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Fichamentos - TAVARES, Maria Herminia & WEIZ, Luiz - Carro zero e pau de arara o cotidiano da oposição de classe média ao regime militar

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TAVARES, Maria Hermínia & WEIS, Almeida e Luiz. Carro Zero e pau de arara: o cotidiano da
oposição de classe média ao regime militar. In:SCHARCZ, Lilia Moritz (Org.) História da vida
privada no Brasil. Pg. 319- 410
Acontece que esses antitorcedores tinham igualmente outra coisa em comum: aninhados no
confortável regaço da categoria que, talvez à falta de melhor, se convencionou chamar classe média
intelectualizada, abominavam o golpe militar que seis anos antes havia deposto um presidente e
amputado as liberdades democráticas da Constituição de 1946, vindo a implantar, lenta, gradual e
seguramente, a ditadura que alcançaria a plenitude ano e meio antes da Copa, com a promulgação
do Ato Institucional nº5, o AI-5. Ao que soubessem, não havia entre eles ninguém que pertencesse a
alguma organização de resistência armada ao regime, dessas que assaltavam bancos e sequestravam
embaixadores, nem ao mais comedido Partido Comunista Brasileiro (PCB) , o clandestino
“Partidão”. Mas todos com certeza conheciam alguém que estava do lado de lá, davam dinheiro
para esse ou aquele movimento, liam e passavam adiante panfletos com denúncias de torturas e
eliminação de presos políticos, e até abrigavam pessoas perseguidas, em situações de extrema
necessidade. pg. 321-2
Tinha a ver com a burrice e a prepotência escarrapachadas por toda a parte, com o novo-riquismo da
classe média arrotando milagre nos seus fuscas zerinhos e com o desinteresse geral em saber o que
acontecia com os desafetos do regime a partir do momento em que eram jogados dentro de uma
Veraneio. Tinha a ver com as fichas que todos deviam preencher quando se mudavam de
apartamento e que o síndico do prédio encaminhava ao DOPS (Departamento de Ordem Política e
Social). Tinha a ver com o mal-estar – e, por que não, o medo – diante do gozo feroz da turba que
ocupava as ruas depois de cada jogo, como aquela que percorrera a avenida Nossa Senhor de
Copacabana, depois do 1 a 0 sobre a Inglaterra, duas semanas antes, urrando: “Um, dois, três, pau
na bunda da rainha”, espancando os carros que não tivessem na antena a fitinha verde-amarela ou o
adesivo “Brasil, ame-o ou deixe-o” no vidro. Tinha a ver com o ar de felicidade – previsível e
intolerável – com que os generais apareciam na mídia festejando a vitória. Por tudo isso, torcer a
favor seria “uma forma de colaboracionismo”, no dizer do escritor Luís Fernando Veríssimo. pg.
322
É rigorosamente impossível saber de que lado estava no Primeiro de Abril a maioria dos brasileiros
com alguma opinião política. Mas é certo que os que não se conformaram com a nova ordem foram
muitos e diversos, nas origens sociais bem como nas formas de resistência e de protesto adotadas.
Este texto trata apenas de um segmento das oposições que existiram em algum momento do período
1964-84 – aquele, como os torcedores do contra em 1970, constituído por membros da já referida
classe média intelectualizada: estudantes politicamente ativos, professores universitários,
profissionais liberais, artistas, jornalistas, publicitários etc. Deixa de fora, portanto, setores
oposicionistas da maior importância no combate ao regime e na construção dos caminhos que
conduziram o país de volta à democracia: os políticos profissionais do Movimento Democrático
Brasileiro (MDB), a Igreja (desde a alta hierarquia até as pastorais e comunidades de base) e ainda
as oposições sindicais e populares de modo geral – todos estes, em graus, circunstâncias e com
consequências diversas, interlocutores do grupo examinado. No caso deles, porém, ainda é escassa a
literatura disponível no que diz respeito à interação vida pública-vida privada, que é o que mais
interessa aqui. pg. 326
Nesse ambiente, fazer oposição podia significar uma infinidade de coisas. De fato, as formas de
participação e o grau de envolvimento na atividade de resistência variavam desde ações espontâneas
e ocasionais de solidariedade a um perseguido pela repressão até o engajamento em tempo integral
na militância clandestina dos grupos armados. Entre esses dois extremos, ser de oposição incluía
assinar manifestos, participar de assembleias e manifestações públicas, dar conferências, escrever
artigos, criar músicas, romances, filmes ou peças de teatro; emprestar a casa para reuniões políticas,
guardar ou distribuir panfletos de organizações ilegais, abrigar um militante de passagem; fazer
chegar à imprensa denúncias de tortura, participar de centros acadêmicos ou associações
profissionais, e assim por diante. 
