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1 Métodos Analíticos e Computacionais Modelagem Analítica Capítulo II Problemas de Valor Inicial e de Contorno II.1 – Problema de valor inicial II.1.1 – Introdução Os problemas de valor inicial são problemas envolvendo fenômenos que experimentam modificações no decorrer do tempo, cuja modelagem resulta em equação diferencial. Para a abordagem de problema de valor inicial segundo a sua acepção clássica, resolve-se de antemão a equação diferencial correlata, e, para o problema em particular objeto de apreciação, aplicam-se as condições iniciais que lhe são inerentes, para assim determinar as constantes de integração arbitrárias. Uma vez substituindo-se os valores específicos assim obtidos para as constantes, na função solução geral, esta se transforma na solução particular que descreve o problema em análise. 2 Exercícios propostos: 1 - Resolver os problemas de valor inicial: a - ) 0 1 tdtcosdy y tal que em t = 0, y = f(t) =yo; e, b - ) 0 2 2 A dt Ad tal que em t = 0, A = 0, e, dt dA . II.1.2 – Aplicações em Problemas de Engenharia Um exemplo de problema de valor inicial é o caso de um elemento estrutural de concreto fabricado com agregado reativo. A modelagem do problema fundamenta-se na premissa de que a taxa de consumo de íons álcali em sua reação com os minerais reativos quimicamente afins do agregado, no decorrer do tempo, é proporcional ao teor desse material na solução alcalina dos poros do concreto. Em outras palavras, se “A” é o teor de álcalis num instante “t” arbitrário então: kkA dt dA (II.1) onde “k” é um parâmetro que considera as condições físico-químicas do material que, mediante alguma aproximação, pode ser considerado, constante. A condição inicial do problema é que para t = 0, que é o instante em que inicia- se a reação química, o teor de álcalis consumido na reação é A = 0. Uma vez que a equação diferencial envolvida é linear, não homogênea, e, de coeficientes constantes, sua solução é do tipo: ph AAA (II.2) 3 onde Ah representa a solução geral da equação diferencial homogênea correspondente, e, Ap é uma solução particular, que pode ser obtida a partir do método dos coeficientes a determinar. A equação diferencial homogênea correspondente será: 0kA dt dA h h (II.3) Sua equação característica será: 0k (II.4) admitindo para solução k . Logo: kt h e.CA (II.5) Mediante o método dos coeficientes a determinar, deve-se propor para solução particular a forma: tetanConsBAp (II.6) a qual, uma vez levada na equação diferencial em resolução resulta: 1BAp (II.7) Conseqüentemente, a solução geral da equação diferencial em resolução será: 1ktph e.CAAA (II.8) Considerando-se a condição inicial de que em t = 0, A = 0, obtém-se: 01C1e.C)0(A 0.k (II.9) 4 De modo que: 1C (II.10) E, finalmente, substituindo-se “C” na solução geral obtém-se a solução do problema sob a forma: kte1A (II.11) Outro problema de valor inicial é o caso do esgotamento de um reservatório cujo fluxo de água se dá através de um orifício de seção de escoamento controlada mediante registro-válvula, instalado na parede vertical nas proximidades de sua base, figura II.1. Figura II.1 - reservatório Se “Ao” é a área do orifício dreno de escoamento, “Ac” é a área da base do reservatório cilíndrico, “g” é a aceleração da gravidade, e, “h” a altura da coluna d’água sobre o referido orifício num instante arbitrário “t”, então o decaimento do nível d’água do reservatório é descrito pela equação: 0 260 h A gA, dt dh c o (II.12) 5 Fazendo-se c o A gA, C 260 1 , a equação II.12 assume a forma: hC dt dh 1 (II.13) Separando-se as variáveis obtém-se: dtCdh h 1 1 (II.14) Integrando-se membro a membro e introduzindo-se a constante de integração pertinente resulta: 21 2 1 2 CtCh de onde se obtém 2 43 )CtC(h (II.15) com c o A gA,C C 230 2 1 3 Considerando-se que no instante inicial, t = 0, o registro é aberto, e o escoamento se inicia, de modo que, o nível d’água no interior do reservatório, inicialmente igual a ho, começa a decair, e, assim: 2 4 2 430 00 C)C.C()t(hh de modo que ohC4 (II.16) Levando-se este valor na equação II.15 resulta: 2 3 )htC(h o (II.17) 6 II.2 - Problema de valor de contorno II.2.1 - Introdução O problema de valor de contorno representa uma classe de problemas cuja modelagem física resulta em uma formulação matemática envolvendo equação diferencial, estando sua descrição específica condicionada à observação de certas particularidades claramente reconhecidas nas fronteiras do domínio espacial do problema. Para