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Resenha O sol é para todos Ronan

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Anhanguera
Curso de graduação em Geografia
Professora tutora: Rejiane Platero
Ronan Taveira Neves da Rocha
RA: 3045929827
REFERÊNCIA: LEE, Harper – O sol é para todos. – 19ª edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 2017.
A autora Nelle Harper Lee nasceu em 1926, em Monroeville, no Alabama, era discreta e recusava a maioria dos pedidos de entrevista e convites para palestras. Lee faleceu no ano de 2016, em um asilo, aos 89 anos. Sua principal obra, O sol e para todos, é um clássico da literatura universal de leitura obrigatória nas escolas primárias dos Estados Unidos. Embora seja um texto de fácil compreensão por ter uma linguagem simples, a história aborda dilemas morais e éticos vividos pela sociedade da época, a maioria dos quais perduram até os dias atuais. O livro foi escrito em 1960, recebeu o prêmio Pulitzer de Ficção em 1961, teve mais de 30 milhões de exemplares impressos e foi traduzido para mais de 40 idiomas.
Os críticos alegam haver muitos paralelos entre a infância de Lee e a protagonista de sua obra, Jean Louise Finch, a Scout. O pai de Lee foi um advogado que defendeu sem sucesso dois negros americanos, acusados de assassinato. O irmão de Lee, Edwin, era quatro anos mais velho que ela. A família tinha uma empregada negra que foi muito importante na educação de Lee. A mãe não havia falecido, como a de Scout, mas foi ausente na sua criação, e o amigo de infância de Lee, Truman Persons, era um garoto que passava temporadas na casa de parentes, vizinhos dela. Na literatura, esse garoto Truman serviu de inspiração para Dill Harris. 
Resumo da obra
A história se passa durante o período da Grande Depressão de 1930, em um pequeno povoado (fictício) do Alabama, chamado Mayacomb, na região sul dos Estados Unidos, essencialmente agrícola e escravocrata. A segregação racial está presente em toda a história, assim como as relações de gênero e classe social.
O livro é escrito em primeira pessoa, a narradora é Jean Louise Finch, chamada de Scout. Ela é uma menina de seis anos no início da história, que vive com seu pai, Atticus, seu irmão mais velho Jem, e a empregada negra Calpúrnia, além de Dill, melhor amigo de Scout e Jem, que passa as férias de verão no povoado. 
Scout narra suas memórias e sua percepção sobre a infância, suas travessuras e, acima de tudo, sua imaginação a respeito do misterioso e terrível Boo Radley, um vizinho que vive recluso em sua casa. Há muitas histórias a respeito desse personagem que fazem com que ele seja visto como uma espécie de “monstro do imaginário infantil”. 
O pai de Scout e Jem, Atticus Finch, é um advogado extremamente ético que é indicado para defender Tom Robinson, um negro acusado de estuprar e agredir Mayella Ewell, uma garota branca e pobre do povoado, que nunca pode frequentar a escola e foi forçada desde muito jovem a cuidar dos sete irmãos e da casa, para um pai violento e alcoólatra.
Desde quando Atticus aceita defender Tom, os moradores do povoado passam a discriminar e a perseguir Scout e Jem. A menina se envolve em várias brigas com seus colegas de escola por isso, mesmo não entendendo a razão – e tampouco o significado de “estupro” - ela reage aos ataques difamatórios contra Atticus e a família Finch.
Com o desenrolar do enredo, fica cada vez mais evidente que Tom Robinson não cometeu o crime, mas mesmo diante de argumentos concretos a respeito da inocência do réu, o juri decide pela sua condenação. Tom não estuprou Mayella Ewell, na verdade ela tentou beijá-lo e foi surpreendida pela chegada do pai, que a agrediu e talvez a tenha molestado, como forma de castigo pelo seu comportamento imperdoável e repugnante (tentar beijar um negro). Diante disso, ela tenta se livrar da culpa e da violência que sofreria pela sociedade, acusando outra pessoa. Atticus não tem tempo para recorrer da sentença, antes que pudesse fazê-lo, o negro Tom é morto por um policial durante uma (questionável) tentativa de resistência e fuga.
O pai de Mayella, Bob Ewell, sente-se ofendido por ter sido ridicularizado por Atticus no tribunal e pela forma como sua família foi exposta. Para se vingar, ele tenta matar os filhos de Atticus numa noite em que eles estão voltando de uma peça teatral em que Scout representou um presunto. Jem luta com Bob, que torce e desloca o braço do menino e o deixa desacordado. Logo em seguida Bob tenta atacar Scout e é surpreendido por Boo Radley que luta com ele e o mata com uma faca. 
