Buscar

EDUCAÇÃO INCLUSIVA UMA IDEIA EM CONSTRUÇÃO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

50
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA IDEIA EM CONSTRUÇÃO
Heloisa Souza Ferreira
Universidade Federal do Espírito Santo
Resumo: Esse trabalho assume a perspectiva de que a educação inclusiva é um processo em 
construção, não existindo um conceito inacabado do que viria a ser a sociedade inclusiva. De fato, o 
que existe são pessoas comprometidas com a inclusão e que estão trabalhando para que ela 
aconteça. Nesse sentido, o presente estudo dirigiu seu olhar para os entraves que são enfrentados 
para a efetivação de uma sociedade inclusiva, sobretudo no que diz respeito ao âmbito escolar, como 
o preconceito, a falta de informação da sociedade e a falta de formação dos profissionais da área da 
educação.
Palavras-chave: Exclusão; Inclusão; Preconceito; Estigmatização; Informação.
Introdução
A educação inclusiva é uma temática que vem sendo discutida mundialmente nos últimos anos, 
sobretudo após a Declaração de Salamanca,1 em 1994. Atualmente alguns países apresentam políticas 
mais definidas sobre a inclusão, embora outros ainda se encontrem em um processo de formulação de 
suas políticas públicas a respeito da ideia de uma sociedade inclusiva. Em nossa opinião, 
consideramos esta declaração um marco e um avanço nas discussões acerca da inclusão, sobretudo 
no âmbito escolar que é nossa área de análise. No âmbito da educação, a busca de uma escola que 
atendesse a todos foi documentada pela primeira vez em 1979, no México, embora tenha sido a 
Declaração de Salamanca que oficializara o termo inclusão.
Apesar dos avanços na discussão, consideramos que ainda não existe um consenso, tampouco uma 
ideia acabada do que viria a ser uma sociedade inclusiva; diante dessa constatação, neste trabalho 
defendemos que a educação inclusiva é uma prática que ainda está sendo construída, e que o “longo 
caminho” a ser percorrido para chegarmos à inclusão ainda não foi encontrado. De antemão, a 
complexidade do tema nos deixa entrever que o caminho é difícil, dada as complexidades que o 
envolvem como preconceitos, desconhecimento e polêmicas sobre as deficiências. A inclusão escolar 
causa medo, repulsa, incertezas e inseguranças, sobretudo em recém-licenciados que não possuem 
experiência e nenhuma formação a respeito da escola inclusiva. Por esse motivo, por fazer parte dessa 
lista de recém-licenciados inexperientes no que tange a educação inclusiva, e movidos pela 
curiosidade e necessidade de se interar sobre a temática é que nasceu esse trabalho. Nosso objetivo é 
que ele sirva como uma interpretação e apenas mais um olhar sobre a inclusão. Nosso objetivo se 
voltou para discutir questões como preconceito, falta de informação, competitividade e exclusão, sendo 
1 A Declaração de Salamanca trata dos Princípios, Política e Prática em Educação Especial. Trata-se de uma resolução 
das Nações Unidas adotada em Assembléia Geral, a qual apresenta os Procedimentos-Padrões das Nações Unidas para a 
Equalização de Oportunidades para Pessoas Portadoras de Deficiências. Disponível em: 
<http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001393/139394por.pdf>.
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 4 | Jan./Jun. 2010 | p. 50-58
51
importante salientar que essa discussão não procurou uma resposta sobre o ato de incluir; o que 
pretendemos foi pensar a inclusão e como ela é realizada no âmbito escolar. 
Utilizamos entrevistas com profissionais que exercem ou exerceram a docência e que têm ou tiveram 
alguma experiência em trabalhar com crianças com necessidades especiais. Essas entrevistas foram 
conduzidas com o objetivo de formar um corpo documental para um trabalho posterior, optamos pelo 
mínimo de interferência possível no depoimento dos entrevistados, ou seja, seguimos um conjunto de 
questões estruturadas previamente definidas, porém num contexto muito semelhante a uma conversa 
informal, a fim de garantir uma maior liberdade dos entrevistados, deixando aflorar questões 
espontâneas sobre suas vivências. Algumas entrevistas foram realizadas em escolas, das quais já 
conhecíamos alguns profissionais, outras entrevistas ocorreram por indicação dos entrevistados, que 
conheciam pessoas que já haviam trabalhado com a temática em questão. Além disso, também 
aproveitamos como fonte secundária os relatos contidos no livro intitulado Ninguém mais vai ser 
bonzinho na sociedade inclusiva,2 este livro possui uma coletânea de depoimentos de pais de filhos 
ditos deficientes, e também de “deficientes” que mandaram seu depoimento para a autora relatando 
suas experiências, ademais buscamos o aporte de literaturas que discutem a temática proposta.