obtenção da lei que descreve matematicamente o fenômeno, deve-se obter a solução geral da equação diferencial envolvida e, em seguida determinar o valor de suas constantes independentes, a partir do atendimento às condições reais conhecidas intrínsecas ao problema, verificadas na fronteira do domínio de definição da função solução. Exercícios propostos: 2 - Resolver os problemas de valor de contorno: a - ) xy dx dy 2 , y definida para todo 0x,Rx , e, em x = 0 y = 100; b - ) 84 2 2 y dx yd , y definida para todo 10 x,Rx , e, para x = 0, e, x = 1 a função y se anula. II.2.2 - Aplicações em Problemas de Engenharia Esforços em vigas Esforços são grandezas físicas cuja quantificação está associada ao padrão segundo o qual o carregamento de certo elemento de uma estrutura é transferido para os seus vínculos a um referencial fixo ou a outros membros da 7 mesma estrutura. No caso particular das vigas, os esforços inerentes são o esforço cortante e o momento fletor. Quando uma carga solicita uma estrutura, figura II.2, seus componentes passam de um estado inicial para uma configuração deformada. Esta configuração não é atingida instantaneamente. Assim, as reações e esforços crescem gradativamente de 0 (zero) até seu valor final quando é atingida a configuração de equilíbrio referente ao carregamento solicitante. Assim, quando a configuração deformada é estabelecida diz-se que a estrutura atingiu a sua configuração de equilíbrio para o carregamento que a solicita. Figura II.2 – Esquema estrutural de uma viga Do ponto de vista físico-matemático os esforços em determinada seção de uma viga representam as ações de sua parte situada à esquerda de tal seção sobre a parte posicionada à sua direita ou vice versa. Em outras palavras é representadapelas resultantes das ações do tipo força e momento, aplicados na parte da viga localizada à esquerda da seção em estudo. Os postulados da Mecânica dos Sólidos utilizam como ferramenta principal de cálculo, as Equações Universais da Estática ou Equações de Equilíbrio Estático, que são empregadas, inclusive, para o cálculo direto de esforços. Tais postulados também apresentam em seu bojo um conjunto especial de equações, conhecidas como Equações Fundamentais da Estática, deduzidas a partir da aplicação das Equações Universais da Estática, que são escritas mediante as formas diferenciais: 0)x(V dx )x(dM 0)x(q dx )x(dV (II.18) 8 onde “V(x)”, M(x) e “q(x)” são funções que expressam a variação do esforço cortante, do momento fletor e da carga, respectivamente, ao longo do eixo longitudinal da viga. As Equações Fundamentais da Estática podem ser empregadas, alternativamente, para a determinação dos esforços. Nesta seção recorreremos a tal procedimento. Seja por exemplo determinar as funções dos esforços em uma viga bi-apoiada solicitada por carregamento uniformemente distribuído em toda a sua extensão longitudinal, figura II.3.. Figura II.3 – Esforços em vigas Com vistas à resolução do problema em pauta serão utilizadas as equações II.18. Para o caso ora analisado: tetanconsq)x(q Resolvendo-se a primeira das equações II.18, tem-se: 10 cx.q)x(Vdx.qdVq dx )x(dV (II.19) Substituindo-se a expressão de “V(x)” assim obtida na segunda das equações II.18 resulta: 00 1 )cqx( dx )x(dM )x(V dx )x(dM (II.20) 9 Separando-se as variáveis obtém-se: dx)cqx(dM 1 (II.21) Integrando-se membro a membro e introduzindo-se a constante de integração pertinente resulta: 21 2 2 1 cxcqx)x(M (II.22) Com o objetivo voltado para a aplicação das condições de fronteira deve-se lembrar, de antemão, que uma função é uma transformação que converte um elemento “x” do conjunto domínio, em um elemento y = f(x) do conjunto imagem. Em linguagem matemática esta definição é expressa na forma: f(x) y x ID (II.23) As equações dos esforços em uma viga fornecem o valor dos esforços em uma seção arbitrária ao longo do seu eixo longitudinal, em função da posição “x” da seção, relativa a um referencial, que nas mais das vezes está fixado em sua extremidade esquerda. Assim, o domínio do problema é o conjunto dos infinitos pontos que constituem o eixo longitudinal da viga, ou seja, }Lx/Rx{D 0 , onde “L” representa o comprimento do vão da viga. As fronteiras do domínio, no presente caso, são as extremidades da viga, representadas pelos pontos de coordenadas x = 0 e x = L. As condições de fronteira do problema ora considerado são: 000 )x(MLx)x(Mx (II.24) pois, a viga considerada está apoiada sobre duas rótulas, que representam tipo de apoio que não transfere momento fletor. Ou seja: Os momentos fletores nas extremidades da viga, para esse tipo de apoio, são nulos. 