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Design Magazine 10

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Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com
2 • Edição 10
Carta do diretor
Formado em design gráfico e atuando no merca-
do desde 2010. Atualmente focado em direção de 
projetos. Dentre eles a revista digital Design Maga-
zine Brasil e o “coletivo criativo” Grupo I3C3.
Lucas 
Fernandes
É impressionante como o tempo passa rápi-
do. Já fazem dois anos do lançamento da nossa 
primeira edição. No começo de 2013 entrei em 
contato com Tiago Krusse, diretor da Design Ma-
gazine com sede em Portugal. Na época eu pen-
sava apenas em fazer um trabalho acadêmico e 
não imaginava no que isso poderia se tornar. Em 
15 de agosto de 2013 lançamos ao público nossa 
edição 00.
O Tiago se mostrou não apenas um grande 
consultor para a DMB, como também um funda-
mental parceiro nessa empreitada que ainda está 
apenas no começo.
Desde então a revista só cresceu, e sou gra-
to a todos os envolvidos por isso. Tenho muito or-
gulho da equipe que faz da DMB o que ela é.
Ah, e aqui nessa edição resolvemos voltar 
com o uso de infográficos, que não apareciam 
desde o número 00. Espero que consigamos 
manter isso. Essa é provavelmente uma das nos-
sas edições mais “recheadas”.
Ainda assim temos que trabalhar e ralar 
muito para trazer a vocês, nossos leitores, um 
conteúdo cada vez melhor. Ainda estamos apren-
dendo com nossos acertos e erros.
Bem, para finalizar, vou me aproveitar de 
um slogan alheio. Estou me sentindo pratica-
mente num comercial da cerveja Budweiser, pois 
prevejo que “Great times are coming”.
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4 • Edição 10
Sumário
Paul Rand - Everything is Design
Pág. 08
Como fazer uma apresentação
Pág. 22
Rio Academy
Pág. 34
Fetiche Design
Pág. 14
Design de superfícies com Daniela Brum
Pág. 24
Entrevista com Gabriel Patrocinio
Pág. 44
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Agosto 2015 • 5
Design Magazine Brasil
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6 • Edição 10
Créditos
Diretor
Capa
Revisão
Logotipo
Site
Email
Redes Sociais
Projeto gráfico
Diagramação
Ilustrações
Fotografias
Idealizadores
Redatores
Lucas Fernandes
Alvaro Victorio
Juliana Teixera
Lourrane Alves
Elementos À Solta
designmagazine.com.br
lucas@designmagazinebrasil.com.br
facebook.com/revistadesignmagazine.br
twitter.com/DMBr_Oficial
Douglas Silva
Hebert Tomazine
Leandro Siqueira
Lucas Fernandes
Thiago Seixas
Vitor Cardoso
Douglas Silva
Hebert Tomazine
Leandro Siqueira
Lucas Fernandes
Gilberto Ferreira
Wendel Fragoso
André Reis
Pablo Cabistani
Diego Gomes
Douglas Silva
Gilberto Ferreira
Leandro Siqueira
Lucas Fernandes
Eduardo Madeiro
Éllida Assis
Lucas Fernandes
Mayara Wal
Pablo Cabistani
Tiago Krusse
Edição #10
Agosto/2015
A Design Magazine Brasil é uma projeto de LucasFAdS e Grupo I3C3.
O conteúdo textual e imagético da revista pertence aos seus respectívos autores e não 
pode ser reproduzido sem autorização prévia.
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Design Magazine Brasil
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8 • Edição 10
 “A simplicidade não é a meta.
É subproduto de uma boa ideia.”
Paul Rand - Everything is Design
Designer gráfico gaúcho morando e trabalhando 
em São Paulo. Acredita que design, como parte 
da cultura de uma sociedade, deve sempre estar 
sendo propagado.
Pablo 
Cabistani
Arte da vitrine: Gilberto Ferreira. Fotos: Pablo Cabistani.
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Design Magazine Brasil
Paul Rand foi um icônico designer americano 
reconhecido principalmente por seu trabalho em 
identidade corporativa. Em sua trajetória desenhou 
alguns dos principais logos de algumas das maio-
res e mais conhecidas empresas norte-americanas, 
como a UPS (logo que durou décadas e foi redese-
nhado pela FutureBrand (http://www.futurebrand.
com/studies/ups/ups), a IBM (logo que nunca foi 
mexido), a Enron (empresa que faliu) e a emissora 
ABC (logo que também permanece intocado). 
Recentemente aconteceu no Museu of the 
City of New York (um museu dedicado principal-
mente à cultura genuinamente nova-iorquina) uma 
exposição com uma seleção de trabalhos - muitos 
peças originais - do designer. “Everything is Design – 
The Work of Paul Rand” (“Tudo é projeto: o trabalho 
de Paul Rand”) apresentou no museu mais de 150 
anúncios, cartazes, brochuras e livros corporativos.
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10 • Edição 10
Paul Rand - Everything is Design
Nascido no Brooklyn, Rand, nos anos 30, co-
meçou trabalhando em capas de revista, princi-
palmente capas para a Esquire e a Apparel Arts (a 
Apparel Arts foi o primeiro nome da Gentlemen’s 
Quarterly, a conhecida GQ, que tem também edição 
brasileira, representada e desenvolvida aqui no Bra-
sil pela editora Globo). Nos anos 40, ele trabalhou 
como diretor de arte na agência Weintraub, na Ma-
dison Avenue (famosa avenida nova iorquina onde 
nasceram algumas das maiores agências de publi-
cidade do mundo, incluindo as icônicas Doyle Dane 
Bernbach, a DDB, que hoje é sócia da brasileira 
DM9) dos comerciais do Fusca, a BDO (que depois 
virou BBDO, um grupo multinacional que é sócio da 
brasileira Almap) e a Young&Rubicam, que aqui no 
Brasil é parte do grupo do Roberto Justus. Em pu-
blicidade, ele revolucionou a direção de arte, sain-
do do modelo convencional de “foto e título” para 
Capas de livros: sempre com estilo despojado que une cores 
fortes, ilustrações e diagramação com um toque construtivista.
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uma linguagem artística muito influenciada pelos 
movimentos cubistas e construtivistas que eram a 
vanguarda europeia na época. Desse período des-
tacam-se anúncios para GlaxoSmithKline, para os 
charutos El Producto e para o conhaque Coronet. 
Cores fortes, tipografia destacada e ilustrações di-
vertidas mesclam-se em anúncios que marcaram 
época num período da publicidade onde apenas os 
redatores eram as estrelas. 
Mais tarde – e até o final da vida – ele atuou 
como designer gráfico de algumas das principais 
e mais influentes empresas do período (IBM, ABC, 
UPS, e a NeXT do Steve Jobs), onde concebeu sis-
temas de identidade e “gerenciou” visualmente a 
linguagem visual de dezenas de empresas. Rand foi 
um dos pioneiros no desenvolvimento de trabalhos 
abrangentes de identidade visual, que vão desde 
embalagens até o desenvolvimento de sinalização. 
O logo da Next tinha também 
versões bicolores, usando a 
paleta da identidade.
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12 • Edição 10
Embalagens e brochuras bacanésimas para a IBM. E 
você aí reclamando que só dá pra fazer layout sem 
graça pro seu cliente corporativo.
Paul Rand - Everything is Design
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Para a IBM, por exemplo, o designer tra-
balhou durante décadas. Além da marca da 
empresa, Rand concebeu embalagens para 
produtos como disquetes e fitas DAT e pos-
ters e brochuras para divulgação de produ-
tos promocionais. Os projetos do designer 
sempre basearam-se em logotipos coesos e 
marcantes, muitos dos quais estão em uso 
até hoje.
Foi também professor na Universidade 
Yale, onde influenciou uma geração de no-
vos profissionais. Sua linguagem visualmen-
te estimulante, e sua incrível capacidade de 
resoluçãode problemas de design, atraíram 
admiradores durante toda sua vida. E sua in-
fluência ainda hoje é presente no modo como 
são construídas as identidades corporativas.
“A simplicidade não é a meta. É subpro-
duto de uma boa ideia.” - Paul Rand, sobre 
criação de logos.
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 “Começamos meio perdidos, 
não sabíamos o que queríamos 
fazer, mas sabíamos o que não 
queríamos fazer.”
Fetiche Design 
Fotos: Cortesia Fetiche Design.
Designer de produto de formação e metida a docei-
ra nas horas vagas. Formada desde 2011, buscando 
sempre estar antenada e se atualizar na área, atual-
mente estuda Design de Serviços e Interação.
Mayara
Wal
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Design Magazine Brasil
O estúdio de design curitibano erradicado em 
São Paulo começou em 2008, formado pelos parcei-
ros de trabalho e de vida Carolina Armellini e Paulo 
Biacchi. Com foco em desenvolvimento de produ-
tos, como eles mesmos se definem, o estúdio de 
design sempre se preocupou em ter autonomia de 
criação e produção dos seus projetos. Podendo as-
sim criar com mais liberdade, assinando seus proje-
tos com um grande diferencial em termos de quali-
dade e criatividade. Tomo a liberdade de dizer que 
“alma” é a palavra que define seu trabalho, é como 
se cada criação tivesse vida própria, uma história.
Fetiche não foi um nome casualmente es-
colhido, seu significado revela o que os criadores 
querem passar nas suas criações “Fetish sm. Ani-
mate or inanimate object, made by man or produ-
ced by nature, which is attributed to supernatural 
power and worships.”
