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Biossíntese de lipídios

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1 INTRODUÇÃO
	Os lipídeos desempenham uma grande variedade de funções, são a principal forma de armazenamento de energia na mioria dos organismos e os principais constituintes das membranas celulares. São compostos quimicamente diversos que possuem a característica de insolubilidade em àgua. Os lipídeos desempenham papéis cruciais como cofatores enzimáticos, transportado- res de elétrons, pigmentos fotossensíveis, âncoras hidrofó- bicas para proteínas, chaperonas para auxiliar no enovela- mento de proteínas de membrana, agentes emulsificantes no trato digestivo, hormônios e mensageiros intracelulares.
	A dislipidemia (ou hiperlipidemia) estará presente quando o colesterol total é elevado, seja devido ao valor da LDL ou dos triglicerídeos ser elevado ou pelos valores do HDL estarem abaixo dos referenciais, ou ainda pela combinação de ambos os fatores. O risco de doenças cardiovasculares aumenta com a alteração dos lipídeos no plasma frequentemente ocasionando patologias secundárias. Grande parte dos autores atribui risco mínimo à um valor de colesterol total abaixo de 200 mg/dL.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivos gerais
	Descrever os processos de metabolização e biossíntese lipídica, bem como seus aspectos estruturais e bioquímicos, para então abordar as patologias associadas à desregulação dos processos citados. 
2.2 Objetivos específicos
	Estudar a estrutura, metabolização e biossíntese des lipídeos.
	Dê que forma são degradados, como sua energia é exportada para outros tecidos e de que maneira são armazenados.
	Abordar as dislipidemias primárias e secundárias, enfatizando as de maior relevância e ocorrência clínica.
3 METODOLOGIA
	Este estudo constitui-se de uma revisão da literatura especializada, realizada em agosto de 2017, no qual executou-se uma consulta a livros e periódicos presentes na Biblioteca da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – campus de Carazinho, majoritariamente ‘Lehninger Princípios de bioquímica, Livro por Albert Lehninger’ e por artigos científicos selecionados através de busca no banco de dados do scielo e da bireme, a partir das fontes Medline e Lilacs. A pesquisa dos artigos foi realizada entre 17 e 25 de agosto de 2017. A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando às terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medicine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. 
	Os critérios de inclusão para os estudos encontrados foram à abordagem terapêutica do emprego das dislipidemias no que se refere à hipercolesterolemias, e estudos comparativos entre esta e outras formas de dislipidemias primárias. Logo em seguida, buscou-se estudar e compreender os principais parâmetros e forma de aplicação empregados nos estudos encontrados, de acordo com os parâmetros funcionais e fisiopatológicos dos casos dislipidêmicos.
4 METABOLIZAÇÃO LIPÍDICA NA HOMEOSTASIA
	Apesar da diferença química entre os lipídios biológicos, eles constituem um grupo de moléculas que se assemelham pela característica de serem hidrofóbicas, ou seja, insolúveis em água. Óleos e gorduras são, na maioria dos organismos, a principal forma de armazenamento de energia, fosfolipídios e esteróis são os constituintes que representam quase a metade da massa das membranas biológicas, e alguns outros tipos de lipídios desempenham funções celulares bastante diversas, como transporte de elétrons, hormônios, mensageiros intracelulares e cofatores enzimáticos, dentre outras funções (LEHNINGER, 1995).
	Ainda de acordo com Lehninger (1995), a principal forma de armazenamento de energia, os óleos e gorduras, são reduzidos e derivados dos ácidos graxos, que por sua vez derivam de hidrocarbonetos. A reação de oxidação completa dos ácidos graxos nas células, até obter-se gás carbônico e água, é altamente exergônica, ou seja, libera energia para outros processos celulares. 
β-oxidação mitocondrial dos ácidos graxos
	Os ácidos graxos, quando nos tecidos, podem ser oxidados a acetil-CoA, através da β-oxidação (oxidação mitocondrial dos ácidos graxos) ou esterificados a acilglicerol, constituindo a forma mais eficiente de reserva calórica como triacilglicerol. Os ácidos graxos que compõe os fosfolipídios, influenciam muitas das propriedades funcionais das membranas celulares a partir de suas características químicas. Os ácidos graxos poli-insaturados promovem maior fluidez, ao passo que os ácidos graxos saturados diminuem a fluidez das membranas (MOREIRA et al, 2002).
