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FILOSOFIA JURÍDICA 1. Quando um paciente vai ser submetido a uma cirurgia, ele deve ser orientado quanto aos riscos e benefícios do procedimento a ser realizado, assim como deverá assinar um termo de consentimento ou de autorização. A partir da aula Bioética e Biodireito, que princípio está sendo respeitado nesse caso? a) Justiça b) Autonomia c) Beneficência d) Não maleficência O modelo baseado em princípios é, possivelmente, o referencial mais utilizado na bioética. Os princípios eram entendidos na ética como recomendações, como diretrizes a serem seguidas. Beauchamp e Childress, em seu livro Princípios de Ética Biomédica, propuseram um referencial de quatro princípios: autonomia, beneficência (fazer o bem), não maleficência (evitar o mal) e justiça. Na questão acima, o princípio tratado é a AUTONOMIA, que equivale a consentimento. 2. O pensamento de Foucault é uma postura crítica diante das fundamentações universais e normativas à moral, à política e ao direito. Segundo o pensamento de Foucault, é possível afirmar que: a) Com o fim do Absolutismo Monárquico, o poder não se concentra apenas no setor político e nas suas formas de repressão, mas está disseminado pelos vários âmbitos da vida social. O poder se fragmentou em micropoderes e se tornou muito mais eficaz. b) O biopoder é a gestão da vida incidindo já não sobre os indivíduos, mas sobre a população, enquanto espécie, não se centrando mais somente no corpo- máquina, mas no corpo-espécie, algo como o corpo atravessado pela mecânica do vivente, os nascimentos e a mortalidade, a proliferação, a saúde e longevidade. c) A biopolítica é uma forma eficaz de controle social que assume a direção da vida dos indivíduos desde antes de seu nascimento até sua morte. De acordo com as sentenças acima, identifique a alternativa correta: a. Somente A está correta. b. A e C são corretas. c. B e C são corretas. d. Todas as sentenças estão corretas. Somente a primeira assertiva está correta. Sobre a segunda e terceira assertiva, a correção seria a seguinte: “O biopoder é uma forma eficaz de controle social que assume a direção da vida dos indivíduos desde antes de seu nascimento até sua morte. A estratégia da biopolítica é a gestão da vida incidindo já não sobre os indivíduos, mas sobre a população, enquanto espécie, não se centrando mais somente no corpo-máquina, mas no corpo-espécie, algo como o corpo atravessado pela mecânica do vivente, os nascimentos e a mortalidade, a proliferação, a saúde e longevidade”. 3. De acordo com os seus conhecimentos de Filosofia e Direitos Humanos, é incorreto afirmar que: a) Os Direitos Humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. b) As ideias dos direitos humanos têm origem no conceito filosófico de direitos naturais que seriam atribuídos por Deus. E isso é o que sustenta a teoria pós- positivista. c) A ONU proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é respeitada mundialmente. A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas afirma que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. d) A origem do conceito de direitos humanos surgiu na filosofia por meio do jusnaturalismo. Muitos filósofos dizem que não existem diferenças entre os direitos humanos e os direitos naturais, e John Locke é um dos filósofos a desenvolver esta teoria. Resposta letra “b”. Aula de “Filosofia e Direitos Humanos”. Questão tirada do texto indicado na aula (todas as questões deste simulado e as questões da prova são sobre os textos indicados nas aulas e sobre os vídeos). A alternativa “b” está errada. A origem do conceito de direitos humanos surgiu na filosofia por meio do jusnaturalismo. Muitos filósofos dizem que não existem diferenças entre os direitos humanos e os direitos naturais, e John Locke é um dos filósofos a desenvolver esta teoria. São direitos inerentes à condição humana e o Estado deve garantir um mínimo existencial, ou seja, deve garantir bens básicos como saúde, educação, moradia etc. Os Direitos Humanos são as exigências que brotam da própria condição natural da pessoa humana e que, por isso, exigem o seu reconhecimento, o seu respeito, a sua tutela e a promoção da parte de todos, mas especialmente daqueles que estejam instituídos em autoridade. Diz Bobbio que os Direitos Humanos não nascem todos de uma vez e nem de uma vez por todas. Portanto, as ideias dos direitos humanos têm sim sua origem no conceito filosófico de direitos naturais, mas não são necessariamente atribuídos por Deus (somente segundo os pensadores medievais, como Tomás de Aquino, por exemplo). E isso é o que sustenta a teoria jusnaturalista e não pós-positivista. 