Dadas as características do regime, qualquer desses atos envolvia riscos pessoais impossíveis de ser
avaliados de antemão. Daí que a incerteza quanto às consequências da ação – salvo na situação-
limite de participar de movimentos armados -, a insegurança e, inevitavelmente, o medo terem sido
sensações básicas, cotidianas e comuns a quem quer que tenha feito oposição à ditadura, marcando
a fundo a vida privada dos oposicionistas. pg. 327-8
Do AI ao AI-5 (1964-68): Passado o surto inicial de repressão às lideranças civis e militares
identificadas com o governo deposto, e a feroz perseguição aos sindicalistas urbanos e rurais, os
dois primeiros presidentes militares concederam razoável liberdade de movimento às oposições. O
segmento aqui selecionado criou um circuito denso e ativo, que incluía a atuação na imprensa, na
área cultural, especialmente em teatro e música, nas escolas e universidades. pg. 328-9
Testar os limites da ação permitida torna-se uma rotina comum aos membros das oposições
intelectualizadas: o que se pode escrever em uma coluna de jornal, o que se pode compor e cantar, o
que se pode encenar ou ensinar sem atrair represálias pessoais; que grau de repressão enfrentará o
protesto público – o panfleto, a assembleia, a passeata, o comício a manifestação. pg. 330
Do AI-5 ao início da abertura (1969-1974): Esses foram os anos lacerantes da ditadura, com o
fechamento temporário do Congresso, a segunda onda de cassação de mandatos e suspensão de
direitos políticos, o estabelecimento da censura à imprensa e às produções culturais, as demissões
nas universidades, a exacerbação da violência repressiva contra os grupos oposicionistas, armados
ou desarmados. É, por excelência, o tempo da tortura, dos alegados desaparecimentos e das supostas
mortes acidentais em tentativas de fuga. É também para a classe média, o tempo de melhorar de
vida. O aprofundamento do autoritarismo coincidiu com, e foi amparado por, um surto de expansão
da economia – o festejado “milagre econômico” - que multiplicou as oportunidades de trabalho,
permitiu a ascensão de amplos setores médios, lançou as bases de uma diversificada e moderna
sociedade de consumo, e concentrou a renda a ponto de ampliar, em escala inédita no Brasil
urbanizado, a distância entre o topo e a base da pirâmide social. 
A combinação de autoritarismo e crescimento econômico deixou a oposição de classe média ao
mesmo tempo sob o chicote e o afago – a versão doméstica do “amargo caviar do exílio” de que
falava Fernando Henrique Cardoso. pg. 332-3
De um lado, a rejeição da ordem ditatorial; o horror (e o pavor) da tortura; o desconforto bilioso e
persistente com o cotidiano contaminado pela prepotência que descia do Planalto e se derramava
pelas planícies; o distanciamento psicológico diante da maioria integrada à normalidade, cantando:
“Eu te amo, meu Brasil, eu te amo”; o sufocamento duro e estúpido das artes e da cultura em um de
seus momentos mais fecundos; a inconformidade com o caráter iníquo do modelo econômico, que
já adensava nas esquinas a população de crianças pedintes. De outro lado, a proliferação de novas
profissões e atividades bem remuneradas para quem tivesse um mínimo de formação, abrindo as
portas à efetiva possibilidade de acesso a posições confortáveis na sociedade aquisitiva em
formação.Deum lado, não perder um número dos jornais alternativos. De outro, para os novos
aquinhoados, investir na bolsa. De um lado, comprar um televisor em cores, deixando o preto e
branco para a empregada. De outro, torcer contra o Brasil no final da Copa. De um lado, ter
dinheiro para fazer turismo na Europa. De outro, ter medo de não receber o visto de saída. pg. 333
A longa transição rumo ao governo civil (1975-84). Esse período, que começa com a posse do