Porque incluir?
“O termo inclusão já traz implícito a ideia de exclusão, pois só é possível incluir alguém que já foi 
excluído. Desse modo, a inclusão está respaldada na dialética inclusão/exclusão”. (PEREIRA, 
disponível em: www.profala.com acesso em 10 fev. 2010). “A sociedade, em todas as culturas, 
atravessou diversas fases no que se refere às práticas sociais excludentes. Ela começou praticando a 
exclusão social de pessoas que, por causa de suas condições atípicas, não lhe pareciam pertencer à 
maioria da população” (SASSAKI, 2002, p. 16) Nesse sentindo, a busca por um padrão de normalidade 
justificou ao longo dos séculos a exclusão de determinadas parcelas da população que não se 
encaixavam nesse padrão.
“Historicamente sabemos que as diferentes sociedades sempre tiveram grandes dificuldades para 
aceitar e lidar com as diferenças impostas pela deficiência. Além disso, as relações sociais estão 
marcadas por determinadas concepções de homem, de mundo, de sociedade, as quais se 
caracterizam, muitas vezes, pelo discurso hegemônico de uma sociedade num determinado momento 
histórico”. (PASOLINI, 2008, p. 31) “A deficiência é destacada da normalidade pelo recorte que é feito 
em função de algum critério”. (SKLIAR, 1999, p. 48). Os que fogem a esse padrão de normalidade 
estabelecido pela sociedade se tornam estigmatizados e excluídos devido sua diferença.
“Apesar de todas as provas em contrário, a crença consoladora de que os seres humanos, não apenas 
como indivíduos, mas também como grupos, normalmente agem de maneira racional conserva ainda 
uma intensa força na percepção das relações intergrupais”. (ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 36). A busca 
incessante por esse ideal de razão é bem exposto e satirizado por Machado de Assis em seu livro 
intitulado O alienista,3 publicado em 1882. O livro tem como centro temático o problema da loucura, 
cujo personagem principal da obra é um médico que realiza uma procura insistente de um padrão de 
norma e conduta com base nas verdades de sua ciência, e nessa busca incessante ele acaba por criar 
2 WERNECK, Claudia. Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WVA, 2000.
3 ASSIS, Machado de. O alienista. São Paulo: Ática, 1995.
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 4 | Jan./Jun. 2010 | p. 50-58
52
um hospício a fim de abrigar todos que não se enquadram nesse padrão de normalidade; ao final do 
livro o alienista percebe que 4/5 de toda a cidade se encontra enclausurado na casa verde (hospício).
Simão Bacamarte (o alienista) perseguiu a “razão” até na hora de escolher a esposa, que como adverte 
o personagem principal não era nem bonita e nem simpática, mas que reunia condições fisiológicas e 
anatômicas de primeira ordem, e que, portanto seria capaz de lhe dar filhos robustos e sadios, e isso 
era o que importava. Para o médico, a razão era o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora disso 
tudo era insânia. Ao findar da obra, o alienista se encontra em uma situação conflitante: “[...] Mas 
deveras estariam eles doidos, e foram curados por mim, - ou o que pareceu cura não foi maisdo que a 
descoberta do perfeito desequilíbrio do cérebro?” (ASSIS, 1995, p. 148) Com isso, o alienista conclui 
que não havia loucos em Itaguaí (cidade onde se desenrola o enredo), e ele próprio se recolhe a casa 
verde para se entregar aos estudos e a cura de si mesmo.
