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Iss., no entiln1.. niur inrplica plena liberclade clo legislador para escolher as situuçircs que irão Íigurar na hipótese da regra- nlaÍriz desscs rr-ihutos. como erssevera Fabiana Del padre Tonrérr. a arílisc sisrcrrlitica do tcxto constitncionar impõe ao lcgisllrtlor-ortlirlír'io tlu IJniao o dever de respeitur ct t.ttrnpcÍêtt- t'itr ttlriltttítltr tro,t l'.,,sttrtltt,s', l)i.striro Fedcral e Munic:í1tio,s, bent ('()nt() ().\ tlin'ilo.s fiurtltttttt,tttttis rlo.s LtnÍribuinte,s, erigitkt.s no,s 1tt'irtr'í1tio,t t'tttt,tlitttt.itttttti.t't,rtt garttl a, mai.s es,pecific.umente, t t t t,s 1 t r i t r c í 1 t i t t,t' <' r t t t.t' I i I u t' i r t n t t i,t' t r i b u tai r i o s" . AIér, das c,ntribr-riçires cle competência cla União, observa-se, também, no sistema constitucional tributário vigente, a pos_ sibilidade de essa espécie de tributo ser instituída pelos Muni- cípios e Distrito Federal: trata-se da contribuição para o custeio de iluminação pública, a que se ref'ere o art. 149-A da Carta Magna, introduzida pela Emenda Constitucional n. 39/2002. o constituinte derivado anrpliou o rol de cornpetências tributárias, criantlo nova rnodalidacle de contribuição. Ao Íazer uso dcssa Íaculdadc, o legislador ordinário cleverá observar os linrites impost.s pelo Têxto Supremo, respeitando as materia- lidades cuja competência para tributar peftence aos demais entes f-ederativos e obscrvando os princípios que regem a tribu- tação no ordenamento jurídico brasileiro. Capítulo lll Fontes do Tribut ário . 1.3._Cqntribuições para a seguridade social à luz da constituição Fe- de ral, Ctritiba, Ed. Juruá, 2002, p. l0l. 78 SLuntirilr. I . Fontes do direito. 2. Fontes clo direito positivo e Íilntes da Ciência do Direito. 3. A doutrinl.4. lnstrurrnenkrs introdutórios de nornras tributárirs no Direito blasileiril instrurnentos prirníirios e secundários. 5. Instrumcntos prirnír- rios. 6. lnstruurentos secundários. 7. O conceito de legislaçào tributária para o Círdigo Tributário Nacional. I. FONTES DO DIREITO Por .fontes clo tlireitct havemos de compreencler os focos c.ictores de regras jurídicas, isto é, os órgãos habilitados pelo sistema para produzirem normas, nulna organização escalona- tla, bem como a própria atividadr: dcsenvolvida por csses entes, tcnclo em vista a criação de normas. SigniÍica dizer, por outros Iorneios, que não basta a existência do órgão, devidamente constituíclo, tornando-se necessária sua atividade segundo as rcgras aqui previstas no ordenamento. E órgão credenciado para lcgislar, entrando em movimentação, dá ensejo ao acontecimen- to de um Íàct«r. Eis a Í'onte de que promana o direito. Num cxemplo singelo, não é sut'iciente a existência do Congresso Nacional, como órgão legit'erante da União. É imprescindível que o Parlamento venha a reunir-se e, mediante os tennos do clramado "processo legislativo", edite a lei. Esse fàcto, ainda r;ue muito complexo, tomado numa concepção unitária, é fbn- tc do diploma legislado.O signiÍicado da expressão .fitnte.s do 19 Direito direito irnplica refletirmos sobre a circunstância de que regra juríclica alguma ingressa no sistema do direito positivo sem que seja introduzida por ()utra norma, que chamaremos, daqui avan- te, de "t,eít'ulo inÍrotlulor de rutrruas". Isso.iá nos antoriza a Íirlar erl "nornttt.y irúrotlu:.itlust' e "norntus inlrodutoras". Pois bem, nos lirnites clesta proposta, as .fonte,s do direito serão os acontecimentos clo mundo social, juridicizaclos por regras dcr sistema e credenciados para pxrduzir nonras jurídicas que in- Írotlu?.ant. no ordenamento outras nornras, gerais e abstratas. gerais e concretas, individuais e abstratas ou individuais e con- cretas. Agora, tais ocorrências serão colhidas enquanto atos de enunciação, já que os enuncia<Jos consubstanciam as próprias nonnas. Trata-se de url conceito sobrernaneira relevante porque a validacle cle uma prescrição jurídica está intimamente ligada à legitimidade do órgão que a expeclir-r, bern como ao procecli- mento empregado nel sua prodLrção. Sublinhanclo o papel da enunciaçho, este é o depoimento de Tárek Moussallelr, em seu magnífico Fontes de tlireito tributdrkt: "a partir cla linguagern do veículo introdutor (enLrnciação-enunciada), reconstruímcls ar linguagem clo procedimento produtor de enunciaclos (enr-rncia- ção), e realizamos o confionto entre esta e a linguagem da nonra de produção normativa (fLrndamento de validade do veículo introdutor) para af-erirrllos se a produção nonnativa se cleu ou não em conÍ'ormidade com o prcscrito no or«lenamento"r. Nos esquadros desse modelo, as Íbntes do direito positivo aparecerão como urna estrutura Íirrmada pela hierarquia de eventos previstos como conteúdo de nonnas, em que encontramos, no ápice, a assembleia constituinte. na condição de tbnte superior e, abaixo, os clemais núcleos produtores cle regras, em disposiçào vertical que culmina nos tbcos singulares de que promanam os preceitos terminais do sistema. Mas essa perspectivzr nos oÍêrcce, antes de tudo, uma visão Íactr-ral do clircito. rctlttzitlclo-o it tlllllt organização cle acontecitnetttos dtt t.ttttlttltl sociltl, cill)ilzcs clc cla- bOrar nOtmaS intrOdUtoras cle tluLrlts llol'llltls, sCl)l tltlc cstas últittllts compareçam. Daí por que Lerelttos dc irllaginLlr outro arcabtluçtl piramidal, composto pela hierarquia dos veículos introdutores de normas, advindos da concretizaçíct daqueles eventos acima relericlos. Neste passo,.iá teríamos diante de nós um sistema de normas, se bem que regras voltadas a introduzir oulras normas na ordem total. Bastaria agora, para completar, imaginar a mul- tiplicidade das normas "introduzidets", igualtnente ordenadas e classiÍicadas pela ref-erência aos respectivos veículos introdu- tores, e teremos o sistema do clireito positivcl, na plenitude de sua configuração de sentido. Não é difícil perceber quc t-r sistema de normas, inÍrotluto- ra,s e inÍrutluz.idu.s', integra o que conhecenlos por direito posi- [ivo, ao passo que o conjunto de Íatos aos quais a ordem.iurídi- ca atribuiu teor de juridicidade, se f{tmados na qualidade cle enunc'iaç'ão e não como enunr:itulo,t', estarão formando o terri- tório das Íbntes do tlireito posto. Isso nos permitirá operar colll as tontcs como algo clit-erente do direito posto, evitiLndo. clesse rnodo. a circr-rlaridade ínsita à noção cediça cle lontes como sendo o próprio dircito por ele mesmo criado. É precist, clizer qr-re na ideia que reduz et ordem.iurídica ao complexo clas normas existentes, está contida, por certo, ulla concepção normativista do direito, qLre identiÍ-ica o órgãto.iuri- dicamente legitirnado ou o Íato credenciaclo para a construçIo das Lrnidacles normativas, na medida estrita em que houver regras c;ue incidem nos órgãos, qualiÍicando-os como tais e outorgan- do-lhes a específica competência, assim colno tipificando fatos, i.urs quais se atribuem a Íorça de produzirem outras normas. Isstr nos permite isolar o objeto da Ciência do Direito: cl rtnive.rso das normas jurídicas válidas, nLtm espaço territorial particular- rnente considerado e num momento hist(rrico certo e determi- nado. Repetimos aqui. com Kelsen, qLre o direito não se esgottr 8l l. Rtntc.ç do tl i rciÍo tributário, 2. ed.. Sirc Paukl, Noeses, 2(X)6, p. l :1 l. BO somente no espaço normativo, sendo, como de fato é, um fenômeno complexo, de várias faces, paÍa a configuração do qual muitos fatores concoÍrem. Mas esta seria uma preocupação ontológica sobre o direito, enquanto aqui nosso objetivo é me- ramente epistemológico, buscando saber como é possível uma ciência que estude o direito, assim como ele se apresenta. E, nesse caminho, temos na construção do mestre de Viena uma elaboração notável, mediante a qual nos é dado conhecer as norÍnas de um sistema de direitopositivo historicamente indi- cado, autorizando-nos assim a reconhecer os fatos jurídicos relevantes e as coÍrespondentes condutas interpessoais que eles desencadeiam. É pela descrição normativa que o jurista entra em contacto com o fato da realidade social e com a conduta regulada, regressando à norma.num movimento dialético inces- sante. Desse modo, um acontecimento da vida real-social será ensejador de eficácia jurídica se, e somente se, estiver previsto em norÍna válida do sistema 'S', que o descreve em sua hipó- tese (antecedente normativo), disciplinando o comportamento humano dele irradiado no seu consequente ou prescritor. E,para imprimir o caráúer de uniformidade que toda a ciência reclama, dá-se o corte metodológico da normafundamental, concebida artilrcialmente para fazer da atividade constituinte tmfactum juridicamente hábil para instaurar nova ordem de direito posi- tivo. Fecha-se, então, o sistema, remanescendo para o jurista dogmático tão somente as norÍnas postas, por meio das quais vai aos fatos e aos comportamentos juridicamente regulados. Pois bem: se agregarmos a tudo isso o caráúer de bem cultural, que o direito positivo inequivocamente exibe, enquanto objeto elaborado pelo ser humano paÍa arealizaçáo de certa finalidade - a disciplina da conduta nas relações inter-humanas -,encontraremos então os valores de que todo bem cultural é portador. Daí concluir-se que é precisamente na textura da uni- dade normativa que vamos saber dos fatos e das condutas juri- dicamente relevantes, bem como é nela - norma juídica - que o legislador deposita seus valores. 