Após a morte de Ewell, o xerife do povoado vai à casa da familia Finch e conversa com Atticus sobre levar ou não Boo Radley a julgamento por ter cometido o crime e decidem que é melhor ocultar o caso. Atticus questiona então à filha Scout se ela entende por que eles decidiram não acusar Boo, e ela cita um ensinamento que recebeu do pai anos atrás, numa ocasião em que os irmãos ganham espingardas de ar comprimido, e Atticus orienta os filhos a atirem em latas, no quintal, e diz que, caso eles decidam um dia caçar passarinhos, eles jamais deveriam atirar contra um rouxinol (em algumas traduções, rouxinol é substituído por tordo). De acordo com Atticus, é pecado matar um rouxinol. Scout menciona que é única vez que o pai diz que algo é pecado.O rouxinol é a figura da inocência no livro - em certo momento uma vizinha, a Senhorita Maudie, cita que esses passarinhos não destroem jardins, nem fazem ninhos nos milharais, apenas cantam. Scout então se utiliza dessa lição ensinada pelo pai para justificar a decisão de não acusar Boo Radley do seu ato, ela o compara a um rouxinol – “não se deve matar um rouxinol”. Diante disso então, ela, o pai e o xerife concordam que Bob Ewell, bêbado, caiu sobre a própria faca e se matou acidentalmente.
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Apreciação
O sol é para todos é considerado um livro clássico da literatura gótica sulista. Na literatura gótica americana há uma mistura entre o horror e o sublime. Ela se baseia em arquétipos, como monstros aterrorizantes, vítimas inocentes e cavaleiros heroicos, e faz uso de cenários sombrios como castelos medievais para aumentar o impacto emocional da história. No movimento gótico que surgiu no sul dos Estados Unidos, pessoas reais, ainda que fictícias, substituem esses arquétipos góticos. No início do livro, Boo é um monstro recluso, Jem, Scout e Dill suas vítimas em potencial e Atticus é um cavaleiro heróico.
Na ficção gótica sulista, casas e corpos defeituosos e abatidos substituem o castelo medieval como os cenários sombrios que aumentam o impacto emocional da história. Muitos dos habitantes de Maycomb possuem corpos defeituosos, infectados ou tortos. Atticus é muito velho para jogar futebol e usava óculos. A senhora Dubose, uma vizinha velha e rabugenta, viciada em morfina possui uma boca que causa repulsa em Jem. O braço esquerdo de Tom foi dilacerado por um descaroçador de algodão. O braço esquerdo de Jem é deslocado por Ewell. E, no fim, esses atributos defeituosos, tortos e aterrorizantes de Maycomb e seus habitantes expõem a degeneração e a decadência da cultura sulista em si.
No início do livro, Scout, com 6 anos de idade, lê jornal com o pai, mesmo sem ter tido uma educação formal, e quando Scout mostra que sabe ler na escola, a professora ordena à menina que peça ao seu pai para não lhe ensinar mais nada, já que em sua concepção o método estava errado e era inadequado, e diz à menina que irá tentar desfazer o dano causado pelo ensino incorreto, Scout percebe então como é perder a liberdade de fazer o que se deseja e diz que não gostava de ler até o dia em que teve medo de não poder ler mais, e conclui que “ninguém ama respirar”, ou seja, as pessoas apenas sentem falta da sua liberdade quando ela lhes é retirada.
O referencial moral e acadêmico de Scout é o pai, e ela apresenta resistência para aceitar o padrão de figura feminina imposta pela sociedade em que está inserida. Em muitos momentos da história, Jem e Dill acusam Scout de estar se comportando como uma “menina” e isso é algo detestável para os três. No decorrer da história, Atticus conclui que Scout estácrescendo e precisa ter um referencial de figura feminina dentro de casa, para aprender a se comportar. A narradora Scout então questiona o por quê da necessidade de outra mulher além da negra Calpúrnia. 
Essa personagem é muito interessante também, e a forma como a autora a conduz leva o leitor a entender melhor a questão da segregação racial entre brancos e negros. O trecho em que as crianças visitam a Igreja dos Negros com a empregada traz de forma nítida para o leitor esse tema e a realidade dos negros na época. Os hinos eclesiásticos, por exemplos, não eram acompanhados de folhetos com a letra das canções, como na Igreja dos Brancos, mesmo porque apenas quatro negros sabiam ler, incluindo Calpúrnia e seu filho.
O racismo e a intolerância estão presentes em toda a história e são a causa da condenação de Tom Robinson. O preconceito fica evidente na passagem em que Robert Ewell fala a respeito de Tom “Eu sabia quem ele era, morava naquele chiqueiro de pretos, passava pela casa todos os dias. Juiz, há quinze anos peço para o condado acabar com aquele chiqueiro, os moradores são perigosos para os vizinhos e desvalorizam a minha propriedade.” .
As evidências apontadas por Atticus são suficientemente claras para inocentar o acusado, e mesmo diante delas o juri (composto apenas por homens brancos) foi incapaz de absolvê-lo, punindo dessa forma Tom exclusivamente por ser negro. 
Se no início do livro Boo Radley é considerado um monstro misterioso que desperta horror e medo nas crianças, no decorrer da história a ignorância, o racismo e a violência demonstram ser os verdadeiros “monstros”, e Tom e Mayella são as vítimas. Lee aborda de forma sutil muitos dilemas morais e éticos atemporais, e leva o leitor a estabelecer uma relação de empatia com os personagens, a “vestir os calçados de outras pessoas e caminhar com eles por um tempo”, para então entender o que motivou suas atitudes e o que delimitou sua história.