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logistica reversa ABEPRO

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AÇÕES DE LOGÍSTICA REVERSA NAS 
REVENDAS DE ÓLEO COMBUSTÍVEL 
 
Luciana Oranges Cezarino (UFU) 
lucianacezarino@fagen.ufu.br 
Daiane Magalhaes Prado (UFU) 
daianemprado@gmail.com 
Michelle de Castro Carrijo (UFU) 
michellecarrijo@yahoo.com.br 
 
 
 
O estudo tem como objetivo descrever ações de logística reversa 
do setor de revenda de combustíveis. Especificamente, aborda o movimento 
logístico de reciclagem de embalagens utilizadas de óleo lubrificante ou 
contaminado (OLUC), filtros de óleo, estopas e outros resíduos contaminados. 
Sendo assim, foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório e qualitativo 
no segmento de postos de combustíveis utilizando como método o estudo de 
caso. Constatou-se que a logística reversa é usualmente aplicada devido às 
obrigações fiscais, mas a tendência é que seja utilizada como estratégia 
mercadológica pelo posto de combustível em questão. Também foi 
destacada a relevância da criação de uma consciência sustentável, tendo em 
vista os impactos dos resíduos no ambiente. Este trabalho, portanto, permite 
afirmar que a logística reversa se tornou fator relevante de estratégia 
ambiental e competitiva para o desenvolvimento da unidade de análise, 
principalmente por estar inserida em setor envolvendo alto nível de 
regulação ambiental. 
 
Palavras-chave: Logística Reversa; Postos de combustíveis; 
Sustentabilidade.
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Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção 
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 
 
 
 
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1 INTRODUÇÃO 
 
As práticas sustentáveis ganharam atenção no ambiente organizacional diante dos 
danos desencadeados pelo consumo desenfreado da sociedade capitalista. Problemas como 
poluição do ar, degradação do solo e contaminação da água são exemplos decorrentes do 
descarte inadequado de determinados produtos no meio ambiente (COSTA; TEODÓSIO, 
2011). 
Neste ínterim, as organizações passam a ser cobradas pelo processo de devolução, 
troca e controle ambiental de suas embalagens e produtos, desenvolvendo processos 
chamados de logística reversa. Ela é responsável por garantir uma destinação adequada aos 
resíduos gerados numa determinada atividade e reintroduz-los na cadeia produtiva (LEITE, 
2003). 
Este trabalho apresenta um estudo da logística reversa no setor de postos de 
combustíveis, abordando especificamente o comércio de lubrificantes, que gera como resíduo 
o frasco vazio obtido no pós-venda, o Óleo Lubrificante Usado ou Contaminado (OLUC) 
esgotado do cárter do veículo durante a execução da troca de óleo e outros resíduos 
contaminados pelo óleo, como estopas, filtros de óleo e de combustível usados. Pergunta-se: 
quais as ações de um posto de gasolina para garantir a logística reversa do OLUC? 
 
2. Objetivos e Método 
 
Em linhas gerais, este trabalho tem como objetivo descrever ações de logística reversa 
do setor de revenda de combustíveis. São abordados especificamente os resíduos gerados no 
comércio de lubrificantes, tomando como exemplo o Posto Jardim Veneza em Uberlândia, 
Minas Gerais. 
No que tange aos aspectos metodológicos, esta pesquisa se caracteriza como 
exploratória de natureza qualitativa com estudo de caso. Como instrumento de coleta de 
dados, o estudo foi embasado na literatura da logística reversa e em uma entrevista com o 
gestor da empresa. As perguntas que compõem o instrumento de pesquisa, características de 
 
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estudo exploratório, foram criadas por indagações gerais a respeito de como e por quê o 
fenômeno se apresenta. 
 
