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Profº Túlio de Almeida Pesquisa Operacional II 5. TEORIA DAS FILAS 5.1. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE UM SISTEMA DE FILAS 5.1.1. Tipos de Sistemas de Filas Fila Única e um Único Servidor É o sistema de fila mais simples, possui as seguintes características: O sistema possui um único estágio (serviço ou atendimento). Composto por apenas 3 elementos: 1 fonte de usuários, 1 fila e apenas 1 servidor. Como exemplo, pode-se citar a fila de uma lotérica de bairro para pagamento de contas. Fila Única e Múltiplos Servidores em Paralelo É um sistema que nada mais é que um aprimoramento do primeiro sistema, e tem as seguintes características: O sistema possui um único estágio (serviço ou atendimento). Composto por apenas 3 elementos: 1 fonte de usuários, 1 fila e 2 ou mais servidores. Como exemplo pode-se citar a fila para atendimento em caixas eletrônicos. Múltiplas Filas e Múltiplos Servidores em Paralelo É um sistema aprimorado a partir de anterior. Só que há duas ou mais filas e estas podem ser classificadas de acordo com o usuário e/ou serviço oferecido. O sistema possui um único estágio (serviço ou atendimento). Profº Túlio de Almeida Pesquisa Operacional II Composto por apenas 3 elementos: 1 fonte de usuários, 2 ou mais filas e 2 ou mais servidores. Como exemplo, pode-se citar as filas de supermercados que possui os caixas comuns, o caixa rápido e o caixa preferencial. Fila Única e Múltiplos Servidores em Série É um sistema com uma única fila mas em que ocorrem vários atendimentos e deve-se respeitar uma ordem destes atendimentos: O sistema possui vários estágios (serviços ou atendimentos). Composto por apenas 3 elementos: 1 fonte de usuários, 1 fila e 2 ou mais servidores em série. Um exemplo a ser considerado é o drive thru. Os veículos na fila fazem três processos: fila para a realização do pedido, depois pagamento e por fim a retirada do pedido (lanche, café etc). 5.1.2. Processo de Chegada O processo de chegada de usuários é descrito pelo intervalo de tempo entre chegadas sucessivas de usuários. Em geral, admite-se que não mais de um usuário pode chegar no mesmo instante, caso contrário, pode-se dizer que houve uma chegada em lotes, como por exemplo, a chegada de um casal em um restaurante. Admite-se também que: o processo de chegada não se altera ao longo do tempo; o processo de chegada não se altera devido ao número de indivíduos presentes no sistema. Devido aos tipos de sistemas de filas, os indivíduos podem ser considerados iguais estatisticamente ou agrupados por classes (filas) que possuam uma estatística comum a elas. 5.1.3. Processo de Serviço O processo de serviço é descrito pelo tempo de serviço (atendimento) por usuário. Cada servidor não precisa ser necessariamente um indivíduo, mas pode ser um grupo de indivíduos ou máquinas. Assim como no processo de chegada, admite-se que o processo de serviço não se altera ao longo do tempo e não sofre influência do número de indivíduos presentes no sistema. Profº Túlio de Almeida Pesquisa Operacional II 5.1.4. Notação de Kendall-Lee A fim de explicar e caracterizar uma fila, Kendall (1953) e Lee (1968), sugeriram a seguinte notação: A | B | m : C | K | N onde: A – refere-se a característica do processo de chegada. Desta forma pode assumir: M – exponencial – markoviano sem memória Ep – distribuição de Erlang com parâmetro de forma p GD – distribuição genérica B – refere-se a característica do processo de serviço. Assim como a chegada, pode assumir: M – exponencial –markoviano sem memória Ep – distribuição de Erlang com parâmetro de forma p GD – distribuição genérica m – número de servidores em paralelo C – esta característica representa a disciplina da fila, que pode ser: FCFS – first come, first served LCFS – last come, first served SIRO – service in random order GD – genérico Observação: Se a disciplina for genérica, omite-se este parâmetro da notação de Kendall-Lee. Caso tenha ainda prioridades, usa-se: PRP – preemptive priority NPRP – nonpreemptive priority K – número de usuários na fila N – tamanho da população (fonte da fila) Observação: Caso os valores de K e N assumam o valor ∞ (ilimitado), deve-se omiti-los da notação de Kendall-Lee. Exemplo: Em uma agência de serviço de energia elétrica, há um setor que lida com a reclamação dos clientes. A chegada de clientes acontece de maneira exponencial assim como o atendimento das reclamações que é feito por 2 servidores. A disciplina ocorre de maneira genérica e não há limitação para o número de usuários nem para a população. Escreva o modelo da fila na notação de Kendall-Lee. M | M | 2 | GD | ∞ | ∞ simplificando M | M | 2 Agora fazendo o contrário, é possível caracterizar uma fila por meio da notação de Kendall-Lee. Por exemplo: M | G | 3 | FCFS | 10 | 100 M – chegada markoviana G – atendimento genérico m – 3 postos de atendimento FCFS – disciplina da fila (primeiro a chegar, primeiro a ser servido) K – fila limitada a 10 usuários N – população de 100 usuários 5.2. MEDIDAS DE DESEMPENHO DE UM SISTEMA DE FILAS 5.2.1. Parâmetros de uma Fila Taxa de Chegada Dado o intervalo de tempo entre chegadas de clientes dado por E(X), pode-se afirmar que a taxa de chegada de usuários. )X(E 1 Taxa de Atendimento Em contrapartida, há um intervalo de tempo entre os atendimentos por parte dos servidores que é dado por E(S). Desta forma, a taxa de atendimento será: )S(E 1 Profº Túlio de Almeida Pesquisa Operacional II Se houver m servidores atendendo em paralelo, a taxa de atendimento ser mμ. Fator de Utilização Trata-se da razão entre a taxa de chegada de usuários e a taxa total disponível de serviço no sistema. m )S(E. m 5.2.2. Análise em Equilíbrio No equilíbrio, considera-se que a taxa de chegada de usuários λ e a taxa de atendimento μ não se alteram ao longo do tempo. Sob certas condições, é razoável esperar que, após algum tempo de operação suficientemente grande, a fila entre em equilíbrio, e por isso pode-se considerar: )t(L)t(L)t(L qs L (t) – número total de usuários no sistema (serviço e fila) no instante t Ls (t) – número de usuários em serviço no instante t Lq (t) – número de usuários em fila no instante t Após i usuários em um sistema em equilíbrio: W (i) – tempo de permanência no sistema Wq (i) – tempo de espera na fila 5.2.3. Fórmula de Little O Teorema de Little, é dado pela seguinte fórmula: )W(E)L(E Pela fórmula de Little, obtém-se equações que relacionam os parâmetros λ, μ, E(L), E(Lq), E(Ls), E(W) e E(Wq). )W(E)L(E qq )L(E)L(E)L(E)L(E qqs )W(E 1 )W(E)S(E)W(E qq 5.3. DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE DE POISSON E EXPONENCIAL 5.3.1. Processos de Poisson Qual a probabilidade de n clientes chegarem em T unidades de tempo? A distribuição de Poisson é empregada em experimentos, nos quais não se está interessado no número de sucessos obtidosem n tentativas, como ocorre no caso da distribuição Binomial, mas sim no número de sucessos ocorridos durante um intervalo contínuo, que pode ser um intervalo de tempo, espaço, etc. Como por exemplo: O número de suicídios ocorridos em uma cidade durante um ano; O número de acidentes automobilísticos ocorridos numa rodovia em um mês; Número de chegadas a um caixa automático de um banco durante um período de 15 minutos A probabilidade de um carro chegar a um posto de gasolina em quaisquer dois períodos de tempo de mesmo tamanho. A chegada ou não chegada de um carro em qualquer período de tempo independentemente da chegada ou não chegada de outro carro em qualquer outro período. Defeitos por unidade (m2, m, etc.) por peça fabricada Erros tipográficos por página, em um material impresso Carros que passam por um cruzamento por minuto, durante certa hora do dia. Usuários de computador ligados à Internet Note que nos exemplos acima, não há como determinar‐se a probabilidade de ocorrência de um sucesso, mas sim a frequência média de sua ocorrência, como, por exemplo, dois suicídios por ano, a qual será que denominada λ. Propriedades do experimento de Poisson a. A probabilidade de uma ocorrência é a mesma para quaisquer dois intervalos Profº Túlio de Almeida Pesquisa Operacional II b. A ocorrência ou não ocorrência em qualquer intervalo é independente da ocorrência ou não‐ ocorrência em qualquer intervalo. 