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Sobre as instituições totais

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https://analiseinstitucional.wordpress.com/2008/12/12/sobre-as-instituicoes-totais/
Sobre as instituições totais:
as instituições totais que segundo Goffman, se caracterizam por serem estabelecimentos fechados que funcionam em regime de internação, onde um grupo relativamente numeroso de internados vive em tempo integral e em contra partida uma equipe dirigente que exerce o gerenciamento administrativo da vida na instituição.
Goffman, quando foi estudar, de modo mais aprofundado, as instituições totais, enumerou-as em cinco grandes grupos: o primeiro seria criado para cuidar de pessoas que, segundo se pensa, são incapazes e inofensivas, tais como cegos, velhos, órfãos; o segundo seria criado para cuidar de pessoas consideradas incapazes de cuidar de si mesmas e que são também uma ameaça a comunidade, embora de maneira não intencional, tais como sanatórios para tuberculosos, hospitais para doentes mentais e leprososários; o terceiro tipo seria criado para proteger a comunidade contra perigos intencionais, e o bem estar das pessoas assim isoladas não constitui problema imediato, tais como cadeias e penitenciárias; o quarto grupo seria criado com a intenção de realizar de modo mais adequado alguma tarefa de trabalho e que se justificam apenas através de tais fundamentos instrumentais, tais como quartéis e escolas internas; por ultimo, o quinto grupo seria a criação de estabelecimentos destinados a servir de refúgio do mundo, embora muitas vezes sirvam também como locais de instrução para religiosos, tais como mosteiros e conventos.
Mas, o aspecto central das instituições totais pode ser descrito com a ruptura das barreiras e a união das três esferas da vida: dormir, brincar e trabalhar.
Sendo elas realizadas no mesmo local e sob uma única autoridade e cada fase da atividade diária do participante é realizada na companhia imediata de um grupo relativamente grande de outras pessoas, todas elas obrigadas a fazer as mesmas coisas em conjunto, em horários rigorosamente pré-determinados por um sistema de regras formais explicitas e um grupo de funcionários.
Quando as pessoas se movimentam em conjuntos podem ser supervisionadas por uma pessoa, cuja atividade principal é a vigilância, ou seja, fazer com que todos façam o que foi indicado como exigido, sob condições em que a infração de uma pessoa tende a salientar-se diante da obediência visível e constantemente examinada dos outros.
Identificam-se opressores e oprimidos, caracterizados pela equipe dirigente e pelo grupo dos internados, os primeiros modelam e os segundos são objetos de procedimentos modeladores.
Pode-se observar isso através das restrições à transmissão de informação quanto aos planos dos dirigentes para os internados. Geralmente, os internados não têm conhecimento das decisões quanto ao seu destino.
Desenvolvem-se dois mundos sociais e culturais diferentes, que caminham juntos com pontos de contato oficial, mas com pouca interpenetração. A divisão equipe dirigente-internado seria uma conseqüência básica da direção burocrática de grande número de pessoas.
Outra característica refere-se ao trabalho dos internados, no qual qualquer incentivo dado ao trabalho não terá a significação estrutural que tem no mundo externo, funcionando como uma espécie de escravidão, onde o tempo integral do internado é colocado à disposição da equipe dirigente, gerando uma incompatibilidade entre as instituições totais e a estrutura básica de pagamento pelo trabalho na nossa sociedade. Os internados de instituições totais têm todo o dia determinado e todas as suas necessidades essenciais são planejadas pela equipe dirigente.
Apesar da separação dos dois grupos, dirigentes e internos, dar a impressão de que o “poder” seja uma instituição, estrutura ou certa potência que um grupo detém em prejuízo de outro, Goffman já revela, de certa forma, que “poder” é substancialmente relação e que são lugares que compõem a sua dinâmica.
Goffman realiza uma modalidade de análise institucional entre os planos macro e micro dos fenômenos que ocorrem nos estabelecimentos fechados. Sua concepção de poder é a de um poder essencialmente modelador, poder instaurado, repressivo e mutilador do eu em sua missão re-socializadora.
O eu é sistematicamente, embora muitas vezes não intencionalmente mortificado. A separação entre o internado e o mundo externo, a perda do seu nome, a obrigação de realizar uma rotina diária de vida que considera estranha a ele, aceitar um papel com o qual não se identifica e a violação da fronteira entre o ser e o ambiente, perdendo, assim, sua privacidade, compõem algumas das mutilações e mortificações do eu nas instituições totais.
Assim ao entrar, o individuo sofre uma série de degradações e humilhações do eu, passando por progressivas mudanças que ocorrem nas crenças que têm a seu respeito e a respeito dos outros que são significativas para ele.
Com todos estes fatores nas instituições totais geralmente se tem a necessidade de um esforço para não enfrentar problemas, a fim de evitar possíveis acidentes, o internado pode renunciar a certos níveis de sociabilidade com seus companheiros.