general Ernesto Geisel na Presidência, guarda alguma semelhança com o primeiro, o de 1964 a
1968, do ponto de vista do espaço aberto às oposições: seus limites ora se ampliam ora se retraem;
de novo não há parâmetros definidos para o que é tolerado ou interditado. pg. 335
O que muda radicalmente a partir de 1975 são os prognósticos sobre o destino da ditadura e as
perspectivas da oposição. Já não se imagina, pelo menos enquanto vige o AI-5 e antes do grande
acerto político que tornaria possível a concessão de anistia, que o autoritarismo possa ser liquidado
a curto prazo. Nem, tampouco, que possa ser derrubado pela pressão das massas ou, menos ainda,
pela ação revolucionária das vanguardas. O colapso da ideia insurrecional se faz acompanhar de
outra mudança de pensamento e atitude em amplos setores da oposição de classe média: a
democracia passa a ser valorizada com um objetivo em si e, com ela, a organização da sociedade e a
participação no jogo eleitoral, mesmo sob limitações. A aproximação com o MDB, o partido de
oposição legal, se intensifica a despeito das reservas dos setores mais radicalizados. O movimento
pela anistia é o marco da virada, ao restituir a atividade política ao domínio público. pg. 336-7
NO TRABALHO, OS RISCOS DO OFÍCIO
Apenas uma minoria muito restrita da população de classe média intelectualizada fez da resistência
ao regime uma atividade em tempo integral. Nessas circunstâncias, naturalmente, subvertiam-se de
alto a baixo os padrões habituais da vida privada, então submetida aos imperativos da luta
organizada. Já para a parcela maior dos membros desse mesmo grupo, ser de oposição significava
desenvolver formas de participação política compatíveis com a rotina cotidiana: trabalho ou estudo,
família, amores, amizades, entretenimento. Mas nem quando o exercício da oposição coexistia com
a vida privada esta ficava imune à sua presença: o resultado desse inevitável entrelaçamento era um
equilíbrio frágil, uma tensão sempre pronto a estalar. No universo afetivo e familiar, muitas vezes
não havia como saber se uma crise era efeito ou causa da ação política de resistência. Na esfera
profissional, a própria natureza do ofício e as condições em que era exercido tendiam a expor seus
praticantes, menos ou mais, à tentação do oposicionismo e a determinar o tipo de oposição
praticado. Em alguns casos, trabalho e política praticamente coabitavam: na advocacia, na produção
artística e cultural, no jornalismo. pg. 338
Dos mais importantes grupos profissionais de classe média que se opuseram à ditadura, os
jornalistas eram , a rigor, os únicos assalariados, no sentido clássico do termo – empregados em
empresas privadas. Não eram profissionais liberais pagos pelos clientes, como os advogados com
banca própria; nem servidores públicos, como os professores universitários, habituados à liberdade
no trabalho e à segurança na carreira (até os expurgos e as aposentadorias compulsórias do AI-5);
nem eram tampouco artistas ou produtores de cultura, cujos vínculos com financiadores,
patrocinadores e organizações que os contratavam tinham suficiente elasticidade para lhes assegurar
um grau de independência acima do alcance do jornalista com carteira assinada. Se este quisesse
fazer política de oposição e continuar levando vida normal, a condição de assalariado
inevitavelmente restringiria suas atividades subversivas. Não apenas pela óbvia necessidade de
conservar o emprego, mas também para ficar fora das listas negras de indesejáveis políticos,
compiladas a quatro mãos – segundo se dizia nas redações – pelos serviços de segurança e pelo
patronato. Ter o nome numa dessas listas era quase meio caminho andado para a prisão, mais dia,
menos dia. 
