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História do Brasil Rio de Janeiro 2010 1 PRÉ-VESTIBULAR COMUNITÁRIO VETOR Organizadora: Aldilene Marinho César Autores: Aldilene Marinho César Paula R. Albertini Túlio Rafaella Lúcia de A. Ferreira Bettamio Revisora: Paula R. Albertini Túlio 2 Ter sucesso no vestibular não é privilégio de uns poucos alunos ―brilhantes‖. Mas do que uma inteligência fora do comum é a dedicação, a maturidade intelectual e o equilíbrio emocional que mais contribuem para essa vitória. E essa é adquirida através das aulas; do contato com o mundo, da troca de experiências com outras pessoas; pelas leituras e atividades desenvolvidas no estudo. Boa sorte a todos! Equipe de História. 3 SUMÁRIO 1 As grandes navegações ................................................................4 2 O descobrimento do Brasil e as primeiras décadas da Colônia ......8 3 A implantação do colonialismo na América portuguesa ..............14 4 O Brasil e as relações internacionais ..........................................19 5 A Economia mineradora .............................................................24 6 As reformas pombalinas e as conjurações coloniais ...................31 7 A Época joanina 1808-1821 .......................................................37 8 A Independência e o Primeiro Reinado 1822-1831.......................42 9 O período regencial 1831-1840 ..................................................47 10 A afirmação do Império 1840-1850 ..........................................53 11 O auge do Império 1850-1870 .................................................56 12 Decadência do Império 1870-1889 ..........................................60 13 O surgimento da República ......................................................64 14 A República oligárquica 1894-1930 ..........................................67 15 Rebeliões da República Velha ...................................................70 16 A crise dos anos 20 ..................................................................73 17 A Revolução de 1930 ................................................................78 18 O governo constitucional e movimentos políticos .....................81 19 O Estado Novo 1937-1945 ........................................................84 20 O Governo Dutra 1946-1951 ....................................................88 21 O Segundo Governo Vargas 1951-1954 ....................................90 22 O Governo JK 1956-1960 .........................................................92 23 A crise da República Populista 1960-1964 ................................98 24 O golpe de 1964 .....................................................................102 25 Ditadura Militar: o panorama político e cultural 1964-1974 ....105 26 Ditadura Militar: o panorama econômico ................................111 27 A Crise da Ditadura Militar e os primeiros sinais da abertura política ........................................................................................113 28 O governo Figueiredo e a Redemocratização 1979-1985 ........115 29 Planos econômicos e recessão ...............................................119 30 A eleição e o Governo Fernando Collor 1989-1992 .................121 31 O neoliberalismo no Brasil .....................................................124 32 O governo Lula e o Brasil atual ...............................................126 Gabaritos ....................................................................................128 4 Capítulo 1. As Grandes Navegações Apresentação - As grandes navegações marcaram um período da História européia no qual os horizontes se alargaram enormemente. Dentre outros eventos, nessa época, encontrou-se o ―fim‖ do continente africano e entrou-se em contato com civilizações do Oriente e do Extremo Oriente. No século XVI, uma expedição espanhola liderada pelo português Fernão de Magalhães comprovaria que a terra é redonda, através da viagem de circunavegação. No entanto, não se deve perder de vista o sentido maior dessa expansão marítima para os europeus: obter riquezas. Transição da Idade Média à Idade Moderna A Idade Média – espaço temporal compreendido entre os séculos V ao XV –, na Europa, foi marcada pelo sistema feudal de produção. O período é dividido em Alta Idade Média e Baixa Idade Média. Alta Idade média (séc. V-XI). Época na qual a Europa ocidental sofreu sucessivas invasões dos povos germânicos (também chamados ―bárbaros‖). Essas invasões, ocorridas entre os séculos IV e V, contribuíram para a decadência do antigo Império Romano e foram responsáveis por profundas alterações políticas, sociais, e culturais. Além disso, durante o século VIII, houve também a dominação dos povos árabe- muçulmanos, que ocuparam até o século XV a Península Ibérica. Organização política - Poder político descentralizado, distribuídos entre o rei, os membros da nobreza e o alto clero. Cada feudo constituía uma unidade política autônoma baseada, governada pelo senhor feudal. Economia - Essencialmente agrária fundamentada na agricultura de subsistência sem grandes excedentes para comercialização. A terra era considerada a principal fonte de riqueza. Em conseqüência das crises geradas pelas invasões e pela ocupação do mar Mediterrâneo pelos árabe-muçulmanos, ocorreu no período o quase desaparecimento das atividades comerciais e do uso da moeda. Sociedade - Era basicamente rural e estamental com funções bem definidas para os seus três principais grupos sociais. O clero, que cuidava da fé; a nobreza, responsável pela defesa do território; e os camponeses ou servos, que trabalhavam a terra. Cultura – Pode dizer que a sociedade medieval era teocêntrica, ou seja, essa sociedade concebia Deus como centro do universo e a razão de todas as coisas. Dessa forma, a Igreja determinava os modos de pensar e de viver das pessoas e os fenômenos naturais eram explicados pela fé. A Baixa Idade Media (séc. XII-XV) - Resultado de diversos processos históricos, a partir do século XI, houve um reflorescimento do comércio na Europa ocidental. Dentre esses, destacam-se a renovação das práticas agrícolas (o arado de ferro, a foice, a enxada, o aproveitamento da água e do vento como força motriz), que permitiram um aumento da produção, e consequentemente, o crescimento demográfico. A expansão das áreas produtivas gerou um excedente agrícola que estimulou o crescimento do comércio. Aos poucos, a atividade comercial aumentou, tornando necessária a expansão da quantidade de moedas para facilitar as trocas. O antigo comércio, realizado entre a Europa ocidental e o Oriente, foi aos poucos reativado com o movimento das Cruzadas (expedições religioso-militares cristãs contra os mulçumanos do Oriente Médio - séc. X-XIII), o que acabou por se constituir em uma via de acesso ao comércio mediterrâneo. Em seguida, a Península Itálica passou a ter o monopólio desse comércio. No século XV, os últimos árabes-muçulmanos foram expulsos da Europa e do mar Mediterrâneo nas lutas da Guerra de Reconquista travadas na Península Ibérica. Essa Guerra esteve diretamente ligada à luta doscristãos 5 para recuperar os territórios ocupados pelos mouros (mulçumanos), e só teve fim em 1492. No continente europeu, as feiras, antes provisórias, tornaram-se permanentes e algumas deram origem aos burgos (cidades), permitindo, além disso, a emergência de um novo grupo social, a burguesia mercantil. Tais acontecimentos passaram a constituir o chamado Renascimento comercial e urbano. A partir de então, os servos passaram cada vez mais a abandonar as áreas feudais e a se dedicar a novas atividades econômicas. Do feudalismo ao Antigo Regime – Desde o século XIV, o feudalismo já apontava sinais de decadência. Com o crescimento das cidades e do comércio, a relação feudal entre senhor e servo começou a perder força. Ao mesmo tempo, os reis, que procuravam concentrar em suas mãos o poder político, também começaram a entrar em choque com os senhores feudal. Seguiu-se um longo período de lutas e guerras entre os reis e a nobreza feudal. Os reis obtiveram o apoio financeiro da burguesia e conquistaram o monopólio do uso legítimo da força. Centralizando o poder e transformando reinos politicamente fragmentados em nações unificadas, que assumiram as políticas de monarquias nacionais. Na Europa ocidental a sociedade feudal deu lugar à sociedade do Antigo Regime. Nesse sistema de governo, os nobres e o alto clero perdem parte do poder, mas ainda assim, continuam como grupos dominantes na sociedade. As monarquias, agora centralizadas, passam a concentrar grande poder na mão dos reis. Portugal, do Surgimento à Expansão Marítima - O surgimento de Portugal se deu no contexto da Guerra de Reconquista. Das diversas casas nobres que tomaram parte nessa luta, uma delas foi a de Borgonha, que fundou o condado Portucalense. Em 1139, esse condado foi declarado emancipado de