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1 Estágio Curricular II e III 2 Estágio Curricular II e III O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO COMO MOMENTO REFLEXIVO À PRÁTICA INICIAL/CONTINUADA DOCENTE Reinaldo Rafael de Albuquerque Pereira Junior (IFAL) Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti (IFAL) 3 Estágio Curricular II e III Estágio Curricular II e III / Reinaldo Rafael de Albuquerque Pereira Junior Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti Maceió, 2012. 27f.; 26cm UAB – Universidade Aberta do Brasil 1. Estágio Curricular II e III . I Pereira Junior, Reinaldo Rafael de Albuquerque . II Cavalcanti, Ricardo Jorge de Sousa 4 Estágio Curricular II e III SUMÁRIO 1- O PROFESSOR PESQUISADOR – DISCURSO RECORRENTE NOS CURSOS DE FORMAÇÃO ............................................................................................................. 8 1.1 O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA COM VISTAS AO DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA COMUNICATIVA DISCENTE ................................................ 11 1.1.1 SUCINTAS CONCEPÇÕES DE LEITURA, ESCRITA E ENSINO .................. 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 15 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 16 2 A PESQUISA QUALITATIVA .................................................................................. 19 2.1 O ESTUDO DE CASO ............................................................................................ 20 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 26 APÊNDICE I .................................................................................................................. 28 APÊNDICE II ................................................................................................................. 29 APÊNDICE III - RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR II ........................... 30 APÊNDICE IV - ROTEIRO PARA PLANO DE AULA – MICROENSINO EM LÍNGUA PORTUGUESA ............................................................................................ 34 ANEXO 1 ....................................................................................................................... 36 5 Estágio Curricular II e III Introdução A disciplina de Estágio Curricular Supervisionado está dividida em nossa matriz curricular em três fases: o Estágio I, II e III. Diante disso, já começamos a refletir, no Estágio I, sobre alguns pressupostos desses momentos tão importantes à consolidação da prática docente do futuro e/ou atual profissional do ensino de língua materna. Nesse próximo momento, trataremos sobre ações questões pertinentes à consolidação da prática profissional por meio da regência de sala de aula. Nesse sentido, a disciplina em tela contempla as várias discussões de estágio para os cursos de licenciatura, calcadas nos postulados de Lima; Pimenta (2009). Ansiamos com tais abordagens favorecer a você, licenciando(a), uma reflexão sobre aspectos imprescindíveis à inserção na escola campo de estágio; além de proporcionar um espaço interativo para discussões de ordem teórico-prática via AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem), tais como: chats, fóruns e outras atividades, como o webdiário. Salientamos que é somente a partir de um profissional reflexivo que obteremos uma análise ampliada sobre em que medida anda o ensino de língua materna nas nossas escolas públicas, em especial no contexto alagoano. E, a partir disso, intervir em uma realidade, algumas vezes, carente de iniciativas em que o texto (linguisticamente falando) cumpre o desiderato de ser unidade de sentido no processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa. Assim, o nosso papel no mundo atual vai além de um mero reprodutor de conteúdos, mas, sobretudo, de um professor pesquisador. A bem da verdade, a terminologia professor pesquisador cunhada em alguns contextos se refere a um agente que apenas encaminha os seus alunos a “copiar” conceitos já socialmente elaborados. Não estamos aqui desmerecendo tal prática; porém percebemos a inviabilidade de somente nos determos a ações estanques como essa. 6 Estágio Curricular II e III Dessa forma, o nosso mote discursivo está centrado em uma compreensão de que os conhecimentos necessitam ser constantemente reelaborados, reconstruídos, parafraseando Ibiapina (2008). É, nessa perspectiva, que o profissional professor deve ter o devir pedagógico, ou seja, um olhar crítico sobre questões concernentes à escola enquanto instituição educadora, além das implicações à realização da sua prática de sala de aula. Enfim, esperamos que a sequência da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado, com os Estágios II e III, possa complementar a sua formação como profissional do ensino de língua materna e de suas literaturas, visto que as disciplinas tratadas (e futuras) do Curso de Letras estarão diretamente sendo evidenciadas no empreendimento, significativamente positivo, de estágios de observação e de regência. Diante do exposto, este material versa auxiliá-los(as), mais uma vez, sobre possíveis questionamentos no tocante às etapas vindouras. Torcemos que façam uma leitura proveitosa! Cordialmente, Reinaldo Rafael de Albuquerque Pereira Junior e Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti Os autores 7 Estágio Curricular II e III Unidade 1 O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO: REFLEXÕES TEÓRICO- PRÁTICAS PARA EFETIVAÇÃO DA DOCÊNCIA EM LÍNGUA MATERNA NO ÂMBITO DO INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS – IFAL 1 1- Mestre em Educação Brasileira, da linha de pesquisa Educação e Linguagem pela Universidade Federal de Alagoas. Professor efetivo de línguas do Instituto Federal de Educação de Alagoas – IFAL, Campus Satuba. 8 Estágio Curricular II e III Introdução Como é sabido, o Estágio Curricular Supervisionado tem em sua carga horária 400h/a, conforme o que foi instituído pelo Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação, por meio da Resolução CNE/CP Nº 2, de 19 de fevereiro de 2002. Assim, a partir do primeiro contato com o lócus da investigação-ação (a escola), o estagiário já deverá identificar situações, cujas situações problemas são evidentes para propor uma intervenção a fim de proporcionar uma melhoria nas aulas de língua materna. Nesse sentido, há de se reconhecer que a sala de aula é apenas um dos espaços de permanência dos alunos no espaço escolar, visto que a escola é constituída de outros espaços que podem refletir (e por vezes reflete mesmo) algumas relações conflituosas que são desembocadas nas práticas de sala de aula, em nosso caso específico – nas aulas de língua materna. Desse modo, pretendemos ao longo deste texto evidenciar alguns conflitos recorrentes nesse espaço, legítimo de construção e de reconstrução do conhecimento socialmente elaborado, na perspectiva de fornecer-lhes subsídios teórico-práticos para uma condução significativa no desenvolvimento das aulas de língua materna. 1- O professor pesquisador – discurso recorrente nos cursos de formação de docentes: reflexões iniciais Hodiernamente, evidenciamos um discurso que vem à tona constantemente, tanto no meio acadêmico (palestras, leituras realizadas, aulas etc), como também no discurso dos gestores de ensino em âmbitos nacional e internacional que é a formação de professores pesquisadores (grifo nosso). Em decorrência disso, surgiram e surgem várias publicações a esse respeito, a exemplo daobra de Bornoni-Ricardo (2008), eminente pesquisadora da Educação Linguística do nosso país, e que trata a formação do professor com 9 Estágio Curricular II e III vistas à pesquisa qualitativa. Um dos grandes motes da obra dessa autora são os recorrentes questionamentos – quais problemas são passíveis de investigação, e, consequentemente, quais benefícios a investigação desses problemas trará ao seu trabalho (Op.cit., p.46). Com base em estudos realizados em momentos anteriores na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado (Cavalcanti, 2010), recapitulamos que muitas das situações que emergem em sala de aula, e de forma genérica na escola, são dignas de investigação. Diante disso, cabe ao investigador, adotar uma postura crítico-reflexiva e ética; ou seja, ao mesmo tempo em que se aproxima do objeto de estudo, distancia-se para não influenciar na interpretação dos dados. Reconhecemos que a educação escolarizada perpassa por um processo de ruptura e busca de paradigmas. Nesse sentido, percebemos a inviabilidade em que se inserem pesquisas cujo enfoque é apenas denunciar algumas práticas da realidade. Diante disso, acreditamos no caráter interventivo de mudança da realidade a partir da adesão dos sujeitos nos contextos de investigação. Nessa