Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 2 • Edição 10 Carta do diretor Formado em design gráfico e atuando no merca- do desde 2010. Atualmente focado em direção de projetos. Dentre eles a revista digital Design Maga- zine Brasil e o “coletivo criativo” Grupo I3C3. Lucas Fernandes É impressionante como o tempo passa rápi- do. Já fazem dois anos do lançamento da nossa primeira edição. No começo de 2013 entrei em contato com Tiago Krusse, diretor da Design Ma- gazine com sede em Portugal. Na época eu pen- sava apenas em fazer um trabalho acadêmico e não imaginava no que isso poderia se tornar. Em 15 de agosto de 2013 lançamos ao público nossa edição 00. O Tiago se mostrou não apenas um grande consultor para a DMB, como também um funda- mental parceiro nessa empreitada que ainda está apenas no começo. Desde então a revista só cresceu, e sou gra- to a todos os envolvidos por isso. Tenho muito or- gulho da equipe que faz da DMB o que ela é. Ah, e aqui nessa edição resolvemos voltar com o uso de infográficos, que não apareciam desde o número 00. Espero que consigamos manter isso. Essa é provavelmente uma das nos- sas edições mais “recheadas”. Ainda assim temos que trabalhar e ralar muito para trazer a vocês, nossos leitores, um conteúdo cada vez melhor. Ainda estamos apren- dendo com nossos acertos e erros. Bem, para finalizar, vou me aproveitar de um slogan alheio. Estou me sentindo pratica- mente num comercial da cerveja Budweiser, pois prevejo que “Great times are coming”. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 4 • Edição 10 Sumário Paul Rand - Everything is Design Pág. 08 Como fazer uma apresentação Pág. 22 Rio Academy Pág. 34 Fetiche Design Pág. 14 Design de superfícies com Daniela Brum Pág. 24 Entrevista com Gabriel Patrocinio Pág. 44 Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 5 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 6 • Edição 10 Créditos Diretor Capa Revisão Logotipo Site Email Redes Sociais Projeto gráfico Diagramação Ilustrações Fotografias Idealizadores Redatores Lucas Fernandes Alvaro Victorio Juliana Teixera Lourrane Alves Elementos À Solta designmagazine.com.br lucas@designmagazinebrasil.com.br facebook.com/revistadesignmagazine.br twitter.com/DMBr_Oficial Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes Thiago Seixas Vitor Cardoso Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes Gilberto Ferreira Wendel Fragoso André Reis Pablo Cabistani Diego Gomes Douglas Silva Gilberto Ferreira Leandro Siqueira Lucas Fernandes Eduardo Madeiro Éllida Assis Lucas Fernandes Mayara Wal Pablo Cabistani Tiago Krusse Edição #10 Agosto/2015 A Design Magazine Brasil é uma projeto de LucasFAdS e Grupo I3C3. O conteúdo textual e imagético da revista pertence aos seus respectívos autores e não pode ser reproduzido sem autorização prévia. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 7 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 8 • Edição 10 “A simplicidade não é a meta. É subproduto de uma boa ideia.” Paul Rand - Everything is Design Designer gráfico gaúcho morando e trabalhando em São Paulo. Acredita que design, como parte da cultura de uma sociedade, deve sempre estar sendo propagado. Pablo Cabistani Arte da vitrine: Gilberto Ferreira. Fotos: Pablo Cabistani. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 9 Design Magazine Brasil Paul Rand foi um icônico designer americano reconhecido principalmente por seu trabalho em identidade corporativa. Em sua trajetória desenhou alguns dos principais logos de algumas das maio- res e mais conhecidas empresas norte-americanas, como a UPS (logo que durou décadas e foi redese- nhado pela FutureBrand (http://www.futurebrand. com/studies/ups/ups), a IBM (logo que nunca foi mexido), a Enron (empresa que faliu) e a emissora ABC (logo que também permanece intocado). Recentemente aconteceu no Museu of the City of New York (um museu dedicado principal- mente à cultura genuinamente nova-iorquina) uma exposição com uma seleção de trabalhos - muitos peças originais - do designer. “Everything is Design – The Work of Paul Rand” (“Tudo é projeto: o trabalho de Paul Rand”) apresentou no museu mais de 150 anúncios, cartazes, brochuras e livros corporativos. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 10 • Edição 10 Paul Rand - Everything is Design Nascido no Brooklyn, Rand, nos anos 30, co- meçou trabalhando em capas de revista, princi- palmente capas para a Esquire e a Apparel Arts (a Apparel Arts foi o primeiro nome da Gentlemen’s Quarterly, a conhecida GQ, que tem também edição brasileira, representada e desenvolvida aqui no Bra- sil pela editora Globo). Nos anos 40, ele trabalhou como diretor de arte na agência Weintraub, na Ma- dison Avenue (famosa avenida nova iorquina onde nasceram algumas das maiores agências de publi- cidade do mundo, incluindo as icônicas Doyle Dane Bernbach, a DDB, que hoje é sócia da brasileira DM9) dos comerciais do Fusca, a BDO (que depois virou BBDO, um grupo multinacional que é sócio da brasileira Almap) e a Young&Rubicam, que aqui no Brasil é parte do grupo do Roberto Justus. Em pu- blicidade, ele revolucionou a direção de arte, sain- do do modelo convencional de “foto e título” para Capas de livros: sempre com estilo despojado que une cores fortes, ilustrações e diagramação com um toque construtivista. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 11 Design Magazine Brasil uma linguagem artística muito influenciada pelos movimentos cubistas e construtivistas que eram a vanguarda europeia na época. Desse período des- tacam-se anúncios para GlaxoSmithKline, para os charutos El Producto e para o conhaque Coronet. Cores fortes, tipografia destacada e ilustrações di- vertidas mesclam-se em anúncios que marcaram época num período da publicidade onde apenas os redatores eram as estrelas. Mais tarde – e até o final da vida – ele atuou como designer gráfico de algumas das principais e mais influentes empresas do período (IBM, ABC, UPS, e a NeXT do Steve Jobs), onde concebeu sis- temas de identidade e “gerenciou” visualmente a linguagem visual de dezenas de empresas. Rand foi um dos pioneiros no desenvolvimento de trabalhos abrangentes de identidade visual, que vão desde embalagens até o desenvolvimento de sinalização. O logo da Next tinha também versões bicolores, usando a paleta da identidade. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 12 • Edição 10 Embalagens e brochuras bacanésimas para a IBM. E você aí reclamando que só dá pra fazer layout sem graça pro seu cliente corporativo. Paul Rand - Everything is Design Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 13 Design Magazine Brasil Para a IBM, por exemplo, o designer tra- balhou durante décadas. Além da marca da empresa, Rand concebeu embalagens para produtos como disquetes e fitas DAT e pos- ters e brochuras para divulgação de produ- tos promocionais. Os projetos do designer sempre basearam-se em logotipos coesos e marcantes, muitos dos quais estão em uso até hoje. Foi também professor na Universidade Yale, onde influenciou uma geração de no- vos profissionais. Sua linguagem visualmen- te estimulante, e sua incrível capacidade de resoluçãode problemas de design, atraíram admiradores durante toda sua vida. E sua in- fluência ainda hoje é presente no modo como são construídas as identidades corporativas. “A simplicidade não é a meta. É subpro- duto de uma boa ideia.” - Paul Rand, sobre criação de logos. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 14 • Edição 10 “Começamos meio perdidos, não sabíamos o que queríamos fazer, mas sabíamos o que não queríamos fazer.” Fetiche Design Fotos: Cortesia Fetiche Design. Designer de produto de formação e metida a docei- ra nas horas vagas. Formada desde 2011, buscando sempre estar antenada e se atualizar na área, atual- mente estuda Design de Serviços e Interação. Mayara Wal Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 15 Design Magazine Brasil O estúdio de design curitibano erradicado em São Paulo começou em 2008, formado pelos parcei- ros de trabalho e de vida Carolina Armellini e Paulo Biacchi. Com foco em desenvolvimento de produ- tos, como eles mesmos se definem, o estúdio de design sempre se preocupou em ter autonomia de criação e produção dos seus projetos. Podendo as- sim criar com mais liberdade, assinando seus proje- tos com um grande diferencial em termos de quali- dade e criatividade. Tomo a liberdade de dizer que “alma” é a palavra que define seu trabalho, é como se cada criação tivesse vida própria, uma história. Fetiche não foi um nome casualmente es- colhido, seu significado revela o que os criadores querem passar nas suas criações “Fetish sm. Ani- mate or inanimate object, made by man or produ- ced by nature, which is attributed to supernatural power and worships.” Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 16 • Edição 10 Fetiche Design Um estúdio que já tem certa caminhada, e muita história pra contar. Começou com uma lo- ja+estúdio, teve um escritório compartilhado em uma casa antiga no centro de Curitiba e recente- mente se mudou para São Paulo iniciando uma nova fase da marca. Suspeita para falar desse escri- tório que tenho grande admiração, deixo que eles falem sobre essa trajetória que agora tem no currí- culo uma parceria bacana com Rosenbaum. Como foi o início do escritório do Fetiche? Foi um momento de incertezas e ansiedade. Porém, com força de vontade e empolgação de so- bra. Começamos meio perdidos, não sabíamos o que queríamos fazer, mas sabíamos o que não que- ríamos fazer. Foi um ano para encontrarmos o core business do FETICHE®, mas encontramos no nosso conceito o nosso diferencial e o nosso foco. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 17 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 18 • Edição 10 Fetiche Design Qual era o foco e o modo de trabalho no começo? Começamos a Fetiche como uma marca de produtos. Criação, desenvolvimento e pro- dução de peças de mobiliário contemporâneo. Procurávamos a liberdade que não tínhamos trabalhando como empregados em escritórios de prestação de serviço. Na época, em 2008, queríamos colocar nossas apostas no merca- do sem precisar convencer ninguém, e foi o que fizemos. Quais os momentos mais importantes e marcantes do Fetiche? O Banco R540 com certeza é uma criação marcante e um ícone do FETICHE® até hoje. Ele também foi protagonista no nosso caso com a Renault francesa, onde ele inspirou a criação do interior de um carro conceito da Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 19 Design Magazine Brasil montadora. A coleção que lançamos na loja Micasa em 2012 também foi um momento im- portante, um pouco mais amargo, mais críti- co, mas bem importante. Aproveitamo-nos de um momento difícil para nos reinventarmos e criarmos peças únicas em forma de manifesto. Como começou a parceria com Rosembaum? Fomos convidados pela Rosenbaum para participar do projeto, A Gente Transfor- ma, em uma tribo indígena na floresta ama- zônica, Uma co-criação entre Fetiche, Marce- lo Rosenbaum e o NadaSeLeva. A sinergia foi muito grande e quando voltamos já começa- mos a pensar em projetos juntos. Começa- mos a assinar a parceria como “Rosenbaum e o Fetiche”, e já criamos para a L’Occitane, Tidelli, LaLampe e em agosto teremos uma série de outros lançamentos. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 20 • Edição 10 Fetiche Design Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 21 Design Magazine Brasil Como foi a mudança para São Paulo e qual a diferença entre o escritório de hoje e o do início? O estúdio FETICHE está dentro do escritório da Rosenbaum e respondemos pelo departamento de design da organização. Estamos muito bem em SP, na verdade seguramos esta mudança por muito tempo, sabíamos que seria inevitável. Mas temos hoje a certeza que viemos no melhor mo- mento. O FETICHE de hoje é muito mais maduro que o do início. Ainda sabemos o que não quere- mos e isso é muito importante, mas o principal é que agora sabemos o que queremos. Quais os planos para 2015/2016? Temos um grande lançamento para Agosto/ Setem- bro, muito mais do que uma coleção de móveis. Vamos lançar uma nova forma de parceria, voltada para o mercado de massa. Aguardem! Muito obrigada Paulo e Carol pela rápida “conversa”. Com certeza vamos aguardar ansiosos pelas novidades. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 22 • Edição 10 Fazer uma apresentação nunca é tarefa fácil. Seja um trabalho acadêmi- co, um projeto para possíveis investidores ou uma palestra, você precisa saber como convencer as pessoas de que aquilo que está sendo mostra- do é, de alguma forma, útil para elas. Não existe fórmula mágica, mas algumas dicas valiosas podem melhorar consideravelmente o resultado. Essa é uma das partes mais importantes da apresentação. Mantenha-se sempre em posição ereta, sem cruzar os braços, colocar as mãos no bolso, nem gesticular demais. Evite também visualizar o slide o tempo todo, só faça em caso de necessidade. Não encare uma única pessoa e nem fique olhando para o chão ou o teto. Olhar firme, sempre para frente, em direção ao público. Evite também o uso excessivo de gírias. Postura O apresentador é você. Os slides devem apenas servir como um gancho do que você fala. Evite textos e frases longas, tente resumir seus slides a frases curtas ou até palavras-chave. Ler textos diretamente dos slides mostra que você não domina o assunto. Slides Independente do tipo de apresentação que você esteja fa- zendo, não se descuide de sua aparência. Isso não quer di- zer que você sempre deva usar paletó ou terno, mas evite shorts e bermudas, bonés e camisas de times de futebol. Sua imagem é a primeira coisa que todos perceberão. Vestimenta 22 • Edição 10 Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 23 Design Magazine Brasil Essas não são regras, mas apenas sugestões baseadas em exemplos que funcionaram e se mostraram eficientes. Você pode ainda pegar isso, adap- tar e criar seu próprio estilo. Talvez você não vá se tornar um Steve Jobs do dia para a noite, mas seguindo as dicas aqui listadas, suas apresenta- ções poderão ficar bem mais interessantes. Não se esqueça, e boa sorte! Roteiro Situação inicial De certo modo, toda apresentação é uma história. Você pode dar início a ela introduzindo ao público uma situação nor- mal, com a qual elesse identifiquem ou consigam sentir o mínimo de empatia. Deve ser algo que desperte o interesse. 1 O problema Depois de estabelecer a condição normal, é preciso, então, ex- por nela um problema para ser solucionado ou uma questão a ser respondida. É você quem deverá resolver o impasse depois. 2 A solução Aqui é onde finalmente começa a parte principal da apre- sentação: você introduz à audiência o seu trabalho / pro- duto / serviço (e o potencial para liquidar o problema) e como chegou até ele. 3 Benefícios Em seguida, você pode demonstrar como o que foi apresen- tado no item anterior pode beneficiar as pessoas. Quais as características mais marcantes do produto? O que ele tem de tão especial? No que exatamente ele supera a concorrência? 4 Ação Por último, você reforça um ou vários dos pontos da apresen- tação e leva o público a comprar sua ideia, esteja ela alavan- cando um trabalho, produto, serviço ou qualquer outro objeto. 5 Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 24 • Edição 10 Design de superfícies com Daniela Brum Imagens: Cortesia Daniela Brum. “O mundo da moda tem um leque bem grande de profissões, que vai muito além de um estilista ou um produtor de moda” Profissional formado em Moda e Figurino pelo Instituto Zuzu Angel, especializado em Visual Mer- chandising. Atualmente aluno de licenciatura em Artes Visuais pela Unigranrio. Eduardo Madeiro Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 25 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 26 • Edição 10 O mundo da moda tem um leque bem grande de profissões, que vai muito além de um estilista ou um produtor de moda. Pensando nisso, a nossa en- trevistada dessa edição, Daniela Brum, vai nos es- quecer com informações sobre o que é um designer de superfície. Daniela, qual a sua origem profissional? Minha formação é em Publicidade, cursei no ISCIE, hoje Universidade Fernando Pessoa, no Por- to, Portugal. Quando você começou a se interessar por Design? Sempre me interessei pelo mundo das artes, e vi no Design uma possibilidade de aliar a criação ao produto. Primeiro veio a intenção de trabalhar num departamento criativo de uma agência, mas assim que fui contratada num banco de imagens e apren- di a fazer manipulação de imagens no Photoshop, com ilustrações e fotos para produtos de papelaria, descobri que era exatamente disso que eu gostava. Que habilidades você acha importante ter para se trabalhar com estampa de moda? Para se trabalhar com estampas de um modo em geral, é necessário que você busque sempre se aprimorar em todas as técnicas de pintura, desenho e CAD. É imprescindível o compromisso com o seu trabalho e o que você propõe no mercado, e para isso você deve ter um trabalho original, criativo e autoral. Você vende o direito de uso de uma ima- gem/arte que você criou, e para se manter no mer- cado por tantos anos, é preciso criar com os seus cliente um relacionamento de confiança muito grande. Cursos, workshops de qualidade que envol- vam artes, suas aplicações e experimentações são extremamente importantes para você manter seu trabalho interessante e contemporâneo. Design de superfícies com Daniela Brum Foto: Alexandre Souza Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 27 Design Magazine Brasil Que dicas você dá para quem deseja ser um Design de Superfície? Eu creio que eles devem começar com cursos de fundamentos das estampas/padrona- gens e que sigam seus instintos e necessidades, nunca esquecendo que o processo manual é de extrema importância, ainda que não o utilize di- retamente no seu trabalho, é ele que vai permi- tir que você exprima intuitivamente o que você carrega na alma. Como você se inspira? Você acredita no acaso no processo de criação? Sou addict do processo criativo, adoro pes- quisar, ler e conhecer novos processos, sejam eles sofisticados ou de uma ingenuidade infan- til, constrangedora. Acredito que todos eles nos transportam para um mundo interior que não