Buscar

AD1 EJA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

escrevendo juntos 1
escrevendo
juntos
41
ARTE DEMOCRÁTICA E 
HUMANIZADORA 
Grafite: educação e atitude p. 29
CONQUISTAS E CONTROVÉRSIAS
EJA: educação para todos p. 16
A LITERATURA DE UM POVO
Entrevista com Ricardo Azevedo p. 46
Outra economia 
 é possível
A educação como novo 
paradigma para a 
sustentabilidade p. 18
Uma publicação da AlfaSol - janeiro/junho de 2010 - nº 41 - ISSN 1676-0948
escrevendo juntos2
Sala de TeleSol no Centro de Reabilitação Agrícola Mariano Antunes (Crama), em Marabá (PA)
Fo
to
: G
ilb
er
to
 Jr
.
escrevendo juntos 3
Regina Célia Esteves de 
Siqueira é superintendente 
executiva da AlfaSol
A AlfaSol completa 14 anos de 
existência com a missão de disseminar e 
fortalecer o desenvolvimento social por 
meio de práticas educativas sustentáveis. 
Muito do que já foi realizado este ano, 
em uma nova e mais ampla configuração 
institucional, será lido aqui, mas há 
ainda outro tanto a realizar, como a 
inauguração das instalações do Centro 
Ruth Cardoso, além dos outros projetos 
que a Escrevendo Juntos informará em 
seu tempo.
Dinâmica e diversificada, a Escrevendo 
Juntos chega a seu número 41 
discutindo temas ligados à Educação de 
Jovens e Adultos (EJA), além de relatar 
as ações e projetos executados pela 
Organização. Mas a nossa EJ vai além 
e trata de temas da atualidade, traz 
novidades, indicações editoriais, artigos 
de especialistas.
Neste número, um assunto fundamental 
na matéria de capa: sustentabilidade. 
Apesar de estar na moda, o conceito 
muitas vezes se simplifica em uma 
reflexão sobre a preservação ambiental. 
A Redação ouviu vários especialistas que 
aprofundaram a análise sobre o tema. É 
possível promover uma transformação 
de valores e estruturas, e vislumbrar um 
mundo diferente – social, econômica, 
cultural e ambientalmente sustentável? 
A discussão sobre a utilização da 
arte do grafite no espaço educativo 
também enriqueceu as páginas da 
EJ. Promovemos uma enquete no site 
da AlfaSol sobre o assunto. Além de 
conferir o resultado da pesquisa, o leitor 
lerá uma matéria com o histórico e a 
cultura na qual se insere essa arte.
Reflexões e experiências sobre os 
principais desafios das políticas 
de EJA no Brasil fizeram parte de um 
dos seminários promovidos pelo 
Centro Ruth Cardoso em 2010. 
André Lázaro, secretário de Educação 
Continuada, Alfabetização e Diversidade 
do MEC, apontou a mobilização 
social e o reconhecimento do direito 
educativo dos jovens e adultos como 
importantes indutores na promoção e 
implementação de políticas públicas 
resultantes da demanda histórica de 
EJA. A professora Eliane Ribeiro Andrade 
também participou da discussão e 
aprofundou o tema com um artigo que 
a EJ publica acerca dos desafios para 
entender que a EJA faz parte de uma 
dinâmica social e educativa que não 
pode ser vista, entendida e julgada 
por ela própria.
O escritor Ricardo Azevedo, também 
artista gráfico, presenteia nossos leitores 
com a ilustração de capa deste número 
e uma entrevista na qual conta por 
que pesquisa e torna públicas as várias 
formas de manifestação popular do País 
com livros que, inclusive, fazem parte do 
programa Incentivo à Leitura da AlfaSol. 
Outro convidado da edição é Ladislau 
Dowbor, que defende a necessidade 
de junção entre o currículo tradicional 
e a compreensão dos alunos acerca da 
realidade em que vivem.
Em homenagem ao excepcional 
trabalho desenvolvido e pelo exemplo 
como educadora, a Escrevendo Juntos 
faz uma homenagem à professora 
Sylvia Bueno Terzi. Parceira da AlfaSol 
há 14 anos, a experiência no município 
de Inhapi (AL) é um exemplo de 
garra e determinação em prol da 
transformação da vida de um povo. 
Esperamos que a EJ 41 seja fonte 
de informação, entretenimento e 
conhecimento para toda a sua enorme 
gama de leitores. Desejamos uma boa 
leitura a todos!
A palavra escrita
Editorial
Fo
to
: A
rq
ui
vo
 A
lfa
So
l
Gostaria de participar do programa 
adote um aluno. Como posso fazer as 
contribuições mensais?
Walter Munhoz (SP)
Agradecemos imensamente a expressão 
da sua vontade em firmarmos essa 
parceria. Para contribuir com a 
Campanha Adote um Aluno, basta 
efetuar um cadastro por meio do site da 
AlfaSol ou do telefone 0800 727 17 21.
Com apenas R$ 30,00 durante 12 meses, 
você pode adotar um aluno e colaborar 
com essa transformação.
Equipe do Departamento de 
Desenvolvimento Institucional
Em nossa empresa vamos fazer uma 
campanha de arrecadação de livros 
novos e usados para serem doados. 
A ideia inicial era doar para algum 
município pobre do Nordeste, em 
especial cidades carentes do estado do 
Piauí. Procurando bibliotecas e escolas 
na região, tivemos pouco sucesso, com 
notícias desencontradas e sites pouco 
confiáveis. Pesquisando, encontrei o site 
da AlfaSol e fiquei muito interessada na 
história e iniciativa de vocês. Gostaria 
de saber se vocês têm interesse nos 
livros que pretendemos doar ou se 
indicam alguma instituição/escola/
biblioteca para destino.
Agradeço desde já e parabenizo pelo 
trabalho de vocês.
Vanessa Ramos (SP)
Em primeiro lugar, nossos parabéns pela 
iniciativa e agradecemos o interesse em 
colaborar com os projetos da AlfaSol.
A AlfaSol é uma organização da 
sociedade civil, sem fins lucrativos. Para 
a realização de suas ações, atuamos em 
municípios apontados pelo Censo do 
IBGE como aqueles que detêm os  
maiores índices de analfabetismo, em 
parceria com governos federal, 
estaduais e municipais, empresas 
públicas e privadas, além de Instituições 
de Ensino  Superior. Como mencionado 
anteriormente, trabalhamos com 
parcerias, e isso inclui o envio de 
acervos às localidades atendidas. Para 
que possamos concretizar sua proposta, 
é preciso saber qual a previsão para 
realização da campanha, e se há uma 
estimativa de quantos livros poderão 
ser recebidos. Desde já, agradecemos o 
contato e nos colocamos à disposição 
para outras informações.
Centro de Referência em Educação de 
Jovens e Adultos (Cereja) da AlfaSol
E você, o que pensa sobre esse assunto? 
Escreva para alfasol@alfasol.org.br e dê sua opinião.
porta giratória
Durante o mês de julho, a AlfaSol manteve ativa em seu site 
www.alfasol.org.br uma enquete com a pergunta: “Na sua opinião, a arte 
do grafite pode ser explorada no espaço educativo?” Veja o resultado: 
A revista Escrevendo Juntos ouviu diversos especialistas cujas respostas 
renderam uma reportagem sobre o tema para esta edição, “Arte de rua, educação e 
protesto”, que pode ser lida nas páginas 29 a 34. 
Confira abaixo uma prévia sobre o que pensam alguns especialistas entrevistados:
“O grafite é um mosaico de ações e sentidos; tem 
origem e contexto na cultura hip-hop. Se usado na 
escola, não deve distanciar-se de sua origem.”
Paulo Carrano, coordenador do Observatório Jovem 
do Rio de Janeiro e professor adjunto da Faculdade de 
Educação da Universidade Federal Fluminense.
“A escola faz parte da comunidade, e 
promover a sua revitalização por meio 
de oficinas de grafite gera um retorno à 
valorização deste espaço. Procuramos 
transformar a escola em um ambiente em 
que os jovens se sintam bem e empoderados 
do espaço de aprendizagem.”
Satão, grafiteiro do coletivo DF Zulu 
(Ceilândia – DF).
expediente
correspondência
Regina Célia Esteves de Siqueira
Superintendente Executiva
Juliana Opípari Paes Barreto
Diretora de Planejamento
Carlos Henrique de Lima
Diretor de Desenvolvimento
Institucional
Maristela Miranda Barbara
Diretora de Formação e
Acompanhamento Pedagógico
Alex Takayama
Diretor Administrativo e de
Tecnologia da Informação
Ednéia Gonçalves
Assessora Técnica
Claudia Cavalcanti
Assessora de Comunicação
Jornalista responsável
Carolina Gutierrez
Redação
Carolina Gutierrez
Priscila Pires
Projeto gráfico e diagramação
Creatrix Design
Ilustrações da capa e miolo
Stock.Xchng
Imagens licenciadas em Creative 
Commons
ISSN
1676.0948
Tiragem desta edição
3.000 exemplares
AlfaSol
Rua Pamplona, 1005 
Edifício Ruth Cardoso. Jd. Paulista
São Paulo(SP) CEP: 01405-001
Tel.: (11) 3372-4300
www.alfasol.org.br
imprensa@alfasol.org.br
A revista Escrevendo Juntos é produzida 
pela AlfaSol (Alfabetização Solidária), 
uma organização da sociedade civil, 
sem fins lucrativos, fundada em 1996 
com a missão de disseminar e fortalecer 
o desenvolvimento social por meio 
de práticas educativas sustentáveis. 
Esta publicação é dirigida a empresas 
privadas, instituições governamentais 
e não-governamentais, instituições de 
ensino superior, municípios, bem como 
governos estaduais e federal, além de 
cidadãos de diversos setores 
da sociedade civil.
NÃO
SIM
91%
9%
escrevendo juntos 5
sumárioA Escrevendo Juntos nomeou 
suas seções com obras de grandes 
escritores brasileiros. Neste número, 
com a seção Todos os Nomes 
homenageamos o português 
José Saramago, Prêmio Nobel de 
Literatura de 1998, falecido em 
junho de 2010. Veja, a seguir, a 
relação de obras, seus autores e o 
ano de sua publicação.
A palavra escrita: Paulo Mendes 
Campos, 1951 | Correspondência: 
Machado de Assis, 1932 | Porta 
giratória: Mario Quintana, 1988 
| Estas estórias: Guimarães Rosa, 
1969 (obra póstuma) | Caderneta 
de campo: Euclides da Cunha, 1975 
(obra póstuma) | Bagagem: Adélia 
Prado, 1976 | O caderno H: Mario 
Quintana, 1973 | Caminho das 
pedras: Rachel de Queiroz, 1937
 | O avesso das coisas: Carlos 
Drummond de Andrade, 1987 
| Noções de coisas: Ziraldo e 
Darcy Ribeiro, 1995 | Todos os 
Nomes: José Saramago, 1997 | 
Ave, palavra: Guimarães Rosa, 
1970 (obra póstuma) | Versos e 
versões: Raimundo Correa, 1887 | 
Alumbramentos: Manuel Bandeira, 
1960 | Linhas tortas: Graciliano 
Ramos, 1962 (obra póstuma) | 
A descoberta do mundo: Clarice 
Lispector, 1984 | É isso ali: José Paulo 
Paes, 2005 | Lição de coisas: Carlos 
Drummond de Andrade, 1964 | 
Páginas escolhidas: Machado de 
Assis, 1921 | Alfarrábios: José 
de Alencar, 1873.
