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& Práticas de L31TUR4 ESCRITA Francisco Geoci da Silva, Glícia Azevedo Tinoco José Romerito Silva e Tamyris Rezende Natal 2013 Práticas de leitura e escrita: volume 1 / Francisco Geoci da Silva... [et. al.]. – Natal, RN: UFRN, 2013. Autores: Francisco Geoci da Silva, Glícia Azevedo Tinoco, José Romenito Silva e Tamyris Rezende. ISBN 978-85-425-0045-5 1. Leitura – Práticas. 2. Escrita – Práticas. 3. Linguística aplicada. 4. Ciências e Tecnologia. 5. Tecnologia da informação. I. Silva, Francisco Geoci da. II. Tinoco, Glícia Azevedo. III. Silva, José Romenito. IV. Rezende, Tamyris. RN/UF/BCZM CDU 028.1 Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitora Ângela Maria Paiva Cruz Vice-reitora Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes Escola de Ciências e Tecnologia Direção geral Rex A. C. Medeiros Instituto Metrópole Digital Direção geral José Ivonildo do Rêgo Vice-direção Adrião Duarte Dória Neto Coordenação Laboratório Informática Educacional Apuena Vieira Gomes Design Instrucional Akynara Aglaé Burlamaqui Transição Didática Edilene Cândido da Silva Raiane dos Santos Martins Conselho Editorial Apuena Vieira Gomes Edna Maria Rangel de Sá Lauro W. Meller Marcela A. Cucci Silvestre Projeto Gráfico José Lúcio Tertuliano da Silva Mariana Araújo de Brito Diagramação Mauricio Design Mauricio Oliveira Jr. - DRT/RN 1515 Capa José Lúcio Tertuliano da Silva Mariana Araújo de Brito A leitura é sempre apropriação […], produção de significados. […] o leitor é um caçador que percorre terras alheias. […] Toda história da leitura supõe, em seu princípio, essa liberdade do leitor […] Mas essa liberdade leitora não é jamais absoluta. Ela é cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções e hábitos que caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. Os gestos mudam segundo os tempos e os lugares, os objetos lidos e as razões de ler. […] Do rolo ao códex medieval, do livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história das maneiras de ler. Elas colocam em jogo a relação entre o corpo e o livro,os possíveis usos da escrita e as categorias intelectuais que asseguram a compreensão. Roger Chartier Apresentação No mundo globalizado atual, cujo merca- do de trabalho torna-se cada vez mais exigen- te e seletivo, é de extrema importância para você, estudante de nível superior e futuro pro- fissional, seja qual for sua área de atuação, o pleno desenvolvimento da capacidade de leitura, bem como da habilidade de se expres- sar adequadamente – quer na modalidade oral ou escrita – nas diversas situações comunica- tivas de que participa. De fato, desenvolver essas competên- cias é, certamente, decisivo para o seu su- cesso acadêmico e pode fazer a diferença no momento de concorrer a um emprego (ou per- manecer nele), principalmente aquele que pro- porcionar uma melhor posição social. Por isso, faz-se necessário o constante aprimoramento dos usos da linguagem nos variados contextos de interação social. Afinal, é graças ao aperfei- çoamento das aptidões de leitura e escrita que o indivíduo tem acesso aos bens culturais que o cercam, amplia sua visão de mundo e obtém maiores oportunidades de interagir de modo mais satisfatório e bem-sucedido no ambiente onde vive, sobretudo nas esferas de atividade social mais prestigiadas. Conforme você bem sabe, tanto na vida acadêmica quanto no exercício profissional, somos frequentemente solicitados a ler e a escrever textos de variados gêneros discursivos. Assim, torna-se im- prescindível o domínio das estratégias discursivo-textuais e linguísticas de situações com maior grau de formalidade, pois elas exigem um de- sempenho comunicativo mais apurado e bem diferente dos momentos de interação mais íntimos e descontraídos, aos quais, certamente, você já está acostumado. Nesse sentido, o livro Práticas de Leitura e Escrita Volume 1 se organiza em torno de um conjunto de saberes relacionados às atividades de leitura e escrita, por meio de uma articulação dinâmica que parte da prática para chegar à teoria. Desse modo, o anseio dessa publicação é o de contribuir para o aprimoramento de competências de leitor e de escrevente, com vistas a uma melhor formação acadêmica e a uma atu- ação mais eficiente e produtiva no mundo do trabalho. Pensando nisso, este livro está dividido em dez seções temáticas: Escrita como tecnologia e prática social; Leitura como processo de se- miotização; Informações implícitas, figuratividade e processos de inferen- ciação; Gêneros discursivos e sequências textuais; Coesão textual; Fato- res de coerência discursiva; Progressão discursiva; Paragrafação; Noções de escrita e reescrita; Problemas mais recorrentes no texto escrito. Cada seção apresenta atividades, exemplos e análises que, ao fim relaciona- dos, “iluminarão” a teoria a partir da qual a área de PLE se constrói. Esperamos, portanto, que você perceba, através dos temas discu- tidos e das atividades realizadas, a importância do desenvolvimento das competências de leitor e de escrevente para a sua vida pessoal, acadê- mica e profissional. Desde já, desejamo-lhe um aprendizado bastante agradável e proveitoso. Os autores. Sumário 01 – Escrita como tecnologia e prática social ....................................... 09 02 – Leitura como processo de semiotização ....................................... 23 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação .3 9 04 – Gêneros discursivos e sequências textuais ................................... 59 05 – Coesão textual .............................................................................. 85 06 – Fatores de coerência discursiva .................................................. 109 07 – Progressão discursiva ................................................................. 137 08 – Paragrafação .............................................................................. 159 09 – Noções de escrita e reescrita 10 – Problemas mais recorrentes no texto escrito .............................. 207 Homuslupus HomH ⠉ ⠊ ⠋ 901 – Escrita como tecnologia e prática social Objetivos � Compreender o sentido da palavra tecnologia em suas diversas nuances, integrando saberes de áreas distintas. � Conceber a escrita como processo tecnológico em contínuo aperfeiçoamento. � Perceber o papel fundamental da escrita na criação de outras tecnologias. � Entender a importância da escrita nas práticas do homem como ser social e culturalmente ativo. � Relacionar os processos de “leitura” e “escrita”, entendendo-os como indissociáveis. � Aplicar esse conhecimento teórico nas práticas de leitura e escrita voltadas às áreas de ciências exatas e tecnológicas. 1. VOCÊ VERÁ POR AQUI... ... por que a escrita se configura como tec- nologia e prática social e de que maneira essa prática está atrelada ao universo da ciência e da tecnologia. 01 – Escrita como tecnologia e prática social 10 01 – Escrita como tecnologia e prática social • Práticas de Leitura & Escrita 1.1. INICIANDO NOSSA CONVERSA Você já parou para se perguntar o que significa tecnologia? Essa é uma das questões a que responderemos no decorrer deste capítu- lo. Veremos, também, possíveis explicações para os questionamentos abaixo listados. � O que é tecnologia? � Como podemos inserir a escrita no campo das tecnologias? � O que torna a escrita uma prática social? � De que maneira a escrita contribui para o surgimento e o desenvol- vimento de outras tecnologias? � Por que a leitura e a escrita são processos inter-relacionados? Pensemos um pouco sobre o que entendemos a priori por tecnologia... Figura 1 - O avanço da tecnologia moderna. 1101 – Escrita como tecnologia e prática social Que tal adicionarmos ao seu conceito pessoal alguns outros, a começarpelo sentido sugerido por verbetes de alguns dicionários de língua portuguesa? Glossário TECNOLOGIA, segundo: a ) dicionário Houaiss – 1. Teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana; b ) dicionário Aurélio – s.f. Tratado das artes e ofícios em geral; voca- bulário privativo de uma ciência, de uma arte, de uma indústria; c ) dicionário Aulet Digital – 1. Conjunto das técnicas, processos e métodos específicos de uma ciência, ofício, indústria; ciência que trata dos métodos e do desenvolvimento das artes industriais. Vejamos o que diz a esse respeito o Engenheiro José Ernesto Lima Gonçalves, em artigo publicado na Revista de Administração de Empresas. “Para muitos autores e usuários leigos da palavra, tecno- logia se refere ao conjunto particular de dispositivos, má- quinas e outros aparelhos empregados na empresa para a produção de seu resultado [...] a tecnologia é muito mais que apenas equipamentos, máquinas e computadores. A organização funciona a partir da operação de dois sis- temas que dependem um do outro de maneira variada. Existe um sistema técnico, formado pelas técnicas, fer- ramentas e métodos utilizados para realizar cada tarefa. Existe também um sistema social, com suas necessidades, expectativas e sentimentos sobre o trabalho. Os dois siste- mas são simultaneamente otimizados quando os requisitos da tecnologia e as necessidades das pessoas são atendi- dos conjuntamente”. Fonte: Revista de Administração de Empresas (1994). 12 01 – Escrita como tecnologia e prática social • Práticas de Leitura & Escrita Conforme se vê, tecnologia (do grego τεχνη — “técnica, arte, ofício” e λογια — “estudo”) é toda e qualquer técnica, conhecimento, ferramenta utilizados pelo homem para resolver (ou facilitar a resolução de) problemas. Softwares, chips e robôs são tecnologia; a roda, o arado e o cinto de se- gurança também, pois foram igualmente concebidos graças à inteligência humana. Essas e outras invenções não só modificaram a vida do ser hu- mano, como também motivaram o desenvolvimento de novas atividades. O que a escrita tem a ver com isso? É o que veremos no tópico a seguir. 