temos pleno conhecimento e principalmente controle. E é isso que o faz surpreendentemen- te, fantástico...a descoberta! Me inspiro em mui- tas coisas, frequento exposições, cinema, teatro, feirinhas, lojas como um elixir de conhecimentos múltiplos. Mas é a natureza e a história que mais tem a responsabilidade no meu trabalho. O po- “Sou addict do processo criativo, adoro pesquisar, ler e conhecer novos processos, sejam eles sofisticados ou de uma ingenuidade infantil” Fo to : Al ex an dr e So uz a Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 28 • Edição 10 Fo to : Al ex an dr e So uz a Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 29 Design Magazine Brasil der de experimentar cores, formas e sensações através da natureza e de encontrar na história um conceito que se adeque as minhas experiências, faz com que o meu trabalho ganhe um sentido, um lugar diferente. Como é a ligação entre os profissio- nais da área e as parcerias criadas, sur- gem amizades? Muitas! Eu sou uma pessoa que acredita muito em compartilhamento de conhecimento e portanto sou provinda e tento prover esse lega- do. Tenho muitas parcerias, que viram verdadei- ras famílias, uma amizade e um respeito mútuo. Acredito que se todos forem abertos, tiverem um coração e alma limpas tudo se multiplica. Para isso é preciso ser sincero e gentil. Quais softwares você mais usa? Photoshop até morrer!!! Illustrator tam- bém, mas o Photoshop me dá a possibilidade de trazer textura, tonalidades, imagens e nuances, que é o que mais acho importante no meu traba- lho, o que cria a minha identidade, o meu traço, a minha mão. Quem são seus ídolos? William Morris, Sonia Delaunay, Raoul Dufy, GuntaStölzl , AthosBulcão, Renata Rubim. Você possui um estilo pessoal nos seus trabalhos? Se sim, como você o identifica? Por ser designer e não uma artista, nunca me preocupei muito em criar um identidade para o meu trabalho. O meu trabalho estava para ser- vir ao meu cliente e não a mim. Hoje percebo que Fo to : Al ex an dr e So uz a Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 30 • Edição 10 essa questão virou um obstáculo, às vezes, para algumas pessoas. O que tento é incentivar aos meus alunos a produzir, independente da “bus- ca para a identidade”, pois ao longo dos anos ela acaba se definindo, ainda que você não a tenha buscado, como é o meu caso. Acho que um de- signer deve ser eclético e deve desbravar diver- sas linguagens. Mas sobre sua pergunta, muitos clientes e colegas dizem que conseguem conhe- cer meu trabalho, minha identidade. Como eu o identifico? Como um trabalho de origem manual, colorido, de cores vibrantes e alegres, e que traz em si uma mistura de texturas e traços. “Acho que trabalho tem muito, emprego não tanto” O que você acha do mercado em relação a oportunidades de trabalho? Acho que trabalho tem muito, emprego não tanto. Se você olhar um pouquinho à sua volta, vai enxergar estampas em quase tudo e em vários mer- cados. Basta querer se dedicar, treinar, se aperfeiço- ar e trabalhar. Sua experiência profissional facilita no processo de criação em moda? Sem dúvida, a bagagem de mais de 15 anos me dedicando e estudando muito sobre o mundo da estamparia, o convívio com meus colegas e prin- cipalmente a troca com os alunos no Senai Cetiqt e na Stampa Studio me ajudam muito no processo de criação e renovação do meu trabalhopara a moda. Como você se classifica profissionalmente? Sou uma Designer de Superfície, tenho o meu trabalho em diversas superfícies, produtos e mercados. Que sugestões você pode indicar para quem quer ser freelancer ou abrir seu próprio negócio nessa área? Que tenha disciplina, foco e rotina! Primeiro você tem que estabelecer um horário de trabalho, depois você tem que dividir esse horário entre pes- quisar, criar e vender. Esses 3 itens abrangem diver- sos métodos e processos e você tem que se orga- nizar para poder manter o foco e sobreviver. Tudo isso deve se relacionar a você e ao mercado ao qual você quer se inserir. É preciso identificar claramente seus objetivos para você poder estipular etapas. Im ag es d e Pa tr ic ia Is sl er Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 31 Design Magazine Brasil Im ag es d e Pa tr ic ia Is sl er Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 32 • Edição 10 Como você divulga seu trabalho? D i v u l g o n o m e u s i t e w w w . d a n i e - l a b r u m . c o m e t a m b é m n o d a S t a m p a S t u d i o ( w w w . s t a m p a s t u d i o . c o m ) , a l é m d e a l i m e n t a r s e m p r e a s m í d i a s ( F a c e - b o o k e I n s t a g r a m ) c o m p r o c e s s o s c r i a - t i v o s e n o v i d a d e s . Como é feito o contato com os clientes? Você é procurada por eles ou oferece o seu trabalho às marcas? Os dois. Tenho dois compromissos por dia: cr iar e vender. E os faço de diver- sas maneiras, e-mail , Face, Insta, etc, mas ao menor s inal de interesse, minha opção é pelo contato telefônico ou pessoal . A re- lação que se estabelece através da estru- tura de uma conversa, faz com que o cl ien- te perceba a densidade e o compromisso do seu trabalho, e com isso f ica muito mais fáci l de f idel izar e conhecer cada um deles. Você consegue viver da sua arte? Sim. Tenho uma empresa desde 2007, chamada Stampa Studio, que começou vendendo estampas e hoje é um estú- dio cr iat ivo voltado para tudo o que pos - sa interessar a esse mundo. Temos aulas, workshops, encontros e claro, venda de estampas. Im ag en d e Pa tr ic ia Is sl er Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 33 Design Magazine Brasil Quais foram os seus principais trabalhos? Bom, todos são importantes para a cons- trução do seu profissionalismo e progresso, mas sempre temos orgulho por alguns. Gosto muito da linha de papelaria Botanical, que fiz para a Ótima, ela inclusive ganhou o 1º lugar no prêmio Fernando Pini em 2013, também gosto muito da coleção de palhas, raízes e grades cariocas, que fiz para os teci- dos de decoração e bolsas da Patricia Issler. Gosto muito do trabalho que fiz também para moda Praia da Jangada. Você se sente realizada com a sua profissão? Muito! A possibilidade de todos os dias poder ter um desafio criativo, seja ele de ordem técnica, lúdica ou processual é renovador.. Im ag en d e Pa tr ic ia Is sl er Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 34 • Edição 10 Rio Academy Estudante de Arquitetura e Urbanismo. Curte an- dar de long board e ler livros de arquitetura, ir a museus e tudo ligado a arte, além do contato com a natureza. Éllida Assis Fotos por André Reis. “Os participantes tiveram a grande chance de estar em contato direto com grandes mestres da Arquitetura e do Urbanismo” Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 35 Design Magazine Brasil O MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), uma das mais importantes instituições culturais do Brasil, projetado pelo arquiteto cario- ca Affonso Reidy, foi o local escolhido para o Rio Academy 2015 estrear com o Fórum Internacional de Arquitetura e Urbanismo, entre os dias 20 e 26 de Julho. O evento proporcionou o encontro de estu- dantes e profissionais do mundo inteiro da área de Arquitetura e Urbanismo. Recebeu grandes nomes da arquitetura em um só lugar, com o propósito de discutir soluções arquitetônicas e urbanísticas para as metrópoles de países emergentes. O tema central do evento foi O Futuro das grandes cidades em Países emergentes. Inserindo o Brasil ao tema, propondo mudanças nas constru- ções futuras. Os participantes tiveram a grande chance de estar em contato direto com grandes mestres da Arquitetura e do Urbanismo, recebendo conse- lhos, dicas, soluções para seus projetos, adquirin- Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 36 • Edição 10 do conhecimento a cada dia que estiveram por lá, fazendo com que a mente dos participantes “saís- sem da caixinha”. As Conferências que aconteceram nos dias 20 e 21 de Julho abriram o evento trazendo ideias, inovações e inspirações. O evento conseguiu tirar os participantes de suas zonas de conforto, fazen- do com que eles se questionassem a buscar novas soluções para os problemas arquitetônicos e urba- nísticos da cidade. Paulo Mendes, Kay-Uwe Bergmann (Big), Carolina Bueno e Grégory Bousquet (Triptyque Architecture), Alejandro Aravena, Jaime Lerner, Giancarlo Mazzanti, Reinier de Graaf (OMA), Eliza- beth de Portzamparc e Christian de Portzamparc, foram os grandes mestres que os participantes tiveram a oportunidade de conhecer melhor nos primeiros dias. “Com os Workshops e talkers os participantes tiveram inspiração para o desenvolvimento de seus projetos” Com os Workshops e talkers os participantes tiveram inspiração para o desenvolvimento de seus projetos, podendo se reunir em equipes de até cin- co integrantes, ou individualmente para a elabora- ção destes. Washington Fajardo, RUA Arquitetos, Jorge Jáuregui, Clovis Cunha, Studio Schwitalla, Marcello Dantas, Fleshbeck Crew, Renata M. Strengerowski Rio Academy Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 37 Design Magazine Brasil foram os convidados a compartilhar suas experiên- cias profissionais com os participantes. Os