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Fetiche Design
Um estúdio que já tem certa caminhada, e 
muita história pra contar. Começou com uma lo-
ja+estúdio, teve um escritório compartilhado em 
uma casa antiga no centro de Curitiba e recente-
mente se mudou para São Paulo iniciando uma 
nova fase da marca. Suspeita para falar desse escri-
tório que tenho grande admiração, deixo que eles 
falem sobre essa trajetória que agora tem no currí-
culo uma parceria bacana com Rosenbaum.
Como foi o início do escritório do Fetiche?
Foi um momento de incertezas e ansiedade. 
Porém, com força de vontade e empolgação de so-
bra. Começamos meio perdidos, não sabíamos o 
que queríamos fazer, mas sabíamos o que não que-
ríamos fazer. Foi um ano para encontrarmos o core 
business do FETICHE®, mas encontramos no nosso 
conceito o nosso diferencial e o nosso foco. 
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Fetiche Design
Qual era o foco e o modo de trabalho no 
começo?
Começamos a Fetiche como uma marca 
de produtos. Criação, desenvolvimento e pro-
dução de peças de mobiliário contemporâneo. 
Procurávamos a liberdade que não tínhamos 
trabalhando como empregados em escritórios 
de prestação de serviço. Na época, em 2008, 
queríamos colocar nossas apostas no merca-
do sem precisar convencer ninguém, e foi o 
que fizemos. 
Quais os momentos mais importantes 
e marcantes do Fetiche?
O Banco R540 com certeza é uma criação 
marcante e um ícone do FETICHE® até hoje. 
Ele também foi protagonista no nosso caso 
com a Renault francesa, onde ele inspirou a 
criação do interior de um carro conceito da 
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montadora. A coleção que lançamos na loja 
Micasa em 2012 também foi um momento im-
portante, um pouco mais amargo, mais críti-
co, mas bem importante. Aproveitamo-nos de 
um momento difícil para nos reinventarmos e 
criarmos peças únicas em forma de manifesto. 
Como começou a parceria com Rosembaum? 
Fomos convidados pela Rosenbaum 
para participar do projeto, A Gente Transfor-
ma, em uma tribo indígena na floresta ama-
zônica, Uma co-criação entre Fetiche, Marce-
lo Rosenbaum e o NadaSeLeva. A sinergia foi 
muito grande e quando voltamos já começa-
mos a pensar em projetos juntos. Começa-
mos a assinar a parceria como “Rosenbaum 
e o Fetiche”, e já criamos para a L’Occitane, 
Tidelli, LaLampe e em agosto teremos uma 
série de outros lançamentos. 
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Fetiche Design
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Como foi a mudança para São Paulo e qual a 
diferença entre o escritório de hoje e o do início? 
O estúdio FETICHE está dentro do escritório da 
Rosenbaum e respondemos pelo departamento 
de design da organização. Estamos muito bem 
em SP, na verdade seguramos esta mudança por 
muito tempo, sabíamos que seria inevitável. Mas 
temos hoje a certeza que viemos no melhor mo-
mento. O FETICHE de hoje é muito mais maduro 
que o do início. Ainda sabemos o que não quere-
mos e isso é muito importante, mas o principal é 
que agora sabemos o que queremos. 
Quais os planos para 2015/2016? 
Temos um grande lançamento para Agosto/ Setem-
bro, muito mais do que uma coleção de móveis. 
Vamos lançar uma nova forma de parceria, voltada 
para o mercado de massa. Aguardem!
Muito obrigada Paulo e Carol pela rápida 
“conversa”. Com certeza vamos aguardar ansiosos 
pelas novidades.
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22 • Edição 10
Fazer uma apresentação nunca é tarefa fácil. Seja um trabalho acadêmi-
co, um projeto para possíveis investidores ou uma palestra, você precisa 
saber como convencer as pessoas de que aquilo que está sendo mostra-
do é, de alguma forma, útil para elas. Não existe fórmula mágica, mas 
algumas dicas valiosas podem melhorar consideravelmente o resultado.
Essa é uma das partes mais importantes da apresentação. 
Mantenha-se sempre em posição ereta, sem cruzar os 
braços, colocar as mãos no bolso, nem gesticular demais. 
Evite também visualizar o slide o tempo todo, só faça em 
caso de necessidade. Não encare uma única pessoa e nem 
fique olhando para o chão ou o teto. Olhar firme, sempre 
para frente, em direção ao público. Evite também o uso 
excessivo de gírias.
Postura
O apresentador é você. Os slides devem apenas servir 
como um gancho do que você fala. Evite textos e frases 
longas, tente resumir seus slides a frases curtas ou até 
palavras-chave. Ler textos diretamente dos slides mostra 
que você não domina o assunto.
Slides
Independente do tipo de apresentação que você esteja fa-
zendo, não se descuide de sua aparência. Isso não quer di-
zer que você sempre deva usar paletó ou terno, mas evite 
shorts e bermudas, bonés e camisas de times de futebol. 
Sua imagem é a primeira coisa que todos perceberão.
Vestimenta
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Essas não são regras, mas apenas sugestões baseadas em exemplos que 
funcionaram e se mostraram eficientes. Você pode ainda pegar isso, adap-
tar e criar seu próprio estilo. Talvez você não vá se tornar um Steve Jobs 
do dia para a noite, mas seguindo as dicas aqui listadas, suas apresenta-
ções poderão ficar bem mais interessantes. Não se esqueça, e boa sorte!
Roteiro
Situação inicial
De certo modo, toda apresentação é uma história. Você pode 
dar início a ela introduzindo ao público uma situação nor-
mal, com a qual elesse identifiquem ou consigam sentir o 
mínimo de empatia. Deve ser algo que desperte o interesse.
1
O problema
Depois de estabelecer a condição normal, é preciso, então, ex-
por nela um problema para ser solucionado ou uma questão a 
ser respondida. É você quem deverá resolver o impasse depois.
2
A solução
Aqui é onde finalmente começa a parte principal da apre-
sentação: você introduz à audiência o seu trabalho / pro-
duto / serviço (e o potencial para liquidar o problema) e 
como chegou até ele.
3
Benefícios
Em seguida, você pode demonstrar como o que foi apresen-
tado no item anterior pode beneficiar as pessoas. Quais as 
características mais marcantes do produto? O que ele tem de 
tão especial? No que exatamente ele supera a concorrência?
4
Ação
Por último, você reforça um ou vários dos pontos da apresen-
tação e leva o público a comprar sua ideia, esteja ela alavan-
cando um trabalho, produto, serviço ou qualquer outro objeto.
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24 • Edição 10
Design de superfícies com Daniela Brum
Imagens: Cortesia Daniela Brum.
 “O mundo da moda tem 
um leque bem grande de 
profissões, que vai muito além 
de um estilista ou um produtor 
de moda”
Profissional formado em Moda e Figurino pelo 
Instituto Zuzu Angel, especializado em Visual Mer-
chandising. Atualmente aluno de licenciatura em 
Artes Visuais pela Unigranrio.
Eduardo 
Madeiro
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O mundo da moda tem um leque bem grande 
de profissões, que vai muito além de um estilista ou 
um produtor de moda. Pensando nisso, a nossa en-
trevistada dessa edição, Daniela Brum, vai nos es-
quecer com informações sobre o que é um designer 
de superfície.
Daniela, qual a sua origem profissional?
Minha formação é em Publicidade, cursei no 
ISCIE, hoje Universidade Fernando Pessoa, no Por-
to, Portugal.
Quando você começou a se interessar por 
Design?
Sempre me interessei pelo mundo das artes, e 
vi no Design uma possibilidade de aliar a criação ao 
produto. Primeiro veio a intenção de trabalhar num 
departamento criativo de uma agência, mas assim 
que fui contratada num banco de imagens e apren-
di a fazer manipulação de imagens no Photoshop, 
com ilustrações e fotos para produtos de papelaria, 
descobri que era exatamente disso que eu gostava.
Que habilidades você acha importante ter 
para se trabalhar com estampa de moda?
Para se trabalhar com estampas de um modo 
em geral, é necessário que você busque sempre se 
aprimorar em todas as técnicas de pintura, desenho 
e CAD. É imprescindível o compromisso com o seu 
trabalho e o que você propõe no mercado, e para 
isso você deve ter um trabalho original, criativo e 
autoral. Você vende o direito de uso de uma ima-
gem/arte que você criou, e para se manter no mer-
cado por tantos anos, é preciso criar com os seus 
cliente um relacionamento de confiança muito 
grande. Cursos, workshops de qualidade que envol-
vam artes, suas aplicações e experimentações são 
extremamente importantes para você manter seu 
trabalho interessante e contemporâneo.
Design de superfícies com Daniela Brum
Foto: Alexandre Souza
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Que dicas você dá para quem deseja ser 
um Design de Superfície?
Eu creio que eles devem começar com 
cursos de fundamentos das estampas/padrona-
gens e que sigam seus instintos e necessidades, 
nunca esquecendo que o processo manual é de 
extrema importância, ainda que não o utilize di-
retamente no seu trabalho, é ele que vai permi-
tir que você exprima intuitivamente o que você 
carrega na alma.
Como você se inspira? Você acredita no 
acaso no processo de criação?
