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Sistema Global e Regional de Proteção aos Direitos Humanos Prof. Ms. Carlos Aguiar, Maio de 2017 Sistema global de proteção dos Direitos Humanos Atualmente, temos um sistema global ou também denominado sistema onusiano (das nações unidas) de direitos humanos. O sistema global foi construído após a 2ª guerra mundial, mas antes dela havia proteção internacional de direitos humanos. Destaca a doutrina três precedentes para a formação do sistema global dos DH: ➢ Direito humanitário ou Direito dos conflitos armados - é o conjunto de normas que regula a atuação dos combatentes nos conflitos armados e a assistência às vítimas destes conflitos. A sua formação remonta ao final do século XIX com as convenções de paz de HAIA e depois com as convenções de Genebra. O direito humanitário limita a soberania dos Estados/Agrupamentos não estatais com o fim de proteger os direitos humanos. ➢ Liga das nações – criada para evitar uma 2ª guerra mundial. ➢ Organização internacional do trabalho- OIT – Fundada em 1919, com o objetivo de criar padrões mínimos para uma relação de trabalho. Cria obrigações para os Estados respeitarem internamente os direitos sociais. O sistema global começou a se formar com a Carta das nações unidas de 1945. A carta de São Francisco, tratado constitutivo da ONU foi o início do sistema global, pois que trata do princípio do respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais. Fazendo referência aos DH em diversos dispositivos, mas não tratando do conceito de direitos humanos. Assim, a carta significou um passo rumo à Declaração Universal de direitos humanos e a construção do sistema global. A declaração é o primeiro instrumento do sistema global de direitos humanos. Estrutura atual do Sistema global: ➢ Sistema geral ou Carta internacional dos direitos humanos ou International Bill of human rights: Composto pela Declaração universal dos direitos humanos + Pacto internacional dos direitos civis e políticos + Pacto internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais; ➢ Sistema especial de proteção (tratados que tutelam os DH conforme a peculiaridade das pessoas). Exemplos: Tratado de direitos das crianças, imigrantes, pessoas com deficiência. O primeiro instrumento do sistema global geral é a declaração universal dos direitos humanos-DUDH. Aprovada em 1948, possuindo duas características muito importantes: A universalidade e a amplitude, qual seja, com a intenção universalista. Quanto aos sujeitos, a declaração visa alcançar todos os seres humanos e do ponto de vista objetivo, a declaração é ampla, pois tenta alcançar todas as categorias de direitos. Por isto, a DUDH adota a concepção contemporânea dos direitos, a qual sustenta a indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos. Pontos negativos da Declaração apontados pela doutrina: a) Não consagra a autodeterminação dos povos; b) Não trata do direito ao meio ambiente; c) Não contém mecanismos de monitoramento – apenas declara os direitos não abordando o que fazer quando os direitos forem violados; d) Tem forma jurídica de resolução da Assembleia Geral da ONU- não é um tratado internacional, sendo não vinculante do ponto de vista jurídico. Várias correntes surgiram discutindo a natureza da declaração para se discutir sua força vinculante: ➢ A primeira corrente entende que a DUDH é uma interpretação autêntica da carta de são Francisco, sendo vinculante, pois interpreta a carta que é um tratado internacional; ➢ Para a segunda corrente, a DUDH é vinculante, pois suas normas constituem costume internacional; Flavia Piovesan e André de Carvalho Ramos possuem o entendimento da primeira e segunda corrente (interpretação autêntica e costume internacional). ➢ Para a terceira corrente, constitui o jus cogens (conjunto de normas internacionais, dotadas de superioridade hierárquica e que somente podem ser modificadas por normas de mesma natureza). E a DUDH se situa neste jus cogens, sendo vinculante. O autor Valério Mazzuoli entende por esta terceira corrente. ➢ E, a última corrente entende que a DUDH contém normas de soft law (conjunto de normas internacionais caracterizadas por menor grau de imperatividade). Questão de Prova (2012) De acordo com a Corte Internacional de Justiça, as disposições da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de caráter costumeiro, estabelecem obrigações erga omnes. Resposta: Errada. Comentário: Para a Corte Internacional de Justiça, a vedação à tortura, por exemplo, é vinculante, mas nem todas são vinculantes. Logo depois da Declaração Universal, foram discutidas duas questões: A necessidade de codificação, criando um tratado para conter as disposições da DUDH e a necessidade de criar um sistema de monitoramento, contendo meios de fiscalizar, responsabilizar os violadores dos direitos humanos. Ocorre que dificuldades foram encontradas na codificação, tais como questões políticas (início da guerra fria e o bloco capitalista desejava que o tratado somente contivesse direitos civis e políticos e o bloco socialista os direitos sociais, econômicos e culturais) e questões técnico-jurídicas (diferença na forma de implementação dos direitos civis e políticos, bastando a declaração, mas para os direitos sociais, econômicos e culturais é preciso empreender meios à efetividade dos direitos). Havia uma resistência do bloco socialista para a criação de um tribunal internacional de direitos humanos, pois entendiam que era uma forma de hegemonia do bloco capitalista. Assim, chegou-se à conclusão de se criar dois documentos: um tratado para os direitos civis e políticos e outro tratado para os direitos sociais, econômicos e culturais e não criar uma corte, mas sim, comitês técnicos para fiscalizar estes tratados. Em 1966, foram aprovados na mesma ocasião os dois tratados, denominados os Pactos de Nova York: a) Pacto internacional dos direitos civis e políticos - Conferiu dimensão técnico- jurídica da DUDH. Possui rol mais amplo que a declaração, como o direito ao nome, prisão civil. Tem previsão de um comitê de direitos humanos composto de 18 membros, eleitos para um mandato de 4 anos. Este pacto prevê dois mecanismos de monitoramento: relatórios periódicos dos Estados-parte, reportando sobre as medidas adotadas para a proteção dos direitos humanos e petições estatais, as quais os Estados informam o descumprimento dos tratados por outros Estados-parte. Trata-se de cláusula facultativa, o que significa que a simples adesão do Estado ao tratado não significa a competência do comitê para julgamento das petições estatais, sendo necessária uma declaração expressa reconhecendo a competência do