Castela sob o nome de Portugal. Os reis desta dinastia incentivaram a colonização interna do país, estimulando a libertação dos servos, transformando- os em trabalhadores assalariados, ou em pequenos proprietários. As atividades comerciais também foram estimuladas. No reinado de Afonso IV (1325-1357) a pesca foi estimulada, e se transformou no setor mais dinâmico da economia propiciando o desenvolvimento dos centros urbanos do litoral, onde surgiu uma poderosa burguesia. Além disso, a casa de Borgonha limitou o poder da nobreza, com a Lei de Sesmarias e incorporou novas terras aos domínios do rei. Assim, no final do século XIV, só as propriedades da Igreja podiam se equiparar as da realeza. Dessa forma, Portugal se afirmava, antes da Espanha e de outras nações, como um dos primeiros Estados europeus a efetuar a centralização administrativa e a unificação nacional. A vocação comercial - Logo, a região ganharia importância comercial, por ser entreposto marítimo entre as duas principais regiões mercantis da Europa: as cidades do Norte da Itália e a região de Flandres (atual Holanda, Bélgica e parte do Norte da França). A Revolução de Avis (1385) - O reino de Castela, no entanto, considerava Portugal como um condado vassalo. Uma disputa pelo trono português, colocou em luta dois grupos antagônicos: de um lado a grande nobreza portuguesa (almejando mais poder), que defendia a união com Castela, de outro, a burguesia mercantil, a pequena nobreza, a população urbana e do campo que defendiam que a Coroa fosse entregue a Dom João, mestre da ordem militar de Avis, irmão ilegítimo do rei. A luta foi decidida com a ajuda do dinheiro dos burgueses ricos de Lisboa e do Porto, tornando Dom João rei de Portugal. Essa resolução deu a Portugal a consolidação de sua independência e pôs fim ao feudalismo no país. Expansão Marítima – Com o incentivo da coroa, Portugal passou a ser a primeira nação moderna a expandir seus limites por meio das grandes navegações. A expansão marítima teve início em 1415 com a 6 tomada de Ceuta (cidade muçulmana no Norte da África) e atendia aos interesses da nobreza e da burguesia. Em seguida, Portugal parte em direção às ilhas atlânticas e ao continente africano, em busca de riquezas, em especial, de metais preciosos. Tratado de Tordesilhas - O segundo país europeu a se expandir para o Atlântico foi a Espanha (unificada em 1469). Esse país viria a ―descobrir‖ a América em 1492. Com a entrada dos espanhóis no ciclo das grandes navegações, criou-se um conflito diplomático entre Espanha e Portugal pela posse das terras conquistadas e a conquistar. A questão foi resolvida com o Tratado de Tordesilhas, de 1494, que estabelecia uma linha imaginária passando, a 370 léguas a Oeste das ilhas de Cabo Verde, divindindo o Novo Mundo em duas partes, uma para Portugal, outra para a Espanha. As terras ao leste desse meridiano seriam de Portugal; as restantes pertenciam à Espanha. Pintura representando Vasco da Gama em sua chegada às Indias. O comércio indiano. Desde o início, Portugal conheceu grande sucesso na expansão marítima. Encontrou minas de ouro e prata na África, desenvolvendo ali um importante comércio. Ainda, em 1498, descobriu o Caminho para as Índias, região onde viriam a se localizar os principais entrepostos comerciais portugueses no ultramar. Esse foi o período de maior prosperidade na história de Portugal. Como exemplo disso, de 1500 a 1520, chegou por ano a Portugal, cerca de 200 kg de ouro africano, e, até 1530, esse país teve o monopólio sobre a exploração do ouro africano e sobre o comércio indiano. Questões de Vestibulares 1. UFRJ 2003. ―À frente do projeto de expansão do lusocristianismo estavam os monarcas portugueses, aos quais, desde meados do século XV, os papas haviam concedido o direito do padroado (...) Quando se iniciou o ciclo das grandes navegações, Roma decidiu confiar aos monarcas da Península Ibérica o padroado sobre as novas terras descobertas‖. (AZZI, Riolando. A Cristandade Colonial: Mito e Ideologia. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 64). As relações entre os Estados nascentes e a Igreja Católica constituíram-se em um dos mais importantes eixos de conflito ao longo da etapa final da Idade Média. Ao contrário de outras regiões, na Península Ibérica a resolução do problema implicou o estreitamento das interações entre uma e outra instituição. a) Cite duas das atribuições das Coroas Ibéricas contidas na delegação papal do Padroado, cujo fim último era a expansão do catolicismo nas terras recém-descobertas da América. b) Indique a principal fonte de arregimentação de recursos para a realização das tarefas que, por meio do Padroado, estavam a cargo das Coroas Ibéricas na América nos séculos XVI e XVII. 2. UERJ 2006. As grandes navegações dos séculos XV e XVI possibilitaram a exploração do Oceano Atlântico, conhecido, à época, como Mar Tenebroso. Como resultado, um novo movimento penetrava nesse 7 mundo de universos separados, dando início a um processo que foi considerado por alguns historiadores uma primeira globalização e no qual coube aos portugueses e espanhóis um papel de vanguarda. A) Apresente o motivo que levou historiadores a considerarem as grandes navegações uma primeira globalização. B) Aponte dois fatores que contribuíram para o pioneirismo de Portugal e Espanha nas grandes navegações.3. ENEM 2007. A identidade negra não surge da tomada de consciência de uma diferença de pigmentação ou de uma diferença biológica entre populações negras e brancas e/ou negras e amarelas. Ela resulta de um longo processo histórico que começa com o descobrimento, no século XV, do continente africano e de seus habitantes pelos navegadores portugueses, descobrimento esse que abriu o caminho às relações mercantilistas com a África, ao tráfico negreiro, à escravidão e, enfim, à colonização do continente africano e de seus povos. K. Munanga. Algumas considerações sobre a diversidade e a identidade negra no Brasil. In: Diversidade na educação: reflexões e experiências. Brasília: SEMTEC/MEC, 2003, p. 37. Com relação ao assunto tratado no texto acima, é correto afirmar que a) a colonização da África pelos europeus foi simultânea ao descobrimento desse continente. b) a existência de lucrativo comércio na África levou os portugueses a desenvolverem esse continente. c) o surgimento do tráfico negreiro foi posterior ao início da escravidão no Brasil. d) a exploração da África decorreu do movimento de expansão européia do início da Idade Moderna. e) a colonização da África antecedeu as relações comerciais entre esse continente e a Europa. 8 Capítulo 2. O descobrimento do Brasil e as primeiras décadas da colônia Apresentação – No ano 2000, o governo brasileiro organizou uma ampla programação em comemoração aos 500 anos do ―Descobrimento do Brasil‖. Contudo, é preciso ressaltar que o termo descoberta do Brasil se aplica somente à chegada, em 22 de abril de 1500, da frota comandada pelo navegador português Pedro Álvares Cabral a uma parte da extensão de terra onde atualmente se localiza o território brasileiro. A palavra "descoberta" é usada nesse sentido em uma perspectiva europocêntrica, ou seja, referindo-se estritamente a um olhar europeu que ―descobre‖ um ―Novo Mundo‖, deixando de considerar a presença de diversos grupos de povos ameríndios que habitam a região há muitos séculos. O período pré-colonial 1500- 1530 O “descobrimento” e o comércio indiano – Em 1500, as índias, ―recém-descobertas‖ por Portugal, supriam as necessidades comerciais do Reino, através do afluxo de especiarias. Neste momento, o Estado e a burguesia portuguesa estavam mais interessados na África e na Ásia, pois os lucros oferecidos pelo comércio com essas regiões eram imediatos, com o comércio das especiarias asiáticas e dos produtos africanos, como o ouro, o marfim e o escravo negro. Em contrapartida, os lucros conseguidos com a extração do pau-brasil eram insignificantes se comparados com aqueles adquiridos com os produtos afro-asiáticos. O escambo de pau-brasil - Em 1501 e 1502 foram feitas expedições pela costa brasileira. Após os primeiros contatos com os indígenas, os portugueses começaram a explorar o pau-brasil da Mata Atlântica. O pau- brasil tinha grande valor no mercado europeu, já que sua seiva avermelhada era muito utilizada para tingir tecidos e para a fabricação de móveis e embarcações. Como estas árvores não estavam concentradas em uma única região, mas espalhadas pela mata, passou-se a utilizar a mão de obra indígena para executar o corte. Até esse momento, os índios não eram escravizados, eram pagos na forma de escambo, ou seja, através da troca de produtos. Machados, apitos, chocalhos, espelhos e outros objetos utilitários foram oferecidos aos nativos em troca de seu trabalho (cortar o pau-brasil e carregá-lo até às caravelas). Os portugueses continuaram a exploração da madeira, erguendo toscas feitorias no