4. Sobre a teoria da justiça de John Rawls, marque a alternativa INCORRETA. a) Após escolher uma concepção de justiça, escolhe-se uma constituição, uma legislatura para promulgar leis, tudo em consonância com os princípios acordados inicialmente. b) A posição original é a melhor maneira para a criação dos princípios que serão utilizados para fundação das normas. Na cena hipotética e não histórica, os membros fundadores estão encobertos por um véu de ignorância. c) Segundo Rawls, cada pessoa possui uma inviolabilidade fundada na justiça que nem o bem-estar de toda a sociedade pode desconsiderar. d) Rawls, tendo como base o juspositivismo, defende uma sociedade justa e equitativa em sua teoria da justiça. ALTERNATIVA “A”: correta. ALTERNATIVA “B”: correta. ALTERNATIVA “C”: correta. ALTERNATIVA “D”: incorreta. Rawls não tem como base o juspositivismo, mas o pós-positivismo e defende sim uma sociedade justa e equitativa em sua teoria da justiça. 5. O pensador norte-americano John Rawls (1921-2002), contribuiu para a reformulação do pensamento moral e jurídico contemporâneo, ao pretender ampliar o conceito e o papel da justiça. Nesse sentido, seu modelo de justiça a) se baseia em uma concepção metafísica e apriorística de Bem, que obriga a pessoa a se orientar etinicamente através de imperativos categóricos que comandam o sentido individual de suas ações. b) é utilitarista, pois concebe uma sociedade justa quando suas organizações são instituídas de forma a alcançar a maior soma de satisfação para o conjunto de indivíduos. c) defende as assimetrias econômicas e sociais, na medida em que recusa o argumento de ser vantajoso amparar os menos favorecidos. d) é pluralista, no sentido de compreender o universo social como composto por elementos diferentes e conflitantes, mas orientado por princípios, entre os quais, o da liberdade. ALTERNATIVA “A”: incorreto. Não se baseia em uma concepção metafísica e apriorística de Bem, mas busca superar a metafísica e o jusnaturalismo. E não obriga a pessoa a se orientar etinicamente através de imperativos categóricos (isso é Kant) que comandam o sentido individual de suas ações. ALTERNATIVA “B”: incorreto. É anti-utilitarista. ALTERNATIVA “C”: incorreto. Pois defende o argumento de ser vantajoso amparar os menos favorecidos. ALTERNATIVA “D”: correto. 6. “De acordo com a Teoria do Discurso, uma norma só deve pretender validez quando todos os que possam ser concernidos por ela cheguem (ou possam chegar), enquanto participantes de um Discurso prático, a um acordo quanto à validez dessa norma”. (Habermas, J. Consciência moral e agir comunicativo. Tradução de Guido A. de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989, p. 86). Com base no texto e nos seus conhecimentos sobre a Teoria do Discurso de Habermas, assinale a alternativa correta: a) O princípio possibilitador do consensodeve assegurar que somente sejam aceitas como válidas as normas que exprimem um desejo particular. b) Os problemas que devem ser resolvidos em argumentações morais podem ser superados apenas monologicamente. c) Uma norma só poderá ser considerada correta se todos os envolvidos estiverem de acordo em dar-lhe o seu consentimento. d) O princípio que norteia a teoria do discurso de Habermas expressa-se, literalmente, na vontade particular e nos interesses egoístas dos indivíduos. ALTERNATIVA “A”: incorreta. O princípio possibilitador do consenso deve assegurar que somente sejam aceitas como válidas as normas que exprimem um valor coletivo e não um desejo particular. ALTERNATIVA “B”: incorreta. Os problemas que devem ser resolvidos em argumentações morais podem ser superados apenas dialogicamente e não monologicamente, pois a teoria discursiva é intersubjetiva e não subjetiva. ALTERNATIVA “C”: correta. ALTERNATIVA “D”: incorreta. O princípio que norteia a teoria do discurso de Habermas expressa-se, literalmente, na vontade coletiva e não particular e nos interesses de todos os concernidos e não nos interesses egoístas dos indivíduos. 7. “A utilização da Internet ampliou e fragmentou, simultaneamente, os nexos de comunicação. Isto impacta no modo como o diálogo é construído entre os indivíduos numa sociedade democrática”. (HABERMAS, J. O caos da esfera pública. Folha de São Paulo, 13 ago. 2006, Caderno Mais!, p. 4-5). A partir dos conhecimentos sobre a ação comunicativa em Habermas, considere as afirmativas a seguir. I. A manipulação das opiniões impede o consenso ao usar os interlocutores como meios e desconsiderar o ser humano como fim em si mesmo. II. A validade do que é decidido consensualmente assenta-se na negociação em que os interlocutores se instrumentalizam reciprocamente em prol de interesses particulares. III. Como regra do discurso que busca o entendimento, devem-se excluir os interlocutores que, de algum modo, são afetados pela norma em questão. IV. O projeto emancipatório dos indivíduos é construído a partir do diálogo e da argumentação que prima pelo entendimento mútuo. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas III e IV são corretas. c) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. d) Somente as afirmativas I e IV são corretas. As assertivas “I” e “IV” estão corretas, conforme o pensamento de Habermas. Já as assertivas “II” e “III” estão incorretas. Em relação a “II”, a validade do que é decidido consensualmente assenta-se na negociação em que os interlocutores se instrumentalizam reciprocamente em prol de interesses coletivos e não particulares. Em relação a “III”, como regra do discurso que busca o entendimento, não devem-se excluir os interlocutores que, de algum modo, são afetados pela norma em questão, mas todos devem, pelo debate, buscar o consenso a partir da situação ideal de fala (conforme explicação do vídeo da aula de Habermas). 