 
3 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
3.1 Logística reversa 
 
Leite (2003) define a logística reversa como uma nova área da logística empresarial 
que concentra seus estudos nos fluxos reversos de distribuição, os quais fluem no sentido 
contrário ao da cadeia direta. Essa crescente preocupação com o estudo dos canais de 
distribuição reversos se dá pelo grande desenvolvimento da tecnologia de informação e do 
comércio eletrônico, pela busca de competitividade por meio de novas estratégias de 
relacionamento entre empresas, pela diversidade de novos produtos lançados a todo momento 
e pela própria conscientização ecológica. 
Nesse contexto, Rego (2005) acrescenta que a Legislação Ambiental, a busca por 
vantagem competitiva e o potencial econômico ainda pouco explorado são algumas das razões 
pelas quais as organizações têm incorporado cada vez a logística reversa em suas atividades. 
Já Castiglioni (2009) cita a questão da redução do ciclo de vida dos produtos, dado que o ciclo 
começa com sua introdução, seguida do crescimento, maturidade e declínio; segundo o autor, 
“[...] a vida de um produto, do ponto de vista logístico, não termina com sua entrega ao 
cliente. Produtos se tornam obsoletos, danificados ou não funcionam e devem retornar ao seu 
ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou reaproveitados”. 
 
3.3 Revenda de combustíveis 
 
Conforme os termos da Portaria ANP n. 116, de 5 de julho de 2000, modificada pela 
Resolução n. 15/2005, a revenda de combustíveis é uma atividade de utilidade pública, 
regulamentada pela Lei n. 9.847/1999 e exercida por postos revendedores que tenham registro 
de revendedor varejista expedido pela ANP. Caracteriza-se a revenda como o processo de 
entrega do combustível ao consumidor final (SINDIPOSTO, 2009). 
 
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Por se tratar de um mercado extenso, conta com aproximadamente 90 mil agentes 
reguladores. A fiscalização exercida pela ANP ou por órgãos públicos conveniados em todo o 
país tem como objetivo garantir o cumprimento da legislação, o que assegura uma posição 
igualitária de competição para todos os postos revendedores. Consequentemente, atestam-se a 
segurança e a qualidade dos produtos revendidos e evita-se a concorrência desleal (ANP, 
2014). 
A primeira obrigação de um revendedor do setor é estar com a documentação sempre 
atualizada e disposta em local visível no estabelecimento. Dentre os principais documentos 
exigidos estão o cadastro de registro de revendedor varejista de combustíveis da ANP, o 
licenciamento junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 
Renováveis (IBAMA), o pagamento da taxa de fiscalização ambiental, o alvará do Corpo de 
Bombeiros, o alvará de funcionamento, o certificado de Licenciamento Ambiental e o 
certificado de destinação e tratamento de resíduos contaminados, citados no formulário de 
fiscalização de revenda varejista de combustível automotivo do Ministério Público de Minas 
Gerais (MPMG) (MINAS GERAIS, 2014). 
Outro requisito é informar ao consumidor a origem do produto comercializado, e 
compete ao revendedor a decisão de informar ou não a marca da distribuidora fornecedora do 
combustível. Dessa forma, quando optar por exibir a marca, será considerado um posto 
bandeirado, o que restringe a ele a venda de outras marcas. Ao contrário, quando optar por 
não exibir a marca comercial do produto, será nomeado Posto Bandeira Branca, podendo 
comercializar qualquer marca, embora deva destacar em cada bomba abastecedora o 
distribuidor que fornece o respectivo produto (MINAS GERAIS, 2014).Após a edição da Resolução n. 273 do Conselho Nacional do Meio Ambiente 
(CONAMA) (BRASIL, 2000c), os postos de combustíveis foram obrigados a realizar ajustes 
milionários relacionados às questões ambientais, por se tratar de uma atividade 
potencialmente poluidora. 
 