Estas estórias 4
Acontece na educação 
Caderneta de campo 7
Acontece na AlfaSol
Bagagem 14
EJA: o que é isso?
O caderno H 16
Matéria de capa: Outra economia é possível
Caminho das pedras 25
Educação e desenvolvimento local | por Ladislau Dowbor
O avesso das coisas 27
Arte de rua, educação e protesto
Noções de coisas 35
Projetos País afora
Todos os nomes 40
 por Arnaldo Antunes
Ave, Palavra 41
Você fala internetês?
Versos e versões 44
Educação de Jovens e Adultos no Brasil: 
conquistas e controvérsias | por Eliane Ribeiro Andrade
Alumbramentos 46
Um país marcado pela cultura do povo | sobre Ricardo Azevedo
Linhas tortas 51
O esporte como multiplicador da paz | por Bernardinho
A descoberta do mundo 54
UniSol em ação
É isso ali 58
Histórias
Lição das coisas 61
Cereja na prática
Páginas escolhidas 64
Lançamentos do mercado editorial
Alfarrábios 66
O livro que marcou a minha vida 
Parceiros 67
escrevendo juntos6
SMS: uma 
questão de 
linguagem?
Um estudo publicado 
pela British Academy 
afirma que crianças que 
usam mensagens de 
texto SMS em celulares 
leem e falam melhor do que as demais. 
A pesquisa, conduzida com um grupo de crianças 
entre oito e 12 anos, concluiu que os usuários 
mais regulares de SMS eram os que tinham menos 
problemas em ler e falar em sala de aula. 
No entanto, os pesquisadores não conseguiram 
detectar qualquer sinal de que a linguagem utilizada 
nas mensagens tem efeito na habilidade de escrever 
dentro das normas corretas da língua inglesa.
Estas estórias
Fo
to
: J
. M
ar
co
ni
Baixa qualidade da educação 
Segundo o Relatório de Monitoramento de Educação 
para Todos de 2010, produzido pela Unesco, os índices 
de repetência e abandono da escola no Brasil são os mais 
elevados da América Latina.
Apesar da melhora apresentada entre 1999 e 2007, 
cerca de 13,8% dos brasileiros largam os estudos no 
primeiro ano no ensino básico. Neste ponto, o país só fica 
à frente da Nicarágua (26,2%) e, mais uma vez, bem 
acima da média mundial (2,2%).
Políticas públicas 
para a juventude
Apesar de demonstrar uma série de 
êxitos para esse segmento, a real inserção 
dos jovens nas políticas públicas é algo 
muito recente – do final dos anos 1990. 
O Brasil possui hoje uma população 
de 50 milhões de jovens, dos quais 31% 
podem ser considerados pobres e apenas 
13% têm acesso ao ensino superior. 
Segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa 
Econômica Aplicada (IPEA), tais números 
são resultado da carência de recursos para 
qualificar e ampliar processos de gestão.
Para Márcio Pochmann, presidente do 
IPEA, falta coordenação e articulação dentre 
as diversas esferas – federal, municipal e 
estadual – na proposição e implementação 
das políticas públicas voltadas para a 
infância e juventude. 
Acontece na Educação
escrevendo juntos 7
Estas estórias
Brás Cubas no Carandiru
A antiga detenção da cidade de São Paulo, agora Parque da 
Juventude, é o mais novo lar de Dona Flor, Capitu, Miguilim e, 
até mesmo, de João Grilo – personagens da literatura brasileira. 
Eles assumem seus lugares nas estantes da recém-inaugurada 
Biblioteca de São Paulo.
Com um acervo inicial reduzido – 30 mil volumes –, o novo espaço 
parece que foi concebido menos para atender à demanda de estudo 
e pesquisa e mais como isca para a leitura. Best-sellers, lançamentos, 
revistas, ambiente arejado, pufes coloridos, atrações para crianças, 
acessibilidade, bibliotecários-vendedores. Uma mega loja de livros 
gratuitos – um lugar onde Camões conversará com Dan Brown, e 
Marília de Dirceu disputará atenção com a enigmática Monalisa do 
Código da Vinci. 
Banda larga em 92% das escolas brasileiras até 2010
O Ministério da Educação fechou acordo com as operadoras de 
banda larga para informatizar e incentivar a cultura digital nas escolas. 
Segundo o secretário de Educação à Distância do MEC, Carlos 
Bielshowsky, até o final deste ano 92% das escolas brasileiras 
terão acesso à internet. Isso significa a inclusão digital de cerca de 
35 milhões de estudantes e a possibilidade de novas estratégias 
pedagógicas com o uso de conteúdos digitais na sala de aula.
O governo também promoveu a capacitação de professores na 
área de tecnologia durante a Conferência Internacional – O Impacto 
das Tecnologias da Informação e da Comunicação na Educação.
Brasil sem 
analfabetismo e 
desmatamento 
até 2022?
Os dois objetivos fazem 
parte do plano de metas 
setoriais para 2022 (Plano 
Brasil 2022), ano em que o país 
comemora o bicentenário de 
sua independência. 
O ministro de Assuntos 
Estratégicos, Samuel Pinheiro 
Guimarães, explica que as 
metas foram traçadas tendo 
em vista o alto crescimento 
anual do Brasil (6 a 6,5%). Além 
disso, o governo conta com 
as perspectivas geradas pelas 
reservas do pré-sal.
Após a fase de elaboração, 
as metas serão avaliadas por 
especialistas e pela sociedade. 
O plano Brasil 2022 foi 
entregue ao presidente Lula 
no dia 30 de junho.
O que séries como Lost têm a ver com 
as salas de aula
Ética com Dr. House? Sociologia à base de The Wire? Metafísica 
inspirada em Lost? 
A ficção invadiu as universidades mais prestigiadas da Espanha e 
EUA. Professores e alunos encantam-se com a ideia de ter Platão lado 
a lado com David Simon – criador de The Wire. 
Para os professores, recorrer às séries é uma forma de se 
aproximar da realidade dos alunos. Se a realidade mudou, o ensino 
também deve mudar. 
escrevendo juntos8
Estas estórias
 Livros didáticos digitais 
 Após o lançamento do iPad, a discussão em torno do e-book 
novamente alvoroçou os ânimos. Os mais românticos veem 
a evolução do livro digital como a morte do livro impresso. Já 
os fissurados por tecnologia e os visionários veem como uma 
oportunidade para ingressar no filme “De volta para o futuro”.
Agora, o mercado editorial do e-book pode invadir o 
cenário da educação. Uma pesquisa revelou que, até 2014, 20% 
dos livros didáticos serão digitais. Mas, por enquanto, essa será 
uma realidade somente nos EUA. No Brasil, as escolas ainda 
esperam pelo acesso à internet. 
Pobres usam mais a internet 
para estudar doque os ricos
Em levantamento sobre o perfil do usuário da web 
feito pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da 
Informação e da Comunicação (CETIC.br), chama a 
atenção o fato de que as classes que mais utilizam a 
rede para fins educacionais são a D e E.
Dentre os mais pobres, 72% dos usuários da internet 
a utilizam para a educação própria. Dentre os mais 
ricos, esse percentual chega a 68%.
Acesso de indígenas à universidade ainda é pequeno
A discussão sobre cotas nas universidades brasileiras ainda é tabu. Mesmo com a evolução das 
ações afirmativas e acordos entre Funai e Instituições do Ensino Superior, integrantes de povos 
indígenas não conseguem ingressar na graduação. 
Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 
(Inep), do Ministério da Educação, de um total de 2.985.137 vagas oferecidas pelas 2.252 
instituições brasileiras, 1.093 foram destinadas a índios, o que representa somente 0,03% do 
total. O estudo ainda aponta que dos 1.713 inscritos nessas vagas, apenas 282 conseguiram de 
fato ingressar no ensino superior.
Fo
to
: A
gê
nc
ia
 A
cr
e
escrevendo juntos 9
Caderneta de campo
Fo
to
: A
rq
ui
vo
 A
lfa
So
l
futuro de Inhapi estava fadado 
ao insucesso devido à falta de 
letramento de seus habitantes. O 
trabalho conjunto desenvolvido 
entre a AlfaSol e a Universidade 
Estadual de Campinas (Unicamp) 
proporcionou uma segunda 
chance à região, que teve a 
oportunidade de reescrever sua 
própria história.
A iniciativa chegou aos ouvidos 
da então professora do Instituto 
de Estudos da Linguagem (IEL), 
Sylvia Bueno Terzi. Ela, que viu 
o trabalho com a Educação 
de Jovens e Adultos (EJA) 
interrompido por conta do golpe 
militar de 1964, teve também sua 
chance de realizar um sonho com 
o trabalho que se iniciaria.
Sylvia passou, então, a 
coordenar as turmas de EJA em 
Inhapi e Olho d’Água do Casado. 
No início, com as capacitações 
realizadas na universidade, 
a professora conta que 
ficavam vinte dias com toda a 
infraestrutura da Universidade 
à disposição, realizando 
atividades e discutindo diversos 
temas – de planejamento 
piloto, iniciado em 1997, 
registrava índice de 60% de 
analfabetos dentre pessoas de 
15 a 19 anos. Naquela época, 
a cidade, com cerca de 16 mil 
habitantes, não possuía outros 
meios de comunicação, além 
da televisão e de um carro de 
som que circulava pela cidade 
anunciando os acontecimentos.
Hoje, 13 anos depois, 
engana-se quem pensa que o 
Sylvia Terzi e o verdadeiro 
significado da cidadania
Priscila Pires
Inhapi, pequena cidade do sertão 
alagoano, a cerca de 300 quilômetros de 
Maceió e um dos primeiros municípios 
atendidos pela AlfaSol ainda no projeto 
Ruth Cardoso e Sylvia Terzi em visita à Sala de Leitura Paulo Freire
escrevendo juntos10
Caderneta de campo
familiar a visitas a teatros e 
ao planetário. “Beto, um dos 
cinco filhos de uma família da 
região, tratava do gado e me 
disse que era feliz antes da 
Unicamp. No entanto, foi só 
depois daquela experiência que 
ele pôde perceber o quão maior 
era o mundo do que aquele 
que ele conhecia. Ele entrou na 
faculdade e cursou História. Foi 
discriminado, mas depois que 
participou dos primeiros grupos 
perceberam o valor que ele 
tinha. Os irmãos roceiros viram 
o sucesso dele e foram para a 
Universidade também. Exemplo 
de transformação da vida da 
família e da comunidade”, conta 
Sylvia sobre a história do aluno 
que já foi secretário de Educação 
de Olho d’Água do Casado, José 
Alberto Fernandes de Oliveira.