5.3.2. Distribuição de Poisson É, então, uma distribuição de probabilidade discreta que se aplica a ocorrência de eventos ao longo de intervalos especificados. A variável aleatória é o número de ocorrência do evento no intervalo. Os intervalos podem ser de tempo, distância, área, volume ou alguma unidade similar. Uma variável aleatória X admite distribuição de Poisson se: X = {0, 1, 2, ...} (não tem limites); !k .e )kX(P k , k = 0, 1, 2, ...; é a probabilidade de k ocorrências em um intervalo = =E(X) ; = = Var(X) 2 . Uma distribuição de Poisson difere de uma distribuição binomial nestes aspectos fundamentais: 1. A distribuição binomial é afetada pelo tamanho da amostra n e pela probabilidade p, enquanto que a distribuição de Poisson é afetada apenas pela média λ; 2. Na distribuição binomial, os valores possíveis da variável aleatória X são 0; 1; 2; ... , n, mas a distribuição de Poisson têm os valores de X de 0; 1; 2; ... , sem qualquer limite superior. Observação: O parâmetro λ é usualmente referido como taxa de ocorrência. 5.3.3. Distribuição Exponencial Esta é uma distribuição que se caracteriza por ter uma função de taxa de falha constante. A distribuição exponencial é a única com esta propriedade. Ela é considerada uma das mais simples em termos matemáticos. Esta distribuição tem sido usada extensivamente como um modelo para o tempo de vida de certos produtos e materiais. Ela descreve adequadamente o tempo de vida de óleos isolantes e dielétricos, entre outros. A fdp é dada por: xe)x(f Graficamente pode ser vista da seguinte forma: x 0 xdxe)x(F Fazendo mudança de variáveis: xu du dx dx du Substituindo, tem-se que: ]e[ee)x(Fdue)x(F 0xx0u x 0 u Desta forma, obtém-se a seguinte fda: xe1)x(F Observação: Se o número de ocorrências por unidade de tempo é uma distribuição de Poisson (Discreta), a distribuição dos intervalos de tempo entre as ocorrências é Exponencial (Contínua). 5.4. PROCESSOS DE NASCIMENTO E MORTE 5.4.1. Modelo de Nascimento Puro Defina-se p0(t) – probabilidade de nenhuma chegada durante um período de tempo t. Dado que o intervalo de tempo entre chegadas segue uma distribuição exponencial e que a taxa de chegada é λ clientes por unidade de tempo, então p0(t) = P{Intervalo de tempo entre chegadas ≥ t} p0(t) = 1- P{Intervalo de tempo entre chegadas ≤ t} Com isso tem-se que: )e1(1)t(p t0 t 0 e)t(p Profº Túlio de Almeida Pesquisa Operacional II 5.4.2. Modelo de Morte Puro O modelo começa com N clientes no tempo 0 e nenhuma nova chegada é permitida. As partidas ocorrem a taxas de μ clientes por unidade de tempo. Considerando um intervalo entre chegadas infinitesimal h, e fazendo uso de equações diferenciais é possível obter: )!nN( e)t( )t(p tnN n N 1n nn )t(p1)t(p Observação: As equações diferenciais apontam para uma distribuição de Poisson truncada. 5.5. MODELOS DE FILA PARA UM SERVIDOR 5.5.1. Modelo de Fila M|M|1:GD|∞|∞ Para modelos de fila M|M|1 faz-se uso do seguinte fator de utilização. A fila pode ser representada por um modelo de nascimento e morte como segue: .1,2,3,4,.. n .0,1,2,3,..n n n Exemplo: Em um drive-in de um restaurante de fast-food, chegam em média 10 carros por hora. Se o tempo médio de atendimento de cada cliente é de 4 minutos e os intervalos de tempo entre chegadas e de atendimento são exponenciais. a. Qual a probabilidade de o sistema estar vazio? acarros/hor 10 acarros/hor 15 4 60 )S(E 1 667,0 15 10 )1(pP nn 333,01P0 b. Qual o número médio de carros no drive-in e o número médio de carros em fila no drive-in? 667,01 667,0 1 )L(E = 2 carros O número médio de carros no serviço é E(Ls) = 0,667 ≈ ρ Pela equação, )L(E)L(E)L(E qs obtém que 333,1)L(E q c. Qual o tempo médio de permanência no drive-in e o tempo de espera na fila do drive-in? )667,01(10 667,0 1 )W(E = 0,20 hora ou 12 minutos. )667,01(15 667,0 1 )W(E q ≈ 0,13 hora ou 8 minutos Pela equação, )W(E)W(E)W(E qs obtém que 07,0)W(E s hora ou 4 minutos