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268 Leitura e escrita em movimento circulam hoje -, e acontece em diferentes condições de contratação -levantando questões sobre a atual divisão do trabalho intelectual. Tudo isso faz pensar sobre o quanto há de sabido e também de insuspeitado nos textos que lemos; inclusive em nossos próprios textos, aos quais acedemos apenas como leitores, amparados pela explicitação da leitura de um outro ou não. De todo modo, sendo já um outro de nós mesmos, algo deslocados. Eis o que há de mais interessante em olhar de perto o par autor/leitor, que pode parecer tão estabelecido na versão dicotômica: há muito mais entre o céu e a terra, há a paratopia criadora, esse lugar que é sempre um vir a ser, feito de instâncias que abrigam muitos a trabalhar pela construção de um - e é justamente aí que pulsa a vitalidade dos textos. Referências Bibliográficas BURKE, Peter & HSIA, Pó-Chia (orgs.). A tradução cultural - nos primórdios da Europa Moderna. Trad. Roger Maioli dos Santos. São Paulo: ed. 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Em um e outro caso, esse julgamento é feito de acordo com critérios gramaticais (ativando nosso conhecimento Iinguístico) ou conceituais (ao usar nosso conhecimento de mundo), ou ainda de acordo com o que pensa- mos de nosso interlocutor: o que ele pensa, o que ele sabe, o que ele quer. Esses parâmetros de ação discursiva se misturam, e muitas vezes convocamo-Ios todos juntos sem nos darmos conta. Se devemos levar em consideração todos esses aspectos quando pensamos em ações como a de corrigir-se ao falar ou de revisar/reescrever o próprio texto, a complexidade do problema aumenta quando temos em vista situações em que um sujeito incide sobre o enunciado do outro. Nesses casos, as "dramáticas do texto" passam por um arbítrio coletivo que nem sempre se reduz ao consenso. Pelo contrário: traz em si operações que implicam complexas relações de força, porque põem em choque diferentes concepções de língua, estilo, comunicação, público. Os sujeitos ocupam diferentes lugares na sociedade e se posicionam de diferentes modos, justamente porque se constituem pelo discurso de modos distintos. Por isso, a responsabilidade conjunta sobre um mesmo texto traz à tona conflitos que estão diretamente ligados ao laço social que a língua reflete e refrata. Esse laço - e os nós que, porventura, ele possa ocasionar - não pode ser desvendado sem que se leve em consideração o contexto em que os sujeitos se inserem. A aparente simplicidade do jogo de espelhos de uma situação hipotética "professor corrige texto do aluno'; por exemplo, se desmonta quando consideramos os agentes e as instituições envolvidas, de um modo ou outro, nesse processo: o sistema escolar, a escola e os superiores do professor em questão; a família do aluno, que pode ter acesso às correções do professor. Não se pode ignorar, nesse caso, o papel socialmente consagrado do professor - o de alguém que transmite ao aluno algo que ele não sabe - e as implicações disso para os sujeitos envolvi- dos. Todos esses fatores condicionam, de modo consciente ou não, o modo como se corrige, edita, aprimora, bem como a recepção desse trabalho por parte dos sujeitos envolvidos. Também em função dessa trama complexa de relações sociais, as possibilidades de melhorar um texto são, em maior ou menor grau, impossibilidades. Afinal, a atividade linguageira - como qualquer atividade humana - está condicionada por uma diversidade de coerções de ordem social. Então, para compreender essas "dramáticas do texto", ou seja, as microdecisões que envolvem uma cor-o reção aparentemente simples, é necessário levar em consideração fatores intra e extralinguístlcos. Essa complexidade é constitutiva da enunciação e, muitas vezes, desaparece como se nunca tivesse existido: o texto passa a circular sem os vestígios do processo, embora carregue consigo, invisíveis, essas dramáticas. É o caso dos textos da mídia, que costumam passar por truncadas sequências que envolvem edição, copidesque, corte e enxerto, aprovações e reprovações de conselhos editoriais, revisão ete. No final, o leitor tem acesso apenas ao resultado O revisor é um dos profissionais que exercem, no âmbito da produção midiática, final, sem enxergar os vestígios do processo. uma das atividades a que genericamente poderíamos chamar de intervenção nos Embora seja possível traçar características comuns a todas as situações de textos. Essas atividades consistem na ação de um ou mais sujeitos sobre um texto correção, edição, revisão etc., à medida que compartilham dessa constituição que surgiu pelas mãos de outro(s), comumente chamado de autor ou redator. discursiva de "corresponsabilidade" sobre um texto, cada caso merece instru - Vêm sendo realizadas por trabalhadores que, a depender do contexto de inserção mentais teóricos e meto do lógicos adequados. Afinal, aquilo que os sujeitos fazem profissional, podem ser designados como editores, preparadores, copidesques, e dizem só ganha sentido quando remetido às situações em que eles se inserem revisores ete. Em geral, designa-se revisor o profissional que intervém nas fases e de acordo com as restrições sob as quais produzem enunciados. Logo, somente finais do processo, com o objetivo de eliminar problemas textuais (padrões edito- num estudo meticuloso sobre as condições de produção do discurso podemos I riais e gramaticais, por exemplo) e visuais (decorrentes de lapsos na diagramação) alcançar explicações satisfatórias sobre os problemas que submetemos à análise. Isso I· ainda pendentes. Nesse caso, o ideal é que as correções de caráter mais sistêmico principalmente, como é o caso aqui, se a preocupação recai sobre relações sociais, t. (estrutura de títulos e subtítulos, reescritura de trechos, esclarecimentos factuais) identidades dos sujeitos e constituição dos sistemas de conhecimento e crença tenham sido feitas em fases anteriores do processo, como a edição e a preparação - problemas que são, fundamentalmente, discursivos (Fairclough, 200l, p. 58). I do original. É com base nessa premissa epistemológica que busco, a seguir, traçar alguns I Aterminologia de fases e funções não é consensual: não raro, denomina-se caminhos de reflexão sobre os revisores que trabalham nas (ou para as) empre- .