	Segundo Legninger (1995) a oxidação mitocondrial dos ácidos graxos ocorre em três estágios. No primeiro, os ácidos graxos, a partir da extremidade carboxila de sua cadeia, são submetidos à remoção oxidativa de sucessivas unidade de dois átomos de carbono na forma de acetil-CoA. Para a formação de cada molécula de acetil-CoA as desidrogenases removem átomos de hidrogênio da porção acil-graxo da molécula.
	No segundo estágio da oxidação do ácido graxo, na matriz mitocondrial ocorre a oxidação dos resíduos de acetila do acetil-CoA, através do ciclo de Krebs, até a formação de gás carbônico. Esses dos primeiros estágios produzem as moléculas carreadoras de elétrons reduzidos, NADH e FADH, que, no terceiro estágio, transferem os elétrons para a cadeia respiratória mitocondrial e, através dessa, os elétrons são transportados até o oxigênio. A fosforilação do ADP em ATP está vinculada a este fluxo de elétrons, dessa forma a energia que é liberada pela oxidação dos ácidos graxos é conservada como ATP.
β-oxidação dos ácidos graxos saturados
Os ácidos graxos saturados têm apenas ligações simples em suas cadeias carbônicas e por isso o processo de oxidação é menos complexa se comparado com a oxidação dos ácidos graxos insaturados. Lehninger (1995) descreve quatro passos básicos do processo, no primeiro estágio da oxidação dos ácidos graxos ocorrem quatro reações que são catalisadas por enzimas. Primeiro, há a produção, através de uma desidrogenação, de uma dupla ligação entre os átomos de carbono α e β, liberando um trans-Δ2-enoil-CoA. A enzima CoA desidrogenase (responsável pelo primeiro passo) inclui o FAD como grupo protético. Os elétrons que foram removidos do acil-CoA graxo são transferidos para o FAD e a forma reduzida da desidrogenase transfere, no mesmo instante, os mesmos elétrons para a flavoproteína transportadora de elétrons. Duas moléculas de ATP são sintetizadas a partir da energia da transferência de um par de elétrons do FADH2 da acil-CoA desidrogenase até o oxigênio pela cadeia respiratória. 
No segundo passo uma molécula de água é adicionada à dupla ligação do trans-Δ2-enoil-CoA para formar o estereoisômero L do β-hidroxil-CoA, essa reação é catalisada pela enzima enoil-CoA hidratase.
No terceiro passo o estereoisômero L-β-hidroxil-CoA, pela ação da β-hidroxiacil-CoA desidrogenase, é desidrogenado para a forma β-cetoacil-CoA, sendo o NAD+ o receptor de elétrons. O NADH gerado nessa reação transfere seus elétrons para a NADH desidorgenase, e a cada par de elétrons que passa do NADH até o oxigênio, são formada três moléculas de ATP através da cadeia respiratória. 
No quarto e último passo, a enzima acil-CoA-acetiltransferase (tiolase) promove a reação do β-cetoacil-CoA com uma molécula de coenzima A livre para romper o fragmento carboxila terminal de dois átomos de carbono do ácido graxo original na forma de acetil-CoA. O outro produto é o tioéster de coenzima A e do ácido graxo original, diminuído de dois átomos de carbono. Os mesmos passos são repetidos para produzir acetil-CoA e ATP.
Oxidação dos ácido graxos insaturados 
A maioria dos ácidos graxos nos triacilgliceróis e nos fosfolipídios dos organismos são moléculas que possuem uma ou mais insaturações, sendo essas ligações de configuração cis (isômero geométrico) Merçon (2010). Segundo Lehninger (1995) essas ligações não podem sofrer a ação da enoil-CoA hidratase, (enzima que catalisa adição de água na duplaligação trans do Δ2-enoil-CoA gerado durante a β-oxidação), pois esta age apenas em ligações duplas do tipo trans. Porém a ação de duas enzimas auxiliares pode oxidar os ácidos graxos da maneira como foi citada, podendo também quebrar ácidos graxos insaturados comuns.
