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Feminicidio

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FACULDADES UNIFICADES DE FOZ DO IGUAÇU – UNIFOZ
CURSO DE DIREITO
BRUNA RAFAELA BET
FEMINICÍDIO
FOZ DO IGUAÇU/PR
2017
BRUNA RAFAELA BET
FEMINICÍDIO
 Trabalho apresentado à disciplina de Direito Penal III, como requisito parcial da avaliação bimestral do Curso de Graduação Direito das Faculdades Unificadas de Foz do Iguaçu – UNIFOZ.
Profº. Ms. Marcelo Gobbo Dalla Dea.
FOZ DO IGUAÇU/PR
2017
SUMÁRIO
 INTRODUÇÃO....................................................................................04
A evolução do termo Feminicídio.....................................................................05
Dados nacionais sobre a violência contra as mulheres...................................05
Características do crime Feminicídio...............................................................06
Necessidade da Tipificação do crime de Feminicídio......................................07
A lei nº 13.104/2015 e o Código Penal Brasileiro............................................07
Critério Biológico..............................................................................................09
Impactos e importância da Lei de Feminicídio.................................................10
Breve apresentação de duas teses jurídicas que são comumente usadas para culpabilização da vítima nos crimes contra a vida...........................................10
Legítima defesa da honra............................................................................10
Crime passional e violenta emoção: ‘matou por amor’, ‘por ciúme’, ou ‘inconformado com o término do namoro’....................................................11
 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................12
 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO.......................................................13
INTRODUÇÃO 
A violência de gênero constitui questões, que começa a ganhar visibilidade, no Brasil, na década de 1970, com idas e vindas, passando pela Lei 9.099/95, que não se mostrou instrumento hábil a enfrentar a violência doméstica e familiar contra a mulher. A partir de agosto de 2006, o fenômeno social da violência doméstica recebe a tutela da Lei 11.340 - Lei Maria da Penha, que propõe tutela ampla para a mulher em risco de violência doméstica visando assegurar o direito fundamental da igualdade.
A proposta de criminalização do feminicídio no Brasil insere-se na tendência observada na América Latina, desde os anos noventa, de reconhecimento da violência contra mulheres como um delito específico. 
Essa demanda feminista é originada da constatação de que a violência baseada no gênero era naturalizada ou mesmo ignorada pelo direito penal levando à conclusão de que os direitos humanos das mulheres não eram objeto de proteção adequada. 
A nova qualificadora pretendendo igualizar as condições adversas da mulher, criou situações desiguais em outros, visto que são iguais.
A evolução do termo feminicídio
 Em 1976, o termo feminicídio foi atribuído a Diana Russel que o utilizou para se referir a morte de mulheres por homens pelo fato de serem mulheres. 
 Posteriormente, foi redefinido por Jane Caputti e Diana Russel, em 1990, como um extremo terror contra as mulheres que incluem uma variedade de abusos físicos e psicológicos, tais como o estupro, a tortura, a escravidão sexual, agressão física e sexual, entre outras que resultem em morte será feminicídio. O feminicídio aparece então, como o extremo de um padrão sistemático de violência, universal e estrutural, fundamentado no poder patriarcal das sociedades ocidentais.
 Por sua vez, a expressão Feminicídio foi cunhada por Marcela Lagarde, a partir do termo Femicidio (femicide) para revelar as mortes de mulheres ocorridas em um contexto de impunidade e conivência do estado. Para Lagarde, para que ocorra o feminicídio devem concorrer à impunidade, a omissão, a negligência e a conivência das autoridades do estado, que não criam segurança para a vida das mulheres, razão pela qual o feminicídio é um crime de estado. Assim, Lagarde introduz um elemento político na conceituação, isto é, a responsabilidade do estado na produção das mortes de mulheres.
 Embora existam diferenças conceituais entre Femicidio e feminicídio vinculados ao contexto histórico em que foram elaboradoras, em geral, as duas expressões são tomadas como sinônimos pelas legislações latino-americanas e na literatura feminista. Neste artigo, embora reconheça a diferenciação originária de cada termo, utilizo o termo feminicídio, conforme disposto nos projetos de lei que tramitaram no Congresso Nacional e na Lei 13.104/2015 que introduziu a qualificadora no Código Penal. 
Dados nacionais sobre a violência contra as mulheres
Este dados foram revelados na pesquisa do DataSenado, realizada de 24 de junho a 7 de julho deste ano, esse trabalho é feito por eles a cada dois anos, desde 2005, com mulheres de todos os Estados brasileiro.