Nesta obra, Machado nos enumera vários problemas, dentre eles o fato de que o médico, ao perseguir 
uma pretensa verdade baseada na ciência e na utilização da razão acaba ele mesmo por se tornar um 
alienado, adjetivo que dá nome a obra. Além disso, podemos concluir que não existia uma 
normalidade, não existia um padrão, pois o alienista enxergava anormalidade em todos os habitantes 
de sua cidade e ao querer excluir todos os considerados anormais, acabou por se tornar um solitário na 
cidade, fato que demonstrou que não existia iguais naquela sociedade, todos possuíam as sua 
diferenças.
 “Assim, ao falar das diferenças em educação, seria interessante não fazermos nenhuma referência à 
distinção entre “nós” e “eles”, nem inferirmos relação ou condição da aceitabilidade acerca do outro e 
dos outros. A diferença sexual, de geração, de corpo, de raça, de gênero, de idade, de língua, de 
classe social, de etnia, de religiosidade, de comunidade, etc, envolve a todos e determina que tudo é 
diferença. E não há, deste modo, alguma coisa que não seja diferença, alguma coisa que possa deixar 
de ser diferença, alguma coisa que possa ser o contrário, o oposto das diferenças “(SKLIAR, 2006, p. 
30) 
As instituições como asilos, manicômios e escolas de ensino especial existem até os dias atuais, 
promovendo a exclusão de pessoas que fogem da “normalidade” pretendida pela sociedade. E, embora 
atualmente haja uma discussão sobre a extinção dessas entidades segregacionistas e sobre os 
malefícios que segregar traz para a sociedade, ainda é muito forte em nossa sociedade a exclusão. 
Sobretudo, devido às exigências naturalmente impostas pelo sistema capitalista. E como lembra 
Freitas: “a situação que se configura em razão do processo de internacionalização da economia e de 
supremacia dos interesses humanos tem contribuído para a constituição de valores e sentimentos nada 
construtivos, como o individualismo, a intolerância e a exclusão”. (FREITAS, 2006, p. 169). “A 
designação da diferença, o estatuto que é conferido aos seus portadores, seja por mecanismos 
reconhecidos como científicos, seja no nível do senso comum, desencadeiam no processo de 
discriminação social do “outro”, o “diferente”, desviante dos processos normais de um determinado tipo 
de sociedade um indivíduo não normal, não normativo” (TOMASINI, 2009, p. 114). 
Dentro desse breve contexto exposto, percebemos que a exclusão de pessoas com alguma deficiência 
é milenar, e que a proposta de uma sociedade inclusiva vem na contramão de todo esse processo de 
exclusão que a humanidade praticou por muitos anos. Então, porque incluir? A inclusão é uma questão 
de direitos legais, e de respeito as diferenças.A proposta de uma sociedade inclusiva não é um 
consenso, a sociedade sempre se habituou a afastar o diferente com o respaldo da ciência; com isso, 
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 4 | Jan./Jun. 2010 | p. 50-58
53
foi perpetuando-se o preconceito e a ideia de que o deficiente era incapaz ou que não poderia conviver 
com os “normais”.
Atualmente percebemos que existe um novo entendimento em relação ao deficiente (embora não seja 
uma unanimidade): a ideia é conviver com as diferenças, e não excluí-las. Entretanto, mudar (pré) 
conceitos, nos quais a mentalidade coletiva sempre se habituou é um processo muito lento e árduo, e 
assim a inclusão ainda vivencia muitas barreiras pela resistência das pessoas em aceitar o “diferente”.
No que diz respeito ao âmbito escolar, as afirmações de Pasolini são bastante elucidativas a esse 
respeito, quando ele afirma que ainda hoje se tem a ideia de que a pessoa com necessidades 
educacionais especiais é um indivíduo que não atinge um maior grau de desenvolvimento intelectual. 
“De modo geral, parte-se do pressuposto de que seu desenvolvimento se caracteriza pela limitação. 
Assim, a limitação era e continua sendo a base construída sobre a vida dessas pessoas e, em termos 
educacionais, tais indivíduos nunca alcançavam maiores níveis de escolarização” (PASOLINI, 2008, p. 
100). 
“A realidade sócio-cultural excludente, na qual os alunos se encontram em um contexto educacional em 
que as práticas são homogeneizantes e a referência ao “aluno-padrão” e “modelo” são muito presentes 
e orientadoras das organizações de ensino, tem se consistido em um grande entrave para a 
implementação da proposta da inclusão escolar. Outro aspecto a ser considerado é o papel do 
professor, pois é difícil repensar sobre o que estamos habituados a fazer; além do mais a escola está 
estruturada para trabalhar com a homogeneidade e nunca com a diversidade” (PASOLINI, 2008, p. 