82 Fortes neSSeS pressupostos t.tlto hes i 1lt t-íit t tl0s c Ill 1lt-trc I amar que o estudo das fontes do dircito cski volLlttkr prittlortliltltttcnte pàra o exame dos Íalos r'nqll:.utl() L'llLlllciação que litzcttl ltasccr regras jurídicas introclutoras, advcrtindo descle logtl que tais eventos só assumerTl eSSa condição por estarem prevtstos em outras normas jurídicas, tudo no âmbito daquela composiçao clialética que já mencionamos. A posição, admitimos, é decor- rência cle uma atitucle cognoscente de quem toma o direito posi- tivo qual sistema de normas, respondendo às perguntas: de onde provêm as regras do orclenamento'? Como nascem? De que modo ingressam no sistema? Quadra-se. perÍ'eitamente. tta cosm()visàtr jurídica cle Lourival Vilanova2, como sobressai deste excerto: As rutrma,s de org,aniz,ttç'ín (e dc crntltetência), e os normLt,s do "prttr:e,sso \egis\ativti', cons'tituciona|- mente Postos, inr:idem em foÍos e os .fatos se tornLtnT jurígeno.s. O que denotninamo's "frtntes tlo direitd' sãtt .fttto,s .iurítlicrts c'riodrtre,s de rtormús: .fato's s'obre os' quai,s irtcidem hiptiteses lácticus, cLando ent res'ultctdo norntos de certu hierartluia. Cabe repetir a nota segundo a qual cls "fàtos-Íontes" zt que alude o insigne professor sãO c'rs Íatos vistos pelo ângulo da cnunciação, isto é, pelo processo, e não do enunciado, pelo produto, que tomamos como as próprias normas introdutoras, construídas pelo órgão competente do sistema. Não tem siclo esse, contudo, o rumo trilhado pela doutrina, no que respeita ao estudo das tbntes. Tomam-nas, muitos auto- res, como o próprio resultado da atividade dos vários órgãos legiÍ'erantes, Íàlanclo, por isstl, em leis (sentido amplo). juris- pruclência (acórclãos e sentenças j udi ci ai s), atos adm i n i strati vtls 2. Lourival Vilanova, Causalidade e relação no direito,2' ed', Sarai- va, 1989, p.24. 83 I (em toda a gama de sua hierarquia) e até no costume. Pondo de lado o costume, de natureza eminentemente fàctual, e que só gera eÍ'eitos jurídicos quanclo integrante de hipóteses normativas, percebemos que assiduamente se confunde a regra jurídica com os veículos introdut<lres de regras no sistema. De fato, as normas ingressam no ordcnamento por intermédio de instrumentos designados por aqueles nomes conhecidos (lei, decreto, poftaria, ato de lançamento, acórdão, sentença etc.), que são de extrema relevância para alojarmos o preceito nos escalões do sistema, mas que também são regras de direito positivo. Tanto é verdade que o conceito prescritivo desses veículos introdutores de nor- mas forma o conteúdo de outras normas, como, por exemplo, o de lei, de sentença, de ato de lançamento. São igualmente construções do direito positivo. Aqui se demora a concepção tautológica com que elaboram celebrados doutrinadores, visto que afirmar ser a lei fonte do direito positivo não significa m;ris do que postular que normas criam normas, direito cria direito, nutra proposição evidente- mente circular, que deixa o primeiro termo como resíduo inex- plicado. E da sorte desse raciocínio participa a impugnação da dicotomia Jonte,s .forntais/fontes materiais. As primeiras são estudadas como fórmulas que a ordem jurídica estipula para introduzir regras no sistema, enquanto as últimas se ocupam dos fàtos da realidade social que, descritos hipoteticamente nos supostos normativos, têm o condão de produzir novas proposi- ções prescritivas para integrar o direito posto. Estas, sim, se tomadas como atos de enunciação, são fbntes de normas, enri- quecem o conjunto, modificando-o de alguma maneira. Mas, para que falarmos em.fontes materiais, se dispomos da expres- são tradicional e legítima fatos ,jurídic'o,s? Outra coisa, bem distinta, é reconhecermos o enorme interesse de investigar os plexos de normas que estão credenciados pelo sistema para o frm de promover a inserção de novas unidades, movimentando-o no sentido de projetar-se sobre a região material da conduta, 84 e coordenando o Í'luxo das interações htttt.tanas. rra clircção que implanta os valores fundamentais da socicclatlc. St-ttl normas que Íalam acerca de normas, regras quc dizem colrto as regras do direito devem ser postas, alteradas ou expulsas clo sistema. Eis o direito se autocompondo, se retroalimentando, para ab- sorver as matérias que outros subsistemas do tecido social, considerado na sua inteireza (político, econômico, ético, reli- gioso, social em sentido estrito etc.), vão paulatinamente of'e- recendo ao júzo do legislador, que decide o modo de aprovei- tá-las para a regulação do compoftamento intersubjetivo. Esse estudo é relevantíssimo. Sem ele, nada poderíamos dizer a propósito da situação hierárquica de determinado preceito que. por qualquer rà27ào, convocasse os nossos cuidados, já que todas as normas jurídicas têm idêntica estrutura sintática (homo- geneidade lógica), embora dotadas de conteúdos semânticos diÍ'erentes (heterogeneidade semântica). É po. aceitar que a norma N' entrou pela via constitucional, que reivindico sua supremacia com relação à norma N", posta por lei ordinária. É por saber que certa norma individual e concreta veio à luz no bojo de um acórdão do Supremo Tribunal Federal, que me atrevo a declarar sua prevalência em tace de outro acórdão proferido por tribunal de menor hierarquia. Neste domínio, recolhemos material precioso para o discurso crítico-descritivo da Ciência do Direito. conquanto seja necessáno enfatizar que isso nada tem que ver com a temática das fbntes. Uma vertente semântica capaz de habilitar a expressàtt "fbnte.frtrmal do direito", aproveitando-a no discurso descritivo, seria aquela que toma avoz "fonte" como a regra jurídica da qual outra norma extrai seu fundamento de validade, satisfazen- do um dos critérios de perlinência ao sistema. Não macula a correção expositiva do cientista declarar que a Íbnte de validade da norma N" está no conteúdo da norma N', que a subordina hierarquicamente. Todavia, este vector semântico é pobre para relatar o fenômeno do aparecimento de regras jurídicas na orde- 85 nação positiva, indicanclo apenas um aspecto da norma válida. mas deixando de lackr aquilo que mais interessaria ao inquérito sobrea gênese empírica das unidades postas no sistema. Ern obsóqLrio ir clareza das proposiçõres científlcas oÍ'ere- cerros ilg()râ, cnr súnrula estrita, a seguinte conclusão: o estudo clas charnatllts fitttlt,,s' nrulcriui,s drt direito circunscreve-se ao cxanrc do proccsso clc cnunciação clos Íatos .jurídicos. de tal nroclo quc ncstc scntido a leoriu dos.fotos' .jurídiccts é a Íeoriu dus fbntcs dogtttóticu,s do tlireito. Paralelamente, as indagações relativas ao te ma das forttcs'.frtrtnais correspond em à teoria dus rtorm.us.jurídica,s, mais precisamente daquelas que existem no ordenamento piira o Íim primorclial de servir de veículo intro- dutório de outras regras jurídicas. Posto que este campo de in- vesti-qação assume caráter de grande interesse e de indiscutível utilidade para o cientista, permitindo-lhe situar as unidades prescritivas nos respectivos patamares cla estrutura piramidal, nada mais raz<lável do que conrpreender o porquê da insistência dos doutos ern discrln-er espaçosamente sobre o assunto. A irnpropriedade fica registrada, mcsmo sabendo que nem sempre é f 'áctl ajeitar a linguagern à nitidez clo pensamento. 