comitê para tal fim. Deve-se ressaltar, ainda, a existência do Protocolo facultativo ao pacto internacional dos direitos civis e políticos - Protocolo é um tratado complementar, é a possibilidade de os indivíduos apresentarem petições ao comitê de direitos humanos. b) Pacto internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais - Dimensão técnico jurídica da DUDH; Rol mais amplo, contendo, por exemplo, o direito ao trabalho e à justa remuneração; Normas de caráter programático: sendo a proteção progressiva. Somente previu como mecanismo de monitoramento o relatório. Não prevê petições particulares ou estatais. O Protocolo facultativo ao pacto internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais - Somente em 2008 foram previstos os demais mecanismos. Petições particulares; Petições estatais e; Investigações. Complementando esse conjunto de textos normativos, conhecido como Sistema Geral,constituiu-se o Sistema global especial. Surge em um contexto de multiplicação dos direitos; Especialização dos direitos, direitos para certas categorias. Busca concretizar o princípio da isonomia. Três vertentes da igualdade: a) igualdade formal, sendo todos iguais perante a lei; b) igualdade material para a justiça social, considerando tratar desigualmente os desiguais na medida de sua igualdade para que sejam igualados e distributiva e c) igualdade material para reconhecimento de identidade. No sistema geral, busca-se a igualdade formal e na justiça social. Já o sistema global especial está mais adequado à terceira vertente, a igualdade material para reconhecimento de identidade. As pessoas possuem o direito de ser diferentes e essas diferenças também devem ser tuteladas. Dimensões da igualdade: a) veda a discriminação negativa, qual seja, a que retira direitos das pessoas; b) mas impõe a discriminação positiva, que compensa desigualdades. Muitas convenções preveem ações afirmativas para as minorias. Exemplos: mulheres, negros. Exemplos de convenções no sistema global especial: Convenção internacional para prevenção e repressão ao genocídio (1948) - o Primeiro tratado de DH no âmbito da ONU. O Genocídio como crime internacional. Não prevê mecanismo de monitoramento Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial (1965) - Relatórios; Petições estatais; Petições particulares (cláusula facultativa) Convenção internacional para eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (1979) - OTratado de DH que mais recebeu reservas. Relatórios estatais; Petições particulares (protocolo facultativo de 1999); Investigações (protocolo facultativo de 1999) Convenção internacional contra a tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes (1985) - Relatórios; Petições particulares (clausula facultativa); Petições estatais (clausula facultativa); Investigações; Sistema de visitas regulares a centros de dentenção (protocolo facultativo de 2002) Convenção internacional sobre os direitos da criança (1989) - Tratado de DH com maior número de ratificações. Relatórios; Petições particulares (protocolo facultativo de 2011); Petições estatais (protocolo facultativo de 2011); Investigações (protocolo facultativo de 2011) Convenção internacional sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores migrantes e dos membros de suas famílias (1990) - Relatórios estatais; Petições particulares (clausula facultativa); Petições estatais (clausula facultativa); Convenção internacional sobre os direitos da pessoa com deficiência (2006) - Definição inovadora de pessoa com deficiência. Relatórios estatais; Petições particulares (protocolo facultativo); Investigações (protocolo facultativo) Mecanismos de monitoramento do sistema global O sistema global é constituído por um sistema geral e um sistema especial. Há diversos mecanismos de monitoramento dos direitos humanos previstos nos instrumentos do sistema global. Logo depois da Declaração, houve um debate sobre a necessidade de mecanismos de monitoramento, porque se não houvesse estes mecanismos, os direitos humanos não passariam de meras declarações. A doutrina classifica os mecanismos do sistema global em: a) Mecanismos convencionais e; b) Mecanismos extraconvencionais. Os mecanismos convencionais são os previstos em tratados internacionais e os extraconvencionais são os extraídos indiretamente da carta da Organização das Nações Unidas-ONU e que são implementados por órgãos das Nações Unidas. Os Mecanismos convencionais podem ser de três tipos (Doutrina de André de Carvalho Ramos): ➢ Não contenciosos- baseados na cooperação espontânea dos Estados. Exemplos: Dois tipos: Relatórios Estatais (Meios pelos quais os Estados informam a adoção de medidas administrativas, judiciais e legislativas para cumprimento das obrigações previstas em tratados internacionais) e as Investigações (As comissões apuram in loco as eventuais ocorrências de violações sistemáticas dos direitos humanos). ➢ Quase contenciosos/judiciais- São aqueles baseados em exames realizados por Comitês de direitos humanos. Estes Comitês examinam petições estatais e petições particulares. ➢ Judiciais ou contenciosos - Consistem na apuração da responsabilidade internacional por violações aos direitos humanos pela Corte Internacional de Justiça (Corte de Haia). Os mecanismos globais extraconvencionais são realizados por diversos órgãos das Nações Unidas: ➢ Assembleia geral; ➢ Conselho de segurança; ➢ Conselho econômico e social; ➢ Secretaria-geral; ➢ Alto-comissariado para direitos humanos; ➢ Conselho de direitos humanos. O mais importante dos órgãos é o Conselho de direitos humanos, que foi fundado em 2006, possui 47 membros com mandato de 3 anos, sendo recrutados de vários lugares do globo e os membros dos países são submetidos a revisão periódica, ou seja, os países que querem ser membros do Conselho devem passar por uma fiscalização periódica no cumprimento de tratados de direitos humanos. Isto é para evitar que um Estado violador dos direitos humanos faça parte do Conselho. Os membros do Conselho podem ser suspensos. O Conselho de direitos humanos, sendo principal órgão na fiscalização de DH, sucedeu a antiga Comissão de direitos humanos, que existiu entre os anos de 1946 a 2006. Esta Comissão tinha 53 membros com mandato de 3 anos, possuindo competência genérica para cuidar de questões relacionadas aos direitos humanos, tendo 2 procedimentos que eram adotados: ➢ Procedimento 1235 (baseado na resolução 1235 do Conselho econômico e social) – era um procedimento especial público (processo público de apuração de violação dos direitos humanos) e; ➢ Procedimento 15031 (baseado na resolução 1503) - era um procedimento confidencial. 