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65034 O que é o poder

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Poder. 
STOPPINO, Mario. Poder. In.: BOBBIO, Norberto. 
Dicionário de Política. 11ª ed. Brasília, UnB, 1998, p. 
933-942 
1. DEFINIÇÃO. — Em seu significado mais geral, a 
palavra Poder designa a capacidade ou a possibilidade 
de agir, de produzir efeitos. Tanto pode ser referida a 
indivíduos e a grupos humanos como a objetos ou a 
fenômenos naturais (como na expressão Poder 
calorífico, Poder de absorção). 
Se o entendermos em sentido especificamente social, 
ou seja, na sua relação com a vida do homem em 
sociedade, o Poder torna-se mais preciso, e seu 
espaço conceptual pode ir desde a capacidade geral 
de agir, até à capacidade do homem em determinar o 
comportamento do homem: Poder do homem sobre o 
homem. O homem é não só o sujeito, mas também o 
objeto do Poder social. É Poder social a capacidade 
que um pai tem para dar ordens a seus filhos ou a 
capacidade de um Governo de dar ordens aos 
cidadãos. Por outro lado, não é Poder social a 
capacidade de controle que o homem tem sobre a 
natureza nem a utilização que faz dos recursos 
naturais. Naturalmente existem relações significativas 
entre o Poder sobre o homem e o Poder sobre a 
natureza ou sobre as coisas inanimadas. Muitas vezes, 
o primeiro é condição do segundo e vice-versa. Vamos 
dar um exemplo: uma determinada empresa extrai 
petróleo de um pedaço do solo terrestre porque tem 
o Poder de impedir que outros se apropriem ou usem 
aquele mesmo solo. Da mesma forma, um Governo 
pode obter concessões de outro Governo, porque tem 
em seu Poder certos recursos materiais que se tornam 
instrumentos de pressão econômica ou militar. 
Todavia, em linha de princípio, o Poder sobre o 
homem é sempre distinto do Poder sobre as coisas. E 
este último é relevante no estudo do Poder social, na 
medida em que pode se converter num recurso para 
exercer o Poder sobre o homem. 
Por isso não se podem aceitar as definições que, 
inserindo-se numa tradição que remonta a Hobbes, 
ignoram este caráter relacionai e identificam o Poder 
social com a posse de instrumentos aptos à 
consecução de fins almejados. A definição de Hobbes, 
tal como se lê no princípio do capítulo décimo do 
Leviatã, é a seguinte: "O Poder de um homem... 
consiste nos meios de alcançar alguma aparente 
vantagem futura". Não é diferente, por exemplo, o 
que Gumplowicz afirmou: que a essência do Poder 
"consiste na posse dos meios de satisfazer as 
necessidades humanas e na possibilidade de dispor 
livremente de tais meios". Em definições como estas, 
o Poder é entendido como algo que se possui: como 
um objeto ou uma substância — observou alguém — 
que se guarda num recipiente. Contudo, não existe 
Poder, se não existe, ao lado do indivíduo ou grupo 
que o exerce, outro indivíduo ou grupo que é induzido 
a comportar-se tal como aquele deseja. Sem dúvida, 
como acabamos de mostrar, o Poder pode ser 
exercido por meio de instrumentos ou de coisas. Se 
tenho dinheiro, posso induzir alguém a adotar um 
certo comportamento que eu desejo, a troco de 
recompensa monetária. Mas, se me encontro só ou se 
o outro não está disposto a comportar-se dessa 
maneira por nenhuma soma de dinheiro, o meu Poder 
se desvanece. Isto demonstra que o meu Poder não 
reside numa coisa (no dinheiro, no caso), mas no fato 
de que existe outro e de que este é levado por mim a 
comportar-se de acordo com os meus desejos. O 
Poder social não é uma coisa ou a sua posse: é uma 
relação entre pessoas. 
É preciso também notar que a expressão acima 
empregada, "Poder do homem sobre o homem", se 
entende mais exatamente como "Poder de um 
homem sobre outro homem". Com tal especificação 
se exclui do nosso campo de pesquisa o Poder que um 
homem possa exercer sobre si mesmo. Sempre que, 
por exemplo, uma senhora se imponha certa dieta de 
emagrecimento e, não obstante os desejos, mantenha 
seu propósito, podemos dizer que ela exerce um 
Poder sobre si mesma. Neste caso, como em casos 
análogos, pelo menos se se considerarem em si 
mesmos, não se trata de uma relação de Poder entre 
pessoas, mas de um exercício de Poder que começa e 
termina no âmbito, digamos, de uma só pessoa; mas o 
Poder que nos interessa analisar em relação ao estudo 
da política é o que uma pessoa ou grupo tem ou 
exerce sobre outra pessoa ou grupo. 
Como fenômeno social, o Poder é, portanto, uma 
relação entre os homens, devendo acrescentar-se que 
se trata de uma relação triádica. Para definir certo 
Poder, não basta especificar a pessoa ou o grupo que 
o detém e a pessoa ou o grupo que a ele está sujeito: 
ocorre determinar também a esfera de atividade à 
qual o Poder se refere ou a esfera do Poder. A mesma 
pessoa ou o mesmo grupo pode ser submetido a 
vários tipos de Poder relacionados com diversos 
campos. O Poder do médico diz respeito à saúde; o do 
professor, à aprendizagem do saber; o empregador 
influencia o comportamento dos empregados 
sobretudo na esfera econômica e na atividade 
profissional; e um superior militar, em tempo de 
guerra, dá ordens que comportam o uso da violência e 
a probabilidade de matar ou morrer. No âmbito de 
uma comunidade política, o Poder de A (que pode ser, 
por exemplo, um órgão público ou um determinado 
grupo de pressão) pode dizer respeito à política 
urbanística; o poder de B, à política exterior em 
relação a certa área geográfica; o poder de C dirá 
respeito, enfim, à política educacional, e assim por 
diante. A esfera do Poder pode ser mais ou menos 
ampla e delimitada mais ou menos claramente. O 
Poder que se funda sobre uma competência especial 
fica confinado ao âmbito dessa competência. Mas o 
Poder político e o Poder paterno abrangem, 
normalmente, uma esfera muito ampla. Por sua vez, a 
esfera de Poder de uma pessoa que ocupa um cargo 
numa organização formal (como é o caso do 
presidente ou do tesoureiro de uma associação) é 
definido de modo preciso e taxativo, enquanto que a 
esfera de Poder de um chefe carismático não é 
precisada por antecipação e tende a ser ilimitada. 
