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UFC/FEAAC/DTE Microeconomia I Prof. Henrique Félix Aula 08 EQUAÇÃO DE SLUTSKY A Lei Geral da Demanda diz que a quantidade demandada de um bem é decrescente com o seu preço. Por exemplo: supondo-se uma redução do preço do bem 1 e mantidos constantes a renda monetária e os preços dos demais bens, três possíveis resultados podem ocorrer: Em (a), o consumidor aumenta a demanda do bem 1 (bem comum); Em (b), o consumidor não altera a demanda pelo bem 1 (bem neutro); e, Em (c), o consumidor reduz a demanda pelo bem 1 (bem de Giffen). As soluções do PMU (onde se conhece os preços e a renda) e do PMD (onde são dados os preços e a utilidade) são as demandas Marshallianas e Hicksianas, respectivamente, 𝑥𝑖 ∗(𝑝1, 𝑝2, … , 𝑝𝑛, 𝑀), 𝑖 = 1,2, … , 𝑛 𝑥𝑖 ℎ∗(𝑝1, 𝑝2, … , 𝑝𝑛, 𝑈), 𝑖 = 1,2, … , 𝑛 Note que a demanda Marshalliana, como função dos preços e da renda, é observável. Já a demanda Hicksiana, como função dos preços e da utilidade, é não observável, pois não há como medir a utilidade. Então, como entender o efeito de mudanças nos preços sobre a demanda de um bem? A Equação de Slutsky é o elemento teórico que explica como estas variações nos preços impactam sobre a demanda por um bem. Derivando a Equação de Slutsky Tomando-se as relações duais, foi visto que, no ponto de equilíbrio do consumidor, vale a seguinte relação: 𝑥𝑖 ℎ(𝑝, 𝑈∗) = 𝑥𝑖[𝑝, 𝑒(𝑝, 𝑈 ∗)] (1) Ou seja, a demanda Hicksiana pelo bem i ao nível de utilidade máxima é igual à demanda Marshalliana ao nível de dispêndio mínimo. Note, também que, 𝑒(𝑝, 𝑈∗) = 𝑒(𝑝, 𝑣(𝑝, 𝑀)) = 𝑀 Ou seja, o dispêndio mínimo ao nível de utilidade máxima é igual à renda. Então, diferenciando-se a equação (1) em relação à 𝑝𝑗 tem-se, 𝜕𝑥𝑖 ℎ(𝑝,𝑈∗) 𝜕𝑝𝑗 = 𝜕𝑥𝑖(𝑝,𝑀) 𝜕𝑝𝑗 + 𝜕𝑥𝑖(𝑝,𝑀) 𝜕𝑀 . 𝜕𝑒(𝑝,𝑈∗) 𝜕𝑝𝑗 (2) Aplicando-se o Lema de Shepard ao último termo do produto do lado direito, obtém-se, 𝜕𝑒(𝑝, 𝑈∗) 𝜕𝑝𝑗 = 𝑥𝑗 ℎ(𝑝, 𝑈∗) Mas, 𝑥𝑗 ℎ(𝑝, 𝑈∗) = 𝑥𝑗 ℎ(𝑝, 𝑣(𝑝, 𝑚)) = 𝑥𝑗(𝑝, 𝑀)1 (3) Substituindo-se (3) em (2), tem-se, 𝜕𝑥𝑖 ℎ(𝑝,𝑈∗) 𝜕𝑝𝑗 = 𝜕𝑥𝑖(𝑝,𝑀) 𝜕𝑝𝑗 + 𝑥𝑗(𝑝, 𝑀) 𝜕𝑥𝑖(𝑝,𝑀) 𝜕𝑀 (4) Rearrumando-se a equação (4), resulta a conhecida Equação de Slutsky: 𝜕𝑥𝑖(𝑝,𝑀) 𝜕𝑝𝑗 = 𝜕𝑥𝑖 ℎ(𝑝,𝑈∗) 𝜕𝑝𝑗 − 𝑥𝑗(𝑝, 𝑀) 𝜕𝑥𝑖(𝑝,𝑀) 𝜕𝑀 (5) De um modo geral, a equação de Slutsky diz que o Efeito Total (ET) de uma mudança no preço de um bem pode ser decomposto em dois efeitos: (1) o Efeito Substituição (ES): resultante da mudança da taxa pela qual o bem cujo preço mudou é trocado com os outros bens; e, 1 Este mesmo resultado pode ser alcançado derivando-se a equação de restrição em relação a 𝑝𝑗 . Assim, se 𝑀 = ∑ 𝑝𝑖𝑥𝑖 𝑛 𝑖=1 = 𝑝1𝑥1 + ⋯ + 𝑝𝑗𝑥𝑗 + ⋯ + 𝑝𝑛𝑥𝑛 , então, 𝜕𝑀 𝜕𝑝𝑗 = 𝑥𝑗(𝑝, 𝑀) (2) o Efeito Renda (ER): resultante da mudança na renda real (poder aquisitivo) do consumidor. A Equação de Slutsky para variações no preço do próprio bem pode ser especificada como, 𝜕𝑥𝑖(𝑝,𝑀) 𝜕𝑝𝑖 = 𝜕𝑥𝑖 ℎ(𝑝,𝑈∗) 𝜕𝑝𝑖 − 𝑥𝑖(𝑝, 𝑀) 𝜕𝑥𝑖(𝑝,𝑀) 𝜕𝑀 (6) Na equação (6), os termos: 𝜕𝑥𝑖(𝑝, 𝑀) 𝜕𝑝𝑖 é 𝑜 𝐸𝑓𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 (𝐸𝑇); 𝜕𝑥𝑖 ℎ(𝑝, 𝑈∗) 𝜕𝑝𝑖 é 𝑜 𝐸𝑓𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑆𝑢𝑏𝑠𝑡𝑖𝑡𝑢𝑖çã𝑜 (𝐸𝑆); 𝑥𝑖(𝑝, 𝑀) 𝜕𝑥𝑖(𝑝, 𝑀) 𝜕𝑀 é 𝑜 𝐸𝑓𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 (𝐸𝑅) Análise dos Sinais O sinal do Efeito Substituição é sempre negativo. Isso decorre do fato de que o consumidor sempre reagirá aumentando ou diminuindo a demanda do bem no sentido contrário ao da variação do preço. Já o sinal do Efeito Renda pode ser positivo ou negativo, dependendo se o bem é normal ou inferior, respectivamente. Se o bem é normal, o efeito renda será positivo. Entretanto, quando seu sinal é combinado com o sinal algébrico negativo que antecede sua expressão, o resultado é negativo. Este fato reforça o sinal negativo do Efeito Total (ET) de uma variação de preço na demanda pelo bem. Se o bem é inferior, o efeito renda será negativo e, quando combinado com o sinal algébrico negativo que antecede sua expressão, o torna positivo. Com isso, o sinal do Efeito Total é ambíguo. Neste caso valerá o sinal do efeito mais significativo. Exemplos de Efeitos Renda e Substituição 1. Complementares perfeitos Neste caso, o efeito substituição é zero, pois não há como o consumidor efetuar trocas entre os bens mantendo o mesmo nível de utilidade. Os bens complementares perfeitos são, por definição, consumidos juntos e em proporções fixas. Desta forma, não há como o consumidor ser compensado pela variação do preço. Portanto, o efeito total é igual ao efeito renda. 