Dessa forma, ao concluir esta descrição do processo de mortificação, é preciso apresentar três problemas gerais das instituições totais:
O primeiro refere-se ao fato de as instituições totais perturbarem as ações que na sociedade civil o individuo possui certa autonomia, por exemplo estar sempre acompanhado por alguém da equipe dirigente até mesmo em ações simples do cotidiano, a impossibilidade de manter esse tipo de competência executiva adulta pode provocar no internado o horror de sentir-se radicalmente rebaixado no sistema de idade, na maioria dos casos os internados tendem a apresentar uma renúncia à sua vontade; o segundo problema tende a colocar as instituições totais e seus internados em três agrupamentos distintos, considerando as justificativas para os ataques do eu, os internados bem como os diretores buscam essas reduções do eu de forma que a mortificação seja complementada pela automortificação, as restrições pela renúncia, as pancadas pela autoflagelação, a inquisição pela confissão, assim, as várias justificativas para a mortificação do eu são muito freqüentemente simples racionalizações, criadas por esforços para controlara vida diária de grande número de pessoas em espaço restrito e com pouco gasto de recursos, também as instituições totais mostram-se fatais para o eu civil do internado, embora possa haver variações entre a ligação do internado e o eu civil; por fim, o terceiro e último problema é a relação entre esse esquema simbólico de interação para a consideração do destino do eu e o esquema convencional, psicológico, centralizado no conceito de tensão, a mutilação ou mortificação do eu tendem a incluir aguda tensão psicológica para o individuo, mas para um individuo desiludido do mundo ou com sentimento de culpa, a mortificação pode provocar alívio psicológico.
Juntamente ao processo de mortificação é desenvolvido o sistema denominado “sistema de privilégios” no qual é possível mencionar três elementos básicos:
O primeiro relaciona-se as “regras da casa” que são um conjunto relativamente explicito e formal de proibições que demonstram as principais exigências quanto à conduta do internado; o segundo relaciona-se ao pequeno número de prêmios ou privilégios claramente definidos, obtidos em troca de obediência à equipe dirigente, a construção de um mundo em torno desses privilégios secundários é talvez o aspecto mais importante da cultura dos internados; o terceiro elemento está ligado aos castigos, estes são uma conseqüência severa da desobediência às regras, tais castigos são formados pela recusa temporária ou permanente de privilégios ou pela eliminação de tentar consegui-los.
Além dos processos de mortificação e do sistema de privilégios, Goffman também faz ênfase ao que denominou de “táticas de adaptação” apresentando quatro maneiras distintas do internado adaptar-se ao mundo da instituição e aos mandos da equipe dirigente, que são:A primeira consiste na tática de afastamento da situação, no qual o internado aparentemente deixa de dar atenção a tudo, com exceção dos acontecimentos que cercam o seu corpo, e vê tais acontecimentos em perspectiva não empregada pelos outros que lá estão; a segunda consiste na “tática da intransigência” no qual o internado intencionalmente desafia a instituição ao visivelmente negar-se a cooperar com a equipe dirigente, porém quando a equipe dirigente identifica a tática do intransigente logo impõe sua força tendo em vista derrotá-lo, assim o internado, vendo que não terá sucesso, passa para alguma outra tática de adaptação; a terceira tática de adaptação é a “colonização”, a experiência do mundo externo é usada como ponto de referência para demonstrar como a vida no interior da instituição é desejável, e a usual tensão entre os dois mundos se reduz de maneira notável; a quarta maneira é a da conversão, onde o internado parece aceitar a interpretação oficial e tenta representar o papel do internado perfeito, apresentando-se como alguém cujo entusiasmo pela instituição está sempre à disposição da equipe dirigente. Sendo assim, cada tática representa uma forma de enfrentar a tensão entre o mundo original o mundo institucional.
Essas instituições ditas disciplinares foram criadas há alguns séculos e algumas mudanças ocorreram desde o seu surgimento, tais como visitas intimas para aliviar os penitenciários, anestesias nas seções de choques elétricos nos pacientes manicomiais ou atividades terapêuticas.
Porém essas mudanças ocorreram com o propósito de mudança do cenário, mas o método disciplinar ainda permanece sem muitas transformações e quando fazemos uma Análise institucional, sendo esta uma abordagem que busca a transformação das instituições a partir das práticas e discursos dos seus sujeitos, não se limitando a estudar, de forma isolada, o nível das relações inter-pessoais, o da organização, estrutura física ou da sociedade vista como um todo estruturado e coerente, percebemos que certas características das instituições totais ainda permanecem vivas.
Tais são a residência, o trabalho, o lazer ou espaço de alguma atividade específica, que pode ser terapêutica, tudo isso funcionando na própria instituição; assim como a relação entre os sujeitos da instituição, no caso internos e a equipe dirigente.
Vendo também algumas das contribuições da análise institucional relativas à produção da subjetividade no contexto institucional, uma leitura mais atenta de Goffman então permitirá encontrar também uma dimensão produtiva do poder: há nele uma micro organização social dos estabelecimentos totalitários que explicita toda uma tecnologia de poder altamente criativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Goffman, E. (1987). Manicômios, prisões e conventos. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva.
Lourau, R. (1993). Análise institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: UERJ