica, para conhecer o que é 
feito, as pessoas, projetos e possibilidades.
Após o ingresso na Universidade, há muitos estí-
mulos para se prosseguir na carreira científica, por 
meio de bolsas de iniciação científica, e, posterior-
mente, de mestrado, doutorado e pós-doutorado, 
entre outras. O programa de bolsas científicas doBrasil é considerado um dos mais completos e efi-
cientes do mundo, e valoriza a formação e o inter-
câmbio acadêmico.
Um país com cientistas pode encontrar melhores so-
luções para todos, e criar o futuro com qualidade.
Brasil, uma potência científica?
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Ricardo e a invenção do filtro automotivo
Fronteiras educação Fronteiras do Pensamento©
Planejamento cultural
telos empreendimentos culturais
consultor Módulo educacional e revisor acadêmico 
Francisco Marshall – Historiador e arqueólogo, professor do depar-
tamento de História iFcH–uFrGs e curador cultural do studioclio.
revisora acadêmica do Fascículo
Lavinia schüler Faccini – Médica, pesquisadora e professora da uFrGs. 
coordena o sistema nacional de informação sobre teratógenos.
textos
sonia Montaño – Jornalista, mestre em ciências da comunicação, 
atualmente cursa doutorado também em ciências da comu nica ção 
na unisinos. 
Juliana szabluk – Professora e jornalista, atua em diversos cam pos 
da linguagem e da informação.
Produção executiva
Pedro Longhi
coordenação
Michele Mastalir
camila Garcia Kieling
concepção
sandra de deus
consultor acadêmico
donaldo schüler
consultor Pedagógico
Ítalo dutra
Pesquisa e relacionamento
amalia Meneghetti
Francisco de azeredo
ana Paula treher
Projeto Gráfico e editoração
editoras associadas (camila Kieling e Marta castilhos)
artes
canhotórium – arte aplicada (www.canhotorium.com.br)
Pesquisa iconográfica
antônio Luzzatto
revisão ortográfica
renato deitos
Produção Gráfica
denise Freitas
agradecimentos
carlos alexandre netto – uFrGs
colégio de aplicação
Fabrício carpinejar
secretaria Municipal de educação de Porto alegre
secretaria Municipal da cultura de Porto alegre
o Fronteiras do PensaMento é um projeto cultural múltiplo, organizado a partir 
de um curso de altos estudos, cujas conferências servem como plataforma para a 
geração de uma série de produtos culturais e educacionais, que traduzem o amplo 
debate realizado, para os mais diversos públicos e em diferentes formatos.
a ação educacional do Fronteiras estabelece um diálogo com a “Geração Z” a partir 
dos temas que configuram a edição 2011 do projeto.
o pensamento desta geração é baseado no mundo complexo e veloz, dominado pela 
tecnologia, ocasionando novos desafios ao nosso sistema educacional. o Fronteiras 
educação é um espaço para se pensar com a “Geração Z” temas relacionados à com-
preensão dos grandes problemas da contemporaneidade, com linguagem e recursos 
apropriados à idade e à visão de mundo deste público. 
www.fronteirasdopensamento.com.br
edição 2011
PatrocÍnio
MóduLo educacionaL Parceria cuLturaL aPoio
aPresenta
acesse o conteúdo extra no site.
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Anotações
Banco de palavras
clonagem – ciência – ciborgues – desafios – saúde – androide – robô – medicina – avanços – tecnologia 
neurociências – cérebro – máquina – pesquisa – próteses – células-tronco – envelhecimento – doenças 
raio X – corpo humano – expectativa de vida – vacinas – bioética – exoesqueleto – robótica – tratamentos

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