~ I numa editora "revisão" o que em outra se diz ser "preparação" ou "edição". Por sas de comunicação e, particularmente, editoras de livros. Tenho em mente, r isso, ainda se faz necessário esclarecer - seja nos coletivos de trabalho, seja na para este texto, um recorte bastante específico: o cotidiano do revisor. Para isso, I literatura acadêmica - as fronteiras entre um e outro. No cotidiano profissional, então, mobilizo referenciais de três campos do saber: o da comunicação, o da ;1,1 essa distinção tem dupla finalidade: aperfeiçoar o processo e evitar desgastes físicos linguagem (particularmente as teorias da enunciação e do discurso) e os estudos e psíquicos. No âmbito científico, impõe-se a necessidade de estabelecer categorias do traba'lho (em especial os da sociologia crítica e da perspectiva ergológica). minimamente estáveis para a reflexão sobre a realidade labor.al desses profissionais. ~__~l~ ==~ 270 Leitura e escrita em movimento \. Reorganizações e processos editoriais 271 Essa orientação transdisciplinar permite pensar o trabalho dos revisores a partir da articulação (necessária e produtiva) entre produção, circulação e consumo de bens simbólicos - em contraponto às abordagens funcionalistas da comunicação que privilegiam a transmissão de informações em detrimento das mediações, as prescrições em detrimento da atividade e a língua em detrimento do discurso. Isso porque "o problema não reside tanto nessa especialização da pesquisa, mas principalmente na perda do princípio explicativo de análise do objeto da Comu- nicação, o qual reside em sua totalidade" (Lopes, 2003, p. 57). Para compreender o trabalho dos revisores, é ainda necessário ir além (ou melhor: aquém): chegar às ações ordinárias, aos conflitos de valores que fazem da atividade de trabalho algo sempre único, embora condicionado por fatores de grande envergadura. É preciso olhar para a relação dialética entre as questões estruturais e o cotidiano dos trabalhadores: "dentro do infinitamente pequeno do trabalho, encontram-se os maiores problemas do político" (Schwartz, 2007, p. 33). o revisor na contemporaneidade 272 Leitura e escrita em movimento Aliás, parte significativa dos estudos na área se presta a esclarecer - ou, ao menos, problematizar - essa confusão de termos'. De outro lado, esse caos nas denominações ilustra o pressuposto de que uma atividade de trabalho é sempre única: ela é sempre o encontro entre uma prescrição e uma situação específica sobre a qual incídem questões históricas, sociais e econômicas. Nunca o trabalho de revisar ou editar um texto é igual- de modo que, para ser realmente fiel ao princípio da precisão terminológica, esse trabalho receberia um nome diferente em cada veículo ou empresa, e talvez tivesse de mudar de nome sempre que uma chefia ou um profissional fosse substituído. Evidentemente, essa troca de nomes seria tanto impraticável quanto inconve- niente: essa cogitação serve apenas para mostrar que a atividade de trabalho é sempre irredutível, chegamos a ela apenas pelos resquícios materiais/discursivos aos quais ela dá acesso. Vale ressaltar também que ser revisor ou editor corresponde a categorias pouco estáveis - em especial a segunda designação, que em português pode as- sumir diversos significados. E os sujeitos assim designados, pelo menos no Brasil, não constituem um grupo a que possamos chamar de categoria profissional. A isso se soma o fato de que, com as novas formas de organização da produção, as atribuições se tornam mais fluidas, e o profissional da área converte-se ern um trabalhador flexível, multitarefas. Não existe, portanto, uma profissão para aqueles que "mexem no texto alheio": trata-se de uma atividade que permeia diversos níveis da produção e adquire contornos únicos de acordo com o coletivo de trabalho, o tipo de material produzido etc. Não obstante alguns veículos diários tenham abolido das redações a figura do revisor, ele é (ainda) comum nas editoras de revistas e livros, nas agências de publicidade e de produção audiovisual, e em empresas que prestam serviços para essas empresas. A atividade de intervenção nos textos como um todo está longe de ser extinta, embora tenda, em muitos casos, a ser incorporada à própria atividade de redação. Essa possibilidade está ligada à imbricação cada vez mais comum entre as chamadas atividades produtivas e improdutivas, comuns no modo de acumu- lação flexível de que se valem muitas empresas na atualidade (Antunes, 1999)2. 1 Destaco os trabalhos de Yamazaki (2007). Ribeiro (2007). Bueno (2005). Martins Filho e Rollemberg .~ (2001) e Sterchele (1992). além da maioria dos manuais de preparação e revisão encontrados no Brasil 2 .Veja-se. por exemplo. o seguinte relato do ombudsman da Folha: "Depois de lembrar que o jornal extinguIU a figura do 'revisor' desde os anos 80. o coordenador do Programa de Qualidade da Folha de S.P~ulo! R~gério Ortega, explica que. para a empresa. 'os jornalistas têm de se responsabilizar pela correção das Informações e da linguagem. e não delegar essa responsabilidade a terceiros" (Ajzenberg, 2002). Nesse caso. embora o jornalista revise O próprio texto. exclui-se um aspecto importante da Reorganizações e processos editoriais 273 A própria confusão termino lógica é fator de precarização do trabalho dos profissionais da área, pois contribui para tornar mais tênues as linhas divisórias entre as tarefas. Não à toa, é comum encontrar revisores exercendo funções de editor, checador ou tradutor, e vice-versa. Essa polivalência, que é não raro uma reivindicação dos trabalhadores, converte-se em estresse e patologias de hipersolicitação quando não se fazem acompanhar por condições adequadas de remuneração, tempo de trabalho, treinamento, recursos materiais ete. Isso tende a se agravar com o fenômeno da terceirização/teletrabalho, quando as condições de. labor e de aprendizado do ofício estão sob total (ou quase total) responsabilidade dos sujeitos e não mais das empresas que contratam seus serviços', Em todo caso - e considerando as transformações pelas quais esse tipo de trabalho tem passado -, trata-se de uma realidade que precisa ser investigada. Talvez por considerar que os procedimentos de intervenção são secundários, ou porque os toma como parte integrante da própria enunciação, a maior parte dos estudos em comunicação ignora esse trabalho. A escassez de estudos nesse sentido reflete não apenas a