O atendimento, de acordo com 
a demanda de cada localidade, 
era minuciosamente estruturado 
por Sylvia e sua equipe em um 
mapa, no qual eram demarcados 
os lugares a serem trabalhados 
com a visita da coordenadora 
de porta em porta. Logo, Sylvia 
conseguiu um aparelho de fax 
para cada município e passou 
a enviar matérias de jornais de 
outras localidades para serem 
trabalhadas em sala de aula. “Não 
havia nada na cidade, nenhum 
jornal. Não circulava nenhum 
material de comunicação. As aulas 
eram iniciadas com textos de 
jornal e dados da vida real, como a 
certidão de nascimento, uma conta 
de água, poemas, crônicas. Tudo 
começando pelo uso frequente 
na cidade – ônibus, placas 
indicadoras –, mas sempre 
indo além e falando de problemas 
da própria região. Também 
disponibilizávamos revistas 
e material para que os outros 
se familiarizassem com o uso 
da língua.” 
O trabalho deu tão certo que 
um jornal-mural foi montado. As 
notícias de outras cidades eram 
afixadas em um ponto de grande 
circulação da cidade. “Até nos 
mandaram retirar o material certa 
vez, mas o interesse pela leitura 
era tanto que muitas pessoas se 
aglomeravam em torno, insistindo 
para ler. O que já havia sido 
publicado era público e ficava lá, à 
disposição.” 
Trabalho de formiga
Em 1998, com a doação de 119 
livros e 30 revistas, nova demanda 
surgiu na localidade: era preciso 
um espaço de convivência e 
multiplicação que abrigasse o 
material. Uma das coordenadoras 
integrantes da equipe, Odaléia 
Daniel de Souza, não pensou 
duas vezes: comprou um terreno 
com dinheiro do próprio bolso, 
e a construção da Sala de Leitura 
Paulo Freire começou. “Odaléia era 
ótima e nós tínhamos o mesmo 
método de trabalho. Conseguimos 
Acesso a informações e discussão de temas 
em sala de aula
Fo
to
s:
 S
yl
vi
a 
Te
rz
i
Em Inhapi, as informações passaram a ser 
transmitidas por meio de um jornal-mural 
Disseminação de informações e estímulo à 
leitura espontânea
escrevendo juntos 11
Caderneta de campo
o avanço dos alunos, e o grupo 
criou respeito e confiança 
mútua”, enfatiza Sylvia, ao 
recordar-se da companheira de 
trabalho já falecida.
A sala de leitura, hoje com 
oito mil títulos catalogados, 
segue mantida pela comunidade, 
que leva livros, receitas, gibis. 
O espaço também abriga 
grupos de jovens da cidade que 
discutem sobre justiça e demais 
assuntos ligados à comunidade, 
como as enchentes que 
ocorreram em Alagoas em junho 
de 2010, fazendo reflexões sobre 
a importância da prevenção e 
sobre as causas do desastre. 
“Não havia problemas, 
eram desafios”
A transformação social nos 
municípios alagoanos mostra 
a força do trabalho realizado. 
Uma pesquisa da equipe de 
coordenadores com cerca de 
84 alunos de Inhapi relatou 
que as expectativas iniciais se 
limitavam a conseguir identificar 
o letreiro de um ônibus ou uma 
placa de sinalização. No final, 
ficou evidente que ao desejo de 
saber ler as coisas simples do dia 
a dia somava-se a ambição de 
tornar-se cidadão, reconhecido 
e, sobretudo, ouvido. “O 
comentário geral era de que 
agora ninguém andava mais pela 
cabeça dos outros. Eles queriam 
a valorização do indivíduo, e 
quase 30% dos entrevistados 
deixavam claro que queriam ser 
respeitados e bem informados”, 
afirma Sylvia.
Segundo levantamento 
recente feito em Inhapi, não há 
analfabetos na cidade. Desde 
o início, o estímulo para a 
continuidade dos estudos fez 
com que 51 ex-alfabetizadores se 
Fo
to
: A
rq
ui
vo
 A
lfa
So
l
Sala de Leitura Paulo Freire: espaço de convivência e multiplicação da leitura
graduassem. “Inhapi agora tem 
faculdade, e há mais 30 alunos 
na graduação. Vários 
participantes conseguiram o 
1° lugar em concursos públicos 
e outros trabalham em grandes 
projetos sociais – resultado do 
empreendimento surgido por 
meio daquele que realizamos 
conjuntamente com a AlfaSol.” 
Aos 70 anos e prestes a 
se aposentar, a doutora em 
Linguística Aplicada despede-
se de suas funções como 
coordenadora do programa nos 
municípios de Alagoas. “Foram 
14 anos de muita empolgação 
e prazer. Não havia problemas, 
eram desafios que enfrentamos 
com confiança, colaboração e 
respeito mútuo. 
Nunca pensei que fosse 
conseguir tudo isso, todos 
trabalhando pela mesma coisa: 
educar o povo para transformar a 
vida, a sociedade. A AlfaSol foi e 
continuará sendo parte da minha 
vida. Foi a personificação do meu 
sonho de alfabetizar.”
A AlfaSol, dandovoz 
aos envolvidos direta e 
indiretamente no trabalho 
levado adiante pela professora 
Sylvia Terzi e sua equipe, presta 
homenagem a um exemplo 
de educadora que dedicou 
grande parte de sua vida ao 
sonho possível de alfabetizar, 
que transformou a realidade de 
milhares de pessoas.
escrevendo juntos12
Caderneta de campo
Políticas e oportunidades
EJA no Brasil. 
“Finalmente a EJA entrou no 
campo da disputa! Mas ainda 
estamos comendo pelas bordas. 
Continuamos simbólica, objetiva 
e materialmente em condição 
marginal.” A fala da Profa. Dra. da 
Faculdade de Educação da UERJ 
e da Pós‐Graduação da UNIRIO, 
Eliane Ribeiro Andrade, resumiu 
o debate do terceiro seminário 
promovido pelo Centro, “EJA: 
nas bordas da educação?”, 
no dia 26 de maio de 2010. A 
mesa foi composta ainda pelo 
expositor André Lázaro e por 
Sandra Helena Ataíde de Lima, 
sob mediação de Salete 
Valesan Camba.
André Lázaro, secretário 
de Educação Continuada, 
Alfabetização e Diversidade 
do Ministério da Educação 
(SECAD/MEC), explicou que 
o reconhecimento do direito 
educativo dos jovens e adultos, 
aliado à mobilização social 
(sobretudo na área rural), 
foi importante indutor na 
promoção e implementação de 
políticas públicas resultantes 
da demanda histórica de EJA. 
Lázaro disse ainda que houve 
grande investimento no setor da 
educação de jovens e adultos. 
Já Eliane Ribeiro Andrade, 
pesquisadora com larga 
experiência nas áreas de EJA, 
Com o auditório lotado, o Centro Ruth 
Cardoso, em conjunto com a AlfaSol, trouxe 
à tona reflexões e experiências sobre os 
principais desafios das políticas públicas de 
Segundo o secretário André Lázaro, 
R$ 6 bilhões foram destinados à EJA em 2009
Fo
to
s:
 C
ar
ol
in
a 
G
ut
ie
rr
ez
escrevendo juntos 13
Caderneta de campo
juventude e avaliação – tendo 
realizado, dentre outros estudos 
relevantes, a avaliação  do 
Programa Brasil Alfabetizado –, 
trouxe para o debate a 
importância de uma visão mais 
ampliada de direitos. “Devemos 
entender a alfabetização como um 
bem para todos. Desenvolvemos 
o assunto apenas como um bem 
para o indivíduo e não para a 
sociedade”, declarou. Da mesma 
forma, Eliane foi enfática ao dizer 
que a EJA deve ser trabalhada 
e vista como parte integrante e 
intrínseca ao sistema educacional. 
Todas as reflexões expostas 
durante o seminário foram 
complementadas pela experiência 
da distante cidade de Moju (PA). 
A secretária de Educação do 
município, Sandra Helena Ataíde 
de Lima, contou que nas escolas – 
que se estendem ao longo do rio 
de mesmo nome – existem 3.500 
alunos de EJA. 
Em 1991, após grande luta pelo 
direito à educação e mobilização 
local, a comunidade conseguiu 
implementar a primeira escola 
de 1º e 2º graus. As conquistas 
aumentaram ao longo dos 
anos: instalação de um campus 
da Universidade Estadual do 
Pará; políticas de educação no 
campo junto às comunidades 
quilombolas, ribeirinhas e 
indígenas; sete escolas no campo 
com séries finais do fundamental; 
valorização e formação dos 
professores e plano de carreira; 
EAD (educação à distância) pela 
Universidade Aberta do Brasil; 
dentre outras.
A moderadora Salete Valesan 
Camba, diretora de Relações 
Institucionais do Instituto Paulo 
Freire, ponderou que, assim 
como em Moju, as políticas de 
EJA devem ser transformadas em 
verbo, em ação.
Segundo a secretária de educação Sandra 
Helena de Lima, o município de Moju 
demonstrou grandes avanços nas políticas 
públicas de EJA
A eficiência das práticas pedagógicas foi 
rediscutida pela mesa debatedora
(da esq. para a dir: Eliane Ribeiro Andrade, André 
Lázaro, Salete Camba e Sandra Helena Ataíde)
Leia matéria completa no site http://www.
alfasol.org.br/site/noticia.asp?id=784
escrevendo juntos14
Caderneta de campo
Da Araraquara dos anos 1930 ao Brasil de muitas datas, os tempos 
que cercaram o regime militar, o exílio, a vida em Brasília durante os 
oito anos do governo FHC. Estes são apenas alguns dos cenários que 
compõem a biografia que relata a vida e a obra acadêmica e social da 
antropóloga Ruth Cardoso.
Escrito pela socióloga e ex-aluna, Margarida Cintra Gordinho, 
Livro de Ruth retrata a infância e a juventude, a vida acadêmica e 
a militância social, a criação e o desenvolvimento da Comunidade 
Solidária e seus programas, hoje reunidos na RedeSol, a partir de 
depoimentos de amigos, companheiros de profissão e personalidades 
da vida pública que conviveram com ela.
Livro de Ruth pode ser adquirido no site http://www.cereja.org.br/
livroderuth/, com renda revertida para o Centro Ruth Cardoso, que 
tem como missão preservar a memória e a obra acadêmica e social da 
antropóloga, assim como disseminar conhecimento nas áreas ligadas 
às políticas sociais e às ciências humanas.
Ruth Cardoso em livro
Livro de Ruth
Margarida Cintra Gordinho
Co-edição: Fecap e Imprensa Oficial
(IMESP)
256 pp.
1ª edição – 2009
Compras pelo site: 
http://www.cereja.org.br/livroderuth/
Conte sua história!
Pesquisadores, agentes sociais e profissionais da área de 
educação, Educação de Jovens e Adultos (EJA), cultura e direitos 
humanos, poderão relatar suas experiências em um ambiente 
online. Isto porque está em andamento um espaço no qual 
poderão ser compartilhados conhecimentos adquiridos por meio 
da vivência com a EJA. 
Organizado pelo Centro de Referência em Educação de Jovens 
e Adultos (Cereja), da AlfaSol, o projeto Histórias de EJA visa 
resgatar, sistematizar, preservar, valorizar e disseminar informações 
e experiências em EJA, criando um ponto de encontro para trocas e 
colaboração sobre assuntos ligados ao tema.
O projeto tem abrangência nacional e internacional. Acesse o 
site do Cereja e acompanhe o desenvolvimento do projeto!
escrevendo juntos 15
Caderneta de campo
consequentemente, a divulgação do 
trabalho das Instituições de Ensino 
Superior (IES) parceiras e dos municípios 
no empenho para reduzir os índices de 
analfabetismo do Brasil. 