perspectiva, a pesquisa-ação colaborativa tem como propósito o desenvolvimento caráter emancipatório na construção e reconstrução do conhecimento socialmente elaborado. As pesquisas qualitativas estimulam os envolvidos a pensarem de forma mais crítica sobre o tema em estudo; nelas todos os fatos e fenômenos são significativos e relevantes, como afirma Creswell (2007, p.86): [...] outra característica da pesquisa qualitativa é a de que as questões de pesquisa podem mudar e ser refinadas à medida que o pesquisador descobre o que perguntar e a quem perguntar, isto é, a pesquisa qualitativa vai sendo direcionada ao longo do seu desenvolvimento. E ainda, Chizzotti (2000, p. 79) conceitua esse tipo de pesquisa da seguinte forma: 10 Estágio Curricular II e III A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações. Dessa forma, o investigador qualitativo adota e usa uma ou mais estratégias de investigação como um guia para os procedimentos no estudo qualitativo, parafraseando Creswell (2007). A pesquisa qualitativa é mais participativa e, portanto, menos controlável. Os participantes podem, de certa forma, direcionar os rumos da pesquisa através de suas interações com o pesquisador. Esse tipo de investigação permite descrever melhor o que se faz pelo fato de se trabalhar com descrições, comparações e interpretações. O trabalho de descrição tem caráter fundamental em um estudo qualitativo, pois é por meio dele que os dados são coletados (MANNING, 1979 apud NEVES, 1996). As etapas de trabalho mencionadas por Chizzotti (2000, p.105) são: descrição, avaliação e intervenção. O autor aborda essas etapas de trabalho chamando atenção para: Algumas pesquisas descritivas se limitam a revelar os problemas, as avaliativas descrevem os problemas e trabalham os encaminhamentos necessários e as interventivas objetivam organizar uma mudança deliberada nas situações indesejadas (grifo do autor). Em meio a essas discussões, entendemos que o pesquisador desempenha uma conduta participativa na pesquisa qualitativa, pois mergulha no cotidiano do sujeito e torna-se familiarizado com alguns dos seus acontecimentos diários. Assim, o pesquisador deve assumir uma postura aberta quanto a todas as manifestações que observa, não permitindo que as suas crenças interfiram na ação dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Por isso, pode-se entender o porquê da recorrência da expressão professor-pesquisador; a pretensão que se tem ao elaborar e reproduzir um 11 Estágio Curricular II e III discurso dessa natureza é para que as agências de formação percebam que, em meio a todo aparato tecnológico e de produção constante de conhecimento, a rede de formação docente não poderá ficar inerte a essa problemática. Formar o profissional professor com vistas à pesquisa requer, sobretudo, um entendimento acerca dos instrumentais necessários a tal fim; visto que, por muito tempo, a função social do professor era apenas a de “ensinar”. Com essa transcendência do ensinar ao pesquisar, alguns profissionais saem dos cursos de formação de professores com lacunas, tanto em uma competência quanto em outra, o que, na maioria vezes, fica destinado aos cursos de formação continuada darem subsídios teórico-práticos para a amenização desse vácuo na formação inicial. 1.1 O ensino de língua materna com vistas ao desenvolvimento da Competência Comunicativa discente 1.1.1 Sucintas concepções de leitura, escrita e ensino Reconhece-se o texto, diante dos estudos em voga da linguagem, não somente como categoria exclusivamente linguística, mas também como categoria psicológica e social. No viés psicológico, a linguagem é vista como forma de conhecimento ou de cognição. No viés social, a linguagem assume o papel de instrumento de ação social, de interação do sujeito com o seu meio. Esses vieses se imbricam tanto no texto oral quanto no escrito, já que para nos comunicarmos buscamos vários tipos de conhecimentos para interação com outros sujeitos dentro de determinados contextos sociais. Por isso, dizemos que a produção e a compreensão textual envolvem fenômenos linguísticos e sociocognitivos. Para darmos prosseguimento a essa discussão nos afinamos com as concepções postas por Foucault (1972), Kress (1989) e Fairclough (1992) apud Meurer (1997) e de Flower & Hayes (1981). Assim, entendemos que não vivemos 12 Estágio Curricular II e III como seres isolados, ou seja, cada sujeito é um agente social imerso numa rede de relações sociais que acontecem em lugares específicos de agrupamentos sócio-culturais específicos, parafraseando Kress (1989) apud Meurer (1997). Ao se inserir em sua rede de relações sociais, esse sujeito entra em contato com os valores, os significados, as demandas, as proibições e até mesmo com as permissões desse grupo. Portanto, reconhece-se que grande parte dessas interações se dá pelo uso da linguagem. Nesse sentido, corroborando com Meurer (1997), podemos dizer que discurso é o conjunto de afirmações que, articuladas através da linguagem, expressam os valores e significados das diferentes instituições; e texto é a realização linguística na qual se manifesta o discurso. Bakhtin (2003) postula que inexiste texto sem discurso, tampouco discurso sem texto. Nesses entornos cabe a ideologia, bem como a visão hegemônica de conceber o texto como exercício de poder de uns sobre outros. Assim, cada instituição tem os seus discursos de modo a encarar a realidade calcada em suas crenças. Consequentemente, a materialização disso se dá por meio de textos já que nos comunicamos e interagimos socialmente. Segundo Bakhtin (2003), os indivíduos constroem textos não através do uso da língua apenas, mas a partir de internalização de outros tipos de textos já existentes. Ao mencionarmos o autor, concebemos, nessa abordagem, que tudo que alguém fala ou escreve possui umgrau de intertextualidade ou de interdiscursividade com textos que já foram apresentados ao sujeito em ocasiões anteriores, pois toda forma de atuação da linguagem via atividade humana baseia-se na natureza do enunciado e na concepção de gêneros textuais. Destarte, percebemos que existe uma convencionalização nos variados tipos de gêneros textuais que impedem um uso aleatório da constituição linguística; noutros termos, impossibilitam o descompromisso com a forma composicional em que está inscrita o gênero textual. Por isso, dizemos que, ao escrever, o 13 Estágio Curricular II e III sujeito busca em sua produção uma adequação ao discurso institucionalizado da comunidade em que circula. Ainda nas abordagens de Meurer (op.cit.), as exigências solicitadas ao sujeito produtor levam em conta as formas, funções e conteúdos específicos; carecendo ao escritor o domínio de um conjunto de exigências de caráter psicossociolinguístico que precisam ser contempladas durante o processo de composição. Na visão dialógica da linguagem, concebemos o texto como sendo suscetível a mudanças dado o seu dinamismo. Isso nos assegura o reconhecimento de um possível modelo que poderia dar conta de tais exigências e que ao mesmo tempo, abre-se espaço para as rupturas e quebras de paradigmas, já que os discursos não são monolíticos. Bakhtin (2003, p.275) define os limites do enunciado concreto como unidade da comunicação discursiva, asseverando que: Todo enunciado – da réplica sucinta (monovocal) do diálogo cotidiano ao grande romance ou tratado científico – tem, por assim dizer, um princípio absoluto e um fim absoluto: antes do seu início, os enunciados de outros; depois do seu término, os enunciados responsivos de outros (ou ao menos uma compreensão ativamente responsiva silenciosa do outro ou, por último, uma ação responsiva silenciosa do outro ou, por último, uma ação responsiva baseada nessa compreensão.