2. FONTES DO DIREITO POSITTVO E FONTES DA CIÊNCIA DO DIREITO As Íbntes do direito positivo são as materiais, vale dizer, os acontecimentos que se dão no plano uno e r-núltiplo da Íac- ticidade social, abrangendo os Íatos sociais em senso estrito e os làtos naturais de que participem, direta ou indiretamente, sujeitos de direito. Para que tais eventos adquiram o predicado de Íbntes, mister se fàz que encontrerr qualificação em hipóte- se de nonnas válidas do sisterna. Já por tbntes da Ciência do Direito podemos, numa opção perf-eitamente aceitável, congre- gar tudo aquilo que venha a servir para a boa compreensão do f-enômeno jurídico, tomado como a linguagem prescritiva em t36 que se Verte o direitO. Vem a ponto ttclui ltgtltt'tlLlc o Í'enômeno jurídico cle que falamos coltp()rtit clivct'slts 1l9siçõcs cogllos- citivas: a linguagem nrlrrnutivu. p() scl 1trtljclitr-sc sgbrc a rca- liclade social, enseja "n" postrtrits tirrtnais ditêrentes. São ciên- cias clo direito tllnto a Sociologia do Direito, quanto a História clo Direito, a Antropologia Cultural do Direito, a Política do Direito, a Psicologia Social do Direito e quantas outras, cada qual isolanclo o seu objeto mediante recursos metodológicos que lhe são próprios. Trzrta-se de Íalso problema aquele que cliscute a prop(rsito de superioriclade desta ou daquela posiçàtr cognoscente do direito. Muitos criticam a postura dogmática. tarnbém conhecicla como "Ciência do Direito em sentido estri- to", entendendo-a tragmentária, ptlis se preocLlplt com o direito, apenas como ele é, comt) sc apresenta, aqui e agora, clespo.iado cle aspectos sctciológicos, políticos, cconômicos' históricos e outros, que levariam a Llma visão total do Í'enôrneno. Entretan- to, toclas as «lemais padecem dar mesma insuÍrciência' uma vez qLre a clelimitação do campo objetarl de uma ciência pressupõe. necessariamente, cortes metodológictls. que vàtl constituir o ostilo peculiar àquela proposta cientíÍlca. Turdo depende do objetivo que anima o conhecimento. Quando o intenttl do ana- lista voltar-se para a linguagern do clircito positivo. n:.r pr()cttra clc saber cle sua contextura enqu:.lllt() sistelna de ntlrmas; se ncle cxistem ou não certos institutos. e de que modo tais institutos se relacionam com outros, o único caminho é a dogrnática, que irnplica uma análise intrassistêmica, de alguém que se põre dentro do sistema e dele nã() sai, até que se encontre satist-eito corn os motivos de sua especulação. Regressemos ao ponto de partida. QLrais as Íontes cla dog- rnírtica? Que sofie cle infbrmações podem nutri-la? Que materiais. r)o campo do conhecirnento humano, ser-lhe-ão úteis'? A respos- lu é longa, mas enumeremos alguns pontos indispensáveis, comcr o oxame clas técnicas apropriadas à natureza específica do direi- lo. os ensinamentos da Semiologia; da Semiótica; assim como u7 as modernas pesquisas sobre a linguagem e, dentro dela, as in- vestigações sintáticas (Lógica Clássica para o discurso científi- co e Lógica Deôntico-jurídica para a linguagem normativa), semânticas e pragrnírticas. Tudo isso informa o estudo do Í'enô- meno jurídico, ot'crtando instrumentos valiosos ao jurista que se propcie a descrcvcr a intrincada trama dos enunciados normativos. 3. A DOUTRINA Chama-se de doutrina ao domínio das lições, ensinamen- tos e descrições explicativas do direito posto, elaboradas pelos mestres e pelos juristas especializados. Sua linguagem é emi- nentemente desc'riÍivct, reproduzindo, de forma elucidativa, o conteúdo e os mecanismos de articulação próprios do direito positivo. Alude-se a uma doutrina científic'u sempre que o labor descritivo venha presidido por uma metodologia que a realida- de do direito comporte, e vasado numa linguagem que se pre- tenda rigorosa, .iá que o discurso científrco é artificialmente construído com a Írnalidade de relatar, com precisão, sua reali- dade-objeto. Trabalho doutrinário que não seja animado por reflexões metodológicas ou que não tenha vocação de rigor será obra meramente infbrmativa, sem consistência e feição siste- mática. Iniciativas desse jaez, ainda que possam apresentar, para alguns casos, utilidade prática, não reúnem condições para serem elevadas ao altiplano das ciências. A doutrina não é Íbnte do direito positivo. Seu discurso descritivo não altera a natureza prescritiva do direito. Ajuda a compreendê-lo, entretanto não o modifica. Coloca-se como uma sobrelinguagem que fala da linguagem deôntica da ordenação jurídica vigente. Nem será admissível concebê-la como fonte da Ciência do Direito, pois ela própria pretende ser científica. Quem faz doutrina quer construir um discurso científico, rees- crevendo as estruturas prescritivas do sistema normativo. 88 4. INSTRUMENTOS INTRODUTÓRIOS DIi NORMAS TRIBUTÁRIAS NO DIRE,I'I'O I}RASII,F]IRO - INS- TRUMENTOS PRIMÁNTOS F] SI'CUNDÁNT«TS Queremos evitar o emprego da expressão"Jonte s.frtrntais", que utilizamos em edições anteriores, pelos argumentos já re- f'eridos, motivo pelo qual substituímo-la por "instrumentos in- trodutório,s de normas". Antes, porém, de tocarmos nesse as- sunto, façamos breves ponderações. Nossr-r direito positivo compreende quatro distintos plexos normativos: a ordem total, a das regras f-ederais, a das regras estaduais e o f'eixe de preceitos jurídicos dos Municípios. As três primeiras são próprias do esquema f'ederativo, enquanto a última revela peculiaridade do regime constitucional brasileiro. Tudo pode ser resumido na coalescência de quatro sistemas: a) o sistema nacional;á) o sistema federal;c) os sistemas estadu- ais; e fl os sistemas municipais. Se as diferenças entre a ordem f'ederal, a estadual e a mu- nicipal são claramente perceptíveis, fato idêntico não sucede entre a organização jurídica do Estado f-ederal (sistema nacional) e a da União (sistema f'ederal). Para tanto, em trabalho inexce- dível, Oswaldo Aranha Bandeira de Mellor apresenta os sinais correspondentes aos dois arranjos, de forma precisa e juridica- mente escorreita, dizendo que são ordens jurídicas especiais, posto que as respectivas competências se circunscrevem aos campos materiais que lhes são indicados pela ordem jurídica total. Esta, a ordem jurídica total, está na Constituição do Es- tado federal e sua complementação no contexto da legislação nacional. A c'hamada Constituição Federttl pode ser desdobra- da em duas Cartas di,;tintas: a Constituição totctl e a Consti- tuição da União. I 3. Naturez.a jurídica do Estado federal, Revista dos Tribunais , 1931 , p. 40-5 l. 89 O texto constitucional, lei suprema de nosso ordenamento jurídico, estabelece no art. 5q, II: Ninguém .sertí obrigadoaJ'azer ou deixar defaz.er ulguntu <'oi,v ,renão em virtude de lei. Entenda-se "lci" no sentido amplo e teremos o quadro dos instrurnentos prirnários de introdução de normas no direito brasileiro, válido para as quatro ordens jurídicas que compõem o sistema total. A Iei e os estatutos normativos que têm vigor de lei são os únicos veículos credenciados a promover o ingres- so de regras inaugurais no universo jurídico brasileiro, pelo que as designamos por "instrumentos primários". Todos os demais diplomas regradores da conduta humana, no Brasil, têm sua juridicidade condicionada às disposições legais, quer emanem preceitos gerais e abstratos, quer individuais e concretos. São, por isso mesmo, considerados "instrumentos secundários" ot "derivackt,s", não apresentando, por si só, a força vinculante que é capaz de alterar as estruturas do mundo jurídico-positivo. Realizam os comandos que a lei autorizou e na precisa dimen- são que lhes foi estipulada. Ato normativo infralegal, que ex- trapasse os limites fixados pela lei que lhe dá sentido jurídico de existência, padece da coima de ilegalidade, que o sistema procura repelir. Sintetizemos, para assertar que os instrumentos intro- dutórios cle normas se dividem em instrumentos primários - a Iei na acepção lata - e instrumentos secundários ou derivados - 6s nt6s de hierarquia inferior à lei, como os decretos regula- mentadores, as instruções ministeriais, as portarias, circulares, ordens de serviço etc. Esta classificação dos instrumentos introdutórios é aplicá- vel ao ordenamento como um todo, valendo para a ordem jurí- dica do Estado federal, da mesma forma que para o sistema nacional, para os sistemas estaduais e para os sistemas munici- 90 I pais. Por decorrência lógica, é o critério que dcvc scr adotad<r no plano das relações tributárias. 