3.3.2 Logística reversa na revenda de combustíveis automotivos 
 
São classificados como resíduos sólidos contaminados em postos de combustíveis o 
OLUC, as embalagens de lubrificantes já utilizadas, as estopas, os filtros de ar e de 
combustível usados ou qualquer outro material contaminado por substâncias derivadas de 
 
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hidrocarbonetos (BRASIL, 2010b). É previsto que todos os postos devem garantir uma 
destinação adequada de seus resíduos tóxicos, sendo que o descumprimento pode acarretar 
multa entre R$ 1.000,00 e R$ 50.000,00 (BRASIL, 1998). 
O óleo retirado dos automóveis é popularmente conhecido como óleo queimado e deve 
ser armazenado no posto em tanques subterrâneos até que uma empresa refinadora faça a 
coleta. As refinadoras são responsáveis pelo o processo de re-refino, o qual remove os 
produtos de oxidação, aditivos e contaminantes, retornando-o à condição de óleo básico, que é 
destinado às indústrias de óleos lubrificantes para que seja reaproveitado – a cada 100 barris 
de OLUC, são extraídos 85 de óleo mineral básico (LWART, 2014). 
Nesse sentido, a Portaria ANP n. 125 (BRASIL, 2000b) estabelece a regulamentação 
para a atividade de recolhimento, coleta e destinação final do óleo lubrificante usado ou 
contaminado. 
 
Figura 2: Ciclo de vida do óleo lubrificante. 
Fonte: Lwart (2014). 
 
 
Segundo a NBR n. 10.004 (ABNT, 2004), o OLUC é classificado como resíduo 
perigoso, e o seu descarte inadequado torna-se um grande poluidor ambiental. Dados 
apresentados pela ANP mostram que, de todo o OLUC presente no mercado, somente 44% 
são coletados para o processo de re-refino (ANP, 2014). Para se ter uma ideia, o equivalente a 
três navios Exxon Valdez de OLUC são desviados do sistema de logística reversa e lançados 
na natureza (SINDIRREFINO, [s.d.]). 
 
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O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes 
(SINDICOM) isentou a realização de um acordo setorial específico para a logística reversa de 
OLUC, visto que não existe descarte desse resíduo. Por ser um produto passível de 
reutilização, pode ser reintroduzido na cadeia de suprimentos após o re-refino, retornando ao 
estágio de matéria-prima. Logo, trata-se de uma medida energética, pois o volume de petróleo 
nacional não é capaz de gerar óleo básico em quantidade necessária, sendo dependente da 
importação desse componente (FISCHER, 2013). 
 
Figura 3: Sistema de logística reversa em implantação. 
Fonte: Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (2014). 
 
Nesses termos, “[...] o único acordo setorial assinado para a implantação de um 
sistema de logística reversa foi o setor de embalagens plásticas de óleos lubrificantes, em 
2012” (FISCHER, 2013), doravante denominado Sistema, como pode ser visto no Anexo I, a 
fim de cumprir com os termos da Lei n. 12.305 (BRASIL, 2010b), citada no item 3.3.2 deste 
estudo. São signatários do Sistema o Sindicom, o Sindicato Interestadual das Indústrias 
Misturadoras e Envasilhadoras de Produtos Derivados de Petróleo (SIMEPETRO), o 
Sindicato Interestadual do Comércio de Lubrificante (SINDILUB), o Sindicato Nacional do 
Comércio Transportador, Revendedor, Retalhista, Óleo Diesel, Óleo Combustível e 
Querosene (SINDITRR), a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes 
(FECOMBUSTÍVEIS) e a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo 
(CNC) (BRASIL, [s.d.]). 
 