2. Substitutos Perfeitos Neste caso, o efeito renda é zero, pois o consumidor sempre substituirá totalmente o bem de maior preço e escolherá gastar toda a sua renda com o bem cujo preço for menor. Portanto, o efeito total é igual ao efeito substituição. 3. Preferências Quase-Lineares Vimos que a demanda pelo bem 1 não depende da renda e que toda variação da renda será destinada à aquisição do bem 2. Isto significa que toda variação da demanda do bem 1 será devida ao efeito substituição. O efeito renda é zero. Portanto, o efeito total é igual ao efeito substituição. Efeito Substituição (Hicks versus Slutsky) Na decomposição do Efeito Total de uma variação do preço de um bem, o Efeito Substituição foi explicado de formas distintas pelos economistas John Hicks (britânico) e Eugen Slutsky (russo). Para Slutsky, na ocorrência de variação nos preços relativos, deveria ser dada ao consumidor uma compensação de renda de tal forma que lhe fosse permitido manter o seu poder aquisitivo. Para Hicks, esta compensação de renda deveria ser tal que permitisse ao consumidor manter o mesmo nível de utilidade. O Efeito Substituição de Hicks explica como o consumidor altera a taxa de troca entre os bens a partir da mudança nos preços relativos de forma a manter o mesmo nível de utilidade. No gráfico abaixo, a redução do preço do bem 1 provocou um efeito total de 𝐸∗ para 𝐸∗∗∗, decomposto em efeito substituição, de 𝐸∗ para 𝐸∗∗ , e efeito renda de de 𝐸∗∗ para 𝐸∗∗∗ . Note que pelo efeito substituição de Hicks, o ponto de ótimo se desloca na mesma curva de indiferença original, ou seja, como se o nível de utilidade fosse mantido constante. O Efeito Substituição de Slutsky explica como o consumidor altera a taxa de troca entre os bens a partir da mudança nos preços relativos de forma a manter o mesmo poder aquisitivo (renda real). No gráfico abaixo, a redução do preço do bem 1 também provocou um efeito total de 𝐸∗ para 𝐸∗∗∗ , decomposto em efeito substituição, de 𝐸∗ para 𝐸∗∗ , e efeito renda de de 𝐸∗∗ para 𝐸∗∗∗. Entretanto, note que, pelo efeito substituição de Slutsky, o ponto de ótimo se desloca sobre a reta orçamentária hipotética, ou seja, é como se o poder aquisitivo do consumidor permanecesse constante. Literatura: VARIAN, Hal R. (2012) Cap. 8 VASCONCELLOS (2011) Cap. 7 RESENDE, José G. de L. (Notas de Aula 8) JEHLE & RENY (2001) EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Sobre os efeitos substituição e renda, represente graficamente e explique, com riqueza de detalhes, a decomposição de Slutsky e Hicks de uma redução no preço do bem 1 que compõe a cesta (x1,x2) mantendo-se o preço do bem 2 e a renda monetária constantes. 2. Um indivíduo consomeapenas dois bens. Assumindo que o bem 1 é inferior e que o bem 2 é normal e supondo uma redução do preço do bem 2, pergunta-se: (a) O efeito substituição implicará no menor consumo do bem 1 e o efeito renda em um menor consumo do bem 2; (b) O efeito substituição implicará no menor consumo do bem 1 e o efeito renda em um maior consumo do bem 2; (c) Nada se pode afirmar sobre o efeito substituição apenas sobre o efeito renda; (d) Podemos considerar esses bens como substitutos. 3. Demonstre a Equação de Slutsky para as seguintes funções utilidade: (a) U(x1, x2) = x1 ax2 b (b) U(x1, x2) = [𝑥1 𝑎 + 𝑥2 𝑎]1/a (c) U(x1, x2) = x1 + √𝑥2