100-104). 
Mas, o que vem a ser inclusão? Consideramos a discussão em torno da inclusão como algo ainda 
muito recente. Por isso, defendemos a ideia de que a inclusão está num processo de construção, numa 
mescla de sonhos, realidades e expectativas. Para Romeu Sassaki ”inclusão social é o processo pelo 
qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas gerais pessoas com necessidades 
especiais; simultaneamente estas se preparam para assumir seu papel na sociedade. Os praticantes 
da inclusão se baseiam no modelo social da deficiência. A sociedade é que precisa ser capaz de 
atender as necessidades de seus membros.” (SASSAKI, 2002, p. 41). Consoante Pasolini, “inclusão é 
um movimento, uma prática que tem como princípio a luta contra todos os tipos de discriminação, 
pautada em uma filosofia de valorização e respeito à diversidade. Assim, na implementação de uma 
educação inclusiva faz-se necessário buscar uma escola que ofereça educação de qualidade para 
todos os alunos, ou seja, acomodar estilos, ritmos de aprendizagem, independentemente de suas 
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras, levando em consideração o 
contexto sócio-cultural em que os sujeitos estão inseridos” (PASOLINI, 2008, p. 14).
Na conclusão dos estudos empreendidos por Freitas “a inclusão significa a modificação da sociedade 
como pré-requisito para a pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer 
sua cidadania. O princípio fundamental da escola ou ensino inclusivo é que todos os alunos, sempre 
que possível, devem aprender juntos – independentemente de suas dificuldades ou talentos” 
(FREITAS, 2006, p. 167). 
Os esforços de definição que foram supracitados são apenas exemplos das mais variadas opiniões 
existentes sobre a inclusão. Com isso, o objetivo dessa primeira parte do trabalho foi demonstrar que a 
sociedade tem um histórico milenar de exclusão fruto da mentalidade que perpassa cada época, 
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 4 | Jan./Jun. 2010 | p. 50-58
54
inclusive respaldada pela ciência, fato que justifica esse preconceito enraizado até os dias atuais; e que 
recentemente surgiu um novo paradigma chamado inclusão, em oposição a essa mentalidade que 
perdurou por muito tempo, sendo que as bases para essa nova proposta de sociedade já estão sendo 
lançadas através do esforço de muitas pessoas que acreditam numa sociedade melhor. Desse modo, 
por ser uma discussão ainda muito recente, estamos apenas trilhando o caminho para alcançar a 
inclusão, mas ela já é uma realidade.
Preconceito: a face cruel da exclusão4
“Na sociedade inclusiva ninguém é bonzinho. Ao contrário, somos apenas – e isto é o suficiente – 
cidadãos responsáveis pela qualidade de vida do nosso semelhante, por mais diferenteque ele seja ou 
nos pareça ser” (WERNECK, 2000, p. 21). Com esse trecho a autora critica a forma piedosa com a 
qual a sociedade costuma tratar os deficientes, a bondade que fere com a sutileza. O livro do qual 
retiramos o trecho acima denomina-se: Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva . E nós 
contrapomos chamando atenção para o fato de que ninguém nunca foi “bonzinho” na sociedade 
exclusiva.5 É notório que a autora Cláudia Werneck utiliza o termo bonzinho com uma conotação 
diferente, mas o que desejamos é chamar a atenção para as barreiras que o preconceito coloca para a 
construção de uma sociedade/educação inclusiva e ainda a crueldade enfrentada pelos deficientes e 
as pessoas próximas a eles. Para tal empreitada utilizaremos algumas entrevistas e, sobretudo, os 
depoimentos contidos no livro já citado. O que percebemos na maioria dos relatos é que para os pais é 
muito difícil optar por uma escola regular, quando pensam na possibilidade de aversão que os seus 
filhos podem enfrentar. Esse foi o caso da jornalista Liana John, mãe de quatro filhos e um com 
síndrome de down.