litoral, onde funcionavam armazéns e postos de trocas com os indígenas. Motivações para a colonização - Nesse período, encontravam-se, além dos portugueses, outros estrangeiros no território da América portuguesa. Dentre estes, destacam-se os franceses, que eram os principais compradores do pau-brasil da costa brasileira. No final da década de 1520, Portugal via uma dupla necessidade de dar início à colonização no Brasil. Pois, se por um lado, o Reino passava por sérios problemas financeiros com a perda do monopólio do comércio das especiarias asiáticas, por outro, a crescente presença estrangeira, notadamente francesa, no litoral do Brasil, ameaçava a posse portuguesa da sua parte nas terras do Novo Mundo. Outro fator relevante foi a descoberta de ouro e prata na América espanhola. Em 1530, o governo português enviou ao Brasil a primeira expedição colonizadora, sob o comando de Martim Afonso de Sousa. Essa expedição visava o 9 povoamento e a defesa da nova terra, assim como, sua administração e sistematização da exploração econômica. A organização da estrutura político-administrativa do Brasil colonial O sistema de Capitanias Hereditárias - Em 1532, tomou-se a decisão de dividir a colônia em 14 Capitanias Hereditárias, doadas a nobres portugueses que teriam a obrigação de povoar, proteger e desenvolver economicamente seus territórios. Para estimular os donatários a ocupar as novas terras, o rei lhes concedeu amplos poderes políticos, para governar suas terras. Dessa forma, os donatários poderiam doar sesmarias, exercerem jurisdição civil na Capitania e obterem direitos comerciais. Em contrapartida, os donatários deveriam arrecadar tributos para a Coroa. A nobreza e a burguesia portuguesa não se interessaram pelo empreendimento, pois não apresentavam atrativos visivelmente rentáveis. Das Capitanias organizadas, poucas obtiveram êxito. As que mais prosperaram foram as Capitanias de São Vicente e de Pernambuco. As outras fracassaram como empresa colonizadora, como foi o caso da Capitania de Ilhéus, onde o donatário Pereira Coutinho acabou sendo devorado pelos índios antropófagos locais. Contudo, o sistema continuou a existir até finais do século XVIII. O Governo Geral - Com o risco sempre iminente da perda do território para os franceses e com a notícia da descoberta da mina de Potosi (na atual Bolívia) pelos espanhóis, em 1545, (a maior mina de prata do mundo na época), em 1548, a Coroa portuguesa decidiu implantar um governo central na colônia. Esse sistema administrativo, introduzido em 1548, centralizava o poder político e administrativo da colônia nas mãos de um representante do rei, o governador geral. Entre suas principais funções estavam: consolidar o poder político e religioso; incentivar o povoamento visando a defesa do território contra invasões; auxiliar na administração e proteger militarmente os donatários, estabelecendo, assim, um maior controle social. A primeira sede do Governo Geral foi em Salvador. As Câmaras Municipais – Eram órgãos locais da administração colonial portuguesa. Sua fundação data de 1549, na cidade de Salvador, por Tomé de Souza. Suas funções eram bastante extensas e abarcavam diversos setores da vida econômica, social e política na colônia. As câmaras municipais prevaleceram em todo o período colonial, tornando-se a base da administração. Seus membros eram constituídos pelos homens bons, grandes proprietários de terras e escravos. Posteriormente, nas cidades que desenvolveram atividades mercantis, as câmaras municipais foram ocupadas por grandes comerciantes, como ocorreu em Olinda. Ascâmaras eram importantes centros de poder e de decisão na colônia e, algumas vezes, se confrontavam com a Coroa. Os cristão-novos – O termo designa os judeus convertidos ao cristianismo católico. A distinção entre cristão- velho e critão-novo tornou-se corrente a partir de 1497, quando o rei português D. Manuel I ordenou a conversão em massa dos judeus residentes em Portugal ao catolicismo. Muitos destes fugiram para o Brasil, com receio do Tribunal da Santa Inquisição instalado em Portugal, entre 1536 e 1540. Por essa época consolidaram-se também as exigências de pureza de sangue, em consequência da consideração da impureza do sangue dos judeus, negros e mouros. Com base na pureza de sangue, a sociedade do Antigo Regime consolidava-se estabelecendo uma série de obstáculos à ascensão social, exigindo-se, inclusive, o exame de origem dos candidatos aos cargos eclesiásticos, políticos e administrativos. Apesar disso, a presença dos cristão-novos foi muito importante para a colonização portuguesa na América. 10 A questão indígena - A carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro documento em que relata os primeiros contatos dos portugueses com as populações nativas do Brasil. Nesta carta, percebe-se o grande choque cultural provocado pelas enormes diferenças culturais entre os europeus e as populações ameríndias da América portuguesa. Dessa forma, a nudez dos índios foi relatada com perplexidade. Estima-se que, neste primeiro contato, os índios no Brasil eram contados em cerca de 3 milhões ao todo, somando-se todas as diversas tribos. A partir do amplo contato com os colonizadores, o extermínio dos índios gerou uma redução quantitativa drástica, e, com o passar dos séculos, os ―avanços civilizatórios‖ foram levando cada vez mais os índios à sua extinção. Dezenas de milhares de índios morreram em conseqüência do contato direto e/ou indireto com os europeus e pelas doenças por eles trazidas. A gripe, o sarampo, a coqueluche e outras doenças consideradas mais graves, como a tuberculose e a varíola, vitimaram, muitas vezes, sociedades indígenas inteiras, pelo fato dessas populações não possuírem imunidade natural contra esses males. Além da violência contra os indígenas, que foram escravizados em muitas regiões da colônia, durante o processo de colonização, suas terras foram tomadas, seus meios de sobrevivência destruídos e suas práticas religiosas proibidas. Durante o século XIX, com os avanços em epidemiologia, verificaram-se casos em que foram usadas epidemias de varíola como arma biológica contra os índios. Esses casos se encontram amplamente documentados e sugerem que, com o objetivo de conseguir mais terras, homens brancos "presenteavam" os índios com roupas infectadas pela doença, em seguida, aldeias inteiras eram dizimadas. Existem relatos de casos semelhantes por toda América do Sul. Menino Índio de Mato Grosso (Brasil). Data: 1896, Autor: Marc Ferrez. Um dos principais grupos indígenas do Brasil foi o dos tupinambás, e também um dos grandes inimigos da colonização portuguesa. Espalhados pela costa brasileira, eram encontrados, sobretudo, na Bahia e no Rio de Janeiro. Povo de comportamento belicoso, a guerra desempenhava um papel de destaque na sua cultura como fator de conservação e aumento dos recursos naturais sujeitos ao domínio tribal. Após o início da colonização efetiva do Brasil pelos portugueses (1530), foram empreendidas muitas guerras entre portugueses e tupinambás, em consequência disso, estes últimos foram expulsos de suas terras ou aniquilados. A Coroa portuguesa, logo no início da colonização, proibiu a escravidão dos índios, mas essa logo se tornou ―letra morta‖. Apesar das leis contra a escravidão indígena, abria-se a exceção nas situações consideradas como Guerra Justa, que consistia, segundo os portugueses, nas situações em que homens brancos eram atacados pelos nativos. Além disso, a escravidão indígena era justificada pela fé e camuflada sob o compromisso da evangelização. Segundo a ideologia oficial da colonização, a catequização dos índios compreendia o seu principal objetivo. Nos primeiros anos da empresa colonizadora, os portugueses fizeram comércio (escambo) com os índios, no entanto, com a implementação das plantations, começaram a utilizar a mão de obra indígena de forma compulsória. O 11 trabalho indígena conseguido pela força, foi largamente utilizado em toda a colônia até cerca de 1600. A integração com os indígenas - Uma das maneiras de viabilizar a conquista européia seria estabelecer relações estáveis com as comunidades indígenas. Com esse objetivo, muitos portugueses se uniram a mulheres índias e, assim, mudaram sua condição de invasor para parente, passando a serem aceitos e integrados àquelas sociedades. Dessa forma, muitos homens brancos passaram a usufruir não só do trabalho, mas também da proteção dos nativos. Os bandeirantes paulistas são um exemplo de indivíduos que puseram em prática essa ação. A resistência Indígena – Os povos indígenas, ao contrário do que preconizava parte da historiografia tradicional, não aceitaram pacificamente a dominação dos não- índios e, durante todo o processo colonizador, empreenderam uma forte resistência. Dentre esses movimentos de resistência indígena antiescravista, destaca-se a Confederação dos Tamoios, um movimento que reuniu