II. O PODER ATUAL. — Quando, no exercício do Poder, 
a capacidade de determinar o comportamento dos 
outros é posta em ato, o Poder se transforma, 
passando da simples possibilidade à ação. Assim, 
podemos distinguir entre o Poder como simples 
possibilidade (Poder potencial) e o Poder 
efetivamente exercido (Poder em ato ou atual). O 
Poder em ato (atual) é uma relação entre 
comportamentos. Consiste no comportamento do 
indivíduo A ou do grupo A que procura modificar o 
comportamento do indivíduo B ou do grupo B em 
quem se concretiza a modificação comportamental 
pretendida por A, abrangendo também o nexo 
intercorrente entre os dois comportamentos: um 
exame mais detalhado do Poder em ato comporta 
uma análise destes três aspectos do fenômeno. Num 
primeiro sentido se pode dizer que o comportamento 
de A visa a modificar a conduta de B: A exerce Poder 
quando provoca intencionalmente o comportamento 
de B. O requisito da intenção é amplamente aceito 
nos escritos de ciência política e de sociologia 
referentes ao Poder. Contudo, alguns autores 
excluem-no, julgando que se pode falar de Poder 
sempre que um dado comportamento provoque 
outro, embora não de maneira intencional. Mas tal 
definição do Poder parece demasiado ampla. É 
correto afirmar que o pai exerce Poder sobre o filho, 
quando lhe dá, com êxito, uma determinada ordem; 
mas já não parece tão correto afirmá-lo, quando o 
filho não obedece e, em vez disso, se rebela ou 
abandona a família em decorrência da ordem paterna. 
Neste segundo caso, é ainda verdade que o 
comportamento do pai provoca ocomportamento do 
filho; descreveremos, todavia, esta relação não como 
um exercício de Poder do pai sobre o filho, mas como 
uma tentativa malograda de exercer o Poder. 
Por outro lado, se pode distinguir uma posição 
intermédia que estenda a noção do Poder para além 
da modificação intencional do comportamento alheio, 
sem por isso se qualificar como Poder qualquer tipo 
de causalidade social não intencional. O conceito em 
que convém basear este alargamento da noção de 
Poder é o conceito de interesse, tomado em sentido 
subjetivo, isto é, como estado da mente de quem 
exerce o Poder. Diremos então que o comportamento 
de A, que exerce o Poder, pode ser associado, mais 
que à intenção de determinar o comportamento de B, 
objeto do Poder, ao interesse que A tem por tal 
comportamento. As relações de imitação, por 
exemplo, onde falta a intenção no imitado de se 
propor como modelo, se inclui em Poder, se a 
imitação corresponde ao interesse do imitado (como 
em certas relações entre pai e filho), mas não se 
inclui, se à imitação não corresponde o interesse do 
imitado (como pode acontecer, quando uma senhora 
vê que uma amiga imita o seu modo de vestir). 
O comportamento de B, que é sujeito de Poder, é 
dotado, no mínimo, de voluntariedade. Mas não se diz 
que B esteja consciente de que deverá agir de acordo 
com a vontade de A. Por um lado, portanto, trata-se 
de um comportamento voluntário. Mas isto não 
comporta necessariamente que o comportamento 
também seja "livre". No caso, por exemplo, do Poder 
coercitivo, B tem o comportamento desejado por A, 
só para evitar um mal de ameaça: embora o 
comportamento não seja livre, B executa-o e por isso 
é dotado de um mínimo de voluntariedade. Isto 
permite distinguir entre o exercício do Poder 
coercitivo e o emprego direto da força ou VIOLÊNCIA 
(V.). Neste último caso, A não modifica a conduta de 
B, mas modifica diretamente seu estado físico: mata-
o, fere-o, imobiliza-o, aprisiona-o, etc. É sabido que, 
nas relações sociais e políticas, se recorre muitas 
vezes à força quando não se consegue exercer o 
Poder. Por outra parte, para se ter Poder, não é 
necessário que B tenha intencionalmente o 
comportamento pretendido por A. A pode provocar 
um determinado comportamento de B sem 
manifestá-lo explicitamente; pode até esconder de B 
que ele deseja esse comportamento e sem que B se 
dê conta de que se está comportando segundo a 
vontade de A. Isto pode verificar-se, por exemplo, em 
certos casos de propaganda camuflada. Este tipo de 
relação, que habitualmente é conhecido pelo nome 
de MANIPULAÇÃO (v.), entra, certamente, no âmbito 
do conceito do Poder. 
Falemos, enfim, da relação que intermedeia entre o 
comportamento de A e o de B. Para que exista Poder, 
é necessário que o comportamento do primeiro 
determine o comportamento do segundo, o que se 
pode exprimir de outra maneira dizendo que o 
comportamento de A é causa do comportamento de 
B. Deve-se, no entanto, explicar em que sentido é 
lícito usar aqui a noção de "causa". Antes de tudo, 
quando referida às relações do Poder social, a noção 
de causa não envolve em si uma perspectiva de 
determinismo mecanicista. As relações entre 
comportamentos são relações prováveis, não relações 
"necessárias". Por isso, neste contexto, o conceito de 
causa está desvinculado do conceito de 
"necessidade", devendo ser entendido como "causa 
provável". Em segundo lugar, pelo menos em muitos 
casos, a noção de Poder social serve para descrever 
uma determinada relação que intermedeia entre dois 
comportamentos particulares, sem que isso implique 
que a relação descrita seja um caso particular de uma 
lei universal ou geral. Em muitos casos, dizer que o 
comportamento a de A é causa do comportamento b 
de B não implica que todas as vezes que A adota um 
comportamento do tipo a, este seja seguido de um 
comportamento do tipo b de B, ou que sempre que B 
adote um comportamento do tipo b, lhe precede um 
comportamento do tipo a de A. B é induzido por A, 
por exemplo, a votar no partido socialista numa 
determinada disputa eleitoral; mas, nas eleições 
seguintes, B pode votar no partido liberal, apesar de A 
tentar levá-lo, mais uma vez, a votar nos socialistas; 
ou então B pode votar de novo no partido socialista, 
mas sem a interferência de A nesse sentido. Por 
conseguinte, afirmar que, dentro do exercício do 
Poder, o comportamento de A é causa do 
comportamento de B, é apenas dizer, pelo menos em 
numerosos tipos de relação, que a e causa de b 
naquele caso determinado. Outras vezes, contudo, 
certo uso do Poder pode constituir um caso particular 
de uma lei ou de uma uniformidade geral. Isso se 
pode dizer, por exemplo, em determinadas situações, 
de uma particular relação de mando e obediência que 
liga ao "Governo" um membro da sociedade política, 
pelo menos num dos dois sentidos acima referidos: às 
injunções de tipo a do Governo é provável, em geral, 
que se sigam condutas de obediência de tipo b tanto 
desse como dos demais membros da sociedade 
política. 