Em 2014, foi registrado um total de 52.957 denúncias de violência contra a mulher, sendo que 27.369 correspondem à violência física (51,68 %), 16.846 a violência psicológica (31,81 %), 5.126 de violência moral (9,68 %), 1.517 violências sexuais (2,86%), 931 cárcere privado (1,76%), 140 envolvendo tráfico de pessoas (0,26), e 1.028 de violência patrimonial.
Dos atendimentos registrados em 2014, 80% das vítimas tinham filhos, sendo que 64,35% presenciavam a violência e 18,74% eram vítimas diretas juntamente com as mães. 
Em relação ao momento em que a violência começou dentro do relacionamento, os atendimentos de 2014 revelaram que os episódios de violência acontecem desde o início da relação (23,51%) ou de um até cinco anos (23,28%).
Características do crime de feminicídio
Na prática do crime de feminicídio evidenciam-se como pressupostos importantes a premeditação e a intencionalidade de sua consumação.
Assim, podemos destacar algumas características próprias desse tipo de crime:
É praticado com vistas à destruição do corpo feminino, utilizando-se de excessiva crueldade e chegando a causar a desfiguração do mesmo;
É perpetrado com meios sexuais, ainda que sem manifestar o intento sexual;
É cometido no contexto de relações interpessoais e íntimas ou por alguma razão pessoal por parte do agressor, podendo estar associado à violência doméstica;
Seu caráter violento evidencia a predominância de relações de gênero hierárquicas e desiguais;
Pode haver sobreposição de delitos, geradores de situações de barbárie e terror: mulheres são estupradas, mortas, queimadas, mutiladas, torturadas, asfixiadas, mordidas, baleadas, decapitadas etc.; e esses diversos crimes podem ocorrer concomitantemente, sobre um mesmo corpo;
É um crime de apropriação do corpo feminino pelo marido-proprietário como sendo um território para uso e/ou comercialização em tudo o que esse corpo pode oferecer, isto é, desde a prostituição até mesmo o tráfico de órgãos;
Ocorrem como o ápice de um processo de terror, que inclui abusos verbais, sexuais, humilhações e uma extensa gama de privações a que a mulher é submetida: mamilos arrancados, seios mutilados, genitália retalhada.
Necessidade da tipificação do crime de feminicídio
Deve-se considerar que os principais dados sobre homicídio e violência contra as mulheres disponíveis no Brasil são provenientes do Ministério da Saúde e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE. Nesse sentido, supõe-se que a dimensão desse crime é maior do que se pode mensurar a partir dos números existentes. A tipificação do crime de feminicídio preencheria essa lacuna de informações e indicadores sobre o problema e poderia contribuir para a construção de políticas de enfrentamento a essa forma extrema de violência.
O feminicídio é uma categoria ainda em construção no Brasil, tanto no campo sociológico quanto no campo jurídico, uma vezque a violência está enraizada nas estruturas sociais, assim como é parte da ‘aprendizagem’ no sistema de socialização, independentemente dos padrões socioeconômicos de pertencimento. Da CPMI da violência contra a mulher no Brasil resultaram diversas propostas de alteração legislativa, dentre elas a tipificação do feminicídio. 
A lei nº 13.104/2015 e o Código Penal Brasileiro
A Lei que incluiu o feminicídio no Código Penal brasileiro foi criada a partir de uma recomendação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência contra a Mulher (CPMI-VCM), que investigou a violência contra as mulheres nos Estados brasileiros entre março de 2012 e julho de 2013. 
A proposta de lei feita pela Comissão definia feminicídio como a forma extrema de violência de gênero que resulta na morte da mulher, apontando como circunstâncias possíveis a existência da relação íntima de afeto ou parentesco entre o autor do crime e a vítima; a prática de qualquer tipo de violência sexual contra a vítima, antes ou após a morte; e mutilação ou desfiguração da mulher, também antes ou após a morte.
O texto sofreu alterações na tramitação na Câmara e no Senado e, no momento da aprovação no Congresso Nacional, diante de pressões de parlamentares da bancada religiosa, a palavra ‘gênero’ foi retirada da Lei. De todo modo, compreender as desigualdades que concorrem para que as mortes violentas aconteçam continua sendo essencial para a correta aplicação da Lei e, principalmente, para a atuação preventiva.
A lei alterou o art. 121 do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), para incluir o feminicídio criando mais uma forma qualificada de homicídio no Código Penal Brasileiro, além de novas causas especiais de aumento de pena, bem como altera a redação da Lei 8072/80 (Lei dos Crimes Hediondos).
