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Fundamentos de Filosofia Aula 2 Professor Rui Valese CONVERSA INICIAL Oi, seja bem-vindo(a) à aula 2 de Fundamentos de Filosofia. Aqui, estudaremos os diferentes períodos filosóficos, bem como sobre as filosofias desenvolvidas fora do contexto indo-europeu. Para esse estudo, apesar de não ser a melhor forma de se estudar Filosofia, seguiremos uma sequência cronológica e linear. Porém, isso tem um propósito didático e pedagógico: compreender os momentos de continuidade e descontinuidade do pensamento filosófico. Da mesma forma, estudares também as áreas de investigação filosófica. Esperamos, com isso, dar um panorama geral da Filosofia, para uma melhor compreensão do que seja a mesma, bem como de que maneira a mesma pode contribuir para a sua formação profissional. Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir com a fala inicial do professor Rui. CONTEXTUALIZANDO A vida de Sócrates é inspiração para muitas reflexões, bem como para questionar algumas das nossas atitudes. Após o seu julgamento e condenação, Sócrates recebe três alternativas: Mudar de cidade e deixar de filosofar Fugir, com a ajuda de seus discípulos que subornariam os guardas que o vigiavam Seguir em frente e cumprir sua sentença: morrer tomando cicuta Qual dessas atitudes você tomaria? Sobre esta reflexão, acesse a versão online da aula e assista ao vídeo do professor Rui. E aí, está curioso para saber sobre a defesa de Sócrates? Estão, acompanhe o vídeo a segui com os comentários do professor Rui. Tema 1: Filosofia Antiga e Medieval Quando falamos da Filosofia Antiga e Medieval, estamos nos referindo a um período bastante longo da História da Filosofia: do século VII a.C. até o século XVI d.C. Assim, não dá para resumir em poucas páginas tudo o que foi tratado nesse período, nem as coisas mais relevantes. Porém, trataremos pelo menos de alguns dos principais filósofos do período e alguns de seus principais problemas. As subdivisões desse período são muitas. Por não termos espaço para análises mais aprofundadas, optamos por uma divisão em duas partes. Seguiremos a divisão clássica da História da Filosofia, começando pelo seu nascimento, na Grécia Antiga, até o seu desenvolvimento europeu. Porém, não nos esqueceremos das manifestações filosóficas em outros espaços geográficos e culturais, como África, Ásia e América Latina. A primeira fase pode ser dividida em: Período cosmológico (século VII ao V a. C.) Período antropológico (século V ao IV a. C.) Período sistemático (século IV ao III a. C.) Período greco-romano (século III a. C. ao VI d. C.) A segunda fase é o da Filosofia Medieval, que pode ser dividida em: Patrística Medieval 1ª Fase – Período Cosmológico Esse período é o do nascimento da filosofia grega. É uma fase ainda de rompimento com a consciência mítica, que dava conta, ou pelo menos tentava dar conta, até então, de explicar todas as coisas. Esse período também é conhecido como pré-socrático, uma vez que a reflexão sobre os dramas existenciais humanos praticamente começa apenas com Sócrates. Nesse período, a principal preocupação é com o princípio constitutivo de tudo, por isso, cosmológico. Muitas vezes, chega a ser mais uma investigação da natureza. Tanto é assim que buscam na natureza o elemento fundante e constitutivo de tudo: fogo, água, terra, ar, e assim por diante. Tales de Mileto, por exemplo, previu o eclipse solar de 585 a.C. Zombavam dele porque, segundo alguns, andava com a “cabeça nas nuvens”. Como conhecia o funcionamento da natureza, havia previsto uma grande colheita de azeitonas. Porém, as pessoas duvidaram de sua sabedoria. Para provar o que sabia, alugou todas as prensas de azeitona da sua região. No ano seguinte, pode cobrar o preço que quisesse, mostrando que a Filosofia, mesmo a da natureza, tem sua utilidade. Porém, o que interessa ao filósofo não é o quanto irá ganhar com o conhecimento que adquire. Nesse período, dois filósofos fundarão dois princípios fundamentais da Filosofia: Parmênides – para quem, o que podemos conhecer é o que permanece, já que, sobre o que muda, nunca podermos ter certeza alguma Heráclito – para quem, o que podemos conhecer é a mudança, uma vez que a realidade é o resultado do conflito de forças contrárias; tudo está em movimento; a realidade é movimento 1ª Fase – Período Antropológico É o período em que viveram Sócrates e Platão. Juntamente com os sofistas, são os primeiros a romperem com a filosofia que especulava sobre a natureza e passaram a se ocupar das questões relacionadas ao existir humano, seja em sociedade ou os problemas existenciais individuais, como é a felicidade, justiça, beleza, coragem, etc. Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/- Q31sd83msNc/UksUliBv5WI/AAAAAAAAA4s/qZQlwvAusgo/s1600/culturaeepigenetica02.jpg>. Sócrates e Platão divergiam dos sofistas com relação ao papel da Filosofia. Para estes, a Filosofia deveria instrumentalizar os cidadãos para os debates na ágora. Costumavam cobrar pelos seus ensinamentos, bem como defendiam que a forma do discurso era mais importante que seu conteúdo. Sócrates acreditava que o conhecimento da verdade possibilitaria aos sujeitos serem bons. Para tanto, defendia a prática da maiêutica (parto de ideias) como forma de se chegar à verdade. Como o oráculo havia afirmado que ele era o homem mais sábio de sua época, põe-se a investigar junto, aos cidadãos que lhe são contemporâneos, se isso correspondia à verdade. Porém, essa atitude lhe rende muitos inimigos, principalmente entre aqueles que se autoproclamavam sábios, uma vez que, em várias ocasiões, havia exposto a ignorância dos mesmos. Como resultado, o mesmo é julgado por crimes como: corromper os jovens, não acreditar nos deuses e criar uma nova divindade. Platão, por sua vez, é o grande divulgador dos pensamentos de Sócrates. Em algumas de suas obras, não é tão fácil distinguir o que é seu pensamento e o que é do mestre. Platão escreveu por meio de diálogos, onde o personagem principal é Sócrates. Na Alegoria da Caverna, que está no Livro VII de A República, uma de suas principais obras, está, talvez, o fundamento do seu pensamento. Para ele, existem dois mundos: o Mundo das Ideias, onde estão as essências de todas as coisas, as ideias perfeitas; e o Mundo das Aparências, que é o que vivemos, é uma mera reprodução. Faça uma pausa, acesse a versão online da aula e assista a este vídeo sobre o Mito da Caverna: Outra ideia fundamental no pensamento de Platão é a teoria da reminiscência, segundo a qual as almas passam por sucessivas reencarnações, sendo as responsáveis por escolher seus destinos, que são apresentados pelas moiras Láquesis, Cloto e Átropos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Moiras A cada encarnação, as almas são julgadas e sentenciadas. Conforme tiverem vivido, poderão voltar ao Mundo das Ideias (céu), reencarnar ou ir para o mundo subterrâneo (inferno), onde passarão um tempo por lá (se seus erros forem pequenos), ou ficarão em definitivo (se seus erros foram imperdoáveis). Cabe a cada alma, primeiramente, escolher bem seu destino e, em seguida, saber viver o destino escolhido e/ou corrigi-lo, por meio da Filosofia, que é o antídoto a toda forma de engano, se necessário. 