Com as restrições agora mencionadas, pode-se, 
portanto, afirmar que a relação de Poder constitui 
certo tipo de causalidade, particularmente um tipo de 
causalidade social. Mantém-se, todavia, aberta a 
questão de como entender, se bem que dentro dos 
limites referidos, o conceito de causa. Alguns autores 
entendem o nexo causai entre os comportamentos no 
sentido de que o comportamento de A é condição 
necessária do comportamento de B (o 
comportamento de B só ocorre se ocorrer o 
comportamento de A). Outros, considerando 
demasiado rígida tal interpretação, entendem o nexo 
causai no sentido de que o comportamento de A é 
condição suficiente do comportamento de B (se se 
verifica o comportamento de A, verifica-se também o 
de B). Há ainda quem opta por uma orientação 
contrária, pensando que se deveria reformular o 
conceito de Poder equiparando-o à noção de condição 
necessária e suficiente (o comportamento de B se dá 
quando e só quando se dá o de A). 
Penso, com Oppenheim, que entre estas três noções 
de causa convêm escolher a de condição suficiente, 
que é a que mais se conforma com a perspectiva 
provável. Por um lado, um comportamento a que seja 
condição necessária, mas não suficiente, de um 
subsequente comportamento b, pode não ser um 
exercício de Poder. Por exemplo, a inclusão do meu 
nome nas listas eleitorais pelo funcionário comunal 
para isso designado é uma condição necessária para 
que eu vote, assim como para que eu vote por certo 
partido. Mas certamente não se pode dizer que esse 
funcionário exerceu Poder sobre mim e isso, atente-se 
bem, mesmo no caso em que ele estivesse 
interessado na vitória eleitoral desse partido: eu, na 
verdade, poderia votar em outro partido ou abster-
me de votar. Por outro lado, quando um 
comportamento a é condição suficiente de um 
subsequente comportamento b, é razoável qualificar 
tal relação como exercício de Poder, mesmo que a 
não seja condição necessária de b. Com as bombas 
atômicas de Hiroshima e Nagasaki, os Estados Unidos 
exerceram um indubitável Poder sobre o Japão, no 
sentido de que o levaram à rendição (condição 
suficiente); mas não se pode afirmar que, sem essas 
bombas, o Japão não se teria rendido, pois não é 
possível excluir absolutamente que ele não se 
houvesse decidido à rendição de modo autônomo ou 
que não fosse induzido a isso movido por qualquer 
outro agente (a URSS, por exemplo). Concluindo este 
ponto, se pode, portanto, afirmar que, na prática do 
Poder, o comportamento a é a causa determinante, 
pragmaticamentedecisiva, do comportamento b; ou 
seja, é a sua condição "suficiente", não a sua condição 
"necessária", nem, com maior razão, a sua condição 
"necessária e suficiente". 
Do fato de existir entre os comportamentos um nexo 
causal, alguns estudiosos pretendem deduzir também 
que a relação do Poder é assimétrica, no sentido de 
que se o comportamento de A é causa do 
comportamento de B, o comportamento de B não é 
causa do comportamento de A. Ora, é verdade que 
muitas relações de Poder possuem esta característica, 
sendo, por conseguinte, unidirecionais; mas existem 
também relações de Poder que se distinguem por um 
maior ou menor grau de reciprocidade. Pensemos, 
por exemplo, nas relações de Poder que 
intermedeiam entre dois partidos durante as 
negociações para a formação de um Governo de 
coalizão. Cada partido usa de diversos meios para 
influir no comportamento do outro e no resultado dos 
entendimentos; mas é claro que não pode deixar de 
fazer certas concessões (e de suportar, portanto, o 
Poder do outro partido) para arrancar também, por 
sua vez, algumas (e exercer, consequentemente, 
Poder sobre o outro partido). 
III. O PODER POTENCIAL. — O Poder potencial é a 
capacidade de determinar o comportamento dos 
outros. Enquanto o Poder atual é uma relação entre 
comportamentos, o potencial é uma relação entre 
atitudes para agir. De uma parte, A tem a 
possibilidade de ter um comportamento cujo objetivo 
é a modificação do comportamento de B. De outra 
parte, se esta possibilidade é levada a ato, é provável 
que B tenha o comportamento em que se concretize a 
modificação de conduta pretendida por A. Um chefe 
militar exerce Poder sobre seus soldados quando 
ordena o ataque e seus soldados executam a ordem. E 
tem Poder sobre eles se é provável que os soldados 
atacassem se o comandante ordenasse. Uma vez que 
exercer o Poder implica necessariamente ter a 
possibilidade de exercê-lo, o Poder social, em seu 
sentido mais amplo, é a capacidade de determinação 
intencional ou interessada no comportamento dos 
outros. 
Quando podemos dizer, de verdade, que tal 
capacidade existe? 