O processo ocorre assim como a β-oxigenação, com a adição da ação de duas enzimas a mais, a enoil-CoA isomerase e a 2,4-dienoil-CoA redutase. Nas moléculas de ácido graxo que contém número ímpar de moléculas de oxigênio o processo de oxidação se dá pela mesma via, com a diferença que ao fim haverá a liberação de uma molécula de proprionil-CoA, que será carboxilado e transformado em metilmalonil-CoA mutase (enzima que requer coenzima B12). 
A oxidação dos ácidos graxos é finalmente regulada. A ingestão de grandes quantidades de hidratos de carbono suprime a oxidação dos ácidos graxos em favor da biossíntese destes mesmos ácidos. (LEHNINGER, 2002, p. 372).
CORPOS CETONICOS
Segundo Lehninger (1995), são formados no fígado e transportados para os tecidos, onde têm a função como moléculas de energia, sendo oxidados até acetil-CoA para entrar no ciclo de Krebs. 
BIOSSÍNTESE LIPÍDICA
A síntese de ácidos graxos saturados de cadeia longa ocorre a partir do acetil-CoA por um complexo citosólico de seis enzimas mais a proteína transportadora de grupos acila (ACP) que contém fosfopanteteína como seu grupo prostético. O malonil-ACP formado a partir de gás oxigênio e de acetil-CoA, que se transporta para fora da mitocôndria se condensa com uma acetila ligada ao tipo –SH de cisteína (da enzima ácido graxo sintase), para formar acetoacil-ACP e liberação de gás carbônico, Legninger (1995)
A redução para o derivado D-β-hidroxi e sua desidratação para o derivado trans-Δ2-acil-ACP insaturado é seguida pela redução para butiril-ACP, sendo o NADPH o doador de elétrons para ambos os passos de redução. Na extremidade carboxila da cadeia do ácido graxo em crescimento, mais seis moléculas de malonil-ACP reagem sucessivamente para formar o palmitoil-ACP, produto final da reação da enzima ácido graxo sintase que é liberado por hidrólise. O nível de formação de malonil-CoA regula a síntese de ácidos graxos.
Biossíntese do colesterol
A formação do colesterol se dá a partir de acetil-CoA numa complexa série de reações, tendo a participação de alguns intermediários. A condensação de unidade de isoprenos produz o esqualeno, que é cíclizado para que libere o anel esteroide e sua cadeia lateral. Altos níveis de colesterol intracelular inibe a síntese de mais colesterol, num sistema de feedback negativo. As lipoproteínas plasmáticas transportam pelo sangue o colesterol e os ésteres de colesterol.
	Lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) transportam ésteres de colesterol, colesterol e triacilgliceróis do fígado para outros tecidos, nesses os triacilgliceróis são degradados pela lipase lipoproteica, que converte VDLD em lipoproteínas de baixa densidade (LDL). As lipoproteínas de alta densidade (HDL) funcionam como removedores do colesterol do sangue para e o transporta para o fígado.
Biossíntese hormonal
Os glicocorticoides, mineralocorticoides, e hormônios sexuais (hormônios esteroides) são produzidos do colesterol pela introdução de átomos de oxigênio no sistema do anel esteroide e por alteração da cadeia lateral. Adicional ao colesterol uma larga variedade de compostos isoprenóides são derivados do mevalonato através de condensações do isopentenil pirofosfato e do dimetilalil pirofosfato. A adição de moléculas hidrofóbicas em determinadas proteína representa sua marcação para a associação com membranas celulares e é essencial para as suas atividades biológicas.
7 DISTÚRBIOS NO METABOLISMO DE LIPÍDIOS
As alterações metabólicas lipídicas são denominadas como dislipidemias, sendo que estas podem ser classificadas como primárias, quando ocasionadas por fatores genéticos, muitas vezes influenciadas por fatores ambientais, e secundárias, onde estas são decorrentes de outras patologias, também havendo casos relacionados a utilização de alguns fármacos específicos. (XAVIER, 2013).