invisibilidade de que sofre o profissional de revisão, mas a seguinte omissão constatada por Fígaro (2005, p. 3): Poucos trabalhos [. .. ] têm se dedicado a analisar a empresa de comuni- cação como lugar de trabalho, lugar de produção de produtos a partir de determinada lógica produtiva e organizativa e como suas características têm se alterado ao longo das últimas décadas em decorrência das novas tecnologias e processos de organização do trabalho. A prioridade das investigações tem recaído mais sobre o produto textual que circula socialmente do que sobre a prática discursiva em si, com seus produtos provisórios circulando nos ambientes de trabalho. O texto, nessas investigações, surge não como construção coletiva permeada por lutas hegemônicas, mas revisão tal qual ela se consolidou historicamente: a de um profissional que age sobre o texto do outro. Fenômeno semelhante ocorre nas empresas de "edição paga":-o próprio autor banca a publicação do livro e. ao contratar esse serviço. pode escolher quais fases serão efetivamente realizadas. Nesses casos. é comum que a revisão seja posta de lado. em favor da diminuição dos custos e em função da certeza de que não se trata de um trabalho essencial à qualidade do produto final. 3 A nova configuração do mundo do trabalho exige o emprego de categorias que permitam dar conta das característicasque a classe trabalhadora e a empresa capitalista assumem hoje. Torna-se indispensável pensar os processos de globalização, transnacionalização e reestruturação produtiva em curso. que dita novos ritmos de produção. Para uma discussão sobre a situaç!o dos trabalhadores no mercado editorial e os impactos disso na qualidade do que é publicado. ver Gomes (1988). Bueno (2005) e Muniz Ir, (2008). 274 Leitura e escrita em movimento como resultado de um gênio individual ou, em oposição, de um coletivo amorfo (uma publicação, uma empresa etc.). Em contraposição ao privilégio de um ou outro aspecto, podemos concordar com Rüdiger (2002, p. 28): "Os momentos antagônicos que representam a espontaneidade individual e o sistema coletivo encontram-se em um condicionamento recíproco, que precisa ser analisado em vez de eliminado com o privilegiamento de um ou outro polo de investigação': Sobre as abordagens que não levam em consideração os "caminhos do texto'; adverte Chartier (1990, pp. 126-127): Contra a representação, elaborada pela própria literatura, do texto ideal, abstracto, estável porque desligado de qualquer materialidade, é necessário recordar vigorosamente que não existe nenhum texto fora do suporte que o dá a ler [... ]. Daí a necessária separação de dois tipos de dispositivos: os que decorrem do estabelecimento do texto, das estratégias de escrita, das intenções do "autor"; e os dispositivos que resultam da passagem a livro ou a impresso, produzidos pela decisão editorial e pelo trabalho da oficina [... ]. Nesse sentido é que a perspectiva do discurso pode ser frutífera: ela re- conhece o papel fundante da linguagem em constituir as relações sociais e de poder, bem como ser por elas constituídas. Isso se deve ao alcance que os estudos discursivos têm de revelar a opacidade da linguagem, ou seja, a característica de um texto que, "enquanto 'fechado; não pode nos dizer exatamente o aberto de onde ele vem, o aberto de suas leituras possíveis, o aberto do qual ele não fala" (François, 1997, p. 201). A linguagem torna-se, então "ponto de partida e desvio para se apreender a complexidade, cada dia maior, da experiência do homem num mundo em permanente transformação" (Jobim e Souza, 1997, p. 333). Como revisar, para que revisar: apontamentos discursivos A finalidade de intervenções como a do revisor é, à guisa de definição, preparar os textos para circular socialmente. O profissional, com seu "olhar de alteridade', prevê as leituras possíveis/prováveis e, com base nisso, propõe novas t~xt~alizações para que o texto em questão tenha efeitos o mais próximos pos- srveis dos previstos. A depender do gênero discursivo em questão, esses efeitos estão ligados a objetivos de aprendizado, fruíção estética, reflexão, mudança de comportamento etc. É evidente que a conquista de uma finalidade ou outra I t· ~ r I' I I r I J Reorganizações e processos editoriais 275 nunca está completamente sob o controle do autor e dos profissionais de edição. O trabalho deles pauta-se por uma aproximação de uma "leitura ideal': Por isso, sua ação está condicionada pela(s) imagem(ns) de leitor(es) que formam para si ao redigir um texto ou intervir sobre ele. Não se trata apenas de uma constatação pragmática - já que comumente se torna explícita, durante o processo, a preocupação com um "leitor", um "público'; um "público-alvo" -, mas de algo que é constitutivo da atividade linguageira: o dialogismo. Para Bakhtin (2006), dizer algo é sempre dizer para um outro, que está inscrito em nosso dizer e mesmo no discurso interno, que não verbalizamos. Princípio constitutivo da linguagem, o dialogismo remete à abertura do discurso para o que vem antes dele (fios ideológicos que ele retoma, rebate, incorp~~a) e o que vem depois (os outros inscritos no que o eu diz, a quem ~sse eu se ~~Ig~). Embora seja gestado nos recônditos da mente individual, esse discurso esta indis- soluvelmente ligado aos laços sociais que o sujeito estabelece. O cotidiano dos profissionais que se dedicam a essa atividade é composto por uma série de operações de leitura, avaliação e interferência (Yamazaki, 2007, p. 8). Tais operações tendem a se sobrepor em função das limitações de tempo para a execução do trabalho. A intervenção em si - o que, no jargão da área, é chamado de "emenda" - concretiza-se por meio de acréscimos, exclusões, substituições e permutas no tecido textual (Cális, 2008, pp. 61-62). Por vezes, o profissional apenas sugere novas textualizações por meio de comentários, dúvidas e críticas .d~rigidas ao autor ou a outro trabalhador do coletivo'. Ora realizada em arqurvo digital, ora em texto impresso (originais ou provas), essas intervenções são incorporadas ao texto final (a depender, igualmente, da aprovação por autores e outros responsáveis na cadeia produtiva), alterando-se o modo como ele irá a público. Esse trabalho é realizado com base em certos critérios de eficácia, estabe- lecidos de acordo com o tipo de texto, os leitores e leituras previstos, as vontades do autor, da empresa publicadora e de outras partes interessadas - eis, portanto, a complexidade da questão. Esses critérios sempre se materializam em ~i~tem~ normativos, que podem ser tanto explícitos (manuais de redação e edição, di- cionários, gramáticas, guias de usos da língua, treinamentos ete.) quanto implícitos (formação escolar, ordens ou consensos gestados no próprio coletivo de trabalho, concepções éticas em relação à atividade ete.). De qualquer modo, trata-se sempre de discursos que, no decorrer da atividade, são recuperados ou refutados, nem sempre de maneira evidente. Eis a natureza dialógica do discurso do revisor: ele I·; ! ) 4 Essa diferenciação está na base das diferenças entre as correções resolutivas, indic:-tivas, elas- sificatórias e interativas, citadas por Ribeiro (2009, p. 6). 