1ª Fase – Período Sistemático O principal nome da filosofia desse período é Aristóteles. Nascido em Estagira, colônia grega na antiga Jônia, foi filho de Nicômaco,amigo e médico de Amintas III, rei macedônio, foi tutor de Alexandre da Macedônia. Discípulo de Platão, após a morte do mestre (347 a. C.), deixa Atenas, para onde voltará mais tarde e fundará o Liceu. http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/filosofia/aristoteles-sua-escola.htm Desenvolve um pensamento muito diferente de seu mestre. Para ele, não existiam dois mundos, como defendia Platão, mas um único, que está em mudança e permanência contínua. Para explicar esse duplo movimento, cria o conceito de ato, que é a realização das possibilidades, que já estavam contidas no ser; e de potência, que é a possibilidades de as coisas serem algo. Aristóteles também é o sistematizador de grande parte do conhecimento filosófico até então produzido, tendo investigado também sobre os seres vivos, a natureza, dentre outros temas. Suas obras tratam de ética, política e lógica. Nesse último, aliás, é o criador da lógica formal, instrumento adequado, segundo ele, para se verificar a veracidade das coisas. 1ª Fase – Período Greco-romano Esse período é o do nascimento do Império Romano e é caracterizado pela incorporação de muitos dos valores estéticos, políticos, culturais e éticos dos gregos, por parte dos romanos. Os temas principais eram as questões éticas, do conhecimento e das relações dos seres humanos com a natureza. É o momento, também, do nascimento do cristianismo, cujos seguidores, num primeiro momento, serão perseguidos pelos romanos, mas, depois será não só incorporado, como tornado religião oficial do império. 2ª Fase – Período da Patrística Na fase patrística (Relativo a padres da Igreja Católica), num primeiro momento, há uma negação da Filosofia, que é tida como um pensamento contrário à fé. Porém, num segundo momento, percebe-se que, para se tornar aceitável entre os pagãos, havia a necessidade de tornar a nova religião fundamentada em argumentos lógico-racionais consistentes, e não somente intuitivos e/ou subjetivos. Assim, a filosofia serviria de instrumento de defesa da fé cristã contra os ataques teóricos dos que seguiam outras religiões ou que não seguiam nenhuma em particular. A filosofia é, então, instrumentalizada. Ao mesmo tempo, o cristianismo introduz alguns problemas que os gregos até então não tinham se ocupado: o pecado original, a criação do mundo, a ideia de um Deus trino, juízo final, salvação, dentre outros. Existiram duas patrísticas: uma grega, que defendia uma conciliação entre fé e razão; uma latina, que num primeiro momento nega a Filosofia e, depois, a instrumentaliza. O principal nome desse período é Santo Agostinho, que realiza um processo de cristianização do pensamento platônico, conservando algumas ideias de Platão, como a separação entre corpo e alma, e modificando outras, como a ideia da vida após a morte. Para Agostinho, não há a possibilidade de retorno. 2ª Fase – Período Medieval No segundo período, o principal nome é Santo Tomás de Aquino, que é o responsável por cristianizar o pensamento de Aristóteles. Da mesma forma, o principal problema para os padres doutores da Igreja Católica é a questão dos universais. Isto é, se os conceitos universais correspondem à realidade de alguma coisa ou se são meramente palavras. Outro problema é apresentar provas, argumentos que comprovem a existência de Deus. Para saber mais sobre os filósofos pré-socráticos, os filósofos da natureza, acesse a seguir: http://www.paradigmas.com.br/index.php/revista/edicoes-31-a-40/edicao- 33/287-os-filosofos-pre-socraticos-filosofos-da-natureza Fonte: <http://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2013/02/historia-da-filosofia- medieval-escolas-e-filosofos.jpg>. Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir com o professor Rui tratando do tema que estamos vendo. Tema 2: Filosofia Moderna e Contemporânea A Filosofia Moderna tem suas raízes no Renascimento (século XIV ao XVI) e vai até meados do século XVIII, quando começa o Período Contemporâneo. Esse é o nosso objetivo nessa aula: conhecer os principais problemas e pensadores da Filosofia Moderna e Contemporânea. O Renascimento marca um período de rompimento com a mentalidade, com alguns dos valores medievais, principalmente o predomínio do cristianismo, e com a ideia de que as verdades são reveladas somente a alguns poucos por meio do Espírito Santo. Da mesma forma, é marcado pelo renascimento comercial e urbano, que conduzirá ao nascimento de uma classe social, a burguesia, que, séculos mais tarde, irá realizar as grandes revoluções burguesas, pondo abaixo diversas monarquias do poder, bem como, a partir do mercantilismo e das políticas colonialistas, acumulará riquezas que serão utilizadas para o início e desenvolvimento da Revolução Industrial. Fonte: <http://virusdaarte.net/wp-content/uploads/2013/07/sa1234567.png>. O Renascimento marca uma mudança de postura em relação ao ser humano: esse é colocado como centro, como sujeito do próprio conhecimento. A partir daí, é resgatada, de certa forma, a autonomia do ser humano em relação ao próprio pensamento, quando da ruptura com a consciência mítica, que levou ao nascimento da Filosofia. Três problemas principais ocuparão as atenções dos filósofos desse período: a) Teoria do conhecimento Com relação ao conhecimento, duas perspectivas dividirão os filósofos: os empiristas e os idealistas. Para os empiristas, herdeiros de Aristóteles, liderados pelo inglês John Locke e pelo escocês David Hume, a ideia central é que o conhecimento humano é resultado de suas experiências. Assim como Aristóteles, acreditavam que o ser humano