Nem eu nem meu marido suportaríamos ver o Daniel ser chamado de retardado, ou fazer o 
papel do bobo, quem sabe até sem ter condições de responder. Este é um risco real em 
qualquer escola regular, por melhores que sejam as intenções dos educadores em controlar 
o preconceito e patrocinar a inclusão. Tal preocupação nos fez balançar entre a educação 
especial e a educação inclusiva. Numa escola especial o Daniel estaria entre iguais. Os 
apelidos e brigas ainda apareceriam, mas poderiam ser revidados em pé de igualdade [...]. 
(JOHN In WERNECK, 2000, p. 87)
O receio da mãe de Daniel é vivido por muitas outras mães de filhos especiais, que temem o 
preconceito que seus filhos possam enfrentar. No entanto, quando entrevistamos uma fonoaudióloga 
4 Nesta parte do trabalho discutiremos o preconceito com a “deficiência”. Utilizaremos como fonte as entrevistas realizadas 
para essa pesquisa com profissionais que já tiveram alguma experiência com a educação inclusiva, ou que já sofreram 
algum tipo de preconceito. As entrevistas foram pautadas por perguntas pré – selecionadas, porém optamos por um mínimo 
de interferência possível na fala dos entrevistados, deixando que eles fossem contando sobre as suas trajetórias e 
vivências. Além disso, utilizamos os depoimentos publicados por Claudia Werneck Sodré, em seu livro intitulado: Ninguém 
mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Os depoimentos que forem retirados do livro da supracitada autora virão 
separados do corpo do texto, os demais são depoimentos das entrevistas que realizamos. Em relação aos nossos 
entrevistados optamos por uma preservação de seus nomes, e utilizamos letras distintas para distinguir os depoimentos. 
Sendo importante salientar que as entrevistas nos oferece dados subjetivos, pois se relacionam com valores, atitudes e 
opiniões dos sujeitos entrevistados. Nesse sentido, pautamos nossa pesquisa na análise desses conteúdos fornecidos 
pelos participantes.
5 O termo sociedade exclusiva foi utilizado aqui, apenas para dar sentido a ideia que queremos passar, desconhecemos a 
utilização desse termo como um conceito. Utilizamos a palavra exclusivo, no sentido de estarmos lidando com uma 
sociedade exclusiva para normais.
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 4 | Jan./Jun. 2010 | p. 50-58
55
que trabalha há dois anos numa APAE, ela foi categórica ao dizer que “a criança não tem preconceito”. 
A professora “A” também compartilha dessa opinião. Segundo ela, principalmente na fase inicial da 
educação básica, as crianças não apresentam preconceito, elas aceitam melhor o diferente do que o 
adulto, fato também relatado pela professora “B”, que no ano passado teve uma experiência com uma 
aluna com problemas de nervo e mentais. Quando foi perguntando a ela sobre o tratamento das 
crianças ditas “normais” em relação a essa criança com necessidades especiais, ela nos respondeu 
que: “eles tratavam ela normal, brigavam com ela, riam dela, mas nunca rejeitaram fazer trabalho com 
ela e quando ela estava ‘atacada’ todos entendiam a necessidade dela, inclusive eles me advertiam 
sobre o horário dos remédios dela”. Talvez o que tenha feito toda a diferença na escola de “B” é que 
quando os alunos entraram houve uma conversa explicando a eles as necessidades de “I”, e todo 
aluno que chegava também era advertido sobre a “diferença” da colega. A professora contou que “I” 
fazia muitas coisas para chamar atenção, e que às vezes jogava tintas na cabeça e nos braços, e que 
a sala ficava eufórica, as crianças riam e ela fazia ainda mais, para perpetuar o riso deles. 
O que notamos é que as crianças não riam por ser “I” uma criança “deficiente”, mas porque “I” motiva-
lhes a rir com suas travessuras, assim como eles ririam de qualquer outra criança que fizesse o 
mesmo. Quanto aos apelidos, eles surgem com qualquer criança, com o magro, com o gordo, com o 
que usa óculos, com o negro, com o albino, etc. Mas é óbvio que a mãe de Daniel não estava errada 
em imaginar que o filho poderia sofrer represálias e apelidos mais cruéis do que os demais até porque 
convivemos numa sociedade preconceituosa e algumas crianças aprendem o preconceito em casa.