O que faz sentido com o modelo inicial! d. Qual a probabilidade de haver dois ou mais carros (em fila e em serviço) no drive-in? n nP 22 )667,0()2L(P = 0,44 5.5.2. Modelo de Fila M|M|1:GD|K|∞ Trata-se de um modelo de fila onde o número de usuários é limitado. Como exemplo, pode-se citar um serviço que possui uma limitação de espaço físico para a fila. Pela fórmula de Little tem-se que: )P1( )L(E)L(E )W(E k Onde PK 1k k k 1 )1( P Profº Túlio de Almeida Pesquisa Operacional II Exemplo: No exemplo do drive-in, do restaurante de fast food, considere que não haja espaço físico para mais de 5 carros (em fila e serviço), caso contrário, a fila invade a rua do restaurante, e os clientes, ao chegarem desistem da fila. a. Qual a taxa de perda de clientes e a taxa média de utilização da fila? 05,0 67,01 )67,01(67,0 P 15 5 5 A taxa de perda é de 5,0)05,0.(10P5 usuários por hora A utilização média corresponde )P1( )S(E)L(E 5s 63,0 15 )05,01(10 )L(E s b. Como mudam o número médio de carros na fila e o tempo médio de espera na fila? Sem limitação,tem-se E(Lq) ≈ 1,33 carro e E(Wq) ≈ 8 minutos. Com a limitação da capacidade, tais valores mudam para )L(E )1)(1( ]k)1k(1[ )L(E)L(E)L(E s1k 1k5 sq 79,0)L(E q carro 97,4 )L(E )W(E q q minutos 5.5.3. Modelo de Fila M|M|1|GD|∞|N Pode-se considerar filas onde a fonte de usuários da fila é limitada. Como exemplo, pode-se citar o atendimento do médico do trabalho dentro de uma fábrica, onde a fonte de usuários se limita ao número de usuários em atividade dentro da fábrica durante o turno daquele médico. 5.6. MODELO DE FILAS PARA MÚLTIPLOS SERVIDORES 5.6.1. Modelo de Fila M|M|m|GD|∞|∞ Tal modelo se difere do modelo M|M|1 pelo fato de m>1, ou seja, aumenta-se o número servidores idênticos trabalhando de forma paralela no sistema. O fator de utilização ρ pode ser calculado da seguinte maneira: m A probabilidade do sistema estar vazio é de: 1m 0n mn0 1 1 !m m !n m 1 P Exemplo: Para o exemplo do drive-in de um restaurante fast food, se duplicarmos o dispositivo de serviço, ou seja, os clientes na fila serem atendidos por dois servidores em vez de um? a. Qual a probabilidade de o sistema estar vazio? acarros/hor 10 acarros/hor 15 4 60 )S(E 1 Como são 2 servidores 333,0 15.2 10 m 50,0 1 1 !m m !n m 1 P 1m 0n mn0 b. Qual o número médio de carros no drive-in e o número médio de carros em fila no drive-in? 75,0P 1!m m m)L(E 02 m Como o número de usuários em serviço está intimamente ligado ao fator de utilização 667,0m)L(E s Desta forma obtém-se que )L(E)L(E)L(E qs 08,0)L(E q c. Qual o tempo médio de permanência no drive-in e o tempo de espera na fila do drive-in? O tempo médio de permanência no sistema 075,0 )L(E )W(E horas ou 4,5 minutos E o tempo médio de permanência na fila Profº Túlio de Almeida Pesquisa Operacional II 008,0 )L(E )W(E q q hora ou 0,50 minuto. d. Qual a probabilidade de haver dois ou mais carros (em fila e em serviço) no drive-in? 39,0 !m m P1PP1)2L(P mn 010 5.6.2. Modelo de Fila M|M|∞|GD|∞|∞ Ocorre quando o usuário também é servidor. É aplicado em auto-serviços, como por exemplo em caixas eletrônicos, restaurantes self-service entre outros casos corriqueiros no dia-a-dia. Apesar da facilidade encontrar tais modelos de fila, este é complexo de se modelar, uma vez que μ é muito variável. 5.6.3. Modelo de Fila M|M|m|GD|K|∞ Assim como em modelos de fila M|M|1, é possível obter um modelo M|M|2 com limitação de capacidade. Para que o sistema seja funcional, m ≤ K. 5.7. BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS [1] ARENALES, Marcos; ARMENTANO, Vinícius; MORABITO, Reinaldo & YANASSE, Horácio. Pesquisa Operacional para Cursos de Engenharia. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier/ABEPRO, 2011. [2] TAHA, Hamdy. Pesquisa Operacional. 8ª Edição. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. [3] HILLIER, Frederick S. & LIEBERMAN, Gerald J. Introduction to Operations Research. 7th Edition. McGraw Hill. 2001. [4] MEZA, Lidia Angulo. Teoria das Filas. Universidade Federal Fluminense. Disciplina: Pesquisa Operacional II. 24 slides. 2010