2. Escrita como tecnologia e prática social As mudanças sociais requerem que uma geração passe a outra os conhecimentos desenvolvidos. Nesse sentido, partindo do pressuposto de que a formação da sociedade humana dependeu, desde sempre, da comunicação, e se conhecendo as limitações da oralidade para efei- to de registro, por exemplo, podemos compreender a ESCRITA como TECNOLOGIA. Vale salientar, porém, que o homem é um ser falante, não necessa- riamente “escrevente”. Isso porque a existência de sociedades ágrafas, em pleno século XXI, bem como a enorme quantidade de pessoas que não dominam a escrita, demonstram que essa prática não é condição de sobrevivência. No entanto, nas sociedades grafocêntricas, a escrita é essencial para que as pessoas se tornem atuantes social e culturalmen- te. Sendo assim, ESCRITA é PRÁTICA SOCIAL: atravessa o tempo e o espaço, obedece a uma organização específica que depende da situ- ação comunicativa a que se vincula, exerce certa “magia” nas pessoas de todas as épocas. Com efeito, toda a história da escrita é consequência das gradativas exigências da organização social. A necessidade de fazer marcas em ár- vores, em pedras, em papiro ou em outro suporte qualquer com objetivos mnemônicos e comunicativos, por exemplo, foi um instrumento utilizado 1301 – Escrita como tecnologia e prática social para controlar a quantidade de animais ou de produtos cultivados, espe- cificar tipos de rebanhos, entre outras funções sociais importantes. No nono milênio anterior à era cristã, na Mesopotâmia, os antigos sumérios desenvolveram o sistema de escrita cuneiforme, o mais antigo da história da humanidade. O objeti- vo era controlar rebanhos. Por volta do quarto milênio antes de Cristo, com o desenvolvimento das primei- ras cidades, as formas e marcas da escrita cuneiforme se diversificaram, certamente por causa do aumen- to de objetos e de animais a serem contabilizados e registrados. No antigo Egito, a escrita tinha ou- tras funções, digamos, de cunho mís- tico. Em rituais religiosos de homena- gens aos mortos, por volta de 3000 a. C., os egípcios depositavam um exem- plar do Livro dos Mortos na tumba do ente querido. Esse livro, considerado o primeiro da humanidade, continha cân- ticos, preces e poemas. Seu propósito era garantir que o falecido con- seguisse se orientar na caminhada para o outro lado da vida. Outra informação interessante sobre a relação dos egípcios com a escrita diz respeito ao suporte utilizado para essa atividade. A princípio, eles desenhavam em pedras os sinais que ficaram conhecidos como “hieróglifos”. Posteriormente, descobriu-se uma planta da qual surgiria o papiro. A haste do vegetal era cortada em tiras finas que, por sua vez, eram estendidas sobre uma pedra plana e batidas com uma espécie de martelo, formando uma folha na qual era possível escrever mais facilmen- te do que sobre as pedras. A escrita chinesa, por sua vez, é um caso único. Sofreu pouquíssi- mas modificações desde que surgiu, por volta do segundo milênio a. C. Figura 2 - Pedra com inscrições cuneiformes. Figura 3 - Hieróglifos egípcios 14 01 – Escrita como tecnologia e prática social • Práticas de Leitura & Escrita No ano 100 d. C., os chineses inventaram o papel e a tinta, após passa- rem séculos usando galhos. Por volta do ano 500 a. C., os gregos desenvolveram o alfabeto, sistema de escrita também adotado nas línguas portuguesa, espanhola, italiana, inglesa, francesa, alemã, entre outras. Porém, há de se ter cau- tela diante da ideia de que o alfabeto seria a etapa de maior evolução na história do aprimoramento dos sistemas de escrita. O alfabeto grego não suplantou sistemas existentes ainda hoje, a exemplo das escritas árabe e russa e da escrita iconográfica japonesa. O fato é que cada povo foi capaz de criar um sistema compatível com as suas necessidades, e cada um desses sistemas foi aprimorado à medida que as relações sociais, na esteira do desenvolvimento das cidades, tornavam-se mais complexas. Na Idade Média, monges copistas foram os grandes responsá- veis pela propagação e manutenção do saber escrito; todavia, eles não podem ser elogiados pela democratização desse saber, uma vez que as bibliotecas ficavam fechadas nos mosteiros. Além disso, o homem comum era analfabeto, sendo-lhe vedado o conhecimento da escrita. Na verdade, o acontecimento considerado um marco para a con- solidação da escrita alfabética foi a invenção da tipografia por Johan Gutenberg, no ano de 1450. Foi com esse rudimentar equipamento que o ourives alemão imprimiu sua primeira edição da Bíblia em latim. Enquanto os livros iam sendo impressos pelo método de Gutenberg, as pessoas usavam pena e tinteiro para se comunicar por escrito. Depois, surgiram a caneta-tinteiro e a esferográfica. No século XIX, dá-se a inven- ção da máquina de escrever, que passa por sucessivas transformações, chegando ao computador pessoal e culminando nos atuais notebooks e Figura 4 - A evolução da escrita, do ponto de vista da tecnologia 1501 – Escrita como tecnologia e prática social em outros artefatos ainda mais compactos, tais como os tablets. Hoje, em plena era dos computadores, escrever continua sendo uma realização humana que, se não é essencial para a sobrevivência, torna nossas experiências no mundo muito mais ricas. Cabe ressaltar, outrossim, que a escrita consiste na sistematização de um código a ser compartilhado e seguido por um grupo. Faz-se mister, portanto, compreender que “escrita” e ”leitura” são processos indissociáveis, ou seja, ao passo que o grupo conhece o sistema em que se baseia de- terminado material escrito, pode atribuir-lhe possíveis sentidos. A isso chamamos leitura. Diante desse texto de apoioteórico, a que conclusão podemos chegar? A escrita, assim como as demais tecnologias, exige que os usuá- rios dominem seus mecanismos para, dessa maneira, utilizarem-na em prol do desenvolvimento social. Vejamos exemplos de escrita a seguir. É possível “ler” o texto acima? Trata-se de um “texto”? Será um texto apenas se for possível atribuir a ele sentido(s). Talvez o conheci- mento acerca de algumas informações sobre o sistema adotado possa ajudar: no hebraico e no árabe, os textos são escritos e lidos em linhas horizontais (como na nossa língua), de cima para baixo (também nisso há semelhanças entre nós), mas da direita para a esquerda (o oposto da direção que nós seguimos). Observe se, com essas dicas, é possível agora ler o que está escrito. A essa altura, você já deve estar percebendo que a tecnologia da escrita não consiste apenas no conhecimento de vocábulos; pelo con- trário, dominar o código é conhecer a organização de seus constituintes e o modo como eles são utilizados (tanto na escrita quanto na leitura). Exemplo1 REMOC ORODA UE LEM MOC ANANAB AIEVA E 16 01 – Escrita como tecnologia e prática social • Práticas de Leitura & Escrita Retornando à discussão sobre a relação entre leitura e escrita, devemos compreender, pois, que lemos porque antes alguém escreveu e escre- vemos respondendo a textos lidos. Em muitas ocasiões, falamos a partir de conhecimentos que obti- vemos por meio de práticas de leitura e escrita antes vivenciadas. Ou- vimos uma conversa e a associamos a um texto lido ou, a partir dessa conversa, somos levados a escrever algo. Trata-se de um ciclo sem fim, que constitui a (e é continuamente constituído pela) sociedade grafo- cêntrica, ou seja, a sociedade cujas demandas se pautam pelo uso da escrita. Todos nós vivemos nesse tipo de sociedade, já que estamos mergulhados em um mundo de escrita impressa e/ou digital. Exemplo 2 Observe o anúncio de emprego a seguir. O texto do outdoor está escrito em um código específico da área de Programação, conhecido como Linguagem C. Para que o leitor seja capaz de atribuir sentido a esse enunciado, ele precisará dominar o sistema de escrita adotado em sua elaboração. A sequência de caracteres apresentada forma a frase “Now Hiring”, que corresponde a “Estamos contratando” em Língua Portu- guesa. A empresa res- ponsável pelo anúncio deixa clara, portanto, sua preferência por contratar pessoas que tenham conhecimen- to da linguagem utili- zada e que, por isso mesmo, sejam capa- zes de interpretar esse texto, o que pode ser considerado, dessa forma, parte significa- tiva dos processos de seleção e admissão. Fonte: Molhando o bico (2009). Figura 6 – Outdoor inteligente 1701 – Escrita como tecnologia e prática social Exemplo 3 Vimos até aqui que as pessoas escrevem com diferentes propósi- tos comunicativos: lembrar-se de algo, contratar alguém, estudar. A escrita de si é também um importante exercício. Por meio dela, o escrevente “imprime” no texto as imagens que deseja projetar de si para o leitor. Partindo desse pressuposto, leia uma breve biografia de Alberto Manguel. Você sabe quem é ele? Nasceu em Buenos Aires, em 1948, e passou a infância em Israel. Morou na Espanha, na Itália, na França, na Inglaterra e no Taiti. Em 1985, naturalizou-se canadense. É ensaísta e autor de várias obras de ficção. Desenvol- ve uma atividade intensa nas fun- ções de editor e tradutor, além de colaborar com jornais e revistas de vários países. Dele, a Com- panhia da Letras publicou Uma história da Leitura, No bosque do espelho - Ensaios sobre a palavra e o mundo, Lendo imagens, Di- cionário de lugares imaginários e Stevenson sob as palmeiras (Coleção Literatura ou Morte). Figura 7 – Fotografia de Alberto Manguel. O gênero discursivo “biografia” tem por função social apresentar ao leitor uma pessoa ilustre: um pesquisador, um cientista, um estadista, ou seja, alguém que, exercendo determinado papel social, tenha contribuído, de alguma forma, para a evolução da sociedade. Observe que, no caso de Alberto Manguel, interessa apresentá-lo como escritor, por isso alguns dados pessoais e profissionais são salientados e outros ignorados. 