Sou addict do processo criativo, adoro pes-
quisar, ler e conhecer novos processos, sejam 
eles sofisticados ou de uma ingenuidade infan-
til, constrangedora. Acredito que todos eles nos 
transportam para um mundo interior que não 
temos pleno conhecimento e principalmente 
controle. E é isso que o faz surpreendentemen-
te, fantástico...a descoberta! Me inspiro em mui-
tas coisas, frequento exposições, cinema, teatro, 
feirinhas, lojas como um elixir de conhecimentos 
múltiplos. Mas é a natureza e a história que mais 
tem a responsabilidade no meu trabalho. O po-
“Sou addict do processo 
criativo, adoro pesquisar, 
ler e conhecer novos 
processos, sejam eles 
sofisticados ou de uma 
ingenuidade infantil”
Fo
to
: 
Al
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an
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der de experimentar cores, formas e sensações 
através da natureza e de encontrar na história um 
conceito que se adeque as minhas experiências, 
faz com que o meu trabalho ganhe um sentido, 
um lugar diferente.
Como é a ligação entre os profissio-
nais da área e as parcerias criadas, sur-
gem amizades?
Muitas! Eu sou uma pessoa que acredita 
muito em compartilhamento de conhecimento e 
portanto sou provinda e tento prover esse lega-
do. Tenho muitas parcerias, que viram verdadei-
ras famílias, uma amizade e um respeito mútuo. 
Acredito que se todos forem abertos, tiverem um 
coração e alma limpas tudo se multiplica. Para 
isso é preciso ser sincero e gentil.
Quais softwares você mais usa?
Photoshop até morrer!!! Illustrator tam-
bém, mas o Photoshop me dá a possibilidade de 
trazer textura, tonalidades, imagens e nuances, 
que é o que mais acho importante no meu traba-
lho, o que cria a minha identidade, o meu traço, 
a minha mão.
Quem são seus ídolos?
William Morris, Sonia Delaunay, Raoul Dufy, 
GuntaStölzl , AthosBulcão, Renata Rubim.
Você possui um estilo pessoal nos seus 
trabalhos? Se sim, como você o identifica?
Por ser designer e não uma artista, nunca 
me preocupei muito em criar um identidade para 
o meu trabalho. O meu trabalho estava para ser-
vir ao meu cliente e não a mim. Hoje percebo que 
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30 • Edição 10
essa questão virou um obstáculo, às vezes, para 
algumas pessoas. O que tento é incentivar aos 
meus alunos a produzir, independente da “bus-
ca para a identidade”, pois ao longo dos anos ela 
acaba se definindo, ainda que você não a tenha 
buscado, como é o meu caso. Acho que um de-
signer deve ser eclético e deve desbravar diver-
sas linguagens. Mas sobre sua pergunta, muitos 
clientes e colegas dizem que conseguem conhe-
cer meu trabalho, minha identidade. Como eu o 
identifico? Como um trabalho de origem manual, 
colorido, de cores vibrantes e alegres, e que traz 
em si uma mistura de texturas e traços.
“Acho que trabalho tem 
muito, emprego não 
tanto”
O que você acha do mercado em relação a 
oportunidades de trabalho?
Acho que trabalho tem muito, emprego não 
tanto. Se você olhar um pouquinho à sua volta, vai 
enxergar estampas em quase tudo e em vários mer-
cados. Basta querer se dedicar, treinar, se aperfeiço-
ar e trabalhar.
Sua experiência profissional facilita no 
processo de criação em moda?
Sem dúvida, a bagagem de mais de 15 anos 
me dedicando e estudando muito sobre o mundo 
da estamparia, o convívio com meus colegas e prin-
cipalmente a troca com os alunos no Senai Cetiqt e 
na Stampa Studio me ajudam muito no processo de 
criação e renovação do meu trabalhopara a moda.
Como você se classifica profissionalmente?
Sou uma Designer de Superfície, tenho o 
meu trabalho em diversas superfícies, produtos 
e mercados.
Que sugestões você pode indicar para 
quem quer ser freelancer ou abrir seu próprio 
negócio nessa área?
Que tenha disciplina, foco e rotina! Primeiro 
você tem que estabelecer um horário de trabalho, 
depois você tem que dividir esse horário entre pes-
quisar, criar e vender. Esses 3 itens abrangem diver-
sos métodos e processos e você tem que se orga-
nizar para poder manter o foco e sobreviver. Tudo 
isso deve se relacionar a você e ao mercado ao qual 
você quer se inserir. É preciso identificar claramente 
seus objetivos para você poder estipular etapas.
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Como você divulga seu trabalho?
D i v u l g o n o m e u s i t e w w w . d a n i e -
l a b r u m . c o m e t a m b é m n o d a S t a m p a 
S t u d i o ( w w w . s t a m p a s t u d i o . c o m ) , a l é m 
d e a l i m e n t a r s e m p r e a s m í d i a s ( F a c e -
b o o k e I n s t a g r a m ) c o m p r o c e s s o s c r i a -
t i v o s e n o v i d a d e s .
Como é feito o contato com os 
clientes? Você é procurada por eles ou 
oferece o seu trabalho às marcas?
Os dois. Tenho dois compromissos 
por dia: cr iar e vender. E os faço de diver-
sas maneiras, e-mail , Face, Insta, etc, mas 
ao menor s inal de interesse, minha opção 
é pelo contato telefônico ou pessoal . A re-
lação que se estabelece através da estru-
tura de uma conversa, faz com que o cl ien-
te perceba a densidade e o compromisso 
do seu trabalho, e com isso f ica muito mais 
fáci l de f idel izar e conhecer cada um deles. 
Você consegue viver da sua arte?
Sim. Tenho uma empresa desde 2007, 
chamada Stampa Studio, que começou 
vendendo estampas e hoje é um estú-
dio cr iat ivo voltado para tudo o que pos -
sa interessar a esse mundo. Temos aulas, 
workshops, encontros e claro, venda de 
estampas. 
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Quais foram os seus principais trabalhos?
Bom, todos são importantes para a cons-
trução do seu profissionalismo e progresso, mas 
sempre temos orgulho por alguns. Gosto muito da 
linha de papelaria Botanical, que fiz para a Ótima, 
ela inclusive ganhou o 1º lugar no prêmio Fernando 
Pini em 2013, também gosto muito da coleção de 
palhas, raízes e grades cariocas, que fiz para os teci-
dos de decoração e bolsas da Patricia Issler. Gosto 
muito do trabalho que fiz também para moda Praia 
da Jangada.
Você se sente realizada com a sua 
profissão?
Muito! A possibilidade de todos os dias poder 
ter um desafio criativo, seja ele de ordem técnica, 
lúdica ou processual é renovador..
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34 • Edição 10
Rio Academy
Estudante de Arquitetura e Urbanismo. Curte an-
dar de long board e ler livros de arquitetura, ir 
a museus e tudo ligado a arte, além do contato 
com a natureza.
Éllida
Assis
Fotos por André Reis.
 “Os participantes tiveram a 
grande chance de estar em 
contato direto com grandes 
mestres da Arquitetura e do 
Urbanismo”
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Agosto 2015 • 35
Design Magazine Brasil
 O MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de 
Janeiro), uma das mais importantes instituições 
culturais do Brasil, projetado pelo arquiteto cario-
ca Affonso Reidy, foi o local escolhido para o Rio 
Academy 2015 estrear com o Fórum Internacional 
de Arquitetura e Urbanismo, entre os dias 20 e 26 
de Julho.
O evento proporcionou o encontro de estu-
dantes e profissionais do mundo inteiro da área de 
Arquitetura e Urbanismo. 
Recebeu grandes nomes da arquitetura em 
um só lugar, com o propósito de discutir soluções 
arquitetônicas e urbanísticas para as metrópoles de 
países emergentes.
O tema central do evento foi O Futuro das 
grandes cidades em Países emergentes. Inserindo 
o Brasil ao tema, propondo mudanças nas constru-
ções futuras.
Os participantes tiveram a grande chance 
de estar em contato direto com grandes mestres 
da Arquitetura e do Urbanismo, recebendo conse-
lhos, dicas, soluções para seus projetos, adquirin-
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36 • Edição 10
do conhecimento a cada dia que estiveram por lá, 
fazendo com que a mente dos participantes “saís-
sem da caixinha”.
As Conferências que aconteceram nos dias 
20 e 21 de Julho abriram o evento trazendo ideias, 
inovações e inspirações. O evento conseguiu tirar 
os participantes de suas zonas de conforto, fazen-
do com que eles se questionassem a buscar novas 
soluções para os problemas arquitetônicos e urba-
nísticos da cidade. 
Paulo Mendes, Kay-Uwe Bergmann (Big), 
Carolina Bueno e Grégory Bousquet (Triptyque 
Architecture), Alejandro Aravena, Jaime Lerner, 
Giancarlo Mazzanti, Reinier de Graaf (OMA), Eliza-
beth de Portzamparc e Christian de Portzamparc, 
foram os grandes mestres que os participantes 
tiveram a oportunidade de conhecer melhor nos 
primeiros dias. 
“Com os Workshops e 
talkers os participantes 
tiveram inspiração para 
o desenvolvimento de 
seus projetos”
Com os Workshops e talkers os participantes 
tiveram inspiração para o desenvolvimento de seus 
projetos, podendo se reunir em equipes de até cin-
co integrantes, ou individualmente para a elabora-
ção destes.
Washington Fajardo, RUA Arquitetos, Jorge 
Jáuregui, Clovis Cunha, Studio Schwitalla, Marcello 
Dantas, Fleshbeck Crew, Renata M. Strengerowski 
Rio Academy
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Agosto 2015 • 37
Design Magazine Brasil
foram os convidados a compartilhar suas experiên-
cias profissionais com os participantes.