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Sob determinação do Sistema, as embalagens de óleo lubrificante devem ser entregues 
pelos consumidores aos estabelecimentos comerciantes varejistas, após o uso. Os varejistas 
devem manter os frascos em reservatórios exclusivos. Durante o recolhimento é realizada uma 
pesagem do material e emitido um certificado de retirada do resíduo para o posto, que pode 
ser cobrado em eventuais fiscalizações. Aliás, os dados obtidos são enviados 
instantaneamente para um banco de dados do Sistema, bem como as informações relacionadas 
ao contratante (BRASIL, [s.d.]). 
Assim que chegam às centrais de recebimento e após a realização de uma nova 
pesagem, as embalagens passam pelos processos de drenagem, segregação, compactação e 
moagem. O óleo lubrificante residual obtido tem destinação adequada, conforme determina a 
legislação ambiental em vigor. Seguidamente, o material é armazenado até que seja 
encaminhado para a disposição final conveniente (BRASIL, [s.d.]). 
Já os comerciantes atacadistas podem seguir o mesmo procedimento adotado pelos 
varejistas ou destinar as embalagens recebidas para seus fabricantes e importadores, para que 
eles possam conduzir o material a empresas recicladoras licenciadas. As embalagens 
recebidas pelas recicladoras são transformadas em matéria-prima ou destinadas à disposição 
final de forma legítima (BRASIL, [s.d.]). 
 
Figura 4: Cadeia produtiva do lubrificante. 
Fonte: Sindirrefino ([s.d.]). 
 
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Nesse enfoque, além das embalagens de lubrificantes vazias, qualquer material que 
contenha resquício de óleo deve ter uma disposição final apropriada, considerando o potencial 
poluidor do óleo lubrificante. 
 
 
4 RESULTADOS 
 
4.1 Descrição da empresa 
 
A empresa utilizada como unidade de análise neste estudo foi o Posto Jardim Veneza 
Ltda., inaugurado em 15 de março de 2012, situado na região Sul da cidade de Uberlândia-
MG. O posto é bandeirado pela Rede Ipiranga Produtos de Petróleo S/A e possui atualmente 
uma equipe formada por 21 funcionários especialmente treinados para garantir a excelência 
do atendimento. O posto conta com dois tanques subterrâneos bipartidos, com capacidade 
igual a 15 mil litros em cada compartimento, e outro tanque pleno que comporta 15 mil litros, 
distribuídos da seguinte maneira: o primeiro tanque estoca gasolina comum; o segundo 
contém gasolina aditivada e etanol; e o terceiro apenas óleo diesel. 
 
4.2 Prática de logística reversa 
 
Tendo como base os questionamentos “como” e “por que” levantados no item 
“metodologia” desta pesquisa, os resultados encontrados são aqui descritos. 
Segundo o gestor da empresa, as leis do setor são atendidas, o que envolve estar com 
todos os documentos obrigatórios regularizados, ter um modelo de estrutura física em 
conformidade com a legislação em vigor, possuir um sistema de automação homologado pela 
Receita Estadual e manter práticas de logística reversa de resíduos sólidos contaminados. 
Com a ajuda de alguns parceiros, como o contador da empresa, o responsável pela automação 
do sistema operacional e o assessor da Ipiranga, os funcionários administrativos sempre se 
atualizam com relação às questões legais. 
A empresa conta com o apoio do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de 
Petróleo no Estado de Minas Gerais (MINASPETRO),que auxilia seus associados quanto às 
 