[...] Marcuschi (apud Koch, 2009) define essa ação como intertextualidade intergêneros, pois é um fenômeno que ocorre quando um escritor produz um gênero num formato diferente do que é esperado, dependendo do propósito que tem em mente. Diante desses estudos que tratam a língua como forma de interação social, as relações que se estabelecem entre fala, escuta, leitura e escrita numa relação de interlocução, evidencia a ênfase que deve ser dada à língua como forma de empoderamento humano; noutros termos, a razoável consciência para que se leia e se produza um texto dos gêneros mais básicos nas mais diversas 14 Estágio Curricular II e III relações sociais. Assim, com base nas habilidades de fala, escuta, leitura e escrita é que asseveramos o grande papel do professor de linguagem na formação discente. Acreditamos que é por meio do despertar dessas habilidades, certamente, que contribuiremos efetivamente para a Competência Comunicativa. Há de se reconhecer, nesse sentido, inúmeras possibilidades de aplicação de atividades de sala de aula de língua materna para o despertar de tal Competência, a exemplo disso, destacamos situações triviais em nossas práticas de sala de aula no ensino básico e também no superior: criação de antologias em prosa e verso para leitura e análise textual em todas as aulas; entendimento do fenômeno da variação linguística a fim de garantir o respeito aos múltiplos falares em um país de extensão territorial considerável como o nosso; leitura e produção de gêneros opinativos para desenvolver a maturidade argumentativa necessária para a defesa de um ponto de vista; o trabalho com gêneros do humor – tirinhas, charges, cartuns – para percepção dos aspectos verbais e não verbais; o trabalho com a metalinguagem em detrimento de um estudo descontextualizado gramaticalmente etc. Enfim, a lista de possibilidades não se esgotaria nesse curto espaço discursivo; sugerimos para o incremento e ampliação das propostas supramencionadas uma análise cuidadosa sobre atividades que não contemplem a língua de forma estática, como por muito tempo foi concebida. O estudo da língua (gem) deve se voltar a uma consciência necessária que é por meio da apropriação desses saberes que nos tornamos indivíduos plenos no combate às desigualdades sociais e também na assunção de cada de um. Defendemos que o ensino de línguas deverá se voltar, seguramente, ao estudo do texto como unidade de sentido, percebendo o discurso subjacente a essa superfície linguística; além do respeito necessário, sobretudo, aos “diferentes” falares presentes em nossas salas de aula. Somente 15 Estágio Curricular II e III desse modo, pensamos que contribuiremos para sujeitos mais competentes linguisticamente, cuja atuação social será mais profícua. Considerações Finais Refletir sobre a disciplina Estágio Curricular Supervisionado em meio às exigências recorrentes à formação docente é uma tônica necessária. Reconhecer esse momento como um momento de crescimento e/ou de amadurecimento pessoal e profissional é condição sine qua non. O texto em tela serviu para entendermos os momentos de estágio não somente como um cumprimento de uma atividade acadêmica, exigida nos cursos de formação de professores; mas uma possibilidade de, in lócus, perceber e intervir nas situações problemas que afetam diretamente o bom andamento do processo ensino-aprendizagem de língua materna. Por isso, devemos nos sentir agentes transformadores nesse processo de consolidação da prática profissional, pois o momento de estágio pode ser encarado como forma de aprimoramento profissional, para os que já têm a prática, por meio das figuras do professor orientador e do professor colaborador; bem como pode ser encarado com forma de pôr em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do curso, com o mesmo apoio das figuras anteriormente citadas. O que podemos assegurar é que o estágio nos trazem experiências significativas que sempre estarão presentes nas nossas práticas de sala de aula, vigentes ou futuras. O ensino de língua materna precisa de sujeitos professores que despertem em seus alunos o gosto pelo estudo da língua pátria e; sobretudo, vislumbrem uma situação de uso nas suas mais diversas esferas de atuação. Somente dessa forma, é que acreditamos, que nós, professores de linguagem, de fato cumpriremos o nosso papel social. 16 Estágio Curricular II e III Referências BAKHTIN, Mikhail. Gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal: introdução e tradução do russo Paulo Bezerra; prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BRASIL. Resolução CNE/CP Nº 2. Instituição da duração e da carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. MEC: 19 de fevereiro de 2002. BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Parábola, 2008. CAVALCANTI, Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti. Livro de Estágio Curricular I em Língua Portuguesa. IFAL/DEPEAD/UAB: Maceió, 2010. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000. CRESSWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. MEURER, José Luiz; MOTTA-ROTH, Désirée. (Orgs.) Parâmetros de textualização. Santa Maria: UFSM, 1997. NEVES, José Luiz. Pesquisa qualitativa – características, usos e possibilidades. Disponível em <http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquivos/co3-arto6.pdf.> Acessado em 02/02/2009. 17 Estágio Curricular II e IIIUnidade 2 O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO-CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 18 Estágio Curricular II e III Introdução O estágio nos cursos de licenciatura apresenta características diferentes do estágio profissional em outras áreas. Isso se dá porque se for adotada uma perspectiva mais acadêmica voltada para a solução de problema a partir de um olhar científico por parte do estagiário, essa experiência pode trazer grandes contribuições para todas as partes envolvidas. Essa é a perspectiva que adotamos na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado no Curso de Letras a Distância do IFAL, concebendo o estágio como uma área de pesquisa interdisciplinar que se preocupa em estudar os fenômenos de sala de aula relacionados ao ensino de língua materna, em nosso caso. Se no ensino de língua materna considerarmos a língua como aspecto de interação social, entenderemos melhor o que se passa nos diferentes contextos em que ela é utilizada, inclusive em sala de aula. Há de se reconhecer que toda a situação de uso da língua, sobretudo aqueles que nos trazem subsídios didático-pedagógicos para as inúmeras situações de aprendizagem, tem um aporte teórico necessário para estudar e, consequentemente, aprofundar tal fenômeno. Nesse sentido, entendemos o estágio como pesquisa e, como tal, é realizado a partir de coleta de dados e análise do contexto escolar, principalmente das práticas de sala de aula observadas. A observação in lócus possibilita um caráter interpretativista, o que caracteriza a maioria das pesquisas de cunho educacional – a pesquisa qualitativa. De acordo com Telles (2002, p. 102), “(...)a opção por modalidades qualitativas de investigação tem sido cada vez mais frequente na pesquisa em educação”. Para o autor, diferentemente das pesquisas quantitativas, o interesse pelas qualidades dos fenômenos contemplam a dimensão humana, a pluralidade e a interdependência dos fenômenos educacionais na escola, o que muitas vezes somente os números não dão conta. 19 Estágio Curricular II e III As pesquisas qualitativas podem seguir diversas orientações metodológicas. Alguns exemplos de modalidades qualitativas de investigação são o Estudo de Caso, a Pesquisa Etnográfica, a Pesquisa-Ação. Essas modalidades utilizam uma grande variedade de métodos para a coleta de dados, tais como: observação, entrevistas, relatórios verbais, entre outros. Dentro dessas modalidades e métodos, técnicas e estratégias de pesquisa têm sido desenvolvidas para tornar a pesquisa qualitativa cada vez mais rigorosa. Descreveremos, nas próximas seções desse texto, algumas características gerais da pesquisa qualitativa e, em seguida, trataremos especificamente sobre o Estudo de Caso, o que se configura em uma possibilidade metodológica para o estágio de docência. 2 A pesquisa qualitativa A pesquisa qualitativa é realizada em um cenário natural e fornece informações sobre o lado humanístico de um problema – isto é, os comportamentos, muitas vezes contraditórios, opiniões, emoções e relações entre os indivíduos. Os métodos qualitativos são também eficazes na identificação de fatores intangíveis, tais como: as normas sociais, etnia e religião. Nesse tipo de pesquisa, os significados são socialmente constituídos, por isso o foco de pesquisa se volta aos participantes – como interagem com um determinado fenômeno, em um tempo e contexto específicos, e como se processam os múltiplos significados para eles. De acordo com Rossman e Rallis (1998), o fato de o pesquisador ir ao local onde está o participante para que a pesquisa seja conduzida permite que ele perceba mais detalhadamente os aspectos de seu objeto e esteja altamente envolvido nas experiências reais dos participantes. Tais contextos são complexos, dinâmicos e multifacetados. 