Neste ano, o concurso, coordenado 
e editado pelo Centro de Referência 
em Educação de Jovens e Adultos 
(Cereja), da AlfaSol, será destinado 
aos alfabetizandos e alfabetizadores, 
coordenadores de grupo e coordenadores 
de polo, e realizado em parceria com o 
governo do Distrito Federal, pelo projeto 
AbcDF, desde 2007. 
 Com o tema “Minha vida em Brasília”, o 
concurso busca fazer uma homenagem aos 
50 anos da Capital Federal, incentivando 
a produção textual dos alfabetizandos 
envolvidos no projeto com experiências 
sobre a vivência na localidade.
Para a coordenadora do Departamento 
de Formação e Acompanhamento 
Pedagógico da AlfaSol em Brasília, 
Clélia Rabelo de Oliveira, trata-se de 
uma oportunidade para a reflexão de 
cada morador sobre o sentimento de 
pertencimento àquela cidade. Uma das 
responsáveis pela seleção das redações, 
Clélia descreve o trabalho como 
emocionante e envolvente. “Nasci em 
Brasília, por isso me aproximo mais ainda 
com cada relato, cada descrição feita.” 
Após o término do concurso, as 
melhores redações são compiladas e 
transformadas em um livro, publicado 
pela AlfaSol. Além de visibilizar as 
produções textuais dos participantes do 
projeto, o livro revela histórias curiosas. 
Maria do Socorro Ramalho, por 
exemplo, nasceu na Paraíba, mas atua 
como alfabetizadora desde 2004, em 
Recanto das Emas (DF). No ano passado, 
em contato com o material produzido 
pela AlfaSol resultante do Concurso de 
Redação de 2001, Socorro encontrou o 
nome de um primo de seu marido em 
uma das redações participantes. Não 
teve dúvidas: fez uma cópia e guardou 
o material para mostrá-lo ao autor em 
viagem feita à terra natal no início deste 
ano. “Entreguei o texto e ele sequer 
lembrava que havia produzido aquele 
material. Ele se achou super importante 
e ficou surpreso por ver seu texto no 
livro”, relata a alfabetizadora.
As redações são escolhidas por 
uma Comissão Nacional composta 
por educadores, empresários, 
representantes de instituições 
educacionais, artistas solidários e 
também porum júri popular. As 
produções vencedoras e os melhores 
textos inscritos são impressos e 
distribuídos aos parceiros da AlfaSol.
Minha vida em Brasília
Realizado pela AlfaSol, o 
Concurso de Redação visa 
incentivar a produção escrita 
dos alunos e alfabetizadores e, 
escrevendo juntos16
Bagagem
Minha mãe queria que eu 
estudasse, mas meu pai – de jeito 
nenhum! Ele achava que eu tinha 
que ficar na fazenda. Acabei 
que fiz da 1ª à 4ª série lá. Mas eu 
sempre quis mais! Dizia: “Eu não 
quero ficar aqui. Eu quero viver! 
Eu quero ganhar o mundo! Eu 
quero conhecer, estudar!”
Foi então que vim para 
Marabá (PA). Passei um tempo 
aqui, depois voltei para 
Araguaína, fui para Goiânia, e 
assim foi. Passei um tempão 
na casa de um e de outro 
para estudar e, graças a Deus, 
consegui!
O interessante é que eu 
tinha dupla jornada. Durante o 
dia, trabalhava numa franquia 
de roupas e, à noite, estudava. 
Naquela ocasião, um professor 
meu de português falou assim: 
“Dheime, você vai conseguir 
passar no vestibular ainda no 
EJA: o que é isso?
Meu nome é Dheime da Silva 
Tadei. Nasci em Araguaína, em 
Tocantins, de onde é toda minha 
família. Vim para o Pará ainda 
pequena. Morava na fazenda. 
Estudava lá também. Essa parte 
da minha história não é muito 
diferente da realidade dos nossos 
alunos hoje...
Ensino Médio.” Aquilo foi uma 
injeção de ânimo. Pensava: 
“Olha, ele falou!” Nunca mais 
esqueci isso. Depois daquelas 
palavras, eu falava para mim 
mesma que iria estudar e passar! 
E quando terminei meu Ensino 
Médio automaticamente passei 
no vestibular. Nem fiz cursinho 
nem nada... 
Meu primeiro grande sonho 
era fazer Veterinária. Depois 
pensei em fazer Medicina, mas 
estava muito longe da minha 
realidade. Meus pais não tinham 
condições de pagar o curso e 
seria mais difícil de passar – 
teria que estudar mais um ou 
dois anos. Mas não desisti de 
estudar! Tanto que cursei mais 
de uma faculdade, Pedagogia e 
Administração Pública.
Passei em Pedagogia lá na 
Universidade Estadual do Pará 
(UEPA). Na mesma época, resolvi 
fazer Administração Pública, 
numa faculdade particular 
mesmo. Terminei pedagogia 
primeiro, mas não atuei em 
nenhum momento. Fiz somente 
o estágio; foi o suficiente para 
ficar estarrecida com o que vi. 
Eram salas de aula quentes, sem 
ventilação, sem nada... Os alunos 
A parceria da Fundação 
Vale com a AlfaSol já atendeu 
11.226 alunos em projetos de 
alfabetização e TeleSol, em 
Marabá (PA), de 2003 a 2008.
De aluna a professora, 
Dheime percorreu um longo 
caminho até a sala de aula. 
Hoje, leciona para uma turma 
de EJA na cidade. 
Fo
to
: G
ilb
er
to
 Jr
.
A alfabetizadora Dheime da Silva Tadei
escrevendo juntos 17
Bagagem
iam ao banheiro lavar a blusinha 
para poder vestir. E eu pensava: 
“Meu Deus, que realidade é essa? 
Será que é isso que eu quero 
para mim? Eu vou dar aula?” 
Decidi que aquilo não era o que 
eu queria. Pensava: “Estou muito 
bem aqui! Trabalho até 2 da 
tarde, depois pego meu projeto 
e levo para casa, tenho um leque 
de amizades legal – prefeitos, 
secretários, vereadores.”
Mas, minha vida mudou 
demais! Dois anos atrás tive 
uma perda muito grande. 
Meu namorado faleceu num 
acidente de carro. Eram sete anos 
juntos, estava sozinha, minha 
família não mora aqui e fiquei 
desesperada. Trabalhava até as 
18 horas, mas precisava ocupar 
mais meu tempo, fazer alguma 
coisa! Foi nesse momento crucial 
que pensei em ir para a área da 
Educação. Não sabia se daria 
conta, mas mesmo com tantas 
dúvidas, decidi arriscar. Fui até a 
Secretaria Municipal de Educação, 
fiz entrevistas, levei meu currículo, 
e eles disseram que dava. E fui 
para o Ida Valmon, que é a escola 
onde estou até hoje. Quando 
cheguei aqui me disseram que 
iria trabalhar com a Educação de 
Jovens e Adultos (EJA). E eu nem 
sabia o que era isso! 
Nas histórias da EJA
Na primeira semana de aula 
pensei que não fosse dar conta, 
porque na minha mente era 
tudo uma bagunça. Depois de 
uma semana fui me atentando à 
realidade de cada um e vi que eu 
tinha muito para contribuir aqui. 
O tempo foi passando, decidi 
ficar e fui me apaixonando!
Depois fiz a formação da 
AlfaSol, que foi surpreendente! 
Passamos uma semana em Canaã 
dos Carajás, onde conheci outras 
pessoas e outras realidades. 
Voltei de lá realizada, com um 
monte de ideias. Veio um rapaz 
de São Paulo, o William, e ele fez 
o treinamento de uma semana. 
Como estávamos hospedados 
no mesmo hotel, foi possível 
trocar muito. Foi maravilhoso! 
Todo mundo ficou encantado 
pelo conteúdo que ele passava, 
pela forma, pelos vídeos, foi 
muito bom! Ele trouxe um 
pouco do material, mostrou 
os vídeos, e como isso facilita 
muito com relação à educação 
de jovens e adultos. Não adianta 
você pegar um livro e dizer que 
vai estudar isso e aquilo como 
em outras turmas. Depois do 
curso a gente fazia um happy 
hour, os professores mesmos 
contavam suas realidades e eu 
ficava cada vez mais espantada e 
apaixonada! Agora posso afirmar 
sem nenhuma dúvida que não 
quero sair da EJA, não!
Trabalhar com a 
EJA é muito bom! É 
uma lição de vida 
muito gratificante, 
porque são pessoas 
que têm uma 
perspectiva de vida 
muito mesclada, e 
você como professor 
pode falar para 
essas pessoas que 
elas podem mais. 
A melhor parte é 
saber que você está 
contribuindo para a 
formação de alguém. 
Isso é muito bom!
Baseado em entrevista realizada por 
Marcela Boni Evangelista
escrevendo juntos18
O Caderno H
intencionalidades. 
A sustentabilidade, na 
maioria das vezes associada 
somente à temática ambiental, 
envolve diversos aspectos: 
sociais, econômicos, culturais. 
Abarca a preocupação ecológica, 
ações ligadas à reciclagem, 
fontes alternativas de energia, 
consumo responsável, 
eliminação de desperdício. 
Porém, está intrinsecamente 
ligada à sustentabilidade social e 
econômica. É possível vislumbrar 
outra economia?
Uma nova economia 
consiste em mudança de 
comportamento e na adoção de 
valores socioambientais. Não se 
pode falar de sustentabilidade, 
se esta estiver calcada à ordem 
de um mundo excludente. 
Significa gerir, produzir, 
comercializar e consumir 
Outra economia 
é possível 
com critérios éticos. Significa 
uma mudança estrutural da 
sociedade. Afinal, propõe-se a 
sustentabilidade de quem?
Para se ter ideia, a economia 
mundial é organizada em torno 
de 1/3 da população, o que 
significa que cerca de quatro 
bilhões de pessoas se encontram 
fora do sistema. Dessa forma, 
torna-se incoerente a defesa 
simplista da sustentabilidade em 
uma sociedade cada vez mais 
insustentável. 
Para Ignacy Sachs, 
socioeconomista e co-diretor 
do Centro de Pesquisas sobre o 
Brasil Contemporâneo na École 
de Hautes Études en Sciences 
Sociales (Paris), por trás da 
mudança climática existe um 
problema social gravíssimo. “As 
primeiras vítimas das catástrofes 
ambientais serão, por exemplo, 
agricultores de Bangladesh, ou 
habitantes de países insulares. 
Os holandeses construíram 
seus diques e vão poder 
aumentá-los, se necessário. 
Muito se fala, mas pouco se reflete 
sobre sustentabilidade. Como todo 
conceito guarda-chuva, o termo 
revela-se abstrato, passível de ser 
apropriado por distintas acepções e 
Carolina Gutierrez
escrevendo juntos 19
O Caderno H
Mas em Bangladesh, será difícil. 
Transformar as populações em 
refugiados climáticos será um 
enorme drama. Não é só um 
problema ambiental, traz no seu 
bojo um gigantesco problema 
social”, explica.
