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Estatuto do Desarmamento

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AULA 09. ESTATUTO DE DESARMAMENTO. Lei 10.826/2003. 2017.02 
Material complementar de Direito Penal IV. Prof.ª Valéria Mikaluckis 
 
1. FUNDAMENTO NORMATIVO. Lei 10.826/2003 e o Decreto 5123/2004. 
 
2. OBJETIVIDADE JURIDICA. INCOLUMIDADE PÚBLICA. Garantia e preservação do 
estado de segurança, integridade corporal, vida, saúde e patrimônio dos cidadãos contra 
possíveis atos que exponham a perigo. (perigo coletivo). Pune-se o perigo antes que se convole 
em dano. 
 
3. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. Desnecessária a prova da efetiva exposição de outrem a 
risco. 
 
4. ARMA DE FOGO. Conceito e espécies. 
 São os instrumentos que, mediante a utilização da energia proveniente da pólvora lançam a 
distância e com grande velocidade os projéteis. Possuem várias espécies, como, por exemplo, 
revólveres, pistolas, garruchas, espingardas, metralhadoras, granadas, etc 
 
 Espécies. 
o ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO. É aquele cuja posse não pode ser autorizada 
nem mesmo pelas forças armadas. Não pode ser vendido, possuído ou portado. Ex. 
canhão, tanque de guerra, granadas, etc. 
 
o ARMA DE USO RESTRITO. É aquela que só pode ser utilizada pelas forças armadas, 
por algumas instituições de segurança e por pessoas físicas ou jurídicas habilitadas. 
Artigo 11, do Decreto 5123/2004 e artigo 16 do Decreto 3665/2000 que relaciona as 
armas de uso restrito. 
Art. 11. Arma de fogo de uso restrito é aquela de uso exclusivo das 
Forças Armadas, de instituições de segurança pública e de pessoas 
físicas e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando 
do Exército, de acordo com legislação específica. 
o ARMA DE USO PERMITIDO. É a arma cuja utilização é permitida a pessoas físicas 
em geral, bem como a pessoas jurídicas conforme a normativa do Artigo 10, do 
Decreto 5123/2004. São aqueles itens de pequeno poder ofensivo, aptos à defesa 
pessoal e do patrimônio definido no artigo 17 do Decreto 3665/00 (rol das armas). Ex. 
revolveres, pistolas. 
 
Art. 10. Arma de fogo de uso permitido é aquela 
cuja utilização é autorizada a pessoas físicas, bem 
como a pessoas jurídicas, de acordo com as normas 
do Comando do Exército e nas condições previstas 
na Lei n
o
 10.826, de 2003. 
 
o ARMA DE FOGO É ESPÉCIE DE ARMA PROPRIA. SÃO objetos, instrumentos, 
maquinas ou engenhos dotados de potencialidade lesiva, fabricados com a finalidade 
exclusiva de servirem como meio de ataque ou defesa, tais como: soco inglês, punhal, 
espada, revolver, granada, etc. 
 
 ARMA DE FOGO INAPTA A EFETUAR DISPAROS. Não será considerada arma para 
efeitos de aplicação da referida lei. 
 
 ARMA DE FOGO DESMONTADA OU DESCARREGADA. Mesmo sendo transportada 
sem possibilidade de uso imediato, a principio caracteriza o crime do artigo 14 ou 16. O meio é 
eficaz, no entanto a impossibilidade é casual. 
 
 
5. OBJETO MATERIAL DAS FIGURAS TÍPICAS DOS ARTIGOS. Os tipo penais referem-
se à arma de fogo, munição e acessório. 
 Artigos 12 e 14. ARMA DE USO PERMITIDO. 
 Artigo 16. ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO. 
 
Obs. STF. Entendia que se a arma estivesse desmuniciada e sem que o agente tivesse nas 
circunstancias a pronta disponibilidade de munição, porquanto inexiste a possibilidade de 
disparo e consequente criação de risco, a conduta era considerada atípica. Recentemente, STF 
alterou seu posicionamento entendendo que é desnecessário a arma estar municiada. 
Porte ilegal de arma e ausência de munição - 2 
Em conclusão, a 2ª Turma denegou habeas corpus no qual denunciado pela suposta prática do 
crime de porte ilegal de arma de fogo desmuniciada pleiteava a nulidade de sentença condenatória 
— v. 91. Informativo 549. Asseverou-se que o tipo penal do art. 14 da Lei 10.826/2003 (―Art. 14 
Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que 
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, 
acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal 
ou regulamentar‖) contemplaria crime de mera conduta, sendo suficiente a ação de portar 
ilegalmente a arma de fogo, ainda que desmuniciada. Destacou-se que, à época, a jurisprudência 
oscilaria quanto à tipicidade do fato, questão hoje superada. O Min. Teori Zavascki participou da 
votação por suceder ao Min. Cezar Peluso, que pedira vista dos autos. 
HC 95073/MS, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 19.3.2013. 
(HC-95073) (Informativo 699, 2ª Turma) 
 