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alterações de leis do setor, além de abordar outros assuntos pertinentes. Contudo, a gestão 
aponta que ainda existem algumas dificuldades. Muitas vezes, a empresa tem conhecimento 
das mudanças que irão ocorrer, mas faltam informações sobre como realizar tais 
modificações. Um exemplo disso foi quando a Receita Federal começou a exigir o envio do 
chamado Sped Fiscal, um relatório fiscal eletrônico que deve ser enviado no início de cada 
mês. No ano de sua implantação, nem mesmo os funcionários da Receita tinham 
conhecimento suficiente para sanar as dúvidas dos comerciantes. 
Outro problema mencionado pelo gestor compreende os altos custos geralmente 
envolvidos nos processos de regularização da empresa. É o caso da logística reversa de 
resíduos sólidos contaminados. Todos os custos obtidos para cumprir com as obrigações 
relacionadas à logística reversa são de responsabilidade do posto. Corresponde a resíduos 
sólidos contaminados gerados atualmente no Posto Jardim Veneza o OLUC e o chamado 
“barro”, efluentes líquidos gerados nas atividades que devem ser tratados em uma caixa 
separadora de água e óleo, outra atribuição dos postos de combustíveis. 
Para realizar a correta destinação dos frascos de lubrificantes usados, dos filtros de ar e 
de combustível usados, das estopas e de papelão com resíduos de óleo, o posto optou por 
contratar uma empresa especializada em gestão ambiental, algo que é feito por grande parte 
dos postos. Dessa forma, fechou um contrato com a Udi Ambiental, que estipula o pagamento 
de R$ 300,00 para o recolhimento do material a cada dois meses. O acordo garante a coleta de 
250 kg de matéria, sendo que cada quilo adicional custaria, em média, R$ 0,94. É válido 
ressaltar que os resíduos permanecem armazenados no posto até que o serviço terceirizado 
seja realizado. 
Com a intenção de não extrapolar o limite contratado, a fim de reduzir custos, a 
empresa descarta parte dos remanescentes em lixo comum, mesmo tendo consciência de que 
poderá ser punida, caso haja alguma finalização. Foi possível perceber que os próprios 
frentistas desconhecem as obrigatoriedades e não se preocupam em separar os materiais 
contaminados. 
 
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Figura 9: Resíduos sólidos contaminados gerados no Posto Jardim Veneza Ltda. 
Fonte: Elaboração da autora. 
 
A cadeia reversa da Udi Ambiental é semelhante à do Programa Jogue Limpo até a 
fase de armazenagem, já que não realiza a reciclagem de seus resíduos. Depois disso, o 
material é incinerado e destinado a aterros específicos providos de sistema de drenagem e 
tratamento de chorume. Por se tratar de um método poluente, não é o mais indicado, embora 
ainda seja o mais utilizado no país. 
No que diz respeito ao OLUC mantido em reservatório especial, como já informado, é 
vendido para a Lwart Lubrificantes, empresa com forte presença nacional e parceira da rede 
Ipiranga, responsável pela coleta, transporte e re-refino do óleo. Foi pactuado o pagamento de 
R$ 0,40 por litro de OLUC por parte do comprador. Por conseguinte, a logística reversa do 
OLUC não gera gastos para o posto, e sim consiste em uma receita não contabilizada. 
O “barro” compõe mais um resíduo contaminado gerado no estabelecimento. A coleta 
especializada também é de responsabilidade da contratada Udi Ambiental – tal aspecto não 
será detalhado, pois não é o foco deste trabalho. 
Uma alternativa encontrada pela empresa para a redução do número de frascos de 
lubrificantes descartados foi a venda de lubrificantes na medida certa, por meio das franquias 
de lubrificação Jet Oil e Jet Oil Motos. Os lubrificantes na medida certa são adquiridos pelo 
posto em tambores de 200 litros, e a venda é feita por uma bomba semelhante à de 
abastecimento de combustíveis, que completa a quantidade exata que o veículo necessita. 
 