Sachs argumenta que a 
centralidade do debate sobre 
sustentabilidade deve recair 
sobre os desafios reais do 
planeta: o drama ambiental 
e a desigualdade. “Por mais 
importante que o debate sobre 
meio ambiente seja, não nos 
deixemos encurralar na tese de 
que ele é a bola da vez e, devido 
à importância do problema 
ambiental, o social deve ser 
varrido para baixo do tapete.”
Os dois temas – ambiental e 
social – devem ser levados lado a 
lado. O debate deve configurar-
se de forma simétrica.Além da 
discussão sobre, por exemplo, 
biocapacidade, a introdução 
da problemática do trabalho, 
das disparidades de renda e 
da dignidade do trabalhador 
torna-se uma das estratégias 
alternativas fundamentais. 
“Podemos afirmar com 
segurança que os dois grandes 
problemas climáticos são 
devastação ambiental e déficit 
social – que criamos ao redor dos 
séculos, mas aprofundamos nas 
últimas décadas. Geramos um 
mundo pontilhado de injustiças 
sociais e com enorme déficit 
de oportunidades de trabalho 
decente”, defende Sachs.
Para o sociólogo e educador 
Michelangelo Torres, em 
vez de aderir e reproduzir 
o status quo da ordem 
vigente, é necessário atingi-la 
criticamente, desvelando as 
restrições materiais e sociais 
da estrutura capitalista. Dessa 
forma, qualquer proposta de 
sustentabilidade que expresse 
as múltiplas determinações da 
realidade deve perpassar a busca 
da superação da desigualdade 
estrutural. “Se fizermos uma 
aposta no desenvolvimento 
sustentável do futuro, o que 
importa é a indagação acerca 
do tipo de sustentabilidade 
que queremos para o planeta. 
Esse é o tipo de desafio que 
precisamos enfrentar, a menos 
que estejamos dispostos a 
sustentar de modo resignado 
a realidade opressora. Ou o 
que talvez seja inevitável, 
caso persista o curso do atual 
estágio de desenvolvimento da 
sociedade: a catástrofe ecológica 
e a destruição humana.”
Ignacy Sachs durante debate 
promovido pelo Instituto 
Envolverde, na PUC-SP
Fo
to
: 
Ca
ro
lin
a 
G
ut
ie
rr
ez
Dessa forma, para reverter as 
crescentes anomalias do sistema 
social, é imprescindível, antes de 
mais nada, dinamizar as atividades 
econômicas, assegurar a justiça 
social e reformular o cenário 
energético-produtivo com o 
mínimo de controle ambiental. 
escrevendo juntos20
O Caderno H
A construção de ações sustentáveis envolve uma diversidade de alianças. 
A sustentabilidade acaba sendo apropriada por forças ora conflitantes, ora 
convergentes. Em pouco tempo, tornou-se palavra mágica, pronunciada 
indistintamente por diferentes sujeitos, nos mais diversos contextos sociais e 
assumindo múltiplos sentidos.
Setor público, organizações não-governamentais e empresas privadas 
unem-se para o debate sobre o investimento social. A dimensão da 
sustentabilidade deixa de ser complemento e assume papel de diretriz frente 
a processos econômicos e de transformação da sociedade.
No rastro das novas demandas e crescimento da pressão por 
transparência na gestão dos negócios, os conceitos como responsabilidade 
social e ambiental surgem com força. Empresas e terceiro setor agarram-se às 
diretrizes por uma postura mais responsável em suas ações. Porém, muitos 
ainda confundem o conceito com filantropia. 
Nas últimas décadas, nota-se uma ampla associação de interesses das 
empresas e do terceiro setor ao conceito de sustentabilidade. O investimento 
no meio ambiente e na área social hoje é condicionante para as ações desses 
setores. Diversos relatórios e pesquisas foram então criados para avaliar e 
sinalizar as práticas, obrigatórias e voluntárias, realizadas pelas empresas na 
garantia de ações mais sustentáveis.
Dentro desta tendência destacamos o BISC (Benchmarking do 
Investimento Social Corporativo), ferramenta da Comunitas inspirada 
na experiência pioneira do CECP (Committee Encouraging Corporate 
Philanthropy), organização que reúne 170 das maiores empresas americanas 
e levanta dados sobre investimento social corporativo, além de promover 
discussão sobre avanços e estratégias por meio de fóruns de CEOs.
O BISC realiza anualmente o levantamento e análise de dados qualitativos 
e quantitativos sobre investimento social corporativo (ISC) das empresas 
parceiras: os dados são preenchidos no formulário online e geram relatórios 
individuais e benchmarking e de tendências do ISC no Brasil e no mundo 
(acesse: www.bisc.org.br).
Por uma gestão social
escrevendo juntos 21
O Caderno H
Um mundo de novas 
práticas e valores 
Com o padrão de produção 
e consumo em crise, relações 
sociais mais sustentáveis e 
democráticas começam a emergir. 
Há um deslocamento da 
competição para a colaboração. 
A visão de vantagem e sucesso 
pessoal, que resultou em 
impasses planetários, em 
uma guerra de todos contra 
todos, é colocada em xeque. 
Segundo Ladislau Dowbor, 
economista e consultor de 
diversas agências das Nações 
Unidas, se quisermos sobreviver, 
estamos condenados a 
desenvolver formas inteligentes 
de articulação e colaboração 
dentre os diversos atores que 
participam da construção social. 
“O deslocamento consiste 
na gradual substituição do 
paradigma da competição pelo 
da colaboração. Aprendemos 
que devemos vencer na vida. 
Mas vencer quem? Atualmente, 
em meio a sistemas interativos 
da sociedade da informação, 
é cada vez mais pernicioso 
vencer sozinho. Estamos 
evoluindo para a sociedade 
do conhecimento, na qual 
compartilhar se torna o sistema 
lógico”, argumenta Dowbor.
As economias de colaboração 
estão materializadas no capital 
social. Cada vez mais importante, 
tal conceito visa recuperar as 
raízes da economia, colocando-a 
a serviço das necessidades 
de todos – do ser humano 
e da natureza. 
Outra economia é possível, 
e outro mundo poderá ser 
construído somente se houver, 
de fato, uma transformação 
de valores e estruturas. É 
necessário tecer redes de 
desenvolvimento local, baseado 
em trocas solidárias, aliadas às 
práticas educativas e culturais. 
Milhares de iniciativas, como 
formiguinhas, já constroem 
alternativas. Surgem da 
necessidade de dar resposta 
à progressiva deterioração 
social, devido à crescente 
desumanização da economia, à 
destruição do meio ambiente, 
à piora da qualidade básica 
de saúde, educação e cultura, 
à pobreza, ao desemprego, à 
desigualdade social. 
A iniciativa social 
passa a ser primordial, em um 
contexto de combate e busca por 
novas formas de relacionamento 
pelo coletivo. 
A Associação Elementos da 
Natureza e o Azimuth Ponto 
de Cultura e Sustentabilidade, 
por exemplo, desenvolvem 
trabalhos de educação 
ambiental e social nas 
comunidades tradicionais 
do Arquipélago de Ilhabela. 
escrevendo juntos22
O Caderno H
Segundo Arturo Justicia, 
coordenador do Ponto 
de Cultura, as práticas 
sustentáveis promovidas nas 
comunidades caiçaras estão 
ancoradas em um processo 
de conscientização cidadã 
e colaboração. “Atualmente, 
trabalhamos com oficinas de 
produção de documentários e 
vídeos em formato digital. 
de tecnologias sustentáveis. 
Todo o trabalho é integrado a 
programas de geração de renda 
e fortalecimento local.
Diversas outras iniciativas, 
em todo o planeta, lutam pela 
transformação estrutural da 
sociedade. A construção de 
redes solidárias é crescente. 
Economia solidária, consumo 
ético, comércio justo, 
agricultura sustentável. Meios 
alternativos de comunicação 
e difusão de conhecimento. 
Cultura livre e solidária. 
Metarreciclagem de lixos 
eletrônicos. Desenvolvimento 
local. Formas de gerir economia 
e sociedade que contribuem 
para democratização, 
socialização e colaboração de 
um novo mundo possível. 
O projeto – Observatório do Arquipélago 
– é um programa de monitoramento 
socioambiental popular, no qual utilizamos 
a linguagem cinematográfica como meio 
de conscientização e difusão de valores por 
uma sociedade sustentável”, conta.
Além disso, a comunidade 
mantém fóruns permanentes 
de discussão sobre políticas 
públicas ambientais, 
focadas no cumprimento 
da Agenda 21, e iniciativas 
de educomunicação e uso 
Jovens participam do Programa 
Observatório do arquipélago, 
promovido pelo Azimuth Ponto de 
Cultura e Sustentabilidade
Fo
to
: 
A
zi
m
ut
h 
Po
nt
o 
de
 C
ul
tu
ra
 e
 S
us
te
nt
ab
ili
da
de
escrevendo juntos 23
O Caderno H
Educação para a 
sustentabilidade 
A educação tem um papel 
estratégico no tocante à 
sustentabilidade. Porém, muitas 
vezes práticas de educação 
ambiental não costumam ser 
valorizadas. A escola deve ser 
um espaço abertoa novas 
possibilidades e de sensibilização 
para questões éticas e solidárias, 
e não de práticas tecnicistas de 
valorização do mundo do mercado.
Utilização de dejetos como prática sustentável
Localizada em terras gaúchas, no município de Encantado, 
a comunidade de Linha de Azevedo promove uma iniciativa 
pioneira: transforma dejetos animais em renda e ainda reduz o 
impacto ambiental causado pelo processo envolvido na criação 
de aves e suínos. 
Com o apoio da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul 
(UERGS), em parceria com o Programa UniSol e o Banco Real- 
-Santander, grande parte das 50 famílias de agricultores da 
região (cerca de 170 pessoas) organizou-se e criou a Associação 
dos Produtores de Composto Orgânico da Linha Azevedo 
(APCOLA). 
O trabalho da Associação partiu de dois grandes problemas 
da região: poluição ambiental dos solos e evasão dos jovens 
da área rural em função da falta de renda e trabalho. Para minimizar e reverter os processos tanto 
ambientais quanto sociais, a comunidade passou por uma série de formações técnicas e estruturais.
Primeiramente, a equipe universitária promoveu uma capacitação em técnicas de compostagem, 
que consiste em controlar, com monitoramento da qualidade, a decomposição de materiais orgânicos 
e obter um produto rico em húmus e nutrientes minerais. Para promover o empoderamento de todo o 
processo de produção e venda do composto, a comunidade ainda passou por formações nas áreas de 
gerenciamento da associação, construção de unidades de beneficiamento e marketing.
Atualmente, a APCOLA, que já comercializou o primeiro lote do composto, gerando uma renda 
de R$ 228,00 por família – de um montante de R$ 4.200,00 –, vem articulando novas parcerias para 
ampliar a comercialização do composto. Além de minimizar os impactos ambientais, a promoção do 
desenvolvimento local se reflete em geração de renda.
Morador da comunidade de Linha de Azevedo 
com o composto orgânico produzido pela 
Associação APCOLA
Fo
to
: 
El
ia
ne
 M
ar
ia
 K
ol
ch
in
sk
 
A escola configura-se 
um importante agente de 
desenvolvimento local. 