18 01 – Escrita como tecnologia e prática social • Práticas de Leitura & Escrita Atividade Observe o enunciado. 766f6365206520756d20626f6d206c6569746f72. O que está escrito nesse enunciado? Facilitaria se você soubesse qual o código utilizado por quem o escreveu? O código utilizado foi o Hexa- decimal. Veja se, com o quadro de correspondências a seguir, é possível decifrar o enunciado. Depois, preencha o espaço deixado ao lado da escrita numérica com a sua descoberta. o = 6f u = 75 e = 65 v = 76 b = 62 r = 72 t = 74 m = 6d c = 63 I = 6c i = 69 espaço = 20 Escreva, em seu caderno, três outras palavras ou expressões em Hexadecimal, utilizando o quadro de referência citado. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de tudo o que foi exposto, devemos salientar dois pontos. O primeiro é que a escrita deve ser entendida como uma tecnologia que vem sendo desenvolvida há milhões de anos e que tem papel fun- damental na criação de outras tecnologias. Para compreender melhor essa ideia, é preciso definir o termo “tecnologia” como processo e/ ou produto criado pela inteligência humana para promover mudanças na natureza. Ocorre que, ao mudar a natureza devido ao uso de tecnologias, as pessoas acabam por modificar suas próprias vidas, uma vez que a tecnologia altera não apenas os modos de representar o mundo e seus processos, mas também a maneira de se relacionar com eles. Um exemplo disso é a possibilidade de um residente em Natal se comunicar oral e visualmente, em tempo real, com alguém que está em 1901 – Escrita como tecnologia e prática social Tóquio, por exemplo, via Skype. Há poucos anos, isso seria inimaginável. A tecnologia trouxe-nos essa possibilidade, e os estudos que culmina- ram na criação, processamento, comercialização e uso do Skype se devem, em boa parte, a muitos textos lidos e escritos. Fundamentados no conteúdo discutido ao longo deste capítulo, podemos, pois, responder às questões propostas no tópico “Iniciando nossa conversa”. � O que é tecnologia? Tecnologia é um conjunto (sistema) de técnicas, ferramentas, conheci- mentos e métodos criados e aperfeiçoados continuamente pelo homem para atender a suas necessidades pessoais e sociais. � Como podemos inserir a escrita no campo das tecnologias? Em consonância com qualquer outra tecnologia, a escrita exige que seus usuários dominem um sistema técnico (código, suporte adotado para o registro), visando ao atendimento satisfatório de suas necessidades e expectativas. Além disso, a escrita também se desenvolve, aperfeiçoan- do-se de acordo com as exigências sociais e culturais. � O que torna a escrita uma prática social? Nas sociedades grafocêntricas, o cidadão precisa dominar a tecno- logia da escrita, com o fim de atuar social e culturalmente, haja vista a demanda dessa prática nas esferas em que atua, seja no trabalho (relatórios, mensagens via e-mail, ofícios), seja nas relações pessoais (sms, conversas online, cartões de Natal), seja nas mais variadas situ- ações comunicativas. � De que maneira a escrita contribui para o surgimento e o desenvol- vimento de outras tecnologias? É por meio da escrita que nos comunicamos com as gerações ante- riores e com as futuras, acessando uma gama de conhecimentos de- senvolvidos e possibilitando o seu aperfeiçoamento, tal como a criação de outros novos. Se contássemos apenas com a oralidade, estaríamos 20 01 – Escrita como tecnologia e prática social • Práticas de Leitura & Escrita limitados ao que a memória humana é capaz de armazenar. Com base nisso, podemos afirmar que a escrita é essencial para o registro de ex- periências, em geral, e para a otimização do desenvolvimento tecnoló- gico, especificamente. Não é à toa que toda descoberta científica deve ser documentada, patenteada e, depois, divulgada. Paratodas essas fases, a escrita é fundamental. � Por que a leitura e a escrita são processos inter-relacionados? Escrevemos utilizando-nos de determinado sistema que, ao ser compar- tilhado socialmente, permite a leitura do material escrito. Sendo assim, podemos afirmar que, para lermos, alguém precisa ter escrito e, ao escre- vermos, fazemos uso de informações adquiridas em práticas de leitura e escrita anteriores. Ademais, os textos são produzidos (escritos) para deter- minado(s) leitor(es), com vistas a alcançar um objetivo. Percebe-se, dessa maneira, que não podemos dissociar os processos de ler e escrever. PARA SABER MAIS Texto GONÇALVES, José Ernesto Lima. Os impactos das novas tecnologias nas empresas prestadoras de serviços. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.34, n.2, p.63-81, jan./fev.1994. Disponível em: <http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/10.1590_S0034-759019940 00100008.pdf>. Vídeos BOOK: a revolução tecnológica. 1 Vídeo (3m13s). Disponível em: <http:// www.youtube.com/w atch?v=3QMVoHOJ5A0&feature=related>. HISTÓRIA da escrita: do papiro ao computador – parte 1. 1 vídeo (8m26s). Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=r7yeiRtc1fA>. 2101 – Escrita como tecnologia e prática social 4. RESUMO DA AULA Neste capítulo, discutimos a respeito dos conceitos de tecnologia, leitura e escrita, partindo de concepções diversas, a fim de compreender a escrita como tecnologia, fundamental para a criação e o desenvolvi- mento de tantas outras tecnologias. 5. AVALIAÇÃO Tomando como base os questionamentos iniciais e os conheci- mentos construídos ao longo da aula, esboce um pequeno comentário que justifique por que a escrita deve ser considerada tecnologia. Para tanto, acesse o vídeo “Book”, sugerido no tópico “Para saber mais”. Seu comentário deverá obedecer às seguintes orientações. � Contemplar três aspectos (conceito de tecnologia, funções da tec- nologia para o homem e mecanismos para uso da tecnologia) que rela- cionem o tema “escrita como tecnologia”, o conteúdo exposto e o vídeo selecionado. � Apresentar, no mínimo, 10 linhas e, no máximo, 15 (em fonte Times New Roman ou Arial, tamanho 12). � Postar o comentário no Sigaa, utilizando o menu “atividades” e, dentro dele, a ferramenta “tarefas”. Obs.: aos textos que não seguirem rigorosamente as orientações explicitadas no comando será atribuída a nota zero. 2302 – Leitura como processo de semiotização 02 – Leitura como processo de semiotização 1. VOCÊ VERÁ POR AQUI... ... alguns conceitos de leitura e a discussão de questões pertinentes a esse tópico. Além dis- so, verá que existem modalidades diferentes de leitura (de textos verbais e de textos não verbais) e o quanto essa habilidade é importante para nossa relação com o mundo. Objetivos • Conceituar leitura. • Compreender a leitura como processo de semiotização. • Entender a existência de leituras adequadas e inadequadas, tendo em vista a possibilidade de um enunciado não estar aberto a qualquer interpretação. • Perceber a leitura como atividade que envolve diversas habili- dades e conhecimentos. • Aplicar o conhecimento teórico às práticas de leitura e escrita. 24 02 – Leitura como processo de semiotização • Práticas de Leitura & Escrita 1.1. INICIANDO NOSSA CONVERSA No capítulo anterior, tratamos de escrita como tecnologia. Confor- me você deve ter percebido, embora leitura e escrita sejam atividades diferentes, são indissociáveis e se complementam, ou seja, é muito difícil pensar em uma sem a outra. Agora que você já sabe o que é escrita, algumas perguntas sobre leitura parecem pertinentes. � O que significa “ler”? � Quem pode dizer que é “leitor”? � Existe leitura “certa” e leitura “errada”? � Para ser leitor, preciso ter lido as obras clássicas da literatura universal? � É possível “ler” um texto, mas não compreendê-lo? � O que é “semiotização”? � Por que a leitura é um processo de semiotização? Que tal fazermos um pré-teste? Responda a essas perguntas an- tes de continuar lendo e, ao final deste capítulo, veja se você mudaria alguma resposta. É provável que você já tenha experimentado a sensação de não conseguir atribuir sentido a um texto, a ponto de achá-lo incompreensí- vel. Não se desespere. Isso pode acontecer com qualquer um. Ocorre que não basta ser alfabetizado para conseguir ler um texto (ou qualquer texto), outras competências são necessárias. Da mesma forma, acredite se quiser, é possível ser analfabeto e conseguir fazer algumas leituras. 2502 – Leitura como processo de semiotização No senso comum, pensa-se que a leitura está exclusivamente as- sociada ao texto escrito. Também se imagina que, para saber ler, basta reconhecer o significado das palavras existentes no texto. No entanto, não é bem assim que acontece. Exemplo 1 Observe atentamente as imagens a seguir. E aí, é possível atribuir sentido(s) a essas imagens? Será que é possível lê-las? Figura 9 – Stick waving. Figura 10 – Digital war. Figura 11 – Emoticons. Atividade 1 No seu caderno, escreva o sentido atribuído a cada uma das imagens do exemplo 1. 