O artigo 121, CP, que prevê o crime de homicídio, era até então dotado de seis parágrafos, sendo que o seu § 2º, I a V previa as qualificadoras que levavam a pena de reclusão do homicídio simples de 6 a 20 anos para 12 a 30 anos. 
A legislação inovadora cria um inciso VI no § 2º, do artigo 121 e ainda um § 2º. –A, para o fim de regular o que se convencionou chamar de “Feminicídio” e que configura uma nova forma qualificada de homicídio tendo por vítima mulher em situação da chamada “violência de gênero”. A pena cominada não difere das demais formas de homicídio qualificado, permanecendo nos limites da reclusão, de 12 a 30 anos. Não obstante, são criadas causas especiais de aumento de pena num novo § 7º, incisos I a III. Esses aumentos apresentam a possibilidade de variância de 1/3 até a metade e se referem aos seguintes casos:
Anote-se que esses aumentos são específicos para a figura do Feminicídio, não se estendendo para os demais casos de homicídio, ainda que qualificados.
Outra alteração é a inclusão do novo inciso VI do § 2º, do artigo 121, CP dentre as formas qualificadas de homicídio que são consideradas como crime hediondo, de acordo com a nova redação dada ao artigo 1º, I, da Lei 8.072/90 pelo artigo 2º. Da Lei 13.104/15. 
De acordo com a letra da lei e conforme o acima mencionado, o simples fato de ser uma mulher o sujeito passivo de um crime de homicídio não é suficiente para caracterizar o “Feminicídio”. Este somente estará configurado se essa forma “extrema de violência” contra a mulher, que a leva à morte, for perpetrada num contexto de “violência de gênero”. Portanto, tratar-se-ão de homicídios que ocorram em situações em que o agressor mate a mulher numa atitude de exercício de um suposto “direito de posse” ou de “domínio pleno” sobre a vítima.
Obviamente a vítima do “Feminicídio” somente poderá ser uma mulher. Já o autor do crime em geral será um homem, mas nada impedirá que uma mulher atue como coautora ou partícipe. Além disso, tendo por base a Lei 11.340/06 não é totalmente afastável a hipótese de que uma mulher possa ser sujeito ativo do crime de “Feminicídio”, desde que esteja atuando em uma relação de “violência de gênero” contra a vitimada.
Critério Biológico
Deve ser sempre considerado o critério biológico, ou seja, identifica-se a mulher em sua concepção genética ou cromossômica. Neste caso, como a cirurgia de redesignação de gênero altera a estética, mas não a concepção genética, não será possível a aplicação da qualificadora do feminicídio.
 Francisco Dirceu Barros observou que o grande problema à utilização do critério psicológico para conceituar “mulher” reside no fato de que o mesmo é formado pela convicção íntima da pessoa que entende pertencer ao sexo feminino; critério que pode ser, diante do caso concreto subjetivo, algo que não é compatível com o Direito Penal moderno.
Para Luiz Flávio Gomes, mulher se traduz num dado objetivo da natureza. Sua comprovação é empírica e sensorial. De acordo com o art. 5º, parágrafo único, a Lei n. 11.340/2006 deve ser aplicada, independentemente de orientação sexual. Na relação entre mulheres hetero ou transexual (sexo biológico não correspondente à identidade de gênero; sexo masculino e identidade de gênero feminina), caso haja violência baseada no gênero, pode caracterizar o feminicídio.
Assim, para este autor, no caso das relações homoafetivas masculinas, definitivamente não incidirá a qualificadora. A lei falou em mulher e por analogia não poderia aplicar a lei penal contra o réu. Não podemos admitir o feminicídio quando a vítima é um homem (ainda que de orientação sexual distinta da sua qualidade masculina).
Impactos e importância da Lei de Feminicídio
O principal ganho com a Lei do Feminicídio (Lei nº 13.104/2015) é justamente tirar o problema da invisibilidade. Além da punição mais grave para os que cometerem o crime contra a vida, a tipificação é vista por especialistas como uma oportunidade para dimensionar a violência contra as mulheres no País, quando ela chega ao desfecho extremo do assassinato, permitindo, assim, o aprimoramento das políticas públicas para coibi-la e preveni-la.
Três impactos importantes esperados com a tipificação penal:
Trazer visibilidade: para conhecer melhor a dimensão e o contexto da violência mais extrema contra as mulheres.
Identificar entraves na aplicação da Lei Maria da Penha: para evitar ‘mortes anunciadas’. 