20 Estágio Curricular II e III Assim, a pesquisa qualitativa tem caráter exploratório, de maneira que as formulações de alguns procedimentos para coleta e análise de dados vão surgindo a partir do comportamento do fenômeno estudado. Os questionamentos da pesquisa podem ser modificados e redefinidos no decorrer da pesquisa. No estudo qualitativo, não há como determinar que tipos de problemas encontraremos ao estudar determinado fenômeno antes de fazer uma observação detalhada e profunda sobre ele, levando-se em consideração a realidade em que está inserido e como os participantes agem em relação a ele. Algo muito relevante nos métodos qualitativos é que os participantes têm a oportunidade de responder aos questionamentos do pesquisador com suas próprias palavras, em vez induzi-los a escolher entre respostas fixas; permitindo-lhes, dessa forma, evocar respostas que são extremamente significativas e importantes para eles e que não podem ser previstas, tampouco manipuladas, pelo pesquisador. Além disso, é permitido ao investigador perguntar por que e como. O investigador, em nosso caso específico, é desempenhado pelo estagiário-pesquisador, visto que esse sujeito deverá adotar uma postura de ouvir atentamente o que os participantes dizem e estabelecer um diálogo com os sujeitos investigados. Em sua essência, a pesquisa qualitativa é interpretativa. O pesquisador está incluído na pesquisa, o que permite o seu envolvimento com os participantes e uma introspecção, tornando o eu pessoal inseparável do eu pesquisador. Os métodos qualitativos são tipicamente mais flexíveis, no entanto, essa flexibilidade não indica falta de rigor, ou ausência de um método sistemático; pelo contrário, o grau de flexibilidade reflete o tipo de compreensão do problema que está sendo estudado. 2.1 O Estudo de Caso 21 Estágio Curricular II e III Um estudo de caso tem como objetivo estudar profundamente um determinado fenômeno de forma holística. Yin (2009) define o método de pesquisa de estudo de caso como uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes. No estágio de docência, esse tipo de olhar adota uma postura mais subjetiva e interpretativa com ênfase na interação entre alunos e professores, no desenvolvimento de competências e habilidades nos alunos, nas experiências dos professores para o desenvolvimento profissional, dentre outras. Esse tipo de abordagem exige detalhamento exaustivo para uma necessária contextualização do ambiente destinado à investigação. Na pesquisa qualitativa educacional, um caso normalmente se refere a uma pessoa, seja aluno ou um professor; ou uma instituição, como uma escola, uma universidade, uma sala de aula, ou um programa. Os estudos de caso podem incluir procedimentos qualitativos ou quantitativos, ou os dois, para fornecer informações concretas para análise. Quanto ao tempo de observação do fenômeno, podemos asseverar que o objeto de estudo é que irá apresentar o tempo em que será necessário para a coleta do corpus da pesquisa. Ao contrário das pesquisas etnográficas, estudos de caso não focalizam necessariamente os aspectos culturais de um grupo ou de seus membros. Nesse tocante, os estudos de caso que seguem uma linha qualitativa devem reconhecer as múltiplas realidades e as várias perspectivas do pesquisador, do caso/participante, e de outros fatores, podem ou não convergir (YIN, 2009). Como forma interpretativa e indutiva de investigação, estudos de caso exploram os detalhes e significados da experiência e, geralmente, não tentam testar hipóteses a priori. Em vez disso, o pesquisador tenta identificar padrões importantes aos seusdados. 22 Estágio Curricular II e III De acordo com Lofland (1974, apud CRESWELL, 2007, p.207), “embora as estratégias de coleta e análise de dados sejam similares entre os métodos qualitativos, o modo como os resultados são relatados é diverso”. A seguir, descreveremos algumas características dos estudos de caso baseadas em considerações propostas por Robert K. Yin (2009) e John W. Creswell (1998 e 2007), dentre outros estudiosos da área. Os estagiários do Curso de Letras a Distância do IFAL devem se apropriar desse enfoque ao realizar suas atividades na escola campo de estágio. A riqueza de estudos de casos está relacionada à quantidade de detalhes e contextualização que é possível quando apenas um ou um pequeno número de casos e questões são analisados. Ferguson (1991) afirma ser frustrante ler um estudo de caso estimulante e descobrir que ele carece de informações sobre o que o leitor considera pontos cruciais. A habilidade do autor para fornecer um perfil atraente e envolvente do caso, com exemplos adequados e vínculos com questões mais amplas, é muito importante. As informações para o contexto do caso devem ser descritas de maneira suficiente, incluindo informações biográficas e sociais relevantes, o que depende do enfoque que é dado à pesquisa. É necessário, no estudo de caso, que se deixe claro quais são os procedimentos de amostragem e seleção dos casos, e definir as características e tipicidade ou atipicidade do caso. Deve ser levado em consideração se a escolha do caso se deu por ser desviante ou extremo, um caso crítico, por conveniência, se é um caso politicamente significativo, e assim por diante. Além disso, é necessário que o pesquisador deixe bem claro qual é o seu grau de envolvimento com os participantes (TELLES, 2002). Uma situação que pode ocorrer em pesquisas qualitativas é a relação conflituosa entre pesquisador e participantes, por isso ao se empreender 23 Estágio Curricular II e III estudos de caso de caráter longitudinal tem-se de ter uma postura cuidados para gerenciar possíveis dificuldades relacionais. A coleta de dados pode ser feita a partir de uma triangulação2, considerando múltiplas fontes, reunindo múltiplas perspectivas, métodos e fontes de informação - por exemplo, a partir de entrevistas, observações, notas de campo, autorrelatos, testes, transcrições e outros documentos. Coletar dados, na perspectiva da triangulação, adiciona uma profundidade e conhecimentos múltiplos para uma análise; além de poder reforçar a validade ou credibilidade dos resultados. É desejável que o pesquisador busque estabelecer uma relação de confiança com os participantes da pesquisa, utilizando múltiplos procedimentos para coleta de dados, obtendo a informação de fundo relevante e adequada do caso, e tenha acesso ou contato com o caso durante um período de tempo. A análise dos dados geralmente envolve um processo interativo, em espiral, ou um processo cíclico que procede do mais geral a observações mais específicas (CRESWELL, 1998). A análise dos dados pode começar informalmente durante as entrevistas ou observações e continuar durante a transcrição, quando os temas recorrentes, padrões e categorias tornam-se evidentes. Uma vez que os registros escritos estão disponíveis, a análise envolve a codificação de dados e a identificação dos pontos mais importantes. A interpretação, no sentido de estabelecer o significado e a importância do que foi identificado na pesquisa, é crucial. A discussão confronta 2 Triangulação é geralmente entendida como a utilização de diferentes tipos de coleta de dados como forma de verificar de maneira cruzada a validade dos resultados, mas também pode referir-se a investigadores múltiplos, múltiplas teorias, ou vários métodos (DENZIN, 1978). “With data triangulation, the potential problems of construct validity also can be addressed because the multiple sources of evidence essencially provide multiple measures of the same phenomenon.” (YIN, 2009, p. 116, 117) 24 Estágio Curricular II e III explicitamente os temas identificados com os teóricos e achados por estudiosos da área. Em nosso caso específico, isso pode se valer para a área das humanidades. A generalização para a população não é adequada ou desejável na maioria dos estudos de caso, ou seja, reduzir a uma análise genérica. O pesquisador deve ser cauteloso sobre fazer inferências injustificadas, devido ao pequeno tamanho da amostra, particularmente se o caso não é típico entre outros do mesmo conjunto. Modelos ou princípios propostos baseados em resultados de estudos de caso devem ser apoiados, testados, postos em comparação, ou refutados. É necessário fornecer provas suficientes para as reivindicações ou interpretações para torná-las claras, credíveis e convincentes para os outros; além de considerar explicações alternativas e responder pelos resultados que são contrários aos temas que surgem. Por se tratar de uma modalidade de pesquisa qualitativa, é útil, por vezes, consultar os participantes para um melhor aprofundamento interpretativo dos dados e análise dos resultados. Em suma, afirmarmos que o estudo de caso como modalidade de pesquisa no estágio de docência no Curso de Letras tem muito a contribuir com o contexto pesquisado, uma vez que proporciona amplas reflexões sobre o ensino de língua e suas práticas. Poder descrever profundamente um caso, dentro de sua complexidade e realidade, e tentar compreendê-lo a partir de uma problematização dentro das suas relações entre sujeitos e fenômenos é, sem dúvida, um lugar privilegiado dentro da ciência. Acreditamos que a leitura de trabalhos que envolvam reflexões sobre casos na área da Educação Linguística possa contribuir para a reflexão de professores sobre suas próprias práticas. É claro que o enfoque acadêmico-científico para o estágio não depende apenas de uma imposição por parte do professor orientador da disciplina Estágio 25 Estágio Curricular II e III Curricular Supervisionado; o aluno-estagiário deve assumir a postura de pesquisador e, consequentemente, encarar o campo de estágio como se encara um campo de pesquisa, com todo rigor acadêmico necessário. 