Antes de tudo, é necessário que A tenha à sua 
disposição recursos que podem ser empregados para 
exercer o Poder. Os recursos deste tipo são 
numerosos: riqueza, força, informação, 
conhecimento, prestígio, legitimidade, popularidade, 
amizade, assim como ligações íntimas com pessoas 
que têm altas posições de Poder. Mas não basta. A 
capacidade de A depende também da habilidade 
pessoal de converter em Poder os recursos à sua 
disposição. Nem todos os homens ricos têm a mesma 
habilidade em empregar recursos econômicos para 
exercer Poder. Uma favorita pode usar a sagacidade 
com fins de Poder, ao aproveitar seu íntimo 
relacionamento com o monarca, levando vantagem 
sobre outras que já ocuparam posição análoga. Esta 
habilidade pode dizer respeito à utilização de um 
determinado recurso ou de vários recursos. E no caso 
de A ser um grupo, deve ser utilizada a coesão e a 
coordenação do próprio grupo. Assim, nas relações 
internacionais, os Poderes recíprocos de dois 
Governos podem não ser proporcionais aos recursos 
humanos, econômicos e militares que os dois 
Governos têm respectivamente à disposição, porque 
um dos Governos é mais habilidoso na utilização de 
um recurso importante ou no emprego combinado de 
vários recursos, ou então porque um dos dois 
Governos tem maior grau de coesão e coordenação 
mais eficaz. 
Por outro lado, o fato de A ser dotado de recursos e 
de habilidades máximas não é suficiente para fazer 
que A tenha Poder sobre B. A pode ser riquíssimo e 
entretanto não ter Poder sobre o paupérrimo B, em 
relação a certos comportamentos, se o segundo não 
estiver disposto a ter tais comportamentos a troco de 
uma compensação. Analogamente, um homem que 
dispõe dos mais poderosos meios de violência não 
tem Poder sobre um inerme a respeito de um 
determinado comportamento, se o segundo prefere 
morrer a assumir tal ou tal comportamento. É o caso 
do mártir que recusa renegar seu Deus, ou o do 
conspirador que recusa revelar os nomes dos 
companheiros. Trata-se, sem dúvida, de casos de 
exceção, mas que têm o mérito de pôr em evidência 
que o Poder potencial, tal como o Poder atual, é uma 
relação entre seres humanos. Uma relação que se 
rompe se aos recursos de A e à sua habilidade em 
utilizá-los não corresponder a atitude de B para se 
deixar influenciar. Esta atitude — a probabilidade de B 
realizar o Comportamento pretendido por A — 
depende, em última análise, da escala de valores de B. 
Se os instrumentos usados para exercer o Poder 
forem de tipo generalizado dentro de um ambiente 
social, como é o caso do dinheiro, haverá também 
uma atitude mais ou menos generalizada, naquele 
âmbito social, para uma pessoa se deixar influenciar 
em certas esferas de atividade. Nesta hipótese, se 
para atingir seus fins A não precisa, especificamente, 
do comportamento de B, e não apenas do 
comportamento de B (como acontece no caso do 
mártir e do conspirador), mas do comportamento de 
B ou C ou de D ou de E..., a sua probabilidade de ter 
sucesso dependerá da escala de valores que 
prevalecer no ambiente social em que age. 
Com base nos conceitos desenvolvidos na análise do 
Poder potencial, podemos individualizar as relações 
de Poder estabilizado, particularmente importantes 
na vida social e política. O Poder diz-se estabilizado 
quando a uma alta probabilidade de que B realize com 
continuidade os comportamentos desejados por A, 
corresponde uma alta probabilidade de que A execute 
ações contínuas com o fim de exercer Poder sobre B. 
O Poder estabilizado se traduz muitas vezes numa 
relação de comando e obediência. E pode ser ou não 
acompanhado de um aparato administrativo com a 
finalidade de executar as ordens dos detentores do 
Poder. E o que acontece, respectivamente, nos casos 
do Poder governamental e do Poder paterno. Além 
disso, o Poder estabilizado pode fundar-se tanto em 
características pessoais do detentor de Poder 
(competência, fascínio, carisma) como na função do 
detentor do Poder. Quando a relação de Poder 
estabilizado se articula numa pluralidade de funções 
claramente definidas e estavelmente coordenadas 
entre si, fala-se normalmente de Poder 
institucionalizado. Um Governo, um partido político, 
uma administração pública, um exército, como 
norma, agem na sociedade contemporânea com base 
numa institucionalização do Poder mais ou menos 
complexa. 
IV. O PAPEL DAS PERCEPÇÕES SOCIAIS E DAS 
EXPECTATIVAS. — De tudo o que se disse até agora 
fica evidenciado que o Poder não deriva 
simplesmente da posse ou do uso de certos recursos 
mas também da existência de determinadas atitudes 
dos sujeitos implicados na relação. Essas atitudes 
dizem respeito aos recursos e ao seu emprego e, de 
maneira geral, ao Poder. Entre tais atitudes, devem 
ser colocadas as percepções e as expectativas que 
dizem respeito ao Poder, As percepções ou imagens 
sociais do Poder exercem uma influência sobre 
fenômenos do Poder real. A imagem que um indivíduo 
ou um grupo faz da distribuição do Poder, no âmbito 
social a que pertence, contribui para determinar o seu 
comportamento, em relação ao Poder. Neste sentido, 
a reputação do Poder constitui um possível recurso do 
Poder efetivo. A pode exercer um Poder que excede 
os recursos efetivos que tem à disposição e a sua 
vontade e habilidade em transformá-los em Poder, se 
aqueles que estão debaixo do seu Poder reputam que 
A tem de fato mais Poder do que aquele que seus 
recursos, sua vontadeou sua habilidade mostram. 
Num confronto ou numa negociação internacional, se 
o Governo A acha que o Governo B tem um Poder 
maior do que ele, esse Governo tende naturalmente a 
sofrer, de fato, um maior Poder da parte do Governo 
B, até nos casos em que uma avaliação correta dos 
recursos disponíveis, por parte dos dois Governos, 
pudesse levar a um resultado mais favorável ao 
Governo A. 
No que toca às expectativas, deve dizer-se, de uma 
maneira geral, que, numa determinada arena de 
Poder, o comportamento de cada ator (partido, grupo 
de pressão. Governo, etc.) é determinado 
parcialmente pelas previsões do ator relativas às 
ações futuras dos outros atores e à evolução da 
situação em seu conjunto. Mas é nas relações de 
Poder que operam através do mecanismo das reações 
previstas que o papel das expectativas se torna mais 
evidente. 