Principais dislipidemias primárias
Hipercolesterolemias
As hipercolesterolemias são originadas através de alterações genéticas monogênicas ou poligênicas, determinando assim diferentes perfis de acordo com o padrão hereditário expresso pelo indivíduo, sendo que os distúrbios monogênicos podem ser classificados como autossômicos dominantes ou recessivos. (DI TARANTO, 2015).
7.1.1.1 Hipercolesterolemias monogênicas dominantes
A manifestação monogênica dominante de maior ocorrência e relevância é a hipercolesterolemia familiar (HF), sendo esta geralmente resultada de defeitos no gene LDLR, sendo este o codificador do receptor de LDL (TURGEON, 2016). Segundo Santos (2012), as LDL presentes na corrente sanguínea são reconhecidas através dos receptores das células, uma vez que estes entram em contato com as proteínas B100 das LDL, sendo removidas da circulação através de endocitose. O defeito genético irá dificultar a codificação do LDL pelo receptor da célula, sendo assim, seu metabolismo será reduzido, ocasionando acúmulo na corrente sanguínea.
	O diagnóstico da HF é arbitrário, portanto vários critérios serão avaliados até que seja possível alcançar a confirmação do diagnóstico. O histórico familiar é de importante relevância, sendo observada a presença de casos de doenças cardiovasculares, uma vez que a frequência destas patologias nestes indivíduos é estimada entre 50 e 70% aos 50 anos, destacando-se a aterosclerose. O exame físico é um dos principais métodos utilizados no diagnóstico, uma vez que as complicações resultadas do excesso de colesterol na corrente sanguínea são bastante específicas (SANTOS, 2012).
O acúmulo do colesterol LDL no sangue favorece seu depósito em tecidos e a captação pelos macrófagos através dos receptores scavenger. Isto poderá dar origem ao desenvolvimento de algumas condições físicas, como alterações no arco corneal e xantomas tendinosos localizados principalmente nos tendões de Aquíles e nos músculos extensores das mãos, além do desenvolvimento de aterosclerose prematura (DÍAZ, 2016 – tradução do autor).
Ainda de acordo com Santos (2012), quando no rastreamento dos níveis de LDL este apresentar valor superior a 250 mg/dL em indivíduos de 30 anos, a probabilidade do indivíduo ser portador de HF é de aproximadamente 80%. Além disso, é possível realizar o diagnóstico através do estudo genético, identificando a mutação causadora do distúrbio.
O tratamento da HF é realizado através da utilização de estatinas, fármacos que auxiliam na diminuição dos níveis de colesterol no sangue, associado à restrição alimentar, sendo válida a associação com outros fármacos em situações específicas. 
Na ocorrência de respostas negativas aos tratamentos farmacológicos, pode ser cogitado o transplante hepático (BRUCKET, 2014; XAVIER, 2013).
Além da HF, ainda existem outras hipercolesterolemias acarretadas por alterações monogênicas dominantes. A hipercolesterolemia ocasionada por mutações no gene APOB abrange cerca de 2 a 10% dos casos totais de hipercolesterolemia, já a ocasionada por mutações em PCSK9 correspondem a 2% dos casos, tendo ambas quadro clínico semelhante a HF, podendo ser diferenciadas somente através do diagnóstico molecular (DÍAZ, 2016).
7.1.1.2 Hipercolesterolemia monogênica recessiva
	Além das formas dominantes de hipercolesterolemias monogênicas, ainda há ocorrência de uma forma recessiva, porém esta é muito rara (SANTOS, 2012).
É uma forma muito infrequente de hipercolesterolemia produzida por mutações que levam a perda da função no gene LDLRAP1, que codifica a proteína de adaptação do receptor de LDL. Sua missão é permitir a ancoragem do receptor de LDL na clatrina, uma proteína da membrana celular, e regular sua internalização. (DÍAZ, 2016 – tradução do autor).
O quadro clínico expresso pelos indivíduos portadores da mutação é similar aos casos de hipercolesterolemia dominante, porém o seu prognóstico não apresentaa mesma gravidade. (DÍAZ, 2016).