26 Estágio Curricular II e III Referências CRESWELL, J. Qualitative Inquiry and Research Design: Choosing among Five Traditions. Thousand Oaks, California: Sage Publications, 1998. CRESWELL, J. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. DENZIN, N. K. The research act: a theoretical introduction to sociologicalmethods. New York: McGraw Hill, 1978 FERGUSON, C. Diglossia revisited. Southwest Journal of Linguistics, v.10, n.1 214–34. 1991. ROSSMAN, G. B. and RALLIS, S. F. (1998) Learning in the Field. An Introduction to Qualitative Research. Thousand Oaks, CA: Sage TELLES, João A. “É pesquisa, é? Ah, não quero, não, bem!”: Sobre pesquisa acadêmica e sua relação com a prática do professor de línguas. Linguagem & Ensino. Pelotas, v. 5, n.2, p. 91-116, jul-dez 2002. YIN, R. K. Case study research: Design and methods. 4. Ed. Thousand Oaks, California: Sage Publications, 2009. 27 Estágio Curricular II e III A P Ê N D I C E S 28 Estágio Curricular II e III APÊNDICE I C A R T A A B E R T A A O S C O L A B O R A D O R E S Sr(ª) Diretor(a), Coordenador(a) e Professor(a) Colaborador(a), O Curso de Licenciatura em Letras na modalidade a distância do Instituto Federal de Alagoas – IFAL vem, mui respeitosamente, pedir-lhes o acolhimento dos licenciados-estagiários nesse momento tão importantepara a consolidação da formação docente que é o momento de Estágio Curricular Supervisionado. Para esses próximos momentos, Estágio II e III, os licenciandos terão de cumprir 300 h/a, divididas entre atividades de estudos, planejamento, regência, elaboração de relatórios, dentre outras atividades relacionadas à reflexão do processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, reiteramos que este momento de regência requer que todos os envolvidos no processo, sobretudo dos colaboradores, um olhar crítico- reflexivo e, acima de tudo, de paciência, visto que consideramos este um dos momentos mais relevantes para a construção e/ou ressignificação dos conhecimentos acadêmico-científicos da formação do professor. Portanto, esperamos contar com V.Sas., mais uma vez, nesse espaço legitimado de exposição e de apreensão dos conhecimentos socialmente construídos, na perspectiva de acolhê-los com vistas ao binômio teoria-prática. Agradecemos antecipadamente por vossas compreensões; ao tempo em que nos mostramos receptivos para o esclarecimento de quaisquer aspectos nesse tocante. Cordialmente, Reinaldo Rafael de Albuquerque Pereira Junior e Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti Professores orientadores de Estágio Curricular Supervisionado em Letras – UAB/IFAL Maceió, AL – Agosto de 2012 29 Estágio Curricular II e III APÊNDICE II ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO ESTÁGIO DE REGÊNCIA II E III FREQUÊNCIA SEMANAL DO(A) LICENCIANDO(A) ESTAGIÁRIO(A) ESTAGIÁRIO(A):................................................................................ CURSO:............................................................................................... HABILITAÇÃO:................................................................................... ESCOLA CAMPO DE ESTÁGIO: ................ ................ ................ ................ ................ DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE REALIZADA RUBRICA DO ESTAGIÁRIO RUBRICA DO PROFESSOR COLABORADOR HORAS-AULAS CONTABILIZADAS __/___/___ ___/___/___ ___/___/___ ___/___/___ ___/___/___ TOTAL DE HORAS CUMPRIDAS DURANTE A SEMANA:.................................... _______________________________________________ (Assinatura da Direção ou da Coordenação da Escola) 30 Estágio Curricular II e III APÊNDICE V - RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR III 1. IDENTIFICAÇÃO 1.1 Nome do Estabelecimento de Ensino:______________________________________ 1.2 Endereço do Estabelecimento de Ensino:____________________________________ ________________________________________________________________ 1.3 Nome do Estagiário(a):______________________________________________________ 1.4 Série/ano de Estágio:_____________________ Nível: ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio 1.5 Nome do Professor Colaborador:_______________________________________________________ 1.6 Nome do Professor Orientador:________________________________________________________ 2. ENSINO 2.1 Conteúdos Ministrados 2.1.1 – 2.1.2 – 2.1.3 – 2.1.4 – 2.1.5 – 2.1.6 – 2.1.7 – 2.1.8 – 2.1.9 – 2.1.10 – 2.2Metodologia 2.2.1 – 2.2.2 – 2.2.3 – 2.2.4 – 2.3- Recursos utilizados nas aulas de regência 2.3.1 – 2.3.2– 31 Estágio Curricular II e III 2.3.3– 2.4- Avaliação (critérios avaliativos de ensino-aprendizagem; instrumentos avaliativos etc.) 2.4.1- 2.4.2- 2.4.3- 2.5- Auto – Avaliação __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 3- APRENDIZAGEM 3.1– Caracterização da Turma: __________________________________________________________ __________________________________________________________ 32 Estágio Curricular II e III __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3.2- Relação Ensino-Aprendizagem: __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3.3- Relação Interpessoal: 3.3.1– Professor Colaborador/Estagiário __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 33 Estágio Curricular II e III __________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________ ____________________________ 3.3.2 – Professor Estagiário/Turma __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ _________________________________________________ 4- REFERÊNCIAS . . . . . . . . . 5- ANEXOS 6- APÊNDICES 34 Estágio Curricular II e III APÊNDICE IV - Roteiro para plano de aula – Microensino em Língua Portuguesa Instituição/Estabelecimento de Ensino: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas – IFAL Polo XXX acrescentar o nome do Polo Cidade: XXX Estado Alagoas Curso: Letras – Habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas. Área de Concentração: Estágio Curricular Supervisionado em Língua Portuguesa II/III Professor Orientador: Prof.Mndo.Reinaldo Rafael de Albuquerque Pereira Junior ou Prof.Ms.Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti Professores tutores: XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Professor (a) colaborador(a): XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Disciplina: Língua Portuguesa Série-alvo: (Delimitar do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental; ou da 1ª à 3ª série do Ensino Médio). Turno: Estagiário(a): Resumo do Curriculum Vitae ¹- Tema da Aula – Conteúdo: Previsão de tempo de aula: Justificativa: (Falar da relevância do tema escolhido à série ou ao ano direcionado, ou seja, esclarecer o porquê do estudo ao tema em foco). Objetivo Geral: A depender da temática escolhida ao estudo, sugerimos a contemplação de algum desses verbos introdutórios ao objetivo geral: analisar, abranger, aprender, considerar, saber, computar, desempenhar, julgar, respeitar, conduzir, ouvir, conhecer, melhorar, pensar, adquirir, aplicar, ter, mostrar, desenvolver, estender, criar, ampliar, sentir, aperfeiçoar, encarar, apreciar, compreender, dar, avaliar. Objetivos Específicos: Há de se reconhecer o entrelaçamento entre o objetivo geral e os específicos; portanto, com base no atendimento das metas vislumbradas, sugerimos alguns verbos introdutórios aos objetivos específicos, a considerar os comportamentos sociais, criativos, de linguagem e/ou de estudo preteridos: 1- Comportamentos sociais: cumprimentar, conversar, comunicar, rir, responder, ajudar, sorrir, permitir, contribuir, agradecer, elogiar, argumentar, discutir, participar, cooperar, desculpar, convidar. 2- Comportamentos criativos: reelaborar, questionar, qualificar, reorganizar, sintetizar, alterar, reconstruir, sistematizar, revisar, modificar, simplificar, designar. 3- Comportamentos de linguagem: pronunciar, traduzir, abreviar, colocar, sumariar, falar, acentuar, descrever, verbalizar, separar, articular, editar, murmurar, recitar, ler, expressar, pontuar, assinalar, 35 Estágio Curricular II e III ordenar, dizer. 