Atipicidade temporária e posse de arma de uso restrito 
A 1ª Turma, por maioria, negou provimento a recurso ordinário em habeas corpus no qual alegada 
a atipicidade da conduta exercida pelo paciente de possuir arma de fogo de uso restrito com 
munições, sem autorização e em desacordo com determinação legal e regulamentar (Lei 
10.826/2003, art. 16). Informou-se que, na situação dos autos, a pena privativa de liberdade fora 
substituída por 2 restritivas de direitos. Consignou-se que a jurisprudência do STF assentaria a 
incidência da descriminalização na hipótese de armas de fogo de uso permitido, detidas com 
irregularidades. Explicitou-se não haver que se falar, no caso, em atipicidade. Ademais, assinalou-
se inexistir prova de que o paciente estivesse para entregar o armamento. O Min. Luiz Fux 
ponderou que o posicionamento do Supremo distinguiria os imputados que portassem arma de uso 
restrito. Além disso, percebeu periculosidade maior referente a estes. Vencido o Min. Marco 
Aurélio, que provia o recurso. Frisava que, conforme a lei, o detentor teria prazo para buscar o 
registro — impossível, haja vista ser arma restrita de emprego das Forças Armadas — ou proceder 
à entrega dela, sem cominação legal. RHC 114970/DF, rel. Min. Rosa Weber, 5.2.2013. (RHC-
114970). (Informativo 694, 1ª Turma) 
 
 
 ACESSÓRIO E MUNIÇÃO. Artigo 3º II (acessório) e LXIV (munição) e artigos 16 (uso 
restrito) e artigo 17 (uso permitido) do Decreto 3665/2000. 
 Acessório de uso permitido. Exs. Dispositivos opticos de pontaria, cartuchos 
vazios, ... 
 
 Acessório de uso restrito. Ex. aqueles que dificultam a localização da arma. Ex. 
silenciadores, mira a laser, equipamento de visão noturna, etc. 
 
 A nova lei equiparou a posse e o porte de acessório ou munição à arma de fogo. 
Desta forma o sujeito que for detido transportando somente a munição de um 
armamento de usos restrito incidirá nas mesmas penas que aquele que transportar a 
própria arma municiada. Artigo 12. 
 
 
 BRINQUEDOS, RÉPLICAS E SIMULACROS DE ARMA DE FOGO. Artigo 26. Consta 
vedação no referido artigo, no entanto não constitui crime. 
 
4. FIGURAS TÍPICAS 
POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. Artigo 12. 
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou 
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, 
ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável 
legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) 
anos, e multa. 
 
 Aplicação da Lei Penal no Tempo. Crime Permanente e aplicação da súmula 711 STF. O 
sujeito que sob a égide da Lei 9437/97 mantinha dentro de seu domicilio arma de fogo sem 
registro e a continuou mantendo ilegalmente, mesmo após a entrada em vigo da Lei 10826/2003 
deverá responder pelo crime mais grave previsto na nova legislação. 
 
 TIPO OBJETIVO. 
o POSSUIR. Ter em seu poder. 
o MANTER SOB SUA GUARDA. Ter sob seu cuidado. 
 
 ELEMENTO NORMATIVO. ―em desacordo com determinação legal ou regulamentar.‖ 
Quer dizer com desrespeito aos requisitosda referida lei ou regulamento. Ex. posse de arma sem 
registro ou com prazo de validade vencido. 
 
 NO INTERIOR DA PRÓPRIA RESIDENCIA OU LOCAL DE TRABALHO. Ex. quintal, 
garagem, jardim, celeiro, etc. No local de trabalho do agente desde que seja o titular ou 
responsável legal do estabelecimento ou empresa. Caso contrário, responderá pelo crime do 
artigo 14 e não pelo artigo 12. 
 