276 Leitura e escrita em movimento sempre aponta para o que vem antes e depois de si. Trata-se de um trabalho em que essa relação com outros discursos é não apenas constitutiva, mas normativa: sua atividade é avaliada na medida em que se filia ou não a essas prescrições. Um "derrepente" não corrigido, por exemplo, não é simplesmente um lapso de linguagem: é um vestígio de que o sujeito que revisa não se apropriou de maneira adequada da norma padrão da língua portuguesa, um tipo de discurso que circula por meio de dicionários e gramáticas. Para essa avaliação de inadequação, têm-se em conta os mercados simbólicos nos quais aquele texto irá circular. Mais uma vez, então, é impossível pensar as questões da linguagem sem levar em consideração o laço social e a intersubjetividade que a atividade linguageira pressupõe. O ato de dizer (ou de pensar, uma vez que a consciência é também de natureza sígnica) instaura um outro, a quem a palavra do eu se dirige. "Esse enfoq~e dialógico, espécie de posição interpretativa, é possível a qualquer parte significante do enunciado, inclusive a uma palavra isolada, se essa palavra for signo da posição interpretativa de um outro" (Castro, 1997, pp.129-130). Essa observação é fundamental para os objetivos aqui delineados: mesmo quando não se trata de um enunciado completo, é possível adotar o dialogismo como categoria de análise. Isso dá subsídios para enfrentar toda e qualquer intervenção (seja ela um simples sinal de acentuação, uma inversão de períodos ou um acréscimo de informação) a partir do pressuposto de que há "outros" inscritos nessa decisão. Sempre é possível constatar camadas dialógicas na atividade linguageira do revisor. Como seu trabalho é comumente avaliado e aprovado por um superior, este é um dos outros a quem ele se reporta. Há também, evidentemente, o leitor final, com cuja recepção o profissional se preocupa durante a intervenção ao, por exemplo, buscar uma palavra mais coloquial ou indicar para a diagramação uma linha mais apertada. No entanto, vale assinalar que sua relação comesse leitor não é direta, na medida em que suas intervenções chegarão a ele não como camadas de textualização, mas como publicação "limpa': As interferências do revisor se somam à própria instituição da autoria, porque a parasitam. Dependendo do caso, podem ser interlocutores diretos do profissional de intervenção textual o autor, o tradutor, o adaptador, os colegas de mesmo nível hierárquico, o diagramador. .. Há que se considerar, então, o micro da atividade de trabalho em que o trabalhador se insere, as características particulares de cada .~ empresa, de cada projeto, de cada setor etc. E esses outros da enunciação nunca são transparentes à pesquisa, de visibilidade imediata. Para chegar a eles, é preciso debruçar-se sobre os valores inscritos em cada intervenção: é preciso saber que normas les evocam. Eis o ponto: a revisão se dá na medida do encontro entre um discurso autoral (pertencente ao campo da literatura, da ciência, da filosofia, Reorganizações e processos editoriais 277 da educação etc.) e os discursos normativos que o revisor mobiliza - e, vale dizer, não simplesmente aplica. A norma, dispositivo de prescrição organizado discursivamente, está sempre lá, inscrita nas microdecisões textuais, porque é o ponto de partida de qualquer atividade. Ninguém faz nada de qualquer jeito: há sempre balizas fundamentais na atividade industriosa e linguageira. E essas normas não surgem do nada: elas só podem ser pensadas a partir das condições históricas em que foram engendra- das e nas quais continuam produzindo sentidos. Por isso, é possível dizer que as . normas não apenas fornecem diretrizes para a atividade, mas revelam o caráter coletivo do trabalho, por meio das vozes normativas de outros eus que deixaram seu registro de ação e coerção no decorrer do tempo. Em última análise, a polifonia das normas é reveladora da historicidade do trabalho de revisão. As normas dizem o que se espera que um trabalhador realize, e de que maneira ele deve fazer isso. No entanto, elas não se confundem com a atividade concreta do homem no trabalho. Pelo contrário: o ato de trabalhar é sempre uma experiência de renormalização. De acordo com Falta (1997, p. 171), "as normas, as restrições que regem as formas, constituem o quadro com e no qual se materializa a mul- tiplicidade de trocas constitutivas de toda atividade': O sujeito promove, a todo instante, um debate entre as normas da prescrição e as normas que ele carrega consigo de outras vivências, de dentro do trabalho e fora delas. Esse confronto é inerente a toda situação de trabalho. É assim que o sujeito faz e refaz as prescrições do trabalho, e é nesse micro do trabalho que se constroem permanências e mu- danças do trabalho em dimensão macro. Ao priorizar a atividade como unidade de análise, o que se faz na perspectiva ergológica não é excluir a prescrição, mas incorporá-Ia ao debate de normas que ganha corpo em cada gesto do trabalhador. Dito de outro modo, o trabalho é sempre uma gestão que o sujeito opera com a defasagem entre o prescrito e o real: o primeiro, embora pretenda, jamais cobre a imprevisibilidade do segundo, que é singular. Sendo discurso, a norma carrega consigo a marca das relações sociais, das identidades sociais e dos sistemas de conhecimento e crença. E, sendo debate de normas, a atividade de trabalho é constitutivamente um conflito de valores que acaba traduzindo, de um modo ou outro, o conflito entre classes antagônicas. Contudo, os valores das normas se