26 02 – Leitura como processo de semiotização • Práticas de Leitura & Escrita Exemplo 2 FALANDO EM LEITURA [...] Sem dúvida, o ato de ler é usualmente relacionado com a escrita, e o leitor visto como decodificador da letra. Bastará, porém, de- cifrar palavras para acontecer a leitura? Como explicaríamos as expressões de uso corrente “fazer a leitura” de um gesto, de uma situação; “ler o olhar de alguém”; “ler o tempo”, “ler o espaço”, indicando que o ato de ler vai além da escrita? Se alguém na rua me dá um encontrão, minha reação pode ser de mero desagrado, diante de uma batida casual, ou de franca defesa, diante de um empurrão proposital. Minha resposta a esse incidente revela meu modo de lê-lo. Outra coisa: às vezes passamos anos vendo objetos comuns, um vaso, um cinzeiro, sem jamais tê-los de fato enxergado; limitamo-los à sua função decorativa ou utilitária. Um dia, por motivos os mais diversos, nos encontramos diante de um deles como se fosse algo totalmente novo. O formato, a cor, a figura que representa, seu conteúdo passam a ter sentido, ou melhor, passam a fazer sentido para nós. Só então se estabeleceu uma ligação efetiva entre nós e esse objeto. E consideramos sua beleza ou feiura, o ridículo ou a ade- quação ao ambiente em que se encontra, o material e as partes que o compõem. Podemos mesmo pensar a sua história, as cir- cunstâncias da sua criação, as intenções do autor ou fabricante ao fazê-lo, o trabalho da sua realização, as pessoas que o manipu- laram no decorrer de sua produção e, depois de pronto, aquelas ligadas a ele e as que o ignoram ou a quem desagrada. [...] Com frequência nos contentamos, por economia ou por pre- guiça, em ler superficialmente, “passar os olhos”, como se diz. 2702 – Leitura como processo de semiotização Exemplo 3 Vamos a uma segunda opinião... O CONHECIMENTO PRÉVIO NA LEITURA A importância do conhecimento prévio do leitor na compreensão de textos é enfatizada no capítulo 1 de Kleiman (2000). Nele, de- fende-se que é imprescindível tornar-se ciente da necessidade Não acrescentamos ao ato de ler algo mais de nós além do gesto mecânico de decifrar os sinais. Sobretudo se esses sinais não se ligam de imediato a uma experiência, uma fantasia, uma ne- cessidade nossa. Reagimos assim ao que não nos interessa no momento. Um discurso político, uma conversa, uma língua es- trangeira, uma aula expositiva, um quadro, uma peça musical, um livro. Sentimo-nos isolados do processo de comunicação que essas mensagens instauram – desligados. E a tendência natural é ignorá-las ou rejeitá-las como nada tendo a ver com a gente. Se o texto é visual, ficamos cegos a ele, ainda que nossos olhos continuem a fixar os sinais gráficos, as imagens. Se é sonoro, surdos. Quer dizer: não o lemos, não o compreendemos, impossí- vel dar-lhe sentido porque ele diz muitopouco ou nada para nós. Fonte: Martins (2007). Lido o texto de Martins (2007), a que conclusão podemos chegar? LER É ATRIBUIR SIGNIFICADO(S). Não lemos apenas textos verbais (escritos ou falados), mas também textos não verbais (gestos, imagens, cores, cheiros, sons). Na verdade, no nosso mundo, muitos textos são produzidos a partir da integração desses elementos (verbal e não verbal) e, para lermos, precisamos ENTENDÊ-LOS. Caso contrário, não há leitura. 28 02 – Leitura como processo de semiotização • Práticas de Leitura & Escrita de fazer da leitura uma atividade caracterizada pelo engajamento e pelo uso de diferentes conhecimentos, em vez de pensar que a leitura é uma mera recepção passiva. Leitores são agentes; reci- pientes são passivos, não compreendem. A autora mostra, por meio de exemplos, como o conhecimento adquirido determina, durante a leitura, as inferências que o leitor fará com base em marcas formais do texto. O conhecimento linguístico, o conhecimento textual, o conhecimento de mundo devem ser ativados durante a leitura para que se possa atribuir sentido(s) ao enunciado. A compreensão resulta da união das partes do texto para que se componha uma unidade de sentido. Nessa perspectiva, Kleiman (2000, p. 27) afirma que: O mero passar de olhos pela linha não é leitura, pois leitura implica uma atividade de procura por parte do leitor, no seu passado, de lembranças e conhecimentos, daqueles que são relevantes para a compreensão de um texto que for- nece pistas e sugere caminhos, mas que certamente não explicita tudo o que seria possível explicitar. Atividade 2 De acordo com Kleiman (2000), o leitor precisa ativar seu conhecimento de mundo para atribuir sentido a um texto. Isso significa “ler”. Para com- provar essa afirmação, leia a charge de adiante e responda às questões que lhe serão propostas. “Você não vai acreditar, mas mesmo que a vacina funcione, eles não vão dá-la a outros camundongos doentes.” Figura 12 – Charge sobre vacina. 2902 – Leitura como processo de semiotização 2.1 – Em que reside o efeito crítico da charge? (a) O fato de que são ratos discutindo uma questão que afetará, tam- bém, a vida dos seres humanos. (b) Os papéis soltos em torno da gaiola dos ratos evidenciam que eles ficaram sabendo do problema da vacina através da leitura. (c) O rato que recebe a notícia aparenta não estar entendendo nada do que o outro diz. (d) O foco está na discussão acerca do grupo de controle, que será dei- xado para morrer por mais que a vacina faça efeito, a fim de comprovar que os outros medicamentos não são eficazes. (e) Há uma expansão da situação dos ratos à dos seres humanos, ou seja, mesmo com uma vacina eficaz no combate a determinada doença, nem todos terão acesso ao medicamento. 2.2 – Julgue as assertivas abaixo a respeito dos conhecimentos prévios de que o leitor deve dispor para compreender o texto e marque a única opção correta. I. Faz-se necessário saber que, algumas vezes, a farmacologia atende mais a fins comerciais, despreocupando-se com questões éticas. II. Deve-se atentar para o fato de que o essencial para a compreensão de qualquer situação comunicativa é sempre o texto verbal. III. O leitor precisa ter um conhecimento razoável de medicina para en- tender o texto. IV. É preciso relacionar o quadrinho ao conhecimento de que os testes laboratoriais são, em geral, inicialmente, realizados em ratos. 30 02 – Leitura como processo de semiotização • Práticas de Leitura & Escrita (a) Está correta apenas a afirmação I. (b) Estão corretas apenas as afirmações II e IV. (c) Estão corretas apenas as afirmações I e IV. (d) Estão corretas apenas as afirmações II e III. (e) Está correta apenas a afirmação IV. 2.3 – Charges podem abordar temáticas científicas e/ou de cunho social diverso. Sendo assim, mais especificamente na charge de Mariana Brito, a qual(is) área(s) do conhecimento poderíamos associar o conteúdo da charge lida? (a) Saúde e comunicação. (b) Medicina e matemática. (c) Farmacologia e bioética. (d) Enfermagem e ciências humanas. (e) Ciências biológicas e ciências exatas. Observe que, na leitura da charge, precisamos conju- gar as pistas dos aspectos ver- bais às dos não verbais para, unindo-as, chegarmos à atri- buição de sentidos possíveis. No caso dos textos exclusivamente verbais, não é tão diferente. O leitor desses textos não precisa apenas unir letras e formar palavras/ sentenças, ele deve COMPREENDER, também, a decodificação reali- zada inicialmente e REFLETIR sobre o que foi lido. Ser alfabetizado, ou seja, ter a capacidade de decodificar um texto escrito em determinada língua, é condição mínima, mas não suficiente para a realização de uma leitura satisfatória. 3102 – Leitura como processo de semiotização Para que isso seja possível, lançamos mão de nossa memória cul- tural (o conhecimento de mundo), informações acessíveis no contexto em que nos encontramos, processos de inferenciação, bem como do acervo linguístico-textual de que dispomos. Essas competências são ati- vadas em maior ou menor grau, dependendo das demandas de leitura, que variam conforme a complexidade do texto. Vejamos como isso ocorre no exemplo 4. Conforme observamos, a leitura não se restringe à decodificação do alfabeto. Uma prova disso é o fato de você conseguir entender um texto em que as palavras são formadas por números e letras. De fato, para ler, ativamos muitos conhecimentos, o que respalda a afirmação de que mesmo um analfabeto pode fazer determinadas leituras. Exemplo 4 O QU3 51GN1F1C4 “L3R”? 1M4G1N3 QU3 VOC3 PR3C154553 L3R 35T3 73X7O P4R4 54LV4R SU4 PRÓPR14 P3L3 OU P4R4 53R 4PROV4DO 3M UM CONCUR5O PÚBL1CO F3D3R4L P4R4 O QU4L 357UDOU COM 4F1NCO NO5 ÚLT1MOS C1NCO 4NO5. O QU3 VOC3 F4R14? D351571R14? P3D1R14 4JUD4 4 4LGU3M OU 3NFR3N74R14 O 73X7O 3 73N74R14 COMPR33ND3-LO? 3573 P3QU3N0 73X7O 53RV3 4P3N45 P4R4 M057R4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4N735! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO, 4 L317UR4 3574V4 M310 COMPL1C4D4, M45, 4LGUM45 L1NH45 D3PO15, SU4 M3N73 FO1 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4U7OM- 471C4M3N73, S3M PR3C1S4R P3N54R MU17O, C3R7O? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O(4) D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5! N4 V3RD4D3, VOC3 4C4BOU D3 R34L1Z4R UM4 L317UR4 COMO PROC355O D3 S3M1O71Z4Ç4O. 32 02 – Leitura como processo de semiotização • Práticas de Leitura & Escrita Atividade 3 Ao chegar a uma praia, você se depara com a placa a seguir. Essa placa poderia ser compreendida como um texto? Em caso afirma- tivo, qual seria a função social desse texto? Perceba que mesmo alguém que não tenha conhecimento da língua in- glesa poderia compreender a placa. Será que ela diz: “Venha! Tubarões simpáticos.” ou “Faça uma tatuagem tribal de tubarão.”? A quais perigos um leitor desatento estaria submetido, caso fizesse uma dessas leituras? Figura 13 – Placa de perigo. Figura 14 – Ataque de tubarão 3302 – Leitura como processo de semiotização Observe que são necessárias certas experiências (conhecimento de mundo) para atribuir sentido à informação verbal e à não verbal. Foi esse conhecimento que nos permitiu compreender a placa “TUBARÃO”. Atividade 4 A criptografia é uma forma de escrita que tem sido utilizada ao longo da história dos povos como uma estratégia para evitar que determinadas mensagens possam ser compreendidas por interlocutores “indesejáveis”. Ela consiste em codificar uma mensagem, de modo que apenas os des- tinatários consigam compreendê-la. Isso se dá porque eles possuem a chave para decodificá-la. Um exemplo dessa estratégia é o código Mor- se. A criptografia também é um dos modos mais antigos de proteção de dados salvos em um computador. Vejamos como isso pode ocorrer no texto a seguir. Para compreender a carta, no entanto, não basta ser alfabetizado na língua em que esse texto foi escrito, ou seja, decodificar a mensagem é apenas o primeiro passo. Partindo desse pressuposto, marque a op- ção que melhor representa o realsentido da carta diante da situação apresentada. Numa antiga anedota que circulava na, hoje, falecida República Democrática Alemã, um operário alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda correspondência será lida pelos cen- sores, ele combina com os amigos: “Vamos combinar um código: se uma carta estiver escrita em tinta azul, o que ela diz é verda- de; se estiver escrita em tinta vermelha, tudo é mentira”. Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em tinta azul: “Tudo aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é abundan- te, os apartamentos são grandes e bem aquecidos, os cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas garotas, sempre prontas para um programa - o único senão é que não se consegue encon- trar tinta vermelha”. Fonte: Litura-terra: artes & psicanálise (2012). 34 02 – Leitura como processo de semiotização • Práticas de Leitura & Escrita (a) Devido ao código adotado pelos amigos, tudo o que foi escrito é mentira, já que, em nenhum momento, ele usou a caneta vermelha. (b) A tinta azul permite compreender, claramente, a intenção do redator da carta de fazer apenas apontamentos verídicos acerca das condições de vida da comunidade, havendo a exceção com relação à tinta vermelha. (c) Na falta de tinta vermelha, o amigo precisou escrever em cor azul. Mas, afirmando que não se consegue encontrar tinta vermelha, ele per- mite depreender que teria escrito a carta nessa cor para sinalizar que as afirmações sobre o modo de vida da comunidade são mentirosas. (d) O amigo pode ter confundido o código a ser utilizado, por isso es- creve a carta completamente em tinta azul para afirmar mentiras. No entanto, o destinatário poderá compreender essa intenção, pois conhece as reais condições de vida da comunidade em foco. (e) Diante da ausência de tinta vermelha, o escrevente sinaliza para o fato de que se faz necessário modificar o código utilizado, pois, caso isso não seja feito, ele apenas poderá escrever verdades. 2. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para concluir este tópico, devemos enfatizar que o ato de ler não se limita ao texto escrito, mas inclui tudo a que podemos atribuir sentido(s): um cheiro no ar, um conjunto de nuvens escuras, uma pla- ca com uma imagem, um monumento no centro de uma praça, um artigo científico. Convém lembrar também que o sentido não é dado a priori no texto. Na verdade, os textos norteiam o leitor, oferecendo-lhe um roteiro/ mapa com pistas que conduzem à atribuição do(s) sentido(s) possível(is). Essa atribuição de sentido(s) é tarefa do leitor, que deve formular hipóte- ses quanto à interpretação mais adequada do texto na situação em que se encontra, recorrendo às informações adquiridas por meio de suas experiências sociointeracionais. 3502 – Leitura como processo de semiotização Contudo, deve-se esclarecer que o poder do leitor na atribuição de sentido(s) a um texto não é ilimitado. Isso significa que nem toda interpre- tação é possível. Logo, existe, sim, a leitura errada. Por mais simples que o texto possa parecer, é sempre recomendável um trabalho atencioso de leitura, investigando a(s) possibilidade(s) mais apropriada(s) de com- preensão, ou seja, aquelas autorizadas pelas pistas oferecidas no texto. Agora, já podemos responder às questões levantadas no início deste capítulo. � O que significa “ler”? Ler significa atribuir sentido(s) possível(eis) a determinado texto. � Quem pode dizer que é “leitor”? Todas as pessoas que vivem em uma sociedade grafocêntrica são lei- toras. Mesmo as não escolarizadas e/ou não alfabetizadas leem para agir no mundo. � Existe leitura “certa” e leitura “errada”? Existe. É necessário ficar atento às pistas que os textos nos oferecem para não “viajar na maionese”. � Para ser leitor, é preciso ter lido as obras clássicas da literatura universal? Não. As obras clássicas enriquecem muito nossa cultura geral, mas elas não são o único parâmetro de leitura existente. � É possível “ler” um texto, mas não compreendê-lo? Não. Ler implica compreender. Se não houve compreensão, não houve leitura. Passar os olhos pelas linhas de um texto não significa lê-lo. � O que é semiotização? Desde que nascemos, adquirimos sensações e impressões acerca 36 02 – Leitura como processo de semiotização • Práticas de Leitura & Escrita do mundo que nos permitem compreendê-lo. Sendo assim, tornamo- -nos capazes de criar sentido(s) para tudo o que existe dentro de nosso contexto social. É a essa capacidade que chamamos “semiotização”. � Por que a leitura é um processo de semiotização? Como a leitura consiste em um conjunto de operações de atribuição de sentido, podemos dizer que ela é um processo de semiotização. PARA SABER MAIS Filme The reader (O leitor) Artigo ARAÚJO, R. J. F.; ARAÚJO, E. C. G.; LUCENA, I. T. O processo de semio- tização no atelier de leitura e produção textual. XI Encontro de Iniciação à Docência, 2009. http://www.prac.ufpb.br/anais/xenex_xienid/xi_enid/ prolicen/ANAIS/Area4/4CCHLADLCVPLIC02.pdf. Acesso em 10/12/12. 3. RESUMO DA AULA Neste capítulo, discutimos a respeito do conceito de leitura. Apro- veitamos ainda para desconstruir alguns “mitos” sobre o ato de ler. En- fatizamos que não lemos apenas textos verbais (escritos ou falados), mas também imagens, sons, cheiros, cores. Por fim, vimos que ser leitor resulta de um processo contínuo (depende do constante exercício) e da ativação de uma série de outras competências/conhecimentos. 4. AVALIAÇÃO Assista ao filme recomendado na seção Para saber mais e es- creva um comentário explicitando quais são as suas impressões acer- ca do filme e qual(is) a(s) relação(ões) dele com o conteúdo estudado 3702 – Leitura como processo de semiotização neste capítulo. Sua resposta deverá ser deixada no fórum da turma, intitulado “The reader”, no Sigaa. Relacione sua resposta a comentá- rios anteriores ao seu. Nesse fórum, comentaremos essa relação e as impressões levan- tadas pelo grupo. As postagens mais relevantes receberão um ponto de participação. 3903 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação Objetivos • Identificar determinadas instruções de sentido que ativam pro- cessos de inferenciação. • Conceituar e distinguir informações implícitas, duplo sentido e figuratividade. • Compreender o que é inferenciação. • Perceber que determinados textos produzem informações im- plícitas e desenvolver algumas estratégias para percebê-las. • Diferenciar pressupostos de subentendidos. • Entrever a criação de duplo sentido (ambiguidade intencional e ambiguidade indesejada). • Aplicar o conhecimento teórico nas práticas de leitura e escrita. 1. VOCÊ VERÁ POR AQUI... ... o que são informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação. Além disso, observará de que maneira esses processos refletem na atribuição de sentido(s) ao texto. 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação 40 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita 1.1. INICIANDO NOSSA CONVERSA No capítulo anterior, tratamos de leitura como processo de semioti- zação. Quanto a isso, vimos que ler é atribuir sentido(s). Para que a leitu- ra seja possível, o leitor conta com determinados recursos que o auxiliam no processo de significação, quais sejam: repertório cultural (ou conhe- cimento de mundo), elementos do contexto sociocomunicativo, domínio linguístico, capacidade de inferenciação, além das pistas existentes no texto. Esses recursos atuam como “ferramentas” imprescindíveis para guiar o leitor em seu percurso de compreensão textual. Situando-se mais particularmente no domínio da escrita, vimos também que, embora o texto permita leituras variadas, nem todo sen- tido é possível. Isso significa que pode haver leitura(s) equivocada(s) ou mesmo indevida(s). Esse problema decorre de falhas relativas a um ou mais dos recursos antes mencionados. Nesse sentido, a leitura é umprocesso colaborativo que inclui, de um lado, a responsabilidade do leitor em “captar” satisfatoriamente o(s) possível(is) sentido(s) do texto e, do outro, a do escrevente em fornecer as adequadas sinalizações/ instruções que viabilizem a compreensão. Sendo assim, fica claro que o texto não é um veículo de trans- missão de informações, pois não podemos afirmar, a priori, que o escrevente consegue sempre verbalizar com exatidão o que estava pen- sando, tampouco que o leitor será, invariavelmente, capaz de atribuir ao enunciado o(s) sentido(s) pretendido(s) por quem o produziu. Portanto, leitura e escrita dependem de constante aperfeiçoamento e, para isso, existem as releituras e as reescritas. Dando continuidade a essas questões, neste capítulo, focalizaremos nosso estudo na relação entre determinadas instruções de sentido (a sa- ber: informações implícitas, duplo sentido e figuratividade) e processos de inferenciação. Esperamos, com isso, oferecer subsídios para o aprimo- ramento não apenas das habilidades de leitura, mas também de escrita. É importante ao final deste capítulo, portanto, que você seja capaz de responder às perguntas a seguir. 4103 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação � O que são informações implícitas? � O que é duplo sentido ou ambiguidade? � O que é figuratividade? � O que é inferenciação? � O que são instruções de sentido e para que servem? � Podemos falar que o texto permite transmissão de informações? 2. INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS: PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS Em geral, um texto contém muito mais informação do que se apre- senta em sua superfície perceptível. Em outras palavras, ao conteúdo explícito, subjaz uma gama de informações implícitas, estando umas mi- nimamente sinalizadas na materialidade textual exposta e outras apenas insinuadas, não facilmente acessíveis. Tanto em um caso quanto no outro, o produtor do texto conta, entre outros recursos, com a capacidade de inferenciação do leitor, a fim de que este proceda à adequada interpretação e, assim, o propósito comunicativo seja alcançado. Para examinar isso mais de perto, vejamos os textos que seguem, extraídos da seção “Cartas” da revista ISTO É (08/08/2012, p. 16). Exemplo 1 Se o atual técnico Mano Menezes não conseguir um bom resulta- do nos Jogos Olímpicos de Londres, há grandes chances de Luiz Felipe Scolari voltar a ser o técnico de nossa seleção. Ainda mais com a disposição que mostrou levando o Palmeiras ao título. Mariana Brito - São Paulo/SP 42 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita Atividade 1 a) Em “técnico”, “seleção” e “título”, a autora apela para o conhecimento de mundo do leitor. Que conhecimento é esse? b) Que informações implícitas existem sobre Mano Menezes e Luiz Felipe Scolari? Como isso é sinalizado? c) Que inferência pode ser feita com relação à volta de Scolari e o título do Palmeiras? Atividade 2 2.1 – O que está implícito em: a) “Há mais de vinte anos...”? b) “O governo, enfim, admitiu...”? c) “... realizará alguma medida concreta”? d) “... para tranquilizar os paulistas”? 2.2 – O que o escrevente insinua com: a) “... o Estado mais rico do País”? b) “... mas será que [o governo] realizará alguma medida...”? Exemplo 2 É assustadora a situação da segurança pública em São Paulo. Há mais de vinte anos, o Estado mais rico do País sofre com a violên- cia. O governo, enfim, admitiu o clima de insegurança, mas será que realizará alguma medida concreta para tranquilizar os paulistas? Sílvio de Barros Pinheiro - Santos/ SP 4303 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação As informações subjacentes (ou implícitas), a exemplo das que en- contramos nos textos que acabamos de ler, podem ser classificadas em dois tipos: pressupostos e subentendidos. Mas o que é “pressuposto” e o que é “subentendido”? Qual é a diferença entre ambos? 2.1. PRESSUPOSTO Trata-se de uma informação implícita, indiretamente marcada no enunciado, podendo ser acessada mediante o estabelecimento da rela- ção entre tal marca e o “cálculo” inferencial. Voltemos aos textos lidos para verificar isso. No texto 1, pelo uso do adjetivo “atual”, inferimos que, antes, o técnico da seleção não era Mano Menezes, mas outro. Com a expressão “se... não conseguir”, pressupomos que ainda não foi conseguido bom resultado e, com “voltar a ser”, entendemos que, em momento anterior, Scolari já foi técnico da seleção. Texto 1 Se o atual técnico Mano Menezes não conseguir um bom resulta- do nos Jogos Olímpicos de Londres, há grandes chances de Luiz Felipe Scolari voltar a ser o técnico de nossa seleção. Ainda mais com a disposição que mostrou levando o Palmeiras ao título. Mariana Brito - São Paulo/SP Texto 2 É assustadora a situação da segurança pública em São Paulo. Há mais de vinte anos, o Estado mais rico do País sofre com a violên- cia. O governo, enfim, admitiu o clima de insegurança, mas será que realizará alguma medida concreta para tranquilizar os paulistas? Sílvio de Barros Pinheiro - Santos/SP 44 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita No texto 2, ao se informar que, “há mais de 20 anos”, São Paulo sofre com a violência, podemos deduzir que, antes desse período (trin- ta, quarenta, cinquenta anos ou mais), os paulistas não sofriam com esse problema. Também, ao explicitar que o governo “enfim, admitiu”, inferimos que ele ainda não havia admitido e que isso era desejado/aguardado. Pela marca de futuro em “realizará”, podemos pressupor que nenhuma medida concreta foi realizada e, com base em “para tranquilizar”, dedu- zimos que os paulistas estão intranquilos. Vemos, portanto, que o PRESSUPOSTO é inferível a partir de si- nais explícitos no texto, sendo resultado de uma operação lógica. Assim, pelo fato de ser deduzido logicamente de marcas na superfície textual, encontrando-se nas “entrelinhas” do discurso, o pressuposto é um con- teúdo que não pode ser negado. 2.2. SUBENTENDIDO Consiste num conteúdo não marcado no texto; portanto, não há como deduzi-lo logicamente dos enunciados expressos. Sendo assim, o subentendido constitui uma informação cuja inferência é de responsabi- lidade do interlocutor, que toma como base alguma pista textual e pode variar entre mais ou menos aceitável/autorizada. Retomemos os textos para examinar essa questão. No texto 1, podemos inferir as informações que seguem. � Mano Menezes pode ser demitido caso a seleção decepcione nas Olimpíadas em Londres.(+) � A seleção só admite técnicos que levem o time à vitória.(+/-) � Caso a seleção fracasse em Londres, Mano Menezes mostrará ser um incompetente. (-) 4503 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação � Scolari é um técnico vencedor de campeonatos. (-) No texto 2, os subentendidos inferíveis podem ser os seguintes. � Apesar de ser o Estado com mais recursos no Brasil, São Paulo não tem cuidado da segurança pública. (+) � O governo paulista demonstra não se importar muito com a seguran- ça pública do Estado. (+/-) � Os recursos que deveriam ser empregados na segurança pública estão sendo desviados. (-) � O governo paulista não é confiável. (-) Por essas amostras, podemos concluir, então, que o SUBEN- TENDIDO é uma informação indireta, não necessariamente relaciona- da ao conteúdo explícito. Por isso, pode ser negado/questionado pelo locutor. Atividade 3 A leitura da charge depende, em grande parte, de processos inferen- ciais. Considerando-se que a leitura pode se dar por meio de “indiretas”, Exemplo 3 Figura 15 - Charge de Dilma Rousseff sobre a Lei de Cotas. 46 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita a charge de Mariana Brito, particularmente, trabalha com o subentendi- do. Marque a única opção que não apresenta uma inferência autorizada da charge.a ) Trata-se de uma crítica à presidenta Dilma Rousseff. b ) A imagem do troféu no chão, no qual está escrito “ENSINO MÉDIO”, indica o descaso do governo com esse nível de ensino. c ) O governo tem se ocupado bastante com a lei de cotas. d ) O Estado demonstra pouca preocupação com o ensino básico. e ) A presidenta trata as questões educacionais como se fossem ativi- dades de limpeza, ocupando-se com uma área por vez. 3. DUPLO SENTIDO: AMBIGUIDADE INTENCIONAL E AMBIGUIDADE INDESEJADA Devido à fluidez e à opacidade da língua(gem), em que é notória a tendência à polissemia (isto é, à possibilidade de uma forma servir a mais de um significado), é comum a ocorrência de DUPLO SENTIDO ou AMBIGUIDADE. Significa que, em um dado texto, é possível atribuir-se mais de um sentido a uma palavra ou a uma expressão. Todavia, devemos atentar para o fato de haver casos em que o du- plo sentido é produto de uma elaboração textual com esse fim, ou seja, a ambiguidade pode ser intencional. Por outro lado, há textos em que a atribuição de sentidos variados ou mesmo a imprecisão/indefinição semântica pode ser resultante de má sinalização, de construção textual inadequada. Nesse caso, tem-se a ambiguidade indesejada. Para comprovar essas afirmações, observemos os textos a seguir. 4703 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação Exemplo 4 Figura 16 - Notícia da Veja sobre os espiões do governo (outdoor). Fonte: Moraes (2001). Exemplo 5 Figura 17 - Propaganda de assistência funerária (outdoor). Fonte: Moraes (2001). Texto 4 Texto 3 Cadê a cadela da sua irmã? Ah, tá aqui... Não é uma gracinha? Você não me entendeu... E ae, tudo bem? Tudo! 48 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita Atividade 4 4.1 – Em que ponto de cada um dos outdoors lidos podemos identificar o duplo sentido? Como esse recurso deve ser interpretado em ambos os textos, respectivamente? 4.2 – Nesses casos, trata-se de ambiguidade intencional ou de ambigui- dade indesejada? Agora, analisemos os casos de ambiguidade nas duas amostras textuais seguintes. Atividade 5 5.1 – Em que consiste a ambiguidade dos textos dos exemplos 6 e 7? Exemplo 6 Figura 18 - Tirinha. Exemplo 7 Figura 19 - Placa de aviso. 4903 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação 5.2 – Em ambos os casos, a ambiguidade é indesejada? 5.3 – Como desfazer a ambiguidade de cada texto? Respondendo à atividade 4... 4.1 – Em que ponto de cada um dos outdoors podemos identificar o duplo sentido? Como esse recurso deve ser interpretado em ambos os textos, respectivamente? No exemplo 4, o duplo sentido encontra-se em “zeros à esquer- da”, que aponta tanto para os zeros antecedentes em “007”, como para a ideia culturalmente estabelecida de “não valer nada”/“pessoas sem valor”, que é uma metáfora extraída da matemática quanto à posi- ção do zero antes de um número. Além disso, a sequência de números nos lembra do agente secreto James Bond, ou seja, temos a referência aos atos de espionagem promovidos pelo governo (matéria de capa da revista). No exemplo 5, o duplo sentido está em “arrumar” e em “coroa”: o primeiro pode ser “conseguir” ou “organizar”; o segundo pode ser “mu- lher de certa idade” ou “enfeite de flores para funeral”. Portanto, no exemplo 4, a leitura deve ser feita em termos figura- dos; no 5, a leitura deve ser feita em termos literais, haja vista tratar-se de uma propaganda de assistência funerária, veiculada em outdoor. 4.2 – Nesses casos, trata-se de ambiguidade intencional ou de ambigui- dade indesejada? Em ambas as ocorrências, a ambiguidade é intencional, própria de textos publicitários; no caso, outdoors. 50 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita Respondendo à atividade 5... 5. 