Prévia do material em texto
1 Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Ciências Aplicadas - FCA Trabalho de Seleção de Materiais Estudo de caso: Freio a Disco Automotivo Grupo 1: Aline Andrade (RA:154513 ), Fernanda Soares (RA: 157866), Giovanna Tonolli (RA:157926), Julia Alves (RA: 158063), Laís Caires (RA: 159805). Data de entrega: 13 de Junho de 2017. 1. Resumo O projeto descrito neste memorando teve como objetivo o estudo da aplicação da seleção de materiais para o freio a disco utilizado na indústria automotiva, mais especificamente em veículos de passeio. Desta forma, foram utilizadas ferramentas como índice de mérito, mapa de Ashby e matriz de decisão para que fosse feita a escolha do melhor material a ser utilizado na produção da peça. Ao final, foram analisados três tipos de ferro fundido cinzento, liga de alumínio, liga de titânio, aços médio e alto carbono e liga de zinco. Todos foram considerados por se encaixarem em parâmetros iniciais estabelecidos como: custo, resistência mecânica, resistência à fadiga, dureza Brinell, atrito e condutividade térmica. Por fim, foi elaborada uma proposta com novos materiais para a produção do freio a disco. 2 2. Descrição do Projeto e Objetivos O freio a disco é a máquina utilizada para freamento de automóveis, seu funcionamento é dado pela conversão de energia cinética em térmica, no qual o disco deve absorver e dissipar o calor rapidamente. Normalmente, ele é feito de ferro fundido sendo conectado à roda e às pastilhas de freio, as quais funcionam como um material de fricção forçado mecânica, hidráulica, pneumática ou eletromagneticamente contra o disco, fazendo com que o disco e a roda parem ou desacelerem (CANALI, 2002). A Figura 1 a seguir ilustra a peça estudada e seu funcionamento. Figura 1a: Freio a disco. Figura 1b: Funcionamento da peça. O sistema de freio a disco é empregado em uma grande variedade de veículos desde carros de passeio até aviões de grande porte. Em relação aos demais sistemas de frenagem, ele apresenta longa vida útil, menor dilatação, melhor equilíbrio das pressões exercidas e maior dissipação de energia absorvida. Tal sistema é utilizado em todos os automóveis nas rodas dianteiras, e devido ao custo associado, não é usado nas rodas traseiras de modelos econômicos, que continuam utilizando o sistema de freio a tambor (Fórmula Route Ufscar, 2015). A Figura 2 (Anexo 1) representa o desenho 2D da peça, a Figura 3, a análise térmica (Anexo 2) e a Figura 4 (Anexo 3), a vista explodida de um automóvel de passeio, com destaque para o freio a disco. Atualmente, o material mais utilizado para o freio a disco é o ferro fundido cinzento classes FC-200 e FC-250, pois possui baixo custo, boa condutividade térmica e usinabilidade. No entanto, a indústria continua a desenvolver novos materiais e classes de materiais com o objetivo de aumentar a vida útil da peça, sua segurança e reduzir seu peso e ruído (GUESSER et al, 2003). Na busca pelo melhor material, são consideradas como propriedades importantes para freios a disco: fadiga térmica, resistência mecânica e à fadiga, capacidade de amortecimento de vibrações e ruído e resistência ao desgaste. 3 3. Pesquisa Metodológica A seleção dos materiais envolve a busca por uma melhor combinação entre os requisitos de projeto e as propriedades dos materiais que poderiam ser utilizados na execução do projeto. A primeira etapa da seleção foi a tradução, etapa em que os requisitos de projeto foram transformados em restrições e objetivos. Em seguida, realizou-se a etapa de triagem, onde os materiais que não cumprem as restrições foram eliminados. Essa etapa foi seguida pela classificação, em que os materiais foram ordenados de acordo com a sua capacidade de cumprir os critérios de excelência. Ao final, a etapa de documentação explorou os melhores candidatos, analisou histórico de falhas, casos de utilizações anteriores, dentre outros (ASHBY, 2005). A análise de Índice de Mérito foi realizada para algumas propriedades no estudo do sistema de freio, sendo elas: resistência mecânica e fadiga térmica. E por fim, foi montada uma matriz de decisão que levou em consideração os índices encontrados e também as seguintes propriedades: atrito, dureza, custo e condutividade térmica. 