Além disso, os novos padrões de desempenho exigidos dos jornalistas com ambições profissionais,
bem como a lealdade deles esperada pelas empresas que lhes proviam o ganha-pão e as perspectivas
de carreira, não raro colidiam com seus projetos e práticas de resistência à ordem autoritária. Isso
porque no curso do regime militar, sobretudo na sua primeira metade, os meios de comunicação de
massa no Brasil passaram por profundas transformações. Em nenhum outro período a mídia
nacional modernizou-se tanto e tão rapidamente. A TV Globo começou a operar em 1965. Em 1966
surgiram a revista Realidade e o Jornal da Tarde. O globo Repórter, em 1972. Essas mudanças no
business da comunicação – mudanças técnicas, tecnológicas, administrativas, de escala empresarial
e de relacionamento do setor com o mercado e o Estado – afetaram de modo substancial o exercício
do jornalismo no país, o dia-a-dia dos jornalistas e suas escolhas políticas possíveis. Nem os jornais
chamados alternativos ou nanicos – notadamente os tablóides O Pasquim, Opinião e Movimento –
puderam desconhecer as novas preocupações com a qualidade técnica dos produtos, próprias da
grande imprensa, embora outros fossem os interesses e as prioridades de seus editores. pg. 348-50
Os empresários, quase sem exceção, tinham algo além de interesses econômicos em jogo para não
atazanar os generais com cobranças impertinentes por mais democracia, liberdade de pensamento,
criação artística e intelectual, respeito aos direitos humanos, apuração das crescentes brutalidades
cometidas pelos órgãos repressivos e punição dos responsáveis. Também suas convicções os faziam
adeptos da nova ordem: desde que a guerra ria aportara no continente, com a entrada de Cuba na
órbita soviética, eles compartilhavam com o militares a certeza de que a imatura democracia
brasileira estava na mira do chamado movimento comunista internacional. A mídia em peso havia
apoiado com entusiasmo a derrubada de Goulart, pela qual havia clamado e para a qual havia
conspirado, assim como exultara com o fim das “reformas de base”, da influência dos sindicatos no
governo, da ação das Ligas Camponesas e das restrições aos capitais estrangeiros. Os “excessos” do
Primeiro de Abril eram questão de somenos; logo passariam. Quantos editoriais, por exemplo,
foram escritos contra a mais brutal manifestação pública do golpe recém-vitorioso – o desfile pelas
ruas do Recife, amarrado a um veículo militar, do sexagenário dirigente comunista Gregório
Bezerra? pg. 350-1
Entre os maiores jornais brasileiros, apenas o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, voltou-se
contra o novo regime tão logo começaram seus atos de violência. Já em 3 de abril de 1964, o jorna,l
estampou o editorial “Terrorismo, não”, responsabilizando o governador Carlos Lacerda, um dos
líderes civis do golpe, pela truculência da polícia carioca. Em pouco tempo, por sua independência e
pelo vigor de suas críticas ao autoritarismo, assinadas por alguns dos principais nomes do patriciado
intelectual e jornalístico brasileiro – Antonio Callado, Carlos Heitor Cony, Hermano Alves, Márcio
Moreira Alves, Otto Maria Carpeux e Paulo Francis, entre outros -, o matutino se tornou uma
espécie de porta-voz informal da elite oposicionista. Depois de prolongada agonia financeira,
estimulada pelo regime, o Correio da Manhã deixou de circular em junho de 1974. Regra geral, as
empresas jornalísticas tampouco se dispuseram a sair em defesa de seus profissionais acusados de
subversão. pg. 351
De certo modo como a resistência dos franceses à ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial, a
oposiçãoda imprensa brasileira ao regime de 1964 parece ter sido mais idealizada do que entendida
nas suas devidas proporções – e contradições. Durante a maior parte do tempo, as relações com o
poder, mesmo daquela parcela da indústria preocupada em resguardar sua independência editorial,
por princípio ou para fazer boa figura perante o mercado, caracterizam-se não pela contestação
retilínea à asfixia das liberdades públicas, mas por um labirinto de acertos, negociados e
renegociados sem cessar em torno do que poderia ser noticiado. pg. 352
Para a negociação ser ao menos admissível, o órgão ou a empresa jornalística tinha de dar
evidências prévias de não estar aliada aos inimigos do regime. O que excluía liminarmente a
imprensa alternativa sob censura, obrigada ainda por cima mandar os originais à Polícia Federal em
Brasília, para tornar inviável sua operação industrial e matá-la de inanição. pg. 354
Duas dimensões da vida nacional estavam definitivamente fora da barganha, por desnecessária: a
política econômica (o falado modelo) e a resistência armada (o terrorismo). No primeiro caso, a
substância, os meios e os fins buscados, primeiro, pela dupla Bulhões-Campos e, depois, por Delfim
Netto, mereceram o apoio rasgado dos proprietários da grande imprensa e, se não a simpatia, a
neutralidade da benévola ou cínica dos principais editores. pg. 357
No PCB, fora dele, ou contra ele, ser jornalista de oposição significava, na prática, cultivar duas
regras essenciais à profissão: informar e fazer pensar. Elas foram se tornando cada vez mais valiosas
para a resistência democrática à medida que a censura oficial, somada à censura interna, estreitava o
rol de assuntos publicáveis e a maneira de abordá-los, e à medida que a ressaca de 1968, combinada
com o chumbo do AI-5 e a crença do milagre econômico, alienava, como era de rigor dizer,
ponderáveis parcelas da população letrada da dimensão política das questões que lhes deveriam
dizer respeito. Desse modo, a oposição jornalística não consistia em outra coisa senão em querer
transmitir ao público os fatos que contavam, com precisão e objetividade, e as diversas ideias que
pudessem iluminá-los. Ao trazer dentro de sia de denúncia do autoritarismo, as ideias e fatos
divulgados conteriam também a semente da restauração democrática. pg. 358
A miopia política da imprensa – surpreendida como qualquer coronel em seu quartel com o voto de
protesto no MDB naquele mesmo ano – tinha a ver com o fato de numerosos jornalistas focalizarem
quase exclusivamente um só ator – o governo. E essa escolha, por sua vez, resultava do peculiar
relacionamento entre o profissional e suas fontes no poder. No Brasil, antes do golpe de 1964, os
governantes corrompiam jornalistas com mordomias, viagens, empregos públicos, financiamentos
para casa própria, quando não dinheiro vivo. No regime militar, os termos da transação foram
ficando cada vez mais rarefeitos e sofisticados, a ponto de ela nem ser identificável pelo que era.
