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Fundamentos de Sociologia do Direito Fundamentos de Sociologia do Direito 2Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Na passagem do sistema jurídico tradicional para o moderno, o direito legitima-se pela legalidade. Posteriormente, esse modelo concebido como Estado de Direito é superado pelo Estado Social, que rompe com o formalismo jurídico do modelo anterior. Percebe-se, nesse momento, o fenômeno denominado politização do direito, com forte intervenção do poder executivo, instrumentalizando o direito de acordo com as suas finalidades políticas. Com a superação desse modelo de Estado, pelo Estado Democrático de Direito, o judiciário assume a função de controle da constitucionalidade das leis, fiscalizando os poderes legislativo e executivo, caracterizando o que passa a ser conhecido como judicialização da política. ● Aprimoramento da reflexão crítica e análise textual. ● Aperfeiçoamento da argumentação escrita e oral. ● Capacidade de problematização das noções trabalhadas durante o curso. ● Conhecimento das noções fundamentais da Sociologia e do Pensamento sociológico aplicado ao Direito. ● Reflexão sobre noções sociológicas, políticas e históricas com questões contemporâneas da Sociologia Jurídica. ● Sistemas jurídicos tradicionais e moderno; ● Crise do Direito Moderno. Introdução Objetivo Tópicos Abordados Fundamentos de Sociologia do Direito 3Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Legitimidade Tradicional e Moderna Você conhecerá, agora, as características da legitimidade tradicional e moderna. Clique sobre as imagens abaixo e confira a diferença entre elas: Para refletir Entretanto, até que ponto um direito político, modificável a bel-prazer, pode proporcionar uma autoridade com caráter obrigatório, semelhante à do direito sagrado indisponível? Será que o direito positivo conserva algum vestígio da obrigatoriedade, a partir do momento em que não pode mais extrair seu modo de validade de um direito anterior situado acima dele, como era o caso do direito burocrático do soberano no sistema jurídico tradicional ? (3) (3) Ibid., 233 Observa-se nas estruturas jurídicas tradicionais, quer dizer, pré-modernas, uma formação na qual se superpõem às normas provindas de uma tradição as normas que se manifestam a partir de um elemento do poder político. Além dessas duas camadas normativas, uma terceira, justificada na forma de tradições jurídicas sagradas, permite ao direito exercer a sua intenção legítima, autônoma, ao acentuar o seu “caráter não-instrumental, isto é, indisponível, que o soberano tem que respeitar em sua jurisdição” . (1) (1) HABERMAS, Jurgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p.232. Quando passamos à modernidade, essa visão religiosa ou metafísica de mundo se desintegra, perdendo a sua força como elemento de coesão. Já a tradição cede o seu poder de autoridade, reduzindo a força do direito consuetudinário e aumentando a do direito erudito. Observa-se, então, uma das principais características, do período moderno, ou seja, a redução do direito “a uma única dimensão, passando a ocupar apenas o lugar até então reservado ao direito burocrático dos soberanos” (2) . Nesse momento, diante do risco de desaparecer, ao se reduzir apenas à sua dimensão instrumental, logo, com a perda da sua identidade ou autonomia para a política, se faz urgente repensar um novo momento de indisponibilidade ou validade para o direito. (2)Ibid., 233 Fundamentos de Sociologia do Direito 4Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Em qualquer compreensão que se tenha do direito, seja ela a tradicional ou mesmo a moderna, é possível se observar uma tensão interessante entre as duas intenções que o perpassam. Clique nos números em destaque e confira! Por um lado, o direito se aproveita de uma intenção prática, que o institucionaliza como um conjunto de decisões do legislador, ou mesmo como um conjunto de tradições do direito consuetudinário, tornando-o um meio ou instrumento eficiente para o exercício do poder político. No entanto, por outro lado, se soma a essa intenção uma outra, exigindo-lhe um fundamento de legitimação, que o torne indisponível a qualquer decisão que o tome como um meio da sua vontade, logo, uma intenção que o reconhece por normas que merecem obediência jurídica. A conciliação dessas duas intenções do direito, a que assegura a sua executabilidade com a que assegura a sua legitimidade, extrapolando o domínio da praticidade, torna-se o problema da legitimidade moderna, cuja solução, por sua vez, não mais se justifica na busca de padrões suprapositivos, como assim o fez o direito natural. Fundamentos de Sociologia do Direito 5Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Esquema da Estrutura Tridimensional do Sistema Jurí- diconos Antigos Impérios Você conhecerá, agora, as características da legitimidade tradicional e moderna. Agora que você já conhe o sistema jurídico nos antigos impérios veja como é o sistema jurídico na Idade Média Européia. Direito Sagrado: Administrado exegeticamente por especialistas teólogos e juristas. Direito Burocrático: Seu núcleo era formado por um