3.1) Resistência Mecânica Quando o sistema de freio é ativado, o disco sofre tensões térmicas e altas tensões mecânicas, desencadeando o processo de fadiga térmica. Sendo a resistência mecânica a capacidade de uma estrutura suportar as solicitações externas sem sofrer deformação plástica, as variações de temperatura no disco podem resultar em choques térmicos que geram trincas superficiais e grande quantidade de deformações plásticas no disco de freio (HOHMANN, 1999). Para determinar o índice de mérito, foi necessário listar algumas características do projeto, estas foram descritas na Tabela 1. Tabela 1. Tradução de requisitos - Resistência Mecânica. De acordo com Mackin (2002), as rodas estão conectadas aos discos de metal, também chamados de rotores, que giram em conjunto com o pneu. A força que o rotor está sujeito está descrita na Equação 1. Esta equação é resultado da análise de forças (Figura 5) e considerações apresentadas no Anexo 4. (1) 4 (Onde: é a % da carga da frenagem, é a massa do automóvel, é a velocidade inicial do automóvel, é o diâmetro do pneu, é o diâmetro do disco, e é o tempo de frenagem). Isolando o tempo de frenagem ( ) na Equação 1, obtém-se a função objetivo. Uma possível alternativa para a sua minimização é o aumento da que é relacionada com a tensão de escoamento ( ) e a área da pastilha que acompanha o disco ( ) de acordo com a Equação 2. (2) Em seguida, algumas simplificações devem ser realizadas, a fim de encontrar a Equação de Desempenho do sistema. O valor de e são obtidos a partir das Equações 3 e 4, sendo posteriormente substituídos na equação 1. √ (3) √ (4) (Onde: é a espessura do disco, é a densidade do material, é a massa do disco, é o tamanho crítico da trinca e é o Módulo de Tenacidade à Fratura). Dessa forma, chega-se na Equação 5 que representa a Equação de Desempenho e a Equação 6, que representa o Índice de Mérito. √ ( ) ( √ ) ( √ ) (5) (6) A partir da definição do Índice de Mérito, pode-se utilizar o Mapa de Ashby que apresenta o Módulo de Tenacidade X Densidade, mostrado na Figura 5 (Anexo 5), a fim de facilitar a visualização e identificação do material mais adequado. A linha guia em destaque no mapa refere-se ao IM identificado. Segundo Ferrante (2013) o mapa tem somente a finalidade demonstrativa, com uma abordagem do conjunto de tenacidade e da densidade dos materiais. Dessa forma, observa-se que que os melhores materiais no quesito resistência mecânica são: Aços - superam todos os materiais em relação ao - e Ligas de Titânio. 3.2) Fadiga Térmica Cada ciclo de frenagem impõe um ciclo de tensões ao disco de freio, sendo que o sistema de freio pode chegar a valores de temperatura próximos a 650 ºC durante uma frenagem severa e esse superaquecimento provoca choques térmicos e pontos de aquecimento localizados, podendo surgir trincas devido ao escoamento plástico do metal da superfície (MALUF, 2007).Portanto, o estudo do material utilizado nos freios a disco é de grande importância para que se possa prolongar a vida útil da peça. 5 A fadiga térmica está relacionada com a tensão aplicada, sendo que esta está ligada às variações de temperatura ( ), ao módulo de elasticidade (E) e ao coeficiente de dilatação térmica do material ( ). Podendo-se afirmar que quanto menor for a variação de temperatura, menores serão as tensões aplicadas e menor será a tendência à ocorrência da fadiga térmica no freio (GUESSER et al, 2003). Para determinar o índice de mérito foi considerada uma mesma temperatura em toda a extensão do disco que varia com o tempo. Além disso, as seguintes características foram consideradas, como mostrado na Tabela 2. Tabela 2. Tradução de requisitos - Fadiga Térmica. Considerando que quando um material é aquecido, as suas dimensões aumentam proporcionalmente à variação de temperatura, obteve-se a fórmula da dilatação linear, representada pela Equação 7: (7) Utilizando a fórmula de tensão e de deformação elástica longitudinal: (8) (9) Aplicando a Equação 9 na Equação 8, temos: (10) Juntando a Equação 7 e 10, obtém-se a Equação de desempenho e o Índice de Mérito relacionado à fadiga térmica, apresentados, respectivamente, pelas Equações 11 e 12, abaixo. (11) (12) Com a definição do Índice de Mérito, pode-se utilizar o Mapa de Ashby que apresenta o Mapa de Tensão Normalizada x Coeficiente de expansão linear, mostrado na Figura 6 (Anexo 6), a fim de facilitar a visualização e identificação do material mais adequado. 6 3.3) Resistência ao Desgaste O desgaste de peças e equipamentos costuma ser um grande problema, devido a necessidade de manutenção e até mesmo troca quando o desgaste é excessivo. No caso do freio a disco, essa propriedade é bastante importante, pois a peça está sujeita a esforços dinâmicos que necessitam de uma boa resistência ao desgaste. Essa propriedade possui forte relação com a dureza, que deve ser elevada para que o material resista à penetração inicial, e com a resistência mecânica e tenacidade, que quanto mais altas mais dificultam o arrancamento das partículas sólidas (COUTINHO, 1992). Já que um material com alta dureza - alta resistência à deformação plástica permanente - também terá alta resistência ao desgaste, foi considerada para análise desta propriedade a dureza Brinell, ou seja, o número resultante do ensaio de dureza Brinell de cada material incluído na matriz de decisão (UFPR, 2006). 