O trabalho pedagógico pode 
iniciar experiências sustentáveis 
dentro das dependências 
escolares. Economia de energia, 
reciclagem, aproveitamento de 
recursos naturais são práticas 
que promovem valores éticos 
nos alunos. 
Para Ademar Bueno, professor 
de Responsabilidade Social da 
Faculdade Getúlio Vargas (FGV) 
e coordenador do Centro de 
Cooperação da FGV, não haverá 
um mundo mais sustentável que 
não se inicie com a educação 
para a sustentabilidade. “Fazer 
com que pessoas tenham 
consciência e tomem decisões 
sustentáveis é a premissa desse 
assunto. Não basta informar. 
Todos sabem que não se deve 
jogar lixo no chão. É preciso 
mudar comportamentos, 
escrevendo juntos24
O Caderno H
e para tanto é preciso mudar 
modelos mentais.”
O Centro de Cooperação 
da FGV, por exemplo, oferta 
atividades socioambientais 
na faculdade. Trabalha a 
promoção de educação para 
sustentabilidade, por meio 
de projetos que mostrem 
a união entre negócios e 
desenvolvimento sustentável. 
“O Trote da Cidadania, primeira 
iniciativa do Centro com os 
alunos da FGV, abre o caminho 
para essa visão. Por meio de 
ações práticas, colocamos 
nossos alunos em contato 
com realidades diferentes da 
imaginável em uma faculdade 
como essa.” Durante o trote, 
diversos calouros e veteranos 
fizeram, como garis, a varredura 
da Avenida Paulista, 
em São Paulo.
“É necessário arriscar, mudar 
modelos de aula e inovar, no 
sentido de trazer os alunos para 
a prática. A sustentabilidade 
não pode ser encarada como 
uma ciência que se ensina entre 
quatro paredes, mas um meio de 
conduta de um cidadão que tem 
uma preocupação sistêmica e 
social. E isso só se pode trabalhar 
por meio de atividades práticas”, 
completa Bueno.
Para Dalton Martins, da Escola 
do Futuro da Universidade de 
São Paulo (USP), a educação 
como defensora de uma enorme 
Calouros da FGV participam do Trote Sustentável
Fo
to
: 
Ad
em
ar
 B
ue
no
quantidade de verdades 
prontas jamais será sustentável. 
“Somente a educação como 
espaço de emergência, 
como espaço de escuta, conversa 
e relação permite que o outro 
surja como legítimo nas relações 
que construímos”, explica.
A escola relaciona-se com 
sustentabilidade quando 
é considerada um eixo 
dinamizador de práticas que 
conciliem o desenvolvimento 
econômico, a preservação 
do meio ambiente e justiça 
social. “A sala de aula deve 
ser usada como meio de 
convívio, relacionamento. 
Creio que se entendermos que 
sustentabilidade não está apenas 
escrevendo juntos 25
O Caderno H
Rumo à Rio +20 
O Brasil sediará, pela segunda vez, a Conferência das 
Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento. 
A primeira, Rio 92, ocorreu em 1992, na cidade do Rio de 
Janeiro. Vinte anos depois, a segunda, Rio +20, acontecerá 
em 2012, também na capital carioca. 
A Rio +20 será realizada justamente no ano em que 
terminam os compromissos ambientais dos países 
signatários do Protocolo de Quioto. Trata-se de uma 
reunião de cúpula mundial, na qual será avaliada a 
implementação das ações decorrentes dos comprometimentos assumidos pela comunidade 
internacional em relação ao assunto. Também serão discutidas as propostas na busca de um 
desenvolvimento sustentável e eliminação da pobreza para os próximos anos.
O encontro, proposto em setembro de 2007 pelo presidente Lula, tem por objetivo 
renovar o engajamento dos líderes mundiais com as alternativas às mudanças climáticas. 
A Rio +20 insere-se na longa tradição de reuniões anteriores da ONU sobre o tema, dentre 
as quais as Conferências de 1972 em Estocolmo, Suécia, e de 2002, em Joanesburgo.
É muito raro a ONU decidir que conferências desse porte sejam sediadas por um mesmo 
país mais de uma vez, o que mostra o prestígio atual e o peso político do Brasil. O País, 
como anfitrião, está diante de uma grande tarefa – pode e deve influenciar com propostas 
concretas, articuladas com os países emergentes. 
Para Ignacy Sachs, a conferência Rio 92 gerou documentos importantes como a Agenda 
21, mas estava na contramão da história. O Brasil passava pelo impeachment de Collor, o 
mundo enfrentava o auge da contrarreforma neoliberal, poucos anos depois da queda do 
muro de Berlim, em meio ao fim da União Soviética, com a agenda Thatcher-Reagan em 
alta. Deste ponto de vista, a conjuntura de 2012 é muito mais positiva. 
A preparação da Rio +20 deve ser meticulosamente alinhada com a participação da 
sociedade civil. Segundo Sachs, para que a conferência faça sentido, fóruns paralelos 
devem ocorrer antes do evento. “A sociedade civil organizada deveria promover os fóruns 
preparatórios antes, em meados de 2011, para que se possa encaminhar documentos 
para a conferências oficiais. Chegou o tempo em que não basta ter uma ou duas cadeiras 
em Davos. É preciso criar, aqui no Brasil, um lugar em que se pensa o mundo. Vocês têm 
um papel a desempenhar na política mundial. Uma das maneiras é gerar, junto ao BNDES, 
por exemplo, um fórum para preparar ideias que influenciem o que ocorrerá dentro da 
conferência”, propõe Sachs.
escrevendo juntos26
O Caderno H
relacionada a algo exterior a 
nós, como a floresta que fica na 
Amazônia, passamos a ver que o 
meio ambiente é a sala de aula, 
é o pátio do colégio, é o ônibus 
na rua, é a nossa casa. Abrir essa 
visão dentro da escola, abrir mão 
de ser um local que transmite 
verdades, para um local que 
cultiva um viver e conviver 
humano sustentável”, completa 
Martins.
compõe a grade das turmas de 6º 
a 9º anos, desde 2007. 
Distante da modernidade, o 
município elaborou pela educação 
planos de saneamento básico, 
geração de renda e melhoria 
de vida. 
Os saberes populares de 
Pintadas, vindo das famílias dos 
próprios estudantes, começam 
a ser respeitados. A disciplina 
representa o interesse coletivo e 
trabalha o desenvolvimento local 
sustentável. O conhecimento 
da localidade tornou-sematéria-prima para um ensino 
transformador, com participação 
popular. 
“A educação para 
sustentabilidade deve estar 
ligada à qualidade de vida e 
à redução da desigualdade. 
Deve-se adaptar currículos 
às necessidades locais, para 
a transformação real da 
comunidade”, diz Dowbor. 
O ensino para o 
desenvolvimento local e 
empoderamento: do mundo, 
da cultura, do local, de si – 
como uma reapropriação da 
própria sociedade.
A educação é interdisciplinar. 
O trabalho em conjunto entre 
redes e iniciativas comunitárias 
de educação formal e não-formal 
contribui para o desenvolvimento 
sustentável. 
O município de Pintadas, 
localizado na região do 
semiárido da Bahia, a 272 
quilômetros de Salvador, é 
reconhecido pela cultura do 
cooperativismo, e mostra como 
a educação pode se tornar 
um instrumento científico e 
pedagógico da transformação 
local. 
Por meio de uma parceria 
entre Secretaria Municipal de 
Educação e organizações sociais, 
criou-se e implementou-se, 
com base nas necessidades 
da comunidade, uma nova 
disciplina no currículo escolar: 
a Organização Social, 
Comunitária e Política de 
Pintadas. A matéria, que trata 
de questões da realidade local, 
escrevendo juntos 27
Caminho das Pedras
Educação e Ladislau Dowbor
desenvolvimento local
A região de São Joaquim, no sul 
do Estado de Santa Catarina, era 
pobre, de pequenos produtores sem 
perspectiva, e com os indicadores 
de desenvolvimento humano mais 
baixos do Estado. Como outras 
regiões do país, São Joaquim e os 
municípios vizinhos esperavam que 
o desenvolvimento “chegasse” de 
fora, sob forma do investimento 
de uma grande empresa, ou de 
um projeto do governo. Há poucos 
anos, vários residentes da região 
decidiram que não iriam mais 
esperar, e optaram por outra visão 
de solução dos seus problemas: 
enfrentá-los. Identificaram 
características diferenciadas do 
clima local, constataram que ele 
era excepcionalmente favorável 
à fruticultura. Organizaram-se, e 
com os meios de que dispunham 
fizeram parcerias com instituições 
de pesquisa, formaram cooperativas, 
abriram canais conjuntos de 
comercialização para não depender 
de atravessadores. Hoje é uma das 
regiões que mais rapidamente se 
desenvolvem no país. E não estão 
dependendo de uma grande 
corporação que de um dia para outro 
pode mudar a região: dependem de 
si mesmos. 
Além do currículo 
tradicional, alunos 
devem compreender a 
realidade de onde vivem. 
O economista Ladislau 
Dowbor defende que não 
basta estudar quem foi, 
por exemplo, D. João VI, 
mas conhecer a origem ou 
as tradições culturais que 
constituíram a cidade, seus 
potenciais econômicos, 
desafios ambientais, 
desequilíbrios sociais. 
Pessoas desinformadas 
não participam, e sem 
participação não há 
desenvolvimento.
Texto extraído do artigo Educação e 
desenvolvimento local, publicado 
originalmente em IBAM, Municípios, 
Revista de Administração Municipal, 
fev/março 2007, www.ibam.org.br.
Leia o artigo na íntegra em: 
http://dowbor.org/06edulocalb.doc
Esta visão de que podemos 
ser donos da nossa própria 
transformação econômica e social, 
de que o desenvolvimento não se 
espera, mas se faz, constitui uma 
das mudanças mais profundas que 
estão ocorrendo no país. Tira-nos da 
atitude de espectadores críticos de 
um governo sempre insuficiente, ou 
do pessimismo passivo. Devolve ao 
cidadão a compreensão de que pode 
tomar o seu destino em suas mãos, 
conquanto haja uma dinâmica social 
local que facilite o processo, gerando 
sinergia entre diversos esforços. 
A ideia da educação para 
o desenvolvimento local está 
diretamente vinculada a esta 
compreensão e à necessidade de 
se formar pessoas que amanhã 
possam participar de forma ativa das 
iniciativas capazes de transformar 
o seu entorno, de gerar dinâmicas 
construtivas. Hoje, quando se tenta 
promover iniciativas deste tipo, 
constata-se que não só os jovens, mas 
inclusive os adultos desconhecem 
desde a origem do nome da sua 
própria rua até os potenciais do 
subsolo da região onde se criaram. 
Para termos cidadania ativa, é preciso 
haver uma cidadania informada, e 
isto começa cedo. 
escrevendo juntos28
Caminho das Pedras
Fo
to
: D
iv
ul
ga
çã
o
Ladislau Dowbor 
é doutor em Ciências 
Econômicas pela Escola 
Central de Planejamento 
e Estatística de Varsóvia, 
professor titular da PUC 
de São Paulo e consultor 
de diversas agências 
das Nações Unidas. 