 SUJEITOS. 
o ATIVO. Qualquer pessoa, 
o PASSIVO. Coletividade. 
 
 ELEMENTO SUBJETIVO. Dolo. Não cabe modalidade culposa. 
 
 ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA. O artigo 30 do Estatuto do Desarmamento (com a 
redação dada, sucessivamente, pelas Leis ns.10.884/2004, 11.118/2005, 11.191/2005, 
11.706/2008 e 11.922/2009) concedeu prazo aos possuidores e proprietários de armas de fogo de 
uso permitido ainda não registradas para que solicitassem o registro até 31 de dezembro de 
2009, mediante apresentação de nota fiscal ou outro comprovante de sua origem lícita, pelos 
meios de prova em direito admitidos. Por isso, doutrina e jurisprudência têm entendido que as 
pessoas que tenham sido flagradas antes de 31 de dezembro de 2009 com arma de fogo de uso 
permitido no interior da própria residência ou estabelecimento comercial, sem o respectivo 
registro, não podem ser punidas, porque a boa-fé é presumida, de modo que se deve pressupor 
que iriam solicitar o registro da arma dentro do prazo. 
 
 
 EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE. De acordo com o art. 32 do Estatuto, com a redação dada 
pela Lei n. 11.706/2008, o possuidor ou proprietário de arma de fogo pode entregá-la 
espontaneamente, e a qualquer tempo, à Polícia Federal, hipótese em que se presume sua 
boa-fé e extingue-se sua punibilidade em relação ao crime de posse irregular de referida arma. 
Se o agente for flagrado com a arma em casa, responderá pelo delito. A extinção da punibilidade 
pressupõe sua efetiva entrega. Esta entrega pode ser feita a qualquer tempo. 
 
Obs. Posse ou porte de arma de fogo de uso restrito – artigo 16. 
 
OMISSÃO DE CAUTELA - artigo 13 
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 
(dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de 
fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável 
de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar 
ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras 
formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua 
guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato 
 Em relação ao parágrafo único do artigo 13, trata-se de novatio legis in pejus/incriminadora. 
 
 A conduta incriminada é nitidamente culposa, na modalidade de negligência, já que se pune a 
omissão do agente, que não observa as cautelas devidas para evitar o apoderamento de arma de 
fogo pelo menor ou deficiente, como, por exemplo, deixando-a no banco de um carro e não 
trancando a sua porta, ou deixando-a em uma gaveta da sala de casa, sem trancá-la etc. 
 
 Consumação. Exige-se o apoderamento da ARMA PELO MENOR OU DOENTE MENTAL 
 
 CONTRAVENÇÃO DO ARTIGO 19 § 2º, c da LCP. Para Capez a referida contravenção 
ainda está parcialmente em vigor. Será ainda contravenção quando se tratar de arma branca ou 
de arremesso ou quando se tratar de arma de fogo apoderada por pessoa inexperiente em maneja-
la já que a nova lei só menciona o menor de 18 anos e alienado mental. 
Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da 
autoridade: 
 Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a três 
contos de réis, ou ambas cumulativamente. 
 § 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se o agente já foi condenado, em 
sentença irrecorrivel, por violência contra pessoa. 
§ 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos 
mil réis a um conto de réis, quem, possuindo arma ou munição: 
 a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade, quando a lei o determina; 
 b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa inexperiente no manejo de arma a 
tenha consigo; 
c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela se apodere facilmente alienado, 
menor de 18 anos ou pessoa inexperiente em manejá-la. 
 Parágrafo único. Figura equiparada. Crime Próprio e consumação se da quando 
decorrer o prazo de 24 horas. 
 
PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO – ARTIGO 14 
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, 
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob 
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem 
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a 
arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1) 
 Artigos 6º a 11-A da Lei 10826/03. Trata de PORTE. 
 
 Trata-se de crime de ação múltipla ou tipo misto alternativo. 
 
 O referido artigo significa novatio legis em pejus em relação à lei anterior (Lei 9437/97) 
pq estabeleceu pena maior. 
 
 PRÁTICA DA MESMA CONDUTA ENVOLVENDO MAIS DE UMA ARMA. O agente é 
surpreendido com dois revolveres, responde apenas por um crime, mas a quantidade 
influenciará na fixação da pena base. Artigo 59 do CP. 
 
 PORTE. Consiste em o agente trazer consigo a arma, sem autorização e em desacordo 
com determinação legal ou regulamentar. 
 