1 – Em que consiste a ambiguidade dos textos dos exemplos 6 e 7? No exemplo 6 (tirinha), a ambiguidade está na expressão “cadela da tua irmã”, a princípio entendida com ideia de posse, mas, depois, inferida como um “xingamento”. Já no exemplo 7 (placa), a ambiguidade está no pronome “suas”, que pode remeter tanto às fezes do cachorro quanto às do leitor da placa. 5.2 – Em ambos os casos, a ambiguidade é indesejada? Não. No exemplo 6, a ambiguidade é intencional, tendo em vista que serve como efeito de humor para a tirinha. Já no caso da placa (exemplo 7), provavelmente, o locutor não pretendia surtir o efeito de sentido que acaba produzindo. 5.3 – Como desfazer a ambiguidade de cada texto? No exemplo 6, é possível desfazer a ambiguidade de duas formas: “Cadê tua irmã, aquela cadela?” ou “Cadê a cadela que pertence à tua irmã?”. Já no exemplo 7, apenas uma forma seria possível para desfazer a ambiguidade: “[...] e recolha as fezes dele”. 4. FIGURATIVIDADE Ainda considerando a natureza polissêmica da língua(gem), é co- mum, nas situações comunicativas do dia a dia, desde as mais descontra- ídas até as mais formais, o recurso à linguagem figurada. Nesse sentido, umas figuras são mais recorrentes, a ponto de não mais serem vistas como tal; outras são criadas especificamente para determinados contex- tos, a fim de produzirem um efeito de sentido inusitado e chamativo. A respeito disso, vejamos as amostras textuais 8 e 9, coletadas da seção “Leitor”, da revista Veja (08/08/2012, p. 40). 5103 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação Atividade 6 Que figuras podem ser identificadas em ambos os textos? Como devem ser interpretadas? Atividade 7 Agora, para revisar e resumir o que foi visto neste capítulo, vamos ler o texto a seguir, retirado da revista ISTO É (08/08/2012, p. 16); depois, identificar nele amostras de informações implícitas, de ambiguidade e de linguagem figurada. Exemplo 8 PALCO DA SENTENÇA HISTÓRICA Estão em jogo no Supremo Tribunal Federal não apenas o destino dos 38 réus do mensalão, mas também que página da história bra- sileira nossa geração escreverá neste começo de século XXI – uma página que pode nos envergonhar ou da qual nós, nossos filhos e netos vamos nos orgulhar. Olga S. Lessa - Salvador/BA Exemplo 9 Considero a política brasileira um lugar onde não há como entrar sem se sujar de lama. Elisabeth Silva Miranda - Feira de Santana/BA 52 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita Exemplo 10 COMPORTAMENTO A reportagem sobre o déficit de atenção mostra o movimento que contesta a existência da doença e o uso de um derivado anfeta- mínico em seu tratamento. Mas é importante lembrar que, por trás desses diagnósticos, existem os interesses da indústria farmacêu- tica. O Brasil não pode ficar à margem dessa discussão. José Elias Aiex Neto- Foz do Iguaçu/PR Respondendo à atividade 6... Que figuras podem ser identificadas em ambos os textos? Como devem ser interpretadas? No texto “Palco da sentença histórica”, logo no título, encontramos a palavra “palco”, que é uma analogia ao julgamento dos réus envolvidos no mensalão; depois, vemos a expressão “em jogo”, que significa “em processo de decisão”; mais adiante, há o termo “mensalão”, que remete ao “pagamento” mensal de enormes quantias de dinheiro a políticos em troca de apoio ao governo Lula; por fim, temos “página da história bra- sileira nossa geração escreverá”, que se refere à decisão final do STF no julgamento dos acusados. No texto de Elisabeth Silva, por sua vez, a “política brasileira” é apre- sentada figurativamente como um lamaçal, estabelecendo-se uma rela- ção metafórica entre “lama” e a desonestidade/corrupção que caracteriza nossa política. A outra figura é “se sujar de lama”, simbolizando o fato de alguém passar a ser desonesto/corrupto ao se tornar político no Brasil. Respondendo à atividade 7... No texto, há, entre outras, as informações explicitadas a seguir. � Pressuposto: há quem defenda a existência do déficit de atençãoe o uso de um derivado anfetamínico em seu tratamento, o que é inferido a partir do termo “contesta”. Esse dado nos leva a concluir que não existe 5303 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação consenso sobre essa questão. Por fim, deduzimos que o Brasil está à margem da discussão sobre isso pela expressão “não pode ficar”. � Subentendido: a indústria farmacêutica não é confiável e pode estar enganando as pessoas. Mas isso é discutível, uma vez que o texto não fornece pista(s) explícita(s) a esse respeito. � Figurativização: está na expressão “por trás”, que, nesse contexto, significa “está implícito”, e em “ficar à margem”, que, nesse caso, quer dizer “não participar”. � Ambiguidade/vagueza de sentido: está em “desses diagnósti- cos”. Não se sabe a que esse termo se refere, já que nada sobre isso foi mencionado antes no texto. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para concluir este estudo, devemos enfatizar que a linguagem não é cristalina, mas opaca. Em outras palavras, os enunciados não “di- zem” ao interlocutor somente aquilo que o falante/escrevente desejou “transmitir”; tampouco esgotam em si mesmos todos os significados pretendidos. Disso resulta o fato de eles abrirem/permitirem possibilida- des variadas de leitura. Sendo assim, o leitor não pode ser considerado passivo na interação comunicativa. Mas lembre-se de que nem toda leitura é aceitável. Existe a leitura errada. Agora, já podemos responder às questões levantadas no início da aula. � O que são informações implícitas? Informações implícitas são aquelas que subjazem à superfície textual, que não estão dadas (explicitadas), ou seja, são as “entrelinhas” de um texto. � O que é duplo sentido ou ambiguidade? Duplo sentido ou ambiguidade é o que ocorre quando um discurso produz mais de um significado ao mesmo tempo. Isso pode ser intencional ou não. 54 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita � O que é figuratividade? Figuratividade é a recorrência à linguagem polissêmica. � O que é inferenciação? Inferenciação é a capacidade de extrair de um texto as informações que não estão na superfície, ou seja, depreender aquilo que está implícito. Tome cuidado com isso, pois existem inferências autorizadas (válidas) e não autorizadas (inválidas). � O que são instruções de sentido e para que servem? Instruções de sentido são pistas deixadas em um texto para guiar o leitor, a fim de lhe garantir melhor compreensão. � Podemos falar que o texto permite transmissão de informações? Não. Devido à fluidez e à opacidade da língua(gem), entre a formulação de um texto e a compreensão do interlocutor existem alguns fatores que colaboram ou interferem nesse processo. PARA SABER MAIS Sites http://exercicios.brasilescola.com/redacao/exercicios-sobre-ambiguidade.htm http://www.ifono.com.br/ifono.php/chuva-de-sapos-uma-reflexao-sobre- -o-filme-magnolia 6. RESUMO DA AULA Neste capítulo, vimos que os textos não se constituem apenas de uma forma material (aquilo que está, de fato, escrito), mas que, por ve- zes, abrem possibilidades para que o leitor faça inferências, um proces- so que pode ser bastante produtivo ou gerar equívocos. Vimos, ainda, que essas inferências servem como instruções de sentido e quais são os tipos que permeiam o “diálogo textual”. 5503 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação 7. AVALIAÇÃO Para a devida compreensão de um texto, é importante que o leitor esteja munido de conhecimentos diversos. Ademais, é preciso ter bas- tante atenção para perceber as informações mais sutis. Leia o texto a seguir, retirado da revista Língua Portuguesa, a fim de responder às três primeiras questões levantadas sobre ele. A NETIQUETA COMO SE COMPORTAR CORRETAMENTE NO MUNDO VIRTUAL 1. Maiúsculas: textos em maiúsculas (CAPS LOCK ativado), na maioria dos casos, dão a entender que você está gritando. Se quiser destacar algo, sublinhe ou coloque entre aspas. Se o programa utilizado na comu- nicação permitir, use o itálico ou o negrito, mas sempre de forma moderada para não poluir o texto. 2. Erros de grafia: em conversas informais, é normal que a norma culta da língua seja posta de lado, o que não quer dizer que se possa escrever de qualquer jeito. Atenção para os erros que podem mudar o significado do que se quis dizer, como usar “mais” em vez de “mas”, “e” em vez de “é”, “de” em vez de “dê” e assim por diante. 3. Pontuação: por mais informal que seja, o interlocutor pode não conseguir acompanhar o fluxo de pensamento do redator. Daí a necessidade de pausas. Por isso atenção à pontuação e à divisão de parágrafos. 56 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita 4. Resposta: ao enviar respostas em fóruns, listas de discussão ou debates em redes sociais, como o Facebook, por exemplo, procure ser claro sobre o que está falando ou a que você está se referindo. Copie e cole um trecho da questão, dê nome ao que você pretende responder e evite deixar sua réplica solta, sem refe- rências às margens prévias nas quais você se baseou. 5. Público x privado: questão cara em tempos de redes sociais, o cuidado com o que se publica é essencial para evitar mal-enten- didos e situações constrangedoras. Como o meio virtual permite respostas muito rápidas e publicações instantâneas, pense antes de tornar públicos seus pensamentos. Por isso cuidado, suas opiniões ficarão registradas e podem ser facilmente associadas ao seu nome numa busca rápida. Evite também publicar informações que possam lhe causar problemas, como seu endereço ou críticas ao chefe. Fonte: texto adaptado de Murano (2011). 01 – Marque a opção que apresenta um pressuposto criado a partir da seguinte frase, destacada do primeiro período da subseção Erros na gra- fia: “em conversas informais, é normal que a norma culta da língua seja posta de lado”. (a) É mais comum utilizar a norma culta em conversas formais. (b) Apenas em conversas formais deve-se utilizar a norma culta. (c) Deixar a norma culta de lado em conversas informais é um erro. (d) Em conversas informais, não se utiliza a norma culta. (e) Em conversas informais, não há normas de uso da língua. 