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A partilha da Palestina e suas consequências 70 anos depois - Reginaldo Nasser

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S Á B A D O , 0 2 D E D E Z E M B R O D E 2 0 1 7 
A partilha da Palestina e suas 
consequências 70 anos depois 
por Reginaldo Nasser — publicado 01/12/2017 13h16, última modificação 02/12/2017 08h29 
 
Pixabay 
 
Faixa de Gaza, 2015 
O ano de 2017 é repleto de datas redondas que marcaram significativamente a 
vida de milhões de seres humanos e que ainda incidem sobre a realidade 
contemporânea da política internacional em geral e do Oriente Médio em 
particular. Um século da Declaração Balfour, 50 anos de Ocupação da 
Cisjordânia e Gaza, e 70 anos da partilha da Palestina. 
No dia de 29 Novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou a 
Resolução 181, proposta por um comitê especial que recomendava a partilha 
da Palestina. A iniciativa de se formar a comissão foi uma resposta ao anúncio 
do Império Britânico de que pretendia encerrar o mandato para a Palestina 
iniciado em 1920. Esses acontecimentos, para alguns aleatórios, mas para 
outros peças de um quebra-cabeças com encadeamento previsto, é repleto de 
interpretações que, ao acertar as contas com o passado, tem por objetivo 
principal a busca por legitimidade de suas ações no presente. 
Leia também: 
"Israel não tem interesse na criação do Estado palestino" 
A declaração Balfour e a situação palestina 
De um modo geral os sionistas comemoram todas essas datas (há divisões em 
relação à ocupação em 1967) e os palestinos as lamentam como tragédias 
(também há divergências em relação ao tom e prioridade em relação a elas), 
mas, como foram os perdedores, as investigações e perguntas sobre o 
passado são muito mais impactantes do que o triunfalismo dos vencedores. 
De qualquer forma, por mais que se busque justificar essa ou aquela ação, os 
fatos são teimosos e não querem ser calados. Vamos a eles. Em 1947, 
momento no qual a ONU estabelece a partilha da Palestina, os judeus que 
detinham 7% do território passam a possuir 56%. O Estado judeu proposto 
conteria 500 mil judeus e 438 mil árabes, enquanto o Estado palestino proposto 
teria 818 mil árabes e 10 mil judeus. 
Com os números não há mágica democrática, étnica ou religiosa. Por volta de 
80% do povo palestino foi desprovido de suas casas, terras e negócios. Note: 
ainda havia quase tantos árabes quanto judeus na parcela atribuída ao domínio 
de Israel. 
Os sionistas criticam os “árabes” por se recusarem a aceitar a criação 
do Estado de Israel. Pergunto se alguém é capaz de apontar um único exemplo 
na história em que uma expropriação brutal, como esta relatada nos números 
acima, é aceita pela população dominada, quaisquer que sejam sua religião e 
ideologia? 
De outro lado, qualquer que seja a justificativa, o movimento político em 
questão (sionista ou não) para criar e manter seguro um Estado judeu na 
Palestina, onde os árabes eram a grande maioria, só poderia ser feito pela 
expulsão, completa ou parcial do nativos, e/ou instituição de um regime de 
ocupação territorial com direitos de cidadania de segunda classe, se houver, 
para eles. 
Embora as estratégias dos movimentos de resistência nacionais geralmente 
sejam diferentes em função do seu contexto e objetivos, a resistência ao 
colonialismo sempre enfrenta graves violações dos direitos humanos nas 
formas de limpeza étnica, “guetização” de povos nativos, roubos de terra ou 
violência estrutural, política e militar da população. 
Importante notar que, embora o líder sionista Ben-Gurion tenha aceitado a 
partilha, nunca concebeu as fronteiras estabelecidas para os dois Estados 
como permanentes. A diferença entre ele e os revisionistas não era entre 
minimalistas e maximalistas territoriais, mas que ele perseguia uma estratégia 
gradualista, aquela adotada pelo Estado de Israel que resultou na ocupação 
dos territórios de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém oriental em 1967. 
No fundo, os verdadeiros sionistas pensam logicamente que, se os territórios 
ocupados em 1967 devem ser devolvidos, isso abriria precedente para 
reivindicar a terra tomada da mesma forma em 1948. Se a reivindicação 
judaica exclusiva de qualquer parte da Palestina pode ser contestada, então a 
reivindicação de qualquer outra parte não se tonaria segura, pensam eles. 
Assim, soa patético ouvir o bom mocismo do “sionismo de esquerda” que prega 
o diálogo como instrumento para a desocupação dos territórios anexados em 
1967 e a consequente resolução dos dois Estados 
Por isso, o simbolismo da data da partilha é essencial para compreender o 
processo colonial que se seguiu na Palestina, mas é também uma data 
importante para reivindicar a construção de um Estado que contemple 
igualdade, justiça e autodeterminação para todos os povos da região.

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