 Os melhores projetos foram oferecidos à ci-
dade do Rio de janeiro, pelos seus 450 anos. 
 Técnicos e arquitetos da Prefeitura do Rio de 
Janeiro analisaram as propostas de cada equipe.
Os participantes tiveram q escolher um dos 
cinco subtemas para a elaboração de seus projetos. 
Os Subtemas foram: 
Patrimônio Arquitetônico, Coordenado por 
Andréa de Lacerda Pessôa Borde, Doutora em Ur-
banismo pela UFRJ.
Soluções Efêmeras, Coordenado por Pedro 
Rivera e Pedro Évora, do escritório carioca RUA 
Arquitetos. 
Urbanismo Espontâneo, Coordenado por Igor 
de Vetyemy, Coordenador Geral do Curso de Arqui-
tetura e Urbanismo e do Departamento da Indústria 
Criativa da Universidade Estácio de Sá.
Mobilidade Urbana e Desigualdade Social, 
Coordenado por Sylvia Meimaridou Rola, Diretora 
Adjunto de Extensão da Faculdade de Arquitetura 
e Urbanismo da UFRJ, e Humberto Kzure-Cerque-
ra, Doutor em Urbanismo pelo PROURB/UFRJ e 
Bauhaus Universität Weimar.
Os participantes tiveram até as 20:00 horas do 
dia 25 de Julho para a entrega de seus projetos.
No dia 26 de Julho, pela manhã, os projetos 
foram analisados pelo júri, e com antecedência de 
uma hora, começando às 17:00 horas a anunciação 
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38 • Edição 10
dos vencedores, que foram:
A área de Desigualdade Social teve em pri-
meiro lugar o trabalho Providência em tempos de 
Pipa, que propõe uma reconstrução da comunida-de da Providência, promovendo uma maior inte-
gração entre favela  e asfalto. No tema Urbanismo 
Espontâneo, o vencedor foi o projeto Transbordar, 
que utiliza as ruas do Rio de Janeiro como um gran-
de circuito de brincadeiras pela cidade, incluindo 
comunidades.
Na área de Soluções Efêmeras, o primeiro lu-
gar foi de Arena Olímpica de Rua: Mind the Arrow, 
projeto produzido por franceses que sugere a cria-
ção de um espaço para o treinamento de arco e fle-
cha na Cinelândia. O subtema Patrimônio Arquite-
tônico teve em primeiro lugar o trabalho Revelando 
o Parque do Flamengo, proposta de revitalização do 
parque através de ativação de seus equipamentos e 
suas áreas de entorno. Já em Mobilidade Urbana, o 
vencedor foi o projeto Varandas Bairro, que traba-
lhou a mobilidade em várias esferas, como mobili-
dade do lixo, locomoção e conexão da comunidade 
com a cidade.
Resumo de algumas conferências:
“Sempre é a política que move o homem 
para construir as cidades”, frase de Paulo Men-
Rio Academy
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Design Magazine Brasil
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40 • Edição 10
des da Rocha que disse também que temos que 
entender que essa política colonizadora não é 
ideal para começar a pensar em uma urbaniza-
ção moderna com relação à união das políticas 
americanas. A politica de cada país tem que se 
associar para que isso aconteça!  Apresentou al-
guns de seus projetos que repensavam as cida-
des, como o projeto para o Porto Fluvial do Rio 
O grupo encontra 
métodos de produção 
que melhor atenda 
as formas de vida 
contemporâneas.
Tietê (1980), e seu projeto para a Baía de Monte-
vidéu, de 1998.
Kai-Uwe Bergmann é um dos sócios do es-
critório dinamarquês BIG. Apresentou projetos 
que fizeram ao redor do mundo, defendendo o 
conceito do escritório de desenvolver arquitetu-
ras específicas para cada lugar. O grupo encon-
tra métodos de produção que melhor atenda as 
formas de vida contemporâneas.
Carolina Bueno e Grégory Bousquet repre-
sentaram o escritório  Triptyque Architecture, 
agência sediada em São Paulo e Paris. Reco-
nhecida mundialmente por sua obra contempo-
rânea, a agência ainda explicou como funciona 
seu trabalho de reconquista da natureza em lo-
cais urbanos.“A Triptyque reaproveita e insere 
a natureza para dentro da arquitetura, como se 
Rio Academy
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Agosto 2015 • 41
Design Magazine Brasil
ela fosse um material de construção”, conta a ar-
quiteta Carolina Bueno.
“Quanto mais complexo o problema, maior 
a necessidade da simplicidade”, foi assim que 
Alejandro Aravena, conhecido por seus projetos 
de habitação social e intervenções em zonas de 
desastre ambiental, apresentou três casos onde 
tentaram aplicar o poder da síntese do Design.
O primeiro caso foi sobre o desafio global 
do Design urbano, o segundo caso foi como o 
Design pode contribuir para a sustentabilidade, 
e o terceiro caso, como o Design pode fornecer 
respostas mais abrangentes contra desastres na-
turais.
 A cada ano as pessoas estão preferindo 
morar nas cidades, fazendo com que seu cresci-
mento seja acelerado, desordenado e escasso, 
como consequência muitas pessoas estão sem 
moradias e esse problema cresce cada vez mais. 
Um dos fatores que mais traz problemas aos paí-
ses emergentes é a desigualdade social.
Alejandro complementou dizendo que das 
três bilhões de pessoas que vivem nas cidades 
hoje, um bilhão está abaixo da linha da pobreza, 
e isso crescerá ainda mais durante os anos se-
guintes. Essas pessoas viverão nas favelas e em 
assentamentos ilegais. Como no Brasil muitas 
pessoas já vivem em favelas, a tendência é au-
mentar ainda mais, se não fizermos algo. 
Mas o que poderíamos fazer?
Ele citou, como exemplo, seu projeto de 
construção de moradias populares pela meta-
de. Há 10 anos Alejandro foi convidado a alojar 
cem famílias que estavam ocupando ilegalmen-
te meio hectare no centro da cidade de Iquique, 
norte do Chile.
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42 • Edição 10
E o que estava disponível no mercado eram 
casas separadas e casas geminadas, que não 
atendiam a todos. A única maneira de acomo-
dar todas as famílias seria construindo em al-
tura, e isso eles não aceitavam, ameaçando até 
uma greve de fome se construíssem dessa forma, 
pois assim eles não conseguiriam expandir esses 
apartamentos minúsculos.
Então a solução veio das próprias famílias: 
ter uma casa que pudesse expandir para os lados. 
Mas quando não se tem dinheiro para construir 
uma moradia de 80 m², o mercado a reduz para 
40 m²,e a leva para longe dos centros. 
A solução foi projetar metade de uma boa 
casa, e a outra metade seria construída pelas pró-
prias famílias da maneira que preferissem, assim 
continuariam morando em lugares próximos aos 
grandes centros. 
Com o dinheiro público, seria feita a meta-
de que as famílias não seriam capazes de fazer 
individualmente. Como o projeto foi bem locali-
zado, as famílias mantiveram seus empregos, sua 
rede social e suas moradias foram valorizadas. O 
governo, por sua vez,    investiu o mesmo que in-
vestiria para construir uma pequena casa em um 
terreno distante. Esse foi um dos projetos que 
Alejandro apresentou no Rio Academy.
O evento foi muito interessante, questões 
políticas, sociais, geográficas, econômicas, sus-
tentáveis, urbanísticas e arquitetônicas foram 
abordadas. O que nos fez perceber que o tempo 
de hoje nos permite veicular ideias rapidamente. 
O lado triste, é que uma oportunidade tão rica de 
trocas de conhecimento como esta, estava lon-
ge das condições financeiras de muitos, pois o 
evento não contou com a ajuda do governo ou 
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Agosto 2015 • 43
Design Magazine Brasil
de outras entidades, fazendo com que se tornas-
se caro. Porém, a ideia dos organizadores do Rio 
Academy é tornar esse evento acessível a todos. 
Os produtores e participantes entrevistados con-
cordaram que o evento superou todas as suas 
expectativas, e devido ao grande sucesso desse 
ano, podemos contar com muitas outras novida-
des para o ano que vem.
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44 • Edição 10
 “O design é cada vez mais 
percebido como instrumento para 
abordar problemas complexos.”
Entrevista com Gabriel Patrocinio
Foto da vitrine: Bomin Kim. Todas as imagens: Cortesia Gabriel Patrocinio.
Fundador e diretor da DESIGN MAGAZINE. Jorna-
lista profissional há mais de 20 anos. Sempre se 
dedicando à produção de informação sobre de-
sign, arquitetura e arte por esse mundo afora.
Tiago 
Krusse
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Design Magazine Brasil
Designer qualificado, experiente e apaixo-
nado, Gabriel Patrocinio é também professor, pes-
quisador e um acadêmico reputado, respeitado e 
reconhecido no país e no estrangeiro. O seu percur-
so em torno de uma profissão pela qual não deixa 
de lutar é vincado por uma paixão e uma entrega 
na demonstração consistente de que o design é de 
crucial importância para o progresso e desenvolvi-
mento das sociedades. Nesta grande entrevista que 
nos concede traça um quadro de fatos que dão um 
panorama bem detalhado sobre a realidade brasi-
leira, não deixando de expressar convicções e opi-
niões sobre equívocos ou ideias pré-concebidas. 
Num momento de grande trabalho e num período 
em que prepara o lançamento de um importante 
livro sobre designe desenvolvimento com um gran-
de valor sentimental, deixa-nos um quadro realista 
e sem fantasias. 