É organizador autor 
de vários livros, sendo 
o último Formação 
do Capitalismo no 
Brasil – Ensaio Teórico, 
da editora Brasiliense 
(São Paulo, 2010). Seus 
numerosos trabalhos sobre 
planejamento econômico 
e social estão disponíveis 
no site http://dowbor.org .
Contato:
ladislau@dowbor.org. 
A educação não deve servir apenas 
como trampolim para uma pessoa 
escapar da sua região: deve dar-lhe 
os conhecimentos necessários para 
ajudar a transformá-la. 
Globalização e desenvolvimento local 
Quando lemos a imprensa, ou 
até revistas técnicas, parece-nos 
que tudo está globalizado. 
Mas nem tudo foi globalizado. 
Quando olhamos dinâmicas simples, 
mas essenciais para a nossa vida, 
encontramos o espaço local. Assim, 
a qualidade de vida no nosso bairro 
é um problema local, envolvendo 
asfaltamento, sistema de drenagem, 
infraestruturas. 
Este raciocínio pode ser estendido 
a inúmeras iniciativas, como a de São 
Joaquim citada acima, mas também a 
soluções práticas como, por exemplo, 
a decisão de Belo Horizonte de tirar 
os contratos da merenda escolar 
da mão de grandes intermediários, 
contratando grupos locais de 
agricultura familiar para abastecer as 
escolas. Dependem essencialmente 
da iniciativa local a qualidade da 
água, da saúde, do transporte 
coletivo, bem como a riqueza ou 
pobreza da vida cultural. Enfim, 
grande parte do que constitui o que 
hoje chamamos de qualidade de vida 
não depende muito da globalização 
– ainda que possa sofrer os seus 
impactos –, mas da iniciativa local.
A grande diferença, para 
municípios que tomaram as rédeas 
do próprio desenvolvimento, é que, 
em vez de serem objetos passivos do 
processo de globalização, passaram 
a  direcionar a sua inserção segundo 
os seus interesses. Promover o 
desenvolvimento local não significa 
voltar as costas para os processos 
mais amplos, inclusive planetários: 
significa utilizar as diversas 
dimensões territoriais segundo os 
interesses da comunidade. 
 Há municípios turísticos, por 
exemplo, onde um gigante do 
turismo industrial ocupa uma 
enorme área da orla marítima, 
joga a população ribeirinha para o 
interior e obtém lucros a partir da 
beleza natural da região. Outros 
municípios desenvolveram o 
turismo sustentável, e aproveitam 
a tendência crescente da busca 
de lugares mais sossegados, 
com pousadas simples, mas em 
ambiente agradável, ajudando, e 
não desarticulando, as atividades 
preexistentes como a pesca 
artesanal. Tanto o turismo de resorts 
quanto o sustentável participam 
do processo de globalização, 
mas na segunda opção há um 
enriquecimento da comunidade, 
que continua a ser dona do seu 
desenvolvimento. 
Com o peso crescente das 
iniciativas locais, é natural 
que da educação se esperem 
não só conhecimentos gerais, 
mas a compreensão de como 
os conhecimentos gerais se 
materializam em possibilidades de 
ação no plano local. 
escrevendo juntos 29
O avesso das coisas
graffiti quanto grafite também são escrita. Escrita 
inscrita nas paredes da cidade. É cor, linguagem, 
textura, arte, intervenção, protesto, provocação. 
A história, as lendas e a Wikipédia dizem que 
o grafite deriva lá do Império Romano, onde os 
muros eram utilizados como um dos suportes 
de diálogo com a esfera pública. Cristo foi 
crucificado, Maria Antonieta perdeu a cabeça, 
Para começo de conversa, é graffiti e 
grafite! Este é também aquele bastão 
fininho que tem dentro do lápis que 
serve para escrever. A grafia difere, mas tanto 
“Enfeitar a cidade, transformar o urbano 
com uma arte viva, popular, da qual as 
pessoas participem, é aminha intenção.” 
(Alex Vallauri)
Detalhe da obra 
do grafiteiro Zezão.
pro
te
stoAr
te
 de
 ru
a,
ed
uca
ca
o 
e
,
-
o muro de Berlim foi derrubado, o 
Corinthians foi para a Libertadores, e o 
grafite continua sendo intervenção, arte e 
denúncia urbana. 
A arte dos muros generalizou-se pelo 
mundo a partir de maio de 1968, quando, no 
contexto de revolução política e cultural, os 
muros de Paris foram tomados por inscrições 
de caráter poético/político; tornou-se popular 
e adquiriu forma nas ruas de Nova York (EUA). 
No Brasil, mais fortemente em São Paulo, 
surgiu na década de 1970. Primeiro através 
Fo
to
: O
sG
em
eo
s
Carolina Gutierrez
escrevendo juntos30
O avesso das coisas
Tikka, Nina e tantos outros. 
Exemplo disso é o sucesso da 
exposição dos grafiteiros Os 
Gemeos, Vertigem, que levou 
milhares de pessoas a uma 
galeria de arte de São Paulo, em 
2006 – fato inédito no Brasil.
O grafite é assim. Nasce da 
necessidade de passar uma 
mensagem. Caminha em cores 
por ruas cinzas. Provoca o olhar 
para a cidade e suas memórias. 
Em cada símbolo, torna os muros 
sociais visíveis. É poético. É ácido. 
É metáfora. É antítese. 
Arte democrática e 
humanizadora
Embora autoral, o grafite é arte 
intrinsecamente democrática. 
O desenho fica exposto a toda 
população sem distinção ou 
restrição – basta olhar a cidade. 
A efemeridade própria desta 
das pichações poéticas e depois 
com a stencil art (com reprodução 
seriada). Já nos anos 1990, o 
grafite ampliou sua presença 
para as periferias no rastro do 
movimento hip-hop. 
Hoje, ele está incorporado de 
tal forma à vida urbana, que já faz 
parte da identidade das cidades. 
Em São Paulo, todo dia 27 de 
março saúda-se o Dia do Grafite 
(não oficializado nacionalmente). 
A data é celebrada desde 1988, 
em homenagem a Alex Vallauri, 
um dos pioneiros da arte de rua 
no país. 
Vallauri foi um dos primeiros 
brasileiros a levar a arte de rua 
para as paredes de museus. 
Participou de diversas edições 
da Bienal Internacional de 
São Paulo. Como Alex, vários 
grafiteiros se popularizaram: 
OsGemeos, Zezão, Binho, Speto, 
Fo
to
: S
at
ão
Fo
to
: S
at
ão
Fo
to
: C
ar
ol
in
a 
G
ut
ie
rr
ez
escrevendo juntos 31
O avesso das coisas
arte lhe insere um sentido de 
desprendimento. A noção de 
posse da obra é eliminada. 
“O grafite mantém 
um diálogo muito 
rico entre os 
transeuntes e o 
poder público. 
Levanta questões 
sobre de quem é a 
cidade. Resgata o 
verdadeiro conceito 
de público”, explica a 
grafiteira Ziza, de São Paulo. 
É sempre muito curioso como 
as pessoas se relacionam com 
as imagens. O grafite ocupa o 
espaço e interage o tempo inteiro. 
De pautar olhares transgressores e 
reflexivos a situações engraçadas. 
Quem nunca, ao indicar um 
caminho, disse “olha só! pega 
a primeira esquerda e vira na 
quarta à direita, na rua onde 
tem um grafite bem colorido na 
esquina”, por exemplo? Ou ainda 
viu estremecerem os pilares da 
sociedade racista ao ver o grafite 
do recorrente saci, com as mãos 
para o alto, ao lado da inscrição 
“quem tem orgulho de ser negro 
levanta a mão!”? E ficou chocado 
ao constatar que, na realidade, 
um policial apontava uma arma 
em direção a esse mesmo saci?
 “Toda a cultura hip-hop, 
incluindo o grafite, é ato 
resistente numa cidade que 
sonega direito, sonega a voz. Ela 
ocupa, traz visibilidade, dá voz. 
Além disso, o grafite tem um 
papel de revitalização – dá vida 
ao que não tem cor”, diz Paulo 
Carrano, professor da Faculdade 
Educação da Universidade 
Federal Fluminense (UFF) e 
Fo
to
: O
sG
em
eo
s
escrevendo juntos32
O avesso das coisas
coordenador do Observatório 
Jovem do Rio de Janeiro.
Nesse sentido, o grafite 
humaniza e transforma o 
espaço urbano. Embeleza, ao 
mesmo tempo que defronta 
a cidade e suas contradições, 
obrigando-a a contemplar sua 
própria miséria. Projeta imagens 
dialéticas. Reflete outro lado da 
organização social da metrópole. 
Em cada mensagem, a denúncia 
pelo direito à cidade – o direito 
fundamental à dignidade dentro 
desse mosaico social. 
O grafiteiro e artista plástico 
Zezão, por exemplo, gosta de 
locações vazias, abandonadas, 
com backgrounds deteriorados. 
É conhecido mundialmente por 
seus grafites azuis nas galerias 
subterrâneas. Ele dá cor aos 
intestinos e vísceras de São Paulo. 
“Enxergo minha arte como 
um curativo da cidade. Esse é 
o sentido do grafite para mim. 
Levar arte para as pessoas que 
habitam os rincões esquecidos da 
metrópole. É quase um exorcismo 
do lugar”, contou.
As cores usadas por 
Zezão, em especial o azul – 
que, segundo ele, significa calma 
e positividade –, transformam 
sentimentos marginais em arte 
e roubam da miséria urbana 
o desalento monocromático, 
inclusive no tapume das obras 
do edifício que sedia o Centro 
Ruth Cardoso. Zezão grafitou, 
no dia 20 de janeiro, um painel 
de 5x3m, como marco do início 
da reforma para as instalações 
do Edifício Ruth Cardoso. Os 
passantes da Rua Pamplona, 
em São Paulo, agradecem.
No Rio de Janeiro, vários 
coletivos de grafite, dentre 
eles o Comando da Selva, se 
reuniam para decorar o morro. 
As casas das comunidades 
cariocas ganhavam cor, desenho, 
textura e vida num ambiente de 
desigualdade aparente – fratura 
exposta da sociedade. “A ação 
era toda esquematizada pelo 
fotolog, e nos encontrávamos 
no dia combinado. Mas antes 
mobilizávamos os moradores. 
A ideia era sempre promover 
os mutirões envolvendo a 
comunidade para se criar a noção 
de pertencimento do grafite”, 
lembra Muleka, grafiteira do 
coletivo Comando da Selva. Fo
to
s:
 C
ar
ol
in
a 
G
ut
ie
rr
ez
escrevendo juntos 33
O avesso das coisas
Para Mateus Subverso, do 
coletivo Suatitude (Sindicato 
Urbano de Atitude), de São 
Paulo, o grafite assume um 
papel chave na exteriorização 
da cultura periférica. “Ao ocupar 
a cidade, ele volta o olhar para a 
quebrada (periferia). Existem os 
muros invisíveis e os que são bem 
visíveis – onde está dito, aqui você 
não entra. O grafite é a quebra 
desses muros.”
A arte que liberta não pode vir 
da mão que escraviza
Ao falar de grafite, não se 
pode esquecer sua origem: a rua. 
Arte transgressora e proibida, 
contracultura, cultura da periferia. 
Se, na maioria das vezes, é 
associado ao movimento hip-hop, 
não é à toa. 