5. INSTRUMENTOS PRIMÁRIOS No segmento jurídico que disciplina as situações e relações tributárias, vamos encontrar, como, de resto, em todo o direito posto, instrumentos introdutórios primários e secundários. Os primeiros são: l) A lei constitucional, instrumento primeiro e soberano, que se sobrepõe aos demais veículos introdutórios de normas. Abriga, em grande parte, regras de estrutura, quer dizer, normas que prescrevem como outras normas devem ser produzidas, modificadas ou extintas. São verdadeiras sobrenormas, porque falam não diretamente da conduta que suscita vínculos tributá- rios, mas do conteúdo ou da forma que as regras hão de conter. É na Lei das Leis que estão consignadas as permissões para os legislativos da União, dos Estados e dos Municípios instituírem seus tributos, como também é lá que estão fixados os limites positivos e negativos da atividade legiferante daqttelas pessoas. Igualmente, é o texto constitucional portador dos grandes prin- cípios que servem como diretrizes supremus a «lrientar o exercício das competências impositivas, consagrando os postu- lados que imprimem certeza c segurança às pretensões tributá- rias do Estado e, em contrapartida, preservam e garantem os direitos individuais dos cidadãos. No Brasil, ocupando-se demoradamente da matéria tributá- ria, o texto constitucional não é o núcleo jurídico adequado para a criação de tributos. Por abrigar normas de sobrenível, soaria rnal, em termos de boa técnica, encontrarmos lá disposição que f'erisse diretamente a conduta, regulando-a com o modal deônti- c<'s obrigatório (O), para o fim de instituir alguma exação. E.ssa providência esdrúxula, entretanto, acabou acontecendo, pelo (lue se lê do art. 8n, IV da Constituição Federal, assim escrito: 91 I A assentbleia geral.fixará a contribuiç'ão que, en't se tratantlo de categoria pro.fissional, serci descontada em follut, poru custeio dtt sistema confederativo da re p re se nl oç'tio s indical re spe ct iva, inde pende nte mente tla conÍribuição prevista em lei. E. com fundamento de validade neste comando constitu- cional, o Sindicato dos Advogados de São Paulo expediu noti- ficações às empresas, comunicando a realização de Assembleia Geral, ocasião em que fbi Íixada a contribuição anual devida à entidade, para custeio do respectivo sistema confederativo, em 3Vo (três por cento) do salário do advogado empregado, obser- vado o teto de 3 (três) OTNs. A importância correspondente deveria ser descontada ao ensejo do primeiro pagamento após recebida a notificação, sob pena de caracterizar-se a mora, su- jeitando o empregador a correção monetária e juros moratórios, na fbrma da lei. O pagamento deveria ser Í'eito mediante guia que acompanhava a notificação, até o décimo dia útil do mês seguin- te ao desconto, em qualquer agência do Banco do Brasil. Não vamos aqui ingressar no mérito da exigência. Uma coisa, porém, é certa: trata-se de norma individual e concre- ta, válida no sistema do direito positivo brasileiro, até que, pelas vias predicadas pelo próprio ordenamento, seja cassada sua juridicidade, fato que ainda não se veriÍlcou. Teria o legislador constitucional criado um tributo, com a fi gura dessa c o n t r ih u i ç' ã o c o nfe de rativ a? lmpossi bil idade j urí- dica ou lógica não há e as notificações foram efetivamente expedidas, gerando, muitas delas, os eÍ-eitos perseguidos. Nãtl pode o jurista dogmático, concordando ou não com a exigência formulada, deixar de referir-se à norma fundante e à norma fundada, pois ambas pertencem ao sistema vigente. Sobra-lhe a via de insurgir-se contra a pretensão, pelos caminhos que o mesmo sistema lhe oterece, mas esse proceder não é mais do jurista dogmático e sim do político do direito que clama pela expulsão da norma que ele reputa infringir princípios funda- mentais da ordem jurídica. 92 J A ponderação sobre esses aspectos nos pcrmitc asseverar que, entre as interpretações.iurídicits possíveis, utna delas há <Ie reconhecer que, nesta hipritese, a Constituição cle l9tltl instituiu diretamente um tributo chanrado contrihuição t'onÍede rativu. Outra, quem sabe mais consistente, entenderá que o constituin- te outorgou competência aos sindicatos para instituir o tributo, completando sua regra-matriz ao estabelecer a base de cálculo e a alíquota aplicável. 2) A lei complementar, coÍn sua natureza ontológico-for- mal, isto é, maÍéria especialmente prevista na Constituição e o quorum qualificado a que alude o art. 69 da Constituição Fede- ral - maioria absoluta nas duas Casas do Congresso, cumpre hoje função institucional da mais alta importância para a estru- turação da ordem jurídica brasileira. Aparece como significati- vo instrumento de articulação das normas do sistema, receben- do numerosos cometimentos nas mais dit-erentes matérias de que se ocupou o legislador constituinte. Viu afirmada sua posi- ção intercalar, submetida aos ditames da Lei Maior e, ao mesmo tempo, subordinando os demais diplomas legais. Não há como negar-lhe, agora, supremacia hierárquica com relação às outras leis que, por disposição expressa no parágraf'o único do art. 59, nela terão que buscar o fundamento tbrmal de suas validades: Lei complementar tlisporú nbre u elubrtraçãtt, redaç'ão, ulte- ração e consolidação das Leis. Para temas tributários, a Lei Básica de 1988 prescreveu muitas intervenções de legislação complementar, que vão des- de a expedição de normas gercri,s (art. I 46,lll) até a própria instituição de tributos, como no caso da competência residual da União (art. 154,1), ou na hipótese de empréstimos compul- s(rrios (art. 148, I e II), passando por uma série de assuntos dos rnais variados matizes. Assim é que o imposto sobre heranças c doações (art. 155, I) terá regulada por lei complementar a ccrmpetência para sua criação, em duas situações previstas no nresmo art. 155, § la, III, a e b. Esta categoria de estatuto legis- 93 I lativo recebe as incumbências do inc. XII,a a i, onde valiosos tópicos do ICMS são ret'eridos. Para mais, cabe à lei comple- mentar "definir os serviços de quaLquer natureza, não compre- endidos no art. 155. Il(art. 156, III)", bem como fixar as alí- quotas máximas e mínimas do imposto sobre serviços de qualquer natureza, podendo excluir da sua incidência exporta- ções de serviços para o exterior, além de regular a forma e as condiçõles como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revoga«los (art. 156, § 3q, I a II[). Não excede recordar que a Lei n. 5.112166 - o Código Tributário Nacional - foi aprovada como lei ordinária da União, visto que naquele tempo a lei complementar não apresentava o caráúer ontológico-formal que só foi estabelecido com o adven- to da Constituição de 1967 . Todavia, com as mutações ocorridas no ordenamento anterior, a citada lei adquiriu eficácia de lei complementar, pelo motivo de f-erir matéria reservada, exclusi- vamente, a esse tipo de ato legislativo. E, com tal índole, foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. 3) A lei ordinária, que pode ser editada tanto pela União como pelos Estados e Municípios, no delineado campo de suas competências constitucionais. Sendo o Brasil uma República Federativa, o que pressupõe a autonomia dos Estados, e vigen- do entre nós o princípio da autonomia dos Municípios, não há que se cogitar de supremacia da lei ordinária federal em relação à estadual e à municipal. Desfiutam do mesmo statusjurídico, discerníveis apenas pelo âmbito da competência exercida. As pessoas titulares da possibilidade legislativa estão parificadas, naturalmente quando desempenham seus poderes jurídicos dentro da esfera que a Constituição prevê. A lei ordinária é, inegavelmente, o item do processo legis- Iativo mais apto a veicular preceitos relativos à regra-matriz dos tributos, assim no plano federal, que no estadual e no municipal. E o instrumento por excelência da imposição tributária. E esta- belecer um tributo equivale à descrição de um f-ato, declarando 94 os critérios necessários e suficientes para o scrl rcconhccilncn- to no nível da realidade objetiva, alénr dc prcscrcvcr o collrpor- tamento obrigatório de um sujeito, compondo o esqucma de umarelação jurídica. Diríamos, em linguagem técnica, que criar um tributo corresponde a enunciar os critérios da hipótese - material, espacial e temporal - sobre os critérios da conse- quência - subjetivo (sujeitos ativo e passivo da relação) e quantitativo (base de cálculo e alíquota). Assinale-se que à lei instituidora do gravame é vedado deferir atribuições legais a noÍrnas de inferior hierarquia, deven- do, ela mesma, desenhar a plenitude da regra-matriz da exação, motivo por que é inconstitucional certa prática, cediça no orde- namento brasileiro, e consistente na delegação de poderes para que órgãos administrativos completem o perfiljurídico de tribu- tos. É o que acontece com diplomas normativos que autorizam certos órgãos da Administração Pública federal a expedirem norrnas que dão acabamento à figura tributária concebida pelo legislador ordinário. Mesmo nos casos em que a Constituição dá ao Executivo Federal a prerrogativa de manipular o sistema ile alíquotas, como no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), tudo sefaz dentro de limites que a lei especifica. Cabe ainda à lei ordinária preceituar os deveres instrumen- tais ou formais, impropriamente conhecidos como obrigações ucessórias, que propiciam a operatividade prática e funcional do tributo. De nada adiantaria construir o legislador a regra padrão de incidência, determinando a compostura da figura típica, se não dispusesse acercados meios adequados e idôneos tle acompanhar seu aparecimento no mundo factual, permitindo aos interessados na relação o controle do nascimento, da vida c da extinção das obrigações tributárias. Para isso é que existem os deveres fbrmais ou instrumentais que contribuintes e não contribuintes estão compelidos a observar, tornando possível o cxato conhecimento das particularidades que cercam os vínculos 95 atinentes aos tributos. No entanto, como irnplicam fazer ou nào fazer alguma coisu, somente a lei pode instituÊlos, e essa lei quase sempre é ordirrária. Outro tanto se diga a pretexto dos atos aclministraLivos que os agentes do Poder Público celebram no descnrpcrrho dus lirnções Íiscalizadorâs e arrecadadoras. -ltrdos ()s ltl()s lrtlntinisttlrtivtls tie lilro extern() quc possurn in- tcrl'crir nu cslcra .jLrrítlica ckls adrninistrados devem estar pre- vistos enl nonnas clc lci orclinária. 4) A lei delegudt é rrais urna exceção z\ regra genérica pela qual a atividade que consiste ern editar cliplornas legais pertence, com exclusiviclacle. ao Poder Legislativo. De acordo com a Constituição de l9tltl, serão elas elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional (CF, art. 68), que se maniÍ'estará rnediante resolução, especiticando o conteúdo e os termos de seu exercício (art. 68, § 2a). Esta mesma resolução, se assim o entenderem os parla- menLares, poderá estabelecer que o Presidente ol'ereça o projeto, cluc scrá apreciado enr votação única, vedada qualcluer emenda (art. (r[3, § 3n).A dclcgação que o Texto Supremo prevê é conhe- cida como e.rtcrno trtrpori.t, não existindo miris aquela que se íazia para comissão do Congresso Nacional ou de qualqr-rer de suas Casas (intentu corporis'). Além clisso, entre as matérias que não podem ser delegadas estão as reservadas à lei complementar, do clue decorre o impedimento de utilizar-se aquela Íórmula do processo Iegislativo para a instituição do empréstirro compulsório (CF. aí. 148), ou para a criação de irnpostos, pela União, em sua Íaixa de competência residual (art. 154, I), e todos os demais as- suntos tributírrios para os quais o Diploma Fundamental indique a lei complementar como estatuto adequado. Oru, na medida em que reconhecemos o númenr proÍuso de leis complementares, apontaclos na Constituição para atuar nos domínios tributários, é válido concluir que o emprego da lei delegada não tem a ampli- tLrde de oLrtrora. limitando-se a setor restrito. 5) As' medidus provis(trias constituem inovação da Carta de 198U. Sob o ângulo político, diríamos que vierarn compensar 96 a União pelo desaparecirncnto do clccrcto-lci. Scu pcr.í'il jur-írli- co, nãt) obstante, é cliverso. Bcnr r;uc suborrl inlrrlirs lr()s I)r'cssr.r- ;-rostos de relevância e Llrgônciu. suo cx;rcdiclus pclo pr-csiclcrrtc da República e irradiam, dc pronlo. todos os eÍ-citos para os c;uais estão preordenadas. O Chel'c do Executivo, ao eclitá-las. corn Íorça de lei, sLrbntetô-las-á de irnediato à apreciação tlo Cclngresso Naciorral. Pode-se aÍirmar, por isso tnesrno, que é lr'aço imanente à fisionomia jurídica da enticlade o entrar em vigor imecliatumente quando publicada. Abriga uma contradiçào clc ordem semântica cogitar de nredida provisória publicacla, nrlrs coll prazo inicial de vigência lixado em tempo posterior. lr a urgência? Este é o conteúdo d<t t,uJtLrÍ do art. 62 daConsti- (uição, na conformidacle das alterações introdLrziclus pela Erren- rla n. 32, de ll de setembro de 2001. valcnclo salientar que rrgora, por Íbrça do § 54, "A delihcrtrção tle t.atltt ulrtt dcrs Ca,;a,ç tlo Cortgre.tso Nucionol srhre o mérito dus ntetlitlu.s pn»i,rriria.t tlcperulerá de.juí:o prévio sobre o aterulintenÍo dc ,\'eu.\ pres,\Lt- 1 t r t.s' tr t s c' r t tt,s Í i Í ttt' i.o na i.s " . Parece que Í'oi lentbrada, ao ensejo dessa pequena reÍbrma, Ir advertência tão sovada quanto reiteraclarnente esquecida: os r-cqr-risitos assinalados pelo legislador constituinte são parir vlrlcr. Exige-se a sintultzrneidacle de ambos, serr o quc inexisti- ni clirna juríclico para a prcdução da rnedida. Trata-se clo co- rrcctivo conjuntorexpressamente representatlo pelo "e". A es- lnrlura lógica da l'rase n()nnilliva nào colnporla interpretaçà«r sintática de outra ordem, reclamando que els duas proposições t'orrjuntas se verifiqucm no munclo dos fàtos sociais, para que :r iniciativa possa ser descncadeada. Agora, sc os vocábulos tt4gência e reLevânciru são portadores de grande amplitude sig- rrillcartiva, sujeitos a padrões axiológicos cambiantes, que lhes rLlo timbre de fbrte instabilidade, isto é outro problema, cu.ia so I ução demanclará esÍorço con struti vo da comu n idade.j urídica. t'spccialmente do Poder Judiciário. Aquilo que devemos evital ( onro singela homenagem à integridade de nossas instituições. ti t;ue tais requisitos sejarn empregados acriteriosatrente, sem 91 vetor de coerência, de modo abusivo e extravagante, como acontecera com o decreto-lei. São símbolos jurídicos que pa- decem de anemia semântica, com sentidos difusos, mas não deixam por isso de ter uma significação de base, um minimum que nos habilita a dcsenhar o quadro possível de suas acepções. Quanto ao rttais, as questões não se simplificam. Os §§ 3e e 7a daqucle lncsfflo arÍ. 62 exibem, de modo ostensivo, a exis- tência do direito de o Congresso Nacional rejeitar, por conduta omissiva, a meclida provisória comunicada pelo Presidente da República. Estamos diante de uma faculdade (Fp), consistente na permissão bilateral de fazer (Pp) e de não fazer (P-p). Em linguagem formalizada, teremos: Fp = Pp . P-p, onde "=" é a equivalência (bicondicional tautológica); "Fp", a faculdade jurídica de realizar a conduta "p", "Pp", a permissão de concre- tizár-\a (torná-la efetiva por comissão), "P-p", a permissão de náo realizáJa (comportamento omissivo); e " . " o conectivo que exprime a conjunção lógica (que somente será verdadeira quan- do as duas proposições o fbrem). Desformalizando e adaptando a Íórmula à dicção constitucional, diríamos que o Congresso está investido da permissão bilateral (faculdade) de examinar a medida provisória. Poderá empreendê-lo por comissão' isto é, legislando no sentido de aprová-la (total ou parcialmente) ou de rejeitá-la; como terá, também, a autorizaçáo de ignorá-la, sobre ela não legislando no período de cento e vinte dias, com- portamento que manif-estará, categoricamente, sua omissão. É certo quc a Emenda n.32/2001 procurou estimular a aprcciação da medida, mesmo que para rejeitá-la, prescrevendo a entrada no regime de urgência e o sobrestamento de todas as deliberações parlamentares, em ambas as Casas, se, decorridos quarenta e cinctt dias da publicação, a providência vinda do Executivo ainda não tiver sido apreciada (§ 6n). O argumento prescritivo é ptilcroso, mas não impede que o Congresso per- rnancçir silente, operando a autorização de não fazer,náo legis- larr. contluti-r omissiva para a qual está habilitado. Tanto assim 9t3 que o § 10, ao vedar a reedição de nrcdida provistiria na r.ncsma sessão legislativa, inscreve as duas possibilitlaclcs: (i) rc.iciçr.ro e (ii) perda da efictícict prtr decur:;o tle pruz.o. Se houver deli- beração pela negativa, ter-se-á por rejeitada expressamente a medida. A