7.1.1.3 Hipercolesterolemia poligênica
Apesar da ocorrência de uma quantidade significativa de casos de hipercolesterolemias ocasionadas pela mutação de um único gene, a poligênica corresponde a cerca de 80% de todos os casos de hipercolesterolemia. Como o próprio nome já descreve, nesta situação há a ocorrência de diversas alterações genéticas que se complementam, ocasionando falhas no mecanismo de metabolismo lipídico, sendo que os fatores ambientais também apresentam grande importância potencializando as mutações (STEIN, 2013).
De acordo com Díaz (2016), esta condição é manifestada quando o indivíduo alcança a idade adulta, observando-se apenas uma elevação moderada dos níveis de colesterol (entre 250-350 mg/dL), sem apresentar características relacionadas a dislipidemias. Ainda, ressalta-se que por estar associada a muitos fatores variáveis, a ocorrência desta terá suas particularidades de acordo com cada indivíduo acometido, fazendo com que o diagnóstico não seja específico. 
Hipertrigliceridemias
As Hipertrigliceridemias são ocasionadas por alterações genéticas que interferem no metabolismo lipídico, acarretando um aumento dos níveis de triglicerídeos no organismo (FERNÁNDEZ, 2012).
Hipertrigliceridemia familiar
Disfunção de caráter autossômico dominante, a hipertrigliceridemia familiar é principalmente caracterizada por alterações genéticas que superestimam a produção de triglicerídeos pelo fígado, elevando seus níveis circulantes. Com o aumento destes níveis, o organismo apresentará um desequilíbrio, uma vez que as APOB-100, lipoproteínas presentes nos VLDL e que auxiliam no transporte dos triglicerídeos para os tecidos, não terão sua produção aumentada para suprir à quantidade de triglicerídeos, fazendo com que este os as moléculas de VLDL aumentem seu tamanho devido ao excesso lipídico (DÍAZ, 2012).
Esta condição muitas vezes não apresenta sintomas específicos, e suas alterações bioquímicas “[...] geralmente se manifestam na segunda década de vida, com os níveis de triglicerídeos entre 200 e 1000mg/dL e com LDL normal.” (FERNÁNDEZ, 2012). Casos extremos, que apresentam uma elevação acentuada dos níveis de triglicerídeos (superior à 1000mg/dL) poderão ser caracterizados pela manifestação de pancreatite, dor abdominal, xantomas eruptivos e hepatoesplenomegalia (SILVA, 2015).
	O diagnóstico é realizado através de análise genética, sendo ainda possível analisar o histórico familiar e as manifestações clínicas associadas nos casos em que estas estiverem presentes, sendo estes pouco frequentes (DÍAZ, 2012). Conforme Xavier (2013), a utilização de fibratos e niacina para o tratamento da hipertrigliceridemia são eficazes, sendo na maioria das vezes associados a dietas restritivas de lipídeos e/ou carboidratos, dependendo das particulares de cada caso.
Hiperquilomicronemia familiar
Com caráter autossômico recessivo, a hiperquilomicronemia é uma patologia decorrente de mutações nos genes decodificadores da lipoproteína LPL ou da apoproteína CII, sendo estas essenciais para a ação hidrolítica de enzimas sobre moléculas lipoprotéicas (quilomícron e VLDL) (BROWN, 2015). A ausência dos fatores que auxiliam a regulação dos níveis destas moléculas circulantes irão resultar em seu acumulo, acarretando algumas alterações fisiopatológicas aos indivíduos (DÍAZ, 2012).
É geralmete manifestada na infância, seguindo com quadros de dor abdominal e episódios de pancreatite. [...] Na investigação física podem-se encontrar hepatoesplenomegalia, xantomas eruptivos (pápulas amarelo-alaranjadas no tronco, nádegas e flexão dos membros) e lipemia retinalis (vasos amarelo alaranjados no fundo do olho) (FERNÁNDEZ, 2012 – tradução do autor).
Ainda, de acordo com Díaz (2012), os níveis de triglicerídeos plasmáticos em crianças e adolescentes têm significativa elevação (entre 1.500 e 10.000 mg/dL) devido ao aumento de quilomícrons. Em contrapartida, o VLDL encontra-se em níveis normais, devido ao bloqueio de sua síntese a nível hepático, porém, este mecanismo é afetado com o passar do tempo, sendo que ao chegar à idade adulta o indivíduo perde o controle desta produção, produzindo mais VLDL.