10 A primeira condição de fronteira nos dá: 0000 2 1 00 221 2 cc.c.q)(Mx (II.25) O que transformaria a função momento fletor em: xcqx)x(M 12 2 1 (II.26) A segunda das condições de fronteira nos daria: 2 0 2 1 11 2 qLcL.cL.q)L(MLx (II.27) Levando esse valor obtido para “c1” nas equações II.19 e “II.22” resultam: 2 qL x.q)x(V x qL qx)x(M 22 1 2 (II.28) que representam as equações de esforço cortante e momento fletor procuradas. Exercícios propostos: 3 - Determinar a partir das Equações Fundamentais da Estática as funções que exprimem as variações dos esforços para as estruturas: a - ) Viga bi-apoiada solicitada por uma carga concentrada, figura II.2, lembrando que o domínio do problema deve ser subdividido em dois subdomínios cada um representando um dos dois trechos da viga separados carga concentrada, assim, o problema admite um par de equações diferenciais por trecho do vão resultando em quatro constantes de integração a determinar. No tocante às condições de fronteira observar que além dos momentos nulos nas extremidades da viga, deve-se ter que o momento fletor à esquerda da 11 carga concentrada é igual ao momento a sua direita e que o esforço cortante à direita da carga concentrada é igual ao esforço cortante na seção à sua esquerda menos o valor da intensidade da carga. b - ) Viga bi-apoiada solicitada por uma carga momento aplicada no apoio da extremidade esquerda, figura II.4, lembrando que o momento fletor em sua extremidade esquerda deve ser igual à intensidade da carga momento ali aplicada. Figura II.4 – Viga solicitada mediante carga momento Deformações em vigas Outro exemplo clássico de problema de valor de contorno é a descrição analítica da deformação da linha elástica de uma viga. Para a sua abordagem considere-se a viga bi-apoiada da figura II.5. O domínio do problema é idêntico ao do problema anterior, ou seja: Lx/Rx 0 (II.29) Em razão da solicitação do carregamento, o eixo da viga deforma-se assumindo o formato da curva em linha mais fina, figura II.5, conhecida como linha elástica. A modelagem física do problema, fundamentada nos princípios da mecânica dos sólidos, resulta na equação diferencial: 0 2 2 EJ )x(M dx yd (II.30) 12 Conhecida como Equação Diferencial da Linha Elástica. Na equação II.30, “y” representa o deslocamento translacional vertical de um ponto arbitrário da linha elástica da viga, distante “x” da extremidade esquerda do domínio, seu apoio da esquerda. “M(x)” é a função que expressa a variação do momento fletor solicitante, em cada uma das seções ao longo de seu eixo longitudinal. O produto EJ, envolvendo o Módulo de Elasticidade do material que constitui a viga “E” e o momento de inércia de sua seção transversal, em relação ao eixo baricêntrico horizontal “J”, é a sua rigidez à flexão. Figura II.5 – Linha elástica de uma viga Da resolução da Equação Diferencial da Linha Elástica resulta a obtenção da solução geral y = f(x). Para obter-se a solução particular para o problema ora abordado, deve-se considerar as condições de fronteira a ser respeitadas. Assim, para que a função “y” venha a descrever adequadamente o deslocamento vertical da linha elástica da barra em análise, refletindo assim a realidade física do problema, deve-se observar que: 0 00 yLx yx (II.31) ou seja, que os deslocamentos verticais dos pontos da linha elástica referentes aos apoios sejam nulos. Tais condições são impostas para introduzir a realidade que os apoios determinam ao problema, pois, conforme a estática aplicada, os apoios dos tipos que existem no presente caso impedem os graus de liberdade deslocamentos verticais. 13 Considerando-se o problema específico em que se deseja determinar os deslocamentos translacionais verticais "y" e a rotação das tangentes à linha elástica "Ә", para uma viga bi-apoiada solicitada mediante um par de cargas momento de igual intensidade MSe de sentidos contrários, aplicadas nos apoios, figura II.6, a equação dos momentos fletores é dada por: tetanconsM)x(M S (II.32) Figura II.6 – Viga apoiada solicitada mediante par de cargas momento A equação diferencial assume então a forma: 0 2 2 EJ M dx yd S e EJ M dx yd S 2 2 (II.33) Integrando membro a membro e introduzindo-se a constante de integração pertinente resulta: 1Cx EJ M dx dy S (II.34) A derivada dx dy representa a rotação da tangente à linha elástica "Ә", em um ponto arbitrário do eixo longitudinal da barra, figura II.6. 