perda da eficácia, porém, equivale à rejeição tácita. Na verdade, o prazo de sessenta dias para a vigência da medida provisória, na forma do que dispõe o § 3n, do art. 62, será prorrogado por igual período, uma única vez, à contar de sua publicação, sempre que o correspondente processo legisla- tivo de aprovação não tenha sido encerrado nas duas Casas do Congresso Nacional (§ 7q, do art.62). Tal consideração explica o intervalo de cento e vinte dias acima ret'erido. ficando certo que a fluência desse lapso de tempo somente será suspensa durante os períodos de recesso do Congresso (§ 4a). É preciso não confundir a prorrogação da vigência da me- dida com sua reedição. Aquela é automática, toda vez que se verificar o pressuposto. Esta última (reedição) dependerá da iniciativa do Poder Executivo, vedada para a mesma sessão le- gislativa, tanto em caso de rejeição, quanto na hipótese de perda da eÍrcácia por decurso de tempo (§ l0), como ficou anotado. A experiência brasileira com esse instituto, ao menos até o advento da falada Emenda n.321200l, não fbi das mais aus- piciosas. De modo indireto, o Chefe do Executivo tolheu, no meu entender abusivamente, legítimas prerrogativas do Parla- mento, que não pôde exercer a Íaculdade de rejeitar, por omis- são, as medidas provisórias que lhe eram encaminhadas. Esgo- tado o tempo de vigência, o Presidente da República reeditava a medida, tantas vezes fossem necessárias para sustar a irreme- diável perda e.r tunc de sua eficácia, expediente que compro- metia a dinâmica prevista pela Constituição de I988. Em edições anteriores deste livro, expressei as razões que sustentavam meu entendimento no sentido de radical discor- 99 dância com a prática das sucessivas reedições de medidas provisórias pelo Executivo. Passo a reproduzi-las: "Dois orgumentos são decisivos para ctfustar esta inter- pretução redutora de comltetências do Poder Legislcttivo: urn, estritumente jurídit'tt, n().\ remete ao tratamento constitucionul das matérias rejeitadas, que é inequivocamente restritivo. Dc .fato, o art. 60, § 5e, estcttui que 'A matéria constante de propos- ta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa' . E, para que não se diga que é restritivo por considerar as emendas à Constituição, eis a mensagem do art. 67, mt que toca às demuis leis do si.stemct: 'A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta de maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional'. O oLttro, de cunho histórico, nos recorda que a aprovação do decreto-lei peLo Parlamento brasileiro ytdia dar-se tanto por legisLação expressa (decreto legislativo) como por decurso de prazo (conduta omissiva clo Congresso). Por que, entcio, ima- ginar-,se que a medida provisória esc'aparia de,sse regime? Onde o dispositivo explícito que lhe outorgue o privilégio? Não têm elas força de lei 7 Que significa, em linguagem jurídica, ctfirmar que c:erta.figura tem.f'orça de contrato, de ato administrativo, de lei/ Exprime, sem necessidade de maiores divagaç(tes, que à mencionada.figura se aplica o regime jurídico de contrato, de ato administrcttiwt, de lei. Em outras palavras, ossevera-se que os princípio.s constituc'ionais e toda a tranta rutrmativa que condicionam o contrato, o ato administratiwt e a lei subordi- narão, iguaLmente, a vida jurídica da entidade, salvo os aspec- tos, é (tbvio, inerentes à sua pnipria individualidade". a) O .§ 3e do art. 62 da Constituição Federal A análise despreocupada do § 3q do art.62 parece propor que, rejeitada a medida provisória, esta há de perder sua eficá- 100 cia, a contar da publicação (ct'eitrt t'.u tttttt'). n.tovitttcntatttlo-se o Congresso Nacional para o Í'irn clc di,st'iltlittttr us raluç'õa,s .jurídicas dela decorrenÍe,\. Quenr se ittiver à lcitLrra pura c sim- ples do texto diflcilmente deixará cle entender que cabe ao Poder Legislativo regrar as situações juríclicas remanescentes, sempre que a proposta Íor rejeitada. Contudo, meditação mais atenta demonstrará logo que, havendo a perda da eficácia, con- tada de sua entrada em vigor, os ef-eitos da medida serão des- f'eitos. Isso, naturalmente, com relação àqueles que suportarem o desfazimento, visto que os já consumados ganharam definitivi- dade, podendo-se, quando muito, estudar a composição dos clanos porventura veriflcados. Se assim é, considerando-se que tais situações fogem por completo dos esquadros genéricos da previsão legislativa, em vista da extraordinária gama de eventos que podem assumir tal condição de imutabilidadejurídica, o rcmédio apropriado será invocar a prestação jurisdicional do listado, para que, mediante a expedição de normas indivitluais c concretas, o Poder Judiciário atenda às peculiaridades de cada caso, fazendo incidir o direito positivo nos variados tipos de concreção Íactual insusceptíveis de desfazimento. Tomemos o cxemplo de alguém que se viu privado da liberdade cm virtude cla aplicação de regra contida ern medicla provisória que não Iogrou aprovação (expressa ou tácita) pelo Parlarnento. De cvidência que a violação de seu direito à liberdade consolidou- -sc de tal modo que a desconstituição do ato se tornou impos- sível. Cumpre ao prejudicado, em Íàce da lesão de seu direito irrtlividual, buscar decisão judiciária que, não podendo recom- por a situação anterior, determine a reparação do dano ef-etiva- nlcnte praticado. Mas, convenhamos, isso dista de ser função tlo Poder Legislativo, mesmo porque, como já Íbi dito, os acon- lccimentos dessa naÍuÍeza revestem-se de múltiplas e imprevi- síveis colorações existenciais, reclamando grau de especifici- tlatle que só o Judiciário pode oferecer. De mais a mais, cometida atribuição desse tope ao Legis- lutivo, frcaria ele entretido com assuntos que julgou irrelevantes, l0l inoportunos ou incompatíveis, representando autêntica violên- cia contra esse Poder da República compeli-lo a restaurar a ordem jurídica arranhada por expedientes utilizados com açodo ou imprevisão pelo Executivo. sua missão constitucional está bem longe de ser csta. A doutrina dominante utilizou argumento que peleja contra a tese exposta, tlrmado na posição sintática da cláusula final do antigo parágrafo único do art.62 da Constituição Federal e que hoje poderia ver-se espelhado no § 3a do mesmo rutigo. associa- da que está, no conjunto frásico, à hipótese de rejeição da medi- da pelo Congresso Nacional. Tal fundamento, no entanto, é precário: a topologia das orações no peíodo da linguagem nor- mativa nunca foi critério para ponderações desse gênero, conhe- cido que é o desarranjo dos comandos jurídico-prescritivos, es- parramados em desnexo pelo universo do sistema de normas. Acredito que a exegese dotada de maior racionalidade aponta para o caso de acolhimento da medida provisória (total ou parcialmente) pelo Congresso. Aqui, sim, há não só campo fecundo para o desempenho da função legislativa, como neces- sidade de imediatas providências de teor interativo. Com efeito. ao converter-se em lei, perde a medida seu caráter provisório e ingressa, definitivamente, na ordem jurídica, suscitando adap- tações imprescindíveis para que se mantenham a harmonia e o bom Íuncionamento do direito positivo. A mera aceitação da medida proposta pelo Presidente da República, na sua integri- dade, ou a hipótese de modificações que lhe alterem a substân- cia ou a f'orma postulam do legislador outro esÍbrço que virá a título de corolário ou de decorrênciír, como pref'eriu o consti- tuinte. E o mencionado empenho se consubstancia em editar ouÍras normo.s jurídic.tts que promovam os ajustes inerentes ao ingresso das primeiras, consolidando-se o equilíbrio e a funcio- nalidade do sistema. Daí concluirmos que a produção de regras disciplinadoras, por via de decreto legislativo, das reluç,ões .jurídicas clelas dec'orrentes se aplica às medidas que encontram tíJ2 apoio no Parlamento e destina-se al adaptar a n()va lci (resultado da conversão) às exigências do sisterna clc quc pilssou a laLt,er parte, o que certamente requer acertos intcrnonnativos clc ín- dole axiológica, sintática e sernântica. Bem se vê que a medida provisória, levada a sério, repre- sentará perigoso instrumento para o Poder Executivo, na propor- ção em que lhe caiba responder pela composição dos danos emergentes, ocorridos no intervalo que vai da edição até arejei- ção expressa ou tácita pelo Legislativo. Convocadaaressarcir os prejuízos causados em