1 Resolução 1503 do Conselho Econômico e Social 1970 Procedimento para o tratamento das comunicações relativas a violações dos direitos humanos e liberdades fundamentais. O conselho Econômico e Social, Levando em conta as resoluções 7 (XXVI) e 17 (XXV) da Comissão de Direitos Humanos e a Resolução 2 (XXI) da Subcomissão para Prevenção da Discriminação e Proteção às minorias, 1. Autoriza a Subcomissão para Prevenção da Discriminação e Proteção as minorias a nomear um grupo de trabalho composto de não mais que cinco de seus membros, com a devida consideração geográfica`, para reunir-se uma vez ao ano em reuniões privadas por um período não excedendo dez dias, imediatamente antes das sessões da Subcomissão, para considerar todas as comunicações, inclusive respostas de governos a este respeito, recebidas pelo Secretário-Geral sob a Resolução 728 F (XXVIII) do conselho, de 30 de julho de 1959, com vistas a trazer atenção da Subcomissão aquelas comunicações, juntamente com as respostas dos governos, se existentes, que pareçam revelar um padrão consistente de violações flagrantes e seguramente comprovadas de direitos humanos e liberdades fundamentais nos termos de referência da Subcomissão. 2. Decide que a Subcomissão-Para-Prevenção da Discriminação e Proteção às Minorias deve, como primeira etapa na implementação da presente resolução, preparar me sua 23a sessão procedimentos adequados para tratar da questão de admissibilidade de comunicações recebidas pelo Secretário-Geral sob a Resolução 728 F (XXVIII) do Conselho e de acordo com a resolução 1235 (XLII) do conselhode 6 de junho de 1967; 3. Solicita ao Secretário-Geral preparar um documento sobre a questão da admissibilidade de comunicações para a consideração da Subcomissão em sua 23a sessão; 4. Solicita ademais ao Secretário-Geral: a) fornecer mensalemnte aos membros da subcomissão uma lista de comunicações por ele preparada de acordo com a Resolução 728 F (XXVIII) do conselho e uma breve descrição das mesmas, juntamente com o texto de qualquer resposta recebida dos governos; b) colocar à disposição dos membros do grupo de trabalho em suas reuniões os originais de comunicações registradas que desejarem, levando devidamente em conta as disposições do parágrafo 2o b da resolução 728 F(XXVIII) do Conselho no que diz respeito à divulgação da identidade dos autores das comunicações; c) circular aos membros de Subcomissão, nas línguas de trabalho, os originais das comunicações que forem encaminhadas à Subcomissão pelo grupo de trabalho; 5. Solicita à Subcomissão Para Prevenção da Discriminação e Proteção às Minorias que considerem em reuniões privadas, de acordo com o parágrafo 1o anterior, as comunicações recebidas de acordo com a decisão da maioria dos membros do grupo de trabalho e quaisquer respostas de governo a este respeito, bem como qualquer outra informação relevante, com vistas a determinar se encaminhará à Comissão dos Direitos Humanos situações específicas que pareçam revelar um padrão consistente de violações flagrantes e seguramente comprovadas de direitos humanos que requeiram a consideração da Comissão; 6. Solicita à Comissão dos Direitos Humanos, após o exame de qualquer situação a ela encaminhada pela Subcomissão que determine: a) se a situação requer um estudo completo da Comissão e um relatório com recomendações a respeito ao conselho, de acordo com o parágrafo 3o da resolução 1235 (XLII) do conselho; b) se a situação é passível de investigação por um comitê ad hoc, a ser nomeado pela Comissão, que só se efetuará com o consentimento expresso do Estado em questão e que será conduzida em cooperação constante com este Estado e sob condições determinadas por acordo com ele. Em qualquer caso, a investigação só poderá ser empreendida se: i) se todos os meios disponíveis em nível nacional tiverem sidos utilizados e esgotados; ii) a situação não se relacionar com a matéria que esteja sendo tratada sob outros procedimentos previstos nos instrumentos constitutivos das Nações Unidas e agências especializadas, ou nas convenções por elas adotadas, ou em convenções regionais, ou que o Estado em questão deseje submeter a outros procedimentos em conformidade com acordos internacionais gerais ou especiais de que seja parte; 7) Decide que, se a comissão dos Direitos Humanos nomear um comitê ad hoc para efetuar uma investigação com o consentimento do Estado em questão; b)O comitê estabelecerá seu próprio regulamento, estará sujeito à regra do quorum; terá autoridade para receber comunicações e para ouvir testemunhas, quando necessário. A investigação será conduzida em cooperação com o governo em questão; c) o processo do Comitê deverá ser confidencial, seus procedimentos deverão ser conduzidos em reuniões privadas e suas comunicações não deverão ser publicadas de forma alguma; d) o Comitê se empenhará para encontrar soluções amistosas antes, durante e depois da investigação; e) o Comitê encaminhará relatório à Comissão de Direitos Humanos com as observações e as sugestões que julgar apropriadas; 8. Decide que todas as providências previstas na implementação da presente Resolução pela subcomissão Para prevenção da Discriminação e Proteção às Minorias ou pela Comissão dos Direitos Humanos deverão permanecer confidenciais até o momento em que a Comissão decida fazer recomendações ao Conselho Econômico e Social; 9. Decide autorizar o Secretário-Geral a fornecer todas as facilidades que possam ser necessárias à implementação da presente Resolução, utilizando o pessoal existente da Divisão de Direitos Humanos do Secretariado das Nações Unidas; 10. Decide que o procedimento previsto na presente Resolução para o tratamento das comunicações relativas a violações de direitos humanos e liberdades fundamentais deverá ser revisto se qualquer novo órgão habilitado e tratar de tais comunicações vier a ser estabelecido nas Nações Unidas ou por acordo internacional. Porém, esta Comissão restou desacreditada por politização e contradições. As negociações aconteciam “ás escuras”, não se conheciam os critérios utilizados para a escolha dos membros da Comissão. Estados que violavam direitos humanos eram parte da Comissão. Exemplo: Líbia fazia parte da Comissão, mas era um Estado ditatorial, onde não se respeitava as liberdades. Estados que faziam parte da Comissão, às vezes, aproveitavam para perseguir Estados adversários. Observação: Diferenças entre Comitê X Comissão X Conselho. Comitê dos direitos humanos- refere-se ao Comitê previsto no Pacto internacional dos direitos civis e políticos de 1966 e cada Convenção do sistema especial prevê comitês específicos para fiscalizar os direitos nela previstos. Exemplo: Na convenção