Isso porque, com a modernização da mídia, o metro mais rigoroso para avaliar a competência básica
de um profissional tornou-se a sua aptidão em trazer da rua informações importantes e exclusivas.
Como a rua – a sociedade – deixara de ter vez e voz, o endereço da informação passou a ser o
gabinete. Os mais atilados militares, tecnocratas e políticos de primeiro escalão dispunham de uma
moeda de alto valor de troca para seduzir os jornalistas influentes nas redações: a notícia. O
profissional de tendência oposicionista se via, dessa forma, diante de um dilema moral e político:
esquematicamente, ou ele se daria bem com o poderosos da hora, ou manteria com eles apenas a
relação formal compatível com suas convicções. No primeiro caso, sairia do gabinete portando
informações quentes e inéditas, que pavimentariam seu prestígio profissional, mesmo quando não
pudessem ser publicadas, mas sempre vazadas aos patrões, chefes e colegas próximos. Na segunda
hipótese, ele seria tratado como qualquer repórter sem luz própria, virtualmente confinado aos
textos burocráticos dos press releases e às declarações ocas “em on” - nada, em suma, que fizesse a
fama e a fortuna de um jornalista na nova mídia brasileira. pg. 359
NA UNIVERSIDADE, A CULTURA DO PROTESTO.
Na segunda metade dos anos 60, o Brasil dispunha de um sistema universitário nacional, mas
apenas 2%, se tanto, da população entre vinte e 24 anos estava matriculada em alguma faculdade.
(Trinta anos depois, seriam 12%). Entre 1965 e 1970, por mínima que continuasse a ser a parcela de
estudantes de nível superior na faixa etária correspondente, os números absolutos deram um salto
sem precedentes: nesses seis anos, o total de universitários aumentou 2,7 vezes, passando de 155
mil para 425 mil (ou algo como 5% do seu grupo de idade). Numa instituição de elite, como a
Universidade de São Paulo, mas já aberta às classes médias, a convivência entre os alunos, e deles
com muitos professores, era intensa – condição primeira para o crescimento do ativismo estudantil e
sua significativa presença social. A hostilidade do regime ao mundo acadêmico, em especial aos
cursos de humanidades, tidos como “antros de subversão”, só fazia aumentar o poder de sedução da
vida universitária sobre os jovens e o “espírito de corpo” que se formava naturalmente nas escolas,
ao qual era quase impossível ficar alheio. Sob o autoritarismo, a universidade era o ambiente onde
política e vida privada se confundiam numa experiência única – e inédita – para um número
expressivo de estudantes. Pois naqueles anos, a política tinha a ver com tudo o que representava
para um jovem o fato de entrar numa faculdade: novos hábitos, novas amizades, novos gostos,
novos conhecimentos, novas convicções. pg. 363-4
Ainda que raramente fizesse parte da bibliografia dos cursos acadêmicos, a literatura marxista era
consumida com sofreguidão pelos estudantes politicamente ativos. As leituras municiavam os
sucessivos debates sobre as mazelas da sociedade brasileira e a melhor maneira de transformá-la 0
em suma, sobre “o caráter da revolução brasileira”, como se costumava dizer com alguma pompa e
muito otimismo. Aí se confrontavam duas facções. De um lado, os reformistas asseguravam que o
Brasil vivia ainda a etapa da revolução burguesa e era prematuro pensar em ir além. De outro, os
revolucionários sustentavam que o país poderia marchar desde logo para o socialismo, ou pelo
menos para um governo de tipo popular- revolucionário, a partir do qual, em pouco tempo, se daria
o grande salto para o socialismo, a exemplo de Cuba. pg. 366
De tal modo a política ocupava o centro dos interesses dos universitários mobilizados contra o
autoritarismo, que ela proporcionava os critérios supremos pelos quais julgavam o que lhes era
ensinado em aula. Os alunos dos cursos de ciências sociais, por exemplo, inventaram uma espécie
de hierarquia para situar os autores clássicos e o progresso do pensamento sociológico. No rés do
chão ficava o positivista Émile Dürkheim. No meio da escada, o idealista Max Weber. No topo de
tudo, portador da verdade, o dialético Karl Marx. pg. 368