O Poder age de modo previsível quando B modifica 
sua conduta de acordo com os desejos de A, não 
através da intervenção direta de A, mas porque B 
prevê que A adotaria reações desagradáveis, se ele 
não modificasse seu comportamento. Naturalmente, 
para que haja Poder, é necessário que A, embora não 
provoque intencionalmente o comportamento de B, 
nutra um interesse por tal comportamento. Por 
exemplo, um Governo está sujeito ao Poder de certos 
setores agrícolas influentes, mesmo sem a 
intervenção direta destes últimos, quando ao 
programar sua política agrícola não leva em 
consideração as reações desses setores e faz um 
planejamento que não prejudica os interesses dos 
agricultores. Como já observou Carl Friedrich, que, 
pela primeira vez, pôs em relevo a importância deste 
aspecto do Poder, o mecanismo das reações previstas 
constitui habitualmente um poderoso fator de 
conservação, uma vez que é muito mais fácil "avaliar 
e, portanto, conhecer as preferências de um indivíduo 
ou de um grupo no que diz respeito ao estado das 
coisas existentes do que conhecer a sua preferência 
no respeitante a um possível futuro e eventual estado 
das coisas". Este modo operacional do Poder torna 
ambíguas muitas situações concretas. Por exemplo, o 
fato de que as providências tomadas por um Governo, 
em matéria industrial, encontrem notável 
correspondência no comportamento dos empresários 
da nação, pode querer dizer que o Governo tem um 
grande Poder sobre eles, mas pode significar também, 
ao contrário, que os empresários usufruem de um 
grande Poder sobre o Governo, pela capacidade que 
têm de impedir, através do mecanismo das reações 
previstas, que sejam tomadas decisões que ponham 
em perigo seus interesses. 
Não estamos privados, entretanto, de instrumentos 
para desfiar a meada. Em primeiro lugar, podemos 
fazer um mapa dos interesses dos atores do sistema e 
procurar identificar, por este processo, as vigas 
mestras sobre as quais podem apoiar-se as previsões 
das reações e as respectivas relações de Poder. Em 
segundo lugar, deve ter-se presente que a 
ambiguidade depende do equilíbrio da situação. Se 
surgem conflitos relevantes entre os atores, torna-se 
possível averiguar a orientação fundamental da 
vontade dos mesmos e portanto a direção prevalente 
em que opera o Poder. 
V. MODOS DE EXERCÍCIO E CONFLITUALIDADE DO 
PODER. — Os modos específicos pelos quais os 
recursos podem ser usados para exercer o Poder, ou 
seja, os modos de exercício do Poder, são múltiplos: 
da persuasão à manipulação, da ameaça de uma 
punição à promessa de uma recompensa. Alguns 
autores preferem falar de Poder só quando a 
determinação do comportamento alheio se funda 
sobre a coação. Neste sentido, se distingue, às vezes, 
entre Poder e influência. Mas a palavra influência é 
empregada em muitos sentidos diferentes, tanto na 
linguagem comum, como na linguagem técnica. E são 
numerosos os casos em que se emprega o termo 
Poder para denotar relações não coercitivas: pode-se 
falar, por exemplo, de um Poder baseado na 
persuasão. A verdade é que neste aspecto, o 
problema essencial se arrisca a tomar-se uma simples 
questão de palavras. Para além dos termos 
empregados, o que importa é formular uma noção 
clara da determinação intencional ou interessada 
sobre a conduta alheia e identificar, dentro deste 
genus, a species particularmente importante da 
determinação do comportamento alheio fundado 
sobre a coerção (coação). A coerção pode ser definida 
como um alto grau de constrangimento (ou ameaça 
de privações). Ela implica que as alternativas de 
comportamento em que B se acha (e que sofre a 
coerção) são alteradas pela ameaça de sanções de A 
(que faz a coerção), de tal modo que o 
comportamento que este último deseja do primeiro 
termina por parecer a B como a alternativa menos 
penosa. É o caso daquele que é assaltado e dá a 
carteira para salvar a vida. No conceito de coerção 
pode incluir-se também um alto grau de aliciamento 
(promessa de vantagens). Neste sentido sofre 
coerção, por exemplo, o indivíduo que, para sair de 
um estado de extrema indigência, aceita fazer um 
trabalho perigoso ou degradante. Para além da 
etiqueta terminológica, existe uma diferença entre o 
primeiro e o segundo caso. No primeiro, é o 
assaltante que coloca o assaltado em situação de 
ceder à ameaça; no segundo, não se diz que seja o 
aliciante a pôr o aliciado em estado de inferioridade 
que o força ceder à promessa. 
O problema da conflitualidade do Poder está ligado, 
ao menos parcialmente, com os modos específicos 
através dos quais se determina o comportamento 
alheio. As relações de Poder são necessariamente de 
tipo antagônico? Do conflito entre a vontade de A e 
de B podemos falar, referindo-nos ao momento em 
que A inicia a tentativa de exercer Poder sobre B ou 
tendo em conta o momento em que B executa o 
comportamento pretendido por A: no momento 
inicial ou no momento final do exercício do Poder. 
Ora, que exista um conflito inicial entre a vontade de 
A e a vontade de B está implícito na definição de 
Poder: B teria agido de maneira diferente daquela 
com que foi induzido a agir por A. O problema que 
interessa é saber se existe necessariamente um 
conflito entre a vontade de A e a de B, mesmo no 
momento final. Colocada assim em termos precisos, a 
pergunta não pode ter senão uma resposta negativa: 
a conflitualidade ou não conflitualidade depende do 
modo de exercer o Poder. Consideremos, por 
exemplo, um exercício baseado sobre a persuasão, de 
um lado, e um exercício baseado sobre a ameaça de 
uma punição, do outro. Em ambos os casos, por 
definição, B teria tido — não havendo intervenção de 
A — um comportamento (que chamados (a) diferente 
de (b)) que proviria como consequência de tal 
intervenção. Mas, no caso do Poder de persuasão, B, 
após a intervenção de A, prefere b a a e, tendo b, se 
comporta como é de seu agrado se comportar. Por 
outras palavras, B atribui maior valor ao 
comportamento que tem depois da intervenção de A 
do que ao comportamento que teria tido sem tal 
intervenção. Por consequência podemos dizer que 
não existe conflito de vontade entre A e B. Bem ao 
contrário, no caso do Poder baseado sobre ameaça de 
punição, B, após a intervenção de A, continua a 
preferir a a b e tem o segundo comportamento não 
porque o prefira simplesmente ao primeiro, mas 
prefere-o ao primeiro sem a ameaça de punição feita 
por A (a-p). Por outras palavras, B atribui menor valor 
ao comportamento que tem depois da intervenção de 
A do que ao comportamento que teria tido na 
ausência de tal intervenção. Podemos dizer, por isso, 
que nesta relação de Poder existe um conflito de 
vontade entre A e B.O caráter antagônico das relações de Poder pode 
derivar, porém, mais do que do conflito de vontade, 
acima referido, de outros aspectos do Poder. 