é como uma folha de papel em branco, uma tábula rasa, onde são inscritos os conhecimentos produzidos a partir das experiências vividas. Já os idealistas, herdeiros de Platão e liderados por Descartes (século XVII) e Kant (século XVIII), defendem a existência de ideias inatas, isto é, que o ser humano, quando nasce, já é possuidor de certas ideias, e que as mesmas são o ponto de partida do conhecimento e não a experiência, pois essa é considerada falha e enganadora, pois que oriundas dos sentidos, que são falhos e enganadores. Tanto Platão quanto Descartes desconfiam dos sentidos. O primeiro cria a Alegoria da Caverna, onde relata a existência de seres presos no interior de uma caverna que vêm sombras e ouvem coisas, e as tomam como verdade. Sem se aperceberem que são o resultado de objetos refletidos na parede da caverna, e que os sentidos captam como sendo reais. Já Descartes se refere à possibilidade da existência de um gênio maligno que, intencionalmente, tentaria me enganar. Da mesma forma, a única maneira de não se deixar enganar é suspeitar dos sentidos e confiar apenas na razão e no uso de um método que bem conduza a razão. Kant, por sua vez, realiza uma revolução copernicana do conhecimento quando afirma que não é o sujeito que deve circular ao redor do objeto, e sim que é o objeto que deve circundar o sujeito. Para Kant, captamos apenas as manifestações dos objetos, e não os objetos mesmos. b) Filosofia política Com relação à filosofia política, estas perspectivas dividirão os filósofos: a justificativa teológica do poder dos reis, liderados por Jean Bodin e Jacques Bossuet; e a contratualista, liderada por John Locke, Jean Jacques Rousseau e Thomas Hobbes. Para os primeiros, o poder dos reis é de origem divina e, como tal, não cabe questionamento nem da origem do poder dos mesmos, nem das medidas que os mesmos tomam,uma vez que seriam justificadas pela sua origem. Assim como não se deve questionar Deus, também não se deve questionar as decisões reais. Fonte: <http://www.settemuse.it/pittori_scultori_europei/gerard_f/francois_gerard_003_incoronazione_ carlo_X_1827.jpg>. Já os contratualistas defendem a necessidade de o Estado ter um contrato com seus cidadãos, para que esses abram mão de sua liberdade natural, em favor da vida em sociedade. Porém, o que motiva cada um deles a justificar a necessidade desse contrato social é diferente. Para Thomas Hobbes, por exemplo, o ser humano é mal por natureza. Ele afirma que, homo homini lúpus, ou o homem é lobo do homem e, portanto, há a necessidade da existência de leis, contratos para as relações entre os seres humanos sejam controladas. Já para Rousseau, o ser humano é bom por natureza e a sociedade o corrompe. Assim, se faz necessário a existência do contrato social com vistas a preservar a bondade original. Já para John Locke, ideólogo do liberalismo e do Iluminismo, a única fonte de legitimidade de poder dos governantes é a vontade do povo e, o contrato social visa garantir os direitos e as liberdades individuais, expressos no direito à propriedade. c) Ética Com relação à ética, o principal nome desse período, sem sombras de dúvida, é Immanuel Kant. Kant desenvolve sua ética a partir de imperativos, isto é, de normas que devem ser respeitadas por elas mesmas, e não porque por meio delas se almeja alguma coisa que não seja o próprio cumprimento do dever. Segundo ele, somente agindo assim o ser humano constrói a sua autonomia, sua maioridade, já que, do contrário, agindo por imposição externa ou por algum outro interesse que não seja o cumprimento do próprio dever, permaneceria na menoridade e seria um sujeito heterônomo. Para Kant, devemos agir de maneira que, a nossa máxima seja universal, isto é, aquilo que nos orienta a agir, deve ser válida não somente para mim, mas, para todo mundo. Da mesma forma, sua perspectiva ética está fundamentada na ideia de que o ser humano é um fim em si mesmo, e não um meio para alguma coisa, qualquer que seja ela. Para saber mais sobre a filosofia medieval cristã, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=Eu-CWNAa6lU Conheça a teoria de que os fins justificam os meios, de Maquiavel. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=tjhXPRB8w7Q Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir com o professor Rui tratando do tema que estamos vendo. Tema 3: Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência Fechada a primeira etapa dessa aula, que tratava dos períodos históricos da Filosofia, passemos a tratar das suas grandes áreas: a Teoria do Conhecimento e a Filosofia da Ciência. No início da Metafísica, afirma Aristóteles: “Todos os homens, por natureza, aspiram ao saber”. Ou seja, é da natureza humana querer uma explicação para as coisas. Não nos contentamos apenas em ver ou viver, sem entender como as coisas são, porque as coisas são o que são, por que vivemos, por que morremos, o que é o tempo, o que é o belo, o que é a felicidade, etc. Se num primeiro momento as explicações mágico-fantasiosas fornecidas pela mitologia e pelas religiões eram suficientes para dar conta da curiosidade humana, com o desenvolvimento das sociedades humanas, as mesmas passam a ser insuficientes. Assim, há a necessidade de buscar uma explicação lógico- racional para as coisas. É a partir dessa necessidade que surgirá a filosofia grega. Na Grécia Antiga, os primeiros sábios a se dedicarem a essa busca ficaram conhecidos como filósofos pré-socráticos. Suas preocupações eram encontrar o princípio fundante de tudo, a arkhé. A partir dessa preocupação, dois caminhos se abrem: a ideia defendida por Heráclito de Éfeso, para quem a realidade é movimento, um “fluxo perpétuo”. Por isso, para ele, o princípio constitutivo de tudo era o fogo, que tinha a capacidade de transformar as coisas. Tudo está em movimento. Porém, esse movimento não é desordenado, nem aleatório, mas, surge da harmonia dos contrários. a ideia defendida por Parmênides de Eleia, contrária a Heráclito, afirmava que somente podemos pensar aquilo que permanece, e não o que muda, pois desse, por estar constantemente mudando, nunca poderemos afirmar algo de fixo. Assim, o que podemos conhecer é o que é idêntico, imutável. Passada essa primeira fase da Filosofia de busca por um princípio fundante, com Sócrates e os sofistas, entramos numa fase antropológica – o que não significa que harmônica; pelo contrário, uma das diferenças entre Sócrates e os sofistas está justamente na relação com o conhecimento. Enquanto