misturam e geram não apenas conflitos, mas também consensos. Nesse ponto, torna-se fundamental pensar a atividade lin- guageira nos termos das lutas hegemônicas. Para se valer de uma norma ou outra, o revisor leva em consideração - mesmo sem se dar conta disso - os outros de seu discurso (e ele faz isso sob as condições de produção que se impõem a ele). Com isso, ele tem em vista uma adesão, que 278 Leitura e escrita em movimento também é específica de acordo com cada instância de recepção: no caso do su- perior, essa adesão pode se basear em fatores como rigor, conhecimento técnico, curiosidade, atenção etc.; para o autor, prudência, minúcia ou respeito; para o leitor, estão envolvidos a clareza, o interesse pela leitura ete. Há muitos fatores envolvidos e, nesse ponto, a revisão se converte em instância de análise fundamental para compreender que os textos em circulação na sociedade quase nunca são fruto do esforço individual de um sujeito, em cuja consciência muitas vozes sociais se cruzam em polifonia. Em vez disso, temos um problema ainda mais complexo: vários sujeitos incidem sobre o texto a partir de seus respectivos repertórios, valores, condições. E, sob a superfície do texto acabado, ocultam-se conflitos, silenciamentos, resistências e insistências. Para o senso comum, o revisor simplesmente aplica uma norma a um texto, para expurgar desse texto um erro (ausência da norma). Essa operação altera o estatuto desse texto, que passa a poder ser considerado um texto normatizado. Nesse construto, o sujeito nem se deixa perceber, porque se põe como completamente assujeitado pela norma que utiliza (ou pela norma que se utiliza dele). Porém, tendo em vista que a norma é organizada discursivamente e que a atividade é sempre constituída por um debate de normas, é possível desconstruir esse senso comum a partir de três fatores. Primeiro: nunca existe apenas uma norma: há sempre muitas normas, muitos jeitos de fazer, e a atividade de trabalho as põe em confronto. E isso mesmo quando a análise superficial da situação faz crer que há apenas uma norma - essa "ilusão" deriva do fato de que uma norma se sobreponha a outras como hegemônica, de tal modo que se torne quase inquestionável (é o caso da norma culta do idioma ou de certos jargões de área). O segundo ponto é que, à medida que a atividade de trabalho põe essas normas em confronto, elas atravessam o texto de diferentes maneiras. Nesse ponto, igualmente, evidenciam-se. as relações de hegemonia entre os discursos normativos. A presença mais ou menos constante da norma culta num texto é, ao mesmo tempo, uma ausência maior ou menor de outras normas do idioma, que a circundam marginalmente. Por fim, é preciso reconhecer que esse debate de normas na atividade de intervenção textual muda não só o estatuto do texto, mas também o estatuto das normas. Se uma norma que é hegemônica perde terreno, na atividade, para ,~ outra que não é, produz-se uma alteração no estado das forças que essas normas mantêm entre si - e, consequentemente, das relações entre os grupos sociais que sustentam essas normas. Se, por outro lado, uma norma hegemônica impõe-se sobre a~ outras, ela é sustentada por meio dessa atividade. Desse modo, o inves- timento ideológico da revisão como atividade socialmente orientada está menos Reorganizações e processos editoriais 279 condicionado pelo conteúdo da intervenção em si (a emenda) do que pelos laços 'que o sujeito estabelece ou rompe entre o texto-base da intervenção e as normas engajadas em sua atividade. Nesse aspecto, é impossível fugir das questões do gênero textual como categoria que "organiza a manifestação [textual] e promove seu acabamento' (Machado, 1997, p. 143). Ora, os tipos e os graus de intervenção sobre um texto são mais ou menos autorizados de acordo com o gênero ao qual esse texto parece pertencer. Araújo (1986, p. 33) diz que "ao editor impõem-se, naturalmente, certas restrições, em, particular quando se trata de texto literário, onde o ,autor é soberano para realizar fraturas na linguagem e na ortodoxia das regras gramaticais". O que ele faz, então, é descrever uma espécie de laço entre gênero e norma previsto, privilegiado. No entanto, as restrições das quais Araújo fala não se dão "naturalmente": elas são fruto de concepções coletivamente construídas, por meio de lutas, sobre o que seja um texto literário em oposição a outros tipos de texto. Não há imanência, há história.O edit~r .que desafia esse tipo de prescrição está, no micro da atividade, desfazendo esse laço e efetuando uma mudança discursiva. "Em poesia não se mexe'; diz uma regra de ouro da área, mas é preciso verificar nos casos concretos se essas prescrições se sustentam. Daí a importância dos relatos como o de Ar- lindo Pinto de Souza (Ferre ira, 1995). O editor de poemas de cordel assinalou que . todos os originais publicados por sua editora passavam por uma "reelaboração" feita por Manuel de Almeida Filho, poeta de cordel que era conselheiro editorial da casa e fazia também as vezes de revisor. As intervenções incluíam inclusive a correção gramatical- o que, para Ferreira (Perreira, 1995, p. 14), são "mediações indesejáveis, da atuação corretora de revisores, da interferência assídua sobre o texto". Quando decide aplicar a norma culta do idioma a poemas de cordel, esse editor não apenas desloca esse texto dentro do gênero a que pertence (ele ganha outro estatuto), mas também desloca o discurso da norma culta em relação a outras normas. Esse, então, é o efeito da renormalização na atividade de editores, preparadores e revisores: mudar o estatuto dos textos e das normas, deslocando- os (enfraquecendo-os ou fortalecendo-os) nos interdiscursos de que participam. Por isso é tão oportuno deslocar o olhar dos textos em circulação para o processo de produção desses textos, de modo a pôr em relevo as diferentes versões e encontrar neles as marcas da intervenção de diferentes sujeitos (autores, editores, revisores etc.). Essa técnica de pesquisa nos ajuda a compreender que a atividade concreta desses trabalhadores não se confunde com diretrizes, manuais, protocolos, hierarquias, organogramas e cronogramas, embora sempre se paute por essas normas específicas da atividade. Diversos enfoques - crítica genética, análise de discurso, manuscriptologia - têm sido empregados nesses "estudos 280 Leitura e escrita