Na relação de manipulação, por exemplo, não surge 
imediatamente um conflito, mas existe, via de regra, 
um conflito potencial que se torna atual no momento 
em que B se der conta de que seu comportamento foi 
manipulado por A. E este conflito pode derivar da 
simples manipulação: do juízo negativo e do 
ressentimento de B em relação à manipulação de A. 
Também, num nível extremo de aliciamento, a 
conflitualidade da relação pode nascer do fato de B se 
sentir ferido e nutrir ressentimento pela grave 
desigualdade entre seus recursos e os recursos de A e 
também pelo fato de A tirar vantagem desta situação 
de desigualdade. O ressentimento derivado da 
desigualdade de recursos é, por isso, juntamente com 
o antagonismo das vontades, a segunda matriz que se 
evidencia na conflitualidade do Poder. Ela pode ser 
encontrada também nas relações de manipulação e 
aliciamento moderado e, de um modo geral, em todas 
as relações de Poder, particularmente se 
estabilizadas, uma vez que toda a forma de Poder é 
habitualmente a expressão de uma desigualdade de 
recursos. E quanto mais esta é sentida pelo sujeito 
passivo como um peso oneroso ou como uma 
vergonha infamante, tanto mais a relação de Poder 
tende a criar um antagonismo de atitudes e a 
preparar um conflito aberto. 
VI. A MENSURAÇÃO DO PODER. — Esclarecido o 
conceito de Poder, podemos aplicá-lo à realidade 
social e ver quando existe, de fato, uma relação do 
Poder. Mas em relação aos fenômenos reais, temos 
também necessidade de comparar entre si diversas 
relações de Poder e de saber se uma relação de Poder 
é, ao menos grosso modo, maior ou menor do que 
outra. Coloca-se assim o problema da mensuração do 
Poder. 
Um modo de medir o Poder é o de determinar as 
diversas dimensões que pode ter o comportamento 
em causa. Em tal sentido, uma primeira dimensão do 
Poder é dada pela probabilidade que o 
comportamento desejado se verifique. Quanto mais 
provável for que B reaja positivamente às ordens e às 
diretrizes de A, tanto maior é o Poder de A sobre B. 
Uma segunda dimensão é constituída pelo número 
dos homens submetidos ao Poder. Existem Poderes 
que se dirigem a uma só pessoa e Poderes que dizem 
respeito a milhares, e até a milhões de pessoas. Existe 
uma terceira dimensão que é a esfera do Poder. Com 
base na escala de valores prevalecentes numa 
determinada cultura, pode-se dizer que um Poder que 
diz respeito a uma certa esfera tem um peso maior ou 
menor do que outro que se refere a uma esfera 
diversa. Por exemplo, na nossa cultura, o Poder de um 
bom costureiro sobre a forma de vestir é bem menor 
do que um Poder que diz respeito à vida e à morte e 
que pode ser, em certas ocasiões, o próprio Poder 
político. Uma quarta dimensão do Poder é dada pelo 
grau de modificação do comportamento de B (ou de 
B, C, D. . .) que A pode provocar dentro de uma certa 
esfera de atividades. Por exemplo, dois grupos de 
pressão têm ambos um certo Poder sobre o Governo 
no campo da instrução pública, mas um deles tem 
condições de influir sobre a política escolar em maior 
medida que o outro. 
Pode constituir-se ainda uma quinta dimensão a partir 
do grau em que o Poder de A restringe as alternativas 
de comportamento que restam abertas para B. 
A esta tentativa de mensuração do Poder que 
concentra sobre a entidade a atenção dos efeitos 
provocados em B foi objetado que, para medir o 
Poder de um modo adequado, convém levar em 
conta, também, os custos que pesam sobre A, para 
tentar exercer Poder sobre B e também a sua força, 
que seriam os custos que pesariam sobre B no caso de 
este se recusar a ter o comportamento desejado por 
A. E não há dúvida de que esta colocação do problema 
enriquece as possibilidades de mensuração fornecidas 
pelas dimensões do Poder anteriormente 
mencionadas. Deve-se acrescentar, finalmente, que 
foram feitas tentativas de elaboração de métodos 
para a mensuração da distribuição do Poder dentro de 
um sistema: de um modo particular para medir a 
distribuição do Poder entre os membros de um 
Comitê eleitoral, quando a decisão depende 
exclusivamente da própria votação e para medir o 
grau de concentração de Poder entre os participantes 
de um sistema político. 
VII. O PODER NO ESTUDO DA POLÍTICA. — Um dos 
fenômenos mais difundidos na vida social é 
exatamente o do Poder. Pode dizer-se que não existe 
praticamente relação social na qual não esteja 
presente, de qualquer forma, a influência voluntária 
de um indivíduo ou de um grupo sobre o 
comportamento de outro indivíduo ou de outro 
grupo. Não devemos nos surpreender ao verificar que 
o conceito de Poder foi empregado para interpretar 
os mais diversos aspectos da sociedade: desde os 
pequenos grupos da administração de produção e 
desde a família até às relações entre as classes sociais. 
Todavia, o campo em que o Poder ganha seu papel 
mais crucial é o da política; em relação aos fenômenos 
políticos, o Poder tem sido pesquisado e analisado 
continuamente e com a maior riqueza de métodos e 
de resultados. Isto é atestado pela longa história e 
tradição da filosofia política, e é atestado pelas 
ciências sociais contemporâneas, a partir da análise 
hoje tomada clássica que do Poder fez Max Weber. 
