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Série Escrita Acadêmica Aprendendo a Escrever Muitos de nós têm dificuldades na escrita. Isso ocorre, muitas vezes desde a infância, muitas vezes por culpa de um professor que ao invés de ensinar seu aluno a apreciar a escrita com prazer, transforma esses momentos do ensino em uma tortura psicológica para seus alunos. Problemas como esses, ou a simples falta de instrução, podem gerar dificuldades no jovem e no adulto quanto à escrita. Se esse for o seu caso, sugiro enfrentar o problema com esforço, mas também com paciência consigo mesmo e com a aceitação de que todos nós temos dificuldades, nenhum de nós nasceu sabendo algo que depende de orientação e esforço, e entendendo que a recompensa de seu esforço virá com o exercício, a paciência e o tempo. Eu mesma passei por diversas fases na minha escrita e até hoje ainda creio que há muito o que enfrentar para melhorar. Então eu gostaria de oferecer algumas sugestões para a melhora da sua escrita. 1. Muito se fala que para escrever melhor devemos ler muito. Isso é ao mesmo tempo uma verdade e uma mentira. Eu lia muito e escrevia mal em grande parte da minha vida. Ler muito nem ao menos me ajudava com ortografia, porque eu não prestava atenção a isso enquanto lia. Com o tempo, descobri que a leitura só ajuda a escrever quando estamos sempre escrevendo e tentando melhorar nossa escrita. E quando estamos olhando para os textos que lemos com o olhar de quem quer aprender a escrever com eles! 2. A boa escrita deve ser planejada. Na escrita, o encadeamento dos argumentos é muito importante. Antes de escrever, faça um exercício livre de reunir argumentos em um papel. Primeiro faça uma lista, depois vá organizando seus argumentos. Recorte e cole se isso for te ajudar a organizar. 3. No caso da escrita acadêmica, você deve também encontrar argumentos em outros autores. Quando estiver lendo outros autores, preste atenção como eles organizam e desenvolvem seus argumentos. Faça como eles. 4. Encontre pontos específicos a se tirar dessas leituras e tente fazer um resumo do argumento do outro autor. Um argumento científico deve ser específico, e outros autores podem fornecer razões e dados que te ajudem a ter especificidade na sua argumentação. Gostaria de dar um exemplo desse último ponto: O que você acha do argumento “Sorvete é bom”? É um argumento fraquinho, não é? Podemos perguntar: “Bom” pra quê? Para a saúde? Para a nutrição? Para o meio ambiente? Para curar dor de dente...? E que tipo de sorvete é bom? Qualquer um? Sorvetes cheios de química? Sorvetes caseiros? Sorvete dietético? E assim por diante... Já um argumento melhorado seria “Segundo Farias (1999), sorvetes têm em sua composição uma quantidade de lipídios e de carboidratos que ajudam a satisfazer a fome, gerando saciedade e conforto. Entretanto, quando consumidos em quantidade que exceda o necessário para a manutenção do organismo, os mesmos componentes (SILVA, 2007) podem levar à obesidade”. E, no final do texto, as citações acima teriam que estar acompanhadas das referências completas para que meus leitores pudessem ter acesso a essas mesmas informações (as referências seguintes são inventadas, só para ensinar a você o formato das referências) FARIAS, Túlio. A composição média de nutrientes nas receitas mais usadas de sorvetes. In: Revista de Nutrição . São Paulo, vol. 4, número 2, 1999. <www.revistanutricao.br/tf1999>. Data de acesso: 28/11/2017. SILVA , Arminda. Causas nutricionais da obesidade. Santa Bárbara do Oeste, Editora Boa, 2007. Pois bem, esse exemplo inventado não está aqui de graça. Ao longo dos anos, como professora, venho observando que muitos de nós se comunica desse jeito genérico do “sorvete é bom”. Ao escrevermos nossos argumentos devemos questionar tudo o que está no genérico e tentar especificá-lo. Ao invés de um simples e genérico “As crianças precisam aprender a se preocupar com o meio ambiente”, podemos escrever parágrafos que respondam a tudo o que há de genérico nessa colocação: quais crianças, por que precisam aprender isso, qual a importância do meio ambiente, qual a importância da educação para o meio ambiente, quais as ações possíveis com o meio ambiente nos níveis individual, comunitário e de posicionamento político desses futuros cidadãos, de que forma se pode ensinar cada uma dessas atitudes, quais os limites da educação com respeito à questão ambiental com quais outros níveis de ação a escola pode colaborar para efetivamente colaborar com a questão ambiental, etc Espero que estas observações venham a contribuir para que você possa melhorar a sua escrita, e para que você adquira prazer na escrita. Exercer a escrita, principalmente uma boa escrita, é algo que demanda paciência e exercício, mas não é mais difícil que qualquer atividade que você realiza em sua rotina, como cozinhar ou fazer crochê. Com o tempo e exercício você fará melhor e aprenderá novos truques e artimanhas. Flavia Martins, professora, tutora, escritora e pesquisadora.
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