em movimento Reorganizações e processos editoriais 281 de versões", dos quais podemos destacar Escorei (2001), Salgado (2007), Lebuis (1987), Pétillon (2006) e Raabe (2006). Outro estudo relevante nesse sentido é o de Roger Chartier (1990), que analisa a edição de literatura de cordel da província francesa de Champagne nos séculos XVII e XVIII a partir da reedição de conteúdos já publicados por editores da capital. Sobre um dos corpora, o autor comenta: "os editores de Troyes dão uma nova disposição aos textos que selecionam para imprimir, fazendo-o em função dos leitores que desejam ou pensam atingir" (p. 174). Trata-se de intervenções estruturais, reduções, simplificações, sobre as quais o autor conclui: Representações do revisor: pedras no caminho As distâncias, aparentemente insignificantes, entre os textos de edições de cordel e os das edições letradas, que eles retomam, traduzem a ma- neira como os impressores de Troyes (ou os que para eles trabalham) concebem as capacidades lexicais, limitadas e particulares, do grande número de seus leitores potenciais (p. 176). } Como discuti anteriormente, ao contrário do que fazem crer os relatos de cunho funcional-estruturalista, a revisão de textos não é uma atividade puramente objetiva, na medida em que é na e pela linguagem que o indivíduo revisor se constitui como sujeito. Mesmo que não revele, por meio dessa atividade, traços de singularidade ou de autoria, ele toma parte numa prática que é socialmente forjada. Então, não é possível dizer que ele atua simplesmente na esfera da lingua, dado que a realidade do texto é sempre o discurso. A intervenção desse sujeito, mesmo quando se limita a correções ortográficas, tem implicação socioideológica. Essa perspectiva teórica sobre a revisão tem duas consequências principais. A primeira é deslocar o olhar, que tradicionalmente tem se dirigido para a rela- ção sujeito-texto, para a relação sujeito-sujeito, que se materializa por meio do texto. Este, então, é percebido não como o centro, mas como parte de uma prática discursiva que, por sua vez, se insere dentro de uma prática social específica. A segunda consequência é sair da discussão em torno das questões gramaticais e pensar toda e qualquer atividade linguageira como ação na esfera das ideologias, dos conflitos de saber e de poder, das hegemonias. Tal postura implica abandonar as imagens tradicionalmente disseminadas do revisor gramatiqueiro, bitolado, para pensar se esse estereótipo corresponde à realidade e, se sim, o que está por trás dessa postura. A julgar pelo que se ouve dizer por aí (inclusive de muitos revisores), argumentar que a revísão de textos é uma atividade submetida aos imperativos da subjetividade é quase uma afronta. Se, no âmbito da produção midiática, a ilusão de objetividade no trabalho do jornalista tem sido paulatinamente desconstruída, no caso dos revisores esse é um terreno ainda em prospecção. "Atenção cirúrgica, paciência bíblica, humildade franciscana e nunca, em tempo algum, corrigir por capricho - apenas por necessidade': eis o mandamento. Não à toa, o profissional da área é hegemonicamente tratado na medida das normas gramaticais e paragramaticais de que se utiliza em seu trabalho diário. Aliás, dizer que o trabalhador utiliza essas normas já estaria de bom tamanho: a considerar os discursos dominantes, seria mais oportuno dizer que as normas é que se utilizam desse trabalhador. Talvez esta seja a premissa de Rubem Alves (2009), quando diz que os revisores "são seres obedientes: cumprem e fazem cumprir as leis ditadas pelos gramátícos" Mais adiante, o professor e escritor complementa: "Deve ser terrível viver o tempo todo sob a tirania das leis dos gramáticos e sob a tirania do texto do autor a que eles têm de se submeter, sem dar sua contribuição pessoal. Afinal de contas o Essa constatação contribui em vários sentidos: primeiro, Chartier desvenda a relação existente entre mudanças textuais pequenas e as características do público leitor, previstas no momento da produção editorial - corroborando, portanto, a ideia de que "a produção e o consumo são de natureza parcialmente sociocogni- tiva" (Fairclough, 2001, p. 99). Segundo, ele admite que há um trabalho coletivo de intervenção textual para além do proprietário da casa editorial, embora revele que "saber quem são os artesãos exactos deste trabalho de adaptação e de revisão não é tarefa fácil" (p. 176). Vale reforçar, nesse ponto, a necessidade de levar em conta "o quadro das instituições em que o discurso é produzido, as quais delimitam fortemente a enunciação; os embates históricos, sociais ete. que se cristalizam no discurso; o espaço próprio que cada discurso configura para si mesmo no interior de um interdiscurso" (Brandão, 2004, p. 17). Assim, as decisões mais cotidianas, ordinárias, podem engendrar algum tipo de mudança discursiva, que "ocorre mediante a reconfiguração ou a mutação dos elementos da ordem de discurso que atuam dinamicamente na relação entre as práticas discursivas" (Magalhães apud Fairclough, 2001, p. 12). Pôr em primeiro plano a interação entre o texto- original e as intervenções serve justamente para evidenciar a interação do revisor com outros sujeitos como relações sociais discursivamente instauradas. O acon- tecimento da revisão revela os investimentos ideológicos a partir do cotidiano, em sua' relação com os sistemas ideológicos constituídos. Nesses trânsitos entre micro e macro reside então sua historicidade. 