direito burocrático, estabelecido pelo rei ou imperador, que era, ao mesmo tempo, o senhor supremo do tribunal, em conformidade com tradições jurídicas sagradas. Direito Consuetudinário: Via de regra não-escrito, e que provinha em última instância de tradições jurídicas tribais. Direito canônico da Igreja católica: Reprodução do direito romano clássico. Direito dos decretos imperiais e capitulares: Ligava-se à idéia de império romano, mesmo antes da redescoberta do Corpus Justinianus. Direito consuetudinário: Mistura de elementos da cultura jurídica romana e da germânica, freqüente nas províncias romanas ocidentais, tendo sido transmitido por escrito a partir do século XII. Fundamentos de Sociologia do Direito 6Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Estado de Direito e Formalismo Jurídico A alternativa moderna para uma legitimidade sem fundamentos suprapositivos foi o Estado de direito. Nesse modelo, o Estado se legitima pelo princípio da legalidade, garantidor da proteção dos direitos individuais e da renúncia em intervir no campo econômico e social. Esses princípios normativos presentes em seu ordenamento jurídico, faz com que o Estado se postule, ao mesmo tempo, como a única fonte do Direito e como a autoridade política que irá instrumentalizá-lo. O direito identifica-se plenamente com a ordem política ou estatal. No processo de decisão judicial, a legitimidade pela legalidade, ou o formalismo jurídico, tende a “acentuar o elemento da lógica pura e mecânica no processo jurisdicional, ignorando ou encobrindo, ao contrário, o elemento voluntarístico, discricional, da escolha” . (4) (4) CAPPELLETTI, Mauro. Juízes legisladores? Porto Alegre: Sergio Fabris Editores. 1999. p.32 e 33 Não passou em branco, para algumas escolas de pensamento, “A ilusão da idéia de que o juiz se encontra na posição de declarar o direito de maneira não criativa com os instrumentos da lógica dedutiva, sem envolver, assim, em tal declaração a sua valoração pessoal.” (5), como: A jurisprudência sociológica e o realismo legalista nos EUA. A jurisprudência dos interesses e a escola do direito livre na Alemanha. O método da livre pesquisa científica de François Gény e de seus seguidores em França. (5) CAPPELLETTI, Mauro. Op.cit. p.32 e 33 Fundamentos de Sociologia do Direito 7Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado É notório que a modernidade procura estabelecer uma nova ordem para o mundo: uma ordem orientada pela razão. Juridicamente, almeja-sea figura de um legislador racional, criador de uma nova ordem, a despeito dos costumes e da tradição existentes. Ao mesmo tempo, com a teoria da separação dos poderes, submete-se a atividade do juiz à vontade do legislador e, como citado acima em tom de crítica, também se cerceia as suas decisões por uma lógica dedutiva, denominada silogismo jurídico. Por essa lógica, a premissa maior seria a lei, a premissa menor, o caso concreto, e a conclusão, a decisão. Dentro dessa estrutura de pensamento, o direito, tanto na sua criação quanto na sua aplicação, estaria limitado ao processo legislativo, sob a autoridade e controle do Estado; do Estado de Direito Liberal. Fundamentos de Sociologia do Direito 8Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Estado Social e a Politização do Direito Jornal do Direito O modelo de Estado de Direito Liberal entra em crise, na passagem do século XIX para o século XX, com a expansão das lutas sindicais. A sua derrocada final ocorre com a crise da bolsa de Nova Iorque, em 1929, que assinalou as deficiências do sistema capitalista concorrencial e consequentemente da capacidade do mercado se autogerir. Em decorrência desses fatos, o Estado se transforma numa entidade reguladora, tornando-se, tipicamente, um Estado social de direito; o Estado- providência. O Executivo terminou exercendo um papel simultaneamente controlador, diretivo, coordenador, indutor e planejador. Ou seja: de simples provedor de serviços básicos, no século XIX, ele passou até mesmo a atuar como produtor direto de bens e serviços, chegando, na segunda metade do século XX, ao ponto de se tornar árbitro dos conflitos nos quais também é parte. (6) (6)FARIA, José Eduardo (org.). Direito e globalização econômica: implicações e perspectivas. São Paulo: Malheiros Editores, 1998. p.7 Por sua vez o poder judiciário, com a crise desse referencial de ordem e segurança garantidos pelo formalismo, abre espaço para o valor da justiça, garantido não mais pela ação formal contida na lógica dedutiva, mas pela razoabilidade referente a cada caso concreto. (A razoabilidade, ou, a decisão do caso concreto, é uma exigência do Welfare State, ou seja, do Estado Social). Fundamentos de Sociologia do Direito 9Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Crise do Estado Social: Constitucionalismo Moderno e a Judicialização da Política Na década de setenta, entra em crise o modelo de Estado Social, ao mesmo tempo em que se consolidam os diferentes fenômenos responsáveis pela globalização econômica. Condicionado assim por dois princípios conflitantes, o da legalidade (típico do Estado liberalclássico), e o da eficiência das políticas públicas nos campos social e