14 Integrando membro a membro mais uma vez e introduzindo-se uma segunda constante de integração obtém-se a translação vertical: 21 2 2 1 CxCx EJ M y S (II.35) Aplicando-se as condições de fronteira à equação II.35 obtém-se: EJ LM C...........yLx C...........yx S 2 1 0 000 1 2 (II.36) resultando para a translação vertical as formas: Lx EJ M x EJ M y SS 2 1 2 1 2 , e, )Lx(x EJ M y S 2 1 (II.37) e: x EJ M dx dy S (II.38) Exercícios propostos: 4 - Determinar a equação da linha elástica para: a - ) Uma Viga bi-apoiada solicitada por uma carga distribuída uniformemente ao longo de toda a sua extensão, figura II.3. b - ) Uma Viga bi-apoiada solicitada por uma carga concentrada, figura II.2, lembrando que o domínio do problema deve ser subdividido em dois subdomínios cada um representando um dos dois trechos da viga separados pela carga concentrada, assim, o problema admite uma equação diferencial por trecho de vão resultando quatro constantes de integração a determinar. Para condições de fronteira observar que, além dos deslocamentos nulos nas extremidades apoiadas, deve-se ter que a rotação da linha elástica e seus 15 deslocamentos verticais verificados à esquerda da carga concentrada devem ser iguais aos seus correspondentes na seção à sua direita. c - ) Viga bi-apoiada solicitada por uma carga momento aplicada no apoio da extremidade esquerda, figura II.4. Fenômeno de Flambagem Outro exemplo de problema de valor de contorno envolve o caso de pilares susceptíveis ao fenômeno de flambagem, figura II.7. O momento fletor num ponto arbitrário distante “x” da base do pilar é dado por: )he(PM (II.39) onde “P” é a intensidade da carga axial, “e” representa a excentricidade da carga em relação ao eixo do pilar, e, “h = h(x)” é o deslocamento horizontal de um ponto arbitrário, localizado ao longo do eixo longitudinal da coluna. Figura II.7 – Coluna sujeita ao fenômeno de fambagem 16 A equação diferencial da linha elástica é então: 0 2 2 EJ M dx hd , e, portanto, 0 2 2 EJ )he(P dx hd (II.40) Fazendo-se EJ P p2 pode-se escrever: ephp dx hd 22 2 2 (II.41) que é uma equação diferencial ordinária linear de segunda ordem não homogênea de coeficientes constantes, de modo que sua solução geral pode ser escrita na forma: )x(f)x(f)x(h ph (II.42) onde "fh" é a solução geral da equação diferencial homogênea correspondente e "fp" uma solução particular da equação diferencial não homogênea. A equação diferencial homogênea correspondente será: 02 2 2 h h fp dx fd (II.43) cuja equação característica é: 022 p (II.44) admitindo as raízes pi1 e pi2 do universo dos números complexos. Se uma equação característica admite as raízes do universo dos números 17 complexos escritas sob a forma bia1 A bia2 , a solução da equação diferencial assume a forma: ax h e)BsenbxbxcosA()x(f (II.45) No presente caso a = 0 e b = p, logo: BsenpxpxcosA)x(fh (II.46) é a solução geral da equação diferencial homogênea correspondente. A partir do método dos coeficientes a determinar obtemos para solução particular da equação diferencial não homogênea: e)x(f p (II.47) logo, a solução geral da equação diferencial não homogênea será: eBsenpxpxcosA)x(f)x(f)x(h ph (II.48) O domínio do problema é o conjunto dos infinitos pontos que constituem o eixo longitudinal da coluna, podendo ser expresso matematicamente mediante a sentença Lx/Rx 0 , onde “L” é o comprimento da coluna. As condições de fronteira inerentes ao problema são: 0 00 hLx hx (II.49) pois, nas extremidades da coluna, face às condições de vinculação, o deslocamento horizontal deve ser nulo. 18 Aplicando-se a primeira das condições da equação II.49, obtém-se: 00 hx (II.50) 0000 eBsencosA)(h , e eA (II.51) E a equação II.48 assume a forma: eBsenpxpxcose)x(h (II.52) Aplicando-se a segunda das condições da equação 49, obtém-se: 0hLx (II.53) 0eBsenpLpLcose)L(h (II.54) ) pL (gtan.e senpL )pLcos(e B 2 1 (II.55) )senpx pL gtanpx(cose)x(h 1 2 (II.56) e, finalmente, a deflexão “ ” no ponto médio do vão, x = L/2, será: ) pL (sece 1 2 (II.57) Segundo a equação II.57, tal deflexão cresce infinitamente se 2 pL sec tende para infinito, o que acontece se 2 pL tende para 2 . No limite em que 22 pL : 2 2 2 L ppL (II.58) 19 Uma vez que EJ P p2 , então 2 2 LEJ P de modo que: 2 2 L EJ P (II.59) que representa a carga que leva o pilar a experimentar a flambagem. Exercício proposto: 5 - Resolver o problema de flambagem da coluna engastada e livre ilustrada na figura II.8. Figura II.8 – Flambagem de coluna engastada e livre
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