eventos protocolarmente identificados, a União ver-se-á onerada, reiteradamente, por Íbrça de iniciativas mal concebidas ou propostas em termos inapropriados. Dispensável dizer que as situações Íormadas ncsse entre- meio constituem sempre matéria social pronta para ser absor- vida pelo subsistema normativo, bctstando, é claro, que desper- te o interesse criativo e disciplinador do Potler Político. Aqui- lo que contestamos, porém, é a relação deonticamente necessá- ria entre a rejeição expressa ou tácita da medida e o regramen- to dos efeitos propagados. Opostamente, tal disciplina se afi- gura não só importante como até indispensável, na contingência de aprovação (integral ou parcial) da medida provisória. É de lamentar que o próprio Congresso Nacional, numa atitude de automutilação de suas prerrogativas constitucionais, tenha adotado entendimento diverso, como se extrai da Reso- lução n. l-CN, de 1989, que dispõe acerca da apreciação das medidas a que se ref-ere o art.62 da Constituição. No parágrafo único do art. 6q desse documento está consignado que, rejeita- da a matéria, seja pela não veriÍicação dos pressupostos, seja pelo inacolhimento do conteúdo,"a Cotnissão MisÍa ektborarcí ProjeÍo de Decreto Legislativo disciplinando as relaç:ões jurí- dicas decorrentes da vigência da Medidct, o qual Íerá sua tra- mitação iniciada nu Câmara dos Deputados". b) O processo de aprovctção e o veículo em que se conver- te a medida provisriria 103 Comunicadas por mensagem da Presidência da República, as medidas provisórias serão apreciadas primeiro pela Câmara dos Deputados (§ 8a) e depois pelo Senado, cabendo a uma comissão mista de deputados e de senadores examiná-las, pre- liminarnrente, quanto ao atendimento de seus pressupostos constiLr.rcionais, ntediante parecer (§§ 5a e 9'q). C) instrurnento «le deliberação do Congresso será o decreto legislativo, quer para converter a medida em lei, quer para re- jeitá-la. E o § 6q prescreve, como já tbi anunciado, que o pro- jeto ingresse em regime de urgência se a medida provisória não for apreciada em quarenta e cinco dias, ficando sobrestadas todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando, até que se ultime a votação. Veda-se a reedição, no período da mesma sessão legislati- va, tratando-se de medida rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia pelo decurso do tempo, mas se abre espaço à prorroga- ção de mais sessenta dias, ainda que sem iniciativa do Poder que desencadeou o processo. O § I 1 encarrega-se de elucidar que a não edição do de- creto legislativo a que alude o § 3n, no prazo de até sessenta dias após a rejeição ou perda da eficácia de medida provisória, acar- retará que as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados ilurante sua vigência permaneçam regidas pelo inteiro teor daquela medida. Tal dispositivo interessa diretamen- te aos casos em que se discute a eventual restituição de valores recolhidos com fundamento em medidas ao depois rejeitadas pelo Congresso. Curioso assinalar que a inaceitação explícita, bem como o regramento, por iniciativa parlamentar, dos mecanismos de ajuste necessários à inserção da medida provisória no ordena- mento jurídico operar-se-ão por meio de decreto legislativo. E, por intermédio desse mesmo veículo, o Congresso aprovará o projeto de conversão que, uma vez sancionado pelo Chefe do 104 Executivo, transformar-se-á em lei ordinírria. Jír ni'ur cahc, por- tanto, a exegese segundo a qual a cspécic de ligura lcgislativa resultante da conversão Í'icaria na dependência da rnatória dis- ciplinada na mensagem, de tal modo que, t'erindo tema de lei ordinária, nesta se converteria; se o assunto fosse pertinente ao âmbito de competência de lei complementar, nesse tipo de di- ploma haveria de transformar-se, e assim por diante. Outra vez, a Emenda Constitucional n. 32 veio a trazeÍ luzes à compreensão do tema, estatuindoque é vedada a expe- dição de medidas provisórias sobre matéria reservada a lei complementar (§ le, III). Ora, como os demais itens do proces- so legislativo seriam incogitáveis, remanesce a lei ordinária como produto exclusivo da conversão. c) As relações jurídico-tributárius e a utiliz,ação de medi- da.s provis(trias A medida provisória tem servido de instrumento para uma série de providências juídico-políticas, nos mais variados campos. O PoderPúblico federal não tem hesitado em acioná-laparafazer valer seus propósitos governamentais, sem se preocupar com os limites materiais que a rígida discriminação de competências estabelece. Tudo isso sob o olhar complacente do Judiciário e muitas vezes até com o aplauso de representantes da doutrina. Faço questão de lembrar que desde a instalação da ordem .jurídica vigente, até agora, tenho sustentado a incompatibilida- de do expediente previsto no art. 62 da Constituição Federal, não só com o acatamento ao princípio da anterioridade tributá- ria, como também com a manifestação de consentimento por parte dos administrados. Eis que a Emendan.32, em boa hora, veio a restabelecer o equilíbrio do sistema, dizendo por outra lilrma, mas deixando suficientemente claro, que a medida pro- visória não poderá instituir ou majorar tributos. Isso porque, rrada obstante os termos da frase legislada, torna-se imprescin- 105 dível que a lei de conversão tenha sido publicada antes de en- cerrado o exercício tinanceiro. A disposição, contida no § 2q do art.62, abre apenas exceção para os impostos extraordinários, uma vez que os previstos no art. 153, I, II, [V e V são criados por lei e podem ter suas alíquotas majoradas mediante singelo decrcto tlo Presiclentc cla República, nos termos em que a lei o adrnitir. O enrprcgo tle nredida provisória, como se vê, assume carírtcr dcspicientlt) para tal frm. Pcnso que nos horizontes do direito constitucional tribu- tário, do modo como está posto, a medida cumprirá a Íunção de mera iniciativa do Chefe do Executivo, no sentido de desen- cadear o processo de elaboração da lei em que será convertido o projeto aprovado. Por outro lado, é importante fiisar que as relações jurídico- -tributárias que veiculam deveres instrumentais ou fbrmais, chamadas de "obrigações tributárias", continuam podendo ser instituídas e disciplinadas por esse tipo de diploma normativo. 6) O dec'reto-legi,slativo é o estatuto expressivo das com- petências exclusivas do Congresso Nacional e está no nível da lei ordinária. Aprovado por maioria simples, não tem sanção, sendo promulgado pelo Presidente do Congresso, que o manda publicar. Adquire grande relevância no direito brasileiro como veículo que introduz o conteúdo dos tratados e das convenções internacionais no sistema normativo, como se presta às assem- bleias legislativas estaduais para absorver o teor dos convênios celebrados entre as unidades federadas, transformando-os em regras jurídicas vál idas. Esclareça-se que os tratados e as convenções internacionais, bem como os convênios interestaduais, não são poftadores de força vinculante. É imperioso, por decorrência do princípio da legalidade, que a ordem jurídica recolha a matéria desses atos multilaterais de vontade, sem o que não se dá a produção de normas válidas no direito pátrio. E é precisamente por essa razão 106 que o decreto legislativo assume irnpor-tância signil'icativa corno instrumento primário de introduçi-ur de regras tributárias. 7) As res'oluç:ões, tanto do Congresso Nacional corno do Senado, à semelhança dos decretos legislativos, são aprovadas por maioria simples, sendo promulgadas pela Mesa do Senado ou do Congresso, conforme o caso. Ainda que não sejam leis em sentido estrito, revestem-se do statusjurídico próprio da lei or- «linária e, atuando em setores que a Constituição lhes demarca, são também instrumentos primários de introdução de normas tributárias. Nesse campo da disciplina jurídica importam mais as resoluções do Senado Federal, restando para a resolução do Congresso aprovar a delegação de poderes legislativos ao Pre- sidente da República, que, como vimos, pode dispor sobre rnatéria tributária. Fica fora de dúvida, porém, que o contribuin- te cometeu mais atribuições ao Senado, que, por via de resolução, Ílxará as alíquotas máximas do imposto sobre heranças e doações (CF, art. 155, § lo, lV), bem como estabelecerá as alíquotas de ICMS aplicáveis às operações e prestações, quer as interestaduais, quer as de exportação (CF, art. 155, § 24, IV). Ao lado disso, con- loriu-lhe a faculdade de estipular as alíquotas mínimas de ICMS nas operações internas (CF, art. 155, § 2e,Y , tt) e também as má- ximas, nas mesmas operações, quando houver conflito especÊ Íico que envolva interesse de Estado (CF, art. 155, § 2e,V, b). 