282 Leitura e escrita em movimento revisor não gosta de ser revisor. Ele queria mesmo era ser escritor': Ao final, ele retifica-se: "contrariamente ao que já disse, fico a pensar que talvez o poder dos revisores seja maior que o poder dos gramáticos: com uma única palavra, eles podem mudar o mundo ou arruinar um livro': Para justificar sua concepção da atividade, ele cita o livro História do cerco de Lisboa, de José Saramago, que narra a trajetória de um revisor que muda a história de Portugal com uma simplespalavra, inserida por capricho ou lapsos. A contradição entre a singularidade autoral e o sistema normativo da língua é uma das pedras de toque para os profissionais da área e também para autores e tradutores. Vejamos, por exemplo, o que diz em coro com Rubem Alves o socio- linguista Marcos Bagno (2009, p. 58): Sou tradutor profissional há mais de 25 anos e a experiência acumulada nesse tempo me confere uma cristalina certeza: os revisores que trabalham nas nossas editoras pertencem a uma seita secreta com a missão de boicotar ao máximo o português brasileiro, impedir que ele se consagre na língua escrita para preservar tanto quanto possível a norma-padrão obsoleta que eles julgam ser a única forma digna de receber o nome de "língua portuguesa': • Ambos os autores reproduzem, cada qual a seu modo, o senso comum sobre a profissão: revisor é aquele senhor de óculos que, debruçado sobre um texto e amparado por dicionários, gramáticas e manuais, não faz senão aplicar ao texto lido as normas prescritas por tais documentos. Tal é a jocosidade da imagem que podemos verificar, nesse imaginário coletivo, a existência de um trabalhador sem arbítrio, que não faz escolhas. No discurso de Bagno, essa descrição adquire esta- tuto geral; com ele, poderíamos imaginar uma conspiração nacional de revisores e gramáticos contra as transformações em curso na língua, todos abobalhados por uma grande e única ordem: desprezar a evolução do idioma em favor de uma língua que já não faz parte de nosso cotidiano. Essa tipificação também encontra paralelo numa visão do trabalho midiático como fluxo de mensagens e tarefas, e não como processo permeado por contradições. Sob essa via de análise, poderíamos dizer que revisar nada mais é do que sair à~ 5 Para uma instigante e bem fundamentada análise das relações entre autor e revisor, com base no romance de Sararnago, cf Arrojo (2003). Entre as conclusões do estudo, está a de que o modo como o enredo se dá acaba por reproduzir o estereótipo do revisor como guardião da gramática e sujeito subsumido às vontades do autor. Ribeiro (2008) chega a conclusões semelhantes ao analisar uma amostra de textos de um cronista esportivo mineiro. Reorganizáções e processos editoriais 283 cata de erros (fundados na existência de um lugar discursivo onde a norma não entrou) e corrigi-Ios. A parte a dureza quase destrutiva da imagem irônica que Bagno constrói, consideremos os bons argumentos de Britto, outro sociolinguista: De modo geral, os revisores atuam exatamente na construção de um modelo de língua em que prevalece a ideia de um princípio legislativo - de uma lei da escrita. O papel do revisor, para ele próprio (mesmo que não dizendo), não é contribuir para que o autor do texto escreva o. que quis do jeito que quis (o que seria uma ação pedagógica), mas o de ajustar o texto a um hipotético padrão "oficial". Além da ortografia, a relação entre fala e escrita é tensa: mais do que uma simples gramática, são questões de estilo o que prevalece. No entanto, a revisão escamoteia essa tensão traduzindo-a em estar de acordo ou contra as regras e na defesa de uma pretensa coerência das formas, sustentada no mito da padronização (2003, p. 84). Não se trata, aqui, de ignorar esse aspecto negativo da atividade, mas de relativizá-Io tendo em vista a complexidade inerente a toda e qualquer profissão. Afinal, como ressaltamos anteriormente, trabalhar não é simplesmente executar uma tarefa. A atividade de trabalho só existe na medida em que a tarefa, a norma, é renormalizada. As situações de trabalho são sempre únicas: e a função das prescrições é fornecer diretrizes de ação. Trabalhar bem não é executar as tarefas tais quais elas foram estabelecidas apriori, mas saber lidar com a defasagem entre o trabalho prescrito e o trabalho real - um hiato inerente à atividade. Eis o peso de ser um sujeito no trabalho: gerir o uso de si pelo outro e o uso de si por si de acordo com a situação particular em que se encontra, num debate de normas que é sempre dialético, sempre novo. O que torna as avaliações de Rubem Alves e MaICOSBagno dignas de crítica (e mesmo Britto, com seu "de modo geral" que não traz evidências científicas) é generalizar o ingeneralizável. É dizer, com base em alguns exemplos pessoais, que os revisores estão todos contra a originalidade da literatura e a evolução da lingua. Assim, o problema não é exatamente a constatação (que até renderia bons estudos de caso), mas o alvo de suas flechas. Ora, eles ignoram o fato de que o revisor tem um chefe ou vários, tem um prazo, e tem uma formação especifica - adquirida, por exemplo, nas faculdades onde Alves, Bagno e Britto lecionam. Portanto, suas decisões estão condicionadas por uma série de fatores que, por Tezes, podem lhes impedir de seguir as recomendações de preservar o estilo dos autores ou a variedade da língua. Eu posso ser um revisor favorável à adoção das regências 284 Leitura e escrita em movimento mais usuais, como "assistir televisão'; mas meu chefe talvez pense o contrário, ou o manual da editora diga o oposto, e meu emprego depende de seguir ou não essas normas. Evidentemente, isso não livra o revisor da responsabilidade que possui sobre o que faz, mas traz à tona o fato de que existem relações de poder que devem ser consideradas caso a caso - para que então possamos concluir que os revisores são, ou não, todos uns conservadores. No final das contas, o que os três autores fazem é culpabilizar os indivíduos por ações que estão no âmbito do coletivo. No entanto, a importância da causa encarn- pada por eles não poderia atropelar a irredutibilidade das experiências singulares dos trabalhadores e a ligação dessas experiências com as lutas hegemônicas. Isso novamente nos conduz a considerar as condições concretas de trabalho: os impera- tivos da polivalência, da flexibilidade, da terceirização, das baixas remunerações e dos prazos exíguos, além da obrigação de adotar certos procedimentos e normas em detrimento de outros. Énesse tom que fala Sirio Possenti (2003) - que, tal como Bagno, milita publicamente contra o preconceito linguístico e o conservadorismo dos chamados comandos paragramaticais: .! Minhas parcas experiências com a escrita já me convenceram de algu- mas coisas - e gostaria que ajudassem a convencer outros, o que não é fácil. De todos os passos do processo que vai do bau.;car das teclas a um escrito que circula, um dos que mais aprendi a apreciar e respeitar é o da revisão. É verdade que se trata de uma etapa problemática, em geral de poucas luzes, até porque, imagino, um revísor não deve ganhar grande salário. De início, já se nota que o tom de humildade ("Minhas parcas experiências com a escrita'; "imagino") de Possenti contrasta com