diversos povos indígenas contra a dominação portuguesa. Ocorrida por volta de 1554-1563, colocou em perigo o domínio metropolitano no Rio de Janeiro e em São Vicente. Os índios do tronco Tupi, de várias regiões do sudeste da colônia (Rio de Janeiro, Angra e Ubatuba) e os não Tupis, como os goitacás e os aimorés, habitantes do interior, junto da Serra do Mar, aliaram-se para combater a escravidão indígena. Os tamoios lutavam contra a escravidão e pela posse de suas terras e, com esse intuito, se uniram aos Franceses. Após a interferência dos padres Manoel de Nóbrega e José de Anchieta, foi estabelecida a paz através de um acordo, posteriormente desrespeitado pelos portugueses, que mataram cerca de 2.000 índios e escravizaram aproximadamente outros 4.000. Os que conseguiram escapar acabaram por se refugiar no interior do território. Os Tamoios foram vencidos, em 1563, A Confederação dos Cariris - Iniciada em 1554, foi outro exemplo desses movimentos de resistência indígena, e consistiu numa série de confrontos ocorridos no Nordeste, nos quais se envolveram índios Cariris, Caripus, Icós, Janduis e os bandeirantes. Os conflitos se intensificaram em 1622, e, sobretudo, em 1654, quando os holandeses deixaram a região. Reagindo a ocupação de suas terras, cerca de 14.000 índios das capitanias de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte se rebelaram, mas foram vencidos pelas bandeiras paulistas, comandadas por Domingos Jorge Velho, em 1698. A França Antártica - Os Franceses que se fixaram na costa brasileira, conseguiram conquistar, com um tratamento amistoso, a simpatia e o auxílio dos índios tanto para o corte de pau-brasil, como na luta contra os portugueses. Liderados por Nicolau Duran de Villegaignom, os franceses invadiram e conquistaram parte da atual cidade do Rio de Janeiro, em 1555, nela pretendiam fundar uma colônia de exploraçãoeconômica e, ao mesmo tempo, fugir das guerras religiosas da Europa. Se instalaram nas Vilas de Sergipe, Paranapuã (atual Ilha do Governador), Uruçu- mirim (Flamengo) e em Laje, denominando essa área de França Antártica. O inimigo comum (portugueses) aproximou os franceses dos índios, que se agruparam e formando a Confederação dos Tamoios. Os Portugueses reagiram, sob as ordens do Governador Geral Mem de Sá, procurando o apoio dos Jesuítas, dos colonos e do pedido de reforços a Portugal. Em 1563, foi enviada ao Brasil uma expedição comandada por Estácio de Sá, paralelamente, Mem de Sá conseguiu o apoio do Arariboia, chefe dos índios Temiminós. Finalmente, nesse mesmo ano, os Jesuítas Manoel de Nóbrega e José de Anchieta negociaram com os Tamoios, conseguindo uma trégua para o conflito, que ficou conhecido 12 como o Armistício de Iperoig (atual Ubatuba, São Paulo). Em 1º. de março de 1565, Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que serviria inicialmente de base na luta contra os franceses e seus aliados indígenas. Mesmo após a fundação da cidade, os franceses insistiram em permanecer na região. Em 1567, no dia 18 de janeiro, Mem de Sá mandou reforços para enfrentá- los. A batalha final aconteceu em 20 de janeiro, dia de São Sebastião, no Outeiro da Glória. Os portugueses venceram, mas Estácio de Sá foi ferido no rosto e morreu um mês depois. Assim nasceu a cidade, com cerca de 600 habitantes: os fundadores, que vieram com Estácio e Mem de Sá; os Jesuítas; os índios catequizados; alguns franceses e umas poucas mulheres. Esses pioneiros ocuparam os 184 mil metros quadrados da colina, com limites nas atuais Ruas São José, Santa Luzia, México e Largo da Misericórdia. O índio na atualidade - Hoje, no Brasil, vivem cerca de 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, que perfazem cerca de 0,25% da população brasileira. Cabe esclarecer que este dado populacional considera tão somente aqueles que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes, haja entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há também 63 referências de índios ainda não contactados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista. Questões de Vestibulares 1. Puc-Rio 2005. A aventura da colonização empreendida pela Coroa de Portugal, nas terras da América, entre os séculos XVI e XVIII, expressou-se na constituição de diversas regiões coloniais. Sobre essas regiões coloniais, estão corretas as seguintes afirmativas COM EXCEÇÃO DE: (A) No vale do Rio Amazonas, a partir do século XVII, ordens missionárias exploraram as "drogas do sertão", utilizando o trabalho de indígenas locais. (B) No vale do Rio São Francisco, a partir do final do século XVI, ocorreu a expansão de fazendas de criação de gado, voltadas para o abastecimento dos engenhos de açúcar do litoral. (C) Na Capitania de São Vicente, em especial por iniciativa dos habitantes da vila de São Paulo, organizaram-se expedições bandeirantes que, no decorrer do século XVII, abasteceram propriedades locais com a mão de obra escrava dos índios apresados. (D) Nas Minas, durante o século XVIII, a extração do ouro e de diamantes, empreendida por aventureiros e homens livres e pobres, propiciou o surgimento de cidades, onde o enriquecimento fácil estimulava a mobilidade social. (E) No litoral de Pernambuco, durante a segunda metade do século XVI, a lavoura de cana e a produção de açúcar expandiram-se rapidamente, o que foi acompanhado pela gradual substituição do uso da mão-de-obra escrava do nativo americano pelo negro africano. 2. UERJ 2008. Capa de caderno escolar, 2000. In: GOMES, Ângela et al. A República no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. 13 O ato de comemorar é uma forma de reiterar lembranças e evitar esquecimentos. As comemorações dos 500 anos de história do Brasil não fugiram a essa intenção. Em produtos variados, como a capa do caderno acima reproduzida, procurou-se enaltecer o que era característico e particular da nação. Um dos valores da identidade nacional brasileira representado na imagem está diretamente associado à: (A) riqueza mineral (B) unidade religiosa (C) extensão do território (D) miscigenação do povo 3. UFRJ 2008. Em meados do século XVI, mais da metade das receitas ultramarinas da monarquia portuguesa vinham do Estado da Índia. Cem anos depois, esse cenário mudava por completo. Em 1656, numa consulta ao Conselho da Fazenda da Coroa, lia-se a seguinte passagem: “A Índia estava reduzida a seis praças sem proveito religioso ou econômico. (...) O Brasil era a principal substância da coroa e Angola, os nervos das fábricas brasileiras”. (Adaptado de HESPANHA, Antônio M. (coord). História de Portugal – O Antigo Regime. Lisboa: Editora Estampa, s/d.) a) Identifique duas mudanças nas bases econômicas do império luso ocorridas após as transformações assinaladas no documento. 4. UFRJ 2008. As Câmaras Municipais da América portuguesa do século XVII tinham a responsabilidade de, juntamente com os Oficiais da monarquia, zelar pelo bem comum da população. Para o exercício de tais funções, a Câmara possuía certas atribuições econômicas, políticas e jurídicas. Indique duas prerrogativas das Câmaras Municipais coloniais. 14 Capítulo 3. A implantação do colonialismo na América Portuguesa Apresentação - Somente a partir de 1550, pode-se considerar que a estrutura colonial se impôs de fato na América portuguesa. Diferente da europeia, a sociedade colonial apresentou um novo modelo organizativo baseado no trabalho escravo (indígena e africano) e na produção fundamentalmente voltada para o mercado externo. Era a sociedade colonial, patriarcal, escravista e monocultora. A estrutura colonial O Pacto colonial - Foi um conjunto de normas que regulamentaram as relações políticas e econômicas entre as metrópoles e suas respectivas colônias, na chamada Era Mercantilista. O pacto colonial atendia primordialmente às necessidades metropolitanas, através do monopólio (ou exclusivo) comercial, que garantia à metrópole o comércio exclusivo com sua área colonial, excluindo desse comércio qualquer outra nação. De acordo com esta prática, eram os portugueses que determinavam os preços de venda dos produtos agrícolas da colônia, como também aqueles dos produtos manufaturados trazidos da metrópole para o Brasil. Outra restrição aos coloniais residia na proibição de produzir quaisquer artigos manufaturados que pudessem fazer concorrência àqueles trazidos da metrópole. A exploração da cana-de-açúcar - O principal objetivo da coroa e dos comerciantes portugueses era extrair das colônias produtos de alto valor no mercado europeu, de preferência metais, de acordo com os princípios mercantilistas. Nesse período, também o açúcar extraído da cana possuía um alto valor nesse mercado e, como esse cultivo se adaptou muito bem ao clima e ao solo brasileiros (em especial ao nordestino, cuja terra de massapê era ideal para a cultura da cana, onde passou a ser cultivada) foi o responsável por tornar o litoral nordestino na regiãocolonizadora