O interessante na escola de “B” é que houve uma preparação para que os alunos recebessem “I”. De 
certa forma, a escola estava atendendo ao princípio da inclusão de que a sociedade é que deve se 
preparar para receber o (d)eficiente e não o contrário. Nesse sentido, pensamos que um bom início de 
caminho para uma escola inclusiva seria preparar as crianças para receber o “coleguinha diferente”, e 
mais: preparar os próprios pais dessas crianças, já que muitas vezes o preconceito não é da criança, 
mas sim das informações que ela recebe em casa. Como afirma Werneck, “quem desde cedo aprende 
a lidar com a informação pratica a verdadeira prevenção da deficiência; e prevenção da deficiência não 
necessariamente pressupõe evitar a deficiência, mas sim lidar com ela.” (WERNECK, 2000, p. 226).
Os estudos de Claudia Werneck São esclarecedores para o desenrolar deste trabalho; para a autora, “a 
única forma eficaz de combater o preconceito é impedindo que ele se instale ainda na infância. A 
atitude dos adultos é o estopim do preconceito, pois é impossível acabar com o preconceito na idade 
adulta. O preconceito não vem apenas da falta de informação, ele surge basicamente do que ela 
chama de falta de formação. A falta de formação origina o preconceito” (WERNECK, 2000, 134-139). 
“A criança não discrimina a diferença; quer apenas olhar, experimentar a brincadeira daquele amigo, 
ver de que jeito ele leva a vida. Aos poucos, pela impossibilidade de que o adulto lhe coloca de ter as 
vivências desejadas ele começa a evitar, a rejeitar o novo. O novo em vez de gerar curiosidade, 
desencadeia o medo, a ameaça, o risco. Assim, acabamos de fabricar mais um cidadão pela metade. 
O cidadão pela metade será um profissional despreparado, violará pequenos e grandes direitos das 
pessoas com deficiência e talvez morra sem perceber isso. Quem anda ao seu lado na rua é tão pela 
metade quanto ele. O cidadão pela metade invariavelmente é casado com um cidadão pela metade”. 
(WERNECK, 2000, p. 140) Nesse sentido, acreditamos que a entrada de crianças como Daniel em 
escolas regulares contribuiria para a formação de nossos futuros cidadãos, na medida em que as 
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 4 | Jan./Jun. 2010 | p. 50-58
56
crianças iam recebendo desde cedo a (in)fomação necessária para se tornarem adultos por inteiro. 6
“F” é deficiente visual e casada com um deficiente visual; é professora aposentada, cursou magistério e 
possui curso de graduação em Educação Especialfeito no Estado do Rio de Janeiro, que era o local 
mais próximo que ela encontrou que oferecia essa formação. Trabalhou 20 anos com Educação 
Especial na instituição União de Cegos Dom Pedro II, também atuou na secretaria de educação do 
Estado do Espírito Santo, no Subnúcleo Regional de Educação e também como professora de escola 
regular dando aulas para turmas da 1º série até a 8° série. De acordo com sua experiência, “F” definiu 
a criança como transparente: segundo ela a criança não faz rodeios e pergunta o que quer perguntar, 
diferente do adulto. Ela diz que quando sai com seu marido as crianças olham, perguntam, pegam na 
bengala e uma vez uma criança, filha de sua amiga, ao visitar sua casa, percorreu toda a casa 
observando tudo e que no fim disse: “tia, a sua casa é igual a de todo mundo né?” A criança achou que 
por ela ter a visão quase toda comprometida e o marido ser cego que sua casa deveria ser diferente. 
“F” nos contou que adora essa postura da criança, e que quando a criança pergunta e tem a resposta 
ela fica satisfeita, e que os adultos geralmente repreendem seus filhos quando estes estão curiosos 
pelas causas da deficiência, o que não deveriam, pois a criança pergunta não por preconceito, mas 
porque tem desejo da informação. “F” disse que não se incomoda com nenhuma pessoa que lhe faça 
perguntas sobre sua deficiência, muito pelo contrário; ela só não permite que as pessoas uma vez já 
informadas persistam nas perguntas ou nos preconceitos. Por isso, acredita que no âmbito escolar os 
deficientes só sofreriam preconceitos, caso fosse negado as crianças ditas “normais” as informações 
de que elas necessitam sobre a deficiência e sobre o colega diferente. Ela acredita que as reações que 
as crianças têm ao colega “diferente” no sentido dos apelidos e do tratamento é o mesmo com os 
colegas ditos “normais”.