Nasci em 1960 no Rio de Janeiro, que dei-
xava de ser capital com a inauguração de Brasília. 
Tinha menos de 4 anos de idade quando houve 
o golpe militar que derrubou o governo e lançou 
o país em 20 anos de ditadura. Apesar da tenra 
idade, tenho ‘flashes’ de memória de soldados 
armados e veículos militares na rua onde eu mo-
rava, que ficava a poucas quadras do palácio do 
governo estadual. Mais tarde, acredito que em 
1968, me lembro do meu pai chegando em casa 
passando mal com os efeitos das bombas de gás 
lançadas para reprimir as manifestações - e a ex-
trema preocupação dos meus pais com as minhas 
irmãs mais velhas. Um amigo de uma delas era 
colega de colégio do Edson, estudante secunda-
rista assassinado durante a invasão pela polícia 
de um restaurante estudantil - fato que deflagrou 
as maiores manifestações contra a ditadura, e o 
subsequente endurecimento do regime.
Durante o ginásio, éramos proibidos de 
nos reunir em grupos maiores - os militares ti-
nham medo de reuniões de crianças de 13, 14 
anos. Nosso cineclube só funcionava graças à 
cumplicidade dos padres, que entendiam serem 
aquelas ‘manifestações’ apenas o despertar dos 
interesses culturais - necessários ao próprio pro-
cesso educacional. O grêmio esportivo estava 
proibido de funcionar, e os professores e inspe-
tores organizavam os torneios em lugar dos pró-
prios estudantes.
A década de 60 foi a continuação 
de um período conturbado da 
história do Brasil nos seus mais 
distintos aspectos. Como foi 
nascer e crescer no turbilhão 
político da época?
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46 • Edição 10
Entrevista com Gabriel Patrocinio
Quais os fatores sociais, culturais e 
políticos que mais marcaram a sua 
adolescência?
Ambientes protegidos, isolados dos acon-
tecimentos, quase numa redoma, cercado num 
ambiente religioso protestante no qual cresci e 
fui educado (estudei em colégio católico no giná-
sio e adventista no ensino médio). Foi a maneira 
que meus pais encontraram de proteger os filhos 
naquele momento difícil que o país atravessava. 
Coincidia esta postura com a fé que eles profes-
savam, o que nos fez crescer num ambiente de 
paz e harmonia familiar e social, isolados dos 
acontecimentos por assim dizer. No pior período 
da repressão, eu estudava num colégio interno 
adventista na periferia de São Paulo, num clima 
quase de fazenda, cercado de amigos e de ativi-
dades físicas e culturais.
Outro fato marcante foi que meu pai nos in-
centivava, desde bem novos, a trabalhar durante 
as férias de verão. Trabalhei entre os 12 e os 15 
anos como auxiliar de escritório, como mensa-
geiro (office-boy), e quando manifestei interesse 
em design, como auxiliar de serviços gerais numa 
gráfica. Ao final do ensino médio, já manifestan-
do interesse e habilidade para o design gráfico, 
estagiei numa editora e depois passei um ano 
morando em São Paulo e trabalhando como as-
sistente de um amigo, que atuava como designer, 
ilustrador, e fotógrafo. Foi um período de muito 
aprendizado, que me preparou para a universida-
de com a visão da prática profissional.
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Design Magazine Brasil
A atmosfera em que o Rio de 
Janeiro viveu nesses anos teve 
os seus lados negativos, mas 
por outro lado deu força a uma 
esperança que começava a apostar 
na evolução e no progresso da 
sociedade brasileira como um todo. 
Nessa época os ideais dos jovens 
cariocas assentavam em que 
valores e ações?
Voltei para o Rio de Janeiro em 1979, ano 
em que ingressei na Escola Superior de Desenho 
Industrial da UERJ, a ESDI, escola aonde fiz minha 
graduação. A ditadura militar iniciava um período 
de distensão, no governo do General Figueiredo. A 
Lei da Anistia foi sancionada em agosto de 1979, 
mas ainda estávamos no governo do ‘prendo e ar-
rebento’ - expressão usada pelo Presidente, o Ge-
neral Figueiredo, para esclarecer como ele trataria 
aqueles que se opusessem à abertura política. A 
frase apresenta uma natural incoerência, mas a 
história mostrou que o recado era para alguns de 
seus próprios colegas militares, que junto com a 
extrema direita tramavam atentados que ainda ti-
rariam vidas naqueles anos em que se caminhava 
lentamente para a redemocratização. Me lembro 
de uma pixação de rua que dizia, em 1979: ‘quem 
tem c* tem medo - viva Figueiredo!’. Ainda havia 
prisões de opositores - tive um colega de facul-
dade preso algumas vezes por vender em praça 
pública um jornal marxista (a Tribuna Operária, se 
não me engano), e eu mesmo fui ‘convidado’ por 
um policial a ‘acompanha-lo’ à delegacia instala-
da na estação da Rede Ferroviária para esclarecer 
os motivos pelos quais estava fotografando aquele 
local ‘estratégico’. Para minha sorte a diretora da 
ESDI - Carmen Portinho, uma mulher com uma tra-
jetória e atuação extraordinária - atendeu o telefo-
nema do delegado e esclareceu que aquele paca-
to estudante estava apenas fazendo um trabalho 
para a disciplina de fotografia...
Lembro-me também de ajudar um colega do 
centro acadêmico a imprimir, no mimeógrafo de 
uma igreja em Copacabana, um jornalzinho estu-
dantil - que não tinha nada de mais, mas jornais 
estudantis eram considerados instrumentos pe-
rigosíssimos com enorme potencial de provocar 
agitação popular. Tinha um gosto de proibido, de 
clandestino, embora os tempos já fossem de aber-
tura política. Nada disso trazia nenhum risco sig-
nificativo se comparado com a militância política 
dos anos 60 e início de 70 - já vivíamos o período 
do início da abertura política - mas não podemos 
esquecer que a extrema direita ainda explodia 
bombas, matava pessoas, e tramava para retornar 
ao período duro da repressão. 
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48 • Edição 10
Entrevista com Gabriel Patrocinio
Como avalia a 
qualidade do ensino 
que teve até se 
decidir ingressar na 
universidade?
O ensino era alvo de muita 
cautela por parte do governo. Fa-
zer as pessoas pensarem e ques-
tionarem não fazia bem para o 
regime. Foram impostas disci-
plinas que estimulavam ideias 
nacionalistas e patrióticas - que 
não eram necessariamente ruins 
em si, mas que visavam essen-
cialmente defender o status quo. 
O ensino no colégio católico aon-
de fiz o ginásio no Rio de Janeiro 
era mais aberto e avançado, en-
quanto no colégio adventista, na 
periferia de São Paulo, era mais 
cautelosamente conservador, eu 
diria assim. Mas este último não 
me preparava para enfrentar os 
exames para ingressar na univer-
sidade, e tive que fazer um cursi-
nho preparatório, ainda em São 
Paulo e já trabalhando em tempo 
integral, mas que me garantiu a 
aprovação nas duas melhores es-
colas de design do Rio, na época 
- a ESDI e a UFRJ, ambas públi-
cas e gratuitas (havia também a 
Universidade Católica, a também 
excelente PUC-Rio, mas esta era 
cara e acima das minhas possibi-
lidades).
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Agosto 2015 • 49
Design Magazine Brasil
A iliteracia foi sempre um aspecto 
pior do Brasil. De que forma isso se 
sentia no quotidiano e de que forma 
esse fator foi prejudicial numa fase 
em que a sociedade exigia mais 
harmonia e equilíbrio?
O que o leva a interessar-se pelo 
design?
O analfabetismo era uma mácula social, 
que vinha junto com a miséria e a fome, for-
madas em décadas de desmandos políticos, 
corrupção, concentração de renda e muitasoutras mazelas sociais. Heranças havia - e 
ainda persistem até hoje - da escravidão, das 
guerras e rebeliões do final do século 19 e 
início do século 20. Até mesmo reflexos das 
guerras napoleônicas - que levaram por exem-
plo a um domínio britânico na exploração da 
infra-estrutura de serviços básicos (geração e 
fornecimento de luz, gás, ferrovias, transpor-
tes urbanos - até os anos noventa) e da mi-
neração de metais nobres e pedras preciosas 
que persiste até hoje. 
O governo militar mantinha alguns pro-
gramas assistencialistas - mas de pouca efeti-
vidade. Na educação havia talvez mais avan-
ços, com a disseminação do pensamento de 
Paulo Freire e influência da igreja católica. Al-
fabetização era uma urgência quase tão gran-
de quanto a fome. O Mobral (Movimento Brasi-
leiro de Alfabetização), foi criado em 1967 com 
o objetivo de alfabetizar adultos, e tornou-se 
um campo fértil para o desenvolvimento de 
estudos e da aplicação de experimentos es-
pecíficos de pedagogia - e como uma válvula 
de escape para a juventude universitária, no 
exercício da cidadania de outra maneira proi-
bida, contribuir para a evolução da sociedade.
O interesse e habilidade para o desenho e 
a fotografia. De fato desejava estudar fotografia, 
mas como não havia na época curso superior de 
fotografia no país, acabei descobrindo o design 
aos 15 anos de idade e me encantando pela idéia 
de dar forma aos mais diversos produtos. E a ex-
periência que mencionei anteriormente de traba-
lhar com design gráfico em São Paulo nos anos 
setenta, antes de entrar na ESDI, foi certamente 
uma influência definitiva. Mas este (em SP) era 
um trabalho que juntava design e fotografia - e 
esse dualismo me acompanhou por muitos anos: 
designer e fotógrafo. Cheguei a trabalhar como 
fotojornalista, e ter o meu pequeno estúdio per-
to da ESDI, aonde também lecionei fotografia por 
mais de duas décadas. Saí da faculdade como 
designer em 1982 e retornei para ensinar em 1983 
(inicialmente no laboratório de fotografia), com 
apenas 22 anos de idade.