para o primeiro, por meio da maiêutica, era possível chegar à verdade das coisas e, dessa forma, agir corretamente; para os sofistas, a questão era saber argumentar corretamente para defender uma determinada ideia. Assim, enquanto Sócrates defende a busca da verdade como um princípio ético epistemológico, para os sofistas, a mesma era uma questão de argumentação, opinião e persuasão. Para Platão, discípulo e principal divulgador das ideias de Sócrates, existem dois tipos de conhecimento: Sensíveis – são provenientes dos sentidos; não são confiáveis porque são oriundos dos sentidos que são falhos Inteligíveis – são provenientes da capacidade racional do sujeito; são seguros, pois são o resultado da atividade intelectual dos sujeitos Platão, também, distingui quatro graus de conhecimento: Para Platão, ainda, existem dois mundos: o mundo das ideias, onde estão as ideias, os conceitos eternos e imutáveis de todas as coisas e que é alcançado somente pelo raciocínio e a intuição intelectual o mundo das representações, que é captado pelos sentidos Como método de conhecimento, Platão defende a dialética, que, para ele, consistia num diálogo em que se apresentavam teses contrárias sobre um determinado assunto, até se chegar à tese verdadeira, abandonando a falsa. Já para Aristóteles, não existem dois mundos, mas, tão somente um. Permanência e mudança estão nos próprios seres. Da mesma forma, não existe um conhecimento inferior (crença e opinião) e outro superior (raciocínio e intuição intelectual), como queria Platão, mas graus de conhecimento, que vão, sucessivamente, um enriquecendo o outro. Assim, passamos da sensação para a percepção, desta para a imaginação, que será sucedida pela memória, que dará origem à linguagem, e essa ao raciocínio, chegando, por fim, à intuição. Assim, para Aristóteles, não há uma ruptura, mas uma continuidade. No entanto, reconhece que a intuição é superior às demais e não depende delas para existir. Outra diferença de pensamento entre Aristóteles e seu mestre era quanto à origem do conhecimento. Enquanto para Platão, o conhecimento sensível é desvalorizado, para Aristóteles, a experiência é fundamental. Afirma ele: “Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos”. Na Idade Média, a preocupação do conhecimento é com os conceitos universais. Existem realmente ou não passam de palavras? Outra característica do problema do conhecimento para os medievais era quanto a sua origem. Para os padres doutores da Igreja Católica, a origem do conhecimento estava em Deus e era revelado aos mesmos por obra do Espírito Santo. Assim, somente eles estavam autorizados a dizerem o que era e o que não era verdade, a partir dos estudos realizados no livro sagrado dos católicos: a Bíblia. Essa interpretação, porém, deveria ser feita à luz da fé, e não da razão. Enquanto essa representariaa Filosofia, aquela representaria a Teologia, que lhe era superior e à qual deveria estar submetida. Outra característica da filosofia dessa época é o aparecimento de problemas que, para os gregos, não existiam. Por exemplo: como seres imperfeitos, assim tornados por meio do Pecado Original, podem conhecer o que é perfeito? Por conseguinte, como o finito, que é o ser humano, pode conhecer o infinito, que é Deus? O que são verdades da razão e o que são verdades da fé? Como consequência dessa forma de pensar, a Igreja Católica medieval empreenderá uma luta de controle do conhecimento. Para tanto, buscará manter nas bibliotecas de seus conventos, a maioria das obras escritas conhecidas até então, impedindo o acesso às mesmas, seja por meio da Inquisição, seja por meio da elaboração de um Index Librorum Prohibitorum, lista de livros proibidos, pois se chocavam com as doutrinas e os dogmas da Igreja. Essa lista só abolida em 1966, pelo papa Paulo VI. Fonte: <http://osabicao.com.br/o-que-foi-o-index-librorum-prohibitorum/>. Ainda na Idade Média, século XIII, Roger Bacon começa a questionar as verdades reveladas, afirmando que um conhecimento, para ser tido como verdadeiro, deveria passar pela experiência. Já no século XVI, Francis Bacon afirmava que quatro ídolos nos impediam de conhecer a verdade: Ídolos da caverna – que são nossas opiniões oriundas dos nossos órgãos dos sentidos Ídolos do fórum – que são oriundos da linguagem e da influência das outras pessoas Ídolos do teatro – são as opiniões formadas a partir do que as autoridades nos impõem Ídolos da tribo – são as opiniões que formamos pelo fato de vivermos em sociedades que possuem a mesma origem, destino, características e comportamentos No século XVII, Descartes irá se propor uma tarefa monumental: reconstruir todo o conhecimento, partindo do zero. Para ele, era necessário abandonar tudo o que havia sido ensinado como verdadeiro para reconstruir o conhecimento, não pela tradição, mas por meio da aplicação de um método que desse segurança sobre as verdades que se devia afirmar. Afirmava ele, que era necessário começar pela leitura do grande livro: o mundo. Da mesma forma que Platão, Descartes negará os conhecimentos oriundos por meio dos sentidos, pois, segundo ele, os sentidos nos enganam; eles não são confiáveis. Afirmava ainda: “Quem me garante que, agora, não há um gênio maligno que está me fazendo crer que estou escrevendo o que acredito estar escrevendo realmente?” Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/- EWbEYLfrqHM/Ui9FQWBgHaI/AAAAAAAAAF8/CNvH_MoZspw/s1600/Descartes.jpg>. Assim, para que possa chegar a verdades claras e evidentes, preciso munir-me de um método seguro. Desta forma, propõe ele seu método que está dividido em quatro passos: a) Evidência – é não admitir nada em meu espírito como sendo verdadeiro, sem antes verificar se assim o é b) Divisão – dividir o problema a ser investigado em tantas partes quanto forem necessárias para melhor compreendê-lo c) Enumeração – ordenar as partes e os pensamentos, indo das mais simples para as mais complexas d) Revisão – fazer a revisão completa de todos os passos dados, para se ter certeza de nada ter esquecido ou observado superficialmente Da mesma forma que Aristóteles irá divergir do idealismo de seu mestre Platão, também John Locke, contemporâneo de Descartes, irá em caminho oposto ao do filósofo francês, e afirmará a primazia da experiência sensível na produção de todo o conhecimento humano produzido. No século XVIII, Immanuel Kant irá realizar uma revolução epistemológica. Ante a dicotomia entre empiristas e racionalistas, Kant afirmará que ambos