O diagnóstico é baseado em análises de biologia molecular que visam detectar as alterações de cada gene específico. A principal recomendação como tratamento é a adoção de uma dieta livre de todos os tipos de gorduras. (FERNÁNDEZ, 2012).
Hiperlipidemia combinada familiar
A hiperlipidemia combinada é o transtorno mais frequente relacionado ao metabolismo lipídico, sendo uma alteração de caráter autossômico dominante que consiste no aumento da produção de APOB-100 e VLDL pelo fígado associado a deficiências no catabolismo de lipoproteínas, ocasionando o aumento dos níveis sanguíneos de triglicerídios, podendo apresentar elevação do colesterol (MATA, 2014).
Devido ao seu caráter autossômico, a patologia não é ocasionada pela mutação de um ou mais genes de forma específica, e sim pela expressão de diversas alterações variáveis de acordo com cada caso. Esta condição pode conferir diferentes apresentações clinicas de a cada indivíduo em particular. A hiperlipidemia combinada pode expressar características observadas em outras dislipidemias, podendo ser confundida com estas (FERNÁNDEZ, 2012).
A descoberta da dislipidemia ocorre desde a adolescência, mas os sinais físicos descritos para hipercolesterolemia familiar geralmente não se desenvolvem (arco corneal ou xantomas). As manifestações clínicas de doença vascular, como cardiopatia isquêmica, geralmente aparecem em homens entre os 45 e 55 anos, e nas mulheres uma década depois (DÍAZ, 2012 – traduzido pelo autor).
O diagnóstico é obtido através da análise clínica, onde observam se os níveis de triglicerídeos superiores à 200 mg/dL, e em casos de colesterol aumentados, estes apresentam valores acima de 260 mg/dL. Realiza-se ainda o diagnóstico diferencial por análise biomolecular dos genes afetados, além da dosagem de APOB-100. O tratamento é realizado com o controle da alimentação, com uma dieta restrita de gorduras e açucar em alguns casos, assim como ocorre a utilização de fármacos que visam diminuir os níveis de colesterol e triglicerídeos no organismo, sendo que para este último, em alguns casos pode ser utilizado Ômega 3 para auxiliar na diminuição de seus níveis (MATA, 2014).
Dislipidemias Secundárias
As dislipidemias secundárias estão associadas a outros fatores que não se relacionam exclusivamente às causas de dislipidemias primarias, sendo que estas condições vêm acometendo a população de forma crescente nos últimos anos (SANTOS FILHO, 2000).
Dislipidemias secundárias a doenças
De acordo com Santos (2001), grande parte das dislipidemias atualmente são resultantes de condições expressadas por outras doenças, que acabam levando ao acumulo de lipídeos no organismo, como a diabetes melittus tipo 2, hipotiroidismo, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, hepatopatias, obesidade, etc.
No caso da diabetes melittus, as anormalidades relacionadas aos lipídeos são consequentes da resistência à insulina, ocasionando leve aumento dos triglicerídeos e baixos níveis de colesterol, já no hipotireoidismo ocasiona redução no hormônio secretado pela tireóide, reduzindo a quantidades de receptores de LDL, levando ao acumulo de LDL. Na síndrome nefrótica irá apresentar o aumento nos níveis de colesterol total e a diminuição do LDL, nos casos de doença renal crônica, há aumento do colesterol total, LDL e triglicerídeos, e a diminuição do HDL. Em indivíduos com doenças hepáticas ocorre aumento do colesterol total e LDL, já em casos de obesidade, se observa o aumento de colesterol total, triglicerídeos, LDL e diminuição do HDL (SANTOS, 1999).
Dislipidemias secundárias a medicamentos.
A utilização de alguns fármacos para o tratamento de patologias como anti-hipertensivos e corticosteroides podem alterar os níveis lipídicos no organismo. 	A utilização de contraceptivos orais e diuréticos podem apresentar comoconsequência o aumento dos triglicerídeos e colesterol total, os beta bloqueadores ocasionam o aumento do colesterol total e redução do HDL (SANTOS, 2001).