Ser instrumento para coibir a impunidade: refutar teses comuns – não só no Direito, mas em toda a sociedade, incluindo a imprensa – que colocam a culpa do crime em quem perdeu a vida. 
Breve apresentação de duas teses jurídicas que são comumente usadas para culpabilização da vítima nos crimes contra a vida
8.1 Legítima defesa da honra
A figura da “legítima defesa da honra” nunca existiu no marco legal brasileiro – pelo contrário, fere tanto leis nacionais como tratados e normas internacionais das quais o Brasil é signatário.
Segundo o artigo 25 do Código Penal: “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.
Para que se configure a legítima defesa importa que a reação não seja exagerada e desproporcional e seja imediata à ameaça iminente ou agressão atual a direito próprio ou de outra pessoa.
8.2 Crime passional e violenta emoção: ‘matou por amor’, ‘por ciúme’, ou ‘inconformado com o término do namoro’.
Atualmente, nos crimes dolosos contra a vida, o Código Penal prevê uma redução de pena “se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima” (§ 1º do art. 121).
Em muitos casos de feminicídio, a defesa alega justamente o “homicídio privilegiado” – quando se afirma que foi a vítima quem causou uma violenta emoção e, por conta disso, houve o crime.
A inversão da culpa e a responsabilização da mulher pela violência sofrida são dois grandes obstáculos não apenas à devida responsabilização do autor da agressão, como também à garantia de que a mulher irá receber o devido apoio e proteção para superar o episódio e, muitas vezes, romper com o ciclo da violência. São,portanto, práticas e mentalidades a serem superadas pelo Estado e pela sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Historicamente, a mulher sempre foi tratada como submissa ao homem. Na análise de gênero realizada pelo direito não pode ocorrer o tratamento diferenciado entre o homem e a mulher, cabendo a ele prevenir e reprimir a violência contra mulheres.
Em todo o país, os índices de violência contra mulheres crescem abundantemente a cada dia, e certamente, ainda existe um longo caminho para que a mulher ocupe um lugar de igualdade na sociedade quanto ao homem.
É importante lembrar que somente a lei nº 13.104/2015 não educará toda a sociedade, sendo assim, necessárias políticas públicas e educação humanista nas escolas para que, desta forma, possa reeducar todo um pensamento machista, passado de pai para filho de que a mulher é inferior ao homem.
Assim, após muitas pesquisas e leituras, podemos concluir que a principal função da lei do feminicídio é a conscientização da população quanto à prevenção de óbito de mulheres, motivados por gênero.
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
BRASILEIRAS sabem da Lei Maria da Penha, mas a violência doméstica e familiar contra as mulheres persiste. DataSenado, Brasília, 11 Ago. 2015. Disponível em:< http://www.senado.gov.br/senado/datasenado/release_pesquisa.asp?p=67>. Acesso em: 15 Set. 2017.
BANDEIRA, Lourdes. Feminicídio: a última etapa do ciclo da violência contra a mulher. Compromisso e Atitude. Nov. 2013. Disponível em:<http://www.compromissoeatitude.org.br/feminicidio-a-ultima-etapa-do-ciclo-da-violencia-contra-a-mulher-por-lourdes-bandeira/>. Acesso em: 15 Set 2017.
CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Feminicídio: aprovada a Lei 13.104/15 e consagrada à demagogia legislativa e o direito penal simbólico mesclado com o politicamente correto. Ano 2015. Disponível em:<https://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/173139580/feminicidio-aprovada-a-lei-13104-15-e-consagrada-a-demagogia-legislativa-e-o-direito-penal-simbolico-mesclado-com-o-politicamente-correto>. Acesso em: 16 Set. 2017.
CAMPOS, Carmen Hein De. Feminicídio no Brasil: Uma analise critico-feminista. Revista Eletrônica da Faculdade de Direito, Porto Alegre, ano 15, n. 1, jan.- jun. 2018. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/sistemapenaleviolencia/article/view/20275/13455>. Acesso em: 10 set 2017.
DINIZ, Priscila Mara do Nascimento. Feminicídio no direito brasileiro. Disponível em:<http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16558>. Acesso em: 16 Set. 2017.
FEMINICÍDIO. O Dossiê. Disponível em:<http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/feminicidio/#feminici%c2%addio-o-que-e>. Acesso em: 15 Set 2017.
Franco, Vanessa. Entendendo o Feminicídio - Lei 13.104/2015. 25 Abr. 2015. Disponível em:<http://resumosdireito.blogspot.com.br/2015/04/entendendo-o-feminicidio-lei-131042015.html>. Acesso em 14 Set 2017.

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