4- Comportamentos de estudo: reproduzir, nomear, localizar, registrar, anotar, citar, pesquisar, organizar, copiar, selecionar, representar, marcar, planejar, destacar. Metodologia de Ensino: A metodologia da aula basear-se-á em... (aula expositiva, uso de lousa, distribuição de fotocópias, uso de cartazes, uso de recursos midiáticos, tais como... etc), a partir da seguinte sequenciação: 1- 2- 3- 4- 5- 6- Recursos Didáticos: Descrição de todos os recursos pensados no planejamento da aula, tais como: cartazes , material fotocopiado, quadro branco, microssistem e CD, computador etc. Avaliação: A avaliação será baseada em/no... de forma... Referências Bibliográfica Webgráfica Complementar Saliento que esse esboço de plano de ensino é apenas um encaminhamento a algumas possibilidades para vossos planejamentos. Não excetuamos com ele, o reconhecimento das mais variadas formas de pensar suas aulas como momento de elevação do imprescindível e significativo binômio ensino-aprendizagem. Sucesso no desempenho didático de todos/todas!!! Professores Reinaldo Rafael de Albuquerque Pereira Junior e Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti UAB/IFAL 36 Estágio Curricular II e III A N E X O S 37 Estágio Curricular II e III ANEXO 1 Linguagem & Ensino, Vol. 5, No. 2, 2002 (91-116) “É pesquisa, é? Ah, não quero, não, bem!” Sobre pesquisa acadêmica e sua relação com a prática do professor de línguas. (Is it research? Oh, no, I don’t want it: About academic research and its relation with the practice of the language teacher) João A. Telles Universidade Estadual Paulista 0 Assis ABSTRACT: Controversial issues related to the gap between university based research and teachers’ practice are discussed in this essay. These issues are: the importance of teachers’ contribution to knowledge production, the distinction between knowledge produced by the university and the teacher’s personal practical knowledge, the ethics and principle of cooperativeness, entry into the field, teacher- researcher relationship, modes of inquiry and their respective methods of collecting documentary materials. Finally, syntheses of five modes of qualitative in- quiry into educational processes and classroom practice are presented and their possible results are discussed with the intention of either softening or bridging the gap between university based research and teachers’ pedagogical practice. O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO- CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 38 Estágio Curricular II e III RESUMO: Este ensaio apresenta questões polêmicas a respeito da relação entre a pesquisa acadêmica e a prática do professor de línguas nas escolas. Essas questões são: a importância da contribuição do professor para a produção do conhecimento, a distinção entre conhecimento produzido pela universidade e o conhecimento pessoal e prático do professor, o princípio e ética da cooperação, entrada no campo, assim como o relacionamento entre professor e pesquisador. Em seguida, são apresentadas sínteses de cinco modalidades de pesquisa qualitativa com seus respectivos métodos de coleta de materiais documentários, os quais podem atenuar a polêmica ou estabelecer elos de ligação entre a pesquisa acadêmica e a prática pedagógica do professor. KEYWORDS: academic research, teacher’s practice, qualitative research. PALAVRAS-CHAVE: pesquisa acadêmica, prática do professor, pesquisa qualitativa. O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO- CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 39 Estágio Curricular II e III INTRODUÇÃO Dois momentos em que a universidade bate à porta da escola como um p e d i n t e faminto: o estágio dos nossos alunos da graduação e a realização de uma pesquisa sobre a escola, a sala de aula ou a prática pedagógica de um professor. Quero falar deste último – aquelemomento no qual precisamos da escola pública e de seus professores para concretizarmos uma das três atividades centrais dos docentes e educadores de professores que atuam na instituição universitária, ou sejam, ensino, extensão e pesquisa. É quando ouvimos as professoras dizendo a frase acima “É pesquisa, é? Ah, não quero, não, bem!”; ou outras alternativas, tais como, “Cobaia? Eu, hein!”; “O que será que ela quer saber sobre minha sala de aula? No que vou ser avaliada?”. É quando encontramos as portas das escolas e das salas de aulas fechadas a cadeados, como se nos deparássemos com uma placa “Estagiários, Pesquisadores ou Educadores de Professores Não São Bem-Vindos”. Um problema e tanto para construirmos pontes entre a escola, a sala de aula e as universidades. Existem múltiplas razões para tal segregacionismo que constrói o abismo entre a universidade e a prática pedagógica em nossas escolas. Dentre elas, podemos pensar a própria formação do professor na universidade. Quantos alunos universitários realizam pesquisas? Quais cursos de licenciatura têm uma disciplina que inicie os alunos à prática da pesquisa? Há, também, uma dimensão ética de alguns pesquisadores da educação que invadem as salas de aulas com a parafernália de suas câmeras de vídeo, microfones, gravadores, questionários, tabelas de observação e tentam estudar o professor, seus alunos e suas didáticas, “pensando” que coletam dados válidos a respeito da prática pedagógica do professor. Em seguida, saem para escrever suas dissertações de Mestrado ou teses de Doutoramento sem retornarem à instituição escolar para partilharem os resultados do estudo com aqueles outros profissionais que contribuíram para sua realização. Isso sem contar as teses que se empenham em “espinafrar” (desculpem o termo, mas é esse mesmo) o professor e sua prática pedagógica sem, ao menos, que ele saiba ou aprenda algo sobre seus equívocos didáticos e profissionais. Como podem tais práticas investigatórias promover o desenvolvimento do professor e de sua prática pedagógica? Para tais “pesquisas”, a bamba ponte “escolas e universidade” deve ser implodida, as portas das escolas e das salas de aulas devem, sim, estar trancadas a sete chaves e, se possível, por detrás de barricadas. O parco conhecimento produzido por tais investigações pouco tem a contribuir para o desenvolvimento do conhecimento e prática do professor e da escola e esses últimos devem, então, continuar a viver suas “histórias secretas”. Os educadores D. Jean Clandinin e Michael Connelly, no livro A Paisagem do Conhecimento Profissional do Professor (ver Telles, 1997, para uma resenha crítica), dizem que os professores e as escolas estão sujeitos a viverem três tipos de histórias: as histórias sagradas –aquelas impostas por instâncias consideradas O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO- CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 40 Estágio Curricular II e III superiores, tais como as universidades, os ministérios, secretarias da educação e diretorias de ensino e que descem pelo “funil” ou “conduíte” (atenção para as metáforas) para dentro das salas de aulas e corredores das instituições de ensino; as histórias secretas – aquelas vivi- das em cumplicidade pelo professor e seus alunos ao fecharem as portas de suas salas de aulas, ou os diretores e seus professores, alunos e funcionários ao fecharem as portas das escolas; e finalmente, as histórias de fachada – aquelas que os professores contam para os outros quando saem de suas salas ou as que os diretores contam às instâncias superiores quando saem para além dos portões de suas escolas. Assim, os questionamentos com os quais ficamos quanto ao desenvolvimento e prática da pesquisa nas escolas são: Como, quando e para quê receber um pesquisador em nossas escolas ou salas de aula? Que tipo de relação o professor deve ter com o pesquisador e qual deve ser o seu papel na produção do conhecimento sobre a sala de aula? A pesquisa realizada pelo professor nas escolas e sala de aula é diferente daquela realizada pela universidade? Os conhecimentos produzidos pelas pesquisas realizadas por professores são diferentes daqueles produzidos pelas pesquisas universitárias? De quais modalidades de pesquisa sobre a prática pedagógica os professores podem fazer uso para melhor compreenderem e desenvolverem as escolas e suas práticas profissionais? Quais instrumentos de coleta de dados eles podem usar? Como podem os professores realizar suas próprias investigações sobre suas salas de aulas e práticas pedagógicas? “POSSO ENTRAR NO SEU TEMPLO?”3 UM PESQUISADOR BATE À PORTA DA SALA DE AULA Os casos de pesquisadores da universidade procurarem as escolas para realizarem suas pesquisas parecem ser mais frequentes do que o contrário. Existe o mito de que pesquisa só ocorre na universidade e que as escolas devem ser meros receptáculos dos resultados das investigações realizadas nas instituições superiores. Nesta linha de pensamento, a universidade produz o conhecimento e as escolas o utilizam. Os casos em que as escolas procuram a universidade parecem ser menos frequentes e são nos momentos em que elas se deparam com problemas ou “patologias pedagógicas crônicas”. Em ambos os casos, entre tanto, a universidade assume a posição de retentora do saber que tentará “passá- lo” àqueles que estão em deficiência. Ambos os momentos têm