02 – Embora os textos abram possibilidades de leitura daquilo que está “nas entrelinhas”, algumas inferências são autorizadas e outras não. Na sequên- cia, encontram-se algumas afirmações a respeito do conteúdo lido; leia-as. 5703 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação I – Há pessoas que desconhecem a existência de um código de etiqueta para situações de interação mediadas por computador. II – Não se devem utilizar as redes sociais para divulgar qualquer tipo de informação. III – Na internet, não é necessário policiar-se quanto ao uso da norma culta. IV – Os usuários de redes sociais não reconhecem os limites entre o pú- blico e o privado. V – Crianças são as maiores vítimas de problemas relacionados à divulga- ção de informações. VI – Problemas linguísticos podem gerar situações desconfortáveis por gerarem perda do sentido pretendido. Marque um “x” na opção que contiver apenas as inferências autorizadas. (a) Apenas II e IV. (b) Apenas IV, V e VI. (c) Apenas I, III e V. (d) Apenas I, II e VI. (e) Apenas III e V. 03 – Com base nos tópicos do texto intitulado “A netiqueta”, marque a opção que apresente duas ocorrências de figurativização. (a) “coloque entre aspas” (1); “publicações instantâneas” (5). (b) “não poluir o texto” (1); “posta de lado” (2). (c) “fluxo de pensamento” (3); “sua réplica” (4). (d) “necessidade de pausas” (3); “listas de discussão” (4). (e) “causar problemas” (5); “escrever de qualquer jeito” (2). 58 03 – Informações implícitas, figuratividade e processos de inferenciação • Práticas de Leitura & Escrita 04 – Leia a seguinte propaganda do cartão Credicard. Com relação ao texto da propaganda, só NÃOse pode afirmar que: (a) “Nota alta” significa muito dinheiro. (b) O autor do texto faz uma analogia criativa. (c) “Aqui” se refere a universidade. (d) “Ser aprovado” quer dizer ser aceito pelo programa Credicard, o que confere maior credibilidade ao cliente. (e) Na propaganda lida, recorre-se à polissemia de palavras usadas na esfera acadêmica e na bancária. UNIVERSITÁRIO, AQUI VOCÊ NÃO PRECISA TER UMA NOTA ALTA PARA SER APROVADO. 5904 – Gêneros discursivos e sequências textuais Objetivos • Compreender o que é gênero discursivo e qual é a sua função. • Compreender o que é sequência textual. • Diferenciar gênero discursivo e sequência textual. • Reconhecer a importância da adequação do gênero discursivo à situação comunicativa. • Produzir os gêneros perfil acadêmico e currículo de maneira satisfatória. • Aplicar o conhecimento teórico nas práticas de leitura e escrita exigidas no/pelo cotidiano acadêmico e profissional. 1. VOCÊ VERÁ POR AQUI... ... o que é gênero discursivo e quais são as características que o compõem; quais as fun- ções dos gêneros discursivos; a diferença entre gênero discursivo e sequência textual; alguns gêneros utilizados na esfera acadêmica e suas características: função, estrutura, conteúdo e aspectos estilísticos. 04 – Gêneros discursivos e sequências textuais 60 04 – Gêneros discursivos e sequências textuais • Práticas de Leitura & Escrita 1.1. INICIANDO NOSSA CONVERSA Nas capítulos anteriores, fizemos uso de diferentes textos verbais, não verbais e multimodais para explanar conteúdos diversos. Esse uso demonstrou que, no nosso cotidiano, somos constantemente expostos a uma série de textos (charge, outdoor, carta de leitor, perfil, biografia, bilhete, horóscopo, torpedo, blog, verbete), o que nos possibilita cons- truir, ao longo do tempo, uma competência no que concerne ao (re) conhecimento de padrões relativamente estáveis em que se baseia toda e qualquer produção discursiva, seja escrita, seja oral. Esses padrões, construídos a partir de aspectos como conteúdo, estrutura composicio- nal, estilo, função e esfera de circulação social, denominam-se gêneros discursivos. Em sua vida acadêmica e profissional, você lidará com inúmeros gêneros e será preciso dominar a leitura e a escrita de alguns deles, adequando-se às peculiaridades de cada um na situação em que serão utilizados. Mas o que é mesmo “gênero discursivo” e o que é “sequência tex- tual”? Com base no senso comum, às vezes, algumas pessoas tendem a confundir uma categoria com a outra, mas esses conceitos são distintos. Nesse sentido, para iniciarmos essa reflexão, esclarecendo o que pode parecer inicialmente confuso, podemos formular algumas questões relevantes acerca do conteúdo deste capítulo. � O que são gêneros discursivos e para que servem? É essa competência [com relação ao (re)conhecimento dos gêne- ros] que possibilita aos sujeitos de uma interação não só diferenciar os diversos gêneros [...] como também identificar as práticas so- ciais que os solicitam. Além disso, somos capazes de reconhecer se, em um texto, predominam sequências de caráter narrativo, descritivo, expositivo e/ou argumentativo. Fonte: Koch (2011). 6104 – Gêneros discursivos e sequências textuais � Como definimos a que gênero pertence um texto? � O que são sequências textuais? � Qual é a principal diferença entre sequência textual e gênero discursivo? � Por que é importante estudarmos gêneros específicos das esferas acadêmica e profissional? GÊNERO DISCURSIVO é uma forma relativamente convencio- nalizada de interação comunicativa, realizada na/pela linguagem em um dado contexto sociocultural. Cada gênero discursivo manifesta-se concretamente por meio de um texto verbal e/ou não verbal. Os gêne- ros surgem e se modificam de acordo com as exigências sociocomu- nicativas de seus usuários. Com base nisso, podemos afirmar que não nos é possível enumerá-los, haja vista sua grande variedade e seu di- namismo. Essa afirmação decorre do entendimento de que os gêneros discursivos são práticas comunicativas e, exatamente por isso, estão em constante atualização. SEQUÊNCIAS TEXTUAIS (ou “tipos textuais”), por sua vez, são segmentos de enunciados que correspondem à forma como o texto se organiza. De acordo com suas características específicas, distribuem-se nos seguintes tipos: narrativo, descritivo, injuntivo, argumentativo e expo- sitivo. Isoladamente, as sequências textuais não servem a um propósito comunicativo, pois constituem apenas parte de um todo textual, a que chamamos gênero discursivo. Na educação básica (ensino fundamental e médio), com certeza você estudou textos que se dividiam em três tipos: narração, descrição e dissertação. Embora essa trilogia seja a tradicionalmente estudada, na verdade, existem outras sequências textuais. Neste livro, interessam- -nos, particularmente, cinco delas: a narrativa, a descritiva, a injuntiva, a expositiva e a argumentativa. As duas últimas caracterizam os textos classificados, comumente, como “dissertativos”, podendo neles apa- recerem as duas sequências (uma em complementação à outra) ou apenas uma delas. 62 04 – Gêneros discursivos e sequências textuais • Práticas de Leitura & Escrita Em geral, um gênero discursivo não apresenta apenas um tipo de sequência textual. É até possível afirmar que uma é predominante, mas não única. Veremos, mais adiante, como comprovar essa assertiva em relação ao gênero discursivo “receita culinária”, por exemplo. Agora, vejamos al- gumas características de cada uma das cinco sequências textuais citadas. 1 – A sequência narrativa aparece em diferentes gêneros discur- sivos que precisem “contar uma história”. Ela se caracteriza, basicamen- te, pela presença de verbos que expressam ação e, no texto, aparecem em tempos diferentes (presente, passado e futuro), exatamente para oferecer ao leitor a ideia de ações iniciais e posteriores. Essas ações encadeiam causas e consequências, revelando a interação dos perso- nagens para a realização dos momentos que caracterizam a narrativa, quais sejam: apresentação do cenário e dos principais personagens; criação da expectativa; aparecimento de um conflito (quebra da expec- tativa); tentativa de reação; desfecho da narrativa. 2 – A sequência descritiva tem como marca a não interação de seus elementos. Isso significa que, nessa sequência, não existe a ideia de causa e consequência, de antes e depois. Comprovam essa afirmação o fato de os verbos de um texto descritivo estarem sempre no mesmo tempo, além de os elementos linguísticos mais importantes dessa sequência serem os substantivos e os adjetivos, não os verbos. 3 – A sequência injuntiva prioriza a presença de verbos no impe- rativo com o intuito de orientar o leitor, por meio de comandos (ordens, instruções), para a realização de tarefas. 4 – Já na sequência argumentativa, é necessária a existência de um tema polêmico, para o qual haja a disposição lógica dos seguintes elementos: uma tese (ponto de vista que se pretende defender), argu- mentos que deem sustentação à tese (relação de causa e consequên- cia, dados estatísticos, exemplificação, fatos históricos) e conclusão que respalde o raciocínio desenvolvido no decorrer do texto. 5 – A sequência expositiva, por sua vez, não está atrelada a temas polêmicos, o que a difere da sequência argumentativa. Na sequência expo- sitiva, o autor se restringe a informar o leitor sobre determinado tema, sem o propósito de convencer nem de obter adesões ao seu ponto de vista. 6304 – Gêneros discursivos e sequências textuais Atividade 1 Vejamos, na prática, se você conseguiu entender as especificidades das sequências textuais, relacionando os textos a seguir à sequência que predomina em cada um. Para tanto, use o seguinte código: (1) sequência narrativa; (2) sequência descritiva; (3) sequência injuntiva; (4) sequência argumentativa; (5) sequência expositiva. ( ) O transtorno do comer compulsivo vem sendo reconhecido,
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