“F” diz que o adulto prefere não expressar suas curiosidades com as palavras, mas sempre o faz com o 
olhar ou com a fala, porém sem a objetividade da criança, e que muitas vezes, por já ter conceitos pré-
formados ou que não foram esclarecidos na infância, agem preconceituosamente. Ela conta que 
quando seu primeiro filho nasceu, as visitas eram intensas e que ela percebia que as pessoas durante 
as visitas tentavam verificar se o neném tinha nascido normal e que a maioria a perguntava; ela disse 
que não se sentiu ofendida e que foi uma oportunidade interessante de explicar para as pessoas que 
sua deficiência visual não era hereditária e nem tampouco a do seu marido.
A filha de “F” é disléxica, e quando começou o seu processo de alfabetização, foi uma dificuldade 
tremenda, não compreendia o porque ela tinha dificuldades e após consultas foi constatada a dislexia. 
Ao relatar o caso para a professora, esta recomendou que a tirasse da escola, e que futuramente 
ensinasse a ela uma atividade como corte costura, fazer salgados ou manicure, afirmando que não era 
porque ela não aprendia que futuramente ela não poderia ter uma profissão. A resposta de “F”, a 
professora foi que quando a filha dela crescesse ela decidiria se gostaria de executar alguma dessas 
funções por ela sugerida, mas que não é porque a pessoa opta por exercer atividades manuais que ela 
não pode ser estudada, que muito pelo contrário. E que ela não levaria a mal a fala da professora, 
porque ela entendia essa sugestão dela como uma ignorância (no sentido de desconhecimento), mas 
que ela não tiraria a filha da escola, e que ela teria que “engolir” a menina, caso ela não aceitasse.
A atitude de “F” foi correta, pois atualmente sua filha cursa o terceiro ano do ensino médio, e consegue 
acompanhar o ensino regular, mas o que percebemos é que talvez se essa sugestão fosse dada a uma 
mãe sem muitos esclarecimentos ela não teria a mesma atitude que “F”, até porque uma pessoa com 
6 Fazendo uma alusão ao termo adulto pela metade utilizado pela autora Cláudia Werneck.
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 4 | Jan./Jun. 2010 | p. 50-58
57
pouca instrução, ouvindo esse conselho de um profissional que teoricamente é bem informado, acaba 
por acreditar, além de desconhecer a dislexia a professora ainda se mostrou preconceituosa em 
relação as atividades manuais. 
A questão do preconceito é tão profunda e tão séria na nossa sociedade que encontramos os próprios 
familiares de deficientes mal informados e com atitudes totalmente preconceituosas. Por isso, 
gostaríamos de chamar atenção para a necessidade de uma formação urgente para as crianças em 
idade escolar, e sobretudo para pessoas que lidam com deficientes, pois quanto mais bem informadas 
essas pessoas estiverem, maior será a chance de obterem o tratamento adequado de que precisam. A 
fonoaudióloga “D”, que sempre trabalhou com crianças com necessidades especiais nos contou que 
desde a época de sua formação na faculdade ela foi alvo de preconceitos por parte de pais que 
rejeitavam a sua cor. Com o seu primeiro paciente, era realizado um tipo de atendimento feito por duas 
estudantes, ela e uma colega de turma que era branca; ao longo das sessões ela foi percebendo que a 
mãe do paciente só se dirigia a sua colega e ignorava a sua presença e que o paciente não estava até 
então respondendo as sessões, já que este não estava fazendo uso do medicamento por questões 
financeiras. Em uma das sessões quando “D” saiu do consultório a mãe do paciente se dirigiu a sua 
companheira e disse que o menino não estava respondendo ao tratamento porque ele não gostava de 
“pretos” e que, portanto a presença de “D” dificultava o tratamento do menino.