dos direitos da criança há o comitê dos direitos da criança. Comissão de direitos humanos- é a Comissão que perdurou de 1946 a 2006, foi extinta por seu descrédito. Conselho de direitos humanos- é o órgão da ONU hoje que tem a principal incumbência de fiscalizar os direitos humanos e sucedeu a Comissão de direitos humanos. Como atua, hoje, o Conselho de direitos humanos? Exerce três procedimentos de apuração de responsabilidade por violação de direitos humanos. ➢ Procedimento 1235- É o procedimento público que já existia na Comissão. A resolução 1235/67 continua vigente. Exerce investigação por países e por temas. ➢ Procedimento de queixas- É o antigo procedimento 1503 da resolução 1503/70 a qual foi alterada por outra resolução e o procedimento de queixas faz uma divisão entre grupos de trabalho sobre comunicações e grupo de trabalho sobre situações; ➢ Revisão periódica universal- é um procedimento novo, não existia na Comissão de direitos humanos e busca uma cobertura universal e tratamento igualitário dos Estados (todos devem se submeter a revisão periódica e universal). É a fiscalização periódica para a verificação dos direitos humanos em cada País. Para concluir, vejamos o comparativo entre os Mecanismos Convencionais X mecanismos Extraconvencionais: Mecanismos Convencionais Mecanismos Extraconvencionais Fundados em convenções Fundados na Carta das nações unidas; Limitados às partes de cada Convenção Aplicáveis a todos os membros da ONU; Limitam-se aos temas de cada Convenção Temas diversos, sem limitação de tema; Esquemas procedimentais são rígidos, detalhados os procedimentos são abertos e flexíveis; Dependem de uma decisão consensual, unânime A decisão é por maioria. Sistemas regionais de proteção dos direitos humanos Ao lado do sistema global foram se formando alguns sistemas regionais. A proteção internacional dos direitos humanos é realizada pelo sistema global e por sistemas regionais. O sistema global, conforme estudado, é formado pelo sistema global geral, composto pela declaração universal dos direitos humanos; o pacto internacional dos sistemas civis e políticos e pelo pacto internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais. Ao lado do sistema global geral, temos o sistema global especial que é formado pelas Convenções, como a Convenção sobre os diretos das mulheres, direitos das crianças, pessoas com deficiência etc. Dentre os sistemas regionais temos o Sistema europeu, que é o mais avançado detodos, o Sistema interamericano (é o nosso sistema) e o Sistema africano. Temos um insipiente Sistema árabe. Características dos sistemas regionais: ➢ Relação de complementaridade - Os sistemas regionais possuem uma relação de complementariedade com o sistema global. Não há hierarquia entre o sistema global e os sistemas regionais, apenas se complementam. ➢ Facilitação do consenso político - Os sistemas regionais facilitam o consenso político. É mais fácil que países da mesma região cheguem a um consenso do que países do mundo inteiro. Então, é mais fácil elaborar um tratado de direitos humanos no sistema regional do que no sistema global. ➢ Fortalecimento da proteção dos DH - Representam um fortalecimento da proteção de direitos humanos, isso porque a vítima terá a proteção dos direitos tanto no sistema global quanto no sistema regional. Exemplo: Se a mulher não conseguiu ter o seu direito protegido pelo seu Estado (país), ela pode escolher por invocar ou o Sistema regional ou o Sistema global. No sistema interamericano temos a Convenção de Belém e no sistema global temos a Convenção dos direitos da mulher, podendo a mulher, que teve seu direito violado, invocar qualquer um dos dois. Por este motivo, fortalece a proteção aos direitos humanos. Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos Estrutura normativa do sistema interamericano: ➢ Carta da Organização dos Estados Americanos-OEA (1948) ➢ Declaração Americana dos direitos e deveres do homem (1948) ➢ Convenção Americana sobre direitos humanos (1969) – é o denominado Pacto de São José da Costa Rica ➢ Convenção Interamericana para prevenir e punir o crime de tortura (1985) ➢ Protocolo adicional à Convenção Americana de direitos humanos relativo à abolição da pena de morte (1990) ➢ Convenção interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher (1994) ➢ Convenção interamericana sobre desaparecimento forçado de pessoas (1994) Estes são os principais instrumentos normativos do sistema regional interamericano. É importante o conhecimento desses instrumentos, pois costumam cair em provas. A Carta da OEA (Tratado constitutivo da Organização dos Estados Americanos) e Declaração americana foram aprovadas em 1948, três anos depois da Carta das nações unidas e no mesmo ano da Declaração universal dos direitos humanos. Nesses instrumentos ocorre a proclamação dos direitos humanos, o princípio do respeito aos direitos humanos. Na carta, há a previsão da criação da Corte interamericana de direitos humanos. Até 1969, advento da Convenção, a Declaração foi a base do sistema interamericano. A Convenção Americana prevê direitos econômicos, sociais e culturais apenas genericamente. Observe que a Declaração universal dos direitos humanos do sistema global de 1948 previu tanto os direitos civis e políticos quanto os direitos econômicos, sociais e culturais. A declaração universal consagra a visão contemporânea dos direitos humanos que diz respeito a essa indivisibilidade entre direitos civis e políticos de um lado e direito econômico, sociais e culturais do outro, sendo, assim, completa. Já a nossa convenção americana é basicamente de direitos civis e políticos, prevendo os direitos econômicos, sociais e culturais apenas genericamente e por isso foi aprovado posteriormente o protocolo de São Salvador sobre os direitos econômicos, sociais e culturais, a fim de complementar a convenção americana. Os dois principais órgãos de monitoramento dos direitos humanos no sistema interamericano são: A Comissão interamericana de direitos humanos e a Corte Interamericana de direitos humanos. QUESTÃO DE PROVA AGU (2004) A Obrigação geral de garantia do gozo e exercício livre e pleno dos direitos previstos na Convenção Americana de direitos humanos é uma obrigação de natureza erga omnes. Assim, no caso da penitenciária de urso branco, objeto do texto considerado, o Estado não pode eximir-se de sua responsabilidade internacional pela violação dos direitos à vida e à integridade pessoal devido ao fato de que os atos de violência que geraram ditas violações foram perpetrados por algumas das pessoas detidas em detrimento de outros detentos. RESPOSTA: A assertiva tem duas partes, primeira