 TRANSPORTE. Condução da arma de um lugar para o outro, revelando apenas a 
intenção de transferi-lo de lugar, sem a finalidade de acioná-lo. 
 
 ADQUIRIR /RECEPTAÇÃO. Não responde pelo crime de receptação (artigo 180) aquele 
que adquire arma de fogo, mas pela figura especializada. 
 
 EMPREGAR. A fim de diferencia-lo da figura do artigo 15 (disparo de arma de fogo), 
entende-se que é todo emprego exceto o disparo. Ameaça com arma de fogo. 
Responde pela figura especializada e não pelo crime do artigo 147 do CP. 
 
 ROUBO COMETIDO COM EMPREGO DE ARMA DE FOGO DA QUAL O AGENTE NÃO 
POSSUIA AUTORIZAÇÃO. O roubo absorverá o emprego. Assim, se a condutas tiverem 
unidas pelo mesmo contexto fático, haverá crime único, caso contrário, haverá 
concurso de crimes. Ex. Fulano perambula a noite toda pela cidade com a arma, ao 
amanhecer resolver praticar um roubo. Dois crimes. 
 
 CONTRAVENÇÃO artigo 19. Deixou de ter aplicação em relação às armas de fogo desde 
o advento da Lei 9437/97 que transformou tal conduta em crime. No entanto, 
continua a incidir apenas para as armas bancas próprias como facões, espadas, 
punhais, navalha, etc. 
Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da 
autoridade: Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de 
duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente. 
Obs. Posse ou porte de arma de fogo de uso restrito – artigo 16. 
 
DISPARO DE ARMA DE FOGO. ARTIGO 15 
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas 
adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não 
tenha como finalidade a prática de outro crime: 
 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 
3.112-1) 
 
 Lugar habitado é aquele onde reside um núcleo de pessoas ou famílias. Podeser uma 
cidade, uma vila, um povoado etc. Adjacência de local habitado é o local próximo 
àquele. Não se exige que seja dependência de moradia ou local contíguo, bastando que 
seja perto de local habitado. Por consequência, disparar em local descampado ou em 
uma floresta distante de local habitado não configura a infração. 
 
 Tratando-se de local habitado ou suas adjacências, é ainda necessário que o fato ocorra 
em via pública ou em direção a ela.Via pública é o local aberto a qualquer pessoa, 
cujo acesso é sempre permitido. É todo local aberto ao público, quer por destinação, 
quer por autorização de particulares. Exs.: ruas, avenidas,praças, estradas.Nos termos do 
texto legal, também existe o crime quando o disparo não é efetuado na via pública,mas 
a arma é apontada para ela, como, por exemplo, do quintal de uma residência em 
direção à rua. 
 
 
 MODALIDADE DOLOSA. Não se pune o disparo acidental. 
 
 ABSORÇÃO. Trata-se de crime autônomo, exceto se constituir meio para a prática de 
outro delito. 
 
 CRIME ÚNICO OU CONCURSO DE CRIMES. 
o DISPARO E POSSE de USO PERMITIDO. Segundo Capez a posse fica absorvida 
pelo disparo que possui pena mais grave. Em sentido contrário, Victor Eduardo 
Gonçalves aponta tratar-se de concurso de crimes. 
 
o DISPARO e PORTE de USO PERMITIDO. Segundo Capez o porte fica absorvido 
pelo disparo que possui pena mais grave. Victor Eduardo Gonçalves 
acrescente que só é possível crime único se ficar provado que o agente portou 
a arma com o fim específico de disparar a arma. 
 
o DISPARO e POSSE/PORTE DE USO RESTRITO. O artigo 16 absorve o disparo por 
ser aquela mais grave. Capez. 
 
 Artigo 132 do CP ou artigo 15 do Estatuto. A hipótese em que o sujeito efetua 
disparo próximo a alguém para expô-lo a risco, estaria configurado o crime do 
Estatuto, que tem pena maior, ou o do art. 132, em razão da intenção do agente 
de expor a perigo pessoa certa e determinada? Já que ambos os dispositivos são 
expressamente subsidiários, conforme se nota pela simples leitura dos tipos 
penais, deve prevalecer aquele que tem maior pena, ou seja, o do art. 15 do 
Estatuto. 
 
 
 
POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO – ARTIGO 16 
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que 
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou 
munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar: 
 Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
 Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: 
 I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; 
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso 
proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito 
ou juiz; 
 III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar; 
 IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer 
outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; 
 V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo 
a criança ou adolescente; e 
 VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou 
explosivo. 
 