central dos séculos XVI e XVII. Nesse panorama, passou a ser chamado de engenho o conjunto formado pela grande propriedade rural açucareira, constituído pela casa grande, por outras casas que compunham a propriedade, pelas senzalas e plantações. O engenho de açucar constituiu a peça principal do sistema mercantilista português do período, sendo organizado na forma de latifúndios, com técnicas agrícolas complexas, mas apesar disso, com baixa produtividade. Esta unidade produtora de açúcar e de outros produtos para exportação era chamada de plantation. As platations foram um tipo de sistema agrícola baseado na grande propriedade, produtoras de um produto principal, com monocultura de exportação, regime de trabalho escravista e numa sociedade patriarcal. Navio negreiro ilustrando o livro Voyage pittoresque dans le Brésil, 1835, de Rugendas. A partir de meados do século XVI, para sustentar a produção de cana- de-açúcar, os portugueses começaram a importar africanos como mão de obra escrava. Esses africanos eram capturados entre as tribos das feitorias européias na África (às vezes, com a conivência de chefes locais de tribos rivais) e atravessados, via oceano Atlântico, em navios negreiros, em péssimas condições de higiene. Ao chegarem à América, eram comercializados como mercadoria e obrigados a trabalhar nas plantações ou casas dos colonizadores. Dentro das fazendas, viviam aprisionados em galpões chamados de senzalas. Seus filhos também eram escravizados, 15 perpetuando, assim, a condição de escravos pelas gerações seguintes. A pecuária - a atividade criatória cumpriu um duplo papel no desenvolvimento colonial: primeiro, o de complementar a economia do açúcar; segundo, o de dar início a penetração, conquista e povoamento do interior do Brasil, principalmente do sertão nordestino. Com o passar do tempo, a boiada ultrapassou os limites das áreas agrícolas. Com produção destinada ao mercado interno, no século XVII a atividade criatória se tornou mais independente. Nesse momento, a atividade pecuarista foi fundamental como um fator de povoamento do interior. Até meados do século XVIII, a pecuária ocupou diversas regiões do interior do nordeste, tendo como centros de irradiação as capitanias da Bahia e de Pernambuco, sempre ao seguindo o curso dos rios, próximos aos quais se construíam os currais, como ficaram famosos aqueles ao longo do Rio São Francisco. O nortista ia ocupando as terras marginais, garantindo seu avanço com uma retaguarda reforçada pelos currais e ranchos dos vaqueiros. Já a expansão territorial baiana subiu o curso do Rio construindo bases em torno dos quais foram nascendo e se desenvolvendo os primeiros núcleos populacionais. Via de regra, os baianos e pernambucanos fizeram suas entradas guiados pelas boiadas, fixando currais pelo vale adentro; enquanto os bandeirantes do Norte avançaram lentamente, chegando a atingir, dessa forma, as regiões mineiras. Ao mesmo tempo em que os baianos subiam o São Francisco, os paulistas o navegavam em sentido contrário. O escravismo colonial – Até 1640, aproximadamente, o índio constituiu a mão de obra básica utilizada na colônia. Aos poucos, esses foram sendo substituídos devido, principalmente, à dispersão das populações nativas do litoral; aos altos índices de mortalidade indígena, a resistência dos índios ao trabalho compulsório, e a aos lucros alcançados com o tráfico negreiro. A partir do século XVII, a opção pelo escravo africano vai se difundir por toda a colônia, principalmente nas áreas centrais, onde foram implantadas as principais estruturas coloniais. A continuidade do processo colonizador dependeu da reposição da mão de obra escrava, que foi assegurada pelo tráfico negreiro, uma vez que, essa atividade era altamente rentável tanto para os traficantes de escravos como para a Metrópole. Estima-se que foram trazidos cerca de 3,6 milhões de africanos para trabalhar como escravos no Brasil, e aproximadamente 12 milhões como um todo para a América. Os portugueses não capturavam os cativos na África, mas compravam escravos de comerciantes africanos. As sociedades africanas possuíam escravos antes mesmo da chegada dos europeus. Em virtude da grande demanda por escravos gerada pelo tráfico atlântico, essas sociedades passam a multiplicar em várias vezes o número de cativos, exportando escravos para todo o mundo. No Brasil, o escravo africano, chegou a constituir 50% da população colonial em alguns períodos do século XVIII. A presença holandesa no comércio Os Países Baixos possuíam relações comercias com Portugal desde a Idade Média. Assim sendo, tornaram-se parceiros fundamentais para o sucesso da agromanufatura açucareira, participando do transporte da cana para a Europa e do refino do açúcar. Dessa forma, Holanda e Portugal tornaram-se sócios no comércio europeu do açúcar, havendo nessa sociedade certa desvantagem de Portugal. Os Jesuítas - Desde a década de 1550, a Companhia de Jesus estava presente no Brasil. Essa Ordem foi criada durante a Contra-Reforma católica com o objetivo de promover a expansão da fé católica pelo mundo. Esses religiosos foram os mais presentes no Brasil até a sua expulsão, em 1759, durante o governo do Marquês de Pombal. Na 16 colônia, possuíam várias propriedades e utilizaram largamente o trabalho compulsório indígena. Estabeleceram as missões, nas quais catequizavam e usavam a força de trabalho dos ameríndios. Os Jesuítas também desempenharam um importante papel na educação da colônia, eles educavam os filhos dos senhores de engenho, comerciantes e de outras famílias abastadas. Durante o período colonial, o direito à educação, era restrito somente a esses grupos sociais. Questões de Vestibulares 1. UFF 2003. Segundo o historiador Sérgio Buarque de Holanda, vários aspectos estabeleceram a diferença entre a colonização portuguesa – dos ―semeadores‖ – e a colonização espanhola – dos ―ladrilhadores‖. Identifique a opção que revela uma diferença observada no tocante à construção das cidades no Novo Mundo. (A) As formas distintas de construção das cidades no Novo Mundo derivaram do modo como a Espanha concebeu a idéia renascentista de homem, o que fez seus navegadores, ao contrário dos portugueses, considerarem os indígenas americanos como seus pares. (B) As cidades portuguesas na Costa da América tornaram-se feitorias por um acordo de não concorrência firmado entre Espanha e Portugal, expresso no Tratado de Tordesilhas, pelo qual a Espanha ficou encarregada das áreas de mineração. (C) As experiências comerciais na Ásia e na África acentuaram o papel da circulação nas práticas mercantilistas de Portugal; por isso, as cidades portuguesas da América eram feitorias, diferentemente das espanholas que combinavam comércio e produção. (D) As cidades portuguesas na América – feitorias – constituíram-se centros comerciais por influência direta do modelo de Veneza e Florença. As cidades espanholas, por outro lado, tiveram como modelo a experiência urbana manufatureira francesa. (E) As cidades portuguesas especializaram-se em organizar a entrada de produtos agrícolas no território colonizado, enquanto as espanholas atuaramcomo núcleos mercantis voltados para a criação de mercados consumidores de produtos manufaturados da metrópole. 2. UFF 2004. ―(...) se a região [colonial] possui uma localização espacial, este espaço já não se distingue tanto por suas características naturais, e sim por ser um espaço socialmente construído, da mesma forma que, se ela possui uma localização temporal, este tempo não se distingue por sua localização meramente cronológica, e sim como um determinado tempo histórico, o tempo da relação colonial. Deste modo, a delimitação espácio-temporal de uma região existe enquanto materialização de limites dados a partir das relações que se estabelecem entre os agentes, isto é, a partir de relações sociais‖. Ilmar Rohloff de Mattos. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec, Brasília: INL, 1987, p.24 A partir do texto, podemos entender que a empresa colonial é produtora de uma região e de um tempo coloniais, definidos pelas relações sociais construídas por suas características internas e pela maneira como se relaciona com o que se situa fora dessa mesma região colonial. A Afro- américa, produto da ocupação do Novo Mundo, principalmente por portugueses, espanhóis e ingleses, pode ser compreendida, nessa perspectiva, como um conjunto de: (A) economias subordinadas ao mercado mundial capitalista e à lógica do capital industrial, garantindo a penetração do capitalismo no continente americano, o que explica a rápida industrialização ocorrida no século XIX, como desdobramento da revolução industrial; (B) sociedades que reproduziam as existentes nas metrópoles, podendo ser compreendidas a partir da 17 substituição do trabalho compulsório das relações feudais pelo ―trabalho livre‖; (C) economias surgidas na lógica do mercantilismo, no caso da Inglaterra, e do feudalismo, nas colônias ibéricas, sendo o comércio a principal preocupação dos britânicos, enquanto os governos de Portugal e Espanha privilegiavam a expansão do poder da Igreja; (D) sociedades com organização socioeconômica diferente da existente nas metrópoles, tendo na exploração do trabalho escravo a base da produção da riqueza, que era, em grande parte, transferida para as metrópoles, segundo a lógica do capital comercial; (E) economias baseadas na monocultura de produtos de grande demanda na Europa, gerando uma sociedade polarizada entre Senhores e Escravos, não possibilitando a formação de um mercado interno e o surgimento de outras classes sociais. 