melhores projetos foram oferecidos à ci- dade do Rio de janeiro, pelos seus 450 anos. Técnicos e arquitetos da Prefeitura do Rio de Janeiro analisaram as propostas de cada equipe. Os participantes tiveram q escolher um dos cinco subtemas para a elaboração de seus projetos. Os Subtemas foram: Patrimônio Arquitetônico, Coordenado por Andréa de Lacerda Pessôa Borde, Doutora em Ur- banismo pela UFRJ. Soluções Efêmeras, Coordenado por Pedro Rivera e Pedro Évora, do escritório carioca RUA Arquitetos. Urbanismo Espontâneo, Coordenado por Igor de Vetyemy, Coordenador Geral do Curso de Arqui- tetura e Urbanismo e do Departamento da Indústria Criativa da Universidade Estácio de Sá. Mobilidade Urbana e Desigualdade Social, Coordenado por Sylvia Meimaridou Rola, Diretora Adjunto de Extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, e Humberto Kzure-Cerque- ra, Doutor em Urbanismo pelo PROURB/UFRJ e Bauhaus Universität Weimar. Os participantes tiveram até as 20:00 horas do dia 25 de Julho para a entrega de seus projetos. No dia 26 de Julho, pela manhã, os projetos foram analisados pelo júri, e com antecedência de uma hora, começando às 17:00 horas a anunciação Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 38 • Edição 10 dos vencedores, que foram: A área de Desigualdade Social teve em pri- meiro lugar o trabalho Providência em tempos de Pipa, que propõe uma reconstrução da comunida-de da Providência, promovendo uma maior inte- gração entre favela e asfalto. No tema Urbanismo Espontâneo, o vencedor foi o projeto Transbordar, que utiliza as ruas do Rio de Janeiro como um gran- de circuito de brincadeiras pela cidade, incluindo comunidades. Na área de Soluções Efêmeras, o primeiro lu- gar foi de Arena Olímpica de Rua: Mind the Arrow, projeto produzido por franceses que sugere a cria- ção de um espaço para o treinamento de arco e fle- cha na Cinelândia. O subtema Patrimônio Arquite- tônico teve em primeiro lugar o trabalho Revelando o Parque do Flamengo, proposta de revitalização do parque através de ativação de seus equipamentos e suas áreas de entorno. Já em Mobilidade Urbana, o vencedor foi o projeto Varandas Bairro, que traba- lhou a mobilidade em várias esferas, como mobili- dade do lixo, locomoção e conexão da comunidade com a cidade. Resumo de algumas conferências: “Sempre é a política que move o homem para construir as cidades”, frase de Paulo Men- Rio Academy Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 39 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 40 • Edição 10 des da Rocha que disse também que temos que entender que essa política colonizadora não é ideal para começar a pensar em uma urbaniza- ção moderna com relação à união das políticas americanas. A politica de cada país tem que se associar para que isso aconteça! Apresentou al- guns de seus projetos que repensavam as cida- des, como o projeto para o Porto Fluvial do Rio O grupo encontra métodos de produção que melhor atenda as formas de vida contemporâneas. Tietê (1980), e seu projeto para a Baía de Monte- vidéu, de 1998. Kai-Uwe Bergmann é um dos sócios do es- critório dinamarquês BIG. Apresentou projetos que fizeram ao redor do mundo, defendendo o conceito do escritório de desenvolver arquitetu- ras específicas para cada lugar. O grupo encon- tra métodos de produção que melhor atenda as formas de vida contemporâneas. Carolina Bueno e Grégory Bousquet repre- sentaram o escritório Triptyque Architecture, agência sediada em São Paulo e Paris. Reco- nhecida mundialmente por sua obra contempo- rânea, a agência ainda explicou como funciona seu trabalho de reconquista da natureza em lo- cais urbanos.“A Triptyque reaproveita e insere a natureza para dentro da arquitetura, como se Rio Academy Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 41 Design Magazine Brasil ela fosse um material de construção”, conta a ar- quiteta Carolina Bueno. “Quanto mais complexo o problema, maior a necessidade da simplicidade”, foi assim que Alejandro Aravena, conhecido por seus projetos de habitação social e intervenções em zonas de desastre ambiental, apresentou três casos onde tentaram aplicar o poder da síntese do Design. O primeiro caso foi sobre o desafio global do Design urbano, o segundo caso foi como o Design pode contribuir para a sustentabilidade, e o terceiro caso, como o Design pode fornecer respostas mais abrangentes contra desastres na- turais. A cada ano as pessoas estão preferindo morar nas cidades, fazendo com que seu cresci- mento seja acelerado, desordenado e escasso, como consequência muitas pessoas estão sem moradias e esse problema cresce cada vez mais. Um dos fatores que mais traz problemas aos paí- ses emergentes é a desigualdade social. Alejandro complementou dizendo que das três bilhões de pessoas que vivem nas cidades hoje, um bilhão está abaixo da linha da pobreza, e isso crescerá ainda mais durante os anos se- guintes. Essas pessoas viverão nas favelas e em assentamentos ilegais. Como no Brasil muitas pessoas já vivem em favelas, a tendência é au- mentar ainda mais, se não fizermos algo. Mas o que poderíamos fazer? Ele citou, como exemplo, seu projeto de construção de moradias populares pela meta- de. Há 10 anos Alejandro foi convidado a alojar cem famílias que estavam ocupando ilegalmen- te meio hectare no centro da cidade de Iquique, norte do Chile. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 42 • Edição 10 E o que estava disponível no mercado eram casas separadas e casas geminadas, que não atendiam a todos. A única maneira de acomo- dar todas as famílias seria construindo em al- tura, e isso eles não aceitavam, ameaçando até uma greve de fome se construíssem dessa forma, pois assim eles não conseguiriam expandir esses apartamentos minúsculos. Então a solução veio das próprias famílias: ter uma casa que pudesse expandir para os lados. Mas quando não se tem dinheiro para construir uma moradia de 80 m², o mercado a reduz para 40 m²,e a leva para longe dos centros. A solução foi projetar metade de uma boa casa, e a outra metade seria construída pelas pró- prias famílias da maneira que preferissem, assim continuariam morando em lugares próximos aos grandes centros. Com o dinheiro público, seria feita a meta- de que as famílias não seriam capazes de fazer individualmente. Como o projeto foi bem locali- zado, as famílias mantiveram seus empregos, sua rede social e suas moradias foram valorizadas. O governo, por sua vez, investiu o mesmo que in- vestiria para construir uma pequena casa em um terreno distante. Esse foi um dos projetos que Alejandro apresentou no Rio Academy. O evento foi muito interessante, questões políticas, sociais, geográficas, econômicas, sus- tentáveis, urbanísticas e arquitetônicas foram abordadas. O que nos fez perceber que o tempo de hoje nos permite veicular ideias rapidamente. O lado triste, é que uma oportunidade tão rica de trocas de conhecimento como esta, estava lon- ge das condições financeiras de muitos, pois o evento não contou com a ajuda do governo ou Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 43 Design Magazine Brasil de outras entidades, fazendo com que se tornas- se caro. Porém, a ideia dos organizadores do Rio Academy é tornar esse evento acessível a todos. Os produtores e participantes entrevistados con- cordaram que o evento superou todas as suas expectativas, e devido ao grande sucesso desse ano, podemos contar com muitas outras novida- des para o ano que vem. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 44 • Edição 10 “O design é cada vez mais percebido como instrumento para abordar problemas complexos.” Entrevista com Gabriel Patrocinio Foto da vitrine: Bomin Kim. Todas as imagens: Cortesia Gabriel Patrocinio. Fundador e diretor da DESIGN MAGAZINE. Jorna- lista profissional há mais de 20 anos. Sempre se dedicando à produção de informação sobre de- sign, arquitetura e arte por esse mundo afora. Tiago Krusse Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 45 Design Magazine Brasil Designer qualificado, experiente e apaixo- nado, Gabriel Patrocinio é também professor, pes- quisador e um acadêmico reputado, respeitado e reconhecido no país e no estrangeiro. O seu percur- so em torno de uma profissão pela qual não deixa de lutar é vincado por uma paixão e uma entrega na demonstração consistente de que o design é de crucial importância para o progresso e desenvolvi- mento das sociedades. Nesta grande entrevista que nos concede traça um quadro de fatos que dão um panorama bem detalhado sobre a realidade brasi- leira, não deixando de expressar convicções e opi- niões sobre equívocos ou ideias pré-concebidas. Num momento de grande trabalho e num período em que prepara o lançamento de um importante livro sobre designe desenvolvimento com um gran- de valor sentimental, deixa-nos um quadro realista e sem fantasias. Nasci em 1960 no Rio de Janeiro, que dei- xava de ser capital com a inauguração de Brasília. Tinha menos de 4 anos de idade quando houve o golpe militar que derrubou o governo e lançou o país em 20 anos de ditadura. Apesar da tenra idade, tenho ‘flashes’ de memória de soldados armados e veículos militares na rua onde eu mo- rava, que ficava a poucas quadras do palácio do governo estadual. Mais tarde, acredito que em 1968, me lembro do meu pai chegando em casa passando mal com os efeitos das bombas de gás lançadas para reprimir as manifestações - e a ex- trema preocupação dos meus pais com as minhas irmãs mais velhas. Um amigo de uma delas era colega de colégio do Edson, estudante secunda- rista assassinado durante a invasão pela polícia de um restaurante estudantil - fato que deflagrou as maiores manifestações contra a ditadura, e o subsequente endurecimento do regime. Durante o ginásio, éramos proibidos de nos reunir em grupos maiores - os militares ti- nham medo de reuniões de crianças de 13, 14 anos. Nosso cineclube só funcionava graças à cumplicidade dos padres, que entendiam serem aquelas ‘manifestações’ apenas o despertar dos interesses culturais - necessários ao próprio pro- cesso educacional. O grêmio esportivo estava proibido de funcionar, e os professores e inspe- tores organizavam os torneios em lugar dos pró- prios estudantes. A década de 60 foi a continuação de um período conturbado da história do Brasil nos seus mais distintos aspectos. Como foi nascer e crescer no turbilhão político da época? Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 46 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio Quais os fatores sociais, culturais e políticos que mais marcaram a sua adolescência? Ambientes protegidos, isolados dos acon- tecimentos, quase numa redoma, cercado num ambiente religioso protestante no qual cresci e fui educado (estudei em colégio católico no giná- sio e adventista no ensino médio). Foi a maneira que meus pais encontraram de proteger os filhos naquele momento difícil que o país atravessava. Coincidia esta postura com a fé que eles profes- savam, o que nos fez crescer num ambiente de paz e harmonia familiar e social, isolados dos acontecimentos por assim dizer. No pior período da repressão, eu estudava num colégio interno adventista na periferia de São Paulo, num clima quase de fazenda, cercado de amigos e de ativi- dades físicas e culturais. Outro fato marcante foi que meu pai nos in- centivava, desde bem novos, a trabalhar durante as férias de verão. Trabalhei entre os 12 e os 15 anos como auxiliar de escritório, como mensa- geiro (office-boy), e quando manifestei interesse em design, como auxiliar de serviços gerais numa gráfica. Ao final do ensino médio, já manifestan- do interesse e habilidade para o design gráfico, estagiei numa editora e depois passei um ano morando em São Paulo e trabalhando como as- sistente de um amigo, que atuava como designer, ilustrador, e fotógrafo. Foi um período de muito aprendizado, que me preparou para a universida- de com a visão da prática profissional. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 47 Design Magazine Brasil A atmosfera em que o Rio de Janeiro viveu nesses anos teve os seus lados negativos, mas por outro lado deu força a uma esperança que começava a apostar na evolução e no progresso da sociedade brasileira como um todo. Nessa época os ideais dos jovens cariocas assentavam em que valores e ações? Voltei para o Rio de Janeiro em 1979, ano em que ingressei na Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ, a ESDI, escola aonde fiz minha graduação. A ditadura militar iniciava um período de distensão, no governo do General Figueiredo. A Lei da Anistia foi sancionada em agosto de 1979, mas ainda estávamos no governo do ‘prendo e ar- rebento’ - expressão usada pelo Presidente, o Ge- neral Figueiredo, para esclarecer como ele trataria aqueles que se opusessem à abertura política. A frase apresenta uma natural incoerência, mas a história mostrou que o recado era para alguns de seus próprios colegas militares, que junto com a extrema direita tramavam atentados que ainda ti- rariam vidas naqueles anos em que se caminhava lentamente para a redemocratização. Me lembro de uma pixação de rua que dizia, em 1979: ‘quem tem c* tem medo - viva Figueiredo!’. Ainda havia prisões de opositores - tive um colega de facul- dade preso algumas vezes por vender em praça pública um jornal marxista (a Tribuna Operária, se não me engano), e eu mesmo fui ‘convidado’ por um policial a ‘acompanha-lo’ à delegacia instala- da na estação da Rede Ferroviária para esclarecer os motivos pelos quais estava fotografando aquele local ‘estratégico’. Para minha sorte a diretora da ESDI - Carmen Portinho, uma mulher com uma tra- jetória e atuação extraordinária - atendeu o telefo- nema do delegado e esclareceu que aquele paca- to estudante estava apenas fazendo um trabalho para a disciplina de fotografia... Lembro-me também de ajudar um colega do centro acadêmico a imprimir, no mimeógrafo de uma igreja em Copacabana, um jornalzinho estu- dantil - que não tinha nada de mais, mas jornais estudantis eram considerados instrumentos pe- rigosíssimos com enorme potencial de provocar agitação popular. Tinha um gosto de proibido, de clandestino, embora os tempos já fossem de aber- tura política. Nada disso trazia nenhum risco sig- nificativo se comparado com a militância política dos anos 60 e início de 70 - já vivíamos o período do início da abertura política - mas não podemos esquecer que a extrema direita ainda explodia bombas, matava pessoas, e tramava para retornar ao período duro da repressão. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 48 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio Como avalia a qualidade do ensino que teve até se decidir ingressar na universidade? O ensino era alvo de muita cautela por parte do governo. Fa- zer as pessoas pensarem e ques- tionarem não fazia bem para o regime. Foram impostas disci- plinas que estimulavam ideias nacionalistas e patrióticas - que não eram necessariamente ruins em si, mas que visavam essen- cialmente defender o status quo. O ensino no colégio católico aon- de fiz o ginásio no Rio de Janeiro era mais aberto e avançado, en- quanto no colégio adventista, na periferia de São Paulo, era mais cautelosamente conservador, eu diria assim. Mas este último não me preparava para enfrentar os exames para ingressar na univer- sidade, e tive que fazer um cursi- nho preparatório, ainda em São Paulo e já trabalhando em tempo integral, mas que me garantiu a aprovação nas duas melhores es- colas de design do Rio, na época - a ESDI e a UFRJ, ambas públi- cas e gratuitas (havia também a Universidade Católica, a também excelente PUC-Rio, mas esta era cara e acima das minhas possibi- lidades). Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 49 Design Magazine Brasil A iliteracia foi sempre um aspecto pior do Brasil. De que forma isso se sentia no quotidiano e de que forma esse fator foi prejudicial numa fase em que a sociedade exigia mais harmonia e equilíbrio? O que o leva a interessar-se pelo design? O analfabetismo era uma mácula social, que vinha junto com a miséria e a fome, for- madas em décadas de desmandos políticos, corrupção, concentração de renda e muitasoutras mazelas sociais. Heranças havia - e ainda persistem até hoje - da escravidão, das guerras e rebeliões do final do século 19 e início do século 20. Até mesmo reflexos das guerras napoleônicas - que levaram por exem- plo a um domínio britânico na exploração da infra-estrutura de serviços básicos (geração e fornecimento de luz, gás, ferrovias, transpor- tes urbanos - até os anos noventa) e da mi- neração de metais nobres e pedras preciosas que persiste até hoje. O governo militar mantinha alguns pro- gramas assistencialistas - mas de pouca efeti- vidade. Na educação havia talvez mais avan- ços, com a disseminação do pensamento de Paulo Freire e influência da igreja católica. Al- fabetização era uma urgência quase tão gran- de quanto a fome. O Mobral (Movimento Brasi- leiro de Alfabetização), foi criado em 1967 com o objetivo de alfabetizar adultos, e tornou-se um campo fértil para o desenvolvimento de estudos e da aplicação de experimentos es- pecíficos de pedagogia - e como uma válvula de escape para a juventude universitária, no exercício da cidadania de outra maneira proi- bida, contribuir para a evolução da sociedade. O interesse e habilidade para o desenho e a fotografia. De fato desejava estudar fotografia, mas como não havia na época curso superior de fotografia no país, acabei descobrindo o design aos 15 anos de idade e me encantando pela idéia de dar forma aos mais diversos produtos. E a ex- periência que mencionei anteriormente de traba- lhar com design gráfico em São Paulo nos anos setenta, antes de entrar na ESDI, foi certamente uma influência definitiva. Mas este (em SP) era um trabalho que juntava design e fotografia - e esse dualismo me acompanhou por muitos anos: designer e fotógrafo. Cheguei a trabalhar como fotojornalista, e ter o meu pequeno estúdio per- to da ESDI, aonde também lecionei fotografia por mais de duas décadas. Saí da faculdade como designer em 1982 e retornei para ensinar em 1983 (inicialmente no laboratório de fotografia), com apenas 22 anos de idade. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 50 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio Como caracteriza o ambiente e toda a estrutura que encontrou na Universidade do Rio De Janeiro e sobretudo na Escola Superior de Design Industrial? Não vou fantasiar ou idealizar dizendo que foi extraordinária - até porque não foi mesmo. O país tentava reformar o pacto social, sair de uma longa e sofrida ditadura, entrava em recessão eco- nômica - não era um panorama fácil. A universida- de pública, como até hoje, sofria com uma falta aguda de recursos que causariam vergonha àque- les que idealizaram a ESDI como uma via de desen- volvimento para a indústria do país no início dos anos sessenta. Cheguei a conviver, já nos anos oi- tenta, com um prédio de aulas destelhado, dentro do qual crescia a vegetação, enquanto aguardava alguma providência que só chegou anos mais tar- de. Pequena (em número de alunos) e isolada do campus principal da universidade, a escola ficava abandonada à sua própria sorte. Isto, por outro lado associado à fama que a história concedera à ESDI, nos dava autonomia para experimentar e errar à vontade - embora com frequência mais er- rando do que experimentando! Por outro lado, a universidade me trouxe as primeiras oportunidades de pensar e agir sobre o que eu veria, muitos anos depois, como sendo di- retamente relacionado às políticas públicas de design. Ao final do meu primeiro ano, em 1979, aconteceu no campus principal da UERJ (universi- dade à qual a ESDI pertencia desde 1975) o 1° ENDI - Encontro Nacional de Desenho Industrial, no qual participei de grupos de discussão sobre o primeiro projeto de regulamentação da profissão de desig- ner e de outras discussões sobre políticas públicas. Nesta mesma época ajudei a conceber, organizar e montar uma exposição com trabalhos de biônica (ou biomimética, como se diz hoje), entitulada ‘Da Natureza ao Produto’. Para esta exposição reuni- mos trabalhos de duas das três escolas de design que existiam então no Rio de Janeiro: ESDI e a Uni- versidade Federal (UFRJ), e numa continuação le- vamos a exposição para a Escola de Artes Visuais do Parque Laje, integrando também trabalhos dos alu- nos de design da PUC, sob o nome ‘Da Natureza ao Produto - do Produto à Natureza’ (esta com um ca- ráter maior de contracultura - menos ‘design’ - con- dizente com o Parque Laje e seus frequentadores). Inclusive os cartazes e convites de ambas as mos- tras eram de minha autoria. Reunir as três escolas de design em algum tipo de atividade era para mim a coisa lógica a ser feita. Não éramos competidores, e devíamos trabalhar juntos para o crescimento da profissão. Há pouco tempo achei no arquivo da re- vista Veja um curto depoimento meu sobre estas ideias. Obviamente me envolvi com outras ativida- des semelhantes: tínhamos um grupo de estudos com alunos das três escolas que se reunia na PUC, e depois me envolvi com a APDINS-RJ, nossa associa- ção profissional da época. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 51 Design Magazine Brasil Aos 19 anos, posando sentado sobre um protótipo de cadeira desenhado em seu 2º ano de curso. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 52 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio Que círculo de amigos criou na universidade e que pessoas marcaram e continuam a marcar a sua memória? Entrei na universidade como estudante aos 18 anos e praticamente nunca mais saí (exceto pelos dois ou três meses de intervalo até ser con- tratado em 1983). Estudei, trabalhei, namorei, en- sinei, projetei, pensei, discuti, administrei, aprendi muito, tudo isso a partir da perspectiva da ESDI. Já se vai hoje pela metade a quarta década de permanência na mesma universidade. Portanto os amigos e influências foram muitos - vários já se foram, mas o que me mantém entusiasmado é a renovação constante de pessoas, de ideias, de dis- cussões, realimentação o espírito. Há casos curio- sos, como o Freddy Van Camp, com quem tive pro- blemas quando era meu professor, e que é hoje um dos meus melhores amigos, com quem trabalhei e aprendi muito. Ou do Pedro Luís (o ‘Pedrão’ como é conhecido), que reconheceu em mim a motiva- ção para avançar ensinando e pensando design, me atribuindo responsabilidades importantes quando eu ainda estava começando - e por quem tenho uma enorme admiração. Ou o Cunha Lima, que como organizador e coordenador do progra- ma de pós-graduação da escola teve comigo (eu era então diretor da ESDI) antagonismos e discus- sões antológicas - e que depois foi meu grande incentivados no doutorado e continua sendo um muito bom amigo. E muitos outros amigos entre professores, funcionários, ex-alunos - que prazer é ver um ex-aluno crescer profissional e intelectual- mente e nos superar! E ainda foi o reencontro há pouco tempo com uma ex-aluna que me levou a construir uma nova história de vida. Aos 27 anos, jo- vem professor da ESDI. Fo to : F at im a Ro ch a Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 53 Design Magazine Brasil Quando decidiu e chegou à conclusão que o design e todos os assuntos a ele ligados iriam fazer parte da sua vida? Como disse, ainda na adolescência já havia encontrado a vontade, e depois encontrei a voca- ção - sempre disputada entre a fotografia e o design - mas este último acabou prevalecendo. Descobri mais recentemente que a vocação para a política de design veio tambémlá do início da minha formação em design, alimentada ainda pelo prazer de pensar as coisas sob seus diversos aspectos, a curiosidade e capacidade de observação, que me foram instila- das pelos meus pais. Para além dos muros protetores da ESDI, minhas boas relações dentro da Universidade me permitiram alçar outros voos quando retornei do meu doutorado: saí da ESDI em 2014 e hoje leciono design para estudantes de outros cursos e encaro novos desafios, como a criação do Laboratório de Políticas de Design, DPLab. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 54 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 55 Design Magazine Brasil Após a universidade quais foram os projetos que abraçou e em que circunstâncias sociais, culturais, políticas e ecônomicas eles se desenvolveram? Ainda durante a faculdade eu já trabalhava profissionalmente com design gráfico em especial, e depois também com fotografia. Estava, se bem me lembro, no último ano do curso quando eu e alguns colegas da ESDI e da PUC ganhamos um contrato para fazer a sinalização do Shopping Cen- ter da Gávea, no Rio de Janeiro. Mantivemos a par- ceria por pouco tempo fazendo outros trabalhos, mas logo cada um seguiu o seu caminho. Quatro anos depois de formado criei, com a minha cole- ga de turma Isabella Perrotta, a Alquimia Criação Visual. Ali fizemos diversos projetos de identidade visual, design editorial, projetos culturais, sinaliza- ção, e até um pouco de design industrial - pouco acessível para um estúdio pequeno e novo como o nosso na época. A sequência de planos econômi- cos que assolaram o Brasil na época nos fizeram desistir. Nossos economistas do governo também pareciam estar experimentando e errando - mais errando do que outra coisa. Inflação incontrolável, burocracia idem, até que chegamos ao chamado Plano Collor, que confiscou poupanças, restringiu radicalmente a disponibilidade de saques bancá- rios, e finalmente inviabilizou manter o estúdio aberto. Um grande cliente na época tomou uma decisão que me salvou financeiramente: eles esta- vam investindo numa rede de pequenos shoppin- gs no interior do país, e com a crise, resolveram suspender as obras e implantações, mas prosse- guir com as equipes dos projetos. A fase seguinte, trabalhando em casa (e ainda para o mesmo cliente, que apoiou a de- cisão de fechar a empresa e continuar a prestar serviços como autônomo), me permitiu fazer parcerias com diversos colegas em projetos di- ferentes, o que foi muito rico como experiência e como resultados. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 56 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio Qualidades e defeitos há em todas as gera- ções, e muito semelhantes. Costumo dizer que, com o ingresso na universidade ainda muito jo- vens, os alunos têm questões hormonais que provocam dispersão e ao mesmo tempo paixões por determinados assuntos - e por festas! Quando chegam aos vinte anos, ‘a ficha cai’ e começam a perceber que perderam tempo precioso e deixa- ram de absorver conteúdos importantes para sua formação. Para mim isso explica muito da superva- lorização pela qual passaram (e ainda passam em muitos lugares) os mestrados profissionais. Estes oferecem uma ‘segunda chance’ para os estudan- tes se aprofundarem em questões que foram trata- das superficialmente muitas vezes por sua própria imaturidade para entendê-las. Pelo nosso lado, nós professores passamos (ou ainda estamos passando) por uma verdadeira mudança de paradigmas no ensino em geral, e no ensino do design particularmente. As ferramentas mudaram radicalmente em pouquíssimo tempo depois de muitas décadas de continuidade. E mui- tos resistiram e ainda resistem à essas mudanças. Este ano comecei a dar aulas semi-presenciais na universidade, o que foi um desafio extraordinário para mim, mas ao mesmo tempo muito estimulan- te. Compreender e conseguir lidar com as novas ferramentas é um desafio contínuo. Olhando para mais de 3 décadas como professor universitário que tipo de transformações e evoluções sentiu não só ao nível do ensino e do acesso ao conhecimento, mas também no que às qualidades e defeitos das novas gerações diz respeito? Apesar de haver exemplos contrários - estu- dantes que se destacam em diversas regiões do país - ainda falta uma qualidade mais consistente, ainda faltam investimentos de grande monta em novas tecnologias, por exemplo. Tenho acompanhado um pouco à distância o trabalho excelente que a PUC-Rio vem fazendo na área de modelagem e pro- totipagem rápida, fruto principalmente do trabalho de um professor, o Jorge Lopes, que doutorou-se no Royal College of Art em Londres pesquisando esse tema. Seu entusiasmo e dedicação - e certamente o apoio que tem recebido da instituição - tem tido resultados muito bons. O que vemos no entanto é que esta não é a regra, mas a exceção. Faltam estí- mulo, falta investimento, e como consequência fal- ta também o entusiasmo e a dedicação que levam aos resultados de excelência. Além desta questão das novas tecnologias de prototipagem e fabricação, que exigem inves- Como avalia o ensino do design no Brasil? Fo to : d iv ul ga çã o Bi en al Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 57 Design Magazine Brasil timentos significativos, alguns outros temas têm sido igualmente pouco abordados nas escolas de design do país: gestão de design, design estratégi- co, e design de serviços são alguns desses temas que fazem muita falta no mercado, em especial para o setor público. Outro tema é o design thinking, frequente- mente rejeitado (equivocadamente) nas escolas de design, e que tornou-se tema frequente nas es- colas de negócios. Abordado e ensinado na maio- ria das vezes por administradores e engenheiros - profissionais cuja forma de estruturar o pensa- mento sabidamente difere dos designers - este é frequentemente reduzido a fórmulas prontas. Com isso gera uma ilusão de que se está projetan- do, fazendo design, quando na verdade o design thinking é apenas uma ferramenta de geração de ideias, muitas vezes inconsequentes, inviáveis, que seriam rejeitadas dentro de um processo com- pleto de projeto de design, com todos os conheci- mentos e profissionais envolvidos. Há um investimento seu e um cuidado no percurso e progresso no campo do design, uma entrega pessoal, mas pensando no coletivo dos designers brasileiros qualificados que se acentua nos últimos anos. Que missões foram planejadas e que objetivos têm sido atingidos até o momento? Ao terminar o meu doutorado, estabeleci al- gumas metas individuais - atividades e contatos que gostaria de estabelecer no meu primeiro ano de volta. Todas foram alcançadas, embora não neces- sariamente tenham gerado os frutos que eu espera- va. Mas aos poucos estes estão surgindo. A premia- ção da minha tese pelo Museu da Casa Brasileira no ano passado (1° lugar como pesquisa inédita no 28º Prêmio de Design do MCB) foi um grande reco- nhecimento e incentivo, que tem me impulsionado para outras frentes - na organização e participação de eventos, ao produzir textos e artigos diversos, dar entrevistas e depoimentos para publicações nacionais e internacionais, ao poder compartilhar o conhecimento adquirido com estudantes de mes- trado e doutorado que tenho orientado no Brasil, no México e em Portugal. Mas considero isto ape- nas um (re)começo - muita coisa ainda está por vir. E nada me dá maisprazer do que os novos desafios e o compartilhamento de ideias. Durante a BBD 2015, junto com o co-organizador Daniel Kraichete Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 58 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio O Brasil dá mostras, uma vez mais, de pioneirismo no que aos assuntos do design diz respeito e apresenta-se na linha da frente mundial relativa ao reconhecimento e enquadramento legal dos profissionais da disciplina. Após anos de trabalho árduo e de se ter conseguido reunir diferentes grupos de trabalho, os governantes continuam a não alcançar a importância deste assunto e alguns indivíduos detêm o poder para bloquear toda e qualquer resolução. Que prognósticos podem ser feitos nesta matéria? Bem, aqui eu devo discordar sobre o ‘pionei- rismo’ e sobre o Brasil estar na ‘linha de frente mun- dial’ em assuntos de design, especialmente ligados à esfera pública. O reconhecimento profissional ao qual você se refere diz respeito à nossa luta (de mais de 35 anos) por tratamento isonômico da nossa profissão com relação à diversas outras profissões liberais que no Brasil são reguladas pelo governo federal. Há interpretações conflitantes sobre a ne- cessidade de haver esta regulamentação por lei, mas diante do quadro existente no nosso país, isto se tornou uma necessidade. Existem impedimentos legais para a atuação de profissionais de profissões não-regulamentadas. E existem privilégios dados a profissões regulamentadas que não podem ser es- tendidos, por lei, para outros profissionais. Quando confrontado em algumas ocasiões com argumen- tos contrários à regulamentação (por lei federal) da profissão de designer, respondi que em princípio sou contra, mas diante da situação existente sou to- talmente a favor e defendo ardorosamente. Como não se pode mudar o sistema por completo, é ne- cessário que sejamos integrados à ele. Muitos argumentos contrários à regulamenta- ção foram por terra quando o conselho profissional de arquitetos e urbanistas editou uma resolução (que tem força de lei) impedindo que diversas áreas de atuação do design fossem exercidas por profis- sionais sem formação em arquitetura - como pro- jetos de sinalização ou de mobiliário urbano, por exemplo. Nos comentários à resolução, o conselho reconhece que há pontos ‘cinzentos’ de eventual superposição com outras atividades consagradas, e se propõe a discutir e negociar - apenas com outros conselhos de profissões regulamentadas. Ou seja, estamos a um passo de ter empresas de design Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 59 Design Magazine Brasil Em 2004, como diretor da ESDI. Foto: arquivo ESDI Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 60 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio impedidas legalmente de exercer suas ativi- dades - para as quais os cursos de arquitetura não oferecem formação ampla e específica como nos cursos de design - pelo simples fato de não termos a nossa atividade profissional reconhecida dentro do emaranhado legal brasileiro. Entendam-me bem, não estou de maneira alguma falando mal de arqui- tetos ou insinuando que estes fazem qualquer tipo de lobby contra designers - arquitetura e design são ambas importantes atividades projetuais absoluta- mente necessárias para o desenvolvimento do país, e que trabalham frequentemente em harmonia e complementaridade. Espero apenas que o seu con- selho profissional perceba o erro e a injustiça brutal que está cometendo e que pode levar à um anta- gonismo absurdo, contraproducente e anacrônico entre o design e a arquitetura. O atual projeto de regulamentação profissio- nal foi encaminhado à Camara dos Deputados em Brasilia no ano de 2011, e seguiu tramite normal sendo aprovado em todas as subcomissões neces- sárias. Com isto foi encaminhado ao Senado para apreciação especial, por se tratar de assunto pre- viamente aprovado na Camara, sendo submetido apenas a uma subcomissão específica, na qual foi aprovado por unanimidade em 12 de novembro de 2014. Entusiasmado com o evento histórico, que pude testemunhar em Brasilia (35 anos depois de ter participado do encontro de design que elaborou o primeiro ante-projeto de lei com esse objetivo), propus o dístico para a nossa campanha pela apro- vação presidencial: ‘Este é o design que queremos para o Brasil. Este é o Brasil que queremos: com design.’ Mas para surpresa de todos (inclusive do senador que presidia a comissão e sua assessoria), o projeto que, considerado aprovado pelo Senado, deveria ir direto à sanção presidencial, foi impedido de seguir seu caminho por um recurso interposto por um dos senadores para voltar a discuti-lo no plenário do Senado Federal, por absurdo que isso possa parecer. E este senador se recusa desde en- tão a nos receber para esclarecer os seus motivos e intenções - o que leva a uma série de conjecturas sombrias e pessimistas, após termos sido vitoriosos em tantos passos do caminho. Por isso nos encontramos novamente mo- bilizados para tentar vencer mais este obstáculo em uma luta de quatro décadas pelo reconheci- mento da importância da nossa atividade para o país. Minha natureza não me permite ser pes- simista, mas reconheço que o caminho a trilhar ainda traz dificuldades.Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 61 Design Magazine Brasil As associações profissionais perceberam que precisavam mobilizar-se para viabilizar seus interes- ses comuns - foi isto que possibilitou que nosso pro- jeto de lei de regulamentação profissional fosse tão longe. Esta união me permite enxergar com algum otimismo o futuro. Reconhecidos como profissio- nais diante da lei, poderemos trabalhar mais próxi- mos ao governo, em todas as suas instâncias, para usar o design como ferramenta de transformação econômica e social. É incrível que, sem este reconhecimento legal, designers não podem ser diretamente contratados como tal em nenhuma instância de governo! Con- corrências, licitações e outras formas de contrata- ção não podem ser dirigidas especifica e exclusiva- mente a profissionais formados em design - devem ser abertas a profissionais de diversas áreas, pois não se trata de profissão regulamentada. E com a resolução do conselho de arquitetos e urbanistas, designers poderão até mesmo ser impedidos de participar de contratações governamentais para realização de alguns projetos de design, pois estes seriam de atribuição exclusiva de arquitetos. Quais têm sido os principais fatores de convergência sobre o tema design e que intervenientes têm mostrado de fato empenhado e interessante na clarificação legítima dos direitos e deveres dos designers brasileiros? Fo to : F at im a Ro ch a Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 62 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio Há lobby contra os designers brasileiros? Em sua opinião quais são os fatores que impedem o progresso e resolução de um assunto tão importante para a economia do país? Não sei se existe explicita- mente um lobby contrário, mas certamente existe incompreen- são e ignorância sobre a área em muitas esferas governamentais - que ainda confundem design com a concepção exclusiva dos atributos estéticos de um proje- to. E há certamente outros inte- resses e disputas que procuram perpetuar privilégios e impedir que incompetências sejam colo- cadas à mostra. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 63 Design Magazine BrasilTêm dedicado também parte do seu tempo em pesquisa, desenvolvimento, planejamento e pensamento nos diversos campos e realidades do design. Quais as contribuições que julga terem sido as mais relevantes? Tenho postado algumas das minhas principais ativida- des (embora não com tanta fre- quência) no meu blog - www. politicasdedesign.com - aonde podem se encontrar links para publicações, apresentações, e inclusive para a minha tese de doutorado. Como já disse, sou movido a desafios, e portanto a próxima atividade sempre pare- ce ser ainda mais relevante que as anteriores! Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 64 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio Está a preparar uma publicação que terá para si uma importância não só pessoal, mas também pública. Quer falar-nos dela? Falando em atividades relevantes, este é um projeto do qual muito me orgulho, e que tem sua história ligada a um economista e professor de de- sign britânico que conheci no início de 2011, e de quem me tornei amigo e grande admirador, John Heskett (que infelizmente nos deixou no início de 2014). Entre nossos contatos, ele me pediu que es- crevesse sobre um tema relacionado à minha pes- quisa em políticas de design, para um capítulo de um livro que estava organizando para uma grande editora acadêmica. Propus escrever sobre a dialé- tica entre o ‘design for need’ e o ‘design for deve- lopment’ nos anos setenta, com foco nas obras de Victor Papanek e Gui Bonsiepe, respectivamente. Com o capítulo já em andamento e sua estrutura básica aprovada, o professor Heskett foi forçado pelo agravamento da sua doença a interromper o projeto do livro. No início deste ano, lancei-me ao desafio de reunir um grupo bastante seleto de pensadores (designers, economistas, especialistas em consu- mo) do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, China, Turquia, India, e África do Sul para escrevermos so- bre design e desenvolvimento nos últimos quarenta anos. O referencial de data (1975-2015) diz respeito a um documento da Organização das Nações Uni- das para o Desenvolvimento Industrial, ONUDI, so- bre políticas de design para países periféricos. Este documento baseia-se num relatório apresentado à ONUDI em 1973 pelo professor Gui Bonsiepe, a pedido do ICSID, que procurava estabelecer as ba- Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 65 Design Magazine Brasil ses para a utilização do design como ferramenta de desenvolvimento em países da periferia. Dois documentos de suma importância aos quais tive acesso privilegiado através do professor Bonsiepe, mas que por estarem classificados como ‘reserva- dos’ pela ONUDI, não eram considerados pelos his- toriadores para compreender aquele período das políticas do design. Consegui autorização da ONU- DI para reeditar ambos os documentos, junto com textos que discorrem sobre o tema ‘Design e Desen- volvimento: 40 Anos Depois’, e vamos lançá-lo em novembro deste ano pela Editora Blücher. Autores como Victor Margolin, o próprio Gui Bonsiepe, e Mugendi M’Rithaa (presidente eleito do ICSID para o mandato 2015-2017) juntaram-se a nós e produzi- ram um livro que, segundo este último, trata-se da mais importante obra de referência produzida nos últimos dez anos nesta área, dando voz a importan- tes atores mundiais, e alimentando especialmente um diálogo Sul-Sul que se estende e procura incluir igualmente alguns atores e pensamentos recentes no Norte - em especial da Europa. Se os nossos planos se concretizarem, o livro deverá ser lançado também em Portugal no início de dezembro deste ano (temos um convite para fa- zê-lo em Lisboa que está em negociações). Dentro desta mesma perspectiva de estender o lançamen- to do livro à Portugal, há também uma tentativa de levar para Lisboa a mostra de cinema e design que organizei e produzo no Brasil - a Mostra CineDesign (www.cinedesign.com.br), com diversos documen- tários sobre diversas áreas do design, com uma curadoria que busca trazer diferentes experiências e períodos do design contemporâneo para agradar ao público de designers, estudantes de design, mas também ao público em geral. A mostra foi concebi- da originalmente para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 2014, mas já teve este ano duas edições especiais durante a Bienal Brasileira de De- sign em Florianópolis. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 66 • Edição 10 Entrevista com Gabriel Patrocinio Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 67 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 68 • Edição 10 O que mais lhe marcou na sua aventura acadêmica na Universidade de Cranfield, no Reino Unido? Que perpcepções trouxe do meio britânico, não só nos aspectos acadêmicos, mas também nos de caráter cultural e social? A experiência de voltar a ser estudante aos 50 anos é muito estimulante! Poder dedicar tempo a pesquisar, a pensar, a processar ideias e tentar dar uma contribuição efetiva para o campo da sua pesquisa é uma experiência de rejuvenescimento - pelo menos intelectual! Mas a experiência de morar fora do seu país, de sair da zona de conforto, de se afastar da fa- mília e dos amigos, foi especialmente marcante e muda nossa perspectiva de vida. Enxergar o seu país de fora é quase que necessário para fazer uma pesquisa como a minha, sobre políticas públicas. Como lições diria que trouxe a observação do exercício da cidadania e coletividade - coisa do que nos afastamos bastante no Brasil, talvez pelo nosso passado de governos autoritários e ditatoriais. Não idealizo nenhum povo ou socie- dade, valorizo bastante a experiência que vivi, e relativizo alguns problemas que experimentei, tí- picos da inadaptação de um estrangeiro que já não é tão jovem para se submeter a qualquer si- tuação. E a mudança de uma cidade como o Rio de Janeiro (6.5 milhões de habitantes) para uma vila rural no interior da Inglaterra, com uma po- pulação inferior a 5 mil habitantes, é por si só um choque cultural enorme. Em termos acadêmicos é importante consta- tar que, sendo o conhecimento uma das principais mercadorias que os britânicos oferecem hoje ao mundo, há uma preocupação contínua com o es- tudante estrangeiro - em suma, procura-se prestar um bom serviço pelas (altas) anuidades que paga- mos. Sentir-se valorizado faz bem à sua estima e consequentemente lhe predispõe a produzir me- Entrevista com Gabriel Patrocinio Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Agosto 2015 • 69 Design Magazine Brasil Como os ingleses encaram o papel do design? Para mim o que melhor responde a essa pergunta é a experiência da criação do Council of Industrial Design (atualmente Design Council). Com o país em guerra, bombardeado, com enor- mes esforços para conseguir manter-se à tona em situação tão adversa, o governo do Primeiro minis- tro Churchill decide criar, em 1944 - um ano antes do fim da guerra - uma agência que cuidasse do planejamento de políticas de design. A guerra iria terminar, e a indústria teria que voltar a crescer e a se dedicar à tarefas de tempos de paz. Os lares bombardeados precisariam ser reconstruídos, e mobiliados, e aparelhados. Os jovens soldados voltando do front iriam constituir novas famílias. E o design teria uma grande importância neste contexto. Esta visão projetiva diz tudo sobre o que pensam os britânicos sobre o design. lhor, retroalimentando a fama das universidades britânicas. As parcerias
Compartilhar