A vida estudantil não era feita só de aulas, assembleias e passeatas. Da escola ia-se para os bares das
imediações, cinematecas ou cinemas de arte, teatros, shows de música. Mas a política ia junto,
como também se entrelaçava com as relações amorosas, ajudando a racionalizar atrações e
rejeições, e a justificar tantos os comportamentos ditos tradicionais quanto sua transgressão. pg. 369
O clima de festa revolucionária nas universidades murchou no final dos anos 60, com o AI-5, as
detenções e a violência institucionalizada, as demissões de professores, o ingresso dos estudantes
mais radicais nas organizações armadas e seu rápido desmantelamento pelo regime. (…) Não foram
poucos os que desistiramda política ou “desbundaram”, como se falava na época. Uns trataram de
ter emprego e levar vida normal, outros foram fazer contracultura. (…) No começo da década de 70,
nas mesmas escolas e bares onde poucos anos antes se previa o fim da ditadura para breve e, quem
sabe, a revolução para logo depois, falava-se baixo, olhando de lado, sobre prisões, torturas,
desaparecimentos. pg. 371
A retomada se fazia sob novas condições ambientais, por assim dizer. A população universitária
continuava a crescer graças à expansão era absorvida pelas faculdades privadas, onde a atmosfera
era radicalmente distinta da química política e cultural das universidades públicas, que haviam sido
o epicentro da agitação estudantil em 1968. Mesmo essas iam se ampliando e ocupando espaços
afastados entre si; nessa medida, se tornavam pouco favoráveis ao florescimento do tipo de
sociabilidade que as transformara em centros de contestação. Além disso, a inexistência de uma
articulação nacional entre os membros da segunda geração de lideranças estudantis pós-64 ajudou a
produzir uma multiplicidade de experiências locais, de alcance também local. Talvez mais
importante do que isso, outras eram igualmente as expectativas – pessoais e prosaicas – das novas
fornadas de calouros. Pelo menos na primeira metade dos anos 70, a política já não mobiliava nem
uma fração do estudantado para quem havia sido paixão e projeto, tampouco ocupava o mesmo
território no cotidiano dos jovens politicamente ativos. pg. 372-3
A festa ganhava um duplo sentido. Era um ato de contestação; negava-se o som que tocava em
discotecas. Era a maneira de reagir contra o conformismo narcista proposto pela era 'disco'. Era não
pagar pela cultura oficial, mas criar espaços alternativos. Parte dos jovens se recusava a pisar num
shopping center: costurava sua própria roupa, comprava acessórios em feiras hippies. Pregava-se o
fim da sociedade de consumo. A oposição à ditadura se deslocava do âmbito estritamente político –
a derrubada do regime – para o universo social e cultural do dia-a-dia. 
Os estudantes politicamente ativos combinavam de forma nova política e vida pessoal. Ao que
parece, o cotidiano universitário era muito semelhante ao dos engajados de 1968: saguão da
faculdade, barzinho, cinemateca, shows de música, leitura, aulas. Mas o espírito era outro, como
narra um ex-universitário paulista (…) pg. 375
NA CLANDESTINIDADE, OS RITUAIS DE ISOLAMENTO
O mundo particular virava de ponta-cabeça quando se falava da oposição à ditadura uma profissão
de tempo integral nos partidos e movimentos políticos proibidos. Cedo ou tarde, a participação se
tornava sinônimo de existência clandestina, dominadora infiltração da privacidade pela política:
nessas circunstâncias, tudo ficava subordinado aos imperativos da luta contra o regime. (…)
Mudava-se de bar, de casa, de bairro, de cidade, de nome. Largava-se o estudo ou o trabalho,
deixava-se de ver parceiros, parentes e amigos. O sustento vinha da organização. pg. 376
Amizades e amores estavam sujeitos, é claro, a rupturas inesperadas. Na vida clandestina, por
definição, a instabilidade era a regra. Quanto mais não seja, havia que dar o fora, trocar de casa e de
nome, à menor suspeita de que a repressão pudesse ter descoberto o endereço utilizado. As
frequentes mudanças acabavam tendo alto custo emocional, pois, enquanto o medo permanecia, se
perdia contato com os sinais e objetos do cotidiano que ajudam a compor a identidade de cada um.