a perspectiva de déficit – os educadores baseados na escola e os professores aqueles envolvidos com o trabalho braçal do “pó de giz”, têm deficiências que deverão ser sanadas. Uma relação de poder e dependência entre aquele que sabe e aquele que não sabe 3 A expressão metafórica é de Mello (1998) O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO- CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 41 Estágio Curricular II e III é instaurada. A auto-imagem profissional dos professores permanece baixa e estes ficam sujeitos às várias l i nhas de pesquisa e perspectivas de educação vigentes em nossas universidades. Assim, é imprescindível que o pessoal envolvido com a prática pedagógica nas escolas tenha uma perspectiva geral de várias linhas de pesquisa que propiciem o seu desenvolvimento profissional e o desenvolvimento da escola. Um panorama das linhas vigentes de pesquisa em educação será dado mais abaixo. É, também, importante que, ao receber um pesquisador em nossas escolas, lhe perguntemos “O que vou aprender com sua pesquisa?”; ou determinemos uma situação de troca logo no primeiro encontro de maneira clara e concreta: “Eu vou lhe dar meu tempo, minha sala de aula e os dados para o seu trabalho de pesquisa. Em troca, o que vou aprender com você para o benefício de meus alunos e o meu próprio desenvolvi- mento profissional?”. É importante saber o tempo que será requisitado do professor e o período que o pesquisador estará presente na escola. Ambos são determinantes da qualidade da aprendizagem e do contato entre pesquisador e escola. A RELAÇÃO COM O PESQUISADOR E O PAPEL DO PRO- FESSOR NO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA A prática da pesquisa educacional deve ser emancipadora. Dependências do professor em relação ao pesquisador devem ser evitadas e a relação entre ambos deve funcionar no sentido de produzir contextos nos quais o professor possa adquirir instrumentos e desenvolver a prática da reflexão e o desenvolvimento de ações voltadas para a melhoria de seu trabalho pedagógico em sala de aula. Há linhas de pesquisa educacional nas quais o objetivo da relação pesquisador e professor não é só informar, mas produzir a independência e desenvolver a capacidade de reflexão deste último. As perspectivas deste paradigma emancipadorde pesquisa promovem uma relação de parceria com o pesquisador – uma posição do professor enquanto “agente” da investigação, em oposição à posição de “sujeito”4. Também tratam o professor como um ser sabente de sua prática pedagógica e dotado de um potencial e capacidade para a reflexão, em oposição à visão de um receptáculo vazio. De maneira geral, a ideia é que os professores entendem de suas práticas pedagógicas, mas não estão acostumados a explicitar seus conhecimentos e falar sobre eles. Deste paradigma, a atitude do pesquisador é a de enfatizar o que há de positivo na prática docente, tentando evitar os frequentes rosários de lágrimas e atitudes negativas e pessimistas, tão comuns na difícil prática de ensinar. 4 A distinção entre os termos agente e sujeito da investigação aqui adotada diz respeito ao papel que o professor toma durante a investigação. Como agente , ele é conhecedor dos objetivos e do método da pesquisa, ajuda o pesquisador a tomar decisões e, ao mesmo tempo, interpreta e auxilia o pesquisador a interpretar os dados da mesma. Como sujeito da investigação, o professor tem o papel de mero fornecedor de dados e objeto das interpretações e análise do pesquisador. O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO- CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 42 Estágio Curricular II e III Enfim, o papel do pesquisador adquire a dimensão de mentor que orienta, reflete e discute juntamente com um professor participante e agente na construção do conhecimento sobre sua prática pedagógica – um professor pesquisador. Trata-se do paradigma sócio-construcionista e interpretativista5 da pesquisa em educação. Tanto o pesquisador quanto o professor, em parceria, trabalham engajados na produção de sentidos sobre a prática pedagógica. O professor reflete e produz sentidos sobre suas ações e a sala de aula. O pesquisador, por sua vez, produz sentidos sobre aqueles produzidos pelo professor, construindo, assim, quadros de significados que comporão o conjunto de conhecimentos adquiridos através da pesquisa. Desta maneira, os resultados da pesquisa serão relevantes para os professores e contribuirão para o desenvolvimento de suas atividades profissionais. Nesse sentido, o tempo de contato entre pesquisador e professor é determinante na qualidade dos resultados da investigação e frequentemente a relação criada entre ambos transcende os limites da escola e o período da pesquisa realizada. O CONHECIMENTO PRODUZIDO NA UNIVERSIDADE E O CONHECIMENTO PESSOAL E PRÁTICO DO PROFESSOR Do ponto de vista do conhecimento construído na universidade e daquele construído por professores em suas práticas diárias na sala de aula, podemos pensar em diferenças qualitativas e pragmáticas. Os professores estão mais voltados para o “saber fazer”, enquanto que os acadêmicos se empenham nas origens, evoluções e construções de paradigmas. Clandinin & Connelly (1995) estabelecem uma distinção interessante para entender a relação entre conhecimento prático e prática e entre teoria e conhecimento teórico. Conhecimento prático é o corpo de convicções e significados, sejam eles conscientes ou inconscientes, que emergem da experiência íntima, social e tradicional e são expressos pela prática do professor (Clandinin & Connelly, 1995, p.7). Tal conhecimento surge das circunstâncias e dispõe de um conteúdo afetivo para seu possuidor. Prática significa o conhecimento pessoal prático em funcionamento. O termo teoria, por sua vez, gera confusão, porque nele estão implícitas duas ideias – uma é a de um conhecimento codificado, encontrado nos livros. A outra ideia é a de um conhecimento teórico que, além de incluir os resultados codificados da exploração do mundo feita pelo individuo, acrescenta, também, seu processo pessoal e individual de compreensão dos fenômenos representados, a metodologia de trabalho, o contexto e o papel do agenciamento 5 Segundo Schwandt (1998), o paradigma sócio -construcionista e inter- pretatitivista parte do princípio d e que “o mundo da realidade vivida e os significados específicos das situações que constituem o objeto de investigação são construídos pelos atores sociais. Estes se encontram situados em contextos e tempos específicos e constituem significados dos acontecimentos e fenômenos através de complicados processos de interação social, os quais envolvem história, linguagem e ações. O construtivista e o interpretativista acreditam que para se compreender este mundo de significados, deve-se interpreta-lo”. (p.222) O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO- CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 43 Estágio Curricular II e III humano na pesquisa. As quatro distinções são importantes para o professor desenvolver suas próprias pesquisas e reflexões sobre sua prática pedagógica; primeiramente porque tais distinções definem a natureza do conhecimento trazido pelo professor para o processo da pesquisa e contribuem para a definição de seu papel de agente do mesmo. Em segundo lugar, essas quatro distinções ajudam a garantir um novo status e voz ao conhecimento do professor, o qual por tantas vezes tem sido considerado pelos acadêmicos como superficial e ilegítimo ou, simplesmente, relegado ao chamado “senso comum”. Contribuições acadêmicas em direção a garantir este novo status epistemológico do conhecimento do professor têm sido geradas por Elbaz (1983) em seus estudos sobre a estrutura do conhecimento pessoal e prático do professor. Tal estrutura é composta por regras da prática, princípios da prática e imagens. As regras constituem o aspecto metódico da estrutura desse conhecimento prático. São, por exemplo, afirmações breves, claras e altamente específicas sobre o que fazer e como fazer em determinadas situações que são frequentemente encontradas na sala de aula. Um exemplo de regra da prática de um professor de línguas estrangeiras seria: “Nunca peço ao aluno para ler um texto em voz alta antes de fazer sua compreensão, em conjunto, com a classe”. Já os princípios da prática são utilizados de maneira reflexiva e são afirmações mais amplas e inclusivas do que as regras. O princípio que rege a regra da prática, acima, seria: “Para que a leitura de um texto em voz alta seja significativa, o aluno deve primeiramente entender o que ele está lendo na língua estrangeira”. As imagens, enquanto parte da estrutura do conhecimento prático do professor, conduzem sua ação de maneira intuitiva, através de metáforas que compõe suas experiências