6. INSTRUMENTOS SECUNDÁRIOS Os instrumentos secundiários são todos os atos normativos que estão subordinados à lei. Não obrigam os particulates e, quan- to aos funcionários públicos, devem-lhe obediência não propria- nlente em vista de seu conteúdo, mas por obra da lei que determi- rra sejam observados os mandamentos superiores da Administração. l) O decreto regulamentar é ato da competência privativa tlos chefes dos poderes executivos da União, dos Estados, do 107 Distrito Federal e dos Municípios. Não dotados de autonomia, servem para possibilitar a fiel execução das leis. Roque Carrazzaa define o regulamento como um ato rutrmutivo, unilateral, ine- re nt e à .fir n ç [i o a tltn i n i,s t rat iv a q u e, e spe c ifi c undo o s mandu nte n - Íos tle unn lei ntfut ttuÍottltlicável, cria nonna.s.jurídicas gerais. Por estar adstrito ao âmbito de lei determinada. o decreto regulantentar não poderá ampliá-la ou reduzi-la, modificando de qualquer firrrna o conteúdo dos comandos que regulamenta. Não lhe é dado, por conseguinte, inovar a ordem jurídica, fa- zendo surgir novos direitos e obrigações. Daí sua condição de instrumento secundário de introdução de regras tributárias. Pondere-se que o chef'e do Poder Executivo somente está autorizado a expedir decreto regulamentar quando a lei não fbr autoexecutável e, obviamente, em matérias que lhe cumpra disciplinar, o que significa reconhecer o descabimento jurídico da regulamentação de leis civis, processuais, penais etc., que sejam aplicáveis diretamente pelos administrados ou pelo Poder Judiciário. Volta-se, precipuarnente, aos órgãos administrativos hierarquicamente subordinados ao Presidente da República, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e aos pref-eitos dos Municípios, pelo que não se admite sejam utilizados por Ministro de Estado ou Secretários estaduais ou municipais. 2) As itt,struçõe,s ntinisteriai,y estão previstas no art. 85, II, da Constituição Federal e competem aos Ministros de Estado para o flm de promover a execução das leis, decretos e regula- mentos que digam respeito às atividades de sua pasta. A prer- rogativa não vem sendo empregada por esses auxiliares diretos do Presidente da República, que preferem editar simples por- tarias, instrumentos normativos de menor expressividade. As instruções ministeriais são veículos úteis para introduzir no ordenamento regras jurídicas de nível sccurrclírrio, Íirzcndo pos- sível a aplicação ef-etiva das leis e dtls dccrctos rogularnenLilres, e assegurando, desse modo. a unilirrrridaclc da ação adrninis- trativa. É despicienclo tiisar que as c.lisposições desses atos nào podem contrariar os comandos da lei ou do regulamento, si- tuando-se em patamar inÍ-erior. 3) As circulares, igualmente, enceÍram normas jurídicas de caráter infralegal e visam à ordenação uniforme do serviço administrativo. Seu campo de validade, porém, é restrito a se- tores específicos, destinando-se a orientar determinados agentes cometidos de atribuições especiais. Não desfiutam,como se vê, da generalidade própria das instruções ministeriais. 4) As portarias, por seu turno, consubstanciarn regras ge- rais ou individuais que o superior edita para serem observadas por seus subalternos. Ocorrem em todos os degraus da escala hierárquica, desde os ministérios até as mais simples repartições do serviço público. Prestam-se não só para veicular comandos administrativos gerais e especiais, como também para designar l'uncionários para o exercício de funções menores, abrir sin- tlicâncias e inaugurar procedimentos administrativos. E é curio- so assinalar que Ministros de Estado, ao invés das instruções rninisteriais expressamente mencionadas no texto da Constitui- ção, lancem mão de portarias pararealizar o importante mister de tornar efetivos os mandamentos de lei ou de decretos regu- lamentares, no caminho de sua Íiel execução. 5) As ordens de serviço são autorizações ou estipulações concretas, mas para um determinado tipo de serviço a ser de- scmpenhado por um ou mais agentes, especialmente creden- ciados para tal. Seu âmbito é bem delimitado, circunscreven- do-se ao serviço e aos funcionários que o prestam. 6) Outros atos normativos estahelecidos pelas autoridade; tulministratiya.s. No direito tributário brasileiro encontramos a ligura esdrúxula dos pareceres normativos, na esÍ-era federal, que t09 4. O regulamento no direito tributário hrasileiro, Revista dos Tribu- nais, 1981, p. 14. r08 consistem em manifestações do entendimento de agentes espe- cializados, sobre matéria tributária submetida à sua apreciação, e que adquirem fitr<ls normativos, vinculando a interpretação entre Íuncionários, no que concerne ao tópico debatido. Incluem- -se nessa rubrica, também, as decisões dos órgãos singulares ou colegiais que controlarn a legalidade dos atos administrativos e que, uma vcz reiteradamente convergentes, aplicam-se com Íorça normativa, ao Í'eitio das emanações da jurisprudência. 7. O CONCEITO DE LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA PARA O CÓDIGO TRIBUúRIO NACIONAL O Código Tributário Nacional veio a lume no corpo da Lei n. 5.172166, animado pelo escopo de disciplinar o sistema tri- butário nacional e instituir normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, aos Estados e aos Municípios. Se rigorosa- mente essa é a ementa, outro não foi o plano concebido, uma vez que, dividido em dois livros, o primeiro trata do sistema tributário nacional, enquanto o segundo versa sobre normas gerais de direito tributário. Avulta o descompasso logo no exame do primeiro instan- te: e as normas gerais de direito tributário não pertencem ao sistema tributário nacional? Então, a que sistema hão de per- tencer? E remanesce a perplexidade de quem lê o texto da lei e se depara com a linguagem técnica do legislador, mescla de Iinguagem da experiência comum e da linguagem cientíÍica. Problemas sintáticos, semânticos e pragmáticos dessa natureza vão acompanhar o intérprete sempre que se preocupar corr a análise dos produtos legislados, invariavelmente inçados de tais imperf-eições. É por isso que somente o domínio do sistema como um todo e a apreensão dos princípios capitais podem servir de orientação diretiva ao exegeta. lr0 Mas as dificuldades continuam e ve'janros o cluc acontece com o conceito de legi,slctçtirt tributtiritl, lrgora c;uc.jr'r cuiclamos dos instrumentos primários e secundários dc introdução de normas. Esclarece o art. 96 do Código Tributário Nacional que: A expressão "legisktção tributária" compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, t-ts decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sohre tributos e reLações.jurídica.v a eles pertinentes. Insere o legislador, no mesmo quadro, indiscriminadamente, atos normativos inaugurais, como as leis, ao lado dos tratados e convenções intemacionais, que valem na ordem jurídica intema se e somente se acolhidos no conteúdo de decreto legislativo, como tivemos oportunidade de ver. Coloca, ombro a ombro, instrumentos introdutórios primários com entidades que não podem ser tidas sequer como instrumentos primários de introdução de regras tributárias. E, como se não bastasse, taz referência expressa às normas complementares e, dentro delas, às práticas reiterada- mente observadas pelas autoridades administrativas e aos con- vênios que entre si celebram a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Em homenagem ao mínimo de rigor e coerência que o sis- tema deve apresentar, não nos parece correta a formulação es- quematizada nesse Estatuto. Tirante as leis, os decretos e, entre as no rmas c o mp le mentare s, os atos normativos expedidos pel as autoridades administrativas e as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa a que a lei atribua efrcácia normativa (art. 100, I e II), que são instrumentos intro- dutórios, primários ou secundários, no ordenamento positivo brasileiro, todos os outros, tratados e convenções internacionais; bem como as práticas reiteradamente observadas pelas autori- dades administrativas e os convênios que entre si celebrem a lil
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