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50 • Edição 10
Entrevista com Gabriel Patrocinio
Como caracteriza o ambiente e 
toda a estrutura que encontrou na 
Universidade do Rio De Janeiro e 
sobretudo na Escola Superior de 
Design Industrial?
Não vou fantasiar ou idealizar dizendo que 
foi extraordinária - até porque não foi mesmo. O 
país tentava reformar o pacto social, sair de uma 
longa e sofrida ditadura, entrava em recessão eco-
nômica - não era um panorama fácil. A universida-
de pública, como até hoje, sofria com uma falta 
aguda de recursos que causariam vergonha àque-
les que idealizaram a ESDI como uma via de desen-
volvimento para a indústria do país no início dos 
anos sessenta. Cheguei a conviver, já nos anos oi-
tenta, com um prédio de aulas destelhado, dentro 
do qual crescia a vegetação, enquanto aguardava 
alguma providência que só chegou anos mais tar-
de. Pequena (em número de alunos) e isolada do 
campus principal da universidade, a escola ficava 
abandonada à sua própria sorte. Isto, por outro 
lado associado à fama que a história concedera 
à ESDI, nos dava autonomia para experimentar e 
errar à vontade - embora com frequência mais er-
rando do que experimentando!
Por outro lado, a universidade me trouxe as 
primeiras oportunidades de pensar e agir sobre o 
que eu veria, muitos anos depois, como sendo di-
retamente relacionado às políticas públicas de 
design. Ao final do meu primeiro ano, em 1979, 
aconteceu no campus principal da UERJ (universi-
dade à qual a ESDI pertencia desde 1975) o 1° ENDI 
- Encontro Nacional de Desenho Industrial, no qual 
participei de grupos de discussão sobre o primeiro 
projeto de regulamentação da profissão de desig-
ner e de outras discussões sobre políticas públicas. 
Nesta mesma época ajudei a conceber, organizar e 
montar uma exposição com trabalhos de biônica 
(ou biomimética, como se diz hoje), entitulada ‘Da 
Natureza ao Produto’. Para esta exposição reuni-
mos trabalhos de duas das três escolas de design 
que existiam então no Rio de Janeiro: ESDI e a Uni-
versidade Federal (UFRJ), e numa continuação le-
vamos a exposição para a Escola de Artes Visuais do 
Parque Laje, integrando também trabalhos dos alu-
nos de design da PUC, sob o nome ‘Da Natureza ao 
Produto - do Produto à Natureza’ (esta com um ca-
ráter maior de contracultura - menos ‘design’ - con-
dizente com o Parque Laje e seus frequentadores). 
Inclusive os cartazes e convites de ambas as mos-
tras eram de minha autoria. Reunir as três escolas 
de design em algum tipo de atividade era para mim 
a coisa lógica a ser feita. Não éramos competidores, 
e devíamos trabalhar juntos para o crescimento da 
profissão. Há pouco tempo achei no arquivo da re-
vista Veja um curto depoimento meu sobre estas 
ideias. Obviamente me envolvi com outras ativida-
des semelhantes: tínhamos um grupo de estudos 
com alunos das três escolas que se reunia na PUC, e 
depois me envolvi com a APDINS-RJ, nossa associa-
ção profissional da época.
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Aos 19 anos, posando sentado sobre um protótipo de cadeira 
desenhado em seu 2º ano de curso.
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52 • Edição 10
Entrevista com Gabriel Patrocinio
Que círculo de amigos criou na 
universidade e que pessoas 
marcaram e continuam a marcar a 
sua memória?
Entrei na universidade como estudante aos 
18 anos e praticamente nunca mais saí (exceto 
pelos dois ou três meses de intervalo até ser con-
tratado em 1983). Estudei, trabalhei, namorei, en-
sinei, projetei, pensei, discuti, administrei, aprendi 
muito, tudo isso a partir da perspectiva da ESDI. 
Já se vai hoje pela metade a quarta década de 
permanência na mesma universidade. Portanto 
os amigos e influências foram muitos - vários já se 
foram, mas o que me mantém entusiasmado é a 
renovação constante de pessoas, de ideias, de dis-
cussões, realimentação o espírito. Há casos curio-
sos, como o Freddy Van Camp, com quem tive pro-
blemas quando era meu professor, e que é hoje um 
dos meus melhores amigos, com quem trabalhei e 
aprendi muito. Ou do Pedro Luís (o ‘Pedrão’ como 
é conhecido), que reconheceu em mim a motiva-
ção para avançar ensinando e pensando design, 
me atribuindo responsabilidades importantes 
quando eu ainda estava começando - e por quem 
tenho uma enorme admiração. Ou o Cunha Lima, 
que como organizador e coordenador do progra-
ma de pós-graduação da escola teve comigo (eu 
era então diretor da ESDI) antagonismos e discus-
sões antológicas - e que depois foi meu grande 
incentivados no doutorado e continua sendo um 
muito bom amigo. E muitos outros amigos entre 
professores, funcionários, ex-alunos - que prazer é 
ver um ex-aluno crescer profissional e intelectual-
mente e nos superar! E ainda foi o reencontro há 
pouco tempo com uma ex-aluna que me levou a 
construir uma nova história de vida.
Aos 27 anos, jo-
vem professor da 
ESDI.
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Design Magazine Brasil
Quando decidiu e chegou à 
conclusão que o design e todos os 
assuntos a ele ligados iriam fazer 
parte da sua vida?
Como disse, ainda na adolescência já havia 
encontrado a vontade, e depois encontrei a voca-
ção - sempre disputada entre a fotografia e o design 
- mas este último acabou prevalecendo. Descobri 
mais recentemente que a vocação para a política de 
design veio tambémlá do início da minha formação 
em design, alimentada ainda pelo prazer de pensar 
as coisas sob seus diversos aspectos, a curiosidade 
e capacidade de observação, que me foram instila-
das pelos meus pais.
Para além dos muros protetores da ESDI, 
minhas boas relações dentro da Universidade me 
permitiram alçar outros voos quando retornei do 
meu doutorado: saí da ESDI em 2014 e hoje leciono 
design para estudantes de outros cursos e encaro 
novos desafios, como a criação do Laboratório de 
Políticas de Design, DPLab.
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54 • Edição 10
Entrevista com Gabriel Patrocinio
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Após a universidade quais foram 
os projetos que abraçou e em que 
circunstâncias sociais, culturais, 
políticas e ecônomicas eles se 
desenvolveram?
Ainda durante a faculdade eu já trabalhava 
profissionalmente com design gráfico em especial, 
e depois também com fotografia. Estava, se bem 
me lembro, no último ano do curso quando eu e 
alguns colegas da ESDI e da PUC ganhamos um 
contrato para fazer a sinalização do Shopping Cen-
ter da Gávea, no Rio de Janeiro. Mantivemos a par-
ceria por pouco tempo fazendo outros trabalhos, 
mas logo cada um seguiu o seu caminho. Quatro 
anos depois de formado criei, com a minha cole-
ga de turma Isabella Perrotta, a Alquimia Criação 
Visual. Ali fizemos diversos projetos de identidade 
visual, design editorial, projetos culturais, sinaliza-
ção, e até um pouco de design industrial - pouco 
acessível para um estúdio pequeno e novo como o 
nosso na época. A sequência de planos econômi-
cos que assolaram o Brasil na época nos fizeram 
desistir. Nossos economistas do governo também 
pareciam estar experimentando e errando - mais 
errando do que outra coisa. Inflação incontrolável, 
burocracia idem, até que chegamos ao chamado 
Plano Collor, que confiscou poupanças, restringiu 
radicalmente a disponibilidade de saques bancá-
rios, e finalmente inviabilizou manter o estúdio 
aberto. Um grande cliente na época tomou uma 
decisão que me salvou financeiramente: eles esta-
vam investindo numa rede de pequenos shoppin-
gs no interior do país, e com a crise, resolveram 
suspender as obras e implantações, mas prosse-
guir com as equipes dos projetos. 
A fase seguinte, trabalhando em casa (e 
ainda para o mesmo cliente, que apoiou a de-
cisão de fechar a empresa e continuar a prestar 
serviços como autônomo), me permitiu fazer 
parcerias com diversos colegas em projetos di-
ferentes, o que foi muito rico como experiência 
e como resultados. 
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56 • Edição 10
Entrevista com Gabriel Patrocinio
Qualidades e defeitos há em todas as gera-
ções, e muito semelhantes. Costumo dizer que, 
com o ingresso na universidade ainda muito jo-
vens, os alunos têm questões hormonais que 
provocam dispersão e ao mesmo tempo paixões 
por determinados assuntos - e por festas! Quando 
chegam aos vinte anos, ‘a ficha cai’ e começam a 
perceber que perderam tempo precioso e deixa-
ram de absorver conteúdos importantes para sua 
formação. Para mim isso explica muito da superva-
lorização pela qual passaram (e ainda passam em 
muitos lugares) os mestrados profissionais. Estes 
oferecem uma ‘segunda chance’ para os estudan-
tes se aprofundarem em questões que foram trata-
das superficialmente muitas vezes por sua própria 
imaturidade para entendê-las.