3.4) Atrito O atrito é o fenômeno mais importante no sistema de frenagem, existente entre a pastilha e o disco de freio. O mesmo serve no sistema de frenagem como um dissipador da energia cinética, transformando-a em calor, que é dissipado para o ambiente, e em energia de superfície (PETER, 2008). A superfície das pastilhas de freio possui uma complexa estrutura formada por plateaus distribuídos, que correspondem às partes da pastilha que apresentam contato com o disco de freio. A força de frenagem é transmitida por estas áreas de contato, cujos tamanhos e composições influenciam a funcionalidade do atrito. A composição química dos plateaus normalmente é composta por ferro na forma de óxido de ferro ou na forma de aço (ERIKSSON, 2000). Como a propriedade é calculada levando em conta os dois materiais a serem atritados, para a análise feita na matriz de decisão, foi considerado o atrito entre o possível material para o freio a disco e plateaus feitos de aço. 3.5) Mapa e Matriz de Decisão Para ajudar na análise e na escolha, uma alternativa para a comparação entre os desempenhos dos diferentes materiais é a plotagem de um gráfico, onde os eixos são M1 e M2 (características dos materiais) e os pontos são os materiais em análise. O uso do gráfico 1 é uma forma mais visual para a comparação entre eles. No caso abordado, o primeiro índice de mérito (resistência mecânica) é de minimização, enquanto o segundo índice (fadiga térmica) é de maximização. Por isso, o melhor material considerando apenas os índices de mérito é aquele que está mais para direita e para baixo, uma vez que no eixo x está à fadiga térmica (maximização) e no eixo y a resistência mecânica (minimização). 7 Gráfico 1: Análise Comparativa M1 x M2. Além disso, durante a seleção do material ideal para a produção do freio a disco foram escolhidas mais algumas propriedades além das anteriormente citadas, como: custo e condutividade térmica, pois estes parâmetros serão utilizados na etapa de documentação dos materiais. Ademais, os materiais escolhidos para análise foram pré selecionados por serem materiais já utilizados em peças automotivas, sendo os ferros fundidos (FC150, FC250, FC350) atualmente utilizados na fabricação dos freios a disco especificamente. Tabela 3. Dados de cada material analisado em cada propriedade. A fim de gerar uma tabela de decisão, os dados coletados apresentados na Tabela 3 foram normalizados entre 0 e 1. Além disso, os critérios de minimização (por exemplo, custo), foi calculado o inverso, para que ele pudesse se tornar de maximização também. Dessa forma, temos a Tabela 4 apresentada a seguir. 8 Tabela 4. Matriz de decisão 4. Recomendações Diante dos resultados obtidos a partir da Matriz de Decisão, pode-se verificar os melhores candidatos, mas, nem sempre o material com melhor classificação nesta etapa é utilizado, pois a etapa de documentação avalia outros fatores mais qualitativos que podem ser cruciais na decisão final. A liga de Titânio possui a melhor classificação, porém o custo altíssimo do material inviabiliza o seu uso em carros de passeio. A fim de atender as expectativas dos consumidores, as montadoras priorizam o baixo custo, tornando o produto mais concorrente no mercado. Dessa forma, optou-se pela escolha do Aço Alto Carbono, devido ao seu desempenho verificado na matriz de decisão e também por não haver pontos negativos em aspectos qualitativos, como na fabricação ou dificuldade de obtenção, além do custo viável. No cenário atual, de acordo com Schmitz (2013), responsável pelo departamento de engenharia de materiais da Renault, no Brasil verifica-se uma tendência de maior aplicação de aços de alta resistência devido ao aumento da produção local destes materiais, contribuindo com baixos custos e melhor logística. Ademais, a alta resistência oferece maior segurança e redução de peso para a carroceria dos automóveis. É válido pontuar que embora os ferro fundidos sejam os mais utilizados na fabricação de discos atualmente devido a fatores como facilidade de fabricação a partir da fundição e uso de sucata como matéria prima, eles são os últimos na classificação realizada por este estudo. Este fato não é contraditório, pois os demais materiais utilizados na comparação são ótimos materiais e “superam” as necessidades do projeto. Portanto, opta-se normalmente pelo ferro ao invés de um material melhor e mais caro, como as ligas de Titânio, por exemplo. 9 5. Referências Figura 1a. Disponível em: <http://www.mercadodomecanico.com.br/disco-de-freio-dianteiro-par- palio---siena---fremax-bd0178-bd0178/p>. Acesso em: 25 mai. 2017. Figura 1b. Disponível em: <https://salaodocarro.com.br/como-funciona/freios-a-disco.html>. Acesso em: 25 mai. 2017. Figura 2. Disponível em: <https://www.google.com/patents/US6371250>. Acesso em: 29 mai. 2017. Figura 3. Disponívelem: <http://slideplayer.com.br/slide/1835836/>. Acesso em: 31 mai. 2017. Figura 4. Disponível em: <http://www.dianliwenmi.com/postimg_348013.html>. Acesso em: 29 mai. 2017. Figura 5 e Figura 6. ASHBY, M. Materials Selection in Mechanical Design. Elsevier, 3rd Edition, 2005. ASHBY, M. Materials Selection in Mechanical Design. Elsevier, 3rd Edition, 2005.