pg. 381
Boa parte da vida clandestina era consumida na rebuscada tarefa de manter contato com outros
militantes alojados em outros aparelhos, para combinar reuniões, transmitir decisões, planejar atos
espetaculares, ou apenas reconstituir os quadros da organização, rotineiramente dizimados pelos
serviços de segurança. Os contatos eram feitos em lugares públicos, os célebres “pontos”, pois as
regras de clandestinidade – nem sempre cumpridas à risca – proibiam um militante de saber onde
vivam e como se chamavam de verdade os demais companheiros. “Cobrir um ponto” era sempre
um risco. A rotina requeria disciplina e invejável memória. pg. 382
Pouco militantes tiveram atuação clandestina durante todo o período autoritário. Ela podia ser
interrompida pela morte, pela prisão, ou pelo abandono voluntário do exílio interno ou do
“desbunde” e pela volta à vida normal. A decisão de cair na clandestinidade não parece ter sido
difícil, em especial para os que a tomavam pela primeira vez. Sair dela espontaneamente, ao
contrário, era um ato imerso em dilacerações morais. A solidariedade com os que ficavam, com os
que já estavam presos, e a memória dos que haviam morrido tornavam excruciante a escolha entre
continuar e partir. pg. 386
NAS PRISÕES, SOLIDÃO E SOLIDARIEDADE
Ser preso era um risco a que se expunham todos os que faziam, ou se diziam de, oposição ao
autoritarismo, fosse qual fosse o grau de seu efetivo envolvimento político – sem falar naqueles,
nem tão poucos, que não eram nem a favor nem contra o regime, e ainda assim detidos e
maltratados, antes que alguém se desse conta do engano. A prisão, pois, era um acontecimento ao
mesmo tempo esperado e surpreendente, uma ameaça incrustada no cotidiano de cada um, uma
possibilidade, nunca esquecida por completo, que se tratava de exorcizar, por vezes, com as armas
do humor negro e da ironia. Nas organizações clandestinas, a preparação para a eventualidade da
queda incluía a liturgia da exaltação do comportamento legendário de militantes de todas as épocas
e lugares que sofreram as piores torturas sem entregar nenhum nome ou endereço, passava pelo
ensino de regras práticas para preservar a organização em circunstâncias extremas e chegava, em
certos casos, a lições de respiração iogue para sentir menos dor física. pg. 388-9
Como em todos os cárceres políticos de todos os tempos, as mínimas manifestações de
solidariedade tinham enorme significado para quem as recebia: um sorriso, o punho ou o polegar
erguido, quando, indo ou voltando da tortura, se passava sem capuz diante da cela de um
companheiro; palavras rápidas trocadas antes que fechassem a porta; um cigarro ou uma peça de
roupa limpa vindos não se sabia de onde; uma Novalgina escondida dentro da barra de uma calça
mandada por parentes ou amigos. Tudo isso amenizava um pouco a tremenda sensação de terror,
solidão e desamparo que a todos submergia no ciclo de interrogatórios. pg. 392
Como nos conventos, a estratégia para amenizar o tédio e o estresse do enclausuramento era a
implantação de uma rigorosa rotina de atividades diárias – só que, em vez de cânticos e orações,
feita de exercícios físicos, limpeza e arrumação das celas, leituras, atividades manuais, jogos,
televisão, cursos, debates. Muitos presos políticos que tinham frequentado a faculdade lembrariam
dos tempos de presídios como aqueles em que puderam estudar disciplinadamente, o que nunca
antes haviam feito no turbilhão da liberdade. Outros descobriram ou desenvolveram habilidades
manuais e artísticas: costurar, tecer, fazer crochê, produzir objetos, desenhar, pintar. pg. 395-6
NA FAMÍLIA, SEGREDOS E MENTIRAS
Sob o autoritarismo, a vida afetiva e familiar – último reduto de privacidade dos adversários do
regime – foi duplamente envolvida. Primeiro, porque a classe média intelectualizada viveu mais
intensamente que outros setores da sociedade brasileira as mudanças de valores e comportamentos
que acompanharam o processo de modernização sócio-econômica do país e constituíram nos
célebres anos 60 a cultura das novas gerações urbanas. Segundo, porque sua participação política,
pelas circunstâncias em que se dava e pelos objetivos a que, em muitos casos, visava, invadia por
todos os poros o cotidiano familiar de cada um. pg. 399A tão falada “revolução dos costumes” foi uma experiência pessoal marcante para as mulheres e os