passadas para lidar com problemas no presente. Quando o professor diz “Hoje percorremos um longo caminho com a leitura em sala de aula”, isso reflete seu corpo de experiências com caminhos e caminhadas para expressar sua compreensão de uma sala de aula. Tal compreensão traz, portanto, significados altamente pessoais – daí estarmos tratando de um conhecimento pessoal e prático. MODALIDADES DE PESQUISA E INSTRUMENTOS PARA COMPREENDER A PRÁTICA DO PROFESSOR Há várias modalidades de pesquisa que nos auxiliam a melhor entender a prática de um professor, de sua sala de aula e de sua escola. Tais modalidades podem levar pesquisadores e professores à produção de conhecimentos relevantes tanto para o contexto acadêmico como para o contexto da prática. O método6 de pesquisa a ser escolhido dependerá do objeto ou questão a ser estudada. Por exemplo, se o professor desejar saber a frequência de visitas dos pais à escola dentro dos vários períodos do ano letivo, provavelmente terá que utilizar métodos quantitativos de pesquisa, tais como análise estatística e fatorial, de covariação, 6 Métodode Pesquisa é o conjunto de procedimentos de coleta e análise de dados tomados pelo professor para realizar sua investigação. Já, Metodologia de Pesquisa diz respeito às visões de mundo, às concepções teóricas e à concepção de verdade que fundamentam o método ou tal conjunto de procedimentos. O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO- CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 44 Estágio Curricular II e III etc. Se ele desejar entender a relação do aluno com a leitura, será mais apropriado utilizar métodos qualitativos de investigação (ver, abaixo). Independentemente de sua escolha por métodos quantitativos ou qualitativos de pesquisa, o professor terá que utilizar sua capacidade de interpretação dos números ou das qualidades dos dados. Isto é, deverá construir significados a partir dos elementos informativos que ele coleta- rá na escola, junto aos seus alunos, colegas e pessoal administrativo. O importante é que, uma vez coletados os dados (quantitativos ou qualitativos) é que ele tenha sempre em mente o fato de que tais dados dizem respeito às pessoas e à realidade com as quais ele convive diariamente na escola. Atualmente, a opção por modalidades qualitativas de investigação tem sido cada vez mais frequente na pesquisa em educação, visto que os educadores e os professores têm se interessado pelas qualidades dos fenômenos educacionais em detrimento de números que muitas vezes escondem a dimensão humana, pluralidade e interdependência dos fenômenos educacionais na escola. Abaixo, segue uma síntese das principais modalidades de pesquisas qualitativas vigentes, com seus respectivos instrumentos de coleta e procedimentos de análise de dados. Os métodos oferecidos pelas modalidades de pesquisa abaixo descritas muitas vezes se mesclam, tornando difícil uma caracterização rígida de cada um deles. O importante é fazer uso de qualquer instrumento ou método desde que eles possam auxiliar o professor a melhor registrar, entender e produzir sentidos sobre sua prática e ambiente profissional. PESQUISA ETNOGRÁFICA Aplicação, objetivos e relação com os participantes É frequentemente utilizada para tentar compreender vários comportamentos e relações de/entre grupos de pessoas (professores, alunos de uma sala de aula, pais, funcionários e administradores de uma escola, etc.) dentro de um contexto social específico (escola, comunidade, família, etc.). Seu propósito é descrever e interpretar a cultura e o comportamento cultural dessas pessoas e grupos. O professor deve estar ou se tornar familiarizado com o contexto no qual realizará seu estudo, negociar com os participantes o tempo que será exigido e determinar o grau de envolvi- mento que terá com eles. Instrumentos de coleta Cada um dos instrumentos de coleta de dados selecionados pelo pesquisador visa à documentação de determinadas informações sobre a prática escolar cotidiana. Por exemplo: diários para registrar as reflexões pessoais dos participantes; entrevistas gravadas em áudio para esclarecer tais reflexões e discutir pontos importantes do fenômeno; e, dentre outros, questionários para verificar pontos específicos e comuns a todos os que participarão da pesquisa. O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO- CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 45 Estágio Curricular II e III Procedimentos de análise dos dados A análise dos dados nesta modalidade de pesquisa tem cunho interpretativista. O pesquisador produz significados a partir das transcrições das gravações em áudio, dos diários e questionários. As transcrições são colocadas em páginas com margem direita de mais ou menos 10cm. Primeiramente, o professor, então, realiza uma leitura geral dos dados. Em segundo lugar, segmenta o texto por temas, segundo os tópicos abordados pelo entrevistado. Cada segmento recebe um título, segundo seu tema. Em terceiro lugar, o professor lê o texto linha por linha, anotando, à margem direita, suas impressões, levantando questionamentos e buscando conexões com as outras partes, temas e características percebidas nos segmentos anteriores. Resultados O resultado de uma pesquisa etnográfica é um texto de pesquisa (a etnografia), no qual o(s) pesquisador(es) fornecem uma explicação cultural dos fenômenos enfocados ou detectados dentro do grupo.7 PESQUISA-AÇÃO Aplicação, objetivos e relação com os participantes É frequentemente utilizada por um grupo de docentes ou um pesquisador trabalhando junto a esse grupo para tentar compreender, de forma sistemática e de ação planejada (Thiollent, 1982), a prática do cotidiano escolar, o efeito de uma determinada intervenção pedagógica, ou ainda buscar possíveis soluções para um determinado problema ou respostas de um grupo (de professores ou alunos, por exemplo) a uma determinada ação pedagógica dentro da sala de aula ou da escola. Os participantes da pesquisa têm participação ativa e determinante no movimento e direção das ações do estudo. Reúnem-se periodicamente para discussões sobre o andamento da pesquisa e possíveis remanejamentos de objetivos e direções das ações do trabalho do grupo. Uma característica determinante desta modalidade de pesquisa é o fato dos objetivos poderem ser remanejados segundo o andamento de cada fase da pesquisa, marcada pelas reuniões periódicas do grupo participante. Instrumentos de coleta Além dos instrumentos e procedimentos de coleta explicados na modalidade 7 Para um detalhamento e discussão mais pormenorizada sobre este tipo de pesquisa, veja André (2000). O ESTÁGIO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM LETRAS: UMA POSTURA ACADÊMICO- CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA PESQUISA QUALITATIVA EDUCACIONAL 46 Estágio Curricular II e III de Pesquisa Etnográfica, acima, na Pesquisa-ação podemos ter questionários e atividades reflexivas projetadas pelo próprio grupo participante. O grupo pesquisador, coordenado pelo professor-coordenador do projeto, poderá elaborar instrumentos de coletas que visem à obtenção de informações pertinentes ao objeto de estudo e interesse. Por exemplo, uma atividade pedagógica, como uma visita a um horto florestal, poderá ser planejada para observação do comportamento dos alunos em relação à natureza. Os professores participantes desta atividade fazem anotações (notas de campo) sobre o que puderam observar durante a atividade. Posteriormente, realizam uma reunião do grupo de pesquisa, partilham suas observações e iniciam uma reflexão coletiva sobre elas, tentando chegar a uma descrição sobre as características do comportamento dos alunos e a uma reflexão sobre quais comportamentos devem ser enfocados e melhor trabalha- dos. Procedimentos de análise de dados Os dados podem ser transcritos, utilizando-se a técnica descrita nos procedimentos de análise da Pesquisa Etnográfica, acima, e levados para uma análise conjunta por todos os professores participantes do grupo. A validade dos significados produzidos pelo grupo a partir dos dados coletados poderá ser obtida através da validação intersubjetiva das interpretações; isto é, cada membro do grupo reflete sobre a plausibilidade da interpretação do outro. PESQUISA NARRATIVA Aplicação, objetivos e relação com os participantes Nesta modalidade de pesquisa as histórias pessoais e profissionais dos professores (e outros envolvidos no processo educacional) funcionam como contextos de produção de significados para os acontecimentos ocorridos na escola e na vida. As histórias narradas pelos professores e/ou alunos e funcionários da escola são, ao mesmo tempo, método e objeto de pesquisa. A pesquisa narrativa rejeita o papel passivo do participante
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