3. UFRJ 2009. A tabela a seguir mostra algumas das conseqüências econômicas e sociais da introdução do plantio da cana-de-açúcar em substituição ao de tabaco em Barbados (Caribe) no século XVII. Característ. sócio-econômicas 1645 1680 Cultivo exportável dominante Tabaco Açúcar Número de fazendas 11.000 350 Tamanho das fazenda 10 acres* +10acres* Número de escravos / 5.680 37.000 africanos e afro-descendentes * medida agrária adotada por alguns países (Adaptado de KLEIN, Herbert S. A escravidão africana (América Latina e Caribe). São Paulo: Brasiliense, 1987, pp. 64 e sgts) a) Relacionando as variáveis presentes na tabela, explique como o exemplo de Barbados ilustra as transformações fundiárias e sociais próprias da maior inserção das regiões escravistas americanas no mercado internacional na época colonial. b) Cite duas capitanias açucareiras da América Portuguesa que apresentavam características fundiárias e sociais semelhantes às de Barbados em fins do século XVII. 4. PUC 2009. Sobre as características da sociedade escravista colonial da América portuguesa estão corretas as afirmações abaixo, À EXCEÇÃO de uma. Indique-a. (A) O início do processo de colonização na América portuguesa foi marcado pela utilização dos índios – denominados ―negros da terra‖ - como mão-de-obra. (B) Na América portuguesa, ocorreu o predomínio da utilização da mão-de- obra escrava africana seja em áreas ligadas à agroexportação, como o nordeste açucareiro a partir do final do século XVI, seja na região mineradora a partir do século XVIII. (C) A partir do século XVI, com a introdução da mão-de-obra escrava africana, a escravidão indígena acabou por completo em todas as regiões da América portuguesa. (D) Em algumas regiões da América portuguesa, os senhores permitiram que alguns de seus escravos pudessem realizar uma lavoura de subsistência dentro dos latifúndios agroexportadores, o que os historiadores denominam de ―brecha camponesa‖. (E) Nas cidades coloniais da América portuguesa, escravos e escravas trabalharam vendendo mercadorias como doces, legumes e frutas, sendo conhecidos como ―escravos de ganho‖. 5. UERJ 2009. O trabalho na colônia 1. 1500-1532: período chamado pré- colonial, caracterizado por uma economia extrativa baseada no escambo com os índios; 2. 1532-1600: época de predomínio da escravidão indígena; 3. 1600-1700: fase de instalação do escravismo colonial de plantation em sua forma ―clássica‖; 4. 1700-1822: anos de diversificação das atividades em função da mineração, do surgimento de uma rede urbana, mais tarde de uma importância maior da manufatura – embora sempre sob o signo da escravidão predominante. Ciro Flamarion Santana CARDOSO In: LINHARES, Maria Yedda (org.). História geral do Brasil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. 18 A partir das informações do texto, verificam-se alterações ocorridas no sistema colonial em relação à mão- de-obra. Apresente duas justificativas para o incentivo do Estado português à importação de mão-de-obra escrava para sua colônia na América. 19 Capítulo 4. O Brasil e as relações internacionais Apresentação - Se a primeira metade do século XVI foi de grande prosperidade para Portugal, o mesmo não se pode dizer para a primeira metade do século XVII. Entre 1580 e 1640, Portugal foi anexado pela Espanha, o que acarretou, na colônia, na tomada do Nordeste brasileiro pelos holandeses. Em 1640, após reconquistar a sua independência da Espanha, Portugal teve ainda que travar outra batalha: expulsar os holandeses do Brasil. Com a saída dos batavos e a retomada do rígido controle colonial pelos portugueses, veio a reação dos colonos e a eclosão de uma série de revoltas. União Ibérica e invasão holandesa A União Ibérica – Foi o período em que Portugal permaneceu anexado à Espanha entre 1580-1640. Com a morte do rei D. Sebastião (1557- 1578), Portugal mergulhou num colapso político, visto que o monarca, à epoca de sua morte, ainda era solteiro e também não possuia herdeiros. Na época, muitos foram os relatos sobre as cirscuntâncias da morte do rei. Para alguns, esse morrera ao lado de outros combatentes portugueses, outros mencionavam que o rei teria desaparecido em meio a batalha de Alcácer-Quibir no Norte da África, onde lutavam contra os mouros. Com a ausência de D. Sebastião teve início uma questão dinástica, que permitiu que o reino português caisse nas mãos da Espanha de Felipe II. O mistério envolvendo o desaparecimento do rei, gerou o sebastianismo, espécie de crença messiânica no seu retorno a Portugal. Com a anexação à Espanha, Portugal herdou também os inimigos dos espanhóis, como os holandeses, que passaram a promover incursões emsuas colônias. No Oriente, na África e no Brasil os flamengos se instalaram em Pernambuco e ocuparam boa parte do Nordeste. A tomada do Nordeste 1630-1654 - Em 1630, com 70 navios, os holandeses tomaram Pernambuco e depois todo o Nordeste, do Sergipe ao Maranhão. Dominaram ainda portos escravistas na África, dominando, portanto, a produção de quase todo o açúcar brasileiro e também o abastecimento de escravos para as plantagens. Era a Nova Holanda, a principal colônia holandesa na América. Em linhas gerais, as invasões holandesas do Brasil podem ser recortadas em dois grandes períodos: 1624-1625 Invasão de Salvador, na Bahia. 1630-1654 Invasão de Recife e Olinda, em Pernambuco. 1630-1637 Fase de resistência ao invasor. 1637-1644 Administração de Maurício de Nassau 1644-1654 Insurreição pernambucana O governo de Nassau 1637-1644 – De todo o período holandês destaca- se o governo de Maurício de Nassau em Nova Holanda (atual Recife). Algumas medidas de destaque da sua administração foram a aliança com a elite açucareira nordestina, fornecendo crédito aos fazendeiros e a concessão de liberdade religiosa na colônia, em lugar da obrigatoriedade de professar o credo católico, imposto pelo governo português. Além do interesse no domínio da produção açucareira, Nassau trouxe consigo uma equipe composta por pintores, arquitetos, escritores, naturistas, médicos, astrólogos, e outros profissionais envolvidos nos projetos das missões artísticas e científicas, as primeiras vindas ao Brasil. Durante seu governo, a cidade do Recife sofreu uma verdadeira reformulação urbana com a construção, dentre outras obras, de jardins, lagos artificiais e um palácio para sua acomodação. A saída dos holandeses - Mesmo com o fim da União Ibérica, os holandeses se recusaram a sair do 20 Nordeste. Portugal e Holanda entraram em guerra e a luta contra os holandeses no Nordeste brasileiro foi iniciada pelos próprios senhores de engenho da região. A luta se arrastaria por cerca de dez anos. As batalhas mais importantes foram as de Guararapes (1648 e 1649) e a de Campina do Taborda (1654). Mas a expulsão definitiva dos holandeses teve início em junho de 1645, em Pernambuco, através da eclosão de uma insurreição popular liderada pelo paraibano André Vidal de Negreiros, pelo senhor de engenho João Fernandes Vieira, pelo índio Felipe Camarão e pelo negro Henrique Dias. A chamada Insurreição Pernambucana chegou ao fim em 1654, tendo libertado o Nordeste brasileiro do domínio holandês. Porém, a expulsão dos holandeses do território brasileiro teria um impacto negativo sobre a economia colonial. Durante o período em que estiveram no Nordeste, os holandeses tomaram conhecimento de todo o ciclo da produção do açúcar e conseguiram aprimorar os aspectos técnicos e organizacionais do empreendimento. Quando foram expulsos do Brasil, instalaram-se nas Antilhas organizando nesse local uma próspera indústria açucareira. O acirramento do colonialismo – A Restauração portuguesa (independência da Espanha) se deu em um péssimo momento financeiro: Portugal havia perdido algumas de suas colônias na África e na Ásia; precisava combater a presença dos holandeses no Nordeste e ainda enfrentava uma forte queda no preço do açúcar no mercado internacional, devido ao surgimento de novas áreas produtoras de cana na América. Objetivando conseguir mais fundos e estabilizar as finanças, o rei D. João IV (1640-1656) decidiu criar a Companhia de Comércio do Brasil (1647-1720) e a Cia de Comércio do Maranhão (1682-5). Estas deveriam, segundo os moldes ingleses e