 Considerações sobre o inciso II. Esse tipo penal, por ser mais recente e com 
pena maior, torna inaplicável o art. 253 do Código Penal, no que se refere a 
artefatos explosivos. O art. 253 pune com detenção, de seis meses a dois anos, e 
multa, quem fabrica, fornece, adquire, possui ou transporta, sem licença da 
autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou 
material destinado à sua fabricação. Embora o novo tipo penal não mencione 
alguns verbos contidos no art. 253, como, por exemplo,―transportar‖ ou 
―adquirir‖, a verdade é que tais condutas estão abrangidas pelo verbo 
―possuir‖existente na Lei n. 10.826/2003. 
o O art. 253 continua em vigor em relação a gases tóxicos ou asfixiantes, 
bem como em relação a substâncias explosivas (tolueno, p. ex.), já que 
a nova lei só se refere a artefato explosivo (dinamite já pronta, p. ex.). A 
Lei n. 10.826/2003 incrimina também a posse ou transporte de artefato 
incendiário, como, por exemplo, de coquetel molotov. Como a Lei não 
menciona substância, mas apenas artefato incendiário, a posse de álcool, 
evidentemente, não caracteriza o delito. 
 
 QUEIMA DE FOGOS DE ARTIFICIO. Contravenção do artigo 28. 
 
 SOLTAR BALÃO. Lei 9605/98, artigo 42. 
 
Parágrafo único. FIGURAS EQUIPARADAS. 
ARMA DE USO RESTRITO. Decreto 5123/2004. Artigo 11. 
 
COMERCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO – ARTIGO 17 
 Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter 
em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à 
venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no 
exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou 
munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para 
efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, 
fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido 
em residência. 
 É exigido que as condutas sejam realizadas no exercício de atividade comercial ou 
industrial. 
 
 OBJETO MATERIAL. Arma de fogo, uso permito ou restrito, acessório e munições. 
 
 Uso restrito ou proibido aplica-se a causa de aumento do artigo 19. 
 
 ARTIGO 18 DA LCP. Houve revogação parcial, visto que se encontra em vigor em 
relação às armas brancas prórpias (estilete, canivete, punhal, espada) e de arremesso 
(flecha e dardo). 
 
 
TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO – ARTIGO 18 
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do 
território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório 
ou munição, sem autorização da autoridade competente: 
 Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
 Uso restrito ou proibido aplica-se a causa de aumento do artigo 19. 
 
QUESTÕES ESPECIAIS 
1.ARMA DE BRINQUEDO OU SIMULACRO. As armas de brinquedo, 
simulacros ou réplicas não constituem armas de fogo, de modo que o seu porte 
não está abrangido na figura penal. Na Lei n. 10.826/2003, não foi repetido o crime 
descrito no art. 10, § 1º, II, da Lei n. 9.437/97, que punia com detenção de um a 
dois anos, e multa, quem utilizasse arma de brinquedo ou simulacro de arma capaz 
de atemorizar outrem, para o fim de cometer crimes. Houve, portanto, abolitio 
criminis em relação a tais condutas.O Estatuto do Desarmamento se limita a proibir 
(sem prever sanção penal) a fabricação, a venda, a comercialização e a importação 
de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que possam com estas se 
confundir, exceto para instrução, adestramento ou coleção, desde que autorizados 
pelo Comando do Exército (art. 26). 
 
2. ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA. 
 O art. 30 do Estatuto do Desarmamento (com a redação dada, sucessivamente, 
pelas Leis ns.10.884/2004, 11.118/2005 e 11.191/2005) concedeu prazo aos 
possuidores e proprietários de armas de fogo de uso permitido ou restrito 
ainda não registradas para que solicitassem o registro até 23 de outubrode 
2005, mediante apresentação de nota fiscal ou outro comprovante de sua origem 
lícita, pelos meios de prova em direito admitidos. 
 