está correta e diz respeito a natureza erga omnes das obrigações previstas na convenção americana de direitos humanos. A segunda parte tem mais a ver com a parte de destinatário dos direitos humanos, essa parte tem a questão do Estado ser responsável por atos de particulares, desde que comprovada a sua omissão. O que ocorreu na penitenciária de urso branco foram violações de direitos humanos, tendo o Estado responsabilidade objetiva por danos causados a integridade de pessoas sob sua custódia por particulares. A natureza erga omnes confirma a eficácia horizontal dos direitos humanos, porque não somente os Estados, mas todos têm a obrigação de respeitar os direitos humanos. Comissão interamericana de direitos humanos A Comissão Interamericana foi criada pela Resolução VIII em 1959, possuindo uma natureza bifronte, pois é órgão da OEA e da Convenção Americana- CADH. É composta a Comissão por 7 membros, eleitos a título pessoal pela AGOEA, com mandato de 4 anos, permitida uma reeleição. A principal função da Comissão é promover a observância e a defesa dos direitos humanos – artigo 41 da CADH. Artigo 41 A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício do seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições: a. estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América; b. formular recomendações aos governos dos Estados membros, quando o considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos; c. preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de suas funções; d. solicitar aos governos dos Estados membros que lhe proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos humanos; e. atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que eles lhe solicitarem; f. atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e g. apresentar um relatório anual à Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos. A Comissão interamericana de direitos humanos tem competência para examinar as petições particulares (cidadãos) e petições estatais (previstas em cláusula facultativa). O simples fato de o Estado ter assinado a Convenção americana, assinado a carta da OEA não significa que ele reconhece a competência da Comissão para assinar petições estatais contra ele ou assinadas por ele, sendo necessária uma declaração especifica reconhecendo esta competência, porque essa competência vem prevista em cláusula facultativa. As petições estatais não são muito utilizadas no direito internacional, pois geram muito desgaste. Dentro da comissão interamericana, quando chega uma petição particular ou estatal, o procedimento é da seguinte forma: ➢ Admissibilidade da petição - A comissão examina se a petição pode ser admitida.Existem três requisitos para admitir uma petição: Prévio esgotamento dos recursos internos pelo Estado ou pelo particular de resolver aquele problema (caso existam os recursos e forem efetivos); Prazo de 6 meses da violação e; Inexistência de litispendência internacional- é necessário que aquela questão não esteja sendo discutida em outro foro internacional); Admitida a petição, vamos a fase de informações. ➢ Informações – A petição é encaminhada ao Estado acusado/requerido que pode se defender; ➢ Exame – A Comissão examina as informações e verifica se é caso de arquivamento sumário da petição. Não sendo o caso de arquivamento sumário, vai para a tentativa de conciliação; ➢ Tentativa de conciliação – Não sendo possível a solução conciliatória, a Comissão edita o primeiro informe; ➢ Primeiro informe (Chamado de Relatório 50, porque previsto no artigo 50 da Convenção Americana) - A Comissão entende se há ou não violação aos direitos humanos, sendo o primeiro informe confidencial. Artigo 50 1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em separado. Também se agregarão ao relatório as exposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos interessados em virtude do inciso 1, e, do artigo 48. 2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não será facultado publicá-lo. 3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e recomendações que julgar adequadas. Após 6 meses do primeiro informe se a questão não tiver sido levada a Corte Interamericana pelo Estado ou pela própria Comissão e a questão não tiver ainda sido resolvida, então a Comissão publica o segundo informe. ➢ Segundo informe – O relatório é público. Corte Interamericana de Direitos Humanos É o órgão jurisdicional do sistema interamericano (órgão apenas da Convenção americana). Enquanto a Comissão é órgão bifronte, a Cote é apenas da Convenção. É composta a Corte por 7 juízes, eleitos para 6 anos, admitida uma reeleição. Hoje, o presidente da Corte Interamericana é um juiz brasileiro, Roberto Caldas. Esta Corte tem competência consultiva e contenciosa (facultativa). Por meio da competência consultiva, a corte confere pareceres sobre os instrumentos internacionais de direitos humanos. E pela competência contenciosa, a Corte resolve, julga litígios relacionados aos direitos humanos. A competência contenciosa é prevista em uma clausula facultativa, devendo ter os Estados realizado uma declaração especial prevendo esta competência da Corte. Possuem legitimidade para recorrer, apresentar processos à Corte, a Comissão interamericana ou Estado-parte, ou seja, particulares, indivíduos não têm acesso à Corte interamericana. Procedimento dentro da Corte: ➢ Fase postulatória –Corte ouve a Comissão interamericana ou Estado-parte; ➢ Fase probatória- Admite-se o amicus curiae; ➢ Fase decisória – A decisão é obrigatória (é obrigatória pela aplicação do Princípio da Pacta Sunt Servanda e pelo princípio da boa-fé); A decisão da corte é inapelável, admitindo-se apenas uma espécie de embargos de declaração (pedido de interpretação) e forma-se um título executivo. A decisão da Corte é executória, podendo ser imediatamente executada. Observação: Não há necessidade de homologação da sentença da Corte Interamericana pelo Superior Tribunal de Justiça-STJ. A homologação não é para sentença de tribunal internacional e sim para sentença estrangeira. ➢ Fase executória- Informa-se a assembleia geral da Organização dos Estados Americanos- OEA que adotará as medidas cabíveis para executar a decisão da Corte. QUESTÃO AGU 2012 Em casos que envolvam a prática de tortura sistemática, a Convenção americana de direitos humanos permite o acesso direto do indivíduo à Corte Interamericana de direitos humanos. RESPOSTA: ERRADA. O indivíduo não tem acesso direto à Corte, mas sim somente à Comissão. QUESTÃO AGU (2015) A Comissão interamericana de direitos humanos- órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos encarregado de promover e proteger os