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Sendo assim, um cliente que necessita utilizar em seu veículo apenas 2,3 litros de óleo, pode 
optar por colocar o lubrificante na medida certa, ao invés de comprar três frascos de um litro, 
o que significaria uma sobra de lubrificante. Além de economizar na compra do lubrificante, o 
cliente evita o descarte de três frascos do produto. Para alavancar as vendas do óleo a granel, a 
empresa oferece um brinde ao cliente que optar pela troca de óleo na medida certa. 
Apesar de tantos benefícios oferecidos na venda de lubrificante na medida certa, a 
maioria dos consumidores ainda prefere as tradicionais embalagens de 500 mililitros ou um 
litro, pois alegam desconfiar da qualidade do produto a granel, por estar armazenado em um 
tambor e por não possuir rótulo. Dessa forma, ainda existe uma barreira que alimenta a 
geração de grande quantidade de resíduos. 
Um problema encontrado na unidade Jet Oil é a falta de opção quanto ao descarte dos 
tambores de 200 litros vazios, que atualmente são armazenados no próprio posto. As empresas 
do setor que realizam a coleta de resíduos contaminados não oferecem o serviço de 
recolhimento dos tambores em questão, o que despertou o artifício de vendê-los. Embora seja 
uma extração esporádica, o posto consegue se desfazer de parte do que é considerado entulho. 
Geralmente, os tambores são adquiridos por profissionais da construção civil ou proprietários 
rurais. 
Por intermédio do administrador do posto, foi feito contato com o assessor comercial 
da Ipiranga Produtos de Petróleo, Rafael Nunes, com o intuito de elencar as possibilidades de 
a distribuidora assumir o compromisso de recolher os tambores vazios, já que podem ser 
reutilizados no envasamento de novos produtos. A justificativa por não realizar o serviço se 
relaciona ao alto custo logístico. 
 
 
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Figura 10: Tambores de 200 litros, no ambiente do Posto Jardim Veneza, sem solução de descarte. 
Fonte: Elaboração da autora. 
 
Além da gestão de resíduos materiais, o Posto Jardim Veneza utiliza outros 
mecanismos sustentáveis que foram aplicados pela rede Ipiranga como parte do conceito 
Posto Ecoeficiente desenvolvido pela distribuidora. Destaca-se o uso de lâmpadas com sensor 
de presença e descargas econômicas nos banheiros, torneiras temporizadas, sistema de 
exaustão do calor proveniente dos refrigeradores da loja de conveniência e isolamento térmico 
nas paredes e no forro, que ocasiona uma menor utilização do ar condicionado e, 
consequentemente, um menor gasto energético. Apesar disso, o Jardim Veneza não se 
enquadra como um posto ecoeficiente pelo fato de não possuir um sistema de 
reaproveitamento de água. 
Foi questionado ao empresário o porquê da não inclusão da empresa na concepção 
Ecoeficiente da Ipiranga.. De acordo com ele, o sistema de reaproveitamento de água é muito 
valoroso, e ele tem dúvidas quanto ao possível retorno que a empresa obterá. Logo, surgiu o 
seguinte questionamento: Além do retorno econômico que as técnicas sustentáveis alcançam, 
elas podem ser um fator de sucesso na captação ou fidelização de clientes? Com o propósito 
de buscar esclarecimentos, foi realizadauma sucinta averiguação. 
Ao interpelar alguns clientes no ambiente da organização analisada, verificou-se que a 
maioria desconhece que o Posto Jardim Veneza tem alguns princípios sustentáveis e, ainda, 
não tinham conhecimento sobre o trabalho de logística reversa realizado. Foram divulgadas as 
premissas do fluxo reverso e da responsabilidade compartilhada referentes ao frasco de 
lubrificante vazio, nomeando o posto como uma central de recebimento de embalagens usadas 
 