O hip-hop como palavra 
da periferia, o grafite como 
expressão gráfica desta palavra. 
Considerado as artes plásticas 
do hip-hop, o grafite possui 
grande potencialidade de 
comunicação da quebrada. ”O 
grafite pode ser encarado como 
uma mídia (pintura) e o muro 
como suporte (veículo). É por 
meio dele, do break, da poesia 
do MC e da musicalidade do DJ 
que a periferia pode espraiar sua 
mensagem”, enfatiza Mateus.
Fruto da necessidade de 
afirmação, resgata a identidade 
e valorização da comunidade. Os 
desenhos, as tags (assinaturas 
tanto do grafite quanto da 
pichação) sempre fazem 
referências à quebrada. “Temos 
de entender por que vários 
jovens começam a escrever 
nos espaços públicos. Para 
mim, faz parte da construção 
da identidade. A explosão das 
tags, por exemplo, expressa a 
elaboração dessa identidade 
pelo seu local. A tag conter o 
local da comunidade é muito 
significativo. É a construção pelo 
coletivo. Estamos sempre nos 
vendo e vendo o nosso coletivo”, 
continua Mateus.
Com grande apelo dentre 
os jovens, a arte dos muros é, 
Fo
to
: S
at
ão
Marca d’água: detalhe do grafite 
de Zezão para o tapume da 
reforma do Centro Ruth Cardoso.
Foto: Nina Lacaz
escrevendo juntos34
O avesso das coisas
inclusive, mobilização social. 
Para Satão, do coletivo DF 
Zulu, de Ceilândia, em Brasília, 
o grafite traz uma ideologia 
para transformação social da 
comunidade. “Ensina a pensar; 
ensina que o pensamento vale 
a pena. É uma cultura que dá 
alternativas!” 
Existem centenas de projetos 
sociais que utilizam o grafite 
como forma de inclusão, 
geração de renda, educação 
e cidadania. Em Brasília, a 
associação e coletivo DF-Zulu, 
na ativa há 21 anos,trabalha 
para a transformação social da 
comunidade. São mais de 80 
jovens envolvidos nas oficinas 
de break (dança de rua), DJ 
e grafite. “O DF-Zulu surgiu 
em 1989. Dos trabalhos que 
promovíamos, nasceu o coletivo 
os3s (Satão, Sowto, Supla). 
Fomos um dos primeiros grupos 
de grafite de Brasília. A partir de 
1993 começamos a trabalhar 
nas ruas e becos da Ceilândia. 
A ideia sempre foi trabalhar 
a transformação nos jovens”, 
explica Satão.
Em São Paulo, destacam-se o 
Projeto Quixote, ONG vinculada 
à Universidade Federal de São 
Paulo (Unifesp), o Centro de Defesa 
da Criança e do Adolescente 
(Cedeca) de Interlagos, a ONG 
Escola Aprendiz, Rede Ivoz e a 
Ação Educativa. Todas mantêm 
iniciativas ligadas ao grafite como 
transformação social. 
Fo
to
s:
 C
ar
ol
in
a 
G
ut
ie
rr
ez
escrevendo juntos 35
Educação: grafite e atitude 
Dentro ou fora da escola, a 
maioria dos coletivos de grafite 
desenvolve ações educativas. 
Seja na educação formal ou não-
formal, os grupos procuram criar 
cotidianamente novos meios e 
espaços para se debater a arte de 
rua em sua cultura. 
Muitas escolas, sobretudo 
públicas, oferecem oficinas 
de grafite para os alunos. A 
associação DF-Zulu, por exemplo, 
trabalha com a revitalização 
dos muros da escola por meio 
de atividades de grafite com 
os alunos. “A escola faz parte 
da comunidade, e promover a 
revitalização gera um retorno 
à valorização deste espaço. 
Procuramos transformar a 
escola em um ambiente em 
que os jovens se sintam bem 
e empoderados do espaço 
de aprendizagem. No final, é 
uma valorização da própria 
comunidade”, pondera Satão.
Para Guilherme Marin, da 
Rede IVoz, a escola é um espaço 
de convivência de alto valor 
simbólico na comunidade. O 
grafite, em sua capacidade de 
envolver o jovem, devolve o 
lúdico, a identidade e o respeito 
à comunidade. “Hoje, a maioria 
das escolas parecem verdadeiros 
presídios, perdendo o valor 
simbólico. A revitalização causa 
Fo
to
: S
at
ão
Alunos de escola pública da Ceilândia (DF) participam de oficinas de grafite
escrevendo juntos36
não deve distanciar-se de 
sua origem.”
“O professor tem que ser um 
desbravador, levar os alunos à 
rua, ver o real, observar cores, 
técnicas, superfícies. Chega de 
criar ambientes de reprodução”, 
completa a grafiteira Ziza. 
 O educador é, muitas vezes, 
referência para os alunos. Ele 
inquieta, provoca, cria verdades. 
Carrano defende que as 
mensagens colocadas em sala de 
aula nunca devem ser impostas, 
mas negociadas. Os debates e 
atividades em torno do grafite 
devem contemplar e valorizar a 
sua origem – cultura periférica. 
Uma cultura altiva, consciente de 
sua condição social e do quanto 
lhe foi negado.
Agradecimentos especiais aos OsGemeos 
e a Satão pelas fotos cedidas. 
identidade no jovem. O fato 
do grafite ser usado em sala de 
aula devolve e demonstra valor 
pelo conhecimento gerido pela 
comunidade. É a valorização 
da cultura periférica – criada na 
comunidade”, explica.
Porém, o uso do grafite como 
instrumento pedagógico pode 
ser controverso se desvinculado 
de sua origem e história. O 
coordenador do Observatório 
Jovem do Rio de Janeiro, Paulo 
Carrano, argumenta que, 
dependendo da abordagem em 
sala de aula, se corre o risco de 
descontextualização da cultura 
hip-hop em que o grafite está 
inserido. “O grafite é um mosaico 
de ações e sentidos; tem origem 
e contexto. Se usado na escola, 
Oficinas de grafite revitalizam os muros das escolas do Distrito Federal
Fo
to
: S
at
ão
escrevendo juntos 37
Noções de coisas
Entre voos e esperas em aeroportos, a 
caravana formada por nove empresários, 
proprietários e representantes de 
concessionárias Chevrolet do estado de São 
Experiência Ana Paula Drumond Guerra
de vida em sala de aula
Fo
to
s:
 A
na
 P
au
la
 D
ru
m
on
d 
G
ue
rr
a
Paulo, acompanhados pelo diretor de 
Comunicações e Relações Públicas e 
Governamentais da General Motors 
(GM), Marcos Munhoz, chegou à cidade 
de Pedro II, no Piauí, após três mil 
quilômetros percorridos em pouco mais 
de sete horas de viagem. 
Há dois anos patrocinando 240 salas 
de alfabetização em 24 municípios do 
Piauí e Sergipe com baixos Índices de 
Desenvolvimento Humano (IDH) e taxas 
de analfabetismo maiores do que a 
média nacional, era chegada a hora de 
o grupo de empresários e o Instituto 
GM conhecerem de perto a realidade 
que eles, por meio do Programa Rede 
Chevrolet de Educação Solidária e da 
AlfaSol, ajudam a transformar.
Ao chegar a Pedro II, a comitiva da 
GM, acompanhada da superintendente 
executiva da AlfaSol, Regina Célia 
Esteves de Siqueira, e de membros 
da equipe da AlfaSol de São Paulo, 
se reuniu com o prefeito Alvimar de 
Oliveira Andrade e a secretária de 
Educação, Eleonora Maria Alves Costa 
Andrade; com o secretário municipal 
de Educação (Semec) de Teresina, 
Washington Luis de Souza Bonfim, 
e a coordenadora da Divisão de 
Educação de Jovens e Adultos (EJA) 
da Semec, Sunamita Fontenelli, e com 
10 alfabetizadores da AlfaSol, todos 
moradores de Pedro II. Nessa mesma 
noite, os parceiros visitaram duas salas 
de aula.
Parceiros da AlfaSol visitam 
sala de aula da alfabetizadora 
Conceição Maria em Pedro II
escrevendo juntos38
Noções de coisas
A formadora Fabiana Ferreira, da AlfaSol, 
em visita à sala de aula 
Quanto custa?
No momento em que a 
comitiva chegou à primeira 
sala de aula a ser visitada, 
a alfabetizadora Conceição 
Maria Gomes Galvão, 44 anos, 
calculava na lousa quanto uma 
aluna gastava para comprar a 
matéria-prima para confeccionar 
suas redes e por quanto deveria 
então vendê-las para conseguir 
algum lucro. Com esse exemplo 
tão próximo da realidade de 
suas alunas, todas elas redeiras, 
fica muito mais fácil para as 
alfabetizandas identificarem 
o conteúdo e assimilarem o 
conhecimento. “Eu planejo as 
aulas de acordo com a realidade 
dos meus alunos. No exemplo 
de hoje exploramos a produção 
de uma rede, quanto custa o 
tecido, o punho, as varandas... 
As alunas registram tudo porque 
sabem bem sobre o que eu 
estou falando.”
Letra de música é tema de aula
Depois da visita à turma 
essencialmente feminina 
da professora Conceição, 
os visitantes se dirigiram à 
casa da professora Elisabete 
Mendes de Souza, 26 anos, que 
fica do outro lado da cidade. 
Compenetrados, os alunos 
trabalhavam o letramento 
enquanto a professora escrevia 
na lousa a letra de uma música 
do artista da classe, Raimundo 
Nonato, também conhecido 
por seu Sibu. Uma palavra em 
especial chamava a atenção: 
“sofoneiro”. Antes que alguém 
questionasse a estranha grafia do 
substantivo “sanfoneiro”, Ednéia 
Gonçalves, assessora técnica 
da AlfaSol, foi logo explicando: 
“Em salas de alfabetização de 
jovens e adultos temos de partir 
do que os alunos sabem, sem 
preconceitos, para a construção 
conjunta dos elementos que farão 
sentido em sala de aula. Lidamos 
com diferentes culturas e muitas 
possibilidades de conotações 
e significados de uma mesma 
palavra; o ponto de partida é a 
‘validade simbólica’ da palavra, 
ou seja, seu significado naquele 
contexto social, naquela cultura 
especificamente”, explica. Ednéia 
esclarece que os alfabetizadores 
da AlfaSol procuram sempre 
trazer para a sala de aula a 
experiência dos próprios alunos, 
seja nas artes, na cultura, na vida 
diária, como uma fonte legítima 
de conhecimento. 
Segundo ela, além de valorizar 
a cultura local, isso faz com que os 
alunos percebam a leitura e a 
escrita como algo cotidiano. “O 
primeiro contato acontece pela 
oralidade: a professora conversa 
com seu Sibu, por exemplo, ele 
canta a música para ela, ela faz o 
primeiro registro escrito e traz 
esse elemento cultural para o 
coletivo, ampliando o repertório 
escrevendo juntos 39
Alunos em sala de aula da alfabetizadora Elizabeth Mendes de Sousa
Marcos Munhoz, diretor de Comunicações e 
Relações Públicas e Governamentais da GM, 
participa de recepção na Câmara Municipal 
de Pedro II
Noções de coisas
dos alunos.

Continue navegando