direitos humanos no continente americano- detém, juntamente com os Estados- partes do Pacto de San José da Costa Rica, competência exclusiva para a propositura de ações perante a Corte Interamericana de direitos humanos. RESPOSTA: CORRETA. QUESTÃO AGU 2015 Sem prejuízo do direito de os Estados-partes da Convenção Americana sobre direitos humanos submeterem-se voluntariamente à Corte Interamericana de direitos humanos, nos termos da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória constante do Pacto de San José da Costa Rica, o referido tribunal internacional tem a faculdade, inerente às suas atribuições, de determinar o alcance de sua própria competência – competence de la competence. RESPOSTA: CORRETA. Prevê a competência contenciosa da corte em uma clausula facultativa, ou seja, é necessária a declaração especifica do Estado reconhecendo esta competência. A corte interpreta a sua própria competência (competence de la competence). QUESTÃO AGU 2015 As sentenças prolatadas pela Corte interamericana de direitos humanos podem, após homologação pelo STJ, ser regularmente executadas em território brasileiro. RESPOSTA: ERRADA. Não precisam ser homologadas para produzirem efeitos. Medidas Provisórias A Corte tem competência para adotar medidas provisórias, sendo análogas a medidas cautelares no direito brasileiro. Para que a Corte adote estas medidas, a convenção prevê três requisitos: casos de extrema gravidade, urgência e para evitar danos irreparáveis às pessoas. Os principais casos em que a Corte adota medidas provisórias são de violência em estabelecimentos prisionais. Exemplo: Caso urso branco e caso pedrinhas, no Maranhão. A Corte ressalta que mais do que a natureza cautelar da medida provisória, ela possui natureza tutelar, porque visam não só garantir a eficácia final do processo, mas proteger os direitos naquele momento. As medidas podem ser determinadas de ofício ou a requerimento da Comissão e podem ser adotadas em qualquer fase, mesmo nos casos que não são de conhecimento da corte, mesmo quando não há processo perante a Corte. QUESTÃO A Corte interamericana de direitos humanos não tem, na prática, requerido da Comissão interamericana de direitos humanos, quando solicita medidas provisórias, prova substancial de que os fatos narrados são verídicos, pois procede antes com base na presunção razoável de que os fatos alegados correspondem à verdade e de que tais medidas de proteção são necessárias. RESPOSTA: CORRETA. A jurisprudência da corte revela que esta não tem sido tão exigente quanto aos requisitos para a aplicação da medida provisória. QUESTÃO AGU (2004) As medidas provisórias ordenadas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos têm como objeto apenas a proteção do direito à vida e à integridade pessoal- física, mental e moral- das supostas vítimas. RESPOSTA: ERRADA. Os danos são a quaisquer direitos previstos na Convenção. QUESTÃO AGU (2004) As medidas provisórias revestem-se de caráter verdadeiramente tutelar, mais que cautelar, pois que passam a salvaguardar, mais que a eficácia da prestação jurisdicional, os próprios direitos fundamentais da pessoa humana. RESPOSTA: CORRETA. As medidas provisórias têm naturezatutelar e não apenas cautelar. Casos célebres da Corte Internacional de direitos humanos- IDH Caso Velásquez Vs. Honduras (1988) Velásquez Rodriguez foi preso, torturado e morto pelas forças armadas de Honduras. A Corte considerou que Honduras havia violado os artigos 4º (direito à vida), 5º (direito à integridade pessoal) e 7º (direito à liberdade pessoal) da Convenção Americana. Concluiu na sentença que os Estados têm o dever de prevenir, investigar e punir violações de direitos humanos enunciados na Convenção Americana de direitos humanos. Neste caso, a Corte reconheceu a obrigação dos Estados de prevenir, investigar e punir violações de direitos humanos enunciados na Convenção Americana de direitos humanos. Quando o Estado é omisso nestas obrigações, ele pode ser condenado pela Corte Interamericana. Parecer consultivo 5/1985 A Costa Rica solicitou parecer sobre a interpretação dos arts. 13 e 29 da CADH em relação ao registro profissional obrigatório de jornalistas. A corte afirmou que o registro profissional obrigatório de jornalistas, na medida em que impeça o acesso de qualquer pessoa ao uso pleno dos meios de comunicação social como veículo para se expressar ou para transmitir informação, é incompatível com o artigo 13 da CADH. Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal- STF também dispensou a necessidade de diplomas para jornalista. Observação: Diálogo interjurisdicional. Algumas questões são tratadas tanto pelo STF quanto pela Corte Interamericana e muitas vezes de forma diferente. A doutrina dispõe que neste caso não se pode preponderar uma Corte em detrimento da outra, devendo se buscar o diálogo entre as cortes. Quando o STF vai julgar determinada matéria na qual a Corte já tenha se manifestado, ele deve respeitar o entendimento da Corte naquele determinado sentido. O mesmo se dá no caso inverso. Caso última tentação de Cristo (2001) O Poder Judiciário chileno impôs censura à exibição cinematográfica de A última tentação de Jesus Cristo. Na sentença que julgou o caso, a Corte condenou o Chile pela censura prévia, que violou os direitos de liberdade de pensamento e expressão, bem como a liberdade de consciência e religião, assegurados na Convenção. A Corte ainda determinou ao Chile que alterasse a sua Constituição, de forma a eliminar a censura prévia. Foi proibida a exibição no Chile do filme “A última tentação de Cristo” e a Corte entendeu que esta censura era incompatível com a Convenção e determinou a alteração da Constituição do Chile que assim fez. Casos Barrios Altos (2001), Almonacid (2006) e La Cantuta (2006) Leis do Peru e do Chile anistiaram os agentes do Estado por crimes praticados durante os regimes Fujimori e Pinochet. Nesses casos, a Corte afirmou que as auto- anistias, excludentes de responsabilidade por violações graves dos direitos humanos, são inadmissíveis e, ao impedir o acesso das vítimas e seus familiares à verdade e à justiça, são violadoras dos artigos 1, 2, 8 e 25 da Convenção. A Corte entende que estas leis que anistiam agentes públicos que cometeram crimes contra a humanidade são nulas, invalidas, não vigentes e incompatíveis com a Convenção. Os crimes contra a humanidade são imprescritíveis, violam obrigações erga omnes. Este entendimento é jurisprudência pacifica da Corte. Os conservadores políticos sustentam a validade das leis de anistia, pois consideram as posturas dos militares foram corretas, que impediram uma ditadura pior, que seria a ditadura