holandeses, monopolizar todo o comércio com o Brasil. Em 1640 foi criado também o Conselho Ultramarino, órgão português responsável pelas colônias. Implementando uma política de forte centralização, foram criados também os cargos de juízes de fora, que seriam os presidentes das câmaras municipais, os juízes seriam todos nomeados pelo Rei. As Revoltas Coloniais A Revolta de Beckman (1684) – Foi um movimento liderado pelos irmãos de origem alemã Manuel e Thomas Beckmam, no Estado Grão- Pará e Maranhão. Essa revolta revela a difícil relação entre colonos, jesuítas e a Metrópole. A convivência era conflituosa entre os senhores de engenho e os missionários da Companhia de Jesus. Os primeiros queriam escravizar os índios e os segundos eram contrário à escravização indígena. O estopim do conflito foi a determinação real, em 1680, que estabeleceu que todos os índios do Maranhão fossem declarados livres e com direito a uma porção de terra e à criação da Companhia de Comércio do Maranhão, que passou a deter o monopólio do comércio na capitania. Os revoltosos propunham o fim do monopólio e atacaram a Companhia de Comércio e os Jesuítas. Os Beckmam se rebelaram juntamente com boa parte do povo do maranhão, destituindo a governança e assumindo o poder por cerca de um ano, após esse período, a Revolta foi massacrada. O Quilombo dos Palmares (1630- 1694) – Dentre as diversas formas de resistência à escravidão, a fuga foi a principal delas. No Brasil, durante o período colonial e o Império, houve centenas de quilombos. O mais emblemático destes foi o quilombo de Palmares. Situado na Serra da Barriga, no atual limite entre os Estados de Alagoas e Pernambuco, ficou sendo o mais conhecido por sua longa duração, aproximadamente, 64 anos; pelo número de seus habitantes (cerca de 18.000, embora haja autores que falem de 30.000 pessoas), e por sua estrutura interna de organização política e Militar. Os 21 escravos que fugiram para Palmares organizaram um verdadeiro Estado, nos moldes africanos, onde viviam sob o governo de um rei, o primeiro deles foi Ganga Zumba (governo entre 1670-1678), antecessor de seu sobrinho Zumbi. Palmares se tornou um reduto tão bem organizado e poderoso que chegou a manter relações diplomáticas com as autoridades coloniais. Ganga Zumba, organizou táticas de guerrilha na defesa do território, nas quais eram armadas emboscadas para atrair o inimigo para lutar dentro das matas, ambiente que lhes era favorável porque conheciam melhor. Em 1677, o governador de Pernambuco, ofereceu um tratado de paz com Palmares. O acordo reconhecia a liberdade dos nascidos no quilombo e daria a eles terras inférteis na região. Grande parte dos quilombolas rejeitou o acordo. Ganga Zumba se comprometeu a não mais aceitar escravo fugido em Palmares e só concederia liberdade aos nascidos no quilombo, essa decisão culminou com a sua morte por envenenamento em 1678. Em meados do século XVII, foram organizadas várias expedições contra Palmares. Nesse contexto, Zumbi se tornou o líder da resistência quilombola, substituindo a defensiva tática de guerrilha por uma estratégia de ataques surpresa a engenhos, libertando escravos e se apoderando de armas. Com o tempo, foi crescendo até mesmo um tipo de comércio entre quilombolas e colonos, de tal forma que estes últimos chegavam a alugar terras para plantio e trocavam, com os negros, alimentos por munição. Diante de tal situação, a Coroa portuguesa precisava tomar medidas imediatas para reafirmar seu poder na região. Foram organizados novos ataques e Palmares foi destruído em 1694, após 18expedições repressivas. A expedição vitoriosa foi comandada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, que comandou um exercito formado por brancos, índios e mestiços. Em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi assassinado em seu esconderijo e recebeu o ―castigo exemplar‖: decapitado, teve sua cabeça exposta em praça pública no Recife. Em homenagem a Zumbi, o dia 20 de novembro foi declarado no Brasil como o Dia Nacional da Consciência Negra. A Guerra dos Mascates 1709-1711 – Foi o conflito ocorrido entre os proprietários de terras e senhores de engenho de Olinda e a elite comercial de Recife, entre 1709 e 1711. Após a expulsão dos holandeses, em 1654, os senhores de engenho da região, além de perderem o mercado de açúcar para os antilhanos, tiveram que enfrentar os comerciantes portugueses (chamados de Mascates) que passaram a elevar taxas e a executar hipotecas. Dependentes economicamente desses comerciantes, junto a quem contraíram dívidas e que foram agravadas pela queda internacional dos preços do açúcar, os latifundiários pernambucanos não aceitaram a emancipação político-administrativa da cidade do Recife, até então subordinada a Olinda. A emancipação de Recife foi entendida como um agravante da situação dos latifundiários (devedores) diante da burguesia lusitana (credora), que por esse mecanismo passava a se colocar em patamar de igualdade política. Apesar da superioridade econômica dos chamados Mascates de Recife, estes não possuíam autoridade política, pois a Câmara municipal ficava em Olinda. Os comerciantes de Recife não queriam mais se submeter a Olinda o que acarretou no conflito. Em 1710, a Coroa interferiu no confronto e logo após receber a Carta Régia que elevou o povoado à condição de vila, os comerciantes inauguraram o Pelourinho e o prédio da Câmara Municipal, separando-se formalmente o Recife de Olinda. Questões de Vestibulares 1. UFRJ 2000. ―(...) Assim, antes de partir de França, Villegagnon prometeu a alguns honrados personagens que o acompanharam, fundar um puro serviço de Deus no 22 lugar em que se estabelecesse. E depois de aliciar os marinheiros e artesãos necessários, partiu em maio de 1555, chegando ao Brasil em novembro, após muitas tormentas e toda a espécie de dificuldades. Aí aportando, desembarcou e tratou imediatamente de alojar-se em um rochedo na embocadura de um braço de mar ou rio de água salgada a que os indígenas chamavam Guanabara e que (como descreverei oportunamente) fica a 23º abaixo do equador, quase à altura do Trópico de Capricórnio. Mas o mar daí o expulsou. Constrangido a retirar-se avançou quase uma légua em busca de terra e acabou por acomodar-se numa ilha antes deserta, onde, depois de desembarcar sua artilharia e demais bagagens, iniciou a construção de um forte, a fim de garantir-se tanto contra os selvagens como contra os portugueses que viajavam para o Brasil e aí já possuem inúmeras fortalezas.‖ (IN: LÉRY, Jean. De Viagem à Terra do Brasil. Rio de Janeiro, Bibliex, 1961, pp. 51). ―(...) Por esse tempo, agitava-se importante controvérsia entre os dirigentes da Companhia (Cia. Das Índias Ocidentais), a qual se travou principalmente entre as câmaras da Holanda e da Zelândia. Versava sobre se seria proveitoso à Companhia franquear o Brasil ao comércio privado, ou se devia competir a ela tudo o que se referisse ao comércio e às necessidades dos habitantes daquela região. Cada um dos dois partidos sustentava o seu parecer. Os propugnadores do monopólio escudavam-se com o exemplo da Cia. Oriental, usando o argumento de que se esperariam maiores lucros, se apenas a Cia. comerciasse, porque, com o tráfico livre, dispersar-se-ia o ganho entre muitos, barateando as mercadorias pela concorrência.‖ (IN: BARLÉU, Gaspar. História dos Feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. SP: Itatiaia, 1974, p.90) Ao longo dos séculos XVI, XVII e início do XVIII, várias potências européias invadiram a América Portuguesa. Houve breves invasões e atos de pirataria ao longo do litoral no início do século XVI. Posteriormente outras invasões iriam adquirir características diferenciadas. As formas de invasão e ocupação, assim como estratégias e interesses econômicos seriam diversos. a) Aponte duas razões para a invasão e o estabelecimento colonial de franceses (a França Antártica) no litoral do Rio de Janeiro entre 1555 e 1567. b) Identifique o principal interesse da Cia. das Índias Ocidentais na invasão de Pernambuco, em 1634. 2. UERJ 2008. Quilombo, o eldorado negro Existiu Um eldorado negro no Brasil Existiu Como o clarão que o sol da liberdade produziu Refletiu A luz da divindade, o fogo santo de Olorum Reviveu A utopia um por todos e todos por um Quilombo Que todos fizeram com todos os santos zelando Quilombo Que todos regaram com todas as águas do pranto Quilombo Que todos tiveram de tombar amando e lutando Quilombo Que todos nós ainda hoje desejamos tanto Existiu Um eldorado negro no Brasil Existiu Viveu, lutou, tombou, morreu, de novo ressurgiu Ressurgiu Pavão de tantas cores, carnaval do sonho meu Renasceu Quilombo, agora, sim, você e eu Quilombo Quilombo Quilombo Quilombo Gilberto Gil e Waly Salomão (1983). 