estavam errados. Para ele, o conhecimento não é nem inato, nem adquirido pela experiência. O que é inato é a razão, que conhece as coisas por meio da experiência. No entanto, afirma Kant, não é possível conhecer as coisas em si, mas, tão somente, suas representações, às quais chama de noumeno. Caso tenha interesse em conhecer mais sobre o noumeno, acesse: http://basedafilosofia.blogspot.com.br/2011/10/filosofia-do-conhecimento- missao-23.html Kant afirma ainda que, até então, acreditava-se que o sujeito circulava ao redor do objeto, da mesma forma que se acreditava que o Sol girasse em torno da Terra; quando, na realidade, é o contrário: é o objeto que deve circular ao redor do sujeito cognoscente, como é a terra que gira ao redor do Sol. A partir do século XVIII, afirma-se a primazia do conhecimento científico sobre os demais tipos de conhecimento. À ciência compete explicar todas as coisas e dar a última palavra sobre cada uma delas. O método científico passa a ser defendido como infalível e acaba por transformar a ciência num novo dogma, num novo mito. Algo para ser tido como verdadeiro tem que ser, primeiro, afirmado como sendo o resultado de um trabalho científico. Até mesmo as ciências humanas, como Antropologia, Sociologia e Psicologia, então nascentes, buscam se afirmar como ciências para serem reconhecidas. No entanto, os séculos XIX e XX irão mostrar que a racionalidade científica irá produzir algumas irracionalidades, como, por exemplo, a exploração da mão de obra à exaustão nas fábricas, bem como a criação de armas de destruição em massa, resultantes do avanço científico e tecnológico, que será denunciado principalmente, primeiramente por Marx e a esquerda hegeliana ainda no século XIX e, durante o século XX, pelos fenomenologistas e pela Escola de Frankfurt. Esse passa a ser, principalmente, o abjeto da filosofia da ciência: investigar suas possibilidades e suas limitações, bem como os usos mercadológicos e ideológicos do conhecimento científico. Para saber mais sobre a relação entre ato e potência, com base na metafísica aristotélica, acesse: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/revistahumus/article/downlo ad/1504/1208 Fica também como sugestão de filmes para compreender esse período que estudamos: O nome da rosa o http://www.adorocinema.com/filmes/filme-2402/ Quo vadis o http://www.adorocinema.com/filmes/filme-44210/ Em nome de Deus o http://www.adorocinema.com/filmes/filme-47707/ O poço e o pêndulo o https://filmow.com/o-poco-e-o-pendulo-t15153/ Abelardo e Heloisa o http://www.conexaoparis.com.br/2015/04/14/abelardo-e-heloisa- uma-historia-de-amor/ Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir com o professor Rui tratando do tema que estamos vendo. Tema 4: Ética, Filosofia Política e Estética Começamos agora mais uma unidade de aprendizagem. Essa unidade tem como temas centrais a Ética, a Filosofia Política e a Estética. Buscaremos abordar essas três áreas, na medida do possível, de maneira integrada. Enquanto as duas primeiras têm mais a ver com o viver, seja individual, seja em sociedade, a dimensão estética diz respeito mais às questões do belo, das artes em si e de sua função social e/ou meramente estética. No entanto, mesmo o agir individual ou coletivo também devem aspirar ao belo, ao sumo bem, à perfeição, à ordem, à harmonia. Por ordem, não se entende a ordem positivista, mas aquilo que, no dizer de Aristóteles, pode proporcionar a felicidade. Primeiramente, compete fazer uma distinção entre moral e ética. Enquanto a moral diz respeito às regras que organizam o nosso viver, a ética é a reflexão sobre tais noções e princípios que fundamental a ação dos indivíduos em sociedade. Assim, não seria correto falarmos da existência de umindivíduo ético, mas, de um indivíduo moral, ou seja, aquele que segue as regras prescritas para o grupo social do qual o mesmo faça parte. O problema é que mesmo essas regras podem não ser tão morais assim, pois a moral é uma construção histórica, social e cultural. Portanto, não possui objetividade. É certo que certas regras, como “não matarás”, podem ser entendidas como tendo caráter universal. Porém, outras regras podem ser questionadas, tais como a possibilidade de um homem se casar com mais de uma mulher, por exemplo, ou a punição com apedrejamento até a morte da mulher que for pega traindo o marido ou mesmo as mães que, em algumas comunidades africanas, extirpam o clitóris de suas filhas, dentre outras. Sócrates foi um dos primeiros filósofos a tratar das questões morais. Para ele, um sujeito que conhece a verdade, age corretamente. Assim, quando um sujeito erra, é porque desconhece a verdade. Por isso, sua primeira máxima é o “Conhece-te a ti mesmo”; frase essa que estava inscrita no pórtico do Oráculo de Delfos. Ou seja, o primeiro conhecimento que devemos ter é sobre nós mesmos, antes de procurar conhecer as demais coisas. O autoconhecimento é o caminho para vida autêntica e feliz. Fonte: <http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/2012/06/conhece-te-ti-mesmo.html>. A moral também está relacionada com a maneira como o indivíduo se relaciona com o problema da liberdade. Nesse sentido, se cumpro uma regra por obrigação, não estou sendo um sujeito moral, pois a moral pressupõe a escolha livre e consciente do indivíduo em agir de acordo com certas regras. Da mesma forma, se cumpro uma regra porque espero alguma recompensa ou por medo de receber algum tipo de sanção se não a cumprir, também o ato deixa de ser moral. Para Aristóteles, o sujeito moral é aquele que sabe agir com equilíbrio e constância. Isto é, nem o indivíduo destemido, nem o covarde são virtuosos, mas sim aquele que sabe agir de acordo com as circunstâncias. É no justo meio que se encontra a virtude. Da mesma forma, para Aristóteles, não basta agir corretamente uma única vez, nem fazer apenas um tipo de ação correta. Como o mesmo afirma em Ética a Nicômaco: “Uma andorinha não faz verão”. Assim, é necessário constância e persistência. Aliás, para Aristóteles, a educação começa pelo exemplo, que precisa ser imitado e repetido, até se tornar hábito, isto é, até que o sujeito realize tal ação, mesmo sem pensar. Esse mesmo princípio do justo meio, que Aristóteles defende para a moral, também o defendia no campo da política, pois a cidade justa é aquela que age com equilíbrio, praticando a justiça distributiva e participativa no que tange a proporcionar a todos os cidadãos o acesso tanto aos bens partilháveis, quanto