Dislipidemias secundárias a hábitos de vida inadequados.
Indivíduos que possuem dependências como o alcoolismo e tabagismo são mais propícios ao desenvolvimento de dislipidemias secundárias. O excesso de álcool leva ao aumento de triglicerídeos e do HDL, enquanto o tabagismo ocasiona a diminuição do HDL (SANTOS, 2001).
Dislipidemias e Aterosclerose
O risco de desenvolvimento de outras patologias em consequência das dislipidemias é muito grande, principalmente as cardiovasculares, destacando-se a aterosclerose. Esta doença tem origem multifatorial e ocorre a partir do acumulo de quantidades de LDL junto as paredes das artérias, que causam injúria a este tecido e levam ao desenvolvimento de um processo inflamatório, que irá resultar na deposição de tecido fibroso para restaurar o tecido danificado, além de outros componentes que irão se agregar ao local. Este processo irá potencializar a deposição de mais lipídeos no local, formando placas que em alguns casos podem chegar a obstruir o fluxo sanguíneo por completo. (XAVIER, 2013).
Os níveis elevados de lipídeos na circulação decorrente das dislipidemias é um dos principais fatores de rico para o surgimento da aterosclerose, sendo que a quantidade de lipídeos é proporcional as chances do desenvolvimento de ateromas (LU, 2015).
8.0 CONCLUSÃO
	A partir dos achados bibliográficos pode-se concluir que a biossíntese lipídica depende da homeostasia do organismo, os estudos sugerem que exercícios físicos, uma dieta balanceada e se necessário fármacos de auxilio podem salvaguardar o individuo de doenças coronárias, hipertensão e diabetes que tem relação direta com as dislipidemias. 
	Para uma não ocorrências das dislipidemias secundárias decorrentes do uso de alguns medicamentos seriam necessárias maiores investigações individuais antes da administração destas drogas, uma opção seria a farmacogenética que possibilitaria um controle sobre as ações de longo prazo que os mesmos causam com detecção ante caso patológico.
	O tratamento dos distúrbios dislipidêmicos são os mesmos fatores de sua prevenção, dieta e drogas reguladores de metabolização. A profilaxia tanto como o tratamento são de extensão vital, sendo necessários para alcançar-se uma vida produtiva e de bem estar para com o seu organismo.
REFERÊNCIAS
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BRUCKERT, E. Recommendations for the management of patients with homozygous familial hypercholesterolaemia: overview of a new European Atherosclerosis Society consensus statement. Atherosclerosis Supplements, v. 15, p. 26-32, 2014.
DÍAZ, J.D.G. et al. Trastornos del motabolismo lipídico. Medicine, v. 12, n. 19, p. 1059-1071, 2016.
DI TARANTO, M.D.; D’AGOSTINO, M.N.; FORTUNATO, G. Functional characterization of mutante genes associated with autosomal dominant familial hypercholesterolemia: Integration and evolution of genetic diagnosis. Nutrition, Metabolism and Cardiovascular Diseases, v.25, p. 979-987, 2015.
FERNÁNDEZ, A.J. et al. Protocolo diagnóstico de las hipertrigliceridemias. Medicine, v. 11, p. 1174-1176, 2012.
LU, H.; DAUGHERTY, A. Atherosclerosis. Arteriosclerosis, Thrombosis and Vascular Biology, v. 35, p. 485-491, 2015.
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SANTOS FILHO, R.D.et al. II Consenso Brasileiro Sobre Dislipidemias. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 67, p. 1-16, 1996. 
SILVA, P.M. Metabolismo lipídico e diagnóstico das dislipidemias primárias. Fatores de Risco, n. 38, p. 10-25, 2015.
STEIN, E.A.; RAAL, F.J. Polygenic familial hypercholesterolaemia: does it matter? Lancet, v. 381, p. 1255-1257, 2013.
TURGEON, R.D.; BARRY, A.R.; PEARSON, G.J. Familial hypercholesterolemia: Review of diagnosis, screening, and treatment. Canadian Family Physician, v. 62, p. 32 – 37, 2016.
XAVIER H. T., et al. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 101, n. 4, 2013.

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