Para Weber, as relações de mando e de obediência, 
mais ou menos confirmadas no tempo, e que se 
encontram tipicamente na política, tendem a se 
basear não só em fundamentos materiais ou no mero 
hábito de obediência dos súditos, mas também e 
principalmente num específico fundamento de 
legitimidade. Deste Poder legítimo, que é muitas 
vezes designado pela palavra AUTORIDADE (V.), 
Weber especificou três tipos puros: o Poder legal, o 
Poder tradicional e o Poder carismático. O Poder 
legal, que é especificamente característico da 
sociedade moderna, funda-se sobre a crença na 
legitimidade de ordenamentos jurídicos que definem 
expressamente a função do detentor do Poder. A 
fonte do Poder é, portanto a lei, à qual ficam sujeitos 
não apenas aqueles que prestam obediência, como 
são os cidadãos e consócios, mas também aquele que 
manda. O aparelho administrativo do Poder é o da 
burocracia, com sua estrutura hierárquica de 
superiores e de subordinados, na qual as ordens são 
dadas por funcionários dotados de competência 
específica. O Poder tradicional fundase sobre a crença 
no caráter sacro do Poder existente "desde sempre". 
A fonte do Poder é portanto a tradição que impõe 
vínculos aos próprios conteúdos das ordens que o 
senhor comunica aos súditos. No modelo mais puro 
do Poder tradicional, o aparelho administrativo é de 
tipo patriarcal e composto de servidores ligados 
pessoalmente ao patrão. O Poder carismático, enfim, 
está fundado na dedicação afetiva à pessoa do chefe e 
ao caráter sacro, à força heroica, ao valor exemplar ou 
ao Poder de espírito e da palavra que o distinguem de 
modo especial. A fonte do Poder se conecta com o 
que é novo, com o que não existiu nunca, e por isso o 
Poder tende a não suportar vínculos 
predeterminados. Quem comanda é verdadeiramente 
o líder (o profeta, o herói guerreiro, o grande 
demagogo) e aqueles que prestam obediência são os 
discípulos. O aparelho administrativo é escolhido 
com base no carisma e na dedicação pessoal e não 
constitui, por isso, nem uma burocracia, nem um 
corpo de servidores. 
Depois de Weber, o interesse dos estudiosos pelo 
Poder se acentuou cada vez mais. Particularmente, no 
que se refere aoconceito de Poder, surgiu uma das 
principais correntes que deram vida à ciência política. 
Esta corrente, que teve seu maior representante em 
Harold Lasswell, se contrapôs às teorias jurídicas e 
filosóficas precedentes centradas em torno do 
conceito de Estado e concentrou a análise política no 
estudo do Poder como fenômeno empiricamente 
observável. De uma parte, Lasswell viu no Poder o 
elemento distintivo do aspecto político da sociedade e 
construiu elaborado sistema conceptual para o estudo 
dos fenômenos do Poder no quadro da vida social em 
seu conjunto. Por outra parte, utilizando conceitos 
psicanalíticos de origem freudiana, Lasswell examinou 
as relações existentes entre Poder e personalidade: 
identificou a personalidade política como sendo a que 
está orientada predominantemente para a busca do 
Poder; estudou sua dinâmica de formação, chegando 
à conclusão de que ela se funda numa transferência 
racionalizada, em termos de interesse público, de 
impulsos privados reprimidos, para objetos públicos; e 
analisou o marco deixado pelos aspectos neuróticos 
da personalidade sobre a participação na vida política 
e sobre suas diversas formas, como a do agitador e a 
do organizador. Destes estudos lasswellianos 
tomaram impulso as pesquisas sucessivas sobre a 
personalidade autoritária (v. AUTORITARISMO). 
Atualmente, o Poder é considerado como uma das 
variáveis fundamentais, em todos os setores de 
estudo da política. Isto se verifica, por exemplo, na 
análise das burocracias, e, mais genericamente, na 
análise das organizações, onde a estrutura hierárquica 
mais ou menos acentuada e as diversas formas que 
ela pode assumir colocam, naturalmente, em primeiro 
plano, o fenômeno do Poder. Verifica-se também a 
fundamentalidade do Poder no estudo das relações 
internacionais, onde o conceito de Poder, quando não 
é considerado como instrumento privilegiado de 
interpretação, fornece, de uma maneira, um critério 
de análise de que não se pode prescindir e verifica-se 
também, no estudo dos sistemas políticos nacionais e 
locais, onde o estudo do Poder termina no estudo da 
natureza e composição das elites políticas (v. ELITES, 
TEORIA DAS) e das relações que existem entre elites e 
outros setores da população. Neste último campo 
existem pouquíssimas pesquisas empíricas dirigidas 
para o estudo da distribuição do Poder, a nível do 
sistema político nacional. Por outro lado, existem 
numerosas pesquisas voltadas para o estudo da 
distribuição do Poder ao nível da comunidade política 
local. A propósito, sociólogos e politólogos, 
especialmente nos Estados Unidos, construíram 
técnicas de investigação mais ou menos elaboradas 
para identificar onde reside, de preferência, o Poder e 
quem governa nesta ou naquela cidade. Deveremos 
recorrer a este tipo de estudo para examinar os 
principais métodos de pesquisa empírica do Poder, 
adotados até agora. 
Mais recentemente, uma importante tentativa de 
construir uma teoria política geral fundada sobre o 
conceito de Poder foi realizada por Talcott Parsons. 
Identificando como função específica do sistema 
político no âmbito do funcionamento global da 
sociedade a "consecução de objetivos" ou a 
capacidade de tornar efetivos os objetivos coletivos, 
Parsons define o Poder, no sentido específico de 
Poder "político", como a "capacidade geral de 
assegurar o cumprimento das obrigações pertinentes 
dentro de um sistema de organização coletiva em que 
as obrigações são legitimadas pela sua 
coessencialidade aos fins coletivos e portanto podem 
ser impostas com sanções negativas, qualquer que 
seja o agente social que as aplicar". Nesta perspectiva, 
o Poder, conservando embora sua característica 
relacionai fundamental, torna-se entretanto uma 
propriedade do sistema; torna-se, precisamente, o 
"meio circulante" político, análogo à moeda na 
economia, ancorado por uma parte na 
institucionalização e na legitimação da autoridade e 
por outra na possibilidade efetiva do recurso à 
ameaça e, como extrema medida, ao uso da violência. 