8. Na filosofia contemporânea, o termo reconhecimento tem sido usado para designar um parâmetro normativo de justiça. O conflito propulsor da luta por reconhecimento surge quando o Outro deixa de atender a expectativa normativa de seu parceiro de interação, negando-lhe inclusive reciprocidade de tratamento. A ideia original é de Hegel e ela foi retomada por autores contemporâneos como Axel Honneth, Charles Taylor, Nancy Fraser e Judith Butler. Segundo a filosofia de Honneth, é possível afirmar que: a) Os indivíduos e os grupos sociais somente podem formar a sua identidade quando eles forem reconhecidos intersubjetivamente. b) A solidariedade remete a aceitação recíproca das qualidades individuais, julgadas por meio dos valores existentes na comunidade. Por meio dessa esfera, gera-se a autoconfiança. c) O desrespeito do direito são os maus-tratos e a violação, que ameaçam a integridade física e psíquica. d) A primeira forma de reconhecimento consiste nas emoções primárias, como o amor e a amizade. O amor somente surge quando a criança reconhece o outro como uma pessoa independente. O amor é o fundamento da auto-estima. ALTERNATIVA “A”: correta. ALTERNATIVA “B”: incorreta. Pela solidariedade gera-se a auto-estima e não a autoconfiança. ALTERNATIVA “C”: incorreta. O desrespeito do amor é os maus-tratos e a violação, que ameaçam a integridade física e psíquica; o desrespeito do direito é a privação de direitos e a exclusão, pois isso atinge a integridade social do indivíduo como membro de uma comunidade político-jurídica ALTERNATIVA “D”: incorreta. O amor é o fundamento da autoconfiança. 9. (OAB – 2015) “Mister é não olvidar que a compreensão do direito como 'fato histórico-cultural' implica o conhecimento de que estamos perante uma realidade essencialmente dialética, isto é, que não é concebível senão como 'processus', cujos elementos ou momentos constitutivos são fato, valor e norma (...)” (Miguel Reale, in Teoria Tridimensional do Direito). Assinale a opção que corretamente explica a natureza da dialética de complementaridade que, segundo Miguel Reale, caracteriza a Teoria Tridimensional do Direito. a) A relação entre os polos opostos que são o fato, a norma e o valor, produz uma síntese conclusiva entre tais polos. b) A implicação dos opostos na medida em que se desoculta e se revela a aparência da contradição, sem que, com esse desocultamento, os termos cessem de ser contrários. c) A síntese conclusiva que se estabelece entre diferentes termos, conforme o modelo hegeliano de tese, antítese e síntese. d) A estrutura estática que resulta da lógica de subsunção entre os três termos que constituem a experiência jurídica: fato, norma e valor. ALTERNATIVA “A”: incorreta. A síntese jamais será conclusiva, mas sempre em mutação, pois a característica da dialética é a contradição. ALTERNATIVA “B”: correta. ALTERNATIVA “C”: incorreta. Reale constrói uma dialética de complementariedade (e neste sentido difere da hegeliana), sem síntese conclusiva. ALTERNATIVA “D”: incorreta. Não é pela lógica da subsunção (estrutura estática), mas pela lógica dialética (estrutura dinâmica). 10. Dentre as contribuições de Miguel Reale, jurista brasileiro, para a teoria geral do direito e para a Filosofia do Direito, a que lhe atribuiu maior prestígio foi a sua teoria tridimensional do direito. A partir do pensamento de Reale, é possível afirmar que: (...) O conhecimento somente será jurídico se o pesquisador isolar cada um dos elementos do direito e estudá-lo separadamente. (...) Para Reale, diante do sistema de normas, deve pressentir a existência de algo subjacente a ele: fatos e valores. O culturalismo de Reale visa superar o normativismo estrito. Assim, o direito se compreende lastreado no mundo da cultura e é o resultado de uma processualidade histórica. (...) O tridimensionalismo dialético, nas palavras de Reale, entende o direito como a concretização da ideia de justiça na pluridiversidade de seu dever ser histórico, tendo a pessoa como fonte de todos os valores. (...) Com o culturalismo jurídico de Reale, o direito passou a ser visto como um conjunto de normas executáveis coercitivamente, reconhecidas ou estabelecidas e aplicadas por órgãos institucionalizados. Assinale a opção correta: a) V F V F b) V F F V c) F V V F d) F V F V A segundo e a terceira assertivas estão corretas. Já a primeira e a quarta assertiva estão incorretas. Sobre a primeira, o conhecimento somente será jurídico se o pesquisador não isolar cada um dos elementos do direito e estudá- lo separadamente, mas estudá-los conjuntamente. Sobre a quarta, o direito não passou a ser visto como um conjunto de normas executáveis coercitivamente, reconhecidas ou estabelecidas e aplicadas por órgãos institucionalizados. Esta é justamentea visão juspositivista que Reale quer superar com sua teoria tridimensional do direito.