comunista. Entendem que se a anistia for considerada invalida para os agentes do Estado devem ser consideradas também invalidas para os particulares. O que a Corte entende é que os crimes contra a humanidade praticados pelo Estado, por agentes públicos não são passiveis de que eles mesmos se auto anistiem. Caso Escher Vs. Brasil (2009) Em maio de 1999, uma juíza autorizou, sem fundamentação e fora de sua competência, a realização de grampos em linhas telefônicas de cooperativas de trabalhadores ligadas ao MST, cujas gravações foram vazadas para a imprensa. A Corte entendeu que o Brasil violou os artigos 11 (proteção da vida privada) e 16 (liberdade de associação), pois a interceptação realizada em detrimento das vítimas não observou os requisitos do direito interno e com a intenção de criminalizar os trabalhadores rurais ligados a movimentos sociais. O que ocorreu foi que policiais militares, que não tem competência investigatória, solicitaram a juíza a fazer grampos e ela sem justificativa mandou realizar o grampo. Caso Vélez Loor Vs. Panamá (2010) O Panamá foi acusado de prender o equatoriano Vélez Loor em condições desumanas, processá-lo sem as devidas garantias por delitos relacionados à sua situação migratória e de não investigar as denúncias de tortura por ele apresentadas. A Corte entendeu que o Panamá violou a CADH e a Convenção Interamericana para prevenir e punir a tortura. Afirmou que é arbitraria a detenção obrigatória dos migrantes irregulares, sem que as autoridades competentes verifiquem em cada caso a possibilidade de utilizar medidas menos restritivas que sejam efetivas. Este precedente trata dos direitos humanos dos migrantes, tema do momento, que está em evidência. A prisão automática do migrante irregular é arbitraria, devendo ser verificado caso a caso, se é possível a adoção de medidas menos gravosas. Caso Damião Ximenes Foi a primeira condenação do Brasil na Corte. O jovem Damião possuía problemas mentais e foi internado em um hospital público por sua mãe. No dia seguinte da internação, quando a mãe foi visita-lo ele estava machucado e morreu logo em seguida. A mãe buscou a responsabilidade criminal dos autores do fato, mas nada conseguiu. Sendo assim, a Corte condenou o Brasil, tanto por violação do direito à vida, integridade física do Damiao e pela violação do acesso à justiça pela família. Este caso ensejou o deslocamento de competência de casos que possam causar grave violação de direitos humanos ao Brasil da justiça estadual para a justiça federal. Caso Gomes Lund ou Araguaia (2010) O Estado brasileiro foi acusado de execução extrajudicial de uma pessoa e de detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de 70 pessoas, entre membros do Partido Comunista do Brasil e camponeses da região do Araguaia, como resultado de operações do exército brasileiro empreendidas entre 1972 e 1975 com o objetivo de erradicar a Guerrilha no contexto da ditadura militar. A Corte concluiu que o Brasil é responsável pela desaparição forçada de 62 pessoas. Com base no direito internacional e em sua jurisprudência constante, a Corte interamericana concluiu que as disposições da lei brasileira de anistia que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a Convenção americana e carecem de efeitos jurídicos, razão pela qual não podem continuar representando um obstáculo para a investigação dos fatos do caso, nem para a identificação e a punição dos responsáveis. Este caso resultou na condenação do Brasil pelo desaparecimento forçado de 62 pessoas e neste mesmo julgado a Corte considerou nula a lei brasileira de anistia, já que esta não poderia anistiar agentes públicos que cometeram crimes contra a humanidade. O STF julgou a ADPF 153 e entendeu pela constitucionalidade da lei brasileira de anistia. EMENTA: LEI N. 6.683/79, A CHAMADA "LEI DE ANISTIA". ARTIGO 5º, CAPUT, III E XXXIII DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL; PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E PRINCÍPIO REPUBLICANO: NÃO VIOLAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E TIRANIA DOS VALORES.INTERPRETAÇÃO DO DIREITO E DISTINÇÃO ENTRE TEXTO NORMATIVO E NORMA JURÍDICA. CRIMES CONEXOS DEFINIDOS PELA LEI N. 6.683/79. CARÁTER BILATERAL DA ANISTIA, AMPLA E GERAL. JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA SUCESSÃO DAS FREQUENTES ANISTIAS CONCEDIDAS, NO BRASIL, DESDE A REPÚBLICA. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO E LEIS-MEDIDA. CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES E LEI N. 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997, QUE DEFINE O CRIME DE TORTURA. ARTIGO 5º, XLIII DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INTERPRETAÇÃO E REVISÃO DA LEI DA ANISTIA. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 26, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1985, PODER CONSTITUINTE E "AUTO-ANISTIA". INTEGRAÇÃO DA ANISTIA DA LEI DE 1979 NA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. ACESSO A DOCUMENTOS HISTÓRICOS COMO FORMA DE EXERCÍCIO DO DIREITO FUNDAMENTAL À VERDADE. 1. Texto normativo e norma jurídica, dimensão textual e dimensão normativa do fenômeno jurídico. O intérprete produz a norma a partir dos textos e da realidade. A interpretação do direito tem caráter constitutivo e consiste na produção, pelo intérprete, a partir de textos normativos e da realidade, de normas jurídicas a serem aplicadas à solução de determinado caso, solução operada mediante a definição de uma norma de decisão. A interpretação/aplicação do direito opera a sua inserção na realidade; realiza a mediação entre o caráter geral do texto normativo e sua aplicação particular; em outros termos, ainda: opera a sua inserção no mundo da vida. 2. O argumento descolado da dignidade da pessoa humana para afirmar a invalidade da conexão criminal que aproveitaria aos agentes políticos que praticaram crimes comuns contra opositores políticos, presos ou não, durante o regime militar, não prospera. 3. Conceito e definição de "crime político" pela Lei n. 6.683/79. São crimes conexos aos crimes políticos "os crimes de qualquer natureza relacionados com os crimes políticos ou praticados por motivação política"; podem ser de "qualquer natureza", mas hão de terem estado relacionados com os crimes políticos ou hão de terem sido praticados por motivação política; são crimes outros que não políticos; são crimes comuns, porém relacionados com os crimes políticos ou praticados por motivação política. A expressão crimes conexos a crimes políticos conota sentido a ser sindicado no momento histórico da sanção da lei. A chamada Lei de anistia diz com uma conexão sui generis, própria ao momento histórico da transição para a democracia. Ignora, no contexto da Lei n. 6.683/79, o sentido ou os sentidos correntes, na doutrina, da chamada conexão criminal; refere o que "se procurou", segundo a inicial, vale dizer, estender a anistia criminal de natureza política aos agentes do Estado encarregados da repressão. 