VIII. MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA. — Um 
método de pesquisa do Poder que nas investigações 
mais recentes foi usado como instrumento secundário 
é o posicionai. Consiste na identificação das pessoas 
mais poderosas que têm uma posição formal de 
cúpula nas hierarquias públicas e privadas mais 
importantes da comunidade. O maior valor desta 
técnica de pesquisa é a sua grande simplicidade. Basta 
saber quem ocupa formalmente certas posições para 
estabelecer quem detém maior Poder. Mas é também 
nesta simplicidade que está o defeito fundamental do 
método. Na verdade, não foi dito que o Poder efetivo 
corresponde à posição ocupada formalmente. Dentro 
das estruturas de Poder formalmente reconhecidas, 
podem existir, e normalmente existem, estruturas 
informais de Poder que exercem sobre as primeiras 
uma influência maior ou menor. Por isso, o método 
não atinge diretamente o Poder. Dá somente um 
indicador indireto muito inadequado e inteiramente 
insuficiente. Todavia, isso não significa que o método 
seja inteiramente inservível. Ele pode ser usado 
utilmente, em particular para averiguação das 
posições de cúpula entre os ocupantes dos cargos 
mais elevados em diversas organizações. Poderá, 
assim, oferecer elementos muito úteis para identificar 
a existência de laços mais ou menos orgânicos entre 
diversas organizações e setores institucionais. 
Um outro método de pesquisa, que tem sido usado 
principalmente por sociólogos, é o da reputação. Ele 
se funda essencialmente na avaliação de alguns 
membros da comunidade estudada, os quais, quer 
pelas funções, quer pelos cargos que exercem, são 
considerados bons conhecedores da vida política da 
comunidade. Por outras palavras, o pesquisador que 
adota este método se fia na "reputação" formulada 
por certo número de juízes que previamente 
considera particularmente atendível. Os poderosos da 
comunidade são as pessoas que os "juizes" reputam 
como tais. Este método é relativamente econômico e 
de fácil aplicação. Ele foi submetido a numerosas e 
múltiplas críticas. Mas a mais importante e mais 
radical objeta que o método não atinge o Poder 
efetivo, mas só o Poder reputado. Este último pode 
corresponder ou não corresponder ao Poder real e, 
enquanto estivermos no âmbito da técnica 
reputacional, não é possível estabelecer a medida de 
tal correspondência. 
E desde que as reputações ou as percepções sociais 
do Poder são uma possível fonte de Poder, o método 
pode ser utilizado para averiguação desta fonte e, em 
tal caso, deverá ser dirigido não para as "reputações" 
de certo número de juízes, mas para as reputações de 
indivíduos e grupos que participam mais ou menos 
ativamente do processo do Poder. Como técnica geral 
para averiguar a distribuição do Poder na 
comunidade, o método reputacional deve ceder o 
lugar a outros instrumentos mais objetivos, que 
estejam em condições de investigar o Poder de forma 
mais direta. A técnica reputacional se abaixa ao nível 
da técnica de reforço e de integração. Neste sentido, 
ela foi muito útil para especificar se em que medida 
existem fenômenos de Poder oculto na comunidade, a 
saber, relações de Poder que não são abertamente 
visíveis para que se verifiquem nos bastidores da cena 
da vida pública. 
Um terceiro método de investigação, que foi 
empregado especialmente por politólogos, é o 
decisional. Baseia-se sobre a observação e sobre a 
reconstrução dos comportamentos efetivos que se 
manifestam no processo público de decisões. Para 
determinar quais sejam as pessoas poderosas,alguns 
pesquisadores se limitam a considerar a participação 
ativa no processo de decisão, ou porque conseguem 
que seja tomada uma decisão agradável ou porque 
impedem que seja tomada uma decisão desagradável. 
Trata-se obviamente de um método menos simples e 
econômico do que os precedentes; e por isso pode ser 
utilizado apenas para estudar algumas decisões ou 
alguns setores de decisão que o investigador 
considera importantes e fundamentais. O 
enormíssimo valor desta técnica é o de pesquisar o 
Poder diretamente em seu real desenvolvimento. 
Mesmo assim, também o método decisional recebeu 
numerosas críticas, das quais destacamos duas 
particularmente incisivas. A primeira afirma que 
através do estudo de alguns setores de decisão, 
mesmo quando julgados importantes pelo 
pesquisador, não pode reconstruir-se de modo 
satisfatório a distribuição geral do Poder na 
comunidade. Isto é ainda mais verdadeiro se 
considerarmos, como sustenta a segunda crítica, que 
o processo de decisão pública não é todo o Poder, 
mas apenas uma parte. Quem exerce Poder, na 
verdade, é quem propugna, com sucesso, uma certa 
decisão; exerce Poder quem impede que seja tomada 
uma decisão proposta, mas também o exerce quem 
controla de fora todo o processo de decisão e impede, 
por exemplo, que certas decisões sejam propostas ou 
tomadas. Por outras palavras, o processo de decisão 
não tem lugar no vácuo mas num determinado 
contexto organizativo. Ele parte de instituições, de 
regras de jogo e de valores dominantes que pré-
selecionam as propostas admissíveis ao processo de 
decisão e caracterizam a orientação geral da ação 
pública. E a delimitação e a orientação geral do 
processo de decisão, por sua vez, se apoiam sobre 
uma constelação de outros centros de Poder, como o 
econômico e o religioso, por exemplo, que 
condicionam, de modo relativamente estável, o 
Governo local. Ora estes condicionamentos 
estruturais, que são uma parte decisiva do Poder na 
comunidade, fogem inteiramente ao método 
decisional. Estas críticas atingem indubitavelmente o 
alvo e levam à conclusão de que o método decisional, 
embora constitua uma técnica indispensável para o 
estudo do Poder que se manifesta no processo de 
decisão, não pode definir, por si só, a distribuição 
geral do Poder. 
Em conclusão: ainda que a fertilidade relativa destes 
métodos de pesquisa seja muito diferente, nenhum 
dos que foram até agora utilizados conseguiu 
averiguar, de modo satisfatório, a distribuição do 
Poder dentro da comunidade ou, de forma geral, 
dentro de um sistema político, visto em seu conjunto. 
Isto parece indicar que, para estudar o Poder 
empiricamente, não é necessário utilizar 
simplesmente um dos métodos mencionados, mas 
usar um leque articulado de técnicas de pesquisa, 
dirigidas para a averiguação não só do dinamismo dos 
processos de decisão, mas também para os Poderes 
estruturais que condicionam esses dinamismos de 
uma forma mais ou menos profunda.

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