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de lubrificantes. Foi observado também que muitos consumidores contemplam negócios 
baseados na sustentabilidade e que estão dispostos a fidelizar empresas sustentáveis. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Após analisar os dados obtidos, verifica-se que o Posto Jardim Veneza Ltda, envolvido 
por uma gestão conservadora, adota medidas que colaboram para o cumprimento das leis 
ambientais, evitando sansões que interfiram no exercício de suas atividades. Contudo, os 
processos reversos são realizados quase que totalmente devido às obrigações fiscais. O 
proprietário da empresa mostrou desconhecer a teoria envolvida na logística reversa e teme 
dedicar esforços relacionados às questões sustentáveis por não acreditar que isso agregue 
valor ao cliente ou que o coloque em uma posição de vantagem competitiva em relação aos 
seus concorrentes. Isto posto, verifica-se a necessidade de a administração analisar os fatores 
envolvidos na logística reversa, bem como suas vantagens, e repassar os resultados à sua 
equipe, que também se mostrou desinformada no que tange às obrigatoriedades envolvidas. 
É notório que os custos valorosos dificultam a prática absoluta da logística reversa na 
empresa, tornando-a vulnerável à fiscalização em alguns momentos. Assim sendo, a 
elaboração deste estudo possibilitou a apresentação do Instituto Jogue Limpo ao gestor 
Regino Marcos Prado, que não conhecia o Programa até então. Foi uma proposta muito bem 
aceita e que já começou a ser colocada em prática. Após o preenchimento de uma ficha 
cadastral junto ao Programa, o Posto Jardim Veneza iniciará sua parceria com o Jogue Limpo, 
o que significa uma redução dos custos de logística reversa e, consequentemente, a garantia 
da disposição final de todas as embalagens de lubrificantes usadas geradas ou recebidas no 
posto. 
Recomenda-se também a criação de uma central de recebimento de frascos de 
lubrificantes vazios dentro do ambiente do posto, que inclui a disponibilização de um 
reservatório específico para que seus clientes possam depositar suas embalagens já utilizadas. 
A tática pode funcionar como um atrativo para consumidores sustentáveis, além de facilitar a 
separação dos resíduos no posto. 
Conjuntamente, propõe-se a prática do levantamento dos custos fixos e variáveis no 
momento da precificação de seus produtos. Desse modo, os custos desencadeados pela 
logística reversa de materiais contaminados diversos são amortizados e repassados ao 
 
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consumidor final, garantindo que a empresa não tenha prejuízo devido ao processo e não 
deixe de descartar adequadamente todo o refugo. 
Todavia, é primordial aliar alguns fundamentos do marketing a essa prática, com o 
propósito de mostrar ao cliente as vantagens de se realizar a logística reversa e evidenciar a 
preocupação sustentável por parte da instituição, visto que atualmente pode ser considerado 
um fator de vantagem competitiva. Da mesma forma, um trabalho mercadológico alusivo à 
unidade de troca de óleo na medida certa deve ser implementado para revelar todos os mitos e 
verdades dos mecanismos envolvidos, buscando uma migração de consumidores de 
lubrificantes em frascos para usuários da mecânica na Medida Certa. 
Verifica-se a necessidade de a própria empresa desenvolver sua consciência 
sustentável, tendo em vista o surgimento de uma nova sociedade baseada nesse preceito. É 
imprescindível se adequar não somente às questões legislativas, mas também considerar os 
impactos ambientais e a cultura dos consumidores. 
Por fim, conclui-se que este trabalho foi válido para assimilar os conceitos envolvidos 
na logística reversa, seus processos e vantagens. Permitiu o entendimento sobre as legislações 
envolvidas em postos de combustíveis e a expressão “responsabilidade compartilhada”, 
característica do processo reverso do setor. Especificamente, foi possível analisar o processo 
de descarte das embalagens de lubrificantes usadas, dos filtros de ar e de combustível já 
utilizados, do OLUC e de outros resíduos considerados contaminados. Dessa maneira, o 
estudo contribuiu para evidenciar a relevância da logística reversa na revenda de 
combustíveis. 
 
REFERÊNCIAS 
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO. ANP. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/>. 
Acesso em: 14 jan. 2015. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004: resíduos sólidos – 
classificação. Rio de Janeiro, 2004. 77 p. 
 
BRASIL. Agência Nacional do Petróleo. Portaria n. 116, de 5 de julho de 2000. Regulamenta 
o exercício da atividade de revenda varejista de combustível automotivo. Diário Oficial da 
União, Brasília, 6 jul. 2000a. Disponível em: 
<http://licenciamento.cetesb.sp.gov.br/Servicos/licenciamento/postos/legislacao/Portaria_AN
P_116_2000.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2015. 
 
 
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO 
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção 
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 
 
 
 
 
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