homens – nessa ordem – de classe média que caminhavam e cantavam na contramão da nova ordem
política: pelo poderoso conteúdo emocional dessa experiência e por ter sido ela indissociável da
atitude dos protagonistas em face dos governos militares. Como já se viu, boa parte dos jovens que
entraram na universidade a partir do final dos anos 50 teve de se confrontar na pele e na alma com a
questão da fidelidade e do sexo antes do casamento – em suma, o “amor livre”, para usar uma
expressão que já então começava a virar clichê. Não que desde sempre as moças invariavelmente
casassem virgens, até que a morte as separasse de seus maridos, e a monogamia fosse, portanto, a
única realidade que elas chegassem a conhecer. Mas no anos 60 assistiu-se no Brasil a uma peculiar
conjunção. De um lado, tomou o poder pela força uma parcela daqueles brasileiros para quem a
“dissolução dos costumes” era parte da insidiosa subversão comandada pelo movimento comunista
internacional. De outro, para os filhos do baby boom do pós-guerra que chegava à idade adulta,
entravam na ordem do dia os “questionamentos”, como também era praxe dizer, do
desdenhosamente chamado “casamento burguês”, tido como supra-sumo da hipocrisia e da
desigualdade de oportunidades eróticas entre os sexos. pg. 399
No caso das mulheres, o repúdio aos comportamentos tradicionais, “pequeno-burgueses”, se fazia
em nome de um ideal de autonomia que deveria se realizar não apenas como possibilidade de viver
livremente a paixão e as pulsões sexuais. Isso tudo também estava fortemente associado à ideia de
existir no mundo para além da vida doméstica, por meio da realização profissional, da
independência financeira que o trabalho poderia assegurar e, por último porém não menos
importante, da atividade política. pg. 401
A contestação dos modelos estabelecidos de relacionamento afetivo e sexual permitiu também que o
tema do homossexualismo começasse a emergir de sua secular clandestinidade e passasse a ser
encarado como uma possibilidade erótica legítima. pg. 401
Para os “caretas” do Partido Comunsita Brasileiro, por exemplo, esse assunto nem merecia figurar
entre as “contradições” a partir das quais se deviam obrigatoriamente descrever os conflitos sociais
e o desfecho possível do combate à ditadura. Já nas organizações armadas, a rejeição dos “valores
burgueses” e as circunstâncias mesmas da clandestinidade acentuavam a natureza instável das
relações amorosas – e a poucos ocorreria contestar esse estado de coisas. Até nesses movimentos,
porém, a tolerância comparativamente maior em relação às novas expressões da sexualidade
acabavam de certo modo neutralizadas por uma espécie de acese revolucionária, que empurrava as
chamadas questões pessoais, as relações afetivas e o sexo para um plano secundário. Como no
Partidão, as exigências da militância tinham supremacia absoluta sobre a subjetividade dos
militantes. pg. 402
A difusão do consumo de drogas na classe média de esquerda tinha a ver em alguma medida com o
desmoronamento das quimeras revolucionárias e o triunfo esmagador da repressão. Em Nobres &
anjos, um estudo sobre o consumo de tóxicos na classe média da Zona Sul do Rio de Janeiro, entre
1972 e 1974, o antropólogo Gilberto Velho observa que no grupo que ele chama “intelectual-
artístico-boêmio” o uso de drogas se expandiu em paralelo ao decréscimo do interesse pela política.
pg. 404
A busca da verdade pessoal, por meio da psicanálise, das drogas ou, no extremo, da vida em
comunidades alternativas, podia ter uma conotação antiautoritárria. No auge da ditadura, início dos
anos 70, “puxar fumo”, “viajar” ou “cheirar” não eram apenas formas de gratificação dos sentidos,
mas, à semelhança da revolução sexual, um modo de contestar – outro verbo característico da época
– o conservadorismo da sufocante ordem política. Já nas democracias do hemisférios norte,
afrontavam o autoritarismo, que aos jovens parecia permear todas as dimensões da vida. Dos
protestos de 1968 derivaram direta ou indiretamente outras agendas políticas – a defesa do
ambiente, feminismo, a promoção dos direitos das minorias, parte, enfim, dos chamados “novos
movimentos sociais”. No Brasil dos militares, a máxima “o pessoal é político”, mote desses
movimentos, adquiria, porém, um significado peculiar. pg. 405

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