4. A lei estendeu a conexão aos crimes praticados pelos agentes do Estado contra os que lutavam contra o Estado de exceção; daí o caráter bilateral da anistia, ampla e geral, que somente não foi irrestrita porque não abrangia os já condenados --- e com sentença transitada em julgado, qual o Supremo assentou --- pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal. 5. O significado válido dos textos é variável no tempo e no espaço, histórica e culturalmente. A interpretação do direito não é mera dedução dele, mas sim processo de contínua adaptação de seus textos normativos à realidade e seus conflitos. Mas essa afirmação aplica-se exclusivamente à interpretação das leis dotadas de generalidade e abstração, leis que constituem preceito primário, no sentido de que se impõem por força própria, autônoma. Não àquelas, designadas leis-medida (Massnahmegesetze), que disciplinam diretamente determinados interesses, mostrando-se imediatas e concretas, e consubstanciam, em si mesmas, um ato administrativo especial. No caso das leis-medida interpreta-se, em conjunto com o seu texto, a realidade no e do momento histórico no qual ela foi editada, não a realidade atual. É a realidade histórico-social da migração da ditadura para a democracia política, da transição conciliada de 1979, que há de ser ponderada para que possamos discernir o significado da expressão crimes conexos na Lei n. 6.683. É da anistia de então que estamos a cogitar, não da anistia tal e qual uns e outros hoje a concebem, senão qual foi na época conquistada. Exatamente aquela na qual, como afirma inicial, "se procurou" [sic] estender a anistia criminal de natureza política aos agentes do Estado encarregados da repressão. A chamada Lei da anistia veicula uma decisão política assumida naquele momento --- o momento da transição conciliada de 1979. A Lei n. 6.683 é uma lei-medida, não uma regra para o futuro, dotada de abstração e generalidade. Há de ser interpretada a partir da realidade no momento em que foi conquistada. 6. A Lei n. 6.683/79 precede a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes --- adotada pela Assembléia Geral em 10 de dezembro de 1984, vigorando desde 26 de junho de 1987 --- e a Lei n. 9.455, de 7 de abril de 1997, que define o crime de tortura; e o preceito veiculado pelo artigo 5º, XLIII da Constituição --- que declara insuscetíveis de graça e anistia a prática da tortura, entre outros crimes --- não alcança, por impossibilidade lógica, anistias anteriormente a sua vigência consumadas. A Constituição não afeta leis-medida que a tenham precedido. 7. No Estado democrático de direito o Poder Judiciário não está autorizado a alterar, a dar outra redação, diversa da nele contemplada, a texto normativo. Pode, a partir dele, produzir distintas normas. Mas nem mesmo o Supremo Tribunal Federal está autorizado a rescrever leis de anistia. 8. Revisão de lei de anistia, se mudanças do tempo e da sociedade a impuserem, haverá --- ou não --- de ser feita pelo Poder Legislativo, não pelo Poder Judiciário. 9. A anistia da lei de 1979 foi reafirmada, no texto da EC 26/85, pelo Poder Constituinte da Constituição de 1988. Daí não ter sentido questionar-se se a anistia, tal como definida pela lei, foi ou não recebida pela Constituição de 1988; a nova Constituição a [re]instaurou em seu ato originário. A Emenda Constitucional n. 26/85 inaugura uma nova ordem constitucional, consubstanciando a ruptura da ordem constitucional que decaiu plenamente no advento da Constituição de 5 de outubro de 1988; consubstancia, nesse sentido, a revolução branca que a esta confere legitimidade. A reafirmação da anistia da lei de 1979 está integrada na nova ordem, compõe-se na origem da nova norma fundamental. De todo modo, se não tivermos o preceito da lei de 1979 como ab-rogado pela nova ordem constitucional, estará a coexistir com o § 1º do artigo 4º da EC 26/85, existirá a par dele [dicção do § 2º do artigo 2º da Lei de Introdução ao Código Civil]. O debate a esse respeito seria, todavia, despiciendo. A uma por que foi mera lei-medida, dotada de efeitos concretos, já exauridos; é lei apenas em sentido formal, não o sendo, contudo, em sentido material. A duas por que o texto de hierarquia constitucional prevalece sobre o infraconstitucional quando ambos coexistam. Afirmada a integração da anistia de 1979 na nova ordem constitucional, sua adequação à Constituição de 1988 resulta inquestionável. A nova ordem compreende não apenas o texto da Constituição nova, mas também a norma-origem. No bojo dessa totalidade --- totalidade que o novo sistema normativo é --- tem-se que "[é] concedida, igualmente, anistia aos autores de crimes políticos ou conexos"praticados no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979. Não se pode divisar antinomia de qualquer grandeza entre o preceito veiculado pelo § 1º do artigo 4º da EC 26/85 e a Constituição de 1988. 10. Impõe-se o desembaraço dos mecanismos que ainda dificultam o conhecimento do quanto ocorreu no Brasil durante as décadas sombrias da ditadura. (ADPF 153, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 29/04/2010, DJe-145 DIVULG 05-08-2010 PUBLIC 06-08-2010 EMENT VOL-02409-01 PP-00001 RTJ VOL-00216- 01 PP-00011) Qual o entendimento que deve ser aplicado? A Corte entendeu que o STF não realizou o controle de convencionalidade da lei de anistia, mas sim somente a constitucionalidade. Todo juiz deve analisar a lei não somente sobre o ponto de vista da Constituição de seu Estado, mas também conforme a Corte Interamericana de direitos humanos. Deve ser aplicado o Duplo controle da lei – A lei deve ser submetida tanto ao controle de constitucionalidade quanto o de convencionalidade. A lei de anistia brasileira, portanto, é invalida no Brasil, pois que inconvencional, como a maioria da doutrina assim entende. Resumindo: Para o STF, a lei de anistia é válida, pois constitucional. Já para a Corte Interamericana é a lei de anistia invalida, pois que inconvencional. QUESTÃO AGU (2012) Na sentença do caso Gomes Lund Vs. Brasil, a Corte Interamericana de direitos humanos estabeleceu que o dever de investigar e punir os responsáveis pela prática de desaparecimentos forçados possui caráter de jus cogens. RESPOSTA: CORRETA. Ou seja, imprescritíveis, insuscetíveis de anistia.
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