 Posteriormente, as Leis ns. 11.706/2008 e 11.922/2009 prorrogaram esse prazo 
até 31 de dezembro de 2009 somente para as armas de fogo de uso permitido. 
Por isso, em razão da possibilidade de regularização do registro, doutrina e 
jurisprudência têm entendido que: 
 
a) As pessoas que tenham sido flagradas desde a entrada em vigor do Estatuto 
até 23 de outubro de 2005 com a posse de arma de fogo de uso restrito no 
interior da própria residência ou estabelecimento comercial, sem o 
respectivo registro, não podem ser punidas porque a boa-fé é presumida, de 
modo que se deve pressupor que iriam solicitar o registro da arma dentro do 
prazo. A partir de 24 de outubro de 2005, as pessoas flagradas com a 
posse de arma de fogo de uso restrito ou proibido no interior de sua 
residência ou de seu estabelecimento comercial devem ser punidas como 
incursas no art. 16, caput, do Estatuto. Nesse sentido, existe a Súmula 513 
do Superior Tribunal de Justiça. 
 
 
Súmula 513 - A 'abolitio criminis' temporária prevista na Lei n. 
10.826/2003 aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido 
com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, 
suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005. (Súmula 513, 
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/06/2014, DJe 16/06/2014) 
 
OBS. O porte em via pública não foi abrangido por esses prazos (que 
se referem apenas à regularização do registro — que dá direito a ter a 
arma no interior da própria residência ou estabelecimento comercial), 
de modo que, desde a entrada em vigor do Estatuto, a punição por 
porte ilegal já é possível. 
 
b) As pessoas que tenham sido flagradas, desde a entrada em vigor do Estatuto 
até 31 de dezembro de 2009, com a posse de arma de uso permitido não 
podem ser punidas. Se o fato tiver ocorrido a partir de 01 de janeiro de 2010, o 
agente estará incurso no art. 12 do Estatuto. 
 
3. EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE. Entrega da arma. 
 De acordo com o art. 32 do Estatuto, com a redação dada pela Lei n. 
11.706/2008, o possuidor ou proprietário de arma de fogo pode entregá-la 
espontaneamente, e a qualquer tempo, à Polícia Federal, hipótese em que se 
presume sua boa-fé e extingue-se sua punibilidade em relação ao crime de 
posse irregular de referida arma. Se o agente, todavia, for flagrado com a 
arma em casa, responderá pelo delito. A extinção da punibilidade pressupõe sua 
efetiva entrega. 
 
4. ARMA DESMUNICIADA. O Estatuto do Desarmamento equiparou o porte de 
munição ao de arma de fogo. Assim, se há crime no porte de munição desacompanhada 
da respectiva arma de fogo, não há como negar a tipificação da conduta ilícita no porte 
da arma sem aquela. 
 
 
Caso concreto. O caso concreto versa sobre a controvérsia acerca do delito de 
porte ilegal de arma de fogo de uso permitido como delito de perigo abstrato 
(art. 12 da Lei 10.826/2003), elementos de sua caracterização, bem como a 
discussão acerca da incidência do erro de proibição. Foi desenvolvido a partir 
de decisões proferidas pelo STJ, constantes nos Informativos n. 570 e 572 
(transcritas abaixo). 
CORTE ESPECIAL. DIREITO PENAL. GUARDA DE ARMA DE FOGO 
DE USO PERMITIDO COM REGISTRO VENCIDO. Manter sob guarda, no 
interior de sua residência, arma de fogo de uso permitido com registro vencido 
não configura o crime do art. 12 da Lei 10.826/2003 (Estatuto do 
Desarmamento). O art. 12 do Estatuto do Desarmamento afirma que é 
objetivamente típico possuir ou manter sob guarda arma de fogo de uso 
permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior 
de residência. Entretanto, relativamente ao elemento subjetivo, não há dolo do 
agente que procede ao registro e, depois de expirado prazo, é apanhado com a 
arma nessa circunstância. Trata-se de uma irregularidade administrativa; 
do contrário, todos aqueles que porventura tiverem deixado expirar 
prazo semelhante terão necessariamente de responder pelo crime, o que é 
absolutamente desproporcional. Avulta aqui o caráter subsidiário e de 
ultima ratio do direito penal. Na hipótese, além de se afastar da teleologia do 
objeto ju rídico protegido, a saber, a administração e, reflexamente, a 
segurança e a paz pública (crime de perigo abstrato), banaliza - se a 
criminalização de uma conduta em que o agente já fez o mais importante, que 
é apor seu nome em um registro de armamento, possibilitando o controle de 
sua circulação. Precedente citado: HC 294.078- SP, Quinta Turma, DJe 
4/9/2014. APn 686-AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 
21/10/2015, DJe 29/10/2015. 
 
QUESTÃO OBJETIVA. LETRA C.

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