aos bens participáveis. A justiça distributiva de Aristóteles se baseia no princípio de que é necessário tratar desigualmente os desiguais, para torná-los iguais. Durante a Idade Média, na Europa, a moral estava atrelada aos Dez Mandamentos. Esses eram os princípios que deveriam orientar o agir dos indivíduos, bem como os dogmas da Igreja Católica. Os casos de desvio da moral e da fé, assim como aqueles que não partilhavam da fé cristã, eram tratados como heresias, podendo o indivíduo ser julgado e condenado pelo Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição. Esse instrumento, aliás, não foi utilizado somente pela Igreja Católica, mas, também, pelas igrejas protestantes. Imannuel Kant, no século XVIII, irá propor seus imperativos categóricos como forma de dizer aos indivíduos como deve se portar um indivíduo moral. Antes, porém, é necessário compreender, dele, dois conceitos: autonomia e heteronomia. Num pequeno texto, escrito em 1783, intitulado Resposta à pergunta: O que é Esclarecimento? Kant define tais conceitos da seguinte forma: Autonomia é a condição do sujeito que, orientado pelo seu próprio entendimento, é capaz de agir sem a orientação de outrem. Esse comportamento Kant também o chamou de maioridade. Heteronomia é a condição do sujeito que abre mão da própria liberdade, para ser governado por outrem. Tal condição é chamada por Kant de menoridade. A política, definida a partir de como os gregos a conceberam, pode ser definida como a arte de governar a cidade com vistas ao bem comum de seus cidadãos. Para apresentar sua concepção de cidade justa, Platão escreveu A República. Em linhas gerais, Platão defende a ideia de que cada indivíduo ocupe sua função na cidade de acordo com suas aptidões – da mesma forma que cada um seja instruído para realizar da melhor forma possível suas tarefas. Já o pensamento político de Aristóteles está expresso em sua obra Política. Nela, dentre outras coisas, destaca-se a ideia defendida por Aristóteles da justiça distributiva e participativa, a que já nos referimos anteriormente. No século XVI, viveu um dos principais filósofos políticos: Nicolau Maquiavel. Em sua obra O Príncipe, inaugurará uma nova visão a respeito da política, separando-a das questões ético-morais, pois a moral política é distinta da moral privada. Aquela deve ser vista e julgada a partir das medidas necessárias que são tomadas com vistas ao bem comum. Essa parte da obra, aliás, foi equivocadamente interpretado como “os fins justificam os meios”. Frase muitas vezes atribuída a Maquiavel, que o mesmo nunca escreveu. Maquiavel escreve essa obra pensando na unificação italiana em torno de uma república, e não dividida como estava então, presa fácil de qualquer aventureiro estrangeiro que quisesse dominar seus principados. Assim, começa a descrever como um príncipe deveria agir para alcançar tal unificação. A principal característica do príncipe, para Maquiavel, era aliar a virtú com a fortuna. Enquanto a primeira seria a capacidade que o príncipe deveria ter de realizar grandes feitos, a segunda seria o fato de o mesmo ser dotado de sorte e que soubesse aproveitar desses momentos para realizar suas ações. Assim, força e coragem de nada adiantam sem a presença do momento propício e vice-versa. A filosofia política apresentará alguma novidade com as teorias contratualistas dos séculos XVII e XVIII. Essas são uma reação à ideia defendida durante a Idade Média e até início do século XVII, que defendiam a origem divina dos reis. Sendo o poder dos monarcas de origem divina, não cabem questionamentos, mas, tão, somente, a obediência cega. Para Thomas Hobbes, o ser humano, que vivia em estado de natureza, sente a necessidade de um contrato que regule a vida em sociedade, pois, caso contrário, mantendo o estado de natureza, o mais provável é que um acabe por destruir o outro. Fonte: <https://politica210.wordpress.com/2014/07/07/leviatathomas-hobbes/>. Já para John Locke, os governados livremente escolhem ser governados por uma instância superior que julgue imparcialmente os atos dos cidadãos. Ferrenho opositor das tiranias e das monarquias absolutistas, defendia que as leis fossem a expressão da vontade dos cidadãos. Por fim, para Rousseau, o ser humano é bom por natureza. O problema está na sociedade, que o corrompe. Como o povo tem a soberania, cabe ao governante, como representante do povo, realizar a vontade geral do mesmo. Da mesma forma, a preservação da bondade original dever ser garantida por meio da educação. Por fim, chegamos ao campo da Estética. Já antecipamos algumas ideias a respeito desse tema. Palavra que deriva das palavras gregas aisthetiké e aisthesis, e significa o ato de observar, perceber, notar, apreciar algo e faculdade de sentir,compreensão pelos sentidos, respectivamente; diz respeito ao conhecimento produzido pelos sentidos, pela experiência sensível. Nesse caso, essa apreciação diz respeito ao caráter de beleza da obra apreciada. Tal obra pode ser uma pintura, uma escultura, uma música, uma peça de teatro, de cinema, dentre várias manifestações artísticas. O termo foi criado pelo filósofo alemão Alexandre Baumgarten, no século XVIII. Para Kant, a palavra estética diz respeito à nossa capacidade de julgamento tanto da beleza de uma obra de arte, como da beleza da natureza. Nos séculos XVIII e XIX, concebia-se as artes como: atividade humana autônoma e não instrumentalizada; é resultado da experiência sensorial, da inspiração e da imaginação; por ser uma atividade desinteressada e contemplativa, não está a serviço de ninguém, a não ser de si mesma; o objetivo do artista é a manifestação do belo. Como campo de investigações filosóficas, a estética possui pelos menos dois significados (ARANHA, 2012).: a) Estudo racional dos “valores propostos pelas obras de artes e do sentimento que suscita nos seres humanos” b) Estudo do “conjunto de características formais que a arte assume em determinado período, que corresponde ao que chamamos de estilo” Se para os empiristas, a beleza não é uma qualidade das coisas, mas, o sentimento que está na mente de quem contempla, para Kant, o belo é “aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-la intelectualmente”. Da mesma forma, até mesmo o feio pode ser belo. E, uma obra somente é feia quando for malfeita. Já para Hegel, a beleza possui uma dimensão histórica. Isto é, o que é belo num determinado período, pode não o ser em outro. Assim, não existiria o belo em si, mas, o belo