econômico (típico do Estado-providência), o Estado contemporâneo, por meio de seu poder executivo, passa a agir de modo paradoxal gerando, em nome da estabilização monetária, do equilíbrio das finanças públicas, da retomada do crescimento e da abertura comercial e financeira, uma corrosiva inflação jurídica. Disso decorre a “desvalorização” progressiva do direito positivo, impedindo-o de exercer satisfatoriamente suas funções controladoras e reguladoras. (7) (7) FARIA, op. cit. p. 9 Exemplo Fundamentos de Sociologia do Direito 10Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Mas, em substituição à invasão do direito pela política, com a passagem do Estado de direito ao Welfare State, seguese, com o constitucionalismo moderno, a invasão da política pelo direito; a denominada, judicialização da política. (8) Em decorrência desse fato, o judiciário se fortalece, estendendose sobre a atividade política legislativa através do controle de constitucionalidade. Além do mais, apontam-se tendências de desneutralização do judiciário, após o momento da positivação jurídica, levando ao estabelecimento de uma nova relação ente os poderes do Estado (o tema da limitação prevalece sobre o da separação). Essa maior participação do judiciário, e a sua nova relação com os poderes do Estado, principalmente com o legislativo, pode ser comprovada em debates travados na esfera jurisdicional (STF). (8) VIANNA, Luiz Werneck et all. “Poder judiciário: positivação do direito natural e história.” In: Corpo e Alma da Magistratura Brasileira. Rio de Janeiro: Revan, 1997. A interrupção da gravidez de fetos anencéfalos; a pesquisa com células-tronco embrionárias; a lei da fidelidade partidária; a lei da Anistia, etc. Além desses temas, outros virão a ser debatidos, visando não a criação de leis, mas a constitucionalidade do tema: aborto, eutanásia, adoção de crianças por casais homoafetivos, união estável entre casais homoafetivos, etc. Exemplo Fundamentos de Sociologia do Direito 11Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Resumo Esquemático Sobre a Crise do Direito Moder- no e do Estado de Direito Estado de Direito = Neutralização do judiciário (legislativo forte). Welfare State = Politização do judiciário (executivo forte). Constitucionalismo democrático = Judicialização do político (judiciário forte). Fundamentos de Sociologia do Direito 12Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Avaliação a Distância 1 - É hora de fazer um exercício para fixar o que você aprendeu até o momento. Escolha dentre as alternativas abaixo a que apresenta a questão correta. 2 - Qual das afirmativas abaixo caracteriza o Estado Social? Respostas - 1 - D, 2 - B I - Os sistemas jurídicos tradicionais legitimavam-se somente pela dimensão da legalidade, ou seja, o direito confundia-se com o domínio político do Estado. II - Os sistemas jurídicos modernos legitimam-se através da dimensão sagrada ou indisponível do Direito, utilizado pelo Estado, mas não resultante do mesmo. A - Somente a afirmação I é verdadeir. C - é um Estado em que as leis são legitimadas por sua origem divina ou metafísica. B - Somente a afirmação II é verdadeira. D - é um Estado que se caracteriza pela prioridade do legislativo sobre os demais poderes. C - As duas afirmações são verdadeiras. A - é um Estado mínimo, em que o Executivo tem funções apenas de prover serviços básicos D - Nenhuma afirmação é verdadeira. B - é um Estado que passa a ter funções reguladoras, interferindo de maneira ativa nas relações sociais Fundamentos de Sociologia do Direito 13Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado 3 - É hora de fazer um exercício para fixar o que você aprendeu até o momento. Escolha dentre as alternativas abaixo a que apresenta a questão correta. I - No Estado Social, a atividade do juiz é restrita ao domínio da lei, ou seja, ele é um mero aplicador da lei. II - No Estado Social, de acordo com as suas atividades reguladoras, há um processo de criação exagerada de leis, conhecido como processo inflacionário legislativo. A - Somente a afirmação I é verdadeir. B -Somente a afirmação II é verdadeira. C - As duas afirmações são verdadeiras. D - Nenhuma afirmação é verdadeira. Respostas - 3 - B Fundamentos de Sociologia do Direito 14Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Atividade Complementar Leitura da obra e do site: CAPPELLETTI, Mauro. Juízes legisladores? Porto Alegre: Sergio Fabris Editores. 1999. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69091998000300011 Fundamentos de Sociologia do Direito 15Sistemas Jurídicos e Legitimidade do Estado Síntese Comparação entre a legitimidade tradicional e a moderna. A substituição de critérios formais de legitimidade, típicos do Estado de Direito, por critérios materiais ou sociais, defendidos pelo Estado Social, e a posterior transformação desse modelo para o constitucionalismo moderno. ● CAPPELLETTI, Mauro. Juízes legisladores? Porto Alegre: Sergio Fabris Editores. 1999. ●FARIA, José Eduardo (org.). Direito e globalização econômica: implicações e perspectivas. São Paulo: Malheiros Editores, 1998. Bibliografia Recomendada
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