23 A letra da música acima faz referência a uma das formas de resistência escrava – a criação de quilombos – verificada tanto no Brasil colonial quanto após a independência. Explique por que os quilombos representaram um avanço na luta dos cativos contra seus senhores, ao longo do século XIX, e indique duas outras formas de resistência escrava. 24 Capítulo 5. A economia mineradora Apresentação - O século XVIII marcou na colônia o desenvolvimento da economia mineradora. Os bandeirantes desempenharam papel de extrema importância, rompendo as barreiras do sertão na procura de índios e de ouro. A princípio, o governo português não colocou empecilhos ao trânsito de pessoas para as Minas, ao contrário, procurou facilitar o acesso às jazidas, já que, quanto maior o volume populacional diretamente ligado a extração, mais quintos (imposto cobrado pela metrópole, que correspondia à quinta parte das riquezas minerais extraídas no Brasil, e sobretudo do ouro) entrariam para o erário real. Fonte: SCHMIDT, Mário, Nova História Crítica do Brasil, Editora Nova Geração. A notícia da descoberta dos veios auríferos causou um grande fluxo migratório para a Capitania das Minas e trouxe um grande dinamismo econômico à colônia. Logo, a América portuguesa se tornaria a mais importante colônia portuguesa. Nas primeiras décadas do século XVIII, o desenvolvimento da economia mineradora foi estabelecido graças às prospecções (em sua maioria executadas por bandeirantes) que permitiram a descoberta de várias regiões ricas em metais preciosos. O acúmulo de ouro e prata servia como uma rápida alternativa para a resolução dos problemas econômicos de Portugal. A economia mineradora O bandeirismo – As Entradas e Bandeiras foram expedições organizadas para explorar o interior do Brasil. Foram quatro os principais fatores que contribuíram com a interiorização: a pecuária,a busca por drogas do sertão, a procura por metais e o apresamento de índios. Em São Paulo, seus habitantes se voltaram para o interior e adotaram maneiras próprias para viver nas matas. Devido à intensa mestiçagem, muitos paulistas falavam o tupi- guarani tão bem, ou melhor, que os portugueses, além disso, influenciados pelos costumes indígenas, andavam com destreza pelas matas. Em consequência disso, tinham fama de desbravadores de fronteiras e de predadores de índios. Diante das necessidades do governo colonial, a habilidade e a experiência dos paulistas foram mobilizadas, um exemplo disso foi a ação de Domingos Jorge Velho, bandeirante, que auxiliando o governo instituído, destruiu Palmares. Em 1695 deu-se a descoberta de ouro, a partir de então, desde a grande bandeira de Fernão Dias Paes, organizada em 1674, até as primeiras décadas do século XVIII, os paulistas definiriam os contornos das Minas Gerais. A descoberta Diamante - No ano de 1721, o minerador Bernardo Fonseca Lobo noticiou a descoberta das primeiras pedras na região do Serro Frio, no arraial do Tijuco, em Minas Gerais. Inicialmente, a descoberta foi mantida em sigilo pelo explorador e outras autoridades locais que realizavam a extração ilegal, justificando terem dificuldades para identificar o valor comercial das pedras. Somente em 1730, o governador das Gerais, D. Lourenço de Almeida, enviou algumas pedras para serem analisadas em Portugal. Imediatamente foi aprovado o primeiro regimento para os diamantes, estabelecendo a forma de cobrança dos impostos (quinto). O principal centro de extração de diamantes foi o Arraial do Tijuco (atual cidade de Diamantina em Minas 25 Gerais) que logo foi elevado à categoria de Distrito Diamantino, com fronteiras delimitadas e um intendente independente do governador da capitania, subordinado somente à coroa portuguesa. A partir de 1734, visando um maior controle sobre a região diamantina, foi estabelecido um sistema de exclusividade na exploração de diamantes para um único contratador. O primeiro deles, em 1740, foi o milionário João Fernandes de Oliveira, que se apaixonou pela escrava Chica da Silva. Devido ao intenso contrabando e a sonegação de impostos, assim como ao elevado valor dos diamantes, no final de 1771, sob influência do Marquês de Pombal, o chamado Distrito Diamantino passou a ser controlado diretamente pela Coroa Portuguesa. A Guerra dos Emboabas 1707- 1709 – Foi o conflito entre paulistas e portugueses na região central das Minas ocorrido entre 1707 e 1709. A descoberta de ouro, em fins do século XVII, atraiu milhares de homens e mulheres saídos tanto de Portugal quanto de várias regiões da América Portuguesa, com o objetivo de explorar o ouro e, principalmente, o lucrativo abastecimento da região. Logo os paulistas e os recém- chegados passaram a se hostilizar, disputando a posse da região, uma série de pequenos incidentes foi o pretexto para o conflito armado entre paulistas e os emboabas portugueses1. Com o fim da Guerra dos Emboabas, a Coroa deu início à montagem do aparelho administrativo nas Minas, a fim de controlar a arrecadação dos quintos e para o controle político da Capitania. Os caminhos - Os caminhos que levavam à região mineradora partiam de São Paulo (cerca de 60 dias); do Rio de Janeiro e da Bahia (por volta 1 O termo Emboaba é de origem do Tupi, os índios o empregavam para se referir as aves que tem penas até os pés, como os portugueses usavam polainas que lhes cobriam os pés, eram chamados de emboabas de forma pejorativa pelos paulistas. (Adriana Romeiro & Ângela V. Botelho. Dicionário Histórico da Minas Gerais. Ed. Autêntica, 2003.) de 43 dias). Os acessos baianos ofereciam maiores facilidades e muitas vantagens com relação aos caminhos de São Paulo e do Rio de Janeiro, pois eram mais largos, possuíam ―água em abundância, farinha, carnes de toda espécie, laticínios, pastos para as cavalgaduras, e casas para se recolherem sem risco de Tapuias‖2. Além dos caminhos terrestres, a Bahia possuía uma excelente via fluvial, o Rio São Francisco e seus afluentes. Devido ao intenso contrabando realizado por este caminho e as dificuldades no controle de tal rota, a Coroa proibiu o seu uso. Já os caminhos do Rio de Janeiro para as Minas, em 1701, constituíam apenas uma trilha de difícil acesso. Assim sendo, a Coroa Portuguesa cuidou de abrir um novo caminho que fizesse a ligação direta do Rio de Janeiro com as Minas. O ―caminho novo‖ como ficou conhecido o trajeto, levava apenas de dez a doze dias. O encurtamento das distâncias representou uma significativa economia de tempo para se chegar à região mineira, acarretando também numa melhoria no sistema de comunicação entre o Rio de Janeiro e as Gerais. Após 1725, a abertura desse caminho extremamente mais curto fez com que se escoassem para o Rio de Janeiro os lucros e, conseqüentemente, o contrabando do comércio com as Minas. A nova invasão francesa no Rio de Janeiro - Entre 1710 e 1711 o Rio de Janeiro foi novamente invadido pelos corsários Jean François Du Clerc e Duguay-Trouin. Em 1710, os franceses foram derrotados, mas retornando em 1711, sob o comando do corso francês Duguay-Trouin, 6000 homens em 17 navios ocuparam e saquearam a cidade do Rio de Janeiro, onde permaneceram por dois meses, trazendo horror e pânico aos locais. Depois de pilhar a cidade e afugentar a população para o interior, Duguay-Troin exigiu o pagamento de 2 BNRJ, Autor anônimo, Informações sobre as Minas do Brasil. Anais da Biblioteca Nacional, vol. LVII, 1930, Rio de Janeiro p.180. 26 um resgate sob pena de destruí-la. O governador de então, Francisco de Castro, acabou pagando com seus próprios recursos parte do valor exigido, aconselhando o corso a levar todo ouro e riquezas que conseguisse amealhar, alegando que a população levara consigo seus pertences de valor, tornando impossível arrecadar o resgate exigido3. Em 1710, chegou a esquadra do francês Jean François Duclerc, mas foram repelidos pelos portugueses. Em 16 de agosto desse ano houve nova tentativa. A esquadra de Duclerc, depois de trocar tiros com a Fortaleza de Santa Cruz, desistiu de forçar a entrada da barra e rumou para a Ilha Grande. Em 11 de setembro o capitão Duclerc desembarcou com 1.050 homens em Guaratiba e tomou o caminho da cidade. Cruzou o que hoje são os bairros da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, atravessando montanhas e florestas. Após invadir a cidade pelos lados do atual bairro de Santa Tereza, chegaram à Praça do Carmo (atual Praça XV), em seguida, deu-se nova batalha e Duclerc, com seus 600 homens restantes, renderam-se encurralados no trapiche da cidade. Em março de 1711, o capitão Duclerc foi assassinado. A França, a pretexto de indignação com o ocorrido, enviou sob o comando do almirante René Duguay-Trouin, uma esquadra com 17 navios e 5.400 homens, que chegaram ao Rio de Janeiro em setembro de 1711. Favorecida por forte nevoeiro, a esquadra penetrou na Baia da Guanabara sem ser vista e ocupou, com 500 homens, a Ilha das Cobras. Logo após, desembarcaram cerca de 3.800 homens na praia de São Diogo e ocuparam, sem resistência, os morros de
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