contextualizado, histórica e socialmente. Fonte: <http://www.mensagenscomamor.com/categoria/entretenimento/livros/livros-nacionais>. Saiba Mais Provocações sobre ética: https://www.youtube.com/watch?v=-lto47d29JI Filosofia Política na América Latina Hoje: https://www.youtube.com/watch?v=1J20_uSICpE A crise da arte: https://www.youtube.com/watch?v=plZhcbJLVRk Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir com o professor Rui tratando do tema que estamos vendo. Tema 5: Filosofias existentes fora do contexto indo-europeu Por que somente é possível filosofar em grego e alemão, como defendia Heidegger em sua tese de doutoramento? Talvez, a essa firmação, deveríamos acrescentar os seguintes elementos: primeiramente, somente foi possível filosofar em grego; posteriormente, em latim, francês e inglês e, por fim, em alemão. E esse complemento não é de concordância, mas de ironia, pois, conforme afirma Dussel, a filosofia praticada na América Latina, por exemplo, é uma filosofia inautêntica, uma vez que apenas reflete o pensamento de filósofos indo-europeus. Ao mesmo tempo, o pensamento filosófico produzido fora do contexto indo- europeu sempre foi desqualificado ou qualificado como religião. No então, se em outros continentes não se produziu um pensamento filosófico sistemático como o grego, não significa que não tenham produzido outro tipo de pensamento filosófico. Aliás, inclusive pensamento esse que pode inclusive romper com uma ontologia totalizante e excludente. O pensamento filosófico indiano, por exemplo, já apresentava, muito antes dos primeiros filósofos gregos, três conceitos metafísicos relacionados ao ser humano enquanto Ser: Atman – o eu, ou alma Karma – as ações humanas praticadas em vida e orientadas por uma eficácia moral com vistas à libertação Moksha – que seria a libertação: o mais alto ideal do existir humano Assim, atman, o eu, teria que viver o seu karma, isto é, realizar ações orientadas por uma eficácia moral com vistas a libertar-se dessa vida material, alcançando moksha, a liberdade. Para saber mais sobre a filosofia hindu: http://www.estudantedefilosofia.com.br/filosofias/filosofiaindiana.php A palavra karma, aliás, tem sido usada no Ocidente, pelo senso comum inclusive, com significado completamente pervertido, uma vez que, por aqui, entendemos karma como castigo, punição e/ou peso a ser carregado em vida pela vontade de alguma divindade que resolveu castigar-me. Porém, seu significado se aproxima à terceira lei de Newton: para toda ação corresponde uma reação de mesma força e em sentido contrário. Tanto o pensamento teológico que dá sustentação às religiões de matriz africana, quanto a Filosofia Espírita possuem o mesmo fundamento: a lei do retorno. Assim, minhas ações devem ser realizadas em sentido de libertar-se e não de aprisionar-se. Ou seja, colhemos os frutos das ações que realizamos. Somos o que fazemos. Dessa forma, nosso existir é um aprendizado. Quando aprendermos nossas lições, nos libertaremos. Enquanto não as aprendermos, precisaremos de outras vidas para realizar o aprendizado necessário. Já na filosofia chinesa, por exemplo, a preocupação não é com o Ser, mas com o processo. Assim, não existe uma categoria “tempo” que faz a divisão entre presente, passado e futuro, mas, no sentido de um devir, de um processo que é kairós – tempo propício. Diferente da tradição ocidental, que toma o tempo e o divide em partes, pedaços, um intervalo entre dois momentos, por exemplo – o presente é o intervalo entre o passado e o futuro – para o pensamento chinês, o tempo é um processo, assim como o mundo não foi criado num determinado tempo, mas é um processo autorregulado, isto é, que se desenvolve de acordo com um momento propício e por si mesmo. Para saber mais sobre filosofia chinesa: O que é a filosofia chinesa? >>> http://criticanarede.com/fil_china.html História da Filosofia Chinesa >>> http://voluntas.tripod.com/Hp/fchinesa.htm Outro exemplo vem do continente africano e de sua filosofia ubuntu, filosofia essa gestada na África Subsaariana. O princípio dessa filosofia é expresso na seguinte frase: “uma pessoa é uma pessoa, junto com outras pessoas”. Ou, em termos metafísicos clássicos: um Ser é um Ser, junto com outros Seres. Isto é, não se funda na exclusão, mas na inclusão, na interdependência. O filósofo Martin Buber (1878-1965) em sua obra Eu-Tu afirma algo semelhante: o Eu somente tem sentido e existência na presença de um Tu; não o Tu dominando, não o Tu explorando, não o Tu violentando, mas existindo com ele, (co)existindo. Emanuel Levinas (1906-1995) e Enrique Dussel (1934-) refletem sobre o conceito de alteridade na mesma perspectiva. Fonte: <http://www.nieuwwij.nl/wp-content/uploads/2016/02/ubuntu.jpg>. As formulações de um pensamento filosófico latino americano têm pouco mais de 50 anos. Ainda enfrente resistência nas academias, bem como já foi considerada como teologia e, por outros, até mesmo de que já teria esgotado seu potencial criativo. Porém, esse pensamento tem se renovado e, ao mesmo tempo, se consolidado apesar das resistências. E até mesmo contra elas. Se até o século XIX, a dominação da América Latina, assim como de outros continentes, era obra de diversos países europeus, legitimadas por ontologias totalizantes, por vezes substituindo, por vezes contando com o seu apoio e complacência, hoje quem realiza esse processo de dominação são os Estados Unidos, não por meio de uma ontologia que tenha elaborado, mas que reafirma os mesmos princípios de uma ontologia dominante, de negação das identidades nacionais, impondo um Ser dominador, tanto por meios culturais (cinema, música, histórias em quadrinho, desenhos animados, língua, etc.), como por meiosfísicos (guerras, terrorismos, embargos, bloqueios, sanções, etc.). Assim, não tem como pensar a possibilidade de uma filosofia latino-americana sem considerar esse cenário, dentre tantos outros processos vividos por essa parte do mundo. É a partir dessas provocações, dentre outras, que o filósofo argentino Enrique Dussel, a partir da década de 1960 publica uma série de obras e realiza uma série de pesquisas buscando cumprir um objetivo: o de construir um pensamento filosófico que rompa com a ontologia europeia, criando um pensamento autêntico e autóctone. O ponto de partida é a crítica ao pensamento produzido pela modernidade, mas não só. Fonte: <http://pau-mividasinti.blogspot.com.br/2011/05/el-sur-es-mi-norte.htm>. Principalmente pelos mesmos constituírem uma totalidade fundamentada