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Bianca de Sousa Canalli Intertextualidade 1. O que é intertextualidade? A intertextualidade pode ser entendida como um diálogo entre textos. Segundo Julia Kristeva, “todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto”¹. Filmes que retomam outros filmes, quadros que dialogam com outros ou com literatura escrita ou história, romances que se apropriam de formas musicais, propagandas que retomam elementos de conhecimento do público (músicas, paródias, discurso artístico), tudo isso são textos em diálogo com outros textos: intertextualidade. Observação: como exemplo claro, este próprio trabalho explicativo é um modelo intertextual, de forma que, reúne um conjunto de saberes, de fontes variadas, formando uma colcha de retalhos, completado e arrematado por nosso próprio conhecimento e forma de interpretação e exposição do tema abordado. 1.1 Tipos de intertextualidade . • Epígrafe: é um fragmento de texto que serve de lema ou divisa de uma obra, capítulo, ou poema. Geralmente existe um vínculo entre a epígrafe e o texto que vem abaixo dela; nesses casos, a epígrafe dá apoio temático ao texto - ou resume o sentido, a motivação dele. (Ex: Livro "Esteiros" (1941), de Soeiro Pereira Gomes, abre com esta epígrafe: "Esteiros. Minúsculos canais, como dedos da mão espalmada, abertos na margem do Tejo. Dedos das mãos avaras dos telhais que roubam nateiro às águas e vigores à malta. Mãos de l mas infelizmente não podemos comparar com pornograma.") • Citação: é a frase ou passagem de certa obra que um autor reproduz (com indicação do autor original) como complementação, exemplo, ilustração, reforço ou abonação daquilo que ele pretende dizer ou demonstrar. • Referência ou Alusão: é toda referência, direta ou indireta, propositada ou casual, a certa obra, personagem, situação etc., pertencente ao mundo literário, artístico, mitológico etc. (Exemplo: O título de uma reportagem: “Infinito, mas enquanto durou” se referindo ao verso de Vinícius de Moraes “que seja infinito enquanto dure” que, por sua vez, faz alusão ao pensamento de Sofocleto: “O amor é eterno enquanto dura”. • Paráfrase: é a interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto (ou parte dele) com o objetivo de ou torná-lo mais inteligível ou sugerir um novo enfoque para o seu sentido. • Paródia: trata-se de uma composição literária que imita, cômica ou satiricamente, o tema ou/e a forma de uma obra séria. O intuito da paródia consiste em ridicularizar uma tendência ou um estilo que, por qualquer motivo, se torna conhecido ou dominante. • Tradução: traduzir consiste em passar um texto (ou parte dele) escrito numa determinada língua para o equivalente em outra língua. Na opinião de alguns estudiosos, a tradução pode ser estudada no âmbito da intertextualidade, pois é uma forma de recriação a partir de um texto- fonte. • Pastiche: é definido como obra literária ou artística em que se imita grosseiramente o estilo de outros escritores, pintores, músicos, etc. O pastiche pode ser plágio, por isso tem sentido pejorativo, ou é uma recorrência a um gênero. Modernamente, o pastiche pode ser visto como uma espécie de colagem ou montagem, tornando-se uma paródia em série ou colcha de retalhos de vários textos. Como a paródia, o pastiche consiste na imitação de uma obra, surgindo os dois termos frequentemente associados e sendo equívoca a sua distinção. Para G. Genette, "enquanto a paródia procede por transformação, (...) mínima, de um texto, o pastiche procede por imitação de um estilo sem qualquer função crítica ou satírica". ² 2. Por que estudar? Em nossa vida utilizamos sempre a intertextualidade, mesmo sem percebermos. Ela faz parte de nossa natureza. Estudá-la nos ajuda a compreender melhor como constituímos nossos discursos. Nos dá a capacidade de estabelecer relações entre o que já sabemos e o que desejamos saber e expressar. Podendo se revelar tanto no âmbito do conteúdo quanto da forma, permite desenvolver capacidades tanto linguísticas quanto semióticas e semânticas, sendo que ela não acontece por acaso, é fruto das relações que estabelecemos com o que conhecemos em nossa vivência diária. A intertextualidade acontece através da revitalização da memória e da compreensão da ampliação do dizer, podendo se manifestar de várias formas. 3. Como ensinar? Levando, os alunos a ler, analisar e produzir obras intertextuais (não necessariamente textos), fazendo-os refletir sobre a influência da intertextualidade no dia-a-dia e não somente em âmbito acadêmico. Pode ser trabalhada com letras de músicas, textos, poemas, charges, imagens, propagandas publicitárias, filmes, etc. 4. Sugestão de exercícios 1- Num jornal sobre esportes foi criada uma charge com o enunciado: “Por trás de todo grande time há um grande treinador” (imagem ao lado)³. O enunciado do jornal, na época, pretendia elogiar a conduta do treinador pelo fato do time Vasco ter ganhado o campeonato. Tal enunciado remete a outro pertencente ao patrimônio social. Qual e esse enunciado? Resposta: “Por trás de todo grande homem há uma grande mulher”. 2- As imagens abaixo são parte de uma campanha publicitária desenvolvida por um famoso hortifruti4. Analise-as e explique a relação de intertextualidade ocorrente entre elas. Resposta: A campanha publicitária utiliza-se de referencia a filmes num sentido cômico para promover os seus produtos. As imagens e frases utilizadas são parodias dos cartazes de divulgação dos filmes mencionados, são eles: “O diabo veste Prada”, “E o vento levou”, “O incrível Hulk” e “A noviça rebelde”. 3- A parodia de Oswalde de Andrade, feita a partir do poema e Gonçalves Dias tem uma função crítica. Explique em que consiste a crítica feita no texto 2, e qual palavra evidencia essa crítica. Texto 1 “Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá, As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá”. (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”). Texto 2 Minha terra tem palmares onde gorjeia o mar os passarinhos daqui não cantam como os de lá. (Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”). Resposta: O nome Palmares, escrito com letra minúscula, substitui a palavra palmeiras. Há um contexto histórico, social e racial neste texto, Palmares é o quilombo liderado por Zumbi, e foi dizimado em 1695, há uma inversão do sentido do texto primitivo que foi substituído pela crítica à escravidão existente no Brasil. Referências: 1- http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=442&Itemid=2 2- http://www.infopedia.pt/$pastiche 3- http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno09-02.html 4- http://alquimiadaspalavrassm.blogspot.com.br/2010/03/intertextualidade-exemplos-para.html Outras: https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:9H5pvgfD97MJ:crv.educacao.mg.gov.br/sistema _crv/documentos/op/ef/linguaportuguesa/2010-08/op-ef-lp- 08.pdf+por+que+estudar+intertextualidade&hl=pt- BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEEShZc3_EbrYZn6vp3BIuVkpLrPi_-HoSSZEiVK5uE- MV6JAZUITL31wYPl4vI0RNS70xyaY8Qa0jWhO6Yi4wN28NlQdbYWUrfHOsWOG8CYjrtlpgtsgq T_JIg0FzcbDfOjTql8uY&sig=AHIEtbQgLyaa6oAfY-stt3s7P8dUN2sDng http://eulinamundodasletras.wordpress.com/2011/03/21/intertextualidade-2/ http://www.infoescola.com/portugues/intertextualidade-parafrase-e-parodia/ http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=19919 http://vestibular.uol.com.br/revisao-de-disciplinas/portugues/intertextualidade.jhtm
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