o argumento de autoridade ("Sou tradutor profissional há mais de vinte e cinco anos'; "cristalina certeza") do colega. Em segundo lugar, no texto todo, embora reconheça a responsabilidade do revisor sobre as atitudes que toma com relação ao texto, Possenti faz questão de considerar as contradições que regem a prática. Coli (2006), que faz uma crítica aos revisores no mesmo sentido das de Bagno e Britto, leva, como Possenti, a discussão um pouco mais fundo: Vai, então, a súplica aos editores, às malditas "normas da casá': um livro não é um hambúrguer. As "irregularidades" dos autores são como a variedade da comida: gosto ácido, gosto apimentado, sensação de resistente, de macio, de frio, de quente, de gelado. Às vezes mais sal- Reorganizações e processos editoriais 285 gado do que deveria, mas excitante para o paladar. Às vezes mais cru ou bem passado. Sobretudo, diverso e estimulante. Não pasteurizem, por favor; abram o apetite, que se cansa com o igual, com o mesmo, e adora descobrir sabores inesperados. Embora também discutam o caráter problemático da intervenção, Coli e Pos- senti ressaltam a importância do trabalho do revísor e a variedade de situaçõesnas quais esse trabalho é feito. Eles abordam as coerções às quais os profissionais estão . submetidos sem deduzir disso um assujeitamento completo do profissional ou, ao contrário, uma atividade livremente orientada pelo indivíduo. O reconhecimento dessas questões acena para o caráter contraditório da atividade linguageira. Se muitos revisores adotam a prática de pasteurizar textos e achatar a língua, talvez o problema não esteja exatamente nas mãos dos revisores como índividuos. Olhemos, portanto, para os discursos nos quais esses profissionais estão envoltos, e que lhes servem de normas: as gramáticas, os dicionários, os manuais, os protocolos de cada empresa, as teorias que têm sido ensinadas nos cursos superiores de comu- nicação e letras ... E percebamos também as condições em que eles produzem seu discurso "revísoral', tão criticado pelos que acreditam na literatura e da língua mutante". (E isso tudo para não falar de quem critica o revisor por ter deixado passar um erro de ortografia ou pontuação, como se ele fosse uma máquina não sujeita a lapsos - as pedras vêm de todos os lados e de todos os tamanhos!) Considerações finais Trabalhar é produzir valores, e dizer é produzir sentidos. Revisar o texto do outro é produzir valores (de uso e de troca) nesse texto, e é também produzir sentidos nele - preferencialmente os desejados pelo autor, os circuláveis dentro do mercado simbólico ao qual ele é destinado. No entanto, para além dessa ma- terialidade do trabalho e da linguagem, trata-se também de produzir valores e de produzir sentidos. Quando revisa um texto, O sujeito põe seus próprios valores em jogo: valores da vida, da relação com o outro, do que deseja para si e para o mundo em que vive. E põe também em jogo seus sentidos: aonde é mesmo que 6 Fica lançada a dúvida: será que, e até que ponto, as contribuições da sociolinguistica variacionista têm sido incorporadas aos currículos das faculdades e transportadas à prática do trabalho com a língua' Yamazaki (2009) sintetiza algumas dessas contribuições e lança um desafio aos profissionais da área: abandonar a obsessão pelo erro e adotar a obsessão pela legibilidade. 286 Leitura e escrita em movimento isso vai parar? Que projeto (de texto, de vida, de sociedade) é esse? Trabalhar e dizer são, portanto, sempre atitudes éticas. E quem faz isso é um sujeito: aquele que trabalha, aquele que diz. À revelia da geração de lucros e da prevenção de ruídos, deve-se revelar: o revisor não é uma pedra. E pensa. O sujeito que trabalha transforma o próprio trabalho, e o trabalho o transforma: o homem se faz humano enquanto faz. O sujeito que diz transforma o que diz, e o que ele diz o transforma: a escrita serve à sua constituição. E mais: o sujeito só se faz existir, só se faz ser, na medida de um outro. A subjetividade se constrói nessa relação - quando trabalha e quando diz, o homem constrói e modifica sua posição em relação ao outro. Não é possível pensar o trabalho e a linguagem a não ser como atividades estruturadas por esse laço social. O revisor não se relaciona com um texto: ele se relaciona com os sujeitos que participam, de um modo ou outro, do que aquele texto é - o autor, o editor, o leitor, o não leitor. .. Ele se relaciona também com todas as vozes sociais que, antes ou depois dele, tomaram vez para fazer do texto o que ele é. O que diferencia o revisor do autor e do leitor é que sua leitura-escrita, parasitária como não poderia deixar de ser, não funda uma discursividade, não o singulariza. Ele intervém no texto alheio com base em critérios subjetivos, mas não com a via da singularidade e do apoderamento. Eis o talento desse sujeito: abandonar a própria escrita para habitar a escrita do outro, que o domina. A fór- mula ganha corpo se vislumbramos a nuance: quanto mais singulares são a escrita de um autor e as leituras que seu texto suscita, menos ela costuma ser habitada pelos discursos das normas que o revisor visita, institui e retrabalha. Falar da subjetividade desse trabalho nos parece já um avanço, na medida em que os lapsos são comumente repreendidos, considerados inaceitáveis. A visão de que o revisor age como um arauto da norma é danosa ao profissional, porque o faz confundir-se com códigos em estado vegetativo. Disso derivam afirmações como a de que, um dia, os softwares de correção ortográfica substituirão os revi- sores de carne e osso. Alguns desavisados ainda não perceberam que o revisor só faz o que faz porque está mergulhado na cultura. Ele só executa uma atividade pretensamente objetiva porque está entalado, até o pescoço, de subjetividade. Assumir essa premissa é fundamental não apenas para conhecer o trabalho do revisor, mas para também reconhecê-lo. Referências Bibliográficas AJZENBERG, B.Mosca na sopa. Folha de SPaulo, São Paulo, 30 jun. 2002 . • ALVES, R.Sobre gramáticos e revisores. Folha de S.Paulo, São Paulo, 20jan. 2009. Reorganizaçôes e processos editoriais 287 ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999. ARAÚJO, E. A construção do livro: princípios e técnicas de editoração. Rio de Ianeiro/Brasília: Nova Fronteira/1NL, 1986. ARROJO, R. 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