numa ontologia que impõe um determinado tipo de Ser, de ente que é totalizante e dominador, guiado por uma vontade de poder que coisifica, que objetiva o Outro, negando-lhe sua identidade, sua outridade. Desta forma, sugere Dussel, é necessário pensar uma ontologia fora desse centro totalizante. Que parta da periferia historicamente dominada, oprimida, aculturada, assujeitada. Dussel se desafia a pensar um sistema filosófico que não seja: a) Meramente reprodução do que já fora pensado b) Uma filosofia nova, que parta da periferia, para pensar os problemas da periferia, a partir de ferramentas epistemológicas gestadas na e pela periferia Nesse projeto, porém, adverte Dussel, não é possível contar nem com aqueles que produziram um pensamento europeu preponderante (Kant, Hegel e Heidegger), muitos menos com alguns de seus críticos (Kierkegaard, Feuerbach e Marx), ou com aqueles que aqui no continente latino-americano imitaram tais filosofares. Esses, Dussel os classifica como “inautênticos”: “porque é filosofia inautêntica. Tampouco poderíamos partir dos imitadores latino-americanos dos críticos de Hegel – da filosofia preponderante – porque igualmente eram inautênticos”. As razões pelas quais nem os primeiros, nem os segundos podem ser utilizados para e na constituição desse novo pensamento são pelo menos três: a) Os primeiros, por criarem um pensamento otológico excludente b) Por incluírem, em seu processo de desenvolvimento, os países e culturas periféricas como objeto, como coisa c) Os segundos por, mesmo que tenham feito a crítica aos fundamentos ontológicos dos primeiros, não conseguiram romper com a ontologia totalizante Fonte: http://pv-priscilaviegas.blogspot.com.br/2010/04/como-voce-se-ve-muitos-de-nos-ja.html Esse novo pensamento, além de romper com essa ontologia totalizadora, não poderia ser, em hipótese alguma, opressor. Há que se romper com uma ontologia de um Ser (países centrais) que objetiva o Outro (países periféricos). Assim, percebe-se que não tem como produzir um pensamento original sem começar por questionar o processo histórico de dominação a que foi submetida a América Latina. Uma vez que esse processo de colonização, bem como o neocolonialismo e o imperialismo atual estão fundados, justificados e legitimados pela ontologia eurocêntrica. Percebe-se, então, que se trata de um duplo rompimento: ontológico e político-econômico-cultural. Como processo constitutivo de um pensamento original, Dussel propõe uma hermenêutica que vá em busca de uma nova visão de mundo (Weltaschauungen). Inspirando-se no pensamento de Paul Ricouer e na fenomenologia postranscendental de Heidegger, Merleau-Ponty, Sartre, dentre outros. Partindo de uma crítica à visão de mundo grega e europeia, às quais opõe a visão judaico-cristã, questiona as pretensões das primeiras de, a partir de uma perspectiva linear de seu desenvolvimento histórico, propor-se como modelo de universalidade para o restante do mundo. Saiba Mais Pensar o Mundo Desde a Filosofia da Libertação >>> https://www.youtube.com/watch?v=ZJgoZKAe4rg Taoismo >>> https://www.youtube.com/watch?v=62DQ6cSKw7U Diálogos: Filosofia africana >>> https://www.youtube.com/watch?v=IMubZgdiDmg Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir com o professor Rui tratando do tema que estamos vendo. TROCANDO IDEIAS Problema para discussão: é melhor, para o governante, ser temido ou ser amado por seus súditos? “Vale mais ser amado ou temido (na chefia)? O ideal é ser as duas coisas, mas como é difícil reunir as duas coisas, é muito mais seguro - quando uma delas tiver que faltar - ser temido do que amado. Porque, dos homens em geral, se pode dizer o seguinte: que são ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, fugidios ao perigo, ávidos do ganho. E enquanto lhes fazeis bem, são todos vossos e oferecem-vos a família, os bens pessoais, a vida, os descendentes, desde que a necessidade esteja bem longe. Mas quando ela se avizinha, contra vós se revoltam”. Maquiavel NA PRÁTICA O livro “O Príncipe”, de Maquiavel, tem excelentes frases impactantes na vida política. Um trabalho bastante produtivo é retirar algumas dessas frases e apresentá-las a ocupantes de cargos públicos eletivos e solicitar-lhes a opinião dos mesmos sobre tais pensamentos. Depois, fazer uma síntese comparativa e reflexiva sobre tais opiniões. SÍNTESE Nessa aula, vimos os principais períodos da História da Filosofia, desde sua origem grega, até o século XX. Ainda é uma perspectiva indo-europeia. Porém, se faz necessário ainda esse percurso para, num outro momento, fazermos a crítica do mesmo. A filosofia ocidental tem origem na Grécia Antiga. Porém, essa, não é uma exclusividade grega e europeia. Se nesse continente, ela foi se desenvolvendo a partir dos problemas vividos nessa região, em outros continentes, outros povos desenvolveram pensamentos também filosóficos, tanto do ponto de vista ético, como moral e político. A Filosofia é um tipo de conhecimento que aborda diferentes temas, de maneiras variadas. Assim, quando investigamos, por exemplo, sobre questões morais, e essa é uma característica da Filosofia, não se tem uma unanimidade sobre o que pode ou não pode ser considerado moral, e sim perspectivas diferentes de um mesmo problema. O que não significa um subjetivismo e um relativismo que nos deixam sem rumo, mas sim reflexões e orientações baseadas em argumentação lógica. E aqui, é interessante retomarmos nosso problema: até onde ir, em nome daquilo que acreditamos? Após o seu julgamento, Sócrates tinha diferentes alternativas: Mudar de cidade e deixar de filosofar Fugir, com a ajuda de seus discípulos que subornariam os guardas que o vigiavam Seguir em frente e cumprir sua sentença: morrer tomando cicuta E nós, teríamos a mesma predisposição de Sócrates? Ou, em nome de nossa vida, renunciaríamos às nossas crenças e convicções? Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir com a fala final do professor Rui. Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2000. BUBER, Martin. Eu e tu. São Paulo: Cortez, 1979. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1999. CUNHA, José Auri. Filosofia: iniciação à investigação filosófica. São Paulo: Atual, 1992. NIELSEN NETO, Henrique. Filosofia básica. São Paulo: Atual, 1986. PRADO JR., Caio. O que é Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1998. REALE, Giovanni. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2003.
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