Pelo nosso lado, nós professores passamos 
(ou ainda estamos passando) por uma verdadeira 
mudança de paradigmas no ensino em geral, e no 
ensino do design particularmente. As ferramentas 
mudaram radicalmente em pouquíssimo tempo 
depois de muitas décadas de continuidade. E mui-
tos resistiram e ainda resistem à essas mudanças. 
Este ano comecei a dar aulas semi-presenciais na 
universidade, o que foi um desafio extraordinário 
para mim, mas ao mesmo tempo muito estimulan-
te. Compreender e conseguir lidar com as novas 
ferramentas é um desafio contínuo.
Olhando para mais de 3 décadas 
como professor universitário que 
tipo de transformações e evoluções 
sentiu não só ao nível do ensino e 
do acesso ao conhecimento, mas 
também no que às qualidades e 
defeitos das novas gerações diz 
respeito?
 Apesar de haver exemplos contrários - estu-
dantes que se destacam em diversas regiões do país 
- ainda falta uma qualidade mais consistente, ainda 
faltam investimentos de grande monta em novas 
tecnologias, por exemplo. Tenho acompanhado 
um pouco à distância o trabalho excelente que a 
PUC-Rio vem fazendo na área de modelagem e pro-
totipagem rápida, fruto principalmente do trabalho 
de um professor, o Jorge Lopes, que doutorou-se no 
Royal College of Art em Londres pesquisando esse 
tema. Seu entusiasmo e dedicação - e certamente 
o apoio que tem recebido da instituição - tem tido 
resultados muito bons. O que vemos no entanto é 
que esta não é a regra, mas a exceção. Faltam estí-
mulo, falta investimento, e como consequência fal-
ta também o entusiasmo e a dedicação que levam 
aos resultados de excelência. 
Além desta questão das novas tecnologias 
de prototipagem e fabricação, que exigem inves-
Como avalia o ensino do design no 
Brasil?
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Design Magazine Brasil
timentos significativos, alguns outros temas têm 
sido igualmente pouco abordados nas escolas de 
design do país: gestão de design, design estratégi-
co, e design de serviços são alguns desses temas 
que fazem muita falta no mercado, em especial 
para o setor público. 
Outro tema é o design thinking, frequente-
mente rejeitado (equivocadamente) nas escolas 
de design, e que tornou-se tema frequente nas es-
colas de negócios. Abordado e ensinado na maio-
ria das vezes por administradores e engenheiros 
- profissionais cuja forma de estruturar o pensa-
mento sabidamente difere dos designers - este 
é frequentemente reduzido a fórmulas prontas. 
Com isso gera uma ilusão de que se está projetan-
do, fazendo design, quando na verdade o design 
thinking é apenas uma ferramenta de geração de 
ideias, muitas vezes inconsequentes, inviáveis, 
que seriam rejeitadas dentro de um processo com-
pleto de projeto de design, com todos os conheci-
mentos e profissionais envolvidos.
Há um investimento seu e um 
cuidado no percurso e progresso 
no campo do design, uma entrega 
pessoal, mas pensando no 
coletivo dos designers brasileiros 
qualificados que se acentua nos 
últimos anos. Que missões foram 
planejadas e que objetivos têm sido 
atingidos até o momento?
Ao terminar o meu doutorado, estabeleci al-
gumas metas individuais - atividades e contatos 
que gostaria de estabelecer no meu primeiro ano de 
volta. Todas foram alcançadas, embora não neces-
sariamente tenham gerado os frutos que eu espera-
va. Mas aos poucos estes estão surgindo. A premia-
ção da minha tese pelo Museu da Casa Brasileira 
no ano passado (1° lugar como pesquisa inédita no 
28º Prêmio de Design do MCB) foi um grande reco-
nhecimento e incentivo, que tem me impulsionado 
para outras frentes - na organização e participação 
de eventos, ao produzir textos e artigos diversos, 
dar entrevistas e depoimentos para publicações 
nacionais e internacionais, ao poder compartilhar 
o conhecimento adquirido com estudantes de mes-
trado e doutorado que tenho orientado no Brasil, 
no México e em Portugal. Mas considero isto ape-
nas um (re)começo - muita coisa ainda está por vir. 
E nada me dá maisprazer do que os novos desafios 
e o compartilhamento de ideias.
Durante a BBD 2015, junto com o 
co-organizador Daniel Kraichete
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58 • Edição 10
Entrevista com Gabriel Patrocinio
O Brasil dá mostras, uma vez 
mais, de pioneirismo no que aos 
assuntos do design diz respeito e 
apresenta-se na linha da frente 
mundial relativa ao reconhecimento 
e enquadramento legal dos 
profissionais da disciplina. Após 
anos de trabalho árduo e de se 
ter conseguido reunir diferentes 
grupos de trabalho, os governantes 
continuam a não alcançar a 
importância deste assunto e 
alguns indivíduos detêm o poder 
para bloquear toda e qualquer 
resolução. Que prognósticos podem 
ser feitos nesta matéria?
Bem, aqui eu devo discordar sobre o ‘pionei-
rismo’ e sobre o Brasil estar na ‘linha de frente mun-
dial’ em assuntos de design, especialmente ligados 
à esfera pública. O reconhecimento profissional ao 
qual você se refere diz respeito à nossa luta (de mais 
de 35 anos) por tratamento isonômico da nossa 
profissão com relação à diversas outras profissões 
liberais que no Brasil são reguladas pelo governo 
federal. Há interpretações conflitantes sobre a ne-
cessidade de haver esta regulamentação por lei, 
mas diante do quadro existente no nosso país, isto 
se tornou uma necessidade. Existem impedimentos 
legais para a atuação de profissionais de profissões 
não-regulamentadas. E existem privilégios dados a 
profissões regulamentadas que não podem ser es-
tendidos, por lei, para outros profissionais. Quando 
confrontado em algumas ocasiões com argumen-
tos contrários à regulamentação (por lei federal) da 
profissão de designer, respondi que em princípio 
sou contra, mas diante da situação existente sou to-
talmente a favor e defendo ardorosamente. Como 
não se pode mudar o sistema por completo, é ne-
cessário que sejamos integrados à ele.
Muitos argumentos contrários à regulamenta-
ção foram por terra quando o conselho profissional 
de arquitetos e urbanistas editou uma resolução 
(que tem força de lei) impedindo que diversas áreas 
de atuação do design fossem exercidas por profis-
sionais sem formação em arquitetura - como pro-
jetos de sinalização ou de mobiliário urbano, por 
exemplo. Nos comentários à resolução, o conselho 
reconhece que há pontos ‘cinzentos’ de eventual 
superposição com outras atividades consagradas, e 
se propõe a discutir e negociar - apenas com outros 
conselhos de profissões regulamentadas. Ou seja, 
estamos a um passo de ter empresas de design 
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Design Magazine Brasil
Em 2004, como diretor da ESDI.
Foto: arquivo ESDI
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60 • Edição 10
Entrevista com Gabriel Patrocinio
impedidas legalmente de exercer suas ativi-
dades - para as quais os cursos de arquitetura não 
oferecem formação ampla e específica como nos 
cursos de design - pelo simples fato de não termos a 
nossa atividade profissional reconhecida dentro do 
emaranhado legal brasileiro. Entendam-me bem, 
não estou de maneira alguma falando mal de arqui-
tetos ou insinuando que estes fazem qualquer tipo 
de lobby contra designers - arquitetura e design são 
ambas importantes atividades projetuais absoluta-
mente necessárias para o desenvolvimento do país, 
e que trabalham frequentemente em harmonia e 
complementaridade. Espero apenas que o seu con-
selho profissional perceba o erro e a injustiça brutal 
que está cometendo e que pode levar à um anta-
gonismo absurdo, contraproducente e anacrônico 
entre o design e a arquitetura.
O atual projeto de regulamentação profissio-
nal foi encaminhado à Camara dos Deputados em 
Brasilia no ano de 2011, e seguiu tramite normal 
sendo aprovado em todas as subcomissões neces-
sárias. Com isto foi encaminhado ao Senado para 
apreciação especial, por se tratar de assunto pre-
viamente aprovado na Camara, sendo submetido 
apenas a uma subcomissão específica, na qual foi 
aprovado por unanimidade em 12 de novembro de 
2014. Entusiasmado com o evento histórico, que 
pude testemunhar em Brasilia (35 anos depois de 
ter participado do encontro de design que elaborou 
o primeiro ante-projeto de lei com esse objetivo), 
propus o dístico para a nossa campanha pela apro-
vação presidencial: ‘Este é o design que queremos 
para o Brasil. Este é o Brasil que queremos: com 
design.’ Mas para surpresa de todos (inclusive do 
senador que presidia a comissão e sua assessoria), 
o projeto que, considerado aprovado pelo Senado, 
deveria ir direto à sanção presidencial, foi impedido 
de seguir seu caminho por um recurso interposto 
por um dos senadores para voltar a discuti-lo no 
plenário do Senado Federal, por absurdo que isso 
possa parecer. E este senador se recusa desde en-
tão a nos receber para esclarecer os seus motivos 
e intenções - o que leva a uma série de conjecturas 
sombrias e pessimistas, após termos sido vitoriosos 
em tantos passos do caminho.