Diante do acontecido, a direção da faculdade deixou que “D” optasse se continuaria ou não no caso, 
inclusive dando a opção de “D” escolher se esse paciente continuaria sendo atendido pelo programa da 
faculdade, que inclusive é endereçado a pessoas carentes. A opção dela foi que ele seria o seu 
primeiro desafio e que ele seria entregue por ela nas mãos da mãe e falando, já que o menino quando 
adentrou no programa não pronunciava sequer uma só palavra. No fim do tratamento o menino 
respondeu da forma esperada, além da medicação ter sido comprada através de uma ajuda de “D” e os 
seus colegas de turma.
Esse exemplo é uma amostra da ignorância de muitos adultos; o menino nem sequer falava e a mãe já 
atribuía o preconceito a ele, um preconceito que claramente vinha dela. E ficamos pensando: e se caso 
“D” opinasse pela exclusão dessa criança do programa? O preconceito é tão arraigado que se torna 
por vez inconsciente; imagine o caso dessa mãe que tantos olhares piedosos e preconceituosos já 
deve ter recebido em virtude do filho, e mesmo assim retribui com práticas que perpetuam o 
preconceito na sociedade. Esses exemplos confirmam a nossa percepção de que muitas vezes o 
preconceito da criança tem origem na família e nas pessoas com que elas convivem.
Conclusão
Embora, muitos tabus tenham sido quebrados em relação ao deficiente, existem instituições que ainda 
perpetuam o preconceito e a “bondade”, práticas rejeitadas numa concepção inclusiva. Por não 
entendermos a deficiência, tratamos o deficiente como um estranho, ou como alguém que tem todas as 
habilidades supridas.
O preconceito é o pior entrave para o desenvolvimento de uma pessoa deficiente; a forma como a 
sociedade enxerga e trata o portador de necessidades especiais podem influenciar profundamente na 
sua conduta e na sua forma de encarar a vida. É como se ter uma necessidade especial facultasse 
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 4 | Jan./Jun. 2010 | p. 50-58
58
todas as outras capacidades do indivíduo. A sociedade contemporânea ignora o deficiente, trata o 
como um ser invisível, às vezes por não saber que tipo de reação deve demonstrar para não parecer 
preconceituosoe ora por já está no inconsciente mesmo a imagem que o deficiente é um humano 
“nulo”.
Acreditamos que seria muito útil se a mídia assumisse um papel social no que diz respeito a sociedade 
inclusiva; o nível de influência da mídia é muito alto e ela pode desmistificar ideias e ajudar a formar 
uma imagem positiva do deficiente. Percebemos o quanto a transmissão das paraolimpíadas é 
produtiva para a quebra de preconceitos e acreditamos que essa atitude já é um início de um pensar 
diferente; a ideia de superação advinda com o esporte demonstra o quanto os deficientes lidam com 
uma superação diária e chama atenção da sociedade para essas pessoas portadoras de deficiência.
Referências:
ASSIS, Machado de. O alienista. São Paulo: Ática, 1995.
ELIAS, Norbert e SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de 
poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
FREITAS, Soraia Napoleão. A formação de professores na sociedade inclusiva: construindo a base de 
todo o processo. In: RODRIGUES, David (Org.). Inclusão e educação: doze olhares sobre a educação 
inclusiva. São Paulo: Summus, 2006.
PASOLINI, Marcella Simonetti. Análise do atendimento da educação especial no município de 
Colatina/Espírito Santo: construindo um olhar na perspectiva inclusiva. (Dissertação de mestrado) 
UFES, 2008.
PEREIRA, Marilu Mourão. Inclusão escolar: um desafio entre o ideal e o real. Disponível em: 
<http://www.profala.com/arteducesp53.htm>.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 
2002.
SKLIAR, Carlos. Inclusão que é “nossa” a diferença que é do outro. In: RODRIGUES, David (Org.). 
Inclusão e educação: doze olhares sobre a educação inclusiva. São Paulo: Summus, 2006.
_______. Educação & exclusão: abordagens sócio-antropológicas em educação especial. 2. ed. Porto 
Alegre: Mediação, 1999.
TOMASINI, Maria Elisabete Archer. Expatriação e a segregação institucional da diferença: reflexões. In: 
MARA, Ida (Org.). Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania. Campinas: Papirus, 
2009.
WERNECK, Claudia. Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: 
WVA, 2000.
Revista FACEVV | Vila Velha | Número 4 | Jan./Jun. 2010 | p. 50-58

Outros materiais