Por isso nos encontramos novamente mo-
bilizados para tentar vencer mais este obstáculo 
em uma luta de quatro décadas pelo reconheci-
mento da importância da nossa atividade para 
o país. Minha natureza não me permite ser pes-
simista, mas reconheço que o caminho a trilhar 
ainda traz dificuldades.Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com
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Design Magazine Brasil
As associações profissionais perceberam que 
precisavam mobilizar-se para viabilizar seus interes-
ses comuns - foi isto que possibilitou que nosso pro-
jeto de lei de regulamentação profissional fosse tão 
longe. Esta união me permite enxergar com algum 
otimismo o futuro. Reconhecidos como profissio-
nais diante da lei, poderemos trabalhar mais próxi-
mos ao governo, em todas as suas instâncias, para 
usar o design como ferramenta de transformação 
econômica e social.
É incrível que, sem este reconhecimento legal, 
designers não podem ser diretamente contratados 
como tal em nenhuma instância de governo! Con-
corrências, licitações e outras formas de contrata-
ção não podem ser dirigidas especifica e exclusiva-
mente a profissionais formados em design - devem 
ser abertas a profissionais de diversas áreas, pois 
não se trata de profissão regulamentada. E com a 
resolução do conselho de arquitetos e urbanistas, 
designers poderão até mesmo ser impedidos de 
participar de contratações governamentais para 
realização de alguns projetos de design, pois estes 
seriam de atribuição exclusiva de arquitetos. 
Quais têm sido os principais fatores 
de convergência sobre o tema 
design e que intervenientes têm 
mostrado de fato empenhado 
e interessante na clarificação 
legítima dos direitos e deveres dos 
designers brasileiros?
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Entrevista com Gabriel Patrocinio
Há lobby contra os 
designers brasileiros? 
Em sua opinião quais 
são os fatores que 
impedem o progresso 
e resolução de um 
assunto tão importante 
para a economia do 
país?
Não sei se existe explicita-
mente um lobby contrário, mas 
certamente existe incompreen-
são e ignorância sobre a área em 
muitas esferas governamentais 
- que ainda confundem design 
com a concepção exclusiva dos 
atributos estéticos de um proje-
to. E há certamente outros inte-
resses e disputas que procuram 
perpetuar privilégios e impedir 
que incompetências sejam colo-
cadas à mostra. 
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Design Magazine BrasilTêm dedicado 
também parte do seu 
tempo em pesquisa, 
desenvolvimento, 
planejamento e 
pensamento nos 
diversos campos e 
realidades do design. 
Quais as contribuições 
que julga terem sido as 
mais relevantes?
Tenho postado algumas 
das minhas principais ativida-
des (embora não com tanta fre-
quência) no meu blog - www.
politicasdedesign.com - aonde 
podem se encontrar links para 
publicações, apresentações, e 
inclusive para a minha tese de 
doutorado. Como já disse, sou 
movido a desafios, e portanto a 
próxima atividade sempre pare-
ce ser ainda mais relevante que 
as anteriores!
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64 • Edição 10
Entrevista com Gabriel Patrocinio
Está a preparar uma publicação 
que terá para si uma importância 
não só pessoal, mas também 
pública. Quer falar-nos dela?
Falando em atividades relevantes, este é um 
projeto do qual muito me orgulho, e que tem sua 
história ligada a um economista e professor de de-
sign britânico que conheci no início de 2011, e de 
quem me tornei amigo e grande admirador, John 
Heskett (que infelizmente nos deixou no início de 
2014). Entre nossos contatos, ele me pediu que es-
crevesse sobre um tema relacionado à minha pes-
quisa em políticas de design, para um capítulo de 
um livro que estava organizando para uma grande 
editora acadêmica. Propus escrever sobre a dialé-
tica entre o ‘design for need’ e o ‘design for deve-
lopment’ nos anos setenta, com foco nas obras de 
Victor Papanek e Gui Bonsiepe, respectivamente. 
Com o capítulo já em andamento e sua estrutura 
básica aprovada, o professor Heskett foi forçado 
pelo agravamento da sua doença a interromper o 
projeto do livro.
No início deste ano, lancei-me ao desafio de 
reunir um grupo bastante seleto de pensadores 
(designers, economistas, especialistas em consu-
mo) do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, China, 
Turquia, India, e África do Sul para escrevermos so-
bre design e desenvolvimento nos últimos quarenta 
anos. O referencial de data (1975-2015) diz respeito 
a um documento da Organização das Nações Uni-
das para o Desenvolvimento Industrial, ONUDI, so-
bre políticas de design para países periféricos. Este 
documento baseia-se num relatório apresentado 
à ONUDI em 1973 pelo professor Gui Bonsiepe, a 
pedido do ICSID, que procurava estabelecer as ba-
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Design Magazine Brasil
ses para a utilização do design como ferramenta 
de desenvolvimento em países da periferia. Dois 
documentos de suma importância aos quais tive 
acesso privilegiado através do professor Bonsiepe, 
mas que por estarem classificados como ‘reserva-
dos’ pela ONUDI, não eram considerados pelos his-
toriadores para compreender aquele período das 
políticas do design. Consegui autorização da ONU-
DI para reeditar ambos os documentos, junto com 
textos que discorrem sobre o tema ‘Design e Desen-
volvimento: 40 Anos Depois’, e vamos lançá-lo em 
novembro deste ano pela Editora Blücher. Autores 
como Victor Margolin, o próprio Gui Bonsiepe, e 
Mugendi M’Rithaa (presidente eleito do ICSID para 
o mandato 2015-2017) juntaram-se a nós e produzi-
ram um livro que, segundo este último, trata-se da 
mais importante obra de referência produzida nos 
últimos dez anos nesta área, dando voz a importan-
tes atores mundiais, e alimentando especialmente 
um diálogo Sul-Sul que se estende e procura incluir 
igualmente alguns atores e pensamentos recentes 
no Norte - em especial da Europa.
Se os nossos planos se concretizarem, o livro 
deverá ser lançado também em Portugal no início 
de dezembro deste ano (temos um convite para fa-
zê-lo em Lisboa que está em negociações). Dentro 
desta mesma perspectiva de estender o lançamen-
to do livro à Portugal, há também uma tentativa de 
levar para Lisboa a mostra de cinema e design que 
organizei e produzo no Brasil - a Mostra CineDesign 
(www.cinedesign.com.br), com diversos documen-
tários sobre diversas áreas do design, com uma 
curadoria que busca trazer diferentes experiências 
e períodos do design contemporâneo para agradar 
ao público de designers, estudantes de design, mas 
também ao público em geral. A mostra foi concebi-
da originalmente para o Museu de Arte Moderna do 
Rio de Janeiro em 2014, mas já teve este ano duas 
edições especiais durante a Bienal Brasileira de De-
sign em Florianópolis.
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68 • Edição 10
O que mais lhe marcou na 
sua aventura acadêmica na 
Universidade de Cranfield, no Reino 
Unido?
Que perpcepções trouxe do meio 
britânico, não só nos aspectos 
acadêmicos, mas também nos de 
caráter cultural e social?
A experiência de voltar a ser estudante aos 
50 anos é muito estimulante! Poder dedicar tempo 
a pesquisar, a pensar, a processar ideias e tentar 
dar uma contribuição efetiva para o campo da sua 
pesquisa é uma experiência de rejuvenescimento - 
pelo menos intelectual! 
Mas a experiência de morar fora do seu país, 
de sair da zona de conforto, de se afastar da fa-
mília e dos amigos, foi especialmente marcante 
e muda nossa perspectiva de vida. Enxergar o seu 
país de fora é quase que necessário para fazer uma 
pesquisa como a minha, sobre políticas públicas.
Como lições diria que trouxe a observação 
do exercício da cidadania e coletividade - coisa 
do que nos afastamos bastante no Brasil, talvez 
pelo nosso passado de governos autoritários e 
ditatoriais. Não idealizo nenhum povo ou socie-
dade, valorizo bastante a experiência que vivi, e 
relativizo alguns problemas que experimentei, tí-
picos da inadaptação de um estrangeiro que já 
não é tão jovem para se submeter a qualquer si-
tuação. E a mudança de uma cidade como o Rio 
de Janeiro (6.5 milhões de habitantes) para uma 
vila rural no interior da Inglaterra, com uma po-
pulação inferior a 5 mil habitantes, é por si só um 
choque cultural enorme. 
Em termos acadêmicos é importante consta-
tar que, sendo o conhecimento uma das principais 
mercadorias que os britânicos oferecem hoje ao 
mundo, há uma preocupação contínua com o es-
tudante estrangeiro - em suma, procura-se prestar 
um bom serviço pelas (altas) anuidades que paga-
mos. Sentir-se valorizado faz bem à sua estima e 
consequentemente lhe predispõe a produzir me-
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Como os ingleses encaram o papel 
do design? 
Para mim o que melhor responde a essa 
pergunta é a experiência da criação do Council 
of Industrial Design (atualmente Design Council). 
Com o país em guerra, bombardeado, com enor-
mes esforços para conseguir manter-se à tona em 
situação tão adversa, o governo do Primeiro minis-
tro Churchill decide criar, em 1944 - um ano antes 
do fim da guerra - uma agência que cuidasse do 
planejamento de políticas de design. A guerra iria 
terminar, e a indústria teria que voltar a crescer e 
a se dedicar à tarefas de tempos de paz. Os lares 
bombardeados precisariam ser reconstruídos, e 
mobiliados, e aparelhados. Os jovens soldados 
voltando do front iriam constituir novas famílias. 
E o design teria uma grande importância